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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70082885112 (Nº CNJ: 0260420-16.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA
DE CRÉDITO BANCÁRIO. RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO
PERANTE OS COOBRIGADOS. POSSIBILIDADE.
EXCESSO DE EXECUÇÃO. NÃO CONFIGURADO.
SENTENÇA CONFIRMADA.
APELO DESPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70082885112 (Nº CNJ: 0260420- COMARCA DE PORTO ALEGRE


16.2019.8.21.7000)

PAULO AFONSO TERGOLINA E OUTROS APELANTE

BANRISUL APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores


DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO E DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA.

Porto Alegre, 16 de dezembro de 2020.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

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Nº 70082885112 (Nº CNJ: 0260420-16.2019.8.21.7000)
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Trata-se de apelação cível interposta por PAULO AFONSO TERGOLINA


E OUTROS contra a sentença que julgou improcedentes os embargos à execução ajuizados
em face de BANRISUL, tendo a decisão o seguinte dispositivo:

“ISSO POSTO, julgo improcedentes os Embargos à


Execução propostos por Paulo Afonso Tergolina, Rosa
Maria Beltram Tergolina e Roger da Silva Gazen contra o
Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A., determinando o
prosseguimento da execução na forma como proposta.
Custas pelos embargantes, que pagarão a verba honorária
do patrono do embargado no valor arbitrado de R$
50.000,00, atendidas as variáveis do art. 85, par. 2º, do
NCPC, sem prejuízo do percentual já fixado na execução.
Registre-se e intimem-se.”

Em suas razões recursais, a parte apelante sustenta que a impossibilidade de


prosseguimento da execução contra os coobrigados adviria de negociação entre os credores,
aprovada em assembleia geral de credores. Argumentam que foi acordado que a novação da
dívida abrangeria os coobrigados, sendo vedada a cobrança dos fiadores e avalistas no
decorrer da recuperação judicial. Transcreve as cláusulas 7.2 e 7.3 do Plano de Recuperação
que apresentam tal disposição. Aduz ainda que o título não goza de exigibilidade, o que
configura a nulidade da execução. Apresenta julgado referente à possibilidade de supressão
das garantias no plano de recuperação judicial. No mais, ratifica que o Banrisul concordou
com a impossibilidade de execução do contrato até o cumprimento do plano. No tocante ao
excesso de execução, afirma que a cobrança deve ser no valor habilitado no Plano de
Recuperação Judicial, atualizado até a data do pedido, nos termos do art. 9º, II, da Lei
11.101/2005, resultando em uma diferença de R$885.351,95. Requer o provimento do apelo
para que, reconhecida a inexigibilidade do título, seja extinta ou suspensa a execução em
face dos coobrigados.
Subiram os autos, com as contrarrazões, vindo conclusos para julgamento.

Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para


observância dos ditames do CPC foram simplificados, mas observados na sua integralidade.

É o relatório.

VOTOS

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DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Eminentes Colegas.
Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço do apelo.

Merece ser confirmada a sentença proferida pelo Magistrado a quo, cujos


fundamentos vão aqui adotados como razões de decidir, com a licença de seu ilustre
Prolator, a fim de se evitar tautologia, nos seguintes termos:

“Exauridas as faculdades probatórias requeridas pelos litigantes, é caso de


julgamento do feito no seu estado, maduro que se encontra para receber uma decisão final.

Os embargantes não colhem êxito.


A matéria enfocada na primeira parte dos embargos representa ponto
superado pela jurisprudência, interpretação que, de resto, é a único possível, diante do que
dispõe o art. 49, par. 1º, da Lei 11.101/05 .

Nesse sentido a súmula Súmula 581, do STJ:


A recuperação judicial do devedor principal não impede o
prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra
terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por
garantia cambial, real ou fidejussória.

No mesmo sentido do entendimento sumular os precedentes da mesma corte:


"[...] A recuperação judicial do devedor principal não
impede o prosseguimento das execuções nem induz
suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros
devedores solidários ou coobrigadas em geral, por garantia
cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a
suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a
novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que
dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n. 11.101/2005" (REsp n.
1.333.349/SP) [...]". (AgRg no AgRg no AREsp 641967 RS,
Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA
TURMA, Julgado em 15/03/2016, DJe 28/03/2016).

"[...] 1.- Conforme o disposto art. 6º da Lei n. 11.101/05, o


deferimento de recuperação judicial à empresa co-
executada não tem o condão de suspender a execução em

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relação a seus avalistas, a exceção do sócio com


responsabilidade ilimitada e solidária. 2.- O Aval é ato
dotado de autonomia substancial em que se garante o
pagamento do título de crédito em favor do devedor
principal ou de um co-obrigado, isto é, é uma garantia
autônoma e solidária. Assim, não sendo possível o credor
exercer seu direito contra o avalizado, no caso a empresa
em recuperação judicial, tal fato não compromete a
obrigação do avalista, que subsiste integralmente. 3.- As
deliberações constantes do plano de recuperação judicial,
ainda que aprovados por sentença transitada em julgado,
não podem afastar as consequências decorrentes das
disposições legais, no caso, o art. 49, § 1º, da Lei n.
11.101/05, o qual prevê que "os credores do devedor em
recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios
contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso"
[...]". (AgRg nos EDcl no REsp 1280036 SP, Rel. Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, Julgado em
20/08/2013, DJe 05/09/2013).

No caso específico, e ao exame do ato sentencial concessivo da


recuperação, vê-se que foi expressamente excluída a suspensão dos credores que se
amoldem à previsão do art. 49, par. 1º (fl. 56), a ponto de serem consideradas nulas as
disposições que contrariem essa previsão.
Não há como, portanto, reconhecer a inexigibiildade do título e, mais, nem
mesmo suspender o andamento da execução, o que obedece a um critério do credor,
exclusivamente.

Pouco importa que, ainda sem trânsito em julgado da sentença concessiva,


ainda não tenha sido possível o cumprimento das condições do plano recuperacional, pois o
credor litiga por direito próprio, não sujeito aos efeitos daquele ato concessivo.
Demais, a troca de e-mail's noticiada pelos embargantes, em que essa
condição teria sido sugerida, a ponto de justificar uma eventual inclusão, evento
controvertido em audiência, não passou de mera especulação negociatória, que não
importou em renúncia ou alteração das condições negociadas no título. E, de qualquer
modo, o próprio ato concessivo ressalvou os direitos dos credores contra os responsáveis
solidários, sendo impensável, assim, o acolhimento dos embargos, sob qualquer propósito.
O mesmo se diga do aventado excesso de execução.

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Os embargantes se limitam a afirmar que o valor executado é superior ao


apontado no plano de recuperação, sem terem considerado, todavia, o fato de que a
correção, no expediente especializado, é limitada à data em que escandido o pedido
recuperatório. Na execução, entretanto, os valores continuam a ser corrigidos,
independentemente desse termo, máxime porque se trata de direito autônomo, não afetado
pela recuperação. E os embargantes se limitaram a debater o excesso sob esse fundamento,
sem descer a qualquer minúcia de legalidade dos encargos exigidos que permitisse um
enfrentamento mais pontual na sentença.
É caso, portanto, também nesse prisma, de desacolhimento dos embargos
propostos.”

Na espécie, em face das circunstâncias do caso concreto, entendo estar


adequada a apreciação pelo Magistrado singular, considerando-se os fundamentos
sustentados em sentença.
O art. 591 da Lei 11.101/2005 estabelece a ressalva das garantias, ao tratar da
novação decorrente do plano de recuperação judicial.
Ainda, cumpre destacar que o art. 49 da mesma lei, em seu §1º estipula
claramente que subsiste o direito de ação por parte do credor da recuperanda em face dos
coobrigados.

Eis os termos do dispositivo referido:


§ 1º Os credores do devedor em recuperação judicial
conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados,
fiadores e obrigados de regresso.

Ademais, conforme referido em sentença, a jurisprudência tem se firmado no


sentido de que a cláusula que prevê a supressão das garantias relativas aos avalistas e
fiadores é nula por contrariar disposição expressa no art. 49 da Lei 11.101/2005.

Nesse sentido, julgados desta Corte:

1
Lei 11.101/2005. Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos
anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo
das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.
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AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO


JUDICIAL. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA
EMPRESA. EXTENSÃO DA NOVAÇÃO AOS
COOBRIGADOS. BAIXA DE PROTESTOS E OUTRAS
NEGATIVAÇÕES DE GARANTIDORES, SÓCIOS E
OUTROS OBRIGADOS QUE NÃO A RECUPERANDA.
IMPOSSIBILIDADE. RESERVA DE PERCENTUAL
OBTIDO NA ALIENAÇÃO DE BENS PARA PAGAMENTO
DE ADVOGADOS E ADMINISTRADOR JUDICIAL.
POSSIBILIDADE. ALIENAÇÃO DE BENS DE
TERCEIROS. NECESSIDADE DE ANUÊNCIA DO
BENEFICIÁRIO DA GARANTIA. 1. Decisão que tem por
finalidade assegurar a possibilidade de superação da
situação de crise econômico-financeira da parte agravada,
permitindo a manutenção da fonte produtora, do emprego
dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função
social e o estímulo à atividade econômica. 2. Afigura-se
ilegal a cláusula do plano que prevê a impossibilidade de
cobrança dos créditos dos coobrigados e garantidores
(avalistas e fiadores). Infringência ao disposto nos artigos
49, §1º e 59, da Lei 11.101/2005. 3. Descabido o
cancelamento e/ou suspensão de protestos e outras
negativações em relação a sócios, garantidores e outros que
não a recuperanda. 4. Impossibilidade de venda direta de
bem de propriedade de terceiro coobrigado sem anuência
expressa desse credor. Inteligência dos arts. 49, §1º e 50,
§1º, da LRF. 5. Reserva de um percentual dos valores
obtidos na alienação de bens ou liquidação de créditos para
pagamento dos honorários dos procuradores da
recuperação e do administrador judicial. Possibilidade.
Percentual ajustado (10%) que não denota excessividade.
Tratamento diferenciado em relação aos demais credores
que não se observa, inclusive porque parte dos valores
provenientes de alienações e liquidações também terão por
destino o pagamento dos credores, e também porque
qualquer alienação que venha a ser empreendida deverá
obedecer ao disposto na legislação falimentar. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº
70083826495, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em: 29-04-2020)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA DE
CRÉDITO BANCÁRIO. - PRELIMINAR
CONTRARRECURSAL. A peça recursal da parte autora
demonstra claramente que sua insurgência diz com a
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ausência de título executivo, a impossibilidade de


continuidade da execução em relação ao avalista após a
recuperação judicial da empresa e o excesso de execução
pela cobrança de encargos contratuais abusivos,
satisfazendo, assim, as exigências do art. 1.010 do CPC.
Preliminar rejeitada. - NULIDADE DE EXECUÇÃO.
INOCORRÊNCIA. A cédula de crédito bancário é um título
com força executiva, instituído pela Lei nº 10.931/2004,
preenchendo, na hipótese, todos os requisitos previstos no
art. 29 da referida Lei, não havendo, assim, nulidade de
execução pela ausência de liquidez, certeza e exigibilidade
do título. – RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA EMPRESA
DEVEDORA. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO
CONTRA COOBRIGADOS. POSSIBILIDADE. De acordo
com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a
recuperação judicial do devedor principal não impede o
prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou
extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores
solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial,
real ou fidejussória (REsp 1.333.349/SP e Súmula 581 do
STJ). - EXCESSO DE EXECUÇÃO. INDEFERIMENTO DA
INICIAL. INOBSERVÂNCIA DO DISPOSTO NO ART. 917,
§ 3º, do CPC. Em sendo o excesso de execução alegado
como fundamento dos embargos, cabe à parte embargante
indicar o valor que entende como devido desde logo, com
sua demonstração mediante memória de cálculo, não
bastando meras alegações genéricas quanto à existência de
abusividades em cláusulas contratuais, sob pena de rejeição
liminar ou não conhecimento da alegação de excesso,
conforme dispõe o 917, §§ 3º e 4º, I, do CPC. Neste caso,
não houve a indicação do valor devido com demonstração
em cálculo discriminado, devendo ser mantida a decisão de
indeferimento da inicial. APELAÇÃO DESPROVIDA.
(Apelação Cível, Nº 70083596536, Vigésima Quarta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Cairo
Roberto Rodrigues Madruga, Julgado em: 24-06-2020)

Portanto, não obstante se reconheça o esforço da parte apelante em detalhar


as cláusulas que tratam da concordância dos credores com a suspensão das execuções em
face dos coobrigados, tenho que tal disposição do Plano de Recuperação não tem o condão
de impedir o andamento da execução por se tratar de cláusula ilegal, conforme entendimento
jurisprudencial acima disposto.

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No que tange ao alegado excesso de execução, alinho-me ao entendimento


adotado em sentença de que a correção do valor não está limitada à data do pedido de
recuperação judicial, eis que se trata de cobrança autônoma, não havendo falar em excesso
de execução sob o argumento apresentado.
Destarte, resta inviável o provimento do apelo, pelo que deve ser confirmada
a sentença, reconhecendo-se a exigibilidade do título executivo.
Pelo exposto, voto por negar provimento ao apelo.

Por fim, em atendimento ao disposto no art. 85, §11, do CPC, majoro os


honorários advocatícios sucumbenciais devidos ao patrono da parte apelada em R$500,00.

É o voto.

DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70082885112,


Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: SANDRO LUZ PORTAL

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