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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000596437

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2126366-55.2020.8.26.0000, da Comarca de Santo André, em que são agravantes A. C. Z.
e L. C. C. B., é agravado O J..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MOREIRA VIEGAS


(Presidente sem voto), A.C.MATHIAS COLTRO E ERICKSON GAVAZZA MARQUES.

São Paulo, 31 de julho de 2020.

FERNANDA GOMES CAMACHO


Relatora
Assinatura Eletrônica

Agravo de Instrumento nº 2126366-55.2020.8.26.0000 - 1


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Agravo de Instrumento nº 2126366-55.2020.8.26.0000


Relatora: Fernanda Gomes Camacho
Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Privado
Agravantes: A. C. Z. , L. C. C. B.
Agravado: o J.
Comarca: Santo André - 4ª. Vara de Família e Sucessões
Processo de Origem: 1029605-97.2019.8.26.0554
Juiz(íza) Prolator(a): Cláudia Regina Nunes

VOTO nº 13618

CASAMENTO. ALTERAÇÃO DE REGIME DE BENS.


ACORDO DE PARTILHA. Decisão que não homologou o acordo
de partilha feito entre as partes. Inconformismo dos cônjuges
acolhido. Possibilidade de realização de partilha com a alteração
do regime de bens, desde que ressalvados interesses de terceiros.
Efeito ex nunc. Art. 1.639, §2º, CC. Precedente STJ. Decisão
reformada para homologar o acordo de partilha. Recurso provido.

Vistos.
Trata-se de agravo contra r. decisão de fls. 179/180 do
processo de origem que, em ação relativa a mudança de regime de bens, não
homologou acordo de partilha entre as partes, pois "acordo de partilha, não pode
ser objeto desta ação, nem mesmo como homologação de acordo, visto que o
casamento não se findou e, a alteração do regime de bens terá efeito "ex nunc",
de forma que esse acordo de partilha não poderá prejudicar, eventualmente,
terceiros".
Inconformados, alegam os agravantes, em síntese,
que, com a concordância dos cônjuges e sem que haja prejuízo a eles, a
homologação da partilha é possível nesse momento. Explicam que a lei não
determina o momento da partilha em caso de mudança do regime de bens no
curso do casamento. Citam jurisprudência.
Ausente pedido de efeito suspensivo/ativo à decisão
hostilizada.
A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo
provimento do recurso (fls. 48/51).
Ante a suspensão de julgamentos presenciais em
decorrência da atual pandemia, em atendimento ao princípio constitucional de
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razoável duração do processo e celeridade processual (art. 5º, LXXVIII, CF),


entremostra-se mais razoável o julgamento virtual.
É o relatório.
O recurso comporta parcial provimento.
Trata-se de ação para alteração de regime de bens
proposta pelos agravantes, casados em 22/10/2011 sob o regime da comunhão
parcial de bens (fls. 22 do processo de origem), para “alteração do atual regime
de bens da COMUNHÃO PARCIAL DE BENS para o regime de SEPARAÇÃO
ABSOLUTA DE BENS” (fls. 15 da origem).
Requereram a “homologação da PARTILHA dos bens
do casal” (fls. 15 do processo de origem), conforme acordo disposto a fls. 12/14
da inicial.
Foi publicado edital (fls. 112 do processo de origem),
dando ciência pública do ajuizamento da ação.
Houve ofício respondido pelo SPC-Serasa (fls. 143 do
processo de origem), indicando duas anotações negativas em nome do agravante
Anderson. No entanto, foi demonstrada a negociação realizada com o Banco CSF
(fls. 168/174 da origem) e com a instituição de ensino Strong (fls. 184/192 da
origem).
O MM. Juízo de origem não homologou o acordo de
partilha, pois “não pode ser objeto desta ação, nem mesmo como homologação
de acordo, visto que o casamento não se findou e, a alteração do regime de bens
terá efeito "ex nunc", de forma que esse acordo de partilha não poderá prejudicar,
eventualmente, terceiros” (fls. 179 do processo de origem).
Insurgem-se os agravantes.
Com razão, pois “é admissível alteração do regime de
bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges,
apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de
terceiros” (art. 1.639, §2º, do Código Civil).
Em que pese o entendimento do MM. Juízo de origem,
é possível, com a alteração do regime de bens, a partilha dos bens obtidos
enquanto durou o regime anterior, desde que ressalvados os interesses de

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terceiros e dos cônjuges.


No caso em tela, há expressa concordância entre os
cônjuges e, do que se depreende dos autos, não há credores que possam ser
lesados. No mais, a partilha realizada neste momento não impede que as partes
respondam eventualmente, com seu patrimônio pessoal, pelos interesses de
terceiros lesados.
Não é outro o entendimento do E. Superior Tribunal de
Justiça:
“DIREITO DE FAMÍLIA. RECURSO ESPECIAL.
ALTERAÇÃO DE REGIME DE BENS DO CASAMENTO DE
COMUNHÃO PARCIAL PARA SEPARAÇÃO TOTAL. OMISSÃO DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. INEXISTÊNCIA. PARTILHA DOS BENS
ADQUIRIDOS NO REGIME ANTERIOR. POSSIBILIDADE. RECURSO
PROVIDO.
1. Consoante dispõe o art. 535 do Código de Processo Civil,
destinam-se os embargos de declaração a expungir do julgado
eventuais omissão, obscuridade ou contradição, não se caracterizando
via própria ao rejulgamento da causa.
2. É possível a alteração de regime de bens de casamento
celebrado sob a égide do CC de 1916, em consonância com a
interpretação conjugada dos arts. 1.639, § 2º, 2.035 e 2.039 do Código
atual, desde que respeitados os efeitos do ato jurídico perfeito do
regime originário.
3. No caso, diante de manifestação expressa dos cônjuges,
não há óbice legal que os impeça de partilhar os bens adquiridos no
regime anterior, de comunhão parcial, na hipótese de mudança para
separação total, desde que não acarrete prejuízo para eles próprios e
resguardado o direito de terceiros. Reconhecimento da eficácia ex nunc
da alteração do regime de bens que não se mostra incompatível com
essa solução.
4. Recurso especial provido” (STJ, REsp 1533179 / RS,
Relator(a) Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150), Órgão
Julgador T3 - TERCEIRA TURMA, Data do Julgamento 08/09/2015,
Data da Publicação/Fonte DJe 23/09/2015)

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No mais, como bem salientou a d. Procuradoria Geral


de Justiça:
“Se mostra pacífico o entendimento no sentido de que a
alteração de regime de bens terá eficácia a partir da data do trânsito em
julgado da decisão que declarar (eficácia 'ex nunc”), permanecendo o
regime de bens antecedente em relação ao período que precede tal
sentença. Assim, o novo regime de bens adotado pelas partes
(separação absoluta de bens), somente terá eficácia em relação aos
novos bens (e eventuais dívidas) adquiridos após a prolação da decisão
que alterar o regime e, portanto, não incide sobre o patrimônio atual das
partes.
Nesse horizonte, com a alteração do regime de bens para a
separação total, parece-nos razoável o pleito dos Recorrentes no
sentido de que seja realizada a partilha do patrimônio regido pelo
regime da comunhão parcial, desde que sejam expressamente
ressalvados os direitos de terceiros e adotadas cautelas para a
avaliação real do patrimônio comum, dando-se a devida publicidade”
(fls. 50).

Assim, de rigor a reforma da r. decisão, para


homologar o acordo de partilha, nos termos propostos na petição inicial.
Para fins de prequestionamento, consideram-se
incluídas no acórdão todas as matérias suscitadas pelas partes, objeto do
presente recurso.
Ante o exposto, dá-se provimento ao recurso, nos
termos da fundamentação supra.

FERNANDA GOMES CAMACHO


Relatora

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