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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS


GABINETE DA DESEMBARGADORA ONILZA ABREU GERTH

Segunda Câmara Cível

Apelação Cível - MANAUS/AM


PROCESSO N.º 0000256-73.2018.8.04.2701
APELANTE: LUCIANE CARVALHO TRINDADE
APELADO: Municipio de Barreirinha
RELATORA: ONILZA ABREU GERTH

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA


DE COBRANÇA. PAGAMENTO DE FGTS.
PRECLUSÃO TRINTENÁRIA. JURISPRUDÊNCIA
DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. POSSIBILIDADE.
SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO
E PROVIDO
- A jurisprudência deste Egrégio Tribunal, vem
reconhecendo e garantido o direito ao Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço aos contratos temporários com a
Administração, nos casos em que forem considerados
nulos em razão das sucessivas prorrogações.
- Nesse norte, demonstrado que a contratação se deu para
serviços ordinários, desvinculada de qualquer situação
excepcional, e, portanto, sem a observância das normas
referentes à indispensabilidade da prévia aprovação em
concurso público, é devido os depósitos de FGTS à
Apelante, por expressa previsão do artigo 19-A, da Lei n.º
8.036/1990.
- Ocorre que, quanto à prescrição quinquenal fixada em
Sentença, e prevista no art. 1.º, do Decreto n.º 20.910/32,
aplica-se o entendimento adotado pelo STF por ocasião do
julgamento do ARE 709.212, que ao declarar a

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inconstitucionalidade do prazo trintenário das pretensões


que buscam o pagamento do FGTS, modulou seus efeitos
nos seguintes termos: "Para aqueles cujo termo inicial da
prescrição ocorra após a data do presente julgamento,
aplica-se, desde logo, o prazo de cinco anos. Por outro
lado, para os casos em que o prazo prescricional já esteja
em curso, aplica-se o que ocorrer primeiro: 30 anos,
contados do termo inicial, ou 5 anos, a partir desta
decisão".
- Portanto, no presente feito, o contrato da Apelante
iniciou em 02/01/2009, findou em 31/12/2016 e a Ação foi
protocolada em 2018, ou seja, aplica-se o prazo de
prescrição que se consumar primeiro: trinta anos contados
do termo inicial ou cinco anos a partir de 13/11/2014, data
de julgamento do ARE 709.212. Assim, contar-se-á, pelo
período de 30 anos, pois já se encontrava em curso o
inadimplemento do Ente público.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, DECIDE a


colenda Segunda Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas
por unanimidade de votos, CONHECER DO PRESENTE RECURSO E DAR-LHE
PROVIMENTO, nos termos do voto da Relatora, que integra esta Decisão para todos os
fins de direito.
Sala das Sessões, em Manaus (AM.),

Presidente

Onilza Abreu Gerth


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Relatora

RELATÓRIO

Trata-se de Apelação Cível (fls. 34/43) interposta contra a


sentença (fls. 30/31) cujo juízo da Vara Única da Comarca de Barreirinha julgou
parcialmente procedentes os pedidos da exordial, condenando a municipalidade ao
pagamento de FGTS no valor correspondente a 8% dos salários do período trabalhado,
de 22/08/2013 a 31/12/2016, reconhecendo a prescrição das parcelas anteriores à data de
22/08/2013.

Em síntese, a apelante alega a aplicação da prescrição trintenária


aos servidores temporários e a contradição da decisão de primeiro grau à repercussão
geral do STF. Por fim, requer a reforma da sentença a fim da parte ré ser condenada ao
pagamento integral de FGTS, entre 02/01/2009 e 31/12/2016.

Não houve a interposição de contrarrazões.

Em parecer, o Ministério Público pugna pelo prosseguimento do


feito sem a sua intervenção.

É o relatório. Passo a decidir.

VOTO

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do


recurso.

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O cerne da questão é verificar a possibilidade de pagamento de


FGTS no período integral, entre 02/01/2009 a 31/12/2016, reconhecendo a prescrição
trintenária. Pois bem.

Quanto à pretensão ao pagamento dos depósitos de FGTS


decorrente de contrato temporário mantido pelo poder público, vejo que a matéria não é
nova neste Egrégio Tribunal, versando sobre hipótese de contratação, pelo ente público,
em desacordo com as normas constitucionais regentes da hipótese.

Neste sentido, a jurisprudência deste Egrégio Tribunal, vem


reconhecendo e garantido o direito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço aos
contratos temporários com a Administração, nos casos em que forem considerados
nulos em razão das sucessivas prorrogações. Vejamos:

DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL - APELAÇÃO


CÍVEL - CONTRATO TEMPORÁRIO - SUCESSIVAS PRORROGAÇÕES
- NULIDADE. DIREITO AO FGTS - ENTENDIMENTO DO STF ADI
3.127 – SENTENÇA MANTIDA. - contenda gira em torno do pagamento
das verbas trabalhistas referente ao FGTS dos servidores temporários cujo
contrato sofreu sucessivas renovações, perdurando pelo período de 10 anos; -
demonstra burla às normas contida no art. 37, incisos II e IX da Constituição
Federal, que trata da excepcionalidade da contratação temporária e da
realização de concurso público para investidura em cargo público, gerando a
nulidade do contrato sem perder de vista os direitos dos contratados, por
ventura existentes; - das contratações nulas, a tese firmada na Suprema Corte
Brasileira é pela constitucionalidade da norma prevista no art. 19-A da Lei nº
8.036/90, firmada no julgamento da ADI 3.127, que reconhece o direito ao
recebimento dos depósitos do FGTS; - RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. (TJAM - Apelação Cível n.º 0715697-15.2012.8.04.0001 -
Relatora: Dra. Mirza Telma de Oliveira Cunha; Comarca: Manaus/AM;
Órgão julgador: Terceira Câmara Cível; Data do julgamento: 08/06/2021;
Data de registro: 08/06/2021)

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Nesse norte, demonstrado que a contratação se deu para serviços


ordinários, desvinculada de qualquer situação excepcional, e, portanto, sem a
observância das normas referentes à indispensabilidade da prévia aprovação em
concurso público, é devido os depósitos de FGTS à Apelante, por expressa previsão do
artigo 19-A, da Lei n.º 8.036/1990.

Ocorre que, quanto à prescrição quinquenal fixada em Sentença, e


prevista no art. 1.º, do Decreto n.º 20.910/32, aplica-se o entendimento adotado pelo
STF por ocasião do julgamento do ARE 709.212, que ao declarar a
inconstitucionalidade do prazo trintenário das pretensões que buscam o pagamento do
FGTS, modulou seus efeitos nos seguintes termos: "Para aqueles cujo termo inicial da
prescrição ocorra após a data do presente julgamento, aplica-se, desde logo, o prazo de
cinco anos. Por outro lado, para os casos em que o prazo prescricional já esteja em
curso, aplica-se o que ocorrer primeiro: 30 anos, contados do termo inicial, ou 5 anos, a
partir desta decisão".

Portanto, no presente feito, o contrato da Apelante iniciou em


02/01/2009, findou em 31/12/2016 e a Ação foi protocolada em 2018, ou seja, aplica-se
o prazo de prescrição que se consumar primeiro: trinta anos contados do termo inicial
ou cinco anos a partir de 13/11/2014, data de julgamento do ARE 709.212. Assim,
contar-se-á, pelo período de 30 anos, pois já se encontrava em curso o inadimplemento
do Ente público.

Nesse sentido, segue a recente jurisprudência do Colendo STJ:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO


RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. SERVIDOR PUBLICO. CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA. NULIDADE. DIREITO AOS DEPÓSITOS DO FGTS.
CONFIGURAÇÃO. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA.
PRECEDENTES DO STF E STJ. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA
DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA.

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ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.


DESCABIMENTO. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na
sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data
da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se o
Código de Processo Civil de 2015. II - O servidor público, cujo contrato
temporário de natureza jurídico administrativo foi declarado nulo por
inobservância do caráter transitório e excepcional da contratação, possui
direito aos depósitos do FGTS correspondentes ao período de serviço
prestado, nos termos do art. 19-A da Lei n. 8.036/90. III - O termo inicial da
prescrição deve observar o disposto no julgamento do ARE 709.212, em
repercussão geral, qual seja, "para aqueles cujo termo inicial da prescrição
ocorra após a data do presente julgamento, aplica-se, desde logo, o prazo de
cinco anos. Por outro lado, para os casos em que o prazo prescricional já
esteja em curso, aplica-se o que ocorrer primeiro: 30 anos, contados do termo
inicial, ou 5 anos, a partir desta decisão". IV - No caso, o contrato mais
antigo teve início no ano de 1993. Desse momento até a decisão proferida
pelo STF, em 13.11.2014, não decorreram 30 anos. Assim, a regra
prescricional aplicável ao caso, por determinação do STF, é a quinquenal,
iniciada a partir do julgamento realizado em regime de repercussão geral,
cuja pretensão mais longínqua, bem como as mais recentes, podem ser
exercidas até 13.11.2019. V - O Agravante não apresenta, no agravo,
argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida. VI - Em regra,
descabe a imposição da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de
Processo Civil de 2015 em razão do mero desprovimento do Agravo Interno
em votação unânime, sendo necessária a configuração da manifesta
inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o
que não ocorreu no caso. VII - Agravo Interno improvido. (AgInt no REsp
1879051/MG, Rel. Ministra Regina Helena Costa, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 23/02/2021, DJe 01/03/2021).

Assim, entendo que não ocorreu na hipótese a prescrição


quinquenal fixada na r. Sentença combatida, posto o entendimento de que a prescrição é,
na verdade, trintenária. Ademais, eis a jurisprudência desta 2.ª Câmara Cível:

APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATO TEMPORÁRIO NULO. FGTS


DEVIDO.PRAZO PRESCRICIONAL COM TERMO INICIAL ANTERIOR

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AO JULGADO DO STF. PRESCRIÇÃO TRINTENÁRIA. RECURSO


PARCIALMENTE CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. O contrato em
questão é nitidamente nulo, pois consubstancia contratação de serviço não
previsto na lista de atividades que autoriza a admissão excepcional e
temporária de servidores sem concurso público e, portanto, atrai a incidência
da regra do artigo 19-A da Lei n. 8.036/90 (Lei do FGTS), que dita ser
devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato
de trabalho seja declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, §2º, da
Constituição Federal, quando mantido o direito ao salário. 2. Como a
demanda sub judice foi proposta em setembro de 2017, reclamando verbas de
FGTS referentes ao intervalo de agosto de 1978 a março de 2016, é
inequívoca a aplicação da prescrição trintenária, tal como corretamente
fundamentada na sentença, considerando a modulação dos efeitos da decisão
pelo Supremo Tribunal Federal no ARE 709212. 3. Isso porque, para os
casos cujo termo inicial da prescrição ocorra após a data do julgamento do
recurso extraordinário com agravo (ARE) 709212(13.11.2014), aplica-se,
desde logo, o prazo de cinco anos. Para aqueles em que o prazo prescricional
já esteja em curso, como no presente caso, aplica-se o que ocorrer primeiro:
30 anos, contados do termo inicial, ou cinco anos, a partir do julgamento. 4.
Recurso parcialmente conhecido e não provido. (Relator (a): Maria do
Perpétuo Socorro Guedes Moura; Comarca: Fórum de Parintins; Órgão
julgador: Segunda Câmara Cível; Data do julgamento: 23/05/2022; Data de
registro: 24/05/2022)

Isto exposto, julgo que o presente recurso de apelação cível deve


ser conhecido e provido. Reforme-se a sentença, a fim de condenar a municipalidade ao
pagamento de FGTS no valor correspondente a 8% dos salários do período trabalhado,
de 02/01/2009 a 31/12/2016.

É como voto.
Onilza Abreu Gerth
Relatora

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