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PODER JUDICIÁRIO

Estado de Mato Grosso


Comarca de Itiquira

Autos n.° 537-93.2004.811.0027


Código 3843

Vistos em correição.

Trata-se de cumprimento de sentença promovido por Eni


Moraes Cunha e outros, em face de Mário da Rocha Frade, todos devidamente
qualificados nos autos.
A fase de conhecimento visava a declaração da existência de
união estável, a declaração de nulidade de Contrato Particular de Convivência, a
declaração de nulidade de doação e a condenação dos requeridos - ora
exequentes - ao pagamento de indenização por prejuízos sofridos pelo autor.
Os requeridos da ação de conhecimento contestaram o feito
em fls. 152/194, 195/268 e 269/290, não tendo nenhum deles pugnado por
reconvenção.
O feito foi sentenciado às fls. 650/665, sendo julgado
procedente o pedido de declaração do reconhecimento da união estável entre o
requerente e a requerida/exequente Eni Moraes Cunha, e improcedente todos os
demais pedidos, condenando o autor ento de custas processuais e
honorários advocaticios sucumbenciais ropo ci9nais aos pedidos julgados
improcedentes.

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Apresentado recurso de apelação pelo autor, o Egrégio


Tribunal de justiça manteve a sentença incólume.
Transitada em julgado, Eni Moraes Cunha e outros (assim
qualificados pelo causídico), pugnaram pelo cumprimento da sentença, visando
receber bens contidos no Contrato de Convivência declarado válido pela sentença
de fls. 650/665.
O pedido foi acolhido por este juízo e a partir daí, iniciou-se
um verdadeiro embaraço processual, ocasionando vícios insanáveis.
Eis um breve e sucinto relatório dos autos.
De plano, verifico que o feito deve ser chamado à ordem, eis
o nítido desrespeito às normas processuais em diversas ocasiões, conforme
passarei a expor.
A primeira irregularidade - insanável - ocorreu com o
recebimento do pedido de cumprimento de sentença visando o recebimento de
bens constante em contrato que fora apenas declarado válido, não havendo
qualquer tipo de decisão referente a este contrato com cunho condenatório.
Esta mesma decisão, recebeu o pedido de execução sem
sequer ter sido informado pela exequente o quantum devido ousem qualquer
tipo de determinação para apuração destes valores, determinando a intimação do
executado para o pagamento desta dívida sob pena de aplicação de multa e etc., o
que evidentemente ocorreu, haja vista que é impossível pagar uma dívida da qual
não se sabe o quanto é devido.
A partir de então, iniciou-se uma execução regida por normas
próprias, com pedidos descabidos e infundados formulados pela exequente, e
pedidos repetitivos e protelatórios formula _executado, que a meu ver, é
até justificável, diante as imposições -T-i- ostas sem espeque legal.
lhe forYan

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Itiq T.
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Retornando a discussão sobre o vício insanável citado acima,
a jurisprudência é assente na impossibilidade de se requerer cumprimento de
sentença de cunho meramente declaratório, sem qualquer disposição em sentido
condenatório.
Verifica-se daquela, que a única condenação disposta foi a de
honorários sucumbenciais, logo, aquela sentença só poderá ser utilizada como
titulo executivo para perquirir este crédito, pois a forma como o contrato deverá
ser quitado e a aplicação de eventuais consectários legais, devem ser discutidos
em ação autônoma, se o contrato preencheu os requisitos legais para o
reconhecer como título executivo extrajudicial, deverá ser cobrado por meio de
execução de titulo extrajudicial, com prévia liquidação da divida e não nestes
autos, caso o documento não esteja revestido de força executiva, o suposto
crédito deve ser perquirido por meio de ação de cobrança, respeitando-se
sempre, o prazo prescricional do direito.
Neste sentido, é a jurisprudência:
"AGRAVO REGIMENTAL. (...). AÇÃO DECLARATÓRIA.
INEXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO. CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. IMPOSSIBILIDADE. (..) 2. Em razão das
alterações legislativas do Código de Processo Civil,
principalmente a que acrescentou o art. 475-IV, esta Corte
posicionou-se no sentido da possibilidade de execução de
sentença declaratória, desde que tenha conteúdo
condenatório, a fim de que seja privilegiado o princípio
da efetividade. 3. Tal matéria já foi objeto de decisão por
esta Corte, por ocasião do julgamento do REsp
1.192.783/RS, de relatoria do Min. Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, julgado em 4.8.2011, Ne
15.8.2011, submetido à sistemática dos recursos
repetitivos. Naquele julgado, firmOu-se o entendimento
no sentido de que a decisão proferida no processo civil
que reconhece a ex ncia -dada obrigação de pagar é
título executivo .t‘d r pedido de cumprimento de
sentença. 4. os au os, todavia, verifica-se que á

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sentença em questão apenas julga improcedente pedido


declaratório de inexistência de débito, e não pedido de
reconhecimento de obrigação. Agravo regimental
improvido. (AgRg no AREsp 351.004/SP, Rei Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/09/2013, Dje 11/09/2013)" (grifo nosso)
Além do mais, o artigo 4754 do Código de Processo Civil
vigente à época do recebimento da execução e principal fundamento utilizado na
decisão que a recebeu, era claro ao dispor que a execução só se procederia em
caso de condenação ao pagamento de quantia certa ou liquidada, não ocorrendo
nenhuma destas hipóteses, esta segunda inclusive juridicamente impossível no
caso dos autos, deveria o pedido ser indeferido, senão vejamos:

"Art. 475-j. Caso o devedor, condenado ao pagamento


de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o
efetue no prazo de quinze dias, o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de dez
por cento e, a requerimento do credor e observado o
disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á
mandado de penhora e avaliação." (grifo nosso)
Ademais, não há que se falar em estabilização de decisões
anteriores a esta que dispuseram em sentido contrário, pois decisões proferidas
ao arrepio da lei trazem com si nulidades de ordem pública, que podem inclusive
serem arguidas de ofício.
Ante o exposto, chamo o feito à ordem, revogo a decisão de
fls. 801, conforme fundamentos acima expostos, por consequência, anulo todos os
atos posteriores a ela, devendo todos os efeitos jurídicos produzidos em
decorrência destes voltarem ao seu estado a quo ante, revogando-se, por
exemplo, aplicações de multas e instituições de penhoras.
Em análise ao pedido de_cumprimento de sentença de fls.
797/798, indefiro-o, eis que genérico, ãS1-ro xe tabela de cálculo e o valor
devido da dívida, ônus atribuído ao ente.
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Iti ira/MT/.
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Deste modo, intime-se o exequente, advogado dos requeridos


atuantes na fase de conhecimento, para que no prazo de 05 (cinco) dias traga os
autos a tabela de cálculo atualizada de seu crédito, decorrente da condenação de
honorários sucumbenciais.
Cumpra-se, expedindo o necessário.
Às providências. •
Itiquira-MT, 03 d sete ode 2018

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