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em face de D. A. PINHO LTDA (HOME CARE SINOP), pessoa jurídica de direito privado
devidamente inscrita no CNPJ sob nº 31.666.073/0001-40, com sede na Rua dos Canários, nº
566, bairro Jardim das Nações, Sinop/MT, CEP: 78.556-410, Telefone: (66) 99977-7900, E-mail:
homecaresinop@hotmail.com, bem como, em face da SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE
DO ESTADO DE MATO GROSSO (SESMT), órgão público, sem personalidade jurídica, neste ato
vinculada e representada pelo ESTADO DE MATO GROSSO, pessoa jurídica de direito público,
inscrita no CNPJ sob nº 03.507.415/0001-44, localizado na AC Palacio Paiaguas, s/n, Anexo
Gabinete do Governador, bairro Bosque da Saúde, Cuiabá/MT, CEP: 78.050-970, E-mail:
gabinete@governadoria.mt.gov.br, Telefone: (65) 3613-4100 e (65) 3613-4110, pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos:
Consoante o disposto na Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei 13.105/2015,
artigo 98 e seguintes, a Autora declara para os devidos fins e sob as penas da lei, conforme
Declaração de Hipossuficiência em anexo, não ter condições financeiras de arcar com o
pagamento de custas e demais despesas processuais sem prejuízo do próprio sustento e de sua
família pelo que requer os benefícios da Justiça Gratuita.
É o que se requer.
2. DOS FATOS
O polo ativo da presente lide é composto pelo filho (JOSE ROBERTO TORZESCHI) e
sua esposa (ISRAELA FERNANDES LEITE) ambos legítimos a pleitear em juízo a reparação
pelos danos sofridos em decorrência da falha na prestação de serviço essencial que causou o
óbito da Sra. ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI (de cujus), inscrita no CPF sob nº
777.604.681-72, falecida em data de 14 de novembro de 2021, conforme Certidão de Óbito em
Anexo.
A negligência por parte da Primeira Requerida está amplamente demonstrada por meio
do Laudo Médico (em anexo) emitido pela própria Médica Dra. Karina C. Kooper, devidamente
inscrita no CRM/MT nº 11003, a qual é contratada da Primeira Requerida para realizar o
acompanhamento médico da paciente/de cujus em questão.
A paciente em questão, após realização de vários exames (no Hospital São Lucas)
conforme provas em anexo, no dia 13 de novembro de 2021 às 10h30min recebeu alta médica
conforme RESUMO DE ALTA emitido pelo Médico Dr. Nelson Tanoue Hasegawa Junior,
CRM/MT sob nº 4510, onde fez constar o seguinte:
“EVOLUÇÃO
- TC DE TORAX COM PEQUENO DERRAME PLEURAL A ESQUERDA,
COM ATELECTASIA, ESPAÇAMENTO DE BRONQUICO, HMG
INFECCIOSO, PROVAS INFLAMATÓRIAS AUMENTADAS, REALIZO
ASPIRAÇÃO TRAQUEAL COM SAÍDA DE SECREÇÃO ESPESSA E
AMARELADA, EM O2 EM WOOD A 4-3 L/MIN, SAT 97%, FC:75 FR:23;
AFEBRIL.
CONDUTA DE ALTA
MOTIVO DE ALTA: TRANSFERÊNCIA
PROCEDIMENTO DE ALTA: ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS NA
ATENÇÃO ESPECIALIZADA.
Após o retorno da paciente para o seu domicílio, a médica responsável Dra. Karina C.
Kooper, registrou:
É o relato.
3. DO DIREITO
Está nítida a formação de relação de consumo entre as partes, posto que a redação
da norma consumerista não permite margem a qualquer dúvida. Negar a aplicação do Código
de Defesa do Consumidor é ferir direito líquido e certo da de cujus e seus familiares, inclusive
constitui afronta à Constituição Federal, posto que o direito à vida e à saúde são essenciais e
indisponíveis, não podendo o ente público ou privado negligenciar tais garantias constitucionais.
A saúde é direito de todos e dever do Estado, nos termos do Artigo 196 da Constituição
Federal, que deve garantir aos cidadãos o fornecimento de todos os meios indispensáveis para
sua manutenção e restabelecimento. O dever de assegurar o direito à saúde caracteriza
obrigação de responsabilidade solidária entre os entes federativos, o que não implica em
obrigatoriedade de inclusão ou exclusão de um ou outro. Tese firmada no julgamento do RE
855178 RG/SE no Supremo Tribunal Federal.
Desta feita, o que se requer é que Vossa Excelência reconheça e declare a aplicação
do Código de Defesa do Consumidor ao caso em tela, e faça valer os direitos previstos em tal
diploma legal.
É o que se requer.
Uma vez que se verifica a relação de consumo entre as partes que compõe os polos
passivo e ativo da presente lide, deve ser garantida a aplicação do disposto no Art. 6º, VIII, do
CDC (“São direitos básicos do consumidor:” (...) “a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias
de experiências;”), ou seja, aplique-se a inversão do ônus da prova em favor dos Requerentes.
No que tange a hipossuficiência também não resta qualquer dúvida do quão gritante é
a disparidade econômica dos Requerentes face à Primeira Requerida (empresa privada) e a
Segunda Requerida (Estado de Mato Grosso). Quando se fala em hipossuficiência, não se pode
esquecer que tal termo consignado no inciso VIII, do Art. 6º, do CDC, remete tanto ao fator
econômico, técnico e jurídico das partes consumidoras em relação aos fornecedores de serviços
e produtos.
Vale ressaltar que o disposto no inciso VIII do Art. 6º do CDC contém a seguinte
redação: “for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente”. O Legislador
consignou no texto da legislação mencionada a conjunção “OU”, isto é, não há a necessidade
de verificação por parte do(a) magistrado(a) de ambos os requisitos (verossimilhança e
hipossuficiência) para determinar a inversão do ônus da prova, basta que apenas um deles
esteja presente. Embora que, como amplamente demonstrado, no caso em tela ambos os
requisitos estão presentes de maneira inconteste.
modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.
Desta forma, o que se requer ante aos requisitos tanto do CDC quanto do CPC, bem
como, ante a demonstração da hipossuficiência (técnica, jurídica e econômica) dos
Requerentes, pugnam estes pelo deferimento da inversão do ônus da prova como medida de
mais lídima justiça.
É o que se requer.
No mesmo sentido, o Art. 6, inciso VI, do CDC, expõe que são direitos do consumidor
"a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos".
Portanto, frente aos ditames legais e aos fatos narrados, é claro o dever dos
Requeridos em indenizar os Requerentes. E, quanto a este dever legal, assim leciona o saudoso
professor da Universidade de São Paulo, Carlos Alberto Bittar (Curso de Direito Civil. 1ª ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1994, p. 561):
Por fim, no mesmo dia 14/11/2021 às 19h30 a responsável médica é comunicada que
a paciente está muito mal, razão pela qual novamente está precisa ser encaminhada até o
Hospital São Lucas por meio da ambulância do Corpo de Bombeiros, devido as omissões por
parte das Requeridas, principalmente por parte da Primeira Requerida. Assim a profissional
médica consigna no prontuário: “Paciente levada com vida, pelo corpo de
No que tange a conduta do agente é nítido que é a omissão, tanto pela Primeira
Requerida como a Segunda Requerida é o fator predominante que colaborou para que a
paciente de cujus ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI viesse à óbito, haja vista que do dia
09/11/2021 ao dia 14/11/2021 é possível observar por várias vezes o comportamento omisso,
principalmente da Primeira Requerida.
Vale frisar que no tocante a Segunda Requerida (Ente Público) é possível vislumbrar
tanto a culpa in elegendo, bem como, in vigilando, posto que no momento em que ocorreu a
“contratação administrativa” da empresa responsável pelo Serviço de Atenção Domiciliar (SAD),
no caso em tela a empresa Home Care Sinop, sendo que enquanto tal serviço estava sendo
executado nos autos judiciais, cuja empresa contratada era a Bio Quality a paciente não houvera
sofrido qualquer alteração em seu quadro de saúde.
No momento em que houve a transição, poucos dias depois a paciente já começou a
apresentar sinais de piora em seu quadro clínico e por haver diversas omissões como ficou
evidenciado, a paciente veio a óbito. Isso demonstra que a Secretaria de Estado de Saúde (SES)
não observou os critérios mínimos para a contratação da Primeira Requerida (culpa in elegendo)
e mesmo após a contratação permitiu que a paciente tivesse uma piora no seu quadro de saúde
em decorrência do não fornecimento de exames médicos e medicamento (culpa in vigilando).
Desse modo, não restam dúvidas de que tanto a Primeira como a Segunda Reclamada
colaboraram seja de forma ativa como passiva para que o evento morte da paciente ocorresse,
ficando assim as duas responsáveis solidariamente pelo dever de reparar o dano causado.
No que tange ao ato ilícito é flagrante a violação legal por ambas partes que compõe
o polo passivo da presente lide. Em primeiro momento ao disposto no Art. 196 da Constituição
Federal de 1988, à Lei 10.424/2002 (cria o Atendimento Domiciliar), Portaria nº 825, de 25 de
abril de 2016 do Ministério da Saúde, bem como, e principalmente, à Resolução nº 1.668/2003
do Conselho Federal de Medicina (em anexo), principalmente no que dispõe o Art. 8º com a
seguinte redação:
Atividade Principal
Atividade Secundária
(...)
Desse modo, Excelência, o quantum indenizatório deve ser fixado, considerando tudo
o que foi demonstrado e que está calcado em provas robustas, em patamar não inferior ao
montante de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).
É o que se requer.
4. DOS PEDIDOS
Excelência, com base nos fatos e fundamentos jurídicos mencionados em toda peça
inicial, além das provas que corroboram com fatos narrados, os Requerentes pugnam que:
b) Requer que seja reconhecida a relação de consumo entre as partes, uma vez
que estão presentes todos os requisitos legais para aplicação do Código de
Defesa do Consumidor;
c) Requer que seja deferido o pedido de inversão do ônus da prova nos moldes
do Art. 6º, VIII, do CDC, uma vez que estão preenchidos todos os requisitos
para tanto, qual sejam: hipossuficiência da parte consumidora (técnica, jurídica
e financeira), bem como, a verossimilhança dos fatos e fundamentos jurídicos;
d) Requer que seja reconhecida a responsabilidade civil das Requeridas, posto
que está demonstrado o dano, o nexo de causalidade e a conduta ilícita dos
agentes, de modo que este sejam condenados a reparar os danos (materiais
e imateriais) decorrentes disto;
g) Pugna pela produção de prova técnica, caso seja necessário, uma vez que a
presente ação gravita em torno de falha na prestação de serviço médico,
embora não se vislumbre erro do médico;
Por fim, protesta provar os fatos e fundamentos jurídicos por todos os meios de prova
em direito admitidas, em especial as provas documentais que acompanham a presente,
principalmente por se tratar de prontuários médicos, os quais possuem fé pública, além de
áudios da família em contato com a Primeira Requerida.