Você está na página 1de 23

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE LUCAS DO RIO VERDE/MT

JOSE ROBERTO TORZESCHI, brasileiro, união estável, portador do RG sob


nº14101254 SSP/MT e inscrito no CPF sob nº 930.666.511-34 e ISRAELA FERNANDES LEITE,
brasileira, união estável, técnica de enfermagem, portadora do RG nº 140010320004 SEJUSP/MA,
inscrita no CPF/MF sob nº 012.614.263-71, ambos residentes e domiciliados na Rua Renascença,
nº 1212-s, Bairro Veneza, na cidade de Lucas do Rio Verde – MT, com endereço eletrônico:
desconhecido, com telefone: (65)9993-6237, vem por meio de seus procuradores que esta
subscrevem, propor:

AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANO MORAL EM DECORRÊNCIA DE FALHA NA


PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ESSENCIAL

em face de D. A. PINHO LTDA (HOME CARE SINOP), pessoa jurídica de direito privado
devidamente inscrita no CNPJ sob nº 31.666.073/0001-40, com sede na Rua dos Canários, nº
566, bairro Jardim das Nações, Sinop/MT, CEP: 78.556-410, Telefone: (66) 99977-7900, E-mail:
homecaresinop@hotmail.com, bem como, em face da SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE
DO ESTADO DE MATO GROSSO (SESMT), órgão público, sem personalidade jurídica, neste ato
vinculada e representada pelo ESTADO DE MATO GROSSO, pessoa jurídica de direito público,
inscrita no CNPJ sob nº 03.507.415/0001-44, localizado na AC Palacio Paiaguas, s/n, Anexo
Gabinete do Governador, bairro Bosque da Saúde, Cuiabá/MT, CEP: 78.050-970, E-mail:
gabinete@governadoria.mt.gov.br, Telefone: (65) 3613-4100 e (65) 3613-4110, pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos:

1. PRELIMINAR DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Consoante o disposto na Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei 13.105/2015,
artigo 98 e seguintes, a Autora declara para os devidos fins e sob as penas da lei, conforme
Declaração de Hipossuficiência em anexo, não ter condições financeiras de arcar com o
pagamento de custas e demais despesas processuais sem prejuízo do próprio sustento e de sua
família pelo que requer os benefícios da Justiça Gratuita.

É o que se requer.

2. DOS FATOS

O polo ativo da presente lide é composto pelo filho (JOSE ROBERTO TORZESCHI) e
sua esposa (ISRAELA FERNANDES LEITE) ambos legítimos a pleitear em juízo a reparação
pelos danos sofridos em decorrência da falha na prestação de serviço essencial que causou o
óbito da Sra. ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI (de cujus), inscrita no CPF sob nº
777.604.681-72, falecida em data de 14 de novembro de 2021, conforme Certidão de Óbito em
Anexo.

A de cujus ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI era beneficiária/paciente do Serviço


de Atenção Domiciliar (Home Care) cujos atendimentos/procedimentos médicos hospitalares
eram prestados na residência desta, pela Primeira Requerida (HOME CARE SINOP), custeados
pela Segunda Requerida (ESTADO DE MATO GROSSO), sendo que a Secretaria de Estado de
Saúde de Mato Grosso (SESMT) é responsável pela contratação, administração e pagamentos
à empresa terceirizada que compõe o polo passivo da presente, sendo que a Primeira Requerida
passou a prestar tais serviços em data de 01 de novembro de 2021, conforme Termo de Adesão
ao Atendimento Domiciliar em anexo.

A paciente/de cujus em questão passou a receber o atendimento domiciliar Home Care


em data de 11 de outubro de 2017, conforme determinação judicial nos autos sob nº 1003663-
26.2017.8.11.0045, sendo que até a data de 01 de novembro de 2021 era outra empresa que
prestava o aludido serviço, contudo, após a mudança/transição da prestadora de serviços
terceirizada, por negligência, tanto da SES/MT, como por parte da Primeira Requerida, a
paciente começou a ter um agravamento significativo no seu quadro de saúde, que inclusive a
levou à óbito.

A negligência por parte da Primeira Requerida está amplamente demonstrada por meio
do Laudo Médico (em anexo) emitido pela própria Médica Dra. Karina C. Kooper, devidamente
inscrita no CRM/MT nº 11003, a qual é contratada da Primeira Requerida para realizar o
acompanhamento médico da paciente/de cujus em questão.

De acordo com o Laudo Médico, cujas anotações e consignações remetem ao período


de 02 de novembro de 2021 a 14 de novembro de 2021, onde é possível identificar sem

qualquer margem de dúvida, que o agravamento do quadro de saúde da paciente


até o momento do óbito se deu pelo fato da Primeira Requerida não providenciar
o medicamento LEVOFLOXACINO 750MG, bem como, ser omissa em relação a
realização de exames e demais procedimentos requisitados pela médica em
questão, como pode se verificar pelo apontamento feito no dia 09 de novembro de 2021, onde
foi consignado:

“# “Subjetivo: ... Afirma esforço respiratório na manhã de hoje, com


necessidade de suporte de oxigênio (evoluindo de 78% para 97% após O2
via traqueostomia em 2 litros/minuto)”... “# Exame Físico: ... AR: MV com
roncos difusos inspiratórios e expiratórios, sem esforços respiratórios no
momento, SatO2: 97% com oxigênio 2 litros/minuto e secreção espessa e
amarelada via traqueostomia.” ... “# Avaliação: paciente em estado geral
regular, sem esforços no momento devido ao suporte de oxigênio. Face de
dor, sem outros sinais no momento”. ... “# Conduta: - Prescrevo
levofloxacino 750mg 1 comprimido ao dia por 10 dias, aguardo
providências e envio do medicamento pelo homecare. - Converso com a
empresa de assistência quanto a solicitação de exames e suportes
necessários para a mesma e novo cilindro de oxigênio, afirmam novas
providências e viabilizações para tal logística. - Fico à disposição para
novos sinais, alerto equipe técnica sobre sinais de gravidade.”

Ocorre que, devido ao fato de a Primeira Requerida não providenciar o medicamento,


bem como, os procedimentos solicitados pela Dra. Karina C. Kooper, no dia 12 de novembro de
2021 a paciente teve agravamento em seu quadro de saúde, tendo inclusive de ser encaminhada
ao Pronto Socorro do Hospital São Lucas, tanto que a própria médica em questão fez tal
requisição e consignou o seguinte no Laudo Médico referente ao ocorrido:
“# Reafirmo sobre a necessidade de exames laboratoriais e
de imagem, converso com Home Care Sinop sobre a
viabilização dos exames. Após não termos respostas para
realiza-los no domicilio, converso com a família e equipe de
técnicos em enfermagem para chamar o bombeiro e leva-la ao
hospital com as minhas solicitações de exames.”

Conforme prontuário médico de nº 67828, no dia 12 de novembro de 2021 às 16h47min


e de acordo com o Laudo Médico Para Procedimento de Alta Complexidade, elaborado quando
da admissão da paciente no pronto socorro em questão, foi consignado que:

“RESUMO DE ANAMNESE E EXAME FÍSICO: PACIENTE ENCAMINHADO


PELO CBM ACOMPANHADA DA CUIDADORA QUE REFERE
DESCONFORTO RESPIRATÓRIO DA PACIENTE. RELATA ESTAR
ACOMPANHAMENTO POR EMPRESA MEDICA ESPECIALIZADA HOME
CARE HÁ 05 ANOS ONDE MEDICA ASSISTENTE PRESCREVEU
LEVOFLOXACINO 750 MG/DIA (D5), IBUPROFENO E DIPIRONA; E
SOLICITOU ALGUNS EXAMES PARA REALIZAR EM UNIDADE.”

A paciente em questão, após realização de vários exames (no Hospital São Lucas)
conforme provas em anexo, no dia 13 de novembro de 2021 às 10h30min recebeu alta médica
conforme RESUMO DE ALTA emitido pelo Médico Dr. Nelson Tanoue Hasegawa Junior,
CRM/MT sob nº 4510, onde fez constar o seguinte:

“EVOLUÇÃO
- TC DE TORAX COM PEQUENO DERRAME PLEURAL A ESQUERDA,
COM ATELECTASIA, ESPAÇAMENTO DE BRONQUICO, HMG
INFECCIOSO, PROVAS INFLAMATÓRIAS AUMENTADAS, REALIZO
ASPIRAÇÃO TRAQUEAL COM SAÍDA DE SECREÇÃO ESPESSA E
AMARELADA, EM O2 EM WOOD A 4-3 L/MIN, SAT 97%, FC:75 FR:23;
AFEBRIL.
CONDUTA DE ALTA
MOTIVO DE ALTA: TRANSFERÊNCIA
PROCEDIMENTO DE ALTA: ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS NA
ATENÇÃO ESPECIALIZADA.

Após o retorno da paciente para o seu domicílio, a médica responsável Dra. Karina C.
Kooper, registrou:

“Conduta: Paciente retorna para casa, para tratamento no domicílio, com


devidas prescrições:
- Ceftriaxona lg, 02 gramas em sf 100m1 EV ao dia, por 07 dias
- Inalação de 4/4h com 04 gts de berotec e 20 gts de atrovent.
- Mantenho contato continuo com equipe técnica via telefone
e familiares devido ao desencontro de informações com a
equipe e a empresa responsável pela assistência.”

Contudo, Excelência, até este momento a Primeira Requerida ainda não

houvera fornecido o medicamento (levofloxacino 750mg), bem como, não atendeu


nenhuma das solicitações feitas pela médica responsável, de modo que, sem o
tratamento medicamentoso requisitado o quadro clínico da paciente sofreu novo
agravamento, conforme se verifica do Laudo Médico elaborado pela Dra. Karina C. Kooper no
dia 14 de novembro de 2021:

“DIA 14/11/21 ÀS 10:30 URGÊNCIA

# Subjetivo: Realizado visita de urgência devido à


episódio convulsivo. Até o presente momento a
paciente está sem o antibiótico prescrito para
continuidade do tratamento (quase 72h após a
prescrição).

# Exame físico: estado geral ruim, gemente e dependente de 02 (2litros por


minuto/Sat 02: 97%). AR: MV com roncos difusos e esparsos, inspiratórios e
expiratórios, redução dos MV à esquerda. Com presença de secreção via
traqueostomia, queda da saturação durante o período de aspiração
(necessitando de 5 litros por minuto, mantendo SatO2: 93%). ACV: RCR sem
sopros, eucardica (FC 98bpm), PA 120/80mmHg. Pulsos periféricos
palpáveis rítmicos e simétricos.”

# Conduta: devido à ausência de medicamento no


domicílio (com previsão de chegada para terça-feira
dia 16/11/21) e com significante piora do estado geral,
ausência de contato com responsável pelo home care
para novas providências converso com familiares,
que preferem manter paciente no domicilio e, desta
forma, prescrevo novo medicamento o qual a família
buscou dentro dos próprios recursos.
- Iniciado de imediato às 12h, após nova punção pela equipe técnica:
Meropenem 1g + vancomicina 1g EV, oriento administração lenta
individualmente em soro fisiológico de l00ml, mantendo o acesso apenas
com salinização a cada uma hora.
- oriento manter inalação com aftovent 20gts, de 414h.
- Solicito ureia e creatinina, seriados e novos exames laboratoriais (aguardo
contato do homecare para novas solicitações).

- Converso com empresa assistencial (homecare


sinop), sem resposta até o momento.”

No mesmo dia 14 de novembro de 2021, após o primeiro atendimento de urgência


realizado às 10h30min, a Dra. Karina C. Kooper novamente é solicitada às 19h35min para
prestar atendimento emergencial à paciente, conforme se verifica:

“Realizado visita de urgência devido à episódio de parada cardíaca no


domicilio por volta das 19:20). No caminho do domicilio, aciono assistência
dos bombeiros.
# Exame físico: estado geral ruim, pós-PCR e dependente de 02 (15 litros
por minuto/Sat 02: 96%). Diversas marcas no peito devido a massagem
cárdica, pulsos taquicárdicos (FC 100-200bpm). Sangramento na pele ao
redor do orifício da gastrostomia. Pulsos periféricos palpáveis e simétricos.

# Conduta: - Sem outros medicamentos ou materiais de suporte no domicílio,


apenas suporte com AMBU para transportar até o caro do corpo de
bombeiros (chega dos bombeiros às l9:50).
- Paciente levada com vida, pelo corpo de bombeiros, ao Hospital São Lucas.

- Informo condutas e evoluções aos responsáveis


pelo Home Care Sinop, ausência respostas até o
momento.

De acordo com o prontuário médico sob nº 67828 do dia 14 de novembro de 2021, às


20h12min deu entrada na emergência do Hospital São Lucas, onde apesar de receber
atendimento médico especializado acabou evoluindo para óbito em decorrência do agravamento
do seu quadro geral de saúde, pois não recebeu a medicação que fora indicada e solicitada para
a Primeira Requerida.

Não restam dúvidas de que, tanto o agravamento no quadro de saúde da paciente e


consequentemente o seu óbito, se deram em razão da negligência por parte da Primeira
Requerida, e de forma indireta e até mesmo direta, por parte da Segunda Requerida, pois não
forneceu a medicação que foi solicitada e indicada pela médica responsável, bem como, não
forneceu os exames que foram solicitados, sem contar que a médica responsável efetuou a
cobrança de forma robusta e a Primeira Requerida deixou de tomar as medidas necessárias.

É o relato.

3. DO DIREITO

3.1 – DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


A relação jurídica se enquadra no conceito de relação de consumo regulada pela Lei
nº 8.078/90, norma de ordem pública, cogente e de interesse social. De acordo com o Art. 2º do
CDC, a parte Requerente se amolda ao conceito de consumidor, tendo em vista que era a
destinatária final da prestação serviço, bem como, é hipossuficiente na relação jurídica em
questão.

As Requeridas se amoldam ao disposto no Art. 3º do CDC, haja vista que preenchem


os requisitos legais dispostos, tanto no Caput, como no §2º do aludido artigo, de modo que estão
presentes todos os elementos da relação de consumo.

APELAÇÃO. PLANO DE SAÚDE. RELAÇÃO DE CONSUMO. HOME CARE.


FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. ILEGITIMIDADE PASSIVA QUE
SE AFASTA. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. QUANTUM DEBEATUR.
MAJORAÇÃO. 1. A relação jurídica entre as partes é de consumo, de
maneira que as normas entabuladas no Código de Defesa do
Consumidor lhes são aplicadas. Nessa linha, é direito do consumidor a
adequada e efetiva prestação de serviços pelo fornecedor, com
observância, principalmente, dos postulados da boa-fé objetiva e seus
deveres anexos. (...). (TJ-RJ - APL: 00044336620128190052, Relator:
Des(a). JOSÉ CARLOS PAES, Data de Julgamento: 03/04/2019, DÉCIMA
QUARTA CÂMARA CÍVEL)

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – PARCIAL
PROCEDÊNCIA – PLANO DE SAÚDE – APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR - TRATAMENTO HOME CARE – RECUSA
INJUSTIFICADA – TRATAMENTO INDICADO POR PROFISISONAL
MÉDICO RESPONSÁVEL – COBERTURA DEVIDA – PRESERVAÇÃO DO
BEM MAIOR (VIDA) - DANOS MATERIAIS – REEMBOLSO –
CONFIGURAÇÃO - DANO MORAL – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO –
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. Os contratos de planos de saúde estão submetidos ao Código de
Defesa do Consumidor, nos termos do artigo 35 da Lei 9.656/98, pois
envolvem típica relação de consumo. Assim, na espécie, incide o artigo 47
do CDC, que determina a interpretação das cláusulas contratuais de maneira
mais favorável ao consumidor. Consoante entendimento jurisprudencial do
STJ “O serviço de Home Care (tratamento domiciliar) constitui
desdobramento do tratamento hospitalar contratualmente previsto, que não
pode ser limitado pela operadora do plano de saúde. Na dúvida, a
interpretação das cláusulas dos contratos de adesão deve ser feita da forma
mais favorável ao consumidor.” (STJ, AgInt no AgInt no AREsp 1813690/RJ).
Os valores despendidos pelo autor com serviços de enfermagem (em razão
da injustificada negativa da operadora de plano de saúde), devem ser
ressarcidos devidamente corrigidos pelo INPC a partir do desembolso e juros
de mora desde a citação. A operadora de plano de saúde não pratica ato
ilícito gerador de dano moral, por si só, ao negar a cobertura de determinado
procedimento, segundo sua interpretação contratual. Precedentes do STJ
(AgInt no REsp 1270321/RS; AgInt no REsp 1790810/SP e AgInt no REsp
1812237/SP).- (N.U 0026044-96.2013.8.11.0041, CÂMARAS ISOLADAS
CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARILSEN ANDRADE ADDARIO, Segunda
Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/02/2022, Publicado no DJE
09/03/2022)

Está nítida a formação de relação de consumo entre as partes, posto que a redação
da norma consumerista não permite margem a qualquer dúvida. Negar a aplicação do Código
de Defesa do Consumidor é ferir direito líquido e certo da de cujus e seus familiares, inclusive
constitui afronta à Constituição Federal, posto que o direito à vida e à saúde são essenciais e
indisponíveis, não podendo o ente público ou privado negligenciar tais garantias constitucionais.

A saúde é direito de todos e dever do Estado, nos termos do Artigo 196 da Constituição
Federal, que deve garantir aos cidadãos o fornecimento de todos os meios indispensáveis para
sua manutenção e restabelecimento. O dever de assegurar o direito à saúde caracteriza
obrigação de responsabilidade solidária entre os entes federativos, o que não implica em
obrigatoriedade de inclusão ou exclusão de um ou outro. Tese firmada no julgamento do RE
855178 RG/SE no Supremo Tribunal Federal.

Desta feita, o que se requer é que Vossa Excelência reconheça e declare a aplicação
do Código de Defesa do Consumidor ao caso em tela, e faça valer os direitos previstos em tal
diploma legal.

É o que se requer.

3.2 – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Uma vez que se verifica a relação de consumo entre as partes que compõe os polos
passivo e ativo da presente lide, deve ser garantida a aplicação do disposto no Art. 6º, VIII, do
CDC (“São direitos básicos do consumidor:” (...) “a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias
de experiências;”), ou seja, aplique-se a inversão do ônus da prova em favor dos Requerentes.

Quanto ao requisito da verossimilhança da alegação não há qualquer dúvida de que


os fatos narrados devidamente alicerçados em provas documentais (Laudo Médico, Prontuário,
etc.), tal requisito se mostra preenchido, razão pela qual não há motivos para que o(a)
magistrado(a) venha a indeferir tal pedido com base em tal requisito legal.

No que tange a hipossuficiência também não resta qualquer dúvida do quão gritante é
a disparidade econômica dos Requerentes face à Primeira Requerida (empresa privada) e a
Segunda Requerida (Estado de Mato Grosso). Quando se fala em hipossuficiência, não se pode
esquecer que tal termo consignado no inciso VIII, do Art. 6º, do CDC, remete tanto ao fator
econômico, técnico e jurídico das partes consumidoras em relação aos fornecedores de serviços
e produtos.

No caso em tela estão nítidas a hipossuficiência técnica (os consumidores não


detém qualquer conhecimento médico), hipossuficiência jurídica (não detém qualquer
conhecimento jurídico quanto aos direitos e obrigações em relação aos fornecedores de serviço
e produtos) e a hipossuficiência econômica (esta é a que possui maior destaque no quadro
em tela, pois se os Requerentes tivessem condições financeiras custeariam o tratamento
domiciliar Home Care com seus próprios recursos financeiros, seja contratando uma empresa
que presta o serviço diretamente, ou por meio de um plano de saúde).

Vale ressaltar que o disposto no inciso VIII do Art. 6º do CDC contém a seguinte
redação: “for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente”. O Legislador
consignou no texto da legislação mencionada a conjunção “OU”, isto é, não há a necessidade
de verificação por parte do(a) magistrado(a) de ambos os requisitos (verossimilhança e
hipossuficiência) para determinar a inversão do ônus da prova, basta que apenas um deles
esteja presente. Embora que, como amplamente demonstrado, no caso em tela ambos os
requisitos estão presentes de maneira inconteste.

A inversão do ônus da prova não está prevista apenas no Código de Defesa do


Consumidor, o Código de Processo Civil de 2015, em seu Art. 373, §1º, prevê o seguinte:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


(...)
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de

modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.

Desta forma, o que se requer ante aos requisitos tanto do CDC quanto do CPC, bem
como, ante a demonstração da hipossuficiência (técnica, jurídica e econômica) dos
Requerentes, pugnam estes pelo deferimento da inversão do ônus da prova como medida de
mais lídima justiça.

É o que se requer.

3.3 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL DAS REQUERIDAS E DO DEVER DE


REPARAR O DANO MORAL E MATERIAL

Estabelece o Art. 14 do Código de Defesa do Consumidor que "o fornecedor de


serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços".
Outrossim, os artigos 186 e 927 do Código Civil afirmam, respectivamente, que "aquele
que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito", bem como "aquele que, por ato
ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo".

De forma semelhante, a Constituição Federal, norma máxima do Direito brasileiro,


expressa, em seu art. 37, § 6º, que "as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
ou culpa".

Através da análise destes artigos é possível identificar os elementos básicos da


responsabilidade civil objetiva, aplicada ao presente caso, que são: a conduta do agente, o
nexo causal e o dano. Estes artigos são a base fundamental da responsabilidade civil, e
consagra o princípio de que a ninguém é dado o direito de causar prejuízo a outrem.

No mesmo sentido, o Art. 6, inciso VI, do CDC, expõe que são direitos do consumidor
"a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos".

Portanto, frente aos ditames legais e aos fatos narrados, é claro o dever dos
Requeridos em indenizar os Requerentes. E, quanto a este dever legal, assim leciona o saudoso
professor da Universidade de São Paulo, Carlos Alberto Bittar (Curso de Direito Civil. 1ª ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1994, p. 561):

“O lesionamento a elementos integrantes da esfera jurídica alheia acarreta


ao agente a necessidade de reparação dos danos provocados. É a
responsabilidade civil, ou obrigação de indenizar, que compele o causador a
arcar com as consequências advindas da ação violadora, ressarcindo os
prejuízos de ordem moral ou patrimonial, decorrente de fato ilícito próprio, ou
de outrem a ele relacionado.”

No mesmo sentido é o precedente jurisprudencial de vários Tribunais Pátrios, vejamos:


APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. FALHA NA PRESTAÇÃO
DO SERVIÇO DE "HOME CARE". RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
DANO MORAL CONFIGURADO. PRETENSÃO DE REDUÇÃO DO
"QUANTUM" INDENIZATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DOS
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Demonstrada a falha na
prestação do serviço de "home care" pela apelante e o desassossego e
insegurança sofridos pelo paciente, de rigor a condenação daquela à
indenização por danos morais. 2. Não há fundamento para a redução do
"quantum" fixado a título de indenização por danos morais quando este
observa os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. (TJ-SP - AC:
10124635120178260554 SP 1012463-51.2017.8.26.0554, Relator: Maria do
Carmo Honorio, Data de Julgamento: 10/02/2020, 3ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 10/02/2020)

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER - PLANO DE


SAÚDE – TRATAMENTO HOME CARE – CERCEAMENTO DE DEFESA -
JULGAMENTO ANTECIPADO - PRELIMINAR REJEITADA -
ATENDIMENTO DOMICILIAR – NEGATIVA DE COBERTURA - AUSÊNCIA
DE PREVISÃO CONTRATUAL - RECOMENDAÇÃO MÉDICA -
EXISTÊNCIA - AFRONTA AOS PRECEDENTES DO STJ – DANO MORAL
CONFIGURADO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - VALOR INALTERADO
- AMBOS OS RECURSOS DESPROVIDOS. “Não procede a arguição de
cerceamento de defesa se o julgamento antecipado da lide está
fundamentado na desnecessidade de produção de provas em vista da
presença de elementos suficientes nos autos para a decisão. O serviço
"home care" constitui desdobramento do tratamento hospitalar
contratualmente previsto que não pode ser limitado pela operadora do plano
de saúde. O plano de saúde pode estabelecer as doenças que terão
cobertura, mas não o tipo de tratamento utilizado para cada uma delas (AgRg
no Ag 1350717/PA, DJe de 31/03/2011).” (Ap 56255/2017, DES. RUBENS
DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO,
Julgado em 21/06/2017, Publicado no DJE 23/06/2017) Configurado o dano
moral, no caso dos autos, vez que a conduta negligente da ré ao negar
serviço essencial à manutenção da vida e da saúde da paciente, violou o
princípio da dignidade da pessoa humana, diante da gravidade do quadro de
saúde da autora. Inviável o pleito de minoração dos honorários advocatícios
quando levado em consideração o grau de zelo do profissional, o lugar de
prestação do serviço, a natureza e importância da causa etc. (N.U 0001927-
36.2016.8.11.0041, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO,
NILZA MARIA POSSAS DE CARVALHO, Primeira Câmara de Direito
Privado, Julgado em 17/05/2022, Publicado no DJE 18/05/2022)

AGRAVO INTERNO – APELAÇÃO CÍVEL - PLANO DE SAÚDE – HOME


CARE – CUSTEIO NEGADO PELA OPERADORA – RECUSA IMOTIVADA
– RECOMENDAÇÃO MÉDICA – VIOLAÇÃO A JULGADOS DO STJ –
ÓBITO DO PACIENTE – REPARAÇÃO DEVIDA – VALOR ARBITRADO
COM RAZOABILIDADE NA ORIGEM - RECURSO NÃO PROVIDO. Deve
prevalecer o entendimento de que o rol da ANS é meramente exemplificativo
para, desta forma, garantir o tratamento efetivo das doenças listadas na CID,
sendo abusiva a negativa da cobertura pelo plano de saúde do método
prescrito pelo médico que acompanha o caso. A recusa indevida de custeio
do tratamento domiciliar recomendado pelo médico gera dano moral,
porquanto agrava a situação de aflição psicológica do paciente, que já se
encontra com a saúde debilitada. (N.U 1001349-47.2019.8.11.0010,
CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE
OLIVEIRA SANTOS FILHO, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em
27/04/2022, Publicado no DJE 29/04/2022)

A responsabilidade civil no caso em tela não é apenas da Primeira Requerida, posto


que está foi contratada por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Estado de Mato
Grosso (Segunda Requerida), a qual é responsável, em primeiro momento, na contratação da
empresa prestadora de serviços, isto é, checar se a empresa contratada possui os alvarás
(sanitário e de funcionamento) em dia e de maneira adequada ao serviços que está se
propondo a prestar, bem como, verificar se há estrutura mínima de quadro clínico e
equipamentos necessários ao paciente, levando-se em conta o quadro clínico deste; em
segundo momento, é dever da SES efetuar a fiscalização e prover os medicamentos que
são fornecidos pelo ente público, no caso o Estado de Matogrosso, Município e União,
bem como, aqueles fornecidos por empresa terceirizada ou pela empresa contratada para
prestar o Serviço de Atenção Domiciliar.

No caso em tela a medicação solicitada pela profissional médica


responsável (Dra. Karina C. Kooper), qual seja Levofloxacino 750mg, o
qual deveria ser fornecido tanto pela Primeira Requerida como pela
Segunda Requerida, ocorre que nenhuma das duas providenciou o
medicamento de forma ágil, de modo que o quadro da paciente de cujus
ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI se agravou, e consequentemente
ocorreu o óbito.

O nexo de causalidade se encontra justamente neste ponto, houve a


solicitação do medicamento por parte da profissional médica no dia 09/11/2021, além de
exames, vejamos: “- Prescrevo levofloxacino 750mg 1 comprimido ao dia por l0 dias,

aguardo providências e envio do medicamento pelo homecare.” (...) “Converso


com a empresa de assistência quanto a solicitação de exames e suportes
necessários para a mesma e novo cilindro de oxigênio, afirmam novas
providências e viabilizações para tal logistica.”); no dia 12/11/2021 a médica faz o
seguinte apontamento no prontuário médico: “Reafirmo sobre a necessidade de

exames laboratoriais e de imagem, converso com o Home Care Sinop sobre


a viabilização dos exames. Após não obtermos respostas para realiza-los no
domicilio, converso com a família e equipe de técnicos em enfeÍrnagem para
chamar o bombeiro afim de leva-la ao hospital com as minhas solicitações
de exames.” (...) “- Mantenho contato continuo com equipe técnica via
telefone e familiares devido ao desencontro de informações com a equipe e
a empresa responsável pela assistência.”
Do dia 09/11/2021 até o dia 12/11/2021 já se passaram mais de 02
(dois) dias sem que a Primeira Requerida tenha disponibilizado os
equipamentos necessários para realização dos exames no domicílio da
paciente ou fornecesse uma ambulância para levar a mesma até local onde
seria possível a realização dos exames, além de que não providenciou ainda
a medicação prescrita pela profissional médica.

No dia 14/11/2021 às 10h30 da manhã, onde consignou: “Realizado visita de

urgência devido à episódio convulsivo. Até o presente momento a paciente


está sem o antibiótico prescrito para continuidade do tratamento
(quase 72h após a prescrição). ” (...) “devido à ausência de medicamento
no domicílio (com previsão de chegada para terça-feira dia 16/11/21) e com
significante piora do estado geral, ausência de contato com
responsável pelo home care para novas providências converso com
familiares, que preferem manter paciente no domicilio e, desta forma, prescrevo
novo medicamento o qual a família buscou dentro dos próprios recursos.”
(...) “- Converso com empresa assistencial (homecare sinop), sem
resposta até o momento.”.

Como se verifica, o nexo de causalidade é cristalino, a paciente necessitava de


exames e de um medicamento, os quais são obrigação da empresa prestadora de serviços
fornecer e/ou providenciar o seu fornecimento solidariamente com a Secretária de Estado de
Saúde (SES), contudo, em relação aos exames a profissional médica teve de chamar os
bombeiros para que a paciente fosse levada até o Hospital São Lucas, onde foram feitos os
exames e estabilização do quadro da paciente, está não pode ficar internada pois é beneficiária
do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD).

Quanto ao medicamento (Levofloxacino 750mg), conforme a própria profissional


médica consignou, no dia 14/11/2021 já haviam se passado mais de 72 (setenta e duas) horas
sem que a empresa tivesse fornecido o medicamento, a única informação que se tinha era que
o aludido medicamento iria chegar no dia 16/11/2021.

Por fim, no mesmo dia 14/11/2021 às 19h30 a responsável médica é comunicada que
a paciente está muito mal, razão pela qual novamente está precisa ser encaminhada até o
Hospital São Lucas por meio da ambulância do Corpo de Bombeiros, devido as omissões por
parte das Requeridas, principalmente por parte da Primeira Requerida. Assim a profissional
médica consigna no prontuário: “Paciente levada com vida, pelo corpo de

bombeiros, ao Hospital São Lucas. - Informo condutas e evoluções aos


responsáveis pelo Home Care Sinop, ausência respostas até o momento”.
Dessa maneira, todas as omissões e falhas na prestação dos serviços por parte das Requeridas
fizeram com que a paciente de cujus ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI evoluísse para óbito
às 20h51min do dia 14/11/2021.

No que tange a conduta do agente é nítido que é a omissão, tanto pela Primeira
Requerida como a Segunda Requerida é o fator predominante que colaborou para que a
paciente de cujus ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI viesse à óbito, haja vista que do dia
09/11/2021 ao dia 14/11/2021 é possível observar por várias vezes o comportamento omisso,
principalmente da Primeira Requerida.

Conforme se verifica do prontuário médico de atendimento domiciliar, cuja


responsabilidade médica era da Dra. Karina C. Cooper, onde restou consignado
que por diversas vezes esta solicitou a realização de exames médicos e
medicamento à Primeira Requerida, e está se manteve inerte. Os registros
médicos no aludido prontuário não permitem margem a qualquer dúvida.

Vale frisar que no tocante a Segunda Requerida (Ente Público) é possível vislumbrar
tanto a culpa in elegendo, bem como, in vigilando, posto que no momento em que ocorreu a
“contratação administrativa” da empresa responsável pelo Serviço de Atenção Domiciliar (SAD),
no caso em tela a empresa Home Care Sinop, sendo que enquanto tal serviço estava sendo
executado nos autos judiciais, cuja empresa contratada era a Bio Quality a paciente não houvera
sofrido qualquer alteração em seu quadro de saúde.
No momento em que houve a transição, poucos dias depois a paciente já começou a
apresentar sinais de piora em seu quadro clínico e por haver diversas omissões como ficou
evidenciado, a paciente veio a óbito. Isso demonstra que a Secretaria de Estado de Saúde (SES)
não observou os critérios mínimos para a contratação da Primeira Requerida (culpa in elegendo)
e mesmo após a contratação permitiu que a paciente tivesse uma piora no seu quadro de saúde
em decorrência do não fornecimento de exames médicos e medicamento (culpa in vigilando).

Desse modo, não restam dúvidas de que tanto a Primeira como a Segunda Reclamada
colaboraram seja de forma ativa como passiva para que o evento morte da paciente ocorresse,
ficando assim as duas responsáveis solidariamente pelo dever de reparar o dano causado.

No que tange ao ato ilícito é flagrante a violação legal por ambas partes que compõe
o polo passivo da presente lide. Em primeiro momento ao disposto no Art. 196 da Constituição
Federal de 1988, à Lei 10.424/2002 (cria o Atendimento Domiciliar), Portaria nº 825, de 25 de
abril de 2016 do Ministério da Saúde, bem como, e principalmente, à Resolução nº 1.668/2003
do Conselho Federal de Medicina (em anexo), principalmente no que dispõe o Art. 8º com a
seguinte redação:

Art. 8º O hospital ou empresa responsável por pacientes internados em


domicílio deve(m) dispor das condições mínimas que garantam uma
boa assistência, caracterizadas por:

I - Ambulância para remoção do paciente , equipada à sua


condição clínica;

II - Todos os recursos de diagnóstico , tratamento, cuidados

especiais, materiais e medicamentos necessários ;

III - Cuidados especializados necessários ao paciente internado;

IV - Serviço de urgência próprio ou contratado, plantão de 24 horas e garantia


de retaguarda, nos termos do § 3º do art. 1º e do art. 2º desta resolução.
(destaque nosso)
É nítido que a Primeira Requerida não dispõe das condições mínimas exigidas pelo
Conselho Federal de Medicina, o qual possui competência para determinar o mínimo que se é
exido para o Serviço de Atenção Domiciliar, em especial ao disposto no aludido Art. 8º citado
alhures.

Ou seja, a Primeira Requerida não disponibilizou condições mínimas para o


atendimento da de cujus ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI, posto que não dispunha de
ambulância para remoção da paciente, sendo que, conforme os registros no prontuário
médico, todas as vezes em que está foi encaminhada ao Hospital São Lucas o Corpo de
Bombeiros Militar de Lucas do Rio Verde/MT precisou ser acionado. Além disso, e
principalmente em decorrência disto, a empresa em questão não dispunha de recursos de
diagnóstico, tratamento, cuidados especiais, materiais e medicamentos necessários,
caracterizando assim o ato ilícito.

A partir do momento em que a Primeira Requerida se dispôs a prestar o Serviço de


Atenção Domiciliar (SAD) “Home Care”, esta deveria adequar a sua estrutura para fornecer o
mínimo necessário, estabelecido pela Resolução 1.668/2003 do CFM, bem como, o disposto nas
demais normativas mencionadas alhures. Sem contar que a empresa em questão possui, junto
em seu cadastro na Receita Federal apenas os seguintes CNAE:

Atividade Principal

87.12-3-00 - Atividades de fornecimento de infra-estrutura de apoio e


assistência a paciente no domicílio.

Atividade Secundária

86.22-4-00 - Serviços de remoção de pacientes, exceto os serviços móveis de


atendimento a urgências. (destaque nosso)

De acordo com a Resolução nº 07/2019 do Conselho Regional de Medicina de Mato


Grosso (CRM/MT), é obrigatório, para o exercício regular da pessoa jurídica que exerça
atividade médica o cumprimento dos seguintes requisitos:
Art. 1º. Determinar que o Certificado de Regularidade de Inscrição de
Pessoa Jurídica seja expedido em conjunto com uma Certidão de
Serviços Médicos Inscritos que relacione os serviços médicos para os
quais a Pessoa Jurídica obteve o seu registro ou cadastro junto ao
CRM-MT.

(...)

§ 2º. É obrigatória a disponibilização ao público em geral do Certificado


de Regularidade de Inscrição de Pessoa Jurídica e da Certidão de
Serviços Médicos Inscritos de que trata este artigo, devidamente
atualizados.

Art. 2º. A Certidão de Serviços Médicos Inscritos será emitida de acordo


com as atividades econômicas oferecidas pelo Estabelecimento e
conforme declaração apresentada pelo Diretor Técnico.

Art. 3º. A Certidão de Serviços Médicos Inscritos passa a ser integrante


do Certificado de Regularidade de Inscrição de Pessoa Jurídica a partir
da publicação desta Resolução, sem prejuízo da validade dos
Certificados já emitidos. (destaque nosso)

Apesar de ser um documento público (Certidão de Serviços Médicos Inscritos e


Certificado de Regularidade de Inscrição de Pessoa Jurídica) sendo que o Art. 1º, §2º, da aludida
Resolução inclusive determina a disponibilização ao público em geral, o CRM/MT não tem
retornado as solicitações feitas por estes patronos, é dever da Primeira Requerida independente
de inversão do ônus da prova, apresentar os mesmos nos presentes autos.

Contudo, como se verifica o CNAE da Primeira Requerida já não atende o serviços


aos quais se dispuseram a ofertar à de cujus ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI, posto que
não possuem ambulância para remoção de acordo com o quadro clínico da paciente, sem contar
a estrutura mínima também não foi entregue, principalmente no quesito “fornecimento de
medicamento”.
É nítido, Excelência, que tanto a Primeira como a Segunda Requerida descumpriram
preceitos legais, logo praticaram ato ilícito, principalmente por omissão da Primeira Requerida,
e pela culpa in elegendo da Segunda Requerida, num primeiro momento (ato da contração) e
culpa in vigilando, posto que não exerceu o seu dever legal de fiscalizar e acompanhar os
procedimentos e o fornecimento de materiais e estrutura para garantir a estabilidade da saúde
da paciente que veio a óbito em decorrência disto.

Portanto, é estão preenchidos todos os requisitos legais que caracterizam a


responsabilidade civil das Requeridas, de modo que ambas devem ser condenadas em reparar
os danos extrapatrimoniais e materiais sofridos pela parte Requerente, tendo em vista que se
não fossem as ações e omissões das Requeridas, muito provavelmente a paciente não teria
evoluído para óbito.

O que se requer é que as Requeridas sejam condenadas ao ressarcimento pelos


danos sofridos.

3.4 – DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Para a fixação do quantum indenizatório entre outros, os seguintes critérios devem


nortear o exame do caso concreto: o tempo de duração da ilicitude; a situação econômica do
ofensor e ofendido; a repercussão do fato ilícito na vida do ofendido e a existência ou não de
outras circunstâncias em favor ou em desfavor do ofendido.

No caso em tela a repercussão na vida dos ofendidos/Requerentes é permanente,


posto que a conduta ilícita que gerou o dano, culminou no óbito da genitora e sogra dos
Requerentes, de modo que é impossível que as Requeridas possam restituir os status quo ante,
posto que a omissão, principalmente da Primeira Requerida, causou a morte da paciente
ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI.

No que tange a capacidade financeira do ofensor e do ofendido, a disparidade é


enorme, posto que os Requerentes não dispõem de condições financeiras, são pessoas
humildes, do contrário teriam custeado o Serviço de Atenção Domiciliar, podendo contratar outra
empresa, mas como não dispõe de condições e meios para isso, precisaram aceitar o serviço
público, o qual obrigou que a de cujus ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI fosse atendida pela
Primeira Requerida.

Quanto a existência de fatores em favor ou desfavor em relação ao ofendido, é


cristalino a não existência posto que era paciente acamada e que demandava cuidados
especiais e específicos, além disso, em que pese ser o Estado o responsável pelo custeio, o
prestador de serviços é empresa privada, e recebia os valores para entregar o mínimo
necessário para o atendimento da demanda da paciente em questão, contudo se mostrou
totalmente omissa em relação a isto, haja vista que o medicamento requisitado pela profissional
médica, apenas chegou no dia 16 de novembro de 2021, ou seja, dois dias após seu óbito.

Desse modo, Excelência, o quantum indenizatório deve ser fixado, considerando tudo
o que foi demonstrado e que está calcado em provas robustas, em patamar não inferior ao
montante de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).

É o que se requer.

4. DOS PEDIDOS

Excelência, com base nos fatos e fundamentos jurídicos mencionados em toda peça
inicial, além das provas que corroboram com fatos narrados, os Requerentes pugnam que:

a) Requerer que seja deferida a gratuidade de justiça aos Requerentes, posto


que preenchem os requisitos necessários para tanto, conforme provas em
anexo;

b) Requer que seja reconhecida a relação de consumo entre as partes, uma vez
que estão presentes todos os requisitos legais para aplicação do Código de
Defesa do Consumidor;

c) Requer que seja deferido o pedido de inversão do ônus da prova nos moldes
do Art. 6º, VIII, do CDC, uma vez que estão preenchidos todos os requisitos
para tanto, qual sejam: hipossuficiência da parte consumidora (técnica, jurídica
e financeira), bem como, a verossimilhança dos fatos e fundamentos jurídicos;
d) Requer que seja reconhecida a responsabilidade civil das Requeridas, posto
que está demonstrado o dano, o nexo de causalidade e a conduta ilícita dos
agentes, de modo que este sejam condenados a reparar os danos (materiais
e imateriais) decorrentes disto;

e) Pugna que Vossa Excelência condene as Requeridas de maneira solidaria


e/ou subsidiária ao pagamento de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil
reais) à título de danos morais em favor dos Requerentes em razão da
responsabilidade civil, a qual decorreu da falha na prestação de serviço
essencial que levou a paciente ADELAIDE DE SOUZA TORZESCHI à óbito;

f) Requer que as Requeridas sejam citadas para que, querendo, contestem a


presente Ação de Reparação por Dano Moral Decorrente de Falha na
Prestação de Serviço Essencial, sob pena de revelia;

g) Pugna pela produção de prova técnica, caso seja necessário, uma vez que a
presente ação gravita em torno de falha na prestação de serviço médico,
embora não se vislumbre erro do médico;

Por fim, protesta provar os fatos e fundamentos jurídicos por todos os meios de prova
em direito admitidas, em especial as provas documentais que acompanham a presente,
principalmente por se tratar de prontuários médicos, os quais possuem fé pública, além de
áudios da família em contato com a Primeira Requerida.

Atribui à causa o valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Lucas do Rio Verde/MT, 30 de junho de 2022.

WEYLLA DE SOUZA CRISTIANO A. LORENSETTI


OAB/MT 24.666-O OAB/MT 18.999-O

Você também pode gostar