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DINO & SIQUEIRA

ADVOGADOS

EXMO. (A) SR. (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL, DE FAMÍLIA
E DE ÓRFÃOS E SUCESSÕES DE SANTA MARIA-DF

Ref.: Processo nº 0709311-40.2021.8.07.0010


Autora: Divina Coelho Xavier
Requerido: Hospital Lago Sul S/A
Hospital Santa Lucia
Leandro Pretto Flores

HOSPITAL LAGO SUL S/A, já devidamente qualificado nos autos em


epígrafe, vem, respeitosamente, por seus advogados, com fulcro no art. 335 e ss. do
CPC, apresentar sua

CONTESTAÇÃO

nos autos da ação que lhe move Divina Coelho Xavier, pelos motivos de fato e de
direito adiante deduzidos.

I - DA TEMPESTIVIDADE

1. Conforme se verifica na certidão de ID 112633840, em 12/01/2022 foi


acostada aos autos a certidão de cumprimento do mandado de citação do Requerido
Hospital Lago Sul, razão pela qual a contagem do prazo para apresentação da defesa se
inicia apenas em 07/02/2022, segunda-feira.

2. Sendo assim, tendo em vista que os prazos processuais são contados apenas
em dias úteis, tem-se que o prazo fatal para a apresentação da presente defesa se daria,
em tese, em 25/02/2022.

3. Não obstante, sequer foi citado o m´dico requerido, pelo que absolutamente
tempestiva a presente contestação.

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II – SÍNTESE DOS FATOS ALEGADOS NA INICIAL

4. Trata-se de ação de indenização ajuizada por Divina Coelho Xavier em face


do Hospital Lago Sul, Hospital Santa Lucia e do médico Dr. Leandro Pretto Flores, na
qual requer:

(i) os benefícios da gratuidade de justiça;


(ii) inversão do ônus da prova;
(iii) aplicação do Código de Defesa do Consumidor, com consequente inversão do
ônus probandi;
(iv) condenação solidária dos Requeridos à indenização de R$100.000,00 por
supostos danos morais;
(v) condenação solidária dos Requeridos no importe dois salários-mínimos mensais a
título de pensão vitalícia;
(vi) a condenação dos Requeridos ao pagamento das custas e honorários advocatícios.

5. Para tanto, aduz a Autora que já apresentava quadro de dor lombar constante
há alguns anos, o qual se intensificou no ano de 2010, irradiando para seu quadril
esquerdo com reflexo em sua perna esquerda, motivo do qual a teria levado a procurar
tratamento médico.

6. Segundo a Requerente, após se consultar com o Dr. Leandro Flores, terceiro


Requerido, no ano de 2013, este teria indicado a realização de exames e, após os
resultados, verificado a necessidade de realização de cirurgia de artrodese na Autora,
com a colocação de 06 parafusos, placas e pinos, tendo o procedimento cirúrgico sido
realizado em 21/06/2013, nas dependências do Hospital Lago Sul, ora contestante.

7. Dois meses após a cirurgia, alega a Autora que passou a sentir dor intensa na
lombar, motivo pelo qual, o terceiro Requerido, Dr. Leandro, lhe indicou a realização
de uma nova cirurgia, sob o argumento de que: “... os parafusos estariam soltos, dois
deles completamente, e os outros 04 folgados.”.

8. Sendo assim, realizou, então, a segunda cirurgia no dia 03/12/2014, dessa vez
nas dependências do segundo requerido, Hospital Santa Lucia, tendo sido utilizado:
“...OPMES exigidas pelo 3º Requerido, somando-se o fato de que o 3º Requerido
detalhou que usaria parafusos mais grossos e importados, além de cimento ósseo”.

9. Ocorre que, em menos de 2 meses da segunda cirurgia, a Requerente afirma


que apresentou novo quadro de dores em sua coluna, o que lhe teria levado a procurar
novamente o terceiro requerido, Dr. Leandro, que, após realizado e verificados novos
exames, lhe teria informado que nada mais poderia ser feito: “...sugerindo que o

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problema que ela sentia estava no quadril, concluindo que a Requerente deveria
procurar um especialista em quadril.”.

10. Pois bem, com a informação passada pelo terceiro Requerido, a Autora diz
ter procurado um especialista em quadril, o qual teria lhe explicado, após realização e
avaliação de exames, que não havia nenhum problema em seu quadril que pudesse
gerar os sintomas apresentados, tendo indicado o neurocirurgião Dr. Juliano Almeida
para avalição da Requerente.

11. A Requerente informa que ao se consultar com o Dr Juliano Almeida, fora


informada que, em verdade: “...todos os parafusos colocados na segunda cirurgia
estavam soltos” e, com isso, este médico lhe indicou nova cirurgia, tendo esta sido
realizada em 26/04/2016, levando cerca de 11h para sua conclusão, nas dependências
do Hospital Santa Luzia.

12. Com a realização da terceira cirurgia, alega a Autora que teria sido acometida
por uma infecção que a deixou em coma durante 37 dias, na UTI: “...sofrendo três
outras intervenções nesse período, para lavagem e trocas de hastes e porcas”, ato
seguinte, afirma que mesmo com as intervenções necessárias obteve apenas melhora
parcial de seu quadro de saúde.

13. Ainda, alega que, após verificar reportagem em mídia a respeito da operação
“Myster Hyde”, decidiu registrar um boletim de ocorrência ao final do ano de 2016, no
intuito de que seu caso fosse investigado em relação à atuação do terceiro requerido
Dr. Leandro, tendo, ainda, entregado à delegacia, os parafusos utilizados em suas duas
cirurgias, bem como os exames e laudos elaborados.

14. Por fim, ressalta que, mesmo com todas as cirurgias e intervenções
realizadas, teria adquirido sequelas permanentes e que: “...hoje anda com muita
dificuldade e mancando, além de ter muitas dores e carregar traumas emocionais de
hospitais.”, fato ao qual atribui sua incapacidade laboral, motivos os quais levaram a
Autora a acionar o judiciário, requerendo reparação moral e pensão vitalícia,
totalizados no importe de R$ 126.400,00.

15. Destaque-se ter a Autora requerido, já na inicial, a produção de provas oral,


com a indicação de rol de testemunhas, pericial (com a finalidade de verificar presença
de incapacidade laboral e nexo de causalidade na conduta dos requeridos) e
documental que eventualmente se façam necessárias.

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16. Recebida a petição inicial, este D. Juízo deixou de designar audiência de


conciliação neste momento processual, intimando os Requeridos a apresentarem suas
defesas (ID 111760141).

17. Os fatos apresentados pela Autora não se coadunam com a verdade, razão
pela qual antes de se apresentar o direito aplicável ao caso, será demonstrado como
eles efetivamente ocorreram, senão vejamos.

III – DA VERDADE DOS FATOS


III.i – Dos Fatos Como Efetivamente Ocorreram

18. No que tange aos atos praticados no nosocômio contestante, Hospital Lago
Sul [ nome de fantasia Hospital Daher], informa-se que a paciente, ora Autora, foi lá
internada, em 21/06/2013, em razão do quadro de lombociatalgia esquerda há três
anos, após investigações, se tratar de radiculopatia L5 esquerda, ocasionada por
estenose foraminal L4-L5 e L5-S1 bilateral, o qual foi diagnosticado por seu médico
de confiança, 3º Requerido, fora das dependências do hospital contestante.

19. Veja-se que a indicação da cirurgia, bem como, a realização das consultas
anteriores ao procedimento, se deram no consultório do terceiro requerido Dr.
Leandro, fora das dependências do contestante, tendo sido a cirurgia de artrodese
lombar indicada para o tratamento da paciente, conforme consta do documento:

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20. Com a indicação da cirurgia, a paciente foi encaminhada pelo seu médico
para o nosocômio ora contestante, momento do qual anuiu com a assinatura de sua
filha Rosânia Coelho Xavier ao termo de internação, confirmando estar ciente e
orientada do procedimento a ser ali realizado pelo terceiro requerido, Dr. Leandro
Flores, médico externo que não pertence, nem pertencia ao quadro clinico do
contestante:

(...)

21. Ressalte-se que o Hospital Daher é do tipo hospital aberto, no qual qualquer
profissional médico regularmente inscrito no CRM pode solicitar o centro cirúrgico e
ali operar seus pacientes. Esclarecido este ponto, vejamos:

22. No primeiro dia de internação, em 21/06/2013, a autora foi submetida ao


procedimento cirúrgico de artrodese de coluna lombar, realizada pelo seu médico de
confiança, Dr. Leandro Flores.

23. Como se verifica do relatório da cirurgia, não foi nela verificada uma única

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intercorrência, sendo realizada com sucesso:

24. Assim, tendo a cirurgia ocorrido tranquilamente e sem intercorrências, a


paciente, já no segundo dia pós-operatório, apresentava bom quadro de evolução, bem
como, nenhum comprometimento motor, conforme se denota de seu prontuário
médico:

25. Veja-se que, a todo o momento em que a paciente esteve internada nas
dependências deste nosocômio, foi bem assistida, amparada por equipe
multiprofissional especializada, bem como acompanhada de perto por seu médico
cirurgião Dr. Leandro Flores.

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26. Desta forma, e ao contrário do que alega a Autora em sua inicial, em nenhum
momento foi constatada qualquer intercorrência proveniente dos procedimentos
cirúrgicos que realizou no Hospital Lago Sul.

27. Não obstante, tem-se que a equipe médica e assistencial atuou de acordo com
a mais perfeita técnica durante o procedimento e no pós-operatório, não havendo que
se falar em erro, negligência, imprudência ou imperícia, tendo sido administrado à
Autora todos os medicamentos e cuidados necessários após sua cirurgia, para manter o
bom resultado de seu procedimento.

28. Demais disso, antes de decidir pela realização do procedimento cirúrgico, a


paciente foi alertada pelo seu médico acerca das possibilidades de tratamento das
enfermidades que lhe acometiam, riscos e prognostico do procedimento, tendo
concordado com a realização da cirurgia, como se verifica do termo de consentimento
informado assinado pela Autora antes da cirurgia:

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29. Tal fato faz cair por terra a alegação autoral de que o tratamento cirúrgico
seria desnecessário ou de que teria sido enganada ao se submeter ao procedimento,
pois evidencia, inclusive, ter a Requerente ciência de que se tratava de um
procedimento de meio, na tentativa de amenizar as dores por ela suportadas e lhe
proporcionar melhor qualidade de vida, e não de resultado.

30. Ainda, não há que se falar em imposição do médico para realização da


cirurgia, pois se tratava de procedimento eletivo, ou seja, a paciente, por livre e
espontânea vontade, decidiu a ele se submeter, conforme se verifica da guia de
solicitação da cirurgia e dos materiais, feita ao plano de saúde GEAP:

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31. Da leitura do documento, resta caracterizada a livre escolha da Autora em


submeter-se ao procedimento cirúrgico, a ser realizado por seu médico de confiança,
bem como, a correta indicação da cirurgia, tendo o próprio plano de saúde da
Requerente autorizado a cobertura total dos procedimentos.
32. Nesse particular, não obstante seja do médico a autonomia para indicar o
material de prótese e órtese que irá implantar no paciente (até porque responde por esta
escolha), não procede a alegação de que teria havido qualquer embaraço na indicação
do material de OPME a ser aplicado no procedimento da autora ou na aceitação de seu
plano de saúde quanto a este fato.

33. Não obstante, há que se considerar o fato de que, como a própria Autora
afirma em sua inicial, suas dores começaram em 2010, tendo se submetido a
tratamento conservador por três anos e apenas depois se submetido a procedimento
cirúrgico.

34. Nesse contexto, não é razoável a alegação de que teria sido vítima de
“Máfia das Próteses”, pois era portadora de problemas de saúde que se iniciaram ainda
no ano de 2010, 3 ANOS antes do primeiro procedimento cirúrgico, o que revela a
tentativa inexitosa de tratamentos conservadores, antes do procedimento cirúrgico.

35. Estes fatos são corroborados pelo relatório médico inserido no prontuário
da paciente, elaborado pelo Dr. Leandro Flores, terceiro Requerido, no qual se atesta o
insucesso do tratamento conservador, a quantidade de problemas na coluna da Sra.

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Divina, suas consequências para a paciente e a necessidade de realização do


procedimento cirúrgico na tentativa de lhe proporcionar melhoria de qualidade de
vida:

36. Da leitura do documento, bem como da extensa quantidade de exames


realizados pela Autora antes da realização da primeira cirurgia, resta clara a diligência
e prudência do terceiro Requerido em indicar o procedimento de artrodese para a Sra.
Divina, posto que os demais procedimentos conservadores não mais surtiam efeitos no
quadro de saúde da paciente.

37. Identificada a correta indicação da cirurgia, não há que se falar, portanto,


em nexo de causalidade entre os atos realizados na primeira cirurgia de artrodese, bem
como durante a internação no Hospital Lago Sul, e a ocorrência do quadro atual
debilitado da Autora.

38. Conforme se depreende do próprio prontuário médico da Autora, esta


possuía doença crônico-degenerativa1, que não mais respondia ao tratamento
conservador, e como qualquer doença crônico-degenerativa, esta não possuía cura, no
máximo poderiam ser realizados procedimentos que proporcionassem melhoria de

1
Doenças crônico degenerativas são aquelas que, aliadas a um conjunto de fatores, levam à
deterioração progressiva da saúde. A sua etiologia é multifatorial e sabe-se que existe uma interação
entre comportamento, meio ambiente e perfil genético. https://www.bahia.fiocruz.br/doencas-cronico-
degenerativas/#:~:text=Doen%C3%A7as%20cr%C3%B4nico%20degenerativas%20s%C3%A3o
%20aquelas,meio%20ambiente%20e%20perfil%20gen%C3%A9tico.

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qualidade de vida à paciente, o que foi devidamente realizado.

39. Esclarecido tal ponto, e após a realização da primeira cirurgia da Autora,


esta vinha respondendo bem ao procedimento realizado, conforme se denota de seu
prontuário médico. Não obstante, é imprescindível que se verifique que os demais
cuidados pós-operatórios estavam sendo realizados continuamente e, até a ata
hospitalar, a paciente não apresentava nenhuma desconformidade ou qualquer prejuízo
em sua saúde que pudessem ser relacionados ao procedimento cirúrgico realizado nas
dependências deste nosocômio:

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40. Tendo em vista a boa resposta do organismo da Autora ao procedimento


cirúrgico realizado deu-se a alta da paciente em 24/06/2013, tendo sido este o último
contato da Autora com o Hospital Lago Sul:

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41. Tudo quanto exposto demonstra não ter ocorrido qualquer erro médico ou
falha assistencial na condução do procedimento cirúrgico feito na Autora e, muito
menos, no pós-operatório no Hospital Lago Sul.

42. Além disso, muito embora o hospital não responda pela indicação do
procedimento cirúrgico adequado para a autora, que compreende ato exclusivo de seu
médico de confiança, que não pertencia aos quadros clínicos do hospital, não prospera
a alegação autoral de que o procedimento teria sido indicado de maneira inadequada.
A uma, porque se trata de procedimento indicado na literatura médica para situações
clínicas como a da autora. A duas, porque a paciente foi devidamente esclarecida, a
tempo e modo, acerca dos resultados que poderiam ser alcançados, de sua necessidade,
dos riscos que corria e das futuras consequências que poderiam surgir, tendo decidido,
por sua conta e risco, submeter-se à cirurgia.

43. Isto esclarecido, além de não poder o hospital responder pelo ato médico de
indicação do procedimento, cumpre destacar que o pós-operatório da paciente nas
dependências do Hospital Lago Sul, após o procedimento realizado em 21/06/2013, se
desenvolveu sem intercorrências de qualquer natureza!

44. Após a alta médica, a paciente não mais retornou ao nosocômio para
acompanhamento, não tendo o hospital contestante condições de informar como se deu
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a tratamento pós-operatório e sua recuperação, tampouco se foram seguidas as


recomendações médicas para esse período.

45. Aliás, o contestante faz sua defesa de forma absolutamente limitada, dada a
completa ignorância das condições de saúde da autora antes desta ser internada no
Hospital Lago Sul, não tendo tido acesso aos documentos, exames, prontuários
referentes ao período anterior à sua internação para o procedimento cirúrgico.

46. De qualquer sorte, cumpre destacar que apesar de os documentos


mencionados já serem suficientes para demonstrar a correção dos atos realizados nas
dependências do Hospital Lago Sul, a Autora era paciente do Dr. Leandro Pretto
Flores, sendo acompanhada pelo referido profissional em seu consultório próprio,
fora das dependências do hospital contestante, antes e após a realização da
cirurgia. Tanto isso é fato que os demais procedimentos foram feitos pelo mesmo
médico, em outros hospitais.

47. Assim, quanto a este período e às demais cirurgias realizadas pela Autora, o
Hospital não tem como se posicionar com mais detalhes, tornando-se imperiosa a
apresentação, pelo profissional Dr. Leandro Flores, pelo segundo Requerido Hospital
Santa Lucia ou pela Autora, da integralidade de seus exames pré e pós-operatórios, em
especial quanto aos atendimentos e procedimentos realizados fora do nosocômio
contestante, concedendo-se, em seguida, prazo ao contestante para se manifestar
acerca dos referidos documentos, em atenção ao princípio do contraditório e ampla
defesa.

48. Considerando-se, assim, que a paciente já vinha sendo acompanhado pelo


seu médico de confiança, tendo recebido todas as informações sobre a cirurgia e seus
riscos, sobre tratamentos alternativos, fora das dependências do Hospital ora
contestante, sendo tais orientações, por sua vez, reforçadas quando da realização dos
atos cirúrgicos em questão, não há dúvidas de que todos os atos preparatórios para
a cirurgia foram realizados adequadamente, tendo tudo transcorrido conforme os
protocolos exigidos até a alta concedida à Autora devido às boas condições
apresentadas.

49. Ainda, o conjunto probatório ora apresentado não deixa dúvidas de que a
moléstia que acometeu a Autora, de natureza crônica, degenerativa e progressiva,
possui poucas chances de melhora, bem como que seu atual estado e as dores que
eventualmente ainda possam afligi-la, não são decorrentes das cirurgias às quais foi
submetida nas dependências do nosocômio contestante, mas sim da própria moléstia.

50. Ademais, da simples leitura da peça vestibular é possível se verificar que

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não foi mencionada uma linha sequer quanto à eventuais queixas sobre os
serviços hospitalares prestados pelo hospital contestante, obviamente porque tudo
que cabia ao nosocômio ocorreu de forma satisfatória e adequada, seguindo todos os
protocolos cabíveis ao caso.

III. ii – Dos Documentos Apresentados pela Autora na Inicial

51. Apesar de os documentos ora anexados pelo Hospital Lago Sul aos autos já
serem suficientes para se indeferir integralmente os pleitos autorais, os documentos
anexados pela Sra. Divina à inicial também corroboram o quanto demonstrado pelo
nosocômio.

52. Conforme se denota pelo documento de ID 111124865, a Autora confirma


categoricamente que fez seu acompanhamento com o médico Dr. Leandro Pretto
Flores FORA das dependências do hospital Requerido antes do procedimento.

53. Ainda, confirma ter sido explicada dos riscos inerentes à cirurgia que
realizaria em junho de 2013 no Hospital Lago Sul, ao assinar termo de consentimento
informado, o qual, todavia, estranhamente deixou de juntar aos autos:

54. Assim, não há que se falar em falha no dever de informação prestado à


paciente e muito menos em erro na indicação do procedimento, pois ela foi avisada de
todos os riscos a ele inerentes, prognósticos, resultados, tendo decidido realizá-lo, de
forma consciente!

55. Além disso, em que pese a Autora narrar em sua inicial que ficou
impossibilitada de exercer atividades laborais, motivo pelo qual pleiteia alimentos
vitalícios no valor mensal de 2 salários-mínimos, não junta aos autos, em nenhum
momento, documentos que comprovem que antes da realização de sua primeira
cirurgia exercia qualquer tipo de trabalho remunerado para prover seu sustento, ou
mesmo que não mais possa trabalhar.

56. Ora, se a Autora não realizava nenhuma atividade laboral antes mesmo da
realização de suas cirurgias, não há qualquer fundamento para seu pleito de alimentos
vitalícios, uma vez que, antes mesmo das cirurgias, sua condição de saúde certamente
já não lhe permitia trabalhar, sendo certo que eventual dificuldade neste particular, se
comprovada, não deriva das cirurgias, e nem pode ser debitada a conta do ora
contestante, ante a ausência de qualquer nexo de causalidade entre os atos efetivados
durante seu atendimento no nosocômio e a eventual impossibilidade de trabalhar.

57. Assim, não merece respaldo a absurda tese autoral de que os serviços

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prestados pelo Hospital Lago Sul teriam lhe deixado com dores permanentes ou lhe
afastado do trabalho, pois não há uma indicação sequer de que antes da cirurgia a
autora trabalhava para prover seu sustento.

58. É fato que a Sra. Divina busca ludibriar este d. juízo, na tentativa de
locupletar-se às custas do Hospital Lago Sul, quando na verdade os próprios
documentos por ela juntados aos autos são contrários aos seus pleitos.

59. Postos os fatos como realmente ocorridos, demonstrar-se-á a completa falta


de respaldo jurídico para os pedidos feitos pela Autora.

IV – PRELIMINARMENTE

IV. i - DA PRESCRIÇÃO

60. Tendo em vista a relação consumerista entre as partes, conforme se denota do


art. 487 do CPC, deve ser observado o que preceitua o artigo 27 do Código Civil:
“Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do
prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.”.

61. Pois bem, veja-se que a própria Autora alega que teve conhecimento de
suposto ato lesivo dos Requeridos em 26/04/2016 (ID 111124852, pg.03):
Ocorre que o referido médico constatou que todos os parafusos
colocados na segunda cirurgia estavam soltos, tendo sido marcado
uma terceira cirurgia, desta vez realizada no Hospital Santa Luzia na
data de 26/04/16 e levou 11 horas para ser finalizada, pois segundo o
Dr. Juliano Almeida, foi necessário reparar os danos provocados
pelas cirurgias anteriores. (grifos nossos)

62. Desta forma, uma vez que a Autora teve conhecimento do suposto dano na
data de 26/04/2016, tendo neste mesmo ano se submetido a nova “cirurgia
reparadora”, e somente na data de 11/11/2021 ajuizado a presente demanda, resta
inconteste a ocorrência de prescrição da pretensão autoral, uma vez que o prazo para
acionar o judiciário findaria em 26/04/2021!

63. Veja-se que, não obstante, este também tem sido o entendimento deste
tribunal, acerca da prescrição intercorrente:

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APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR.


PRELIMINARES. INÉPCIA DA INICIAL. DECADÊNCIA.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. REJEITADAS. CONTRATO DE
SEGURO DE VIDA. RENOVAÇÃO AUTOMÁTICA. PREVISÃO
CONTRATUAL. UMA ÚNICA VEZ. DESCONTOS INDEVIDOS.
MÁ-FÉ. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. SENTENÇA MANTIDA. [...]
A legislação consumerista diferencia a ocorrência da prescrição e
da decadência nas diferentes hipóteses de responsabilidade do
fornecedor: se decorrente de fato do serviço ou produto a pretensão
indenizatória prescreverá em 5 (cinco) anos, contados do
conhecimento do dano ou de sua autoria (artigo 27); se oriunda de
vício do produto ou serviço o direito de reclamar decairá em 30 (trinta)
ou 90 (noventa) dias, conforme se trate de produtos ou serviços não
duráveis ou duráveis (artigo 26). [...] Recursos conhecidos e
desprovidos.

DIREITO DO CONSUMIDOR. REPARAÇÃO DE DANOS.


PATRIMONIAIS E EXTRAPATRIMONIAIS. VÍCIO DO
PRODUTO. DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA.
PRAZO PRESCRICIONAL DO ART. 27 DO CDC. PRELIMINAR
DE ILEGITIMIDADE PASSIVA. REJEITADA. RECURSO NÃO
PROVIDO. [...] 3. O prazo do Art. 26, II do Código de Defesa do
Consumidor é decadencial e aplica-se à hipótese de reclamação por
defeito no serviço, sendo que o prazo para o consumidor reclamar
perante o fornecedor é distinto do prazo para pleitear indenização por
danos decorrentes da má prestação dos serviços. No caso da pretensão
de reparação de danos materiais e extrapatrimoniais oriundos da
má prestação do serviço, incide a norma do Art. 27 do CDC, que
estabelece prazo prescricional de cinco anos a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria. 4. Recurso conhecido e não
provido.

64. Desta forma, em estrita observância do dispositivo art. 27 do CDC, bem


como as recentes jurisprudências desta própria corte, medida outra não há senão o
reconhecimento da prescrição dos direitos autorais, devendo ser aplicado o prazo de 05
anos constante do diploma retro, com a consequente extinção do feito, conforme o que
dispõe também o art. 487, II, do CPC2.
2
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;

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IV. ii - Da ilegitimidade passiva do Hospital Lago Sul

65. Apesar de tudo quanto demonstrado comprovar não ter ocorrido nenhum
defeito nos serviços prestados pelo Hospital Lago Sul, cumpre destacar ser o
nosocômio ilegítimo para figurar no polo passivo desta ação, pois não há na petição
inicial uma linha sequer sobre eventual falha assistencial cometida pelo ora
contestante.

66. Conforme se denota pelos prontuários ora anexados, a estada da


Requerente no hospital contestante se deu sem qualquer intercorrência originada
pelo ambiente hospitalar, pelo fornecimento de aparelhagem, por ato omissivo ou
comissivo de seu corpo médico, de enfermagem ou de seus prepostos que pudesse
ter gerado os fatos narrados na exordial ou o dever de indenizar.

67. Ainda, sem adentrar no mérito de que tenha havido qualquer tipo de
negligência, imprudência ou imperícia do médico de confiança da paciente,
responsável pelos procedimentos, que não integra os quadros do nosocômio
contestante, não há na inicial tese aceitável contendo as razões pelas quais o
nosocômio deveria responder de forma solidária e independente de culpa pelos
supostos atos e omissões do médico.

68. O Hospital Lago Sul é hospital aberto, podendo qualquer profissional de


medicina regularmente habilitado no conselho profissional requerer o
agendamento do centro cirúrgico e realizar cirurgias de seus próprios pacientes.

69. Assim, o que ocorre no presente caso é uma frustrada tentativa de se aplicar o
instituto da responsabilidade objetiva de maneira indiscriminada, buscando a Autora
levar a crer que o nosocômio deveria ser responsabilizado até mesmo por atos sobre os
quais não possui qualquer participação ou controle.

70. Tendo os serviços hospitalares (corpo de enfermagem, equipamentos, leitos,


assistência e etc.) sido prestados a contento, o fornecedor dos serviços – no caso, o
hospital - cumpriu com a sua finalidade e não praticou qualquer ato ilícito, não
havendo, portanto, como lhe atribuir qualquer responsabilidade.

71. Conclui-se, então, que se os supostos prejuízos narrados tivessem ocorrido, o


que se admite apenas para argumentar, teriam se originado de atos supostamente
praticados pelo profissional escolhido livre e externamente pela própria Autora, fora
das dependências do contestante, e não pelo nosocômio.

72. Não podendo o Hospital Lago Sul figurar no polo passivo da presente

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demanda, requer-se a extinção do presente feito em relação ao nosocômio, sem


resolução de mérito, nos termos do artigo 485, VI, CPC.

V – DO MÉRITO
V.i – Da impossibilidade da inversão do ônus da prova

73. Observe-se que, como em casos de responsabilidade civil médica tornou-se


comum a aplicação da inversão do ônus probandi contida no art. 6, inciso VII, do
CDC, o Hospital Lago Sul demonstrará, neste tópico, não poder ser ele utilizado in
casu.

74. O artigo 6º, inciso VIII, do CDC, exige a verificação, à critério do próprio
juiz, da verossimilhança das alegações autorais e da comprovação de sua
hipossuficiência para que tenha o consumidor o efetivo direito à inversão do ônus da
prova.

75. In casu, não restou comprovado nenhum destes requisitos. Isto porque, ao
alegar ter existido erro médico capaz de subsidiar a verossimilhança de suas alegações,
a Autora simplesmente afirmou que teria havido erro desde o primeiro procedimento
realizado em junho de 2013, o que lhe teria causado inúmeras consequências.

76. Porém, conforme amplamente demonstrado, não houve intercorrência no


procedimento cirúrgico realizado nas dependências deste nosocômio contestante,
causada pelo médico ou por qualquer outra pessoa da equipe que vinha atendendo a
paciente.

77. Também se demonstrou que a Autora já apresentava quadro de


lombalgia há mais de 3 anos, conforme relatado por ela própria em sua inicial,
inclusive, fato este ratificado pelo terceiro Requerido, Dr. Leandro Flores, em seu
parecer indicando a primeira cirurgia, tendo em vista o insucesso de
procedimentos conservadores.

78. Além disso, os documentos médicos anexados pela própria Autora e


pelo ora contestante demonstram de maneira indubitável que não houve erro
médico ou má indicação da primeira cirurgia, tendo na verdade a paciente
permanecido com dores pelo simples fato de que sua doença crônico-degenerativa
já estava em estágio avançadíssimo. Assim, não há qualquer verossimilhança
entre as alegações da Requerente e a realidade fática exposta nos autos.

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79. A Autora também não comprovou a necessária hipossuficiência para


subsidiar a inversão do ônus da prova, pelo contrário, tendo juntado aos autos
exames e documentos médicos obtidos inclusive em outros locais.

80. Ora, não há que se falar em hipossuficiência se a Requerente teve acesso a


todos os documentos necessários para subsidiar suas infundadas alegações e, além
disso, anexou aos autos informações técnicas às quais o Hospital Lago Sul sequer teve
acesso antes do ajuizamento desta ação.

81. Inverter o ônus da prova nestas condições seria, data vênia, o mesmo que
punir o Requerido simplesmente por ter prestado um serviço exemplar à Autora, pois
não se comprovaram os requisitos exigidos para a inversão, quais sejam, a
hipossuficiência e a verossimilhança das alegações, como exigido inclusive pelo C.
STJ:

AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO -


MONOCRÁTICA NEGANDO PROVIMENTO A AGRAVO DE INSTRUMENTO.
INSURGÊNCIA DO AUTOR - 1. APLICABILIDADE DO CDC À RELAÇÃO
MATERIAL DISCUTIDA NOS AUTOS - CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO
IMPLICA A INVERSÃO AUTOMÁTICA DO ÔNUS PROBATÓRIO -
NECESSIDADE DE ANÁLISE QUANTO AO PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS ELENCADOS NO ART. 6º, VIII, DO CDC - INSTÂNCIAS
ORDINÁRIAS FIRMANDO A AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA DAS
ALEGAÇÕES DEDUZIDAS PELO CONSUMIDOR (...)
(AgRg no Ag 1187599/DF, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA,
julgado em 14/02/2012, DJe 22/02/2012) (Grifo Nosso)

82. Destaca-se, ainda, não ser possível a inversão do ônus probatório nas
hipóteses em que a desincumbência de tal encargo pela parte contrária seja impossível
ou extremamente difícil, o que importaria na produção de prova diabólica - regra
prevista no art. 373, § 2º, CPC, e reconhecida pela jurisprudência:

“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER. ÔNUS DA PROVA.


AUTOR. FATO CONSTITUTIVO. ART. 373, INCISO I, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015. PROVA NEGATIVA (DIABÓLICA).
EXTREMAMENTE DIFÍCIL OU IMPOSSÍVEL DE PROVAR. FATO
NEGATIVO. NÃO CABIMENTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.
1. Cabe ao autor o ônus da prova quanto ao fato constitutivo do seu direito, nos
termos do artigo 373, inciso I do Código de Processo Civil de 2015 - CPC/15.
2. Configura-se prova negativa (diabólica) a que for extremamente difícil ou
impossível de provar, como no caso de fato negativo, sendo proibida no
ordenamento jurídico.
3. Recurso CONHECIDO e DESPROVIDO. Sentença mantida”.

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(Acórdão n.1079060, 20160710157686APC, Relator: ROBSON BARBOSA DE
AZEVEDO 5ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 21/02/2018, publicado no
DJE: 07/03/2018. Pág.: 251/254) (Grifo nosso).

83. Em síntese, quando a comprovação de determinado fato (negativo, na


maioria dos casos) for impossível ou extremamente difícil, presumir-se-á verdadeiro;
presunção essa, por óbvio, relativa. Caberá à outra parte infirmá-la.

84. Segundo a Requerente, teria sido submetida a procedimento cirúrgico


desnecessário realizado nas dependências do nosocômio contestante, porém a
documentação anexa não deixa dúvidas de que o procedimento era o indicado para a
situação e ocorreu sem qualquer erro médico.

85. Desta forma, exigir que o nosocômio contestante, que sequer teve acesso
aos documentos, exames e prontuários da autora referentes aos atendimentos feitos
fora das suas dependências, comprove que os eventuais danos suportados pela Autora
NÃO decorreram da referida cirurgia, caracterizaria inaceitável imposição de encargo
efetivamente irrealizável, até porque, as demais cirurgias e atendimentos realizados
pela Autora sequer ocorreram nas dependências deste nosocômio!

86. Ressalte-se que o hospital prestou seus serviços a contento, com exatidão,
sem qualquer resquício de imperícia, imprudência ou negligência, sendo, pois, em
qualquer fase processual, impossível verificar verossimilhança das alegações da
Requerente ou hipossuficiência técnica, pois é ela a única que possui a integralidade
dos documentos referentes à moléstia que lhe acometeu e a todos os tratamentos aos
quais fora submetida.

87. Não sendo cabível a inversão do ônus da prova, permanece sendo ônus da
Requerente a demonstração da culpa do contestante, bem como dos eventuais danos e
do nexo de causalidade entre eles e eventual ação ou omissão do nosocômio nos
moldes do artigo 373, CPC, e do art. 14, §4º, CDC, razão pela qual requer-se não seja
determinada a inversão do ônus da prova.

VI. ii – Da Responsabilidade Subjetiva Dos Profissionais Liberais

88. Embora a Autora não mencione nada acerca deste tema em sua inicial, é
certo que a responsabilidade dos profissionais liberais deve ser apurada mediante a
verificação de culpa, nos termos do art. 14, §4º, CDC, ou seja, trata-se de
responsabilidade subjetiva.

89. Neste sentido é o sólido entendimento deste E. TJDFT:

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“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. TRATAMENTO


OFTALMOLÓGICO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO. CULPA.
PROVA. INEXISTÊNCIA. PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE. AQUISIÇÃO
DE ÓCULOS. INADIMPLEMENTO. INSCRIÇÃO DO DÉBITO NOS
CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. EXERCÍCIO REGULAR DE
DIREITO.
1. O parágrafo 4º do CDC estabelece que a responsabilidade civil dos
profissionais liberais, incluindo os médicos, é submetida ao regime da culpa;
trata, pois, de responsabilidade subjetiva (a ser perquirida nos ditames dos
artigos 186, 927 e 950 e seguintes do Código Civil). Na espécie, a prova pericial
produzida, bem assim os documentos colacionados aos autos, afasta a
responsabilidade da médica oftalmologista.
2. Em relação à segunda ré, a ótica São Geraldo, conquanto a sua
responsabilidade, como fornecedora de produtos, seja objetiva, nos termos do
art. 12 do CDC, não havendo prova de ato ilícito praticado por seus prepostos, a
inscrição do nome da autora nos cadastros de proteção ao crédito decorreu do
exercício regular de um direito, na forma do artigo 188, inciso I, do Código Civil.
Isso porque, não obstante a autora ter perdido a visão do olho direito, o débito
pela aquisição dos óculos remanesce. Nesse sentido, com propriedade, pontuou a
douta Magistrada sentenciante que "o fato de autora ter ficado cega, não afasta o
seu dever de realizar o pagamento pela mercadoria adquirida, até mesmo porque
a Ótica não foi responsável pela deficiência visual da autora (sic)".
3. Recurso conhecido e não provido.”
(Acórdão n.697581, 20050210026348APC, Rel. o E. Des. Waldir Leôncio Lopes
Júnior. 2ª Turma Cível. DJE: 31/07/2013. Grifou-se)

90. In casu, é indubitável que o procedimento realizado nas dependências do


Hospital Lago Sul, ora contestante, além de correto e possuir previsão na literatura
médica, é comumente utilizado em casos clínicos análogos ao da Autora.

91. Não obstante, todo procedimento cirúrgico possui riscos previstos, porém
não desejáveis, mesmo sendo eletivos como neste caso, tendo a Autora pessoalmente
escolhido seu médico de confiança, o qual cumpriu o dever de informação sobre os
riscos oriundos da cirurgia à qual se submeteria, bem como orientações especiais a
serem seguidas no pós-operatório, tendo a Requerente concordado com o tratamento
proposto.

92. Além disso, é entendimento pacífico da doutrina e da jurisprudência que a


responsabilidade pelos procedimentos realizados é de meio e não de resultado, tendo
sido a paciente assim informada, conforme já demonstrado nos tópicos supra.

93. Em nenhum momento a paciente apontou conduta efetiva dos


profissionais que indicasse terem eles agido com imprudência, imperícia ou
negligência ensejadora de culpa e de eventual responsabilidade civil. Também não

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comprovou que os procedimentos seriam inadequados para o seu quadro, tendo apenas
demonstrado irresignação por supostamente não ter melhorado das dores.

94. Assim, a Autora não demonstrou a atuação imprudente, imperita ou


negligente dos médicos, nem, muito menos, o suposto dano e o nexo causal, tendo,
pelo contrário, o Hospital Lago Sul comprovado inexistir quaisquer dos requisitos
ensejadores da responsabilidade civil in casu, razão pela qual a improcedência da
pretensão autoral é medida que se impõe.

VI. iii – Da inaplicabilidade de responsabilidade objetiva ao Hospital

95. Ainda que por um absurdo os argumentos acima expostos não sejam
considerados suficientes para julgar improcedentes os pleitos autorais, destaca-se que a
responsabilidade civil do Hospital é subjetiva, somente podendo ser considerada
objetiva quanto aos atos realizados por ele ou seus prepostos, não sendo vinculada às
condutas dos médicos de confiança do paciente, que não integram os quadros clínicos
do hospital.

96. Este é o entendimento pacífico do STJ, como se denota do recentíssimo


julgado:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ERRO MÉDICO.


CREDENCIAMENTO DE PROFISSIONAIS PELO HOSPITAL PARA
UTILIZAÇÃO DE SUAS INSTALAÇÕES. AUSÊNCIA DE VÍNCULO
EMPREGATÍCIO ENTRE O MÉDICO E O HOSPITAL.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL. NÃO OCORRÊNCIA.
DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Consoante a jurisprudência desta Corte, a "responsabilidade do hospital
somente tem espaço quando o dano decorrer de falha de serviços cuja
atribuição é afeta única e exclusivamente ao hospital. Nas hipóteses de dano
decorrente de falha técnica restrita ao profissional médico, mormente quando
este não tem vínculo com o hospital - seja de emprego ou de mera preposição -,
não cabe atribuir ao nosocômio a obrigação de indenizar" (REsp 908.359/SC,
Segunda Seção, Relator para o acórdão o Ministro João Otávio de Noronha, DJe
de 17/12/2008). Decisão agravada mantida.
2. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1739397/MT, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 14/08/2018, DJe 27/08/2018)” (grifo nosso)

97. Assim, como o hospital não teve e nem tem qualquer ingerência nos métodos
e procedimentos utilizados pelo médico de confiança da paciente para indicação e
realização do procedimento cirúrgico levado a efeito no nosocômio, bem como nos
atendimentos pré e pós-operatórios e demais cirurgias realizadas fora de suas
dependências, não há que se falar em responsabilidade do Hospital contestante.

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98. Acaso admitida eventual responsabilidade objetiva do Hospital Lago Sul,


estar-se-ia, com o devido acatamento, violando o art. 14, CDC, e divergindo da
jurisprudência pacífica do STJ, pondo em risco o funcionamento da medicina tal como
hoje é praticada no país.

99. O Hospital Lago Sul é do tipo aberto, e foi escolhido livremente pelo médico
e pela paciente para realizar os procedimentos em análise, os quais foram feitos sem
qualquer intercorrência e os serviços prestados exemplarmente até a alta médica.
Em vista disso, inexiste na inicial qualquer queixa quanto ao atendimento assistencial
fornecido pelo nosocômio, o que indica ter sido ele feito de maneira adequada e
satisfatória.

100. Ademais, acaso confirmadas, as supostas dores reclamadas pela Autora não
são imputáveis a qualquer serviço de atribuição da entidade hospitalar, mas apenas a
sua doença de base, de natureza crônica e degenerativa, ou, até mesmo, à falta de
cuidados domiciliares no pós-operatório ou, em uma última eventualidade, às cirurgias
posteriormente realizadas fora das dependências deste nosocômio contestante.

101. O Hospital também não poderia pretender discutir com o cirurgião eleito pela
paciente qual o procedimento mais adequado para o caso, ou qual técnica cirúrgica ou
materiais seriam usados, sob pena de ferir a competência profissional do médico e a
legislação que atribui seus deveres e direitos. Qualquer ingerência deste tipo seria
absolutamente ilegal, pois violaria os incisos II e VI do Capítulo II do Código de Ética
Médica.

102. Ora, se o inciso II supracitado ressalta o caráter privativo da decisão do


médico sobre os procedimentos realizados, o inciso VI comprova que, além disso, o
Hospital não escolhe o profissional que operou a Autora, pois esta decisão cabe
unicamente a ela própria.

103. Assim, requer-se sejam julgados totalmente improcedentes os pleitos


formulados na inicial em face do Hospital Lago Sul, já que não houve qualquer falha
nos serviços hospitalares e não é cabível falar-se em responsabilidade objetiva do
nosocômio por eventuais atos de profissionais eleitos pela própria paciente.

VI. iv – Da necessidade de comprovação de culpa dos médicos para eventual


responsabilização do Hospital

104. Acaso desconsideradas todas as argumentações acima expostas, destaca-se


que, se por uma inimaginável eventualidade se entenda pela aplicação da

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responsabilidade objetiva do Hospital com relação aos serviços prestados por médicos
estranhos aos seus quadros - o que se considera apenas a título de argumentação - seria
preciso comprovar que o profissional liberal agiu com culpa, para, só então,
responsabilizar o nosocômio de forma solidária, sob pena de ofensa ao art. 14, § 4º, do
Código de Defesa do Consumidor.

105. A contrariu sensu, a inexistência de culpa na conduta do profissional liberal


rompe o nexo causal, afastando, mesmo nessa hipótese, qualquer responsabilização
objetiva do nosocômio.

106. Assim, em se tratando de suposto erro médico, para configuração do dever


de indenizar do nosocômio seria preciso primeiramente se provar o dano e, após, a
culpa do profissional médico. Para que a Autora tenha então seu pleito indenizatório
acolhido é preciso comprovar os requisitos da responsabilidade civil, inexistentes in
casu.

107. Neste sentido é o sólido entendimento dos tribunais pátrios e,


principalmente, do STJ, como se verifica do recentíssimo julgado abaixo colacionado:

“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E


COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. APELAÇÃO CÍVEL. DESERÇÃO.
SÚMULA 280/STF. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO,
OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO PROFISSIONAL LIBERAL. ERRO
MÉDICO. CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA DO HOSPITAL. VÍNCULO
DECORRENTE DE ATUAÇÃO EM PLANTÃO MÉDICO-HOSPITALAR.
ARBITRAMENTO DO VALOR DO DANO MORAL. SÚMULA 7/STJ. QUANTIA
EXORBITANTE. NÃO CONFIGURADA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
COTEJO ANALÍTICO E SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA.
(...)
2. Ação de indenização por danos materiais e compensação por danos morais,
ajuizada por genitora e recém-nascido, devido a conduta negligente de médico
plantonista que não adotou os procedimentos indispensáveis à realização
adequada do parto, ocasionando sequelas neurológicas irreversíveis e
prognóstico de vida reduzido no bebê.
(...)
4. O recurso especial não se destina a reexaminar aplicação de norma de direito
local, que disciplina o recolhimento de custas judiciais no âmbito do Tribunal de
origem (Súmula 280/STF).
(...)
6. O reconhecimento da responsabilidade solidária do hospital não transforma
a obrigação de meio do médico, em obrigação de resultado, pois a
responsabilidade do hospital somente se configura quando comprovada a culpa
do médico integrante de seu corpo plantonista, conforme a teoria de
responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais abrigada pelo Código de
Defesa do Consumidor. Precedentes.

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(...)
9. Recursos especiais parcialmente conhecidos e, nessa extensão, não providos.
(REsp 1579954/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 08/05/2018, DJe 18/05/2018)” (grifo nosso)

108. Dessa forma, conclui-se que no caso em comento, mesmo que se entendesse
aplicável a responsabilidade objetiva do Hospital, ele apenas poderia responder
solidariamente se comprovado falha na assistência hospitalar e o dano e a conduta
culposa do médico, pressupostos inexistentes in casu, razão pela qual devem ser
julgados improcedentes os pleitos autorais.

VI. v – Da Inexistência de ato ilícito, dano e nexo causal

109. Em sua inicial, a Requerente afirma ter sofrido danos morais por
supostamente não ter obtido sucesso nas cirurgias que realizou, atribuindo a tal fato
suposta incapacidade laboral, inclusive.

110. Segundo a paciente, teria sido obrigada a se submeter a vários procedimentos


e tratamentos em decorrência de sua primeira cirurgia realizada nas dependências do
Hospital Daher, os quais teriam causado suposta piora de seu quadro clínico, além de
alegar ser uma vítima da “Máfia das Próteses”.

111. Em vista unicamente de tais alegações, requer indenização por danos morais
no montante de R$100.000,00.

112. Porém, para que se caracterize a responsabilidade civil é necessária a


verificação de três requisitos, quais sejam: ato ilícito, dano e nexo de causalidade.

113. In casu, como a responsabilidade civil dos médicos se dá de forma subjetiva,


sendo necessária a demonstração da culpa, é necessário comprovar ter ocorrido
eventual imperícia, imprudência ou negligência na indicação ou na realização do
procedimento.

114. Como extensamente demonstrado, a paciente não vinha respondendo aos


tratamentos convencionais realizados durante anos. Assim, o Dr. Leandro Pretto
Flores indicou a realização da cirurgia, em vista da grave situação em que se
encontrava a Autora, razão pela qual não há que se falar em erro na indicação, como
extensamente já demonstrado nos tópicos anteriores.

115. Como se não bastasse, foram adotadas todas as medidas profiláticas de


limpeza do campo cirúrgico, dos materiais, dos profissionais e da própria paciente,
além de administrados antibióticos de forma profilática, a fim de evitar qualquer

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infecção, tanto que não restou comprovada nenhuma intercorrência que tenha
acontecido na única cirurgia realizada nas dependências deste contestante.

116. Desta forma, não houve falha de qualquer profissional da equipe que
atendeu a paciente e muito menos dos serviços prestados pelo Hospital Lago Sul no
que tange à adoção das medidas e protocolos técnicos previstos para prevenção de
infecções e demais intercorrências.

117. Ainda, conforme demonstrado de forma incontroversa, a cirurgia realizada


pela Requerente foi eletiva, tendo ela recebido todas as informações necessárias e tido
tempo suficiente para decidir se suportaria e aceitaria os riscos do procedimento.

118. É também incontroverso que o procedimento realizado era de meio e


não de resultado. Assim, apenas se pode exigir que o profissional tenha empregado
toda a técnica necessária e os meios adequados à prestação dos serviços, sendo defeso
exigir a cura do paciente, que de forma alguma depende exclusivamente da cirurgia
realizada.

119. Também não se pode concluir automaticamente que a necessidade de


realização de uma segunda ou terceira cirurgia tenha decorrido de eventual erro na
primeira, pois pode ter ocorrido mera recidiva da doença, ou dificuldade de
consolidação, ou outra circunstância qualquer que de modo algum pode ser debitada a
conta do contestante.

120. São estes os entendimentos pacíficos do TJDFT, conforme se extrai do


recentíssimo julgado:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. AÇÃO REPARATÓRIA POR


DANOS MORAIS. CIRURGIA. HÉRNIA DE DISCO. ERRO MÉDICO.
PERÍCIA MÉDICA. AUSÊNCIA DE CULPA. AUSÊNCIA DE PROVA DE
ATO ILÍCITO.RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. OBRIGAÇÃO DE
MEIO. DEVER DE INDENIZAR. AUSÊNCIA. CONDENAÇÃO INDEVIDA.
RECURSO DESPROVIDO.
1. A responsabilidade civil do médico é subjetiva e, portanto, para que suposto
erro médico seja indenizado, deve ser demonstrada a atuação mediante
negligência, imprudência ou imperícia. Ademais, não se tratando de cirurgia
estética embelezadora, a obrigação é de meio, e não de resultado.
2. A prova pericial foi peremptória ao concluir que o médico não praticou erro,
nem agiu com imperícia ou negligência, o que afasta sua responsabilidade civil.
3. Em que pese o julgador não estar adstrito ao esclarecimento pericial, a prova
técnica, por atuar nos pontos que serão objeto da valoração jurídica da
realidade, em cujo núcleo repousa o estudo de conhecimentos médico-legais,
possui a qualificação necessária para a decisão do litígio.

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3.1. Se a perícia se assenta, com convicção, que não foi constatada a ocorrência
de erro médico culposo não há como responsabilizar o profissional, pois tal
solução pressupõe o estabelecimento do nexo causal entre causa e efeito da
alegada falta médica.
3.2. O fato de ter sido necessária uma segunda intervenção cirúrgica não
caracteriza, necessariamente, a ocorrência de erro médico ou de imperícia na
primeira cirurgia realizada. Conforme ressaltou o perito, há possibilidades de
recidiva da afecção ou doença no mesmo local tratado.
4. A ausência de comprovação da falha na prestação do serviço médico acaba
por afastar o nexo de causalidade entre o serviço prestado e o dano sofrido pela
autora, não gerando o dever de indenizar.
5. Recurso de apelação desprovido.
(Acórdão n.1141894, 20140111219388APC, Relator: ALFEU MACHADO 6ª
TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 05/12/2018, Publicado no DJE:
11/12/2018. Pág.: 371/386) (grifo nosso)

121. Ausente, portanto, o primeiro requisito da responsabilidade civil, qual


seja, o ato ilícito.

122. Apesar de tudo quanto demonstrado já ser suficiente para julgar


improcedentes os pleitos autorais, denota-se não ter ocorrido também qualquer dano à
Autora durante a primeira e única cirurgia realizada nas dependências deste Hospital
ora contestante.

123. Inicialmente, cumpre salientar que os fatos aqui esclarecidos irão se ater
somente aos eventos ocorridos nas dependências do Hospital Lago Sul, uma vez que
este não possui qualquer ingerência sobre os atos praticados fora de suas instalações.

124. De tal feita, cumpre informar, novamente, que no que tange aos atos
praticados pelo terceiro Requerido Dr. Leandro Flores nas dependências deste
Hospital, ocorreram todos de forma impecável, tendo sido a paciente, ora Autora,
devidamente esclarecida acerca de todos os riscos e eficácia do procedimento cirúrgico
que iria se submeter, conforme indiscutivelmente comprovado pelo Termo de
Consentimento Informado assinado pela paciente.

125. Não obstante, o próprio plano de saúde da Autora foi categórico ao


autorizar o uso dos materiais cirúrgicos escolhidos pelo Dr. Leandro para a realização
da cirurgia da paciente, tendo sido estes avaliados e validados não somente por um,
mas por toda uma equipe de perícia médica disponibilizada pelo Seguro da Saúde da
Autora – documentos anexos.

126. Superado tal ponto, o próprio prontuário médico da Autora, que ora segue
em anexo, é incontroverso e categórico ao demonstrar a impecável atuação da equipe
médica hospitalar deste contestante, desde à preparação profilática disponibilizada pré

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cirurgia, bem como, a perfeita atuação durante o auxílio da cirurgia realizada pelo Dr.
Leandro e o pós-operatório da paciente.

127. Além disso, alegar permanência de dores não comprova existência de


dano, tendo em vista que a Autora já as apresentava há ANOS antes da
realização dos procedimentos, tendo apenas desenvolvido piora de sua doença
degenerativa.

128. Ainda, para imputar tal fato aos procedimentos realizados no Hospital
Requerido, teria que inegavelmente demonstrar terem eles ocorrido de forma errada ou
serem obrigação de resultado e, conforme visto, durante a primeira cirurgia realizada
nas dependências deste Hospital, não houve qualquer intercorrência que pudesse
resultar no alegado quadro atual de saúde da Autora, lembrando também que quanto
às demais cirurgias realizadas, não te o contestante condições de opinar, uma vez que
ocorridas foras de suas dependências.

129. Tendo a cirurgia sido realizada de forma técnica e corretamente indicada


para o caso da Autora, não há que se falar em dano, portanto. Se a autora não evoluiu
como pretendia, trata-se de caso fortuito ou culpa exclusiva da vítima, a excluir o
dever de indenizar.

130. Inexistente, portanto, o segundo requisito da responsabilidade civil,


qual seja, o dano.

131. Também não há como se estabelecer o nexo de causalidade entre a situação


supostamente vivenciada atualmente pela Autora e os atos do médico, tampouco a
assistência hospitalar.

132. Em complemento, se a Autora atualmente possui qualquer quadro pós-


cirúrgico indesejado ou tenha sofrido alguma intercorrência nas cirurgias que realizou
fora das dependências deste nosocômio, tais fatos não decorreram de qualquer erro ou
falha nos serviços prestados pelo médico ou pelo nosocômio, pois foram realizadas
todas as medidas de prevenção cabíveis para o caso e os demais procedimentos, como
já aduzido.

133. Além disso, restou extensamente comprovado que antes mesmo de se


submeter a 1ª cirurgia, a autora já apresentava quadro crônico degenerativo e se a
Autora desenvolveu qualquer incapacitação para o trabalho, com a permanência
das dores que já lhe acometiam, isto não se deu em razão das próprias condições
da paciente e não em decorrência dos procedimentos aos quais se submeteu.

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134. Ora, não há qualquer nexo de causalidade entre os fatos alegados pela
Autora e as condutas realizadas pelo Requerido, que apenas forneceu suas instalações
para a realização de procedimento cirúrgico capaz de melhorar, em tese, sua qualidade
de vida.

135. Inexistente, portanto, o terceiro requisito da responsabilidade civil, qual


seja, o nexo de causalidade. Entender de forma contrária seria violar os arts. 186,
1877 e 927 do Código Civil, de já prequestionados.

136. Assim, ante a falta de comprovação de prática de qualquer ato ilícito, dano
ou nexo de causalidade imputável ao Hospital Lago Sul tem-se como inexistente
eventual responsabilidade civil, razão pela qual devem os pleitos autorais ser
indeferidos.

VI. vi – Do Não Cabimento de Pensão Vitalícia

137. Afirma a Autora, em sua inicial, que o primeiro procedimento por ela
realizado no Hospital Lago Sul não teria ocorrido de forma correta, o que culminou
com a realização de mais 1 cirurgia e uma terceira “reparadora”, tendo esta última lhe
deixado incapacitada para o trabalho, razão pela qual faria jus ao recebimento da
pensão alimentícia vitalícia.

138. Segundo a Sra. Divina, hoje: “... vive uma vida bastante limitada, tendo
enorme dificuldade para se locomover e incapaz de correr, além das dores constantes,
causadas pelo serviço defeituoso, quadro em que não se encontrava antes das
cirurgias realizadas...”, sustentando unicamente neste argumento, seu pedido de
pensão vitalícia no valor mensal de 2 salários-mínimos a serem pagos pelos
Requeridos, e o fundamenta no art. 950 e 951 do Código Civil.

139. Diz o art. 950 do Código Civil:


Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer
o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a
indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim
da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho
para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

140. O art. 951 por sua vez estabelece:


Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional,

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por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente,


agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

141. Ora, no caso concreto, não houve sequer ofensa, tampouco ofensa que tenha
impossibilitado a autora de exercer ofício ou profissão. Aliás, não restou demonstrado
sequer que, antes do procedimento realizado no contestante, a autora exercesse
qualquer ofício ou profissão que lhe prouvesse o sustento.

142. Conforme demonstrado, na época em que a paciente se submeteu à primeira


cirurgia, em junho de 2013, esta já não realizava nenhuma atividade laboral, ou, se
realizava, não comprovou tal fato, em nenhum momento, em sua inicial, ônus que lhe
competia.

143. Por outro lado, não houve imprudência, negligência ou imperícia da qual
tenha resultado incapacidade da autora para o trabalho, pelo que também inaplicável o
art. 951 do CC.

144. A circunstância de ter a autora se aposentado não decorre de qualquer ato


praticado pelo contestante ou seus prepostos, e mesmo tendo ela se aposentado, este
fato se deu em razão das condições de saúde causadas pelas próprias doenças, não
havendo que se falar em existência de eventual lesão cometida pelo médico ou
pelo Hospital Lago Sul que justifique os pedidos de pensão vitalícia.

145. Pelo exposto, não há que se falar ter a Sra. Divina perdido o emprego em
decorrência dos supostos danos ocasionados pelo procedimento cirúrgico realizado no
contestante, pois sequer realizava qualquer atividade laboral à época dos fatos.

146. Não há nexo de causalidade entre os procedimentos e eventual


impossibilidade de trabalhar, ainda que esta viesse a ser demonstrada.

147. É de se notar, inclusive, que apesar de a Autora afirmar não poder exercer
atividade laborativa, em nenhum momento há nos autos qualquer comprovação de que
ela não poderia se adaptar a outras formas de trabalho até remotos, podendo assim
auferir renda para seu sustento.

148. Neste contexto, não há que se falar em pensão vitalícia.

149. Assim, não estando presentes os pressupostos para deferimento dos pedidos
de pensão vitalícia, bem como não tendo a Autora comprovado sequer que trabalhava,
ou quanto efetivamente recebia, mister o indeferimento dos pleitos autorais.

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VII – DOS PEDIDOS

150. Por todo o exposto, requer-se:

i) preliminarmente, seja reconhecida a prescrição, devendo o feito ser extinto com


resolução do mérito, com base no art. 487, II, do CPC;
ii) acaso superada a preliminar supracitada, que seja reconhecida a ilegitimidade
passiva do Hospital Lago Sul, sendo o feito extinto sem julgamento do mérito a este
contestante, nos termos do artigo 485, IV, CPC;

iii) no mérito, caso não acolhida as preliminares supracitadas, seja indeferido o


pedido de inversão do ônus da prova;

iv) sejam julgados totalmente improcedentes os pedidos da Autora;

v) seja observada a confidencialidade dos autos no que concerne aos prontuários


médicos da Autora;

vi) ao final, seja a Autora condenada ao pagamento dos ônus de sucumbência,


honorários, custas e despesas processuais.

151. Pugna-se pela produção de todas as provas em Direito admitidas, em especial


a documental ora juntada; depoimento pessoal da Autora; oitiva de testemunhas e
prova pericial.

152. Ainda, requer-se a intimação do médico Dr. Leandro Pretto Flores, via ofício,
e da própria Autora, para acostar aos autos a integralidade dos exames, prontuários e
documentos da paciente, principalmente quanto aos atendimentos realizados fora das
dependências do Hospital Lago Sul, concedendo-se, em sequência, prazo para o ora
contestante se manifestar quanto aos referidos documentos.

153. Por fim, requer-se que todas as publicações sejam feitas em nome da
advogada Dra. Sandra Albuquerque Dino, OAB/DF 18.712, sob pena de nulidade.

Termos em que,
Pede deferimento.
Brasília, 24 de fevereiro de 2022.

Sandra Albuquerque Dino Lorena Rodrigues Ribeiro Silva

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OAB/DF 18.712 OAB/DF 66.007

ROL DE DOCUMENTOS
Doc. 1 – Prontuário.

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