Martins Advogados

INARIO MARTINS DA SILVA – OAB/SP 112.128 e LUCAS MARTINS SOBRINHO – OAB/SP 406.890

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DO FÓRUM DE COTIA, ESTADO DE SÃO PAULO.

Processo nº 0007043-51.2022.8.26.0152

RUIZ CARLOS PIRES GONZALEZ, devidamente

qualificado nos autos em epígrafe, vêm a presença de V.Exa. se manifestar a respeito da
petição de fls.14/18, conforme decisão de fls.30.

I- DA PETIÇÃO DE FLS. 14/18

A petição de fls. 14/18 foi protocolada como ação

incidental.
Neste sentido, se requer que V.Exa a receba como mera
petição, mesmo porque basta uma simples petição para arguir a objeção de nulidade de
citação.
Caso Vxa. A receba como ação incidental, se impugna a
exordial por não apresentar o valor da causa, bem como por não ter recolhido o executado
as custas necessárias.
Além dos fatos acimas que implicam na improcedência do
da demanda incidental sem julgamento do mérito, é possível a improcedência com o
julgamento do mérito, uma vez que a nulidade de citação nunca existiu (ou, se existiu,
foi convalidada pala habilitação do réu, bem como já ter-se-ia transcorrido seu prazo para
apresentação da contestação, pelo §1º do art. 239, CPC).

II- DO ENDEREÇO DA CITAÇÃO

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A decisão de fls. 30 determinou que o exequente esclarecesse

como foi obtido o endereço do exequente.

Pois bem, o endereço do exequente foi obtido pelo patrono se

utilizando do sistema CREDLOCALIZA: https://credlocaliza.com.br/quem-somos

O Credlocaliza é um sistema que faz buscas de informações

públicas contidas em sistemas de proteção de crédito (Serasa, SPC), nos DETRANS,
possibilita verificar o “score” da pessoa ou empresa pesquisada e ainda realiza buscas
relacionadas a informações públicas de parentesco e de automóveis e imóveis (a partir de
convênios com cartórios de registro de imóveis), bem como de processos relacionados ao
pesquisado.
Trata-se de um dos principais sistemas utilizados por
advogados para pesquisas de endereço e diligências patrimoniais de pessoas executadas.

O sistema é muito usado em execuções (juntamente com

outros como “SEGUROCRED” e “Leme Forense”) para realizar diligências e pesquisas
patrimoniais.
Importa frisar que o Credlocaliza é indicado até mesmo por
professores e juízes como o caso do professor José Andrade (juiz no estado do Mato
Grosso e professor em cursos de pós-graduação e aperfeiçoamentos):
https://www.youtube.com/watch?v=MCLV--cEL5o

Frisa-se ainda que qualquer pessoa pode se inscrever e usar

o sistema de buscas do Credlocaliza e que todos os dados encontrados são públicos.

A cada busca positiva é cobrada uma pequena taxa.

Por fim, como o sistema utiliza bases públicas para buscas de

endereços, só há 3 possibilidades: ou o executado forneceu o endereço errado para órgãos

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públicos (DETRAN etc.) ou não atualizou seu endereço, ou o executado fornece

endereços divergentes para evitar cobranças de credores. De qualquer forma, não deve
recair qualquer responsabilidade sobre o exequente ou seu patrono por negligência do
executado.
Feitas as considerações acima, este patrono junta em anexo
a ficha do sistema Credlocaliza na qual consta o endereço informado.

Cumpre enfatizar que a ficha foi gerada exatamente no dia

do ajuizamento da ação em 09/03/2022.

III- DA INEXISTÊNCIA DE NULIDADE

Há inexistência de nulidade por 2 motivos: 1) o executado

não comprovou que efetivamente mora no endereço por ele fornecido e 2) ainda que o
endereço indicado na exordial esteja incorreta, o executado deu-se por citado no
memento da habilitação de seu advogado constituído nos autos.

Como apontamos anteriormente, é possível que o executado

forneça aos órgãos públicos e empresas endereços diversos para evitar cobranças de
credores (infelizmente essa prática é comum no Brasil).

Não se quer aqui fazer leviandades, e se tem que deixar claro

que não se está acusando o executado de práticas com baixa estatura moral.
Simplesmente foi feita a consideração acima para se demonstrar que os documentos
juntados são insuficientes para comprovar o endereço e que deveria o executado
comprovar seu domicílio por outros meios.

Porém, ainda que se considerasse que o endereço fornecido

pelo sistema Credlocaliza não corresponde ao domicílio do executado, melhor sorte não
lhe assiste porque ao se habilitar na execução, o executado se deu por citado!

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É cediço que a os atos processuais só padecem de nulidade se

não atingirem sua específica finalidade. Uma vez atingida a finalidade do ato, não há
nulidade

No caso da citação, sua finalidade é dar conhecimento ao réu

para que, caso queira, exerça seu direito à ampla defesa.

Nesta senda, ao se habilitar nos autos através de advogado

constituído o réu teve completo conhecimento da demanda e pôde exercer sua defesa.

Neste sentido, o art. 239, § 1º prevê expressamente que a

habilitação do advogado nos autos supre o ato citatório:

§ 1º O comparecimento espontâneo do réu ou do

executado supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir
desta data o prazo para apresentação de contestação ou de
embargos à execução.

A lei é clara e se pode dizer que é despicienda, uma vez que a

teoria da nulidade dos atos processuais já resolveria muito bem a questão.

Mesmo sendo suficiente o texto da lei, se demonstrará que o

requisito do não atingimento da finalidade para ocorrência das nulidades é amplamente
reconhecido e propagado pela doutrina. Verbi gratia, se tem texto clássico do
desembargador aposentado do TJSP e professor titular de Processo Civil da USP, José
Roberto dos Santos Bedaque:

“ Não obstante isso, o vício da citação é

desconsiderado se o réu comparecer (CPC [1973] art. 214, § 1º).Por quê? Pela
simples razão de que a as exigências rigorosas quanto à forma destinam-se tão
somente a assegurar o seu escopo .

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O formalismo de que é cercada a citação visa a

assegurar a possibilidade de exercício da defesa. Se o réu apresentar resposta
é porque a falha verificada no ato de comunicação processual não
comprometeu sua finalidade.”(BEDAQUE, José Roberto dos Santos in:
Efetividade do Processo e Técnica Processual. P. 449-450. Editora Malheiros)

O que se conclui é que a eventual vício citatório foi

convalidado com a habilitação do advogado do réu.

Mais que isso: uma vez que houve habilitação do

patrono do réu, o prazo para a contestação passou a correr nesta mesma data.

Assim, o réu deu-se por citado e deu início ao seu prazo

para contestar!
Pela aplicação do art. 239, § 1º CPC, o prazo do réu
para contestar se esgotou no dia 07//07/2023! Trata-se de réu revel!

IV- DA REVELIA

O réu é revel e por este motivo, deve ser mantido o valor bloqueado
e dado a continuidade ao cumprimento de sentença.

A manifestação do réu em fls. 14/18 se tornou inócua porque este

não apresentou a contestação em 15 dias da habilitação aos autos.

Assim não há escapatória ao executado: se a citação no processo de

conhecimento for declarada válida, ele é revel, mas se a citação for considerada nula, ele
também será revel porque ai se dar por citado, não apresentou a contestação em 15 dias.

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Neste sentido, se evoca novamente o art. 239, § 1º CPC que prevê

a citação em 15 dias após a habilitação nos autos:

Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou

do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de
improcedência liminar do pedido.

§ 1º O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a

falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para
apresentação de contestação ou de embargos à execução.

Por esta razão, o prazo passou a fluir no dia da habilitação (18/06) e

findou em 07/07/2023.
III- PEDIDOS

1) O recebimento da “ação anulatória” como mera

petição, ou, subsidiariamente, que se receba como
ação anulatória incidental e julgue improcedente.
2) O reconhecimento da citação válida no processo de
conhecimento
3) Subsidiariamente ao pedido “2” se requer que se
aplique o art. 239, §1º, CPC para que se reconheça
convalidação da citação com a habilitação do patrono
dos autos e a revelia, pelo decurso do prazo para a
contestação após a habilitação do réu em
18/06/2023.

LUCAS MARTINS SOBRINHO

OAB/SP 406.890

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