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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA

EMPRESARIAL E CONFLITOS DE ARBITRAGEM DA COMARCA DE SÃO


PAULO/SP

Processo nº 1051083-29.2023.8.26.0100

SOUZA LIMA TERCEIRIZACOES LTDA, já qualificada nos


autos da Ação de Obrigação de Não Fazer c/c com Reparação por Danos Morais e
Materiais que lhe move VERISURE BRASIL MONITORAMENTO DE ALARMES
S.A E OUTRA, por seus advogados, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência,
em atendimento às r. Decisões de fls. 176/177 e 233/240, apresentar CONTESTAÇÃO,
pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

I - TEMPESTIVIDADE

A r. Decisão de fls. 233/240 determinou a citação da parte


requerida, por carta, para apresentar defesa no prazo de 15 (quinze) dias, aduzindo
ainda que o prazo de defesa terá início nos termos do artigo 231, do Código de
Processo Civil. Assim, considerando que a juntada do AR ocorreu em 03/06/2023
(sábado), inicia-se em 05/06/2023 (segunda-feira) o prazo para apresentação da
presente Contestação, a qual se apresenta tempestiva, vez que protocolada até o prazo
fatal, que ocorre que em 27/06/2023 (terça-feira), em razão da ausência de expediente
forense nos dias 08 e 09/06/2023, conforme Provimento CSM nº 2.678/2022 (doc. 01).

Av.

Av. Paulista, nº 1159, Conj. 1415, Bela Vista, São Paulo/SP CEP: 01310-
200
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II – SÍNTESE DA AÇÃO

Trata-se de ação de obrigação de não fazer c/c com pedido de


reparação por danos morais e materiais, com o objetivo de fazer cessar a suposta
prática de concorrência desleal realizada pela ré Souza Lima, consubstanciada no
suposto uso indevido da palavra-chave “Verisure” como critério de anúncio nos leilões
organizados pelas plataformas de divulgação na internet.

Liminarmente, as autoras pedem a concessão da tutela


provisória, a fim de que a ré Souza Lima se abstenha de utilizar o termo “Verisure”, de
forma isolada ou juntamente a outros termos, com finalidade publicitária na internet,
como palavra-chave em plataformas como o Google AdWords, Microsoft Advertising,
TikTokAds Manager, Meta Ads (referente ao Facebook/Instagram), Mercado
LivreAds, Amazon Ads, os serviços que venham sucedê-los ou qualquer outro sistema
que trabalhe com a indicação de palavras-chave.

Processado o feito, V. Exa. determinou a emenda da petição


inicial para fins da autora estimar os danos materiais, assim como que a autora
procedesse à intimação da ré para se manifestar previamente à apreciação do pedido
de tutela (fls. 176/177).

Posteriormente, a autora juntou ao processo o comprovante de


intimação da ré, passando daí a correr o prazo da presente manifestação, nos termos do
artigo 231, inciso I, do CPC, de modo que ré ingressou espontaneamente no processo,
apresentando manifestação, visando reestabelecer a verdade dos fatos e demonstrar
que as alegações das autoras são infundadas (fls. 213/232).

Em que pese a manifestação da ré, sobreveio r. Decisão de fls.


233/240 deferindo parcialmente a liminar, nos seguintes termos e fundamentação:

“[...] Isto posto, DEFIRO EM PARTE a tutela de urgência para


determinar que a requerida abstenha-se de utilizar o termo "Verisure"
e qualquer de suas variáveis, mesmo em composição de palavras-
chave, para fins de aquisição de links ou anúncios patrocinados com a
Google, por meio da ferramenta de publicidade denominada Google
Ads, acessória ao Google Search, em 72 horas da ciência desta decisão,
sob pena de multa diária de R$ 2.000,00, limitada ao valor de
R$60.000,00, sem prejuízo da necessidade de majoração em caso de
reiterado descumprimento. Cópia desta decisão servirá como
notificação a ser entregue pela parte autora à requerida, comprovando-
se nos autos.

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2- Cite-se a parte requerida, por carta (Provimento 34/2016), a
apresentar defesa no prazo de 15 dias, sob pena de incidência de
revelia e presunção de veracidade das alegações de fato aduzidas na
inicial (artigo 344 do Código de Processo Civil). O prazo de defesa
terá início nos termos do artigo 231 do Código de Processo Civil. [...]”
(g.n.)

A decisão retro foi omissa em relação à manifestação


apresentada pela ré às fls. 213/222, razão pela qual opôs Embargos de Declaração (fls.
264/267), os quais estão pendentes de apreciação pelo juízo.

Contudo, como será demonstrado a seguir, os argumentos


trazidos pela parte autora não possuem fundamento fático e/ou jurídico, devendo ser
rechaçados pelo MM. Juízo diante de manifesta improcedência, conforme se
demonstrará.

III – NECESSÁRIO RESTABELECIMENTO DA VERDADE DOS FATOS

Em primeiro lugar, é importante esclarecer que a ré é


conceituada companhia no segmento de Segurança, a qual contribui para a geração de
inúmeros empregos diretos e indiretos no país, além de ser a titular do nome
empresarial e marca “Grupo Souza Lima”.

Fundada em 1990, a autora nasceu integralmente voltada para


os serviços de Segurança Patrimonial e com o passar do tempo deu início a um período
de grande expansão, diversificação dos serviços prestados e investimento em inovação.

A ré completa 33 anos com cerca de 25.000 colaboradores, 20


filiais em 13 estados e é reconhecida qualidade e excelência na terceirização de
segurança e serviços, inclusive detentora de prêmios e certificações. Sempre inovando
nas melhores práticas de gestão de pessoas e utilização de tecnologia, sua marca
carrega confiança, tradição, estrutura, solidez, credibilidade e transparência.

Sempre zelando pelo oferecimento de serviços e produtos de


excelência, a ré investe pesadamente em tecnologia, com equipamentos e sistemas
altamente qualificados, com estrita observância à legislação vigente.

Nesse sentido, as alegações das autoras trazidos na exordial não


conferem com a realidade fática vivenciada pelas partes, motivo pelo qual se faz
necessário, preambularmente, restabelecer a verdade dos fatos.

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As autoras aduzem que enviaram Notificação Extrajudicial para
a ré, com pedido de cessação do uso de marca. Contudo, agem de má-fé ao omitirem a
resposta apresentada pela ré, em formato de contranotificação, que foi enviada antes
da propositura desta ação, em 06/02/2023, na qual afirma que “adicionou a palavra
“Verisure” na lista de palavras-chaves negativas” para fins das pesquisas no Google
(fls. 226/227), conforme comprovação abaixo:

Assim, dessume-se que a ré prontamente atendeu à solicitação


das autoras ainda nas vias extrajudiciais, em 06/02/2023, restando demonstrado que o
termo “Verisure” já está na lista de palavras-chave negativas nas campanhas de
anúncios do Google Ads da ré.

Portanto, antes mesmo da propositura desta demanda e de


ordem judicial, a ré comprovou NÃO UTILIZAR o termo "Verisure" para fins de
aquisição de links ou anúncios patrocinados com a Google, por meio da ferramenta
de publicidade denominada Google Ads, acessória ao Google Search.

Oportuno mensurar que determinados anúncios podem estar


sendo veiculados por iniciativa exclusiva da empresa GOOGLE, com base em
metodologias proprietárias próprias que levam em consideração o fato das partes

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atuarem no mesmo segmento, ou seja, não é a marca Verisure que é considerada, mas
sim o público alvo em comum, conforme será explanado a seguir.

Dessarte, não pode ser a ré sujeita a penalidades de uma


ordem inibitória em plataforma de terceiro sob a qual não tem controle ou
ingerência, afinal, fez o que estava dentro do seu dever de diligência, a saber,
negativou a marca das autoras.

Em suma, não existe qualquer defeito ou irregularidade nas


campanhas publicitárias da ré, restando comprovada a negativação do termo
“Verisure”. Portanto, o pleito das autoras não se sustenta, uma vez que inexiste
qualquer tipo de pratica de concorrência desleal pela ré SOUZA LIMA que
eventualmente possa ensejar o dever de indenizar, nos termos que se demonstrará
amplamente adiante.

IV. PRELIMINARMENTE

Preliminarmente, antes de discutir o mérito da ação, necessário


se faz o levantamento de questões prejudiciais aptas a ensejar a EXTINÇÃO DO
PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, nos moldes do artigo 485, do Código
de Processo Civil.

IV.I – FALTA DE INTERESSE DE AGIR DAS AUTORAS

O interesse processual ou interesse de agir refere-se sempre à


utilidade que o provimento jurisdicional pode trazer ao demandante. Para a
comprovação do interesse processual, primeiramente, é preciso a demonstração de que
sem o exercício da jurisdição, por meio do processo, a pretensão não pode ser satisfeita.
Daí surge a necessidade concreta da tutela jurisdicional e o interesse em obtê-la
(interesse-necessidade).

Ressalta-se, entretanto, que a necessidade surge da resistência do


obrigado no cumprimento espontâneo do que foi pactuado ou determinado por lei ou
ainda em decorrência da indispensabilidade do exercício da jurisdição para a obtenção
de determinado resultado.

O interesse processual pressupõe, além da correta descrição da


alegada lesão ao direito material, a aptidão do provimento solicitado para protegê-lo
e satisfazê-lo.

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Portanto, cabe ao demandante escolher o procedimento e o
provimento adequados à situação fática deduzida (interesse-adequação).

Diante destes elementos teóricos trazidos, o que se verifica é que


as autoras não preenchem os pressupostos suficientes para o legítimo interesse
processual na presente demanda.

Isso porque, conforme retro destacado, as autoras agem de má-


fé ao omitirem resposta apresentada pela ré, em formato de contranotificação, que foi
enviada antes da propositura desta ação, em 06/02/2023, na qual afirma que “adicionou
a palavra “Verisure” na lista de palavras-chaves negativas” para fins das pesquisas
no Google (fls. 226/227 – contranotificação).

Nesse sentido, cumpre asseverar que ANTES mesmo da


propositura da demanda pela autora, esta já tinha conhecimento que a ré SOUZA
LIMA realizou uma varredura em suas campanhas publicitárias e adicionou a palavra
“Verisure” na lista de palavras-chave negativa, carecendo, portanto, de interesse de
agir.

De fato, a condição da ação denominada interesse processual,


ou interesse de agir, surge da necessidade de se obter, por meio de um provimento
jurisdicional, a proteção a determinado interesse substancial. Situa-se, portanto, na
necessidade do processo e na adequação do remédio processual eleito para o fim
pretendido.

Neste cenário, falta condição da ação para exercício do direito


autônomo à ação de obrigação de não fazer, qual seja, interesse de agir, caracterizado
pela inutilidade do meio utilizado, uma vez que a ré já havia demonstrado a
negativação da palavra-chave “Verisure” em suas campanhas publicitárias do Google
Ads.

Sendo assim, é medida necessária que a presente demanda seja


extinta sem resolução do mérito, nos termos do artigo 487, VI, do Código de Processo
Civil, tendo em vista a ausência do interesse de agir, em decorrência da perda do
objeto da ação.

IV.II –AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS DE CONSTITUIÇÃO E DE


DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO FRENTE À
INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. ARTIGO 485, INCISO IV, DO CPC.

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Necessário se faz alegar a inépcia da inicial, uma vez que a parte
autora não trouxe aos autos documento essencial ao litígio, qual seja, prova de que a
ré estava se utilizando do termo exato “Verisure” em link patrocinado.

A parte autora sustenta a ação na suposta ocorrência de


publicidade indevida, vez que a ré estaria utilizando a marca registrada e nome
empresarial das autoras. No entanto, nenhum documento dessa natureza foi juntado
aos autos, ou melhor, nada que comprove as obrigações e direitos das partes, já que a
Ata Notarial acostada demonstra que o site da ré apareceu atrelado à outras palavras
como “alarme” e “monitoramento”, e não exclusivamente ao termo “Verisure”, até
porque a ré JÁ HAVIA comprovado a negativação desta palavra antes mesmo da
propositura desta demanda.

Nem se diga que a ata, por si só, seria suficiente para


fundamentar o litígio, visto que não demonstra o que as autoras alegam na exordial, o
que converge para a inépcia da petição inicial.

Deste modo, ausente a prova do fato constitutivo do direito


alegado pela demandante, nos termos do art. 373, I, do Código de Processo Civil,
carece a autora de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo,
devendo ser extinto o processo sem resolução de mérito, nos moldes do art. 485, IV, do
mesmo Diploma Legal.

IV.III – ILEGITIMIDADE PASSIVA DA SOUZA LIMA E LEGITIMIDADE


PASSIVA DA GOOGLE. ARTIGO 339, DO CPC

Consoante narrado anteriormente a ré SOUZA LIMA não faz


uso da palavra “Verisure” em suas campanhas de links patrocinados. Assim, é
ilegítima para figurar no polo passivo da presente demanda.

Nesse sentido, o cerne da ação são os anúncios disponibilizados


na plataforma Google Ads.

A GOOGLE, por sua vez, é uma provedora de aplicações que


oferece não apenas mecanismo gratuito de buscas de páginas na Internet (o chamado
“Google Search”), cujos resultados naturais dependem das palavras utilizadas para a
pesquisa, mas também disponibiliza um serviço pago de publicidade chamado
“AdWords”, o qual que tem por objeto a veiculação de anúncios de interessados em
destaque logo na primeira página do site de buscas, mediante remuneração.

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Com relação aos provedores de busca, como a GOOGLE, pode-
se dizer que eles são sites que rastreiam, indexam e armazenam as mais variadas
informações disponíveis online, organizando-as e classificando-as para que, uma vez
consultadas, possam fornecê-las por meio de sugestões (ou resultados) que atendam
aos critérios de busca informados pelos próprios usuários. Sobre o tema, leciona Julia
Costa Coelho:

“Os buscadores, como Google, Bing e Yahoo, estão presentes ao


redor do mundo e são utilizados como ferramentas de pesquisa
por milhões de pessoas, oferecendo, em uma fração de
segundos uma infinidade de possíveis respostas para as mais
diferentes perguntas. Embora os buscadores não sejam
responsáveis pelo conteúdo que cada site disponibiliza, eles
exercem controle sobre a forma de exibição, afinal, são eles os
responsáveis pela seleção do que consta da lista de resultados
para certos termos de busca, bem como pela ordem de cada
um deles na relação disponibilizada ao usuário.” (Direito ao
esquecimento. Como alcançar uma proteção real no universo
virtual? In SCHREIBER, Anderson; MORAES, Bruno Terra de;
TEFFÉ, Chiara Spadaccini de [coords]. Indaiatuba: Foco, 2020,
p. 59.)

Assim, a legitimidade passiva da GOOGLE se evidencia pois


esta mantém relação contratual com a ré para a utilização do sistema. Ademais, a
eleição de método impediente de controle prévio acarreta responsabilidade à
GOOGLE, sobretudo porque a contratação do aludido programa confere-lhe retorno
pecuniário.

Dessarte, tendo em vista que a GOOGE explora plataforma de


publicidade utilizada à veiculação de anúncios por meio de links patrocinados e no
que, então, não atua tão somente como hospedeira de conteúdo gerado por terceiros,
auferindo lucro decorrente das publicações e, considerando que possui gerência e
mecanismos que interferem diretamente na exibição de pesquisas relacionadas ao
significado de palavras-chave, evidente que possui legitimidade e deve estar incluída
no polo passiva da demanda, nos termos do artigo 339, do Código de Processo Civil.

IV.IV – LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 114, DO


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

Considerando a fundamentação retro, mister que a empresa


GOOGLE figure no polo passivo da presente demanda.

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É necessário o litisconsórcio em virtude da lei e da natureza da
relação jurídica de direito material, pois para a efetiva observação do contraditório, não
pode a ação deixar de ser proposta em face da GOOGLE (litisconsórcio necessário
passivo).

In casu, o litisconsórcio é necessário uma vez que a eficácia das


decisões depende não somente da ré SOUZA LIMA, mas também da GOOGLE,
provedora da aplicação Google Ads, segundo preceitua o artigo 114, do Código de
Processo Civil1.

IV.V – AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA


AÇÃO

Preceitua o artigo 320 do Código de Processo Civil que: “A


petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da
ação.”

Nesse sentido, carece a exordial de documentos que


demonstrem o alegado direito das autoras, porquanto ausentes provas da efetiva
ocorrência de concorrência desleal e danos gerados em decorrência disso.

A suposta concorrência desleal não está caracteriza por dois


principais motivos: (i) conforme demonstrado na Contranotificação enviada às autoras,
fato omitido na inicial (fls. 226/227), a palavra “Verisure” já foi inserida na lista de
palavras-chave negativas, antes mesmo desta ação ser ajuizada; (ii) a ata notarial
demonstra claramente que o link da ré somente apareceu quando vinculado à outras
palavras do segmento, como “monitoramento”, “alarmes” ou “preço”, indicando
perfilamento que é realizado pela própria plataforma do Google Ads.

Além disso, não foram apresentadas as respectivas URLs dos


anúncios, ou seja, não há qualquer indicativo do endereço eletrônico onde,
supostamente, estava exibido o anúncio em questão e tampouco o termo de pesquisa
respectivo, no local apropriado no buscador da GOOGLE, o que é imprescindível,
segundo a exegese do art. 19 da Lei 12.965/2014 e precedentes do C. Superior Tribunal
de Justiça e Tribunal de Justiça de São Paulo.

1
Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação
jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.

9
Com isso, são omitidas na ata notarial informações relevantes
que causam cerceamento de defesa à ré, a qual está impedida de comprovar o contexto
em que houve a exibição de seu anúncio destacado.

Ademais, as autoras aduzem pela reparação dos danos morais e


materiais, mas não demonstram os prejuízos sofridos, nem lucros cessantes, nem
tampouco colacionam nos autos documentos aptos a comprovar o valor da marca, para
que se possa entender os parâmetros utilizados e, por fim, concluir que o montante
pleiteado está de acordo.

Por conseguinte, reputa-se que a petição inicial não foi instruída


com os documentos indispensáveis à propositura da ação, consoante artigo 320 do
Código de Processo Civil.

IV.VI – INCIDÊNCIA DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE

O exercício regular de direitos é causa de excludente de


ilicitude e pode ser conceituado como a realização de conduta pelo agente de forma
compatível com aquilo que lhe é assegurado pelo ordenamento jurídico.

No dizer de Cavalieri, é o direito exercido regularmente,


conforme seu fim econômico, social, a boa-fé e os bons costumes; onde há direito não
há ilícito2, como se infere do artigo 188, inciso I, do Código Civil, verbis:

“Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de
um direito reconhecido;”

Conforme narrado, não restou caracterizada a concorrência


desleal, pois a própria Ata Notarial amealhada pelas autoras demonstrou que o site da
ré não apareceu quando realizada a pesquisa por “Verisure”, mas sim somente em
itens do segmento, como “alarmes”, “monitoramento” e “preço” ou ainda, por estarem
no contexto de pesquisa realizada por usuário cujo perfil se insere no seu segmento
de atuação (público alvo) e, consequentemente, o usuário que estava realizando a
pesquisa acabou sendo perfilado pela GOOGLE como público alvo da ré SOUZA
LIMA.

Assim, conforme demonstrado, não existe qualquer ato


indevido por parte da ré SOUZA LIMA, sendo que está agindo no exercício regular do

2
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. p. 33.

10
seu direito, pois, frisa-se, antes mesmo desta ação já havia incluído o termo “Verisure”
como palavra-chave negativa em seus anúncios. Ademais, a prática de utilizar
campanhas de links patrocinados do Google Ads é totalmente lícita e legal, não
havendo nenhum dispositivo no ordenamento que desabone a conduta.

Sendo assim, fica claro que a ré SOUZA LIMA não utiliza o


nome e marca das autoras de forma indevida em link patrocinado, bem como que
incide sobre o caso excludente de ilicitude.

V – IMPUGNAÇÃO DA ATA NOTARIAL

Conforme demonstrado, antes mesmo da propositura desta


ação a ré SOUZA LIMA havia negativado a palavra “Verisure” em suas campanhas de
links patrocinados.

Nesse liame, denota-se que a ata notarial colacionada às


fls.148/157 não é documento hábil para comprovar o que as autoras estão alegando no
exordial, razão pela qual a ré a impugna, com fulcro no artigo 436, incisos I e IV, do
Código de Processo Civil.

Depreende-se da ata notarial de fls. 148/157 que o Tabelião


apenas fez “colagens parciais” dos resultados das pesquisas, uma vez que “recortou”
apenas o trecho que, aparentemente, era do interesse das autoras:

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Note que não há qualquer indicativo do endereço eletrônico
onde, supostamente, estava exibido o anúncio em questão e tampouco o termo de
pesquisa respectivo, no local apropriado no buscador da GOOGLE.

Com isso, são omitidas na ata notarial informações relevantes


que causam cerceamento de defesa à ré, a qual pode ser impedida de comprovar o
contexto em que houve a exibição de seu anúncio destacado.

Isso porque falhou as autoras, e o próprio Tabelião, ao deixar de


indicar as URLs dos anúncios sob discussão, conforme impõe o artigo 193 da Lei
12.965/14 (Marco Civil da Internet), o que seria de rigor, afinal, este é o elemento que
permite a identificação única de um conteúdo na Internet.

O resultado das pesquisas indicadas na ata notarial de fls.


148/157 não remetem às URLs dos anúncios. Nas imagens insertas no referido
documento aparecem a ferramenta de pesquisa “Google Search” em que exibem os
resultados para as opções “Verisure PREÇO”, “Verisure MONITORAMENTO” e
“Verisure ALARMES”, sem qualquer alusão às URLs específicas desses anúncios.

Dessarte, a ata notarial realiza somente a apresentação de


recortes dos resultados de pesquisa, sem especificar a “URL” dos próprios anúncios
ditos como ofensivos, o que inviabiliza, inclusive, eventual determinação de exclusão
do conteúdo.

Na Internet, a “identificação clara e específica do conteúdo


apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do material”, deve
corresponder ao seu URL (ou hyperlink), conforme mencionado no próprio relatório
do Projeto de Lei que culminou no Marco Civil da Internet, de autoria do Deputado
Federal Alessandro Molon4, nos seguintes termos:

3
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de
internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se,
após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e
dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições
legais em contrário. § 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, identificação
clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do material.
4
Disponível em: PEP - PL 2126-1194.pdf (camara.leg.br). Acesso 12/06/2023.

12
“Mantivemos, igualmente, a determinação de que tal ordem
judicial deva identificar clara e especificamente o conteúdo
apontado como infringente, com o objetivo de evitar decisões
judiciais genéricas que possam ter efeito prejudicial à liberdade
de expressão, como, por exemplo, o bloqueio de um serviço
inteiro – e não apenas do conteúdo infringente. Evita-se, assim,
que um blog, ou um portal de notícias, seja completamente
indisponibilizado por conta de um comentário em uma
postagem, por exemplo. Evitam-se também ordens genéricas de
supressão de conteúdo, com a obrigação de que a ordem
judicial indique e de forma clara e específica o conteúdo
apontado como infringente, de forma a permitir a localização
inequívoca do material – ou seja, há a necessidade de se indicar
o hyperlink específico relacionado ao material considerado
infringente. Nesse aspecto, fizemos ainda constar
expressamente do início do dispositivo que esta salvaguarda
tem o intuito de assegurar a liberdade de expressão e de
impedir a censura, explicitando a preocupação da manutenção
da internet como um espaço de libre e plena expressão.”

Como exposto, a lógica prevista pelo Marco Civil da Internet


condiciona a remoção de conteúdo da Internet à análise prévia pelo Poder Judiciário
sobre a legalidade do conteúdo reclamado, bem como à identificação clara e específica
do conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do
material (URLs específicas).

No presente caso, não houve “identificação clara e específica do


conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do
material”. Ou seja, incumbe às autoras apontarem quais os anúncios a serem
analisados pelo Judiciário, o que não se vislumbra na ata notarial, documento
colacionado onde supostamente demonstra-se publicidade indevida nas pesquisas
utilizando a marca registrada e nome empresarial das autoras.

Atualmente, a jurisprudência pátria consolidou-se no sentido


de que cabe à parte interessada especificar de forma completa a URL de cada material
cuja remoção é pretendida, inclusive para que o magistrado possa avaliar seu conteúdo
e concluir pela existência de ilicitude, sob pena de se caracterizar uma obrigação
genérica e, consequentemente, impossível de ser cumprida. Esse é o entendimento do
Colendo Superior Tribunal de Justiça, seguido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo,
verbis:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL. CUMPRIMENTO DE

13
SENTENÇA. FACEBOOK. OBRIGAÇÃO DE FAZER.
REMOÇÃO DE CONTEÚDO. LOCALIZADOR URL.
NECESSIDADE DE FORNECIMENTO PELO REQUERENTE.
OBRIGAÇÃO IMPOSSÍVEL. MULTA DIÁRIA.
DESCABIMENTO. [...] 2. Necessidade de indicação clara e
específica do localizador URL do conteúdo infringente para a
validade de comando judicial que ordene sua remoção da
internet. O fornecimento do URL é obrigação do requerente.
3. A necessidade de indicação do localizador URL não é apenas
uma garantia aos provedores de aplicação, como forma de
reduzir eventuais questões relacionadas à liberdade de
expressão, mas também é um critério seguro para verificar o
cumprimento das decisões judiciais que determinarem a
remoção de conteúdo na internet. 4. A multa diária por
descumprimento de condenação à obrigação de fazer ou não
fazer é meio coercitivo, que visa combater o desrespeito à
ordem judicial pela parte destinatária do mandamento. 5. Não
fornecidos os URLs indispensáveis à localização do conteúdo
ofensivo a ser excluído, configura-se a impossibilidade fático-
material de se cumprir a ordem judicial, devendo ser afastada
a multa cominatória. 6. Agravo interno não provido. (AgInt no
REsp n. 1.504.921/RJ, relator Ministro Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, julgado em 16/8/2021, DJe de 24/8/2021.) (g.n.)

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM


PEDIDO DE INDENIZAÇÃO – PUBLICAÇÃO EM REDE
SOCIAL. Empresa autora diz que foi indicada falsamente, em
uma publicação de autoria desconhecida na rede social
"Facebook", como a responsável do passivo da empresa
"Dorana Formaturas", o que lhe causou transtornos – Pugna
pela exclusão da publicação; e, pela condenação das rés ao
pagamento de indenização por danos materiais decorrentes de
bloqueio judicial determinado em demanda diversa com
origem a partir da falsa publicação. Sobreveio respeitável
sentença de improcedência, considerando que a requerente
não especificou as "URLs" que remeteriam ao conteúdo
ofensivo. Insurgência da autora – Apelante alega cerceamento
de defesa por ter solicitado a juntada da original da ata notarial
com o conteúdo ofensivo, sem que fosse analisado o pleito –
Aduz que foram indicadas as "URLs" na ata notarial de páginas
25/26; e, no documento de página 32. Contrarrazões de ambas
as rés pela manutenção do julgado. Despacho anterior
determinando que as partes especificassem as provas que
pretendiam produzir – Apelante que apontou expressamente
não ter interesse na produção de provas – Cerceamento de
defesa que não se vislumbra – Jurisprudência neste sentido.
"URLs" indicadas na ata notarial que não remetem à
publicação do conteúdo ofensivo diretamente, mas, sim, à

14
página da empresa "Dorana Formaturas"; e, à página de
pesquisa da ferramenta "Google Search" – Necessidade de
indicação específica da "URL" do conteúdo tido como
ofensivo, o que não se efetivou no caso concreto – Precedente.
RECURSO DESPROVIDO. (TJSP; Apelação Cível 1065819-
28.2018.8.26.0100; Relator (a): Dario Gayoso; Órgão Julgador:
27ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 34ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 19/04/2023; Data de Registro:
19/04/2023) (g.n.)

Agravo de Instrumento – Obrigação de Fazer – Deferimento de


tutela de urgência, para compelir o réu a remover de seus
mecanismos de buscas todas as informações relativas a
processo criminal envolvendo o demandante – Indicação de
URLs específicas dos conteúdos infringentes pelo autor –
Imprescindibilidade – Exegese do art. 19 da Lei 12.965/2014
Precedentes do C. STJ - Incompatibilidade, ademais, do
alegado direito ao esquecimento com a Constituição da
República – Tese firmada pelo Excelso Pretório em repercussão
geral - Ausência dos pressupostos estabelecidos no art. 300 do
CPC – Decisão reformada - Agravo provido. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2041435-17.2023.8.26.0000; Relator (a): A.C.Mathias
Coltro; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Privado; Foro
Central Cível - 42ª Vara Cível; Data do Julgamento: 20/04/2023;
Data de Registro: 20/04/2023) (g.n.)

Para que não pairem dúvidas de que qualquer conteúdo na


Internet é vinculado a um identificador único, qual seja, a URL, vale colacionar, a título
de exemplo, a URL relacionada à pesquisa da marca “Verisure”, realizada pela patrona
da ré, qual seja, https://www.google.com.br/search?
q=verisure&sxsrf=APwXEdf4dxsS-25KTSTHZaxbsLz-_3fVkQ
%3A1684879984828&source=hp&ei=cDptZMDhL-
zE5OUP9pigoAQ&iflsig=AOEireoAAAAAZG1IgMW3jfneW2XinzJQ_8DaaEst5fGs&v
ed=0ahUKEwjA2e2Hu4z_AhVsIrkGHXYMCEQQ4dUDCAk&uact=5&oq=verisure&gs
_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAMyBwgjEIoFECcyCwgAEIAEELEDEIMBMgsIABCABBCxAxC
DATILCAAQgAQQsQMQgwEyBQgAEIAEMgUIABCABDILCAAQgAQQsQMQgwE
yBwgAEIoFEEMyBQgAEIAEMgcIABCKBRBDOgQIIxAnOgsILhCDARCxAxCKBToO
CC4QgAQQsQMQgwEQ1AI6DgguEIMBENQCELEDEIAEOg0ILhCKBRDHARCvAR
BDOg0IABCKBRCxAxCDARBDOgsILhCABBDHARDRAzoLCC4QgAQQsQMQgwE6
CAgAEIAEELEDOgsILhCABBDHARCvAVAAWL8JYPkKaABwAHgAgAHxAYgBnQ
uSAQUwLjUuM5gBAKABAQ&sclient=gws-wiz5, na qual não é identificado
qualquer anúncio patrocinado, nem da ré, nem de terceiros.

5
Acesso em 120/6/2023.

15
Por tais motivos, ré impugna o teor da ata notarial, para fins e
efeitos pretendidos pelas autoras, qual seja, comprovar suposto uso de sua marca em
anúncios patrocinados da GOOGLE pela ré SOUZA LIMA, devendo ser
completamente desconsiderada por V. Excelência, uma vez que não indica a URL
específica de onde foi retirado o suposto conteúdo, ferindo assim o artigo 19, da Lei
nº 12.965/14, com fulcro no artigo 436, incisos I e IV, do Código de Processo Civil.

VI – MÉRITO

Ainda que confiante de que as preliminares arguidas serão


suficientes para extinguir o processo sem apreciação de seu mérito, em respeito ao
princípio da eventualidade, também no mérito melhor sorte não assiste as autoras.

VI.I – BREVES EXPLICAÇÕES SOBRE O SERVIÇO DE BUSCA, PERFILAMENTO


E RESPONSABILIDADE DA GOOGLE.

Inicialmente se faz necessário tecer breves explanações sobre a


plataforma Google Ads e seu funcionamento.

O GOOGLE ADS é uma ferramenta que propicia buscas


eficientes e elucidativas ao usuário, melhorando a acuidade dos resultados
apresentados a cada busca. A plataforma permite que anunciantes veiculem seus
anúncios como resultados de pesquisas, a partir das palavras-chave buscadas pelo
usuário. Trata-se, basicamente, de propaganda contextualizada.

Em seu site, a GOOGLE dispõe que os anúncios podem ser


exibidos na rede “no momento exato em que uma pessoa estiver pesquisando produtos
e serviços como os seus6”.

A posição dos anúncios depende de sua classificação 7, calculada


com base em vários fatores como, por exemplo, (i) o valor do lance, (ii) o Índice de
Qualidade do anúncio8, (iii) a Classificação Mínima9, (iv) o contexto da pesquisa
(localização, dispositivo, horário, termos de pesquisa, outros anúncios e resultados

6
Encontrado em: https://ads.google.com/intl/pt-BR_br/getstarted/?subid=br-pt-ha-awa-bk-c-scru!
o3~EAIaIQobChMI-5396ty9_wIV80h_AB0DqAjVEAAYASAAEgIto_D_BwE~140965879609~aud-
780873439152:kwd-94527731~17334788550~606549641718&gad=1&gclid=EAIaIQobChMI-
5396ty9_wIV80h_AB0DqAjVEAAYASAAEgIto_D_BwE&gclsrc=aw.ds. Acesso 12/06/2023.
7
Encontrado em: Classificação do anúncio - Ajuda do Google Ads. Acesso 12/06/203.
8
Encontrado em: Sobre o Índice de qualidade - Ajuda do Google Ads. Acesso 12/06/2023
9
Encontrado em: Classificação mínima do anúncio: definição - Ajuda do Google Ads. Acesso 12/06/2023.

16
de pesquisa na página, além de outros sinais e atributos dos usuários) e (v) o impacto
esperado das extensões e de outros formatos de anúncios.

Portanto, a posição dos anúncios não é medida apenas e tão


somente pelo valor do lance. Não se trata, pura e simplesmente, de um leilão, como
quer fazer parecer as autoras.

Os critérios de acionamento de unúncios utilizados pela


plataforma consistem na palavra-chave na correspondencia escolhida, levando-se em
conta o público-alvo.

Nesse liame, na explicação sobre a pesquisa “correspondência


ampla”, a GOOGLE informa que poderá exibir o anúncio em “pesquisas relacionadas
ao significado da palavra-chave, o que inclui buscas que não contêm os termos dela”
(g.n.), conforme trecho em destaque adiante, extraído do próprio portal do Google
Ads10 (fls. 228/232):

10
Encontrado em https://support.google.com/google-ads/answer/2407779?hl=pt-BR e
https://support.google.com/google-ads/answer/11586965?hl=pt-BR&ref_topic=24936&sjid=9015868281493423729-
SA. Acesso 12/06/2023.

17
Ainda sobre o tema e mencionando as próprias informações
disponibilizadas pela GOOGLE, indicando que a correspondência ampla é
abrangente11:

11
Encontrado em https://support.google.com/google-ads/answer/7478529?hl=pt-BR&ref_topic=3122868 –
Acesso12/06/2023.

18
Nesse passo, dessume-se que, de acordo com o modelo de
negócio do Google Ads, é possível que os anúncios possam ser exibidos em
decorrência do modus operandi da correspondência ampla, por se tratar de expressão
relacionada ao tema “alarme”, “preço” e “monitoramento”, de sorte que o
funcionamento da ferramenta da Google assim acontece mesmo que o anunciante
indique uma “marca” como palavra-chave, isto é, referido procedimento serve apenas
de critério para direcionar o usuário aos sites que comercializam produtos do mesmo
gênero, ou seja, a indicação de uma “marca” como palavra-chave serve tão somente de
gatilho para disparar os anúncios dos fornecedores e apresentar uma lista de
resultados ao usuário, o que não se confunde com “venda” ou “oferta de serviço”,
muito menos pode a ré SOUZA LIMA, nesse contexto, ser condenada por delito de
concorrência desleal ou fraude publicitária.

Feitas tais considerações, cumpre frisar que a ata notarial reflete


pesquisa realizada no site da empresa GOOGLE (www.google.com) com o termo
“Verisure”, na modalidade de correspondência exata, oportunidade em que essa
busca não relaciona nenhum anúncio patrocinado da ré SOUZA LIMA, mas sim,
aparentemente, de terceiros que não tem qualquer vínculo com essa última ou com
este processo, conforme reproduzido abaixo (fls. 148/157):

19
Posto isso, evidencia-se que a ata notarial NÃO traz nenhuma
prova de que a ré utilizou a marca e palavra específica “Verisure” em qualquer
campanha de links patrocinados, razão pela qual a ré novamente impugna veemente a
afirmação de uso indevido da marca Verisure em seus anúncios patrocinados,
especialmente na modalidade de correspondência exata.

Veja-se que na Ata Notarial de fls. 148/157, os resultados da


busca aludem às palavras “PREÇO”, “MONITORAMENTO” e “ALARMES”, daí a
razão de aparecerem os anúncios da ré como “Solicite uma cotação”, “Grupo Souza
Lima – Monitoramento 24h”. E mesmo quando aparecem, referidos anúncios surgem
abaixo do site das autoras.

Ademais, são reproduzidos na ata notarial resultados de


pesquisas com o uso de termos como “Verisure quanto custa”, “Verisure é bom”e
“Verisure valor”, os quais também não têm qualquer vínculo com anúncio
patrocinado feito pela ré SOUZA LIMA, conforme se infere da própria Ata Notarial.

Por outro lado, os anúncios patrocinados da ré aparecem,


aparentemente, no contexto de correspondência ampla acima explanado, seja por
conterem palavras-chave relacionadas ao seu segmento, quais sejam,
“monitoramento” e “alarmes”, ou ainda, por estarem no contexto de pesquisa
realizada por usuário cujo perfil se insere no seu segmento de atuação (público
alvo), como pode ter ocorrido na pesquisa com o termo “preço”.

Além da correspondência ampla, existe um outro formato de


veiculação de anúncios no Google Ads, pelo qual não é o termo pesquisado que faz
aparecer o anúncio, mas sim o usuário classificado como “público alvo”. Nesse ponto,
é o sistema da GOOGLE que faz a seleção de público alvo de interesse, com base em
perfil criado por sua metodologia proprietária, para o qual serão exibidos os anúncios
patrocinados, sendo desnecessário que o consumidor busque a palavra específica ( in
casu a marca das autoras), visto que é o próprio sistema da GOOGLE que apresenta
20
os anúncios do mesmo ramo de interesse do consumidor, sem qualquer ingerência
da ré.

Para que um usuário veja um anúncio, ele precisa enquadrar-se


em um determinado perfil que o público alvo de campanha esteja sinalizando
interesse.

Na sequência de pesquisas apontadas na Ata Notarial, o


usuário inicia buscando por “Verisure”, na sequência “Verisure quanto custa”,
“Verisure Preço”, “Verisure é bom”, seguindo para “Verisure Monitoramento” e demais
combinações.

A ré SOUZA LIMA não aparece na busca inicial por


“Verisure”, mas a partir das buscas seguintes, pois o usuário mostra-se à plataforma,
como interessado em contratar o serviço de “Monitoramento”. O Google Ads passa,
então, a mostrar anúncios de empresas que oferecem serviços semelhantes nas cerca de
6 posições disponíveis para anunciantes por página (3 no topo, 3 no rodapé em média).
Para isso, a GOOGLE leva em conta a palavra-chave que está acompanhada do nome
“Verisure”.

Por oportuno, cumpre destacar alguns dos pontos que podem


levar o usuário a receber o anúncio da ré12: (i) Cookies: Arquivos que registram o
comportamento do usuário e são utilizados pelo Google para identificar se esse usuário
corresponde ao público alvo buscado; (ii) Perfil Demográfico: O Grupo Souza Lima
indica para o Google o perfil do público desejado, como por exemplo: homens de 25-35
anos de São Paulo, com maior renda, entre outros; (iii) Horário: Definição do melhor
horário para que o anúncio seja exibido. Por exemplo, programamos as exibições para
Segunda a Sexta das 10:00 às 15:00; fora dessa faixa não haverá exibições.

Os dados usados para gerar segmentos de público-alvo (por


exemplo, histórico de visitas à página e pesquisas anteriores no Google) melhoram os
lances e a segmentação das campanhas de público-alvo.

Ademais, em seu site, a GOOGLE descreve “como funciona a


segmentação por público-alvo”, calhando destacar os seguintes trechos13:

12
Encontrado em: https://support.google.com/google-ads/answer/1722122?hl=pt-BR. Acesso 12/06/2023.
13
Encontrado em: https://support.google.com/google-ads/answer/2497941?hl=pt-BR&sjid=6873335083069808856-
SA. Acesso 12/06/2023.

21
Evidencia-se que diversos parâmetros são utilizados pela
GOOGLE para realizar o PERFILAMENTO dos usuários, o que influencia diretamente
nos resultados das pesquisas realizadas no Google Search e, consequentemente, no
Google Ads.

Sendo assim, as pesquisas feitas e elencadas na Ata Notarial


(fls. 148/157), apenas aparentam tratar de uma pesquisa de correspondência ampla e

22
seleção de público alvo feita pela plataforma do Google, sem qualquer ingerência da
ré que, frise—se, em total boa-fé, negativou, perante a GOOGLE, a marca
VERISURE, antes mesmo que esta ação fosse ajuizada.

Nesse sentido, entendimento jurisprudencial pátrio acerca do


perfilamente e dinamica da publicidade de anuncios da Google, reconhecendo a
inexistência de concorrência desleal nesses casos específicos:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM


INDENIZATÓRIA - Direito Marcário - Autora - Alegação - Ré -
Vinculação em anúncios publicitários divulgados pelo buscador
"Google Search" do elemento nominativo da marca da qual
detém a propriedade ("mundo do enxoval") - Propósito -
Desvio de potenciais consumidores para o sítio eletrônico da
ré - Concorrência desleal - Não reconhecimento - Ré -
Contratação da plataforma "Google Ads" para divulgação de
anúncios (links patrocinados) - Resultados de pesquisa da
"Google" - Utilização de palavras-chave com correspondência
ampla - Modalidade - Possibilidade de aparecimento do
anúncio da ré com a simples pesquisa pelo termo "enxoval" -
Inexistência de vinculação da marca da autora como palavra-
chave - Dinâmica da publicidade dos anúncios - Critérios
adotados pela plataforma "Google Ads" - Autora - Utilização
de elementos nominativos extremamente comuns para a
designação da marca ("mundo" e "enxoval") - Inviabilização da
proteção marcária aos vocábulos de forma dissociada dos
demais dados que constituem a marca mista (grafia, cores,
logotipo etc) - Precedentes - Pedido - Improcedência -
Sentença - Manutenção. Apelo da autora não
provido. (TJSP; Apelação Cível 1108412-38.2019.8.26.0100;
Relator (a): Tavares de Almeida; Órgão Julgador: 1ª Câmara
Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível - 2ª
VARA EMPRESARIAL E CONFLITOS DE ARBITRAGEM;
Data do Julgamento: 10/02/2021; Data de Registro:
11/02/2021) (g.n.)

APELAÇÃO CÍVEL – MATÉRIA ALHEIA À ÁREA DE


ESPECIALIZAÇÃO – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO
FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS – Alegação de uso indevido de marca industrial nas
plataformas digitais, em especial buscador google – Sentença
de parcial procedência – Insurgência de ambas as partes.
Apelação da autora: ausência de demonstração do uso
parasitário ou desleal de marca alheia – Anúncios exibidos na
plataforma Google Adwords em decorrência do modus
operandi denominado “correspondência ampla”, por se tratar
de expressão relacionada ao assunto “roupas de bebês” – Não

23
identificação de contratação específica dos termos “grão de
gente” pela empresa ré que, como anunciante do Google, não
escolheu ou adquiriu tais palavras chaves ou outras
assemelhadas – Possibilidade, ademais, de propaganda ou
publicidade comparativa no livre comércio, e marca da autora
com característica evocativa ou sugestiva – Ausência de
comprovação de ato ilícito lesivo praticado pela ré e de
prejuízos efetivos – Ônus que incumbia à autora (CPC, art.
373, inc. I) – Não configurado dever de indenizar. Apelação da
ré: tutela final de obrigação de fazer e não fazer para que a ré
tome medidas perante o Google para evitar que em novas
buscas pelo termo “grão de gente” aconteça o resultado
constatado, optando pela palavra chave de “correspondência
negativa” ou pela utilização de “correspondência exata”,
doravante, em suas campanhas publicitárias. [...] (TJPR - 20ª
Câmara Cível - 0019177-23.2019.8.16.0014 - Londrina - Rel.:
DESEMBARGADOR ROSALDO ELIAS PACAGNAN - J.
14.03.2023) (g.n.)

Em suma, visando a resolução do imbróglio, mister entender a


dinâmica dos anúncios patrocinados do Google Ads, restando possível concluir que a
plataforma utiliza critérios para o acionamento de anúncios, entre eles a
correspondência ampla e segmentação por público-alvo. Assim, considerando a
completa ausência de prova de uso do termo “Verisure” em correspondência exata
no Google Ads e considerando que a ré demonstrou já ter negativado a palavra-
chave “Verisure”, evidencia-se que os anúncios da ré indicamos pelas autoras são
exibidos em decorrência do modus operandi denominado correspondência ampla e,
em razão ainda do próprio perfilamento, realizados pela GOOGLE, provedora do
Google Ads, demonstrando a ausência de uso parasitário ou desleal de marca alheia
pela SOUZA LIMA.

VI.II – INEXISTÊNCIA DE CONCORRÊNCIA DESLEAL.


LIVRE INICIATIVA E LIVRE CONCORRÊNCIA DOS RÉUS

A atividade econômica é tutelada pela Constituição Federal,


pois dentre os pilares que sustentam a ordem econômica está a livre iniciativa, a qual
foi prevista como fundamento da República Federativa do Brasil, valendo colacionar o
artigo 1º, inciso IV, cumulado com o artigo 170, da Carta Magna, verbis:

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: (...)
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (...)”

24
“Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios: (...)
IV – livre concorrência; (...)”

Note-se que a Constituição destaca a importância da livre


iniciativa, devendo ser observado o princípio da livre concorrência. Embora a livre
iniciativa e a livre concorrência sejam complementares, em sua essência, contêm
conceitos distintos. Com relação à livre iniciativa e à livre concorrência, oportunas as
palavras de Miguel Reale apud Eros Roberto Grau:

“Ora, livre iniciativa e livre concorrência são conceitos


complementares, mas essencialmente distintos. A primeira não é
senão a projeção da liberdade individual no plano da produção,
circulação e distribuição das riquezas, assegurando não apenas
a livre escolha das profissões e das atividades econômicas, mas
também a autônoma eleição dos processos ou meios julgados
adequados à consecução dos fins visados. Liberdade de fins e
de meios informa o princípio da livre iniciativa, conferindo-lhe
um valor primordial, com resulta da interpretação conjugada dos
citados arts. 1º e 170. Já o conceito de livre concorrência tem
caráter instrumental, significando o ‘princípio econômico’
segundo o qual a fixação dos preços das mercadorias e serviços
não deve resultar de atos da autoridade, mas sim do livre jogo
das forças em disputa de clientela na economia de mercados.”14
(g.n.)

Em complemento, vale trazer as considerações de André Ramos


Tavares acerca da livre concorrência:

“Sendo livre a concorrência, as leis do mercado determinarão as


circunstâncias em que haverá ou não o êxito do empreendedor
(livre iniciativa). A livre concorrência não tolera o monopólio ou
qualquer forma de distorção do mercado livre, com o
afastamento artificial da competição entre os empreendedores.
Pressupõe, pelo contrário, inúmeros competidores, em situação
de igualdade.”15 (g.n.)

Consequentemente, a atuação da ré está devidamente amparada


pelo ordenamento jurídico vigente.

14
GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. 11ª ed., rev. e atual. Editora Malheiros.
Página 182.
15
TAVARES, AndRé Ramos. A Intervenção do Estado no Domínio Econômico in CARDOSO, José Eduardo
Martins, QUEIROZ, João Eduardo Lopes e SANTOS, Márcia Walquíria Batista dos (Organizadores). São Paulo:
Malheiros, 2.006. Páginas 192 e 193.

25
Por outro lado, sob qualquer ângulo, não há que se falar em
concorrência desleal por parte da ré SOUZA LIMA.

Ora, como amplamente demonstrado, não há provas e


indicativos que a ré esteja se utilizando da marca e termo “Verisure” em seus
anúncios patrocinados do Google Ads, por dois principais motivos: (i) a ré
comprovou a negativação do termo “Verisure” antes mesmo da propositura desta
demanda; (ii) a ata notarial não demonstra a utilização da correspondência exata do
termo “Verisure” nos anúncios da ré, pelo contrário, os anúncios só aparecem
quando atrelados à palavras comuns do segmento das empresas envolvidas, como
“monitoramento” e “alarmes”, indicando que isso ocorre em razão do modus
operandi da GOOGLE, que realiza o perfilamento do público-alvo.

A marca serve para deixar o consumidor ciente de quem é o


produtor de determinado produto ou prestador de um determinado serviço. Essa ideia
faz parte da sua própria definição, instituída pelo artigo 123, inciso I, da Lei Federal nº
9.279/98. 5416.

Assim, é requisito para a violação marcária (i) que o


consumidor tenha dúvida sobre a origem do produto ou serviço, ou (ii) que o violador
utilize o sinal com função marcária, ou seja, associando diretamente o seu produto à
marca de terceiro, fazendo crer que têm a mesma origem e/ou qualidade, justamente
para induzir o consumidor em erro.

No caso em apreço, nenhuma dessas hipóteses ocorre. O


Google Ads está sendo corretamente utilizado, não havendo uso da marca das autoras
concorrentes no corpo do anúncio pelo anunciante. Ora, se a marca não é reproduzida
no próprio anúncio, a marca não é reproduzida pela anunciante ré.

Não se pode dizer, assim, que uma palavra-chave, ainda que


goze de proteção marcária, é utilizada no Google Ads com fins marcários, pois ela não
se presta a distinguir produtos e serviços. Trata-se de critério interno, não
exteriorizado, ou seja, a marca não é atrelada aos anúncios contratados pelas partes.

Dessarte, oportuno destacar ainda que a livre concorrência é


direito constitucional e sua defesa é princípio geral da ordem econômica (art. 170, IV,
da Constituição Federal17), materializada na repressão à dominação dos mercados e de
16
“Art. 123. Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I - marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou
afim, de origem diversa;”
17
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...]

26
quaisquer movimentos tendentes à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário
dos lucros (art. 173, § 4º, da Constituição Federal18).

Nesse liame, os provedores de busca, como a GOOGLE, são


sites que rastreiam, indexam e armazenam informações, que são disponibilizadas
online, organizando-as e classificando-as para que, uma vez consultadas, possam ser
fornecidas como sugestões (ou resultados) que atendam aos critérios de busca
informados pelos próprios usuários.

É lícito o serviço de publicidade pago, oferecido por provedores


de busca, que, por meio da alteração do referenciamento de um domínio, com base na
utilização de certas palavras-chave, coloca em destaque e precedência o conteúdo
pretendido pelo anunciante "pagador" (links patrocinados).

Portanto, inexiste qualquer conduta anticoncorrencial por parte


da ré, nos termos do artigo 195, da Lei 9279/96, especialmente porque não há qualquer
emprego de meio fraudulento para desvio de clientela de outrem (artigo 195, inciso
III, da Lei 9.279/96) e tampouco a ré divulga, explora ou utiliza, sem autorização, de
conhecimentos, informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria,
comércio ou prestação de serviços (artigo 195, inciso XI, da Lei 9.279/96).

Assim, inexistindo qualquer conduta desabonadora pela ré


SOUZA LIMA, exigir-se que esta se abstenha de utilizar qualquer variável do termo
“Verisure” é uma determinação genérica e deveras ampla, uma vez que variáveis como
“monitoramento”, “alarmes” e outras palavras, como “segurança”, denotam termos
utilizados no ramo de atuação das partes, que atuam no mesmo segmento e possuem o
mesmo público-alvo e consumidores finais.

Referida determinação ainda frustra a concorrência livre e leal e


cria uma reserva de mercado sem forma nem figura de juízo, conduta vedada pela
Constituição Federal, que adotou a livre iniciativa e a livre concorrência como
fundamentos e princípios da ordem econômica e da República Federativa do Brasil
(arts. 170 e 1º, IV), como já dito.

Dessarte, a utilização de palavras-chave em correspondência


ampla e perfilamento de público-alvo, por si só, não constituem concorrência desleal,

IV - livre concorrência;”
18
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo
Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo,
conforme definidos em lei. [...]
§ 4º A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da
concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.”

27
uma vez que, conforme demonstrado, revelou-se que a ré agiu dentro das regras da
livre iniciativa e de mercado.

Repita-se que o fato de no sistema de busca [Google]


aparecerem vários outros produtos similares ou congêneres lado a lado aos das autoras
permite ao interessado optar por um ou por outro, tudo dentro das normas de livre
mercado.

A liberdade de iniciativa envolve o livre exercício de qualquer


atividade econômica, a liberdade de trabalho, ofício ou profissão além da liberdade de
contrato, justamente o que a ré fez e faz ao utilizar os serviços do Google Ads de forma
devida e lícita.

Corroborando com o exposto, entendimento jurisprudencial


exarado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo sobre caso análogo ao presente, ipsis
litteris:

AÇÃO COMINATÓRIA – PEDIDO DE ABSTENÇÃO DO USO


DE MARCA ("PILLOWMED"), CUMULADO COM
INDENIZAÇÃO – ALEGAÇÃO DE USO INDEVIDO DE
MARCA E PRÁTICA DE CONCORRÊNCIA DESLEAL –
INOCORRÊNCIA – "LINK PATROCINADO" –
FERRAMENTA "GOOGLE ADS" QUE SE DINTINGUE DA
"GOOGLE SHOPPING" – PUBLICIDADE COMPARATIVA - A
autora BIOMEDYCUR requer que as rés GOOGLE BRASIL e a
B2W COMPANHIA DIGITAL (titular dos sites americanas,
shoptime e submarino) se abstenham de usar ou vincular a
palavra "PILLOWMED" nos anúncios veiculados por meio da
ferramenta GOOGLE ADWORDS (atual GOOGLE ADS) –
Pretensão que não pode ser acolhida – Pela ferramenta
"GOOGLE ADS", quando o consumidor digita a palavra
"PILLOW" ("travesseiro" em inglês) ou "MED", o sistema de
busca relaciona anúncios patrocinados (pagos) por empresas
que indicaram como palavra-chave tais expressões. Tal
circunstância não significa que a marca "PILLOWMED" esteja
sendo violada, tendo em vista que a palavra (ou parte dela) é
usada apenas para acionar o mecanismo de busca. De todo
modo, mesmo que o anunciante indique uma "marca
nominativa" como palavra-chave, tal procedimento serve
apenas de critério para direcionar o usuário aos sites que
comercializam produtos do mesmo gênero. Tal
direcionamento às páginas ("links") dos anunciantes, por si
só, não constitui concorrência desleal ou manobra fraudulenta
de captação de clientela. [...]. De outro, atendem-se os
princípios da livre iniciativa e da livre concorrência,

28
permitindo que os fornecedores ofereçam no mercado seus
produtos ou serviços a preços e qualidades competitivos. [...].
(TJSP; Apelação Cível 1033575-12.2019.8.26.0100; Relator
(a): Sérgio Shimura; Órgão Julgador: 2ª Câmara Reservada de
Direito Empresarial; Foro Central Cível - 2ª VARA
EMPRESARIAL E CONFLITOS DE ARBITRAGEM; Data do
Julgamento: 01/12/2020; Data de Registro: 10/03/2021) (g.n.)

Em conclusão, tem-se que, uma vez demonstrada a ausência de


conduta ilícita por parte da ré, cai por terra a fonte obrigacional perseguida pelas
autoras, devendo a ação ser julgada IMPROCEDENTE.

VI.III – AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO E DOS REQUISITOS PARA


CARACTERIZAÇÃO DE DANO. NECESSÁRIA IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO
INDENIZATÓRIO POR DANOS MORAIS E MATERIAS.

Conforme narrado nos tópicos anteriores, não há de se falar em


fixação de indenização por Danos Morais e Materiais ocasionados pela “suposta”
utilização indevida do termo “Verisure”, uma vez que a ré SOUZA LIMA alvejou, pura
e simplesmente, assegurar os direitos dela, garantidos pelo ordenamento jurídico
vigente, como exposto retro, incidindo in casu, novamente, a excludente prevista no
artigo 188, inciso I, do Código Civil.

Não havendo ato ilícito por parte da ré, não há que se falar em
indenizar, sendo que a ré em nenhum momento fez uso do termo “Verisure” de forma
isolada. Ademais, cumpre reiterar que a ré procedeu com a inclusão do termo
“Verisure” no rol das palavras-chaves negativas.

Nesse sentido, as condutas perpetradas pelas autoras vão de


encontro com os preceitos oriundos da boa-fé e com o venire contra factum proprium,
expressão que veda o comportamento contraditório.

Por todo o exposto, é cristalino que não há como


responsabilizar a ré pelos fatos narrados pelas autoras, visto que estão ausentes os tão
necessários requisitos ensejadores do dever de indenizar: (i) lesão de direito; (ii) nexo
causal; e (iii) dano19.
19
“O ato ilícito (CC, arts. 186 e 187) é o praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direito subjetivo
individual. Causa dano a outrem, criando o dever de reparar tal prejuízo (CC, art. 927). [...] São elementos
indispensáveis à configuração do ato ilícito: 1º) fato lesivo voluntário, ou imputável, causado pelo agente por ação ou
omissão voluntária (dolo), negligência, imprudência ou imperícia (culpa), que viole um direito subjetivo individual. É
necessário, portanto, que o infrator tenha conhecimento da ilicitude de seu ato, agindo com dolo, se intencionalmente
procura prejudicar outrem, ou culpa, se, consciente dos prejuízos que advêm de seu ato, assume o risco de provocar
dano, sem qualquer deliberação de violar um dever; 2º) ocorrência de um dano, pois, para que haja pagamento da
indenização pleiteada, além da prova ou do dolo do agente, é necessário comprovar a ocorrência de um dano
patrimonial ou moral (RT, 436:97, 433:88, 368:181, 458:20, 434:101; BAASP, 1.865:109; RTJ, 39:38, 41:844; RF
221:200), fundados não na índole dos direitos subjetivos afetados, mas nos efeitos da lesão jurídica e no interesse,

29
É corolário da indenização que esta deve ser precedida de dano
efetivo o que, in casu, não restou comprovado. Ademais, é evidente que não há
qualquer violação de direitos de personalidade das autoras.

Para a caracterização do dano moral, há de se destacar a


necessidade de se demonstrar o dano e mensurá-lo, conforme a ofensa que se pretende
ver indenizada. A indenização, se devida, existe para repor aquilo que se subtraiu do
patrimônio lesado. O dano, portanto, deve ser apreciado pelo seu resultado.

Em outras palavras, não há indício de que os fatos narrados na


inicial tivessem tido alguma repercussão moral ou material relevante e passível de
responsabilização da ré SOUZA LIMA.

Sucede que, no caso vertente, as autoras alegam a ocorrência de


prejuízos, sem identificá-los e mensurá-los, nem trazer sequer ao menos parâmetros
que indiquem o valor da marca, para que eventualmente pudesse quantificar o dano
material e lucros cessantes. As autoras almejam indenização por danos genéricos e
hipotéticos, apresentando meras conjecturas, o que não encontra respaldo no
ordenamento jurídico.

No que tange ao dano moral, vale invocar as abalizadas


palavras deJosé Osório de Azevedo Júnior:

"O arbítrio do juiz não é ilimitado. Tem que ser razoável. E deve
ser demonstrado, indicando as circunstâncias do caso e
valendo-se dos critérios adiante indicados.
Convém lembrar que não é qualquer dano moral que é
indenizável. Os aborrecimentos, percalços, pequenas ofensas,
não geram o dever de indenizar. O nobre instituto não tem por
objetivo amparar as suscetibilidades exageradas e prestigiar os
chatos."20 (g.n.)

No mesmo sentido, corrobora Sérgio Cavalieri Filho:

que é pressuposto daqueles direitos. [...] O dano é a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento,
sofre uma pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou não. Não haverá
responsabilidade civil sem a existência de um dano a um bem jurídico, sendo necessária a prova real e concreta dessa
lesão.[...]; 3º) nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente, visto que a responsabilidade civil não
poderá existir sem a relação de causalidade entre o dano e a conduta ilícita do agente (RT, 224:155, 466:68, 477:247,
463:244).[...].” (DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, volume 3: Teoria das Obrigações
Contratuais e Extracontratuais. 21ª edição. São Paulo: Saraiva: 2005. Págs. 840/841).
20
AZEVEDO JÚNIOR, José Osório de. “Dano Moral e sua Avaliação”. In Revista dos Advogados nº 49, dez/96,
AASP, pág. 11.

30
“Só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame,
sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade,
interfira intensamente no comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em
seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimentos, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do
dano moral (...). Se assim não se entender, acabaremos por
banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos”21 (g.n.)

O mero dissabor e aborrecimento não podem ser alçados ao


patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos
fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias. Para se apurar o dano moral,
deve-se ter como base o homem médio, e não aquelas pessoas em que a sensibilidade
aflora à epiderme.

Não houve ofensa à moral das autoras ou qualquer outro fato


que pudesse se fundar a indenização pleiteada, visto que não provou e sequer
demonstrou quaisquer abatimento psíquico, perturbação emocional, abalo de crédito,
prostração, enfim, qualquer elemento capaz de gerar indenização.

Por fim, em relação ao dano material, repita-se que como NÃO


RESTOU COMPROVADO o uso indevido de marca das autoras pela ré, não se aplica
os precedentes colacionados, razão pela qual é necessária a efetiva comprovação do
prejuizo específico sofrido. Ou seja, o dano não se opera “in re ipsa” como aduzem
as autoras.

Não obstante, as autoras não fizeram prova de que qualquer


conduta da ré tenha trazido prejuízo (dano material efetivo) ou tenha provocado queda
exponencial em seu faturamento (lucros cessantes), como afirmaram na petição inicial e
emenda (fls. 182/209).

Isto porque inexistem provas documentais robustas nesse


sentido. Não foi juntado um único documento contábil oficial e/ou comprovantes e
parâmetros do valor da marca e eventuais prejuízos sofridos com os anúncios.

Em suma, como a ré não fez uso indevido da marca “Verisure”,


não há indícios mínimos de concorrência desleal e, portanto, ausente o ato ilícito,

21
CAVALIERI FILHO, SÉRGIO. Programa de Responsabilidade Civil. Ed. Malheiros, 2004, pág. 98.

31
pressuposto do dever de indenizar. Além disso, conforme exposto anteriormente, a
incidência de excludente de ilicitude também afasta o pleito indenizatório.

Nesse sentido, jurisprudência do Tribunal de Justiça paulista:

"AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE C.C.


REPARAÇÃO DE DANOS – Os autores pleiteiam a reforma da
r. sentença para que o réu-apelado seja condenado a indenizar o
dano moral pela realização de concorrência desleal –
Inocorrência - Não há prova nos autos da narrativa do autor
Artur quanto à concorrência desleal ou a pretensão do réu de
atuar como proprietário exclusivo em relação ao
estabelecimento de Quintana/SP - Não comprovada a
concorrência desleal, não há que se falar em indenização
pelos danos morais dela advindos - Recurso improvido."
(TJSP; Apelação Cível 1000490-69.2016.8.26.0058; Relator (a): J.
B. Franco de Godoi; Órgão Julgador: 1ª Câmara Reservada de
Direito Empresarial; Foro de Agudos - 1ª Vara Judicial; Data do
Julgamento: 01/12/2021; Data de Registro: 06/12/2021) (g.n.)

Assim, considerando que as autoras não lograram êxito em


comprovar que tenha a parte ré assumido uma conduta eivada de ilicitude, o pleito de
ressarcimento de danos materiais, de igual modo, não ostenta um mínimo de respaldo.

Resta, portanto, claramente comprovada a ausência de qualquer


dano suportado pelas autoras, não havendo que se falar em reparação moral ou
material, sob pena de banalização desses institutos e, ainda, inequívoco
enriquecimento sem causa das autoras, o que é vedado pelo artigo 884, do Código
Civil.

VI.IV – IMPOSSIBILIDADE TÉCNICA DE CUMPRIR A OBRIGAÇÃO NO QUE


TANGE AOS MECANISMOS UTILIZADOS PELA GOOGLE ADS

Conforme exposto a r. Decisão de fls. 233/240 determinou que a


ré SOUZA LIMA se abstenha de utilizar o termo "Verisure" e qualquer de suas variáveis,
mesmo em composição de palavras-chave, para fins de aquisição de links ou anúncios
patrocinados com a Google, por meio da ferramenta de publicidade denominada Google Ads,
acessória ao Google Search”.

Inicialmente frisa-se que a ré negativou a palavra-chave


“Verisure” no início de fevereiro do corrente ano, meses antes da propositura desta
ação. Assim, a determinação legal retro foi cumprida antes mesmo de ser exarada. A ré

32
prontamente atendeu aos pedidos das autoras quando da ocasião de Notificação
Extrajudicial, tendo o imbróglio já resolvido e, consequentemente, a exordial já havia
perdido o objeto.

Não obstante, a ré diligenciou em suas campanhas de


anúncios e reafirma que CUMPRIU A DETERMINAÇÃO LEGAL de fls. 233/240,
negativando a palavra-chave “Verisure”, indicando ao Google Ads que não pode
exibir os anúncios da SOUZA LIMA quando essa palavra for buscada.

Contudo, conforme retro explanado, existem mecanismos e o


próprio modus operandi da GOOGLE que estão fora do alcance e legitimidade da ré
SOUZA LIMA, além de que a determinação de restringir, sem qualquer especificação,
as variáveis e composições de palavras-chave resulta em nítida reserva de mercado
pela VERISURE, o que é vedado pela Carta Magna.

Assim, considerando a técnica de perfilamento e seleção de


público-alvo realizada pela GOOGLE, detentora da plataforma Google Ads, a
obrigação da ré se abster de utilizar qualquer variável da Verisure se torna de
impossível cumprimento na medida que, se por variável entender palavras do mesmo
segmento, como “monitoramento”, “alarmes”, ou até mesmo a pesquisa por “preços”,
o anúncio vai continuar sendo veiculado se a pesquisa incluir os termos da palavra-
chave e também outras palavras.

Além disso, a Google ainda exibe o anúncio para o que ele


entende como Variações dos Termos de Pesquisa, conforme tabela com exemplo de
funcionamento, extraído do site da Google22:

22
Encontrado em: https://support.google.com/google-ads/answer/2472708?hl=pt-BR&sjid=12382034896175943015-
SA. Acesso 12/06/2023.

33
Conforme exemplo fornecido pela GOOGLE, mesmo o usuário
buscando por “Flor Cor de Rosa”, quem está oferecendo a palavras Flores Roxas
poderá aparecer nas buscas. O mesmo é válido para qualquer outro segmento, sendo
a única maneira de evitar isso, a negativação de toda e qualquer possível palavra que
o usuário iria buscar, algo inviável de se fazer, pois assim se restringiria totalmente a
utilização de campanhas publicitárias pela ré, ferindo os princípios constitucionais
da ordem econômica.

Nesse liame a ré requer seja reconhecido o cumprimento


integral da liminar de fls. 233/240 na extensão que lhe compete, restando certificado
que a abstenção de toda e qualquer variável e composição de palavras-chave é
determinação genérica e de impossível cumprimento em razão do modus operandi do
próprio Google Ads, que realiza o perfilamento e seleção de público-alvo das partes,
que são empresas do mesmo ramo e segmento, bem como porquanto a restrição geral
fere os princípios da ordem econômica e livre iniciativa, ocasionando verdadeira
reserva de mercado em favor das autoras, o que não se pode coadunar.

34
VI.V – NECESSÁRIA RECONSIDERAÇÃO E REVOGAÇÃO DA TUTELA DE
URGÊNCIA. RECONHECIMENTO DA MÁ-FÉ DAS AUTORAS

Possivelmente, este r. Juízo deferiu a tutela de urgência por


desconhecer todos os reflexos e provas do direito da ré SOUZA LIMA, conforme
trazido nos Embargos de Declaração (fls. 264/267) e na presente Contestação.

Resumidamente, Vossa Excelência, em sede de cognição


sumária, levou em consideração o fato de que as autoras trouxeram para os autos a
informação de que a ré SOUZA LIMA estaria usando indevidamente o termo e a marca
“Verisure”, com o objetivo de desvio de clientela e concorrendo deslealmente, conforma
narrado na exordial (fls. 01/28) e na emenda da inicial (fls. 182/209).

Diferentemente do alegado na petição inicial das autoras, é


inverídica a afirmação de que o termo “Verisure” foi utilizado pela ré, uma vez que na
contranotifcação enviada antes da propositura da presente ação, em 06/02/2023, a ré
Souza Lima já havia informado as autoras que “adicionou a palavra “Verisure” na
lista de palavras-chaves negativas” para fins das pesquisas no Google, conforme
documentação apresentada às fls. 226/227.

Assim, as autoras se valem de procedimento de má-fé para


convencer V. Exa. de que a utilização do termo “Verisure” seria conduta ilícita por
parte da ré, mesmo após ter realizado com a inclusão do termo “Verisure” na lista de
palavras-chaves negativas.

É evidente que as autoras conheciam e conhecem essa


informação, sendo que receberam por e-mail a contranotificação no dia 06/02/2023,
assim, a conduta das autoras revelam o seu comportamento como evidente má-fé, já
que omitiu fatos relevantes, os quais culminaram, inclusive, no deferimento da tutela
de urgência (fls. 233/240).

Reestabelecida a verdade dos fatos, necessária a revogação da


tutela, visto que não estão presentes os requisitos legais.

Igualmente, denota-se que as autoras não agem com boa-fé e


chegam a afrontar quase todos os deveres das partes, consoante artigo 5º c.c 77, ambos
do Código de Processo Civil, verbis:

“Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo


deve comportar-se de acordo com a boa-fé.

35
“Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres
das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de
qualquer forma participem do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando
cientes de que são destituídas de fundamento;”

Além disso, as autoras também litigam de má-fé, consoante


artigo 80 do Código de Processo Civil, atraindo a incidência da multa prevista no
artigo 81 do mesmo diploma, verbis:

“Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: (...)


II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; (...)
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato
do processo; (...)”

“Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o


litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um
por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa,
a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a
arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas
que efetuou. (...)
§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não
seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo
procedimento comum, nos próprios autos.”

Assim, por alterar a verdade dos fatos tentando confundir V.


Exa. acerca da realidade do ocorrido, pelo fundamento retro e pelas autoras agirem de
modo temerário considerando que têm consciência do injusto, bem como por
descumprir os deveres das partes no processo, a ré pugna pela reconsideração da r.
decisão de fls.233/240 a fim de que seja revogada a liminar concedida pela ausência
dos requisitos autorizadores, bem como que seja aplicada a multa por litigância de
má-fé às autoras, nos termos do artigo 81, do CPC, o qual também deverá indenizar a
ré SOUZA LIMA, pelos prejuízos que lhe foram causados, em montante a ser
arbitrado em liquidação de sentença, para abranger, inclusive, os honorários
advocatícios e todas as despesas despendidas pela ré, nos termos do §3º, do aludido
dispositivo, o que se requer desde já.

36
VII – PEDIDOS

Diante do exposto, impugnando-se integralmente todas as


alegações do autor, a ré REQUER:

1) Sejam acolhidas as matérias preliminares arguidas, para


o fim de:

a) Ser acolhida a alegação de ausência do interesse de agir


das autoras, em decorrência da perda do objeto da ação, a fim
de que a presente demanda seja extinta sem resolução do
mérito, nos termos do artigo 487, VI, do Código de Processo
Civil;

b) Seja reconhecida a ausência de prova do fato constitutivo


do direito alegado pela demandante, nos termos do art. 373, I,
do Código de Processo Civil, carecendo as autoras de
pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do
processo, devendo ser extinto o processo sem resolução de
mérito, nos moldes do art. 485, IV, do mesmo Diploma Legal;

c) Seja reconhecida a ilegitimidade passiva da ré SOUZA


LIMA e a legitimidade da provedora GOOGLE INTERNET
BRASIL LTDA., a qual requer seja incluída no polo passiva
da demanda, nos termos do artigo 339, do Código de Processo
Civil;

d) Seja reconhecido o litisconsórcio necessário, uma vez que


a eficácia das decisões depende não somente da ré SOUZA
LIMA, mas também da GOOGLE, provedora da aplicação
Google Ads, segundo o artigo 114, do Código de Processo
Civil;

e) Seja reconhecido que a petição inicial não foi instruída


com os documentos indispensáveis à propositura da ação,
consoante determina o artigo 320 do Código de Processo Civil;

f) Seja reconhecido que a ré SOUZA LIMA não utiliza o


nome e marca das autoras de forma indevida em link

37
patrocinado, exercendo regularmente seu direito, incidindo
sobre o caso excludente de ilicitude, com fulcro no artigo 188,
inciso I, do Código Civil.

Na remota hipótese de V. Exa. não compartilhar do mesmo


entendimento quanto as preliminares, em respeito ao princípio da eventualidade, a ré
requer:

2) A IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS das autoras, e via


de consequência:

a) Seja desconsiderado o teor da ata notarial de fls. 148/157,


para fins e efeitos pretendidos pelas autoras, qual seja,
comprovar suposto uso de sua marca em anúncios
patrocinados da GOOGLE pela ré SOUZA LIMA, uma vez que
não indica a URL específica de onde foram retirados os
supostos conteúdos, ferindo assim o artigo 19, da Lei nº
12.965/14, com fulcro no artigo 436, incisos I e IV, do Código
de Processo Civil;

b) Seja declarada a inexistência de qualquer conduta


anticoncorrencial por parte da ré SOUZA LIMA, nos termos
do artigo 195, da Lei 9279/96;

c) Sejam indeferidos os pedidos de indenização por danos


morais e materiais pleiteados pelas autoras, uma vez que
inexistindo concorrência desleal o dano não se opera in re
ipsa, não havendo as autoras comprovado qualquer tipo de
dano, seja moral ou material, nem tampouco comprovado o
nexo causal entre a suposta conduta da ré e os danos
experimentados;

d) Seja reconhecido o cumprimento integral da liminar de


fls. 233/240 pela ré SOUZA LIMA na extensão que lhe
compete, restando certificado que a abstenção de toda e
qualquer variável e composição de palavras-chave é
determinação genérica e de impossível cumprimento em
razão do modus operandi do próprio Google Ads, que realiza o
perfilamento e seleção de público-alvo das partes, que são
empresas do mesmo ramo e segmento, bem como porquanto a

38
restrição geral fere os princípios da ordem econômica e livre
iniciativa, ocasionando verdadeira reserva de mercado em
favor das autoras;

e) Seja reconsiderada a r. decisão de fls. 233/240, a fim de


que seja revogada a liminar concedida pela ausência dos
requisitos autorizadores, bem como que seja aplicada a multa
por litigância de má-fé às autoras, nos termos do artigo 81, do
CPC, o qual também deverá indenizar a ré SOUZA LIMA,
pelos prejuízos que lhe foram causados, em montante a ser
arbitrado em liquidação de sentença, para abranger, inclusive,
os honorários advocatícios e todas as despesas despendidas
pela ré, nos termos do §3º, do aludido dispositivo.

3) Na remota hipótese de eventual condenação da ré, apenas


em respeito ao princípio da eventualidade, que a indenização por danos morais e
materiais eventualmente arbitradas seja QUANTIFICADA EM GRAUS MÍNIMOS,
tendo em vista a ausência de culpa da ré, conforme demonstrado nesta defesa, em
observância aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, a teor do artigo 8º, do
Código de Processo Civil.

Provará o alegado por todos os meios de provas em direito


admitidos, juntada de documentos, oitiva de testemunhas e o que mais se fizer
necessário.

Por fim, requer que todas as intimações doravante sejam


realizadas em nome de RUBIA MARIA FERRÃO DE ARAUJO, inscrita na OAB/SP
sob o n.º 246.537 e BRUNO FIORAVANTE, inscrito na OAB/SP sob o nº 297.085, sob
pena de nulidade, ambos com escritório na Av. Paulista, n.º 1.159, conjunto 1.415, 14º
andar, CEP 01310-200, São Paulo/SP, podendo as publicações e intimações serem
remetidas para a conta de e-mail intimacoes@pffa.com.br.

São Paulo, 12 de junho de 2022.

Rubia Maria Ferrão de Araújo Bruno Fioravante


OAB/SP n.º 246.537 OAB/SP n.º 297.085

Marco Antonio Ferrão Halissa Carvalho Giti


OAB/SP nº 239.906 OAB/SP 395.931

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