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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – UFES

PROCESSO CIVIL III – EXERCÍCIO 10 (Recursos Excepcionais)

PROF. FLÁVIO CHEIM JORGE

Você advoga para a empresa LUIZ MÁRMORE e ajuizou a ação descrita no ANEXO 1 contra
a empresa PEDRA MINERAÇÃO.

Nesta semana, recebeu por e-mail intimação para apresentar contrarrazões ao Recurso Especial
interposto pela empresa PEDRA MINERAÇÃO (ANEXO 3) contra o acórdão proferido no
julgamento da apelação, que foi favorável ao seu cliente (ANEXO 2).

Após analisar os documentos do processo (ANEXOS), considerando os requisitos de


admissibilidade do Recurso Especial e sem adentrar no mérito recursal, analise quais causas a
seguir poderão impedir o seguimento do recurso:

a) O recorrente pretende que o STJ faça a interpretação do contrato celebrado entre as partes
(Súmula 5 do STJ)?
b) O recorrente pretende o reexame dos fatos constantes no V. Acórdão recorrido (Súmula
07 STJ)?
c) O Acórdão foi mantido por outros Fundamentos que Não foram Enfrentados pelo
Recorrente – Súmula 283, STJ?
d) O acórdão paradigma contempla situação fático-jurídica distinta?
e) Há prequestionamento dos dispositivos tidos por violados?
• ANEXO 1: DEMANDA

1. JOÃO MINERAÇÃO, na década de 90, havia celebrado contratos de direitos minerários com
algumas empresas, dentre elas, LUIZ MÁRMORE. Os sócios daquela empresa resolveram vender
os direitos de exploração sobre uma determinada mina, que foram adquiridos por PEDRA
MINERAÇÃO. Na aquisição, havia a ressalva de que a adquirente (PEDRA), deveria respeitar
os contratos pretéritos firmados pela vendedora (JOÃO), a exemplo da relação jurídica existente
com LUIZ MÁRMORE.

2. Contudo, a adquirente PEDRA MINERAÇÃO descumpriu sua obrigação contratual, (i)


sonegando informações necessárias à regularização da LUIZ MÁRMORE perante órgãos
administrativos (conduta omissa) e (ii) fazendo denúncias caluniosas (conduta comissiva) em
desfavor também da LUIZ MÁRMORE, acarretando-lhe prejuízos materiais e morais, inclusive
com a paralisação de suas atividades.

3. Nesse contexto, LUIZ MÁRMORE ajuizou a ação reparatória c/c declaratória c/c obrigação de
fazer em desfavor da adquirente PEDRA MINERAÇÃO. Alega que as condutas da ré tem lhe
trazido diversos prejuízos, motivo pelo qual formulou os seguintes pedidos: (a) reconhecimento
de que a PEDRA assuma as obrigações do contrato firmado entre LUIZ MÁRMORE e a JOÃO
MINERAÇÃO; (b) tutela de obrigação de fazer para suprir a ausência de anuência da PEDRA
MINERAÇÃO para a regularização das atividades da LUIZ MÁRMORE, uma vez que vinha
sonegando informações; (c) condenação da PEDRA à reparação civil pelos danos materiais
(emergentes e lucros cessantes) e morais experimentados com a paralisação das suas atividades
minerárias de extração de granito na localidade da jazida em questão.

4. O magistrado singular proferiu sentença definitiva julgando totalmente procedentes os pedidos


formulados na inicial, cuja parte dispositiva restou lançada nestes termos:

“[...] DECLARAR a validade do contrato firmado entre a requerente LUIZ


MÁRMORE e a empresa JOÃO MINERAÇÃO LTDA, obrigando a requerida
PEDRA MINERAÇÃO ao seu fiel cumprimento, ao passo que CONDENO a
mesma a anuir com a averbação do referido contrato junto ao DNPM, sob as
penas do artigo 466-A, do CPC/73, bem como a indenizar a requerente pelos
danos patrimoniais comprovados nos autos, a serem apurados em liquidação de
sentença, devidamente atualizados monetariamente pelo índice oficial adotado
pelo Poder Judiciário Estadual e acrescidos de juros de mora a contar da citação,
bem como pelos danos morais sofridos que arbitro em R$ 100.000,00 (cem mil
reais). Condeno, ainda, a requerida ao pagamento das custas processuais e em
honorários advocatícios que arbitro em 15% (quinze por cento) sobre o valor total
da condenação, atento às diretrizes do artigo 20, §3º e suas alíneas do CPC” (fls.
499/500).

5. PEDRA MINERAÇÃO apelou da sentença. Eis em resumo os fundamentos exarados no


acórdão pelo Desembargador que proferiu o voto vencedor:
• ANEXO 2: FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO

6. Pois bem. De saída, consigno que adiro integralmente às razões de decidir do eminente
relator, consubstanciadas nos judiciosos fundamentos alicerçados quanto ao
reconhecimento de que:

i)“[...] o contrato pelo qual a apelada LUIZ MÁRMORE arrendou da JOÃO


Mineração Ltda., o direito de explorar parte de uma frente de extração de granito
na área descrita no processo DNPM 890.010/87, pelo prazo de 20 (vinte) anos,
foi firmado em 30/08/1995 (fls. 23-24), as disposições nele estabelecidas deverão
ser respeitadas pela apelante PEDRA MINERAÇÃO por força do disposto nas
escrituras públicas supramencionadas.”; ii)“[...] a recusa da apelante PEDRA
MINERAÇÃO em anuir com a averbação junto ao DNPM do contrato
apresentado pela apelada na inicial, medida prevista no artigo 55, §1º, do Decreto-
lei nº 227/67 – Código de Mineração, implica em descumprimento das obrigações
contratuais por ela assumidas quando da aquisição dos direitos minerários.”
iii)“[...] não há qualquer vedação legal com relação ao objeto do contrato
apresentado pela apelada LUIZ MÁRMORE, consistente no arrendamento de
parte do direito de uma frente de extração de granito.” iv)“No que pertine à
incidência do instituto da supressio, que caracteriza-se pela supressão de
determinado direito em razão da abstenção do seu titular em exercitá-lo no tempo
e modo adequados, o mesmo não possui aplicabilidade neste caso.” v)“[...] que a
ação deliberada da apelante PEDRA MINERAÇÃO de imputar à apelada a
prática de lavra clandestina mesmo ciente da legalidade da extração de granito
por ela realizada, configura ato ilícito a teor do disposto no art. 186, do Código
Civil.”

7. A propósito, com relação a este último item que reporta à configuração do ato ilícito
decorrente da conduta antijurídica da apelante PEDRA MINERAÇÃO, sobreleva sublinhar
a percuciência do raciocínio traçado pelo eminente relator para reputá-lo presente. Confira-
se:

“No que tange à pretensão de ressarcimento por danos materiais e morais, a


mesma baseia-se nos supostos prejuízos decorrentes da denúncia de lavra
clandestina formalizada pela apelante PEDRA MINERAÇÃO contra a
apelada LUIZ MÁRMORE junto ao DNPM, mesmo estando ciente de que a
exploração da jazida estava amparada por um contrato de arrendamento que
expressamente comprometeu-se a respeitar quando adquiriu a titularidade dos
direitos nela negociados. Em razão da referida denúncia, o DNPM determinou
a paralisação das atividades exercidas pela apelada LUIZ MÁRMORE,
impedindo-a de continuar a extração do granito, conforme verifica-se pelo
auto de paralisação acostado às fls. 37, datado de 26/04/2001. Após a apuração
dos fatos, a Procuradoria Geral do DNPM emitiu parecer concluindo que a
denúncia de lavra clandestina apresentada pela apelante PEDRA MINERAÇÃO
foi 'insincera e simulada', pois a extração de granito realizada pela apelada estava
amparada por um contrato legalmente celebrado. O Diretor Geral do DNPM
acatou o referido parecer e determinou a suspensão da paralisação em
26/09/2001, decisão esta que foi publicada no Diário Oficial da União em
01/10/2001, conforme consta do parecer CONJUR/MME Nº 080/2002, acostado
às fls. 43-54. Contra aludida decisão a apelante interpôs recurso administrativo
junto ao Ministério de Minas e Energia, o qual foi desprovido por decisão do Sr.
Ministro de Estado de Minas e Energia em 10/06/2002, que também reconheceu
a legalidade do contrato apresentado pela apelada (fls. 43-55). Conclui-se,
portanto, que a ação deliberada da apelante PEDRA MINERAÇÃO de imputar à
apelada a prática de lavra clandestina mesmo ciente da legalidade da extração de
granito por ela realizada, configura ato ilícito a teor do disposto no art. 186, do
Código Civil”.

8. Sob esse enfoque, indene de dúvidas que a conduta comissiva dolosa da apelante PEDRA
MINERAÇÃO em formular uma denúncia caluniosa de lavra clandestina em desfavor da
apelada LUIZ MINERAÇÃO, omitindo dos órgãos competentes que esta última detinha
um contrato que lhe dava esteio à exploração de parte dos direitos minerários do processo
do DNPM nº 890.010/87, se revestiu claramente de antijuridicidade a ponto de configurar
o ato ilícito, na forma do art. 186, do CC, sobretudo porque ficou incontroverso nos autos
que tal conduta repercutiu na paralisação das atividades da apelada LUIZ MINERAÇÃO
(fl. 37).

9. Ademais disso, vale ainda acrescentar que a recalcitrância da apelante PEDRA


MINERAÇÃO em respeitar as bases do contrato pré-existente firmado entre a apelada
LUIZ MINERAÇÃO e a JOÃO MINERAÇÃO, notadamente com a recusa em assentir
acerca deste último instrumento contratual perante os órgãos administrativos fiscalizadores
da atividade minerária (DNPM, IEMA, etc.), conforme as exigências legais que regem a
espécie, também caracteriza conduta omissiva apta a ensejar a violação do direito da
apelada LUIZ MINERAÇÃO, suscetível, portanto, de acarretar prejuízos de ordem
material e extrapatrimonial (CC, art. 186), vez que impede e obstaculiza o desempenho da
atividade empresarial da apelada ante a impossibilidade de obtenção de licenças,
autorizações e outros documentos administrativos que por ventura exijam a anuência do
detentor da integralidade dos direitos minerários da jazida em questão.

10. A par dessas considerações, reputo que a latente demonstração da presença do ato ilícito
que acarretou à esfera jurídica da apelada LUIZ MINERAÇÃO a paralisação das suas
atividades de extração e comercialização do granito oriundo da parte que fazia jus no
processo DNPM nº 890.010/87, primeiramente por denúncia caluniosa de lavra clandestina
e depois pela recalcitrância na anuência do contrato da apelada, obviamente, é um evento
fático com alto grau de certeza quanto à produção de nefastos prejuízos de ordem
econômica e imaterial para a referida sociedade empresária LUIZ MINERAÇÃO.

11. Daí porque entendo, rogando a máxima vênia aos que dissentem no campo das ideias,
que relativamente à reparação pretendida pela apelada LUIZ MINERAÇÃO quanto aos
danos materiais, ao menos no que toca à espécie dos lucros cessantes, deve ser mantida a
sentença recorrida, tendo em vista que há elementos suficientes no caderno processual a
demonstrar a sua ocorrência em virtude da paralisação das atividades da sociedade
empresária LUIZ MINERAÇÃO na frente de extração de granito na diminuta parte da
jazida em comento, valendo ressaltar, ademais, que as regras da experiência comum
apontam que dessa impactante e drástica medida administrativa de paralisação certamente
sucedem efeitos deletérios às atividades empresariais.
(...)

12. Sob esse enfoque, levando em consideração que a sociedade empresária é uma atividade
economicamente organizada que busca realizar lucros e é destinada à produção e circulação
de bens e serviços, me parece lógico que uma medida administrativa que abruptamente
paralisa o exercício dessa atividade acarreta a sucessão de vários prejuízos de ordem
patrimonial e extrapatrimonial à esfera jurídica da sociedade empresária, uma vez que não
haverá extração do mineral, o seu beneficiamento, a sua venda, o recolhimento de impostos
o cumprimento de contratos, e, o que é pior, a aferição de lucro pela sociedade empresária
, o que justifica a sua constituição, valendo sopesar ainda que a pecha da clandestinidade
perante os órgãos públicos também é um fator que macula a credibilidade do bom nome da
pessoa jurídica que sofre a malsinada interdição.
(...)

13. Nesse contexto, tendo por base a dicção do art. 402, do Código Civil o qual dispõe que
“as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o
que razoavelmente deixou de lucrar”, reputo acerca dessa última parte, a qual sabidamente
se refere aos lucros cessantes, a existência de substratos fáticos probatórios hábeis a
demonstrar a certeza da existência do dano quanto a esse pormenor.

14. Em primeiro lugar porque reputo que, no particular, a presunção não pode ser
totalmente desconsiderada, quer seja porque o direito também a eleva ao status de elemento
de prova, ainda que indireta, (CC, IV, 212), quer seja porque no exercício de um processo
lógico, do ato ilícito que gera a paralisação de uma atividade de exploração de granito,
certamente, presume-se a ocorrência de dano patrimonial como consequência da
interrupção dos lucros que até então eram auferidos com o desenrolar normal da atividade
empresarial (lucrativa por essência).

15. Aliás, convém ponderar que o c. STJ já reconhece a ocorrência de lucros cessantes
diante da utilização do elemento da presunção, transferindo o ônus da prova de sua
inexistência para o devedor, nos seguintes termos:

“AGRAVO REGIMENTAL - COMPRA E VENDA. IMÓVEL. ATRASO NA


ENTREGA - LUCROS CESSANTES - PRESUNÇÃO - CABIMENTO -
DECISÃO AGRAVADA MANTIDA - IMPROVIMENTO. 1.- A jurisprudência
desta Casa é pacífica no sentido de que, descumprido o prazo para entrega do
imóvel objeto do compromisso de compra e venda, é cabível a condenação por
lucros cessantes. Nesse caso, há presunção de prejuízo do promitente-comprador,
cabendo ao vendedor, para se eximir do dever de indenizar, fazer prova de que a
mora contratual não lhe é imputável. Precedentes. [...]” (AgRg no REsp
1202506/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em
07/02/2012, DJe 24/02/2012)
(...)

16. Em segundo lugar, exercendo um raciocínio umbilicalmente atrelado ao anterior,


entendo que o dano patrimonial (lucros cessantes) suportado pela sociedade apelada LUIZ
MINERAÇÃO ainda pode ser tido por comprovado pelas regras da experiência comum
(CPC, art. 335). Isso porque, é consabido que da paralisação de uma atividade empresarial
decorre o nefasto e imediato prejuízo da interrupção do recebimento de lucros, sendo que,
na hipótese vertente, era razoável que no desenvolvimento normal dos acontecimentos a
sociedade empresária LUIZ MÁRMORE continuaria percebendo dividendos decorrentes
da extração de granito que exercia na localidade adstrita à sua parte da jazida do processo
DNPM nº 890.010/87, caso não tivesse ocorrido o ato ilícito. Nesse sentido, colaciono os
seguintes arestos do colendo STJ:

“[...] O indeferimento da prova pericial não impede a configuração dos lucros


cessantes, que poderão ter seu montante apurado em liquidação de sentença,
sobretudo porque, em certos casos, referido dano pode ser aferido até mesmo da
experiência comum. Precedente. [...]” (REsp 898.184/RJ, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 24/06/2008, DJe
04/08/2008)

17. Em terceiro lugar, verifico a existência de alguns elementos de prova que são servíveis
a robustecer um juízo de certeza quanto à existência do fato de que a sociedade empresária
LUIZ MÁRMORE realmente experimentou prejuízo patrimonial com a paralisação de suas
atividades de extração de granito na jazida em comento, especificamente com relação ao
que a apelada razoavelmente deixou de lucrar (lucros cessantes).

18. A prova testemunhal levada a termo com a oitiva do Sr. Antonio Neto (fls. 400/401)
corrobora essa conclusão já que demonstrou que a apelada sofreu danos em virtude do ato
ilícito da apelante, conforme a seguinte passagem:
(...)

19. E mais. Observo dos recibos colacionados às fls. 115/124 que a apelada LUIZ
MÁRMORE estava auferindo dividendos com o exercício da extração de granitos, já que
tais documentos atestam que os valores ali estampados são parte do cumprimento do
contrato de arrendamento parcial da jazida de granito do processo DNPM nº 890.010/87,
cujo objeto ajustou oito dólares americanos por metro cúbico extraído. Assim, observo que
se a apelada estava pagando a arrendante da jazida (JOÃO) pelo material extraído é porque,
obviamente, estava auferindo lucro com a atividade, motivo pelo qual a paralisação desse
processo interrompeu não só a percepção de lucro pela LUIZ MÁRMORE como o
cumprimento desse contrato.

20. Diante dessas considerações, estou convicta que as características da causa externadas
no caderno processual revelam dados objetivos e suficientes para reputar presente o
indispensável elemento da responsabilidade civil que é o dano, na espécie de lucros
cessantes que realmente foram suportados pela apelada com a paralisação das suas
atividades de extração e posterior comercialização do granito.
Por fim, ratifica minha convicção pela ocorrência dos lucros cessantes na hipótese vertente,
a circunstância de que a paralisação de uma atividade da qual se aufere lucro é inclusive
tema de julgado do c. STJ e também exemplo doutrinário da obra de SÉRGIO CAVALIERI
FILHO. A propósito, confira-se:

“CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COLISÃO DE


VEÍCULOS. PARALISAÇÃO DE AUTOMÓVEL DE AUTO-ESCOLA.
LUCROS CESSANTES. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. PREJUÍZO
EXISTENTE. APURAÇÃO EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. I. Não
padece de nulidade acórdão que enfrenta as questões suscitadas, apenas que de
modo adverso à pretensão da parte. II. Configurados o dano e os lucros cessantes
pela paralisação de veículo de auto-escola necessário ao desenvolvimento das
atividades da autora, cabível a sua condenação, cujo montante, todavia, deve ser
apurado em liquidação de sentença, considerando-se, notadamente, o volume
médio de aulas ministradas pela empresa e o valor das mesmas, porém com a
dedução obrigatória das despesas operacionais, não consignadas na
documentação unilateralmente apresentada, que se rejeita. III. Recurso especial
conhecido em parte e parcialmente provido. (REsp 489.195/RJ, Rel. Ministro
ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 23/10/2007,
DJ 19/11/2007).
(...)

21. Todavia, no que tange à pretensão da apelada LUIZ MÁRMORE pelo recebimento dos
danos materiais - na espécie danos emergentes – que, em tese, a sociedade recorrida
“efetivamente perdeu”, comungo com o mesmo entendimento do eminente relator Des.
Fabio Clem pela rejeição desta rubrica indenizatória.

22. E assim penso porque, ao contrário das razões que expus pelo entendimento da
configuração do dano na espécie dos lucros cessantes, com respeito aos danos emergentes,
por representarem uma pronta diminuição no patrimônio do lesado em virtude do ato ilícito,
deveriam, de plano, ser comprovados, o que, entretanto, não restou demonstrado nos autos.
(...)
23. De igual modo, também acompanho a proposição do eminente relator Fabio Junior de
redução pela metade do valor indenizatório fixado pelo magistrado sentenciante a título de
danos morais, a fim de que seja arbitrado no importe de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais),
tendo em vista que esse montante considera a gravidade da conduta dolosa da apelante, o
expressivo potencial econômico das sociedades empresárias envolvidas, não se mostra
destoante, atendendo, portanto, o caráter educativo, sancionatório e da justa compensação
que tal natureza indenizatória deve estar revestida. Logo, corretamente balizada pelo
eminente relator e em consonância com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
máxime porque não se revela excessivo muito menos irrisório.

24. Com base nas fundamentações alinhavadas, rogando vênia ao eminente relator, dou
parcial provimento ao apelo interposto por PEDRA MINERAÇÃO tão somente para
extirpar a sua condenação quanto à rubrica atinente aos danos materiais – na espécie danos
emergentes – e reduzir o valor da sua condenação a título de danos morais para o patamar
proposto pelo relator, isto é, R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), mantida incólume a
sentença recorrida nos demais aspectos, vez que, a despeito da nova feição sucumbencial,
a apelante deve suportar a integralidade pelos pagamentos dos custos financeiros do
processo, já que a apelada decaiu em parte mínima dos seus pedidos (um de cinco), motivo
pelo qual deve ser aplicada a regra inserta no parágrafo único do art. 21, do CPC.

É como voto.
• ANEXO 3: RECURSO ESPECIAL

Por conta do acórdão supra, PEDRA MINERAÇÃO interpôs Recurso Especial com base nos
seguintes fundamentos:

(i) Violação aos arts. 55 e 22, I do Decreto-Lei n. 227/67: alega-se que, conforme a
documentação do processo, somente era possível anuir com a averbação junto ao
DNPM, se a LUIZ MÁRMORE tivesse de fato realizado a prévia averbação do
contrato de cessão no DNPM ou da transferência de “autorização de pesquisa”, o que
não ocorreu.

(ii) Violação ao art. 402, CC: (i) a Recorrente não teria responsabilidade pela paralisação
das atividades da Recorrida; e (ii) os lucros cessantes teriam sido fixados com base
na presunção decorrente da paralisação da empresa, mas que também teve como
causa o descumprimento da legislação ambiental.

(iii) Acórdão impugnado adotou interpretação divergente sobre o tema o único tema em
debate (presunção de lucros cessantes) daquele manifestado pelo Tribunal de Justiça
de Goiás.

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