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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
5ª CÂMARA CÍVEL
Pneubrás Comércio de Pneus Ltda, promoveu ação anulatória de débito c/c nulidade de
processo administrativo c/c pedido de antecipação de tutela, alegando: a) sagrou-se vencedora
de alguns itens de licitação modalidade pregão presencial n 100/2018, deflagrado pelo
município; b) por razões alheias, ocorreram atrasos na entrega de produtos, devidamente
justificados; c) houve a instauração de processo administrativo e imposição de multa no valor
de R$ 46.182,69 (quarenta e seis mil, cento e oitenta e dois reais e sessenta e nove centavos);
d) não se pode conceber que o município Requerido, após haver recebido todos os produtos
solicitados ainda assim aplique à requerente a multa no montante de 10%(dez por cento) sob o
valor integral do contrato. No mínimo trata-se de enriquecimento ilícito por parte do município
requerido que mesmo de posso do produto, aplicou à Requerente multa sem observância no
Princípio da Razoabilidade; e) é inapropriado a imposição de multa por descumprimento
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)
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integral do contrato, considerando que houve atraso na entrega, revelando-se punição
desarrazoada; f) houve cerceamento de defesa porque não foi permitido contraditório e ampla
defesa devidamente ao apelante, desrespeitando a Lei de Licitações; g) requereu a
antecipação de tutela e procedência da ação.
Pedido de antecipação de tutela foi indeferido, nos termos da decisão de mov. 64.1.
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risco da sua atividade e aceitou os termos do edital de licitação para contratar com o Município
de Inácio Martins, não impugnando ou questionando as cláusulas contratuais, cabe a esta
honrar com o pactuado, sobretudo, no que diz respeito a multa contratual, pois sua
irresponsabilidade de assumir o fornecimento de pneus no prazo de 05 dias, sem que os tenha
É o relatório.
Houve imposição de multa no valor de R$ 46.182,69 (quarenta e seis mil, cento e oitenta e
dois reais e sessenta e nove centavos), em virtude do descumprimento do prazo contratual
para entrega do material.
Não obstante o esforço argumentativo do recorrente, a sentença descomporta reforma, eis que
adequadamente enfrentou a questão, à luz da realidade dos autos.
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“Ocorre que, por situações alheias a vontade da requerente, ocorrera alguns atrasos
na entrega de produtos
(...)
A sentença bem delineou este ponto, a partir dos depoimentos das testemunhas:
“In casu, as informantes SUELEN (ev. 175.2) e JOSIANE (ev. 175.3), após a
descrição dos prejuízos suportados pela requerente em decorrência do sinistro
decorrente do roubo da carga, aclararam que houve posterior entrega, ainda que com
atraso, dos pneus solicitados. Aqui, deve ser ressaltado que a informante JOSIANE
especificou que as entregas ocorreram durante o trâmite do processo administrativo
já instaurado, porquanto intentou cobranças em desfavor do ente municipal,
solicitando o pagamento das notas fiscais emitidas e assinadas após a entrega das
mercadorias em atraso. Tais afirmações amoldam-se ao depoimento prestado por
EDNA (ev. 175.5), servidora do executivo municipal ora requerido, porquanto, à época
dos fatos, vinculada ao Departamento de Contas e Licitações, pontuou que as
requisições emitidas foram atendidas com atraso. Afirmação esta também amparada
pelo depoimento prestado por FRANCIANE (ev. 175.6), servidora municipal lotada no
mesmo setor que EDNA, que também exarou ciência da entrega das mercadorias,
ainda que com atraso”.
Desta forma, tendo-se por comprovado que a mercadoria foi entregue em sua totalidade, ainda
que depois da notificação, não há que se falar em descumprimento integral do contrato, a
justificar a utilização do valor total do contrato para a aplicação da multa contratual, eis que tal
valor mostra-se desproporcional e desarrazoado, ocasionando enriquecimento sem causa do
contratante.
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Ainda que haja previsão de cláusula contratual da multa penal, certo é que no âmbito do
Direito Público também deve ser aplicada a proibição de excesso que possa acarretar abuso
de direito e enriquecimento sem causa, devendo ser observada a proporcionalidade entre o ato
sancionatório e a gravidade do ilícito.
Ainda, os negócios jurídicos devem ser interpretados em conformidade com a boa-fé objetiva,
razão pela qual o art. 413 do Código Civil impõe ao juiz o dever de reduzir equitativamente o
valor da cláusula penal se a obrigação tiver sido cumprida em parte ou se o valor da
penalidade for excessivo, como ocorre no caso dos autos.
“Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.”
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funcionários por trabalho no feriado de 07/09/2017.c) Sob o prisma da legalidade, a
multa aplicada pela Administração (R$ 160.756,92) tem previsão contratual – 20% do
valor global do Contrato (cláusula 16, “c”) – e foi precedida de Processo
Administrativo, com contraditório e ampla defesa garantidos à Empresa Apelada. d)
Todavia, o Poder Judiciário, quando provocado, pode exercer o controle dos atos
administrativos sob os prismas da proporcionalidade e da razoabilidade. Precedentes
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indevido do contratante. Isto é, as disposições atinentes ao atraso da empresa com
relação aos chamados não atendidos não podem se sobrepor de maneira absoluta
aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade. 2. A aplicação das multas nos
valores arbitrados pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná revela onerosidade
excessiva e viola os postulados da proporcionalidade, razoabilidade e adequação,
razão pela qual admite-se a revisão por esta c. Corte, no intuito de impedir que
Ante o desprovimento do recurso, majoro os honorários advocatícios recursais para 11% (onze
por cento) sobre a diferença entre a multa originalmente imposta, com fundamento na cláusula
“5.6”, e a multa remanejada ao patamar da cláusula “5.5”, a ser apurada por simples cálculo,
devidamente atualizada, tratando-se do benefício econômico auferido, nos termos do artigo 85,
§1º e 11 do CPC.
III - DECISÃO
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)
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Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 5ª Câmara
Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar
CONHECIDO E NÃO-PROVIDO o recurso do Município de Inácio Martins/PR.
11 de dezembro de 2023
Relator