Você está na página 1de 8

PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.

1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484


13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
5ª CÂMARA CÍVEL

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDG7 FCB95 8PXYE ZZAFR


Autos nº. 0001352-80.2020.8.16.0095

Apelação Cível n° 0001352-80.2020.8.16.0095 Ap


1ª Vara da Fazenda Pública de Irati
Apelante: Município de Inácio Martins/PR
Apelado: PNEUBRAS COMERCIO DE PNEUS LTDA
Relator: Desembargador Luiz Mateus de Lima

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


DÉBITO. ATRASO NO CUMPRIMENTO PARCIAL DO CONTRATO.
SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA QUE LIMITOU IMPOSIÇÃO
DE MULTA E RECONHECEU INADIMPLMENTO PARCIAL,
CONFORME CLÁUSULA CONTRATUAL. APELO DA RÉ. ALEGAÇÃO
DE IMPOSSIBILIDADE DE DIMINUIÇÃO DA MULTA. NÃO
ACOLHIMENTO. DESCUMPRIMENTO DE PEQUENA PARCELA DO
CONTRATO. DESPROPORCIONALIDADE E IRRAZOABILIDADE DA
MULTA. ADIMPLEMENTO DE PARTE EXPRESSIVA DO CONTRATO.
APLICAÇÃO DO ART. 413 DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO DE
APELAÇÃO CONHECIDO E DESPROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0001352-80.2020.8.16.0095,


1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Irati, em que é apelante Município de Inácio
Martins e apelado Pneubrás Comércio de Pneus Ltda.

Pneubrás Comércio de Pneus Ltda, promoveu ação anulatória de débito c/c nulidade de
processo administrativo c/c pedido de antecipação de tutela, alegando: a) sagrou-se vencedora
de alguns itens de licitação modalidade pregão presencial n 100/2018, deflagrado pelo
município; b) por razões alheias, ocorreram atrasos na entrega de produtos, devidamente
justificados; c) houve a instauração de processo administrativo e imposição de multa no valor
de R$ 46.182,69 (quarenta e seis mil, cento e oitenta e dois reais e sessenta e nove centavos);
d) não se pode conceber que o município Requerido, após haver recebido todos os produtos
solicitados ainda assim aplique à requerente a multa no montante de 10%(dez por cento) sob o
valor integral do contrato. No mínimo trata-se de enriquecimento ilícito por parte do município
requerido que mesmo de posso do produto, aplicou à Requerente multa sem observância no
Princípio da Razoabilidade; e) é inapropriado a imposição de multa por descumprimento
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
integral do contrato, considerando que houve atraso na entrega, revelando-se punição
desarrazoada; f) houve cerceamento de defesa porque não foi permitido contraditório e ampla
defesa devidamente ao apelante, desrespeitando a Lei de Licitações; g) requereu a
antecipação de tutela e procedência da ação.

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDG7 FCB95 8PXYE ZZAFR


Contestação, mov. 42.

Impugnação à contestação, 47.

Pedido de antecipação de tutela foi indeferido, nos termos da decisão de mov. 64.1.

Sobreveio a seguinte sentença:

Município de Inácio Martins promoveu recurso de apelação, alegando: a) a sentença é extra


petita porque não houve pedido alternativo de declaração de nulidade parcial do processo
administrativo ou substituição da pena do processo administrativo, pois a inicial de mov. 1.1 é
clara ao requerer tão somente a nulidade do processo administrativo; b) houve inexecução
contratual porque a obrigação assumida foi cumprida somente após a instauração do processo
administrativo; c) “o recebimento do produto em atraso não dá o condão de isentar a
inexecução contratual praticada pelo fornecedor (...) na medida em que a autora assumiu o
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
risco da sua atividade e aceitou os termos do edital de licitação para contratar com o Município
de Inácio Martins, não impugnando ou questionando as cláusulas contratuais, cabe a esta
honrar com o pactuado, sobretudo, no que diz respeito a multa contratual, pois sua
irresponsabilidade de assumir o fornecimento de pneus no prazo de 05 dias, sem que os tenha

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDG7 FCB95 8PXYE ZZAFR


em estoque é um ato extremamente prejudicial ao interesse público”.

Contrarrazões, mov. 199.1.

É o relatório.

II – VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO.

Presentes os pressupostos de admissibilidade conheço do recurso de apelação e lhe nego


provimento.

O exame dos autos sagrou-se vencedora em procedimento licitatório, modalidade pregão


presencial n 100/2018, promovido pelo requerido para fornecimento de pneus para
municipalidade.

Houve imposição de multa no valor de R$ 46.182,69 (quarenta e seis mil, cento e oitenta e
dois reais e sessenta e nove centavos), em virtude do descumprimento do prazo contratual
para entrega do material.

A sentença julgou parcialmente procedente o feito, entendendo pela ausência de nulidade do


processo administrativo, substituindo a multa de 10% (dez por cento) do valor do contrato,
imposta pela administração pública para 1% do valor da Ordem de Serviço/Autorização de
Fornecimento não cumprida, por dia de atraso, ao argumento de que a aplicação da
penalização foi equivocada, pois houve descumprimento parcial do contrato, diante da entrega
a destempo do material.

O município de Inácio Martins promoveu recurso de apelação requerendo a reforma da


sentença, posi entende que a entrega do material após a instauração do procedimento
administrativo justifica a imposição de multa integral, ao contrário do entendido pela sentença.

Não obstante o esforço argumentativo do recorrente, a sentença descomporta reforma, eis que
adequadamente enfrentou a questão, à luz da realidade dos autos.

Examinando-se, primeiramente, conste que o atraso na entrega dos produtos é fato


incontroverso, eis que admitido na própria petição inicial, como se vê:
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
“Ocorre que, por situações alheias a vontade da requerente, ocorrera alguns atrasos
na entrega de produtos

(...)

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDG7 FCB95 8PXYE ZZAFR


Pois bem, em que pese ter havido atraso na entrega de tais produtos, fato
incontroverso é que os mesmos foram entregues ao município Requerido. Tanto é
que no próprio Parecer Jurídico do PA consta o relatório de entrega”

A notificação extrajudicial, constante do do mov. 42.4 e depoimentos colhidos ratificam o


descumprimento contratual quanto ao prazo fixado, bem como que as entregas ocorreram
após a notificação remitida.

A sentença bem delineou este ponto, a partir dos depoimentos das testemunhas:

“In casu, as informantes SUELEN (ev. 175.2) e JOSIANE (ev. 175.3), após a
descrição dos prejuízos suportados pela requerente em decorrência do sinistro
decorrente do roubo da carga, aclararam que houve posterior entrega, ainda que com
atraso, dos pneus solicitados. Aqui, deve ser ressaltado que a informante JOSIANE
especificou que as entregas ocorreram durante o trâmite do processo administrativo
já instaurado, porquanto intentou cobranças em desfavor do ente municipal,
solicitando o pagamento das notas fiscais emitidas e assinadas após a entrega das
mercadorias em atraso. Tais afirmações amoldam-se ao depoimento prestado por
EDNA (ev. 175.5), servidora do executivo municipal ora requerido, porquanto, à época
dos fatos, vinculada ao Departamento de Contas e Licitações, pontuou que as
requisições emitidas foram atendidas com atraso. Afirmação esta também amparada
pelo depoimento prestado por FRANCIANE (ev. 175.6), servidora municipal lotada no
mesmo setor que EDNA, que também exarou ciência da entrega das mercadorias,
ainda que com atraso”.

Desta forma, tendo-se por comprovado que a mercadoria foi entregue em sua totalidade, ainda
que depois da notificação, não há que se falar em descumprimento integral do contrato, a
justificar a utilização do valor total do contrato para a aplicação da multa contratual, eis que tal
valor mostra-se desproporcional e desarrazoado, ocasionando enriquecimento sem causa do
contratante.

Isto porque constata-se que o descumprimento contratual da apelada, em razão do atraso de


atendimento do prazo fixado em relação às requisições nº 31170; 30719; 30819; 30014 e
32827. E no que se refere ao respectivo atraso, resta pontuado que estes se deram,
respectivamente por: 06 (seis) dias; 18 (dezoito) dias; 16 (dezesseis) dias; 46 (quarenta e seis)
dias e 34 (trinta e quatro) dias. Ou seja, inadimplemento parcial.
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Ainda que haja previsão de cláusula contratual da multa penal, certo é que no âmbito do
Direito Público também deve ser aplicada a proibição de excesso que possa acarretar abuso
de direito e enriquecimento sem causa, devendo ser observada a proporcionalidade entre o ato
sancionatório e a gravidade do ilícito.

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDG7 FCB95 8PXYE ZZAFR


Nesse sentido, dispõe o art. 3º, §1º, inciso VI da Lei Estadual nº 20.656/2021, que estabelece
normas gerais e procedimentos especiais sobre processos administrativos:

“Art. 3º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, impessoalidade, imparcialidade, publicidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, probidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público, celeridade, boa-fé e eficiência.
§ 1º Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público;”

Ainda, os negócios jurídicos devem ser interpretados em conformidade com a boa-fé objetiva,
razão pela qual o art. 413 do Código Civil impõe ao juiz o dever de reduzir equitativamente o
valor da cláusula penal se a obrigação tiver sido cumprida em parte ou se o valor da
penalidade for excessivo, como ocorre no caso dos autos.

Nesse sentido, confira:

“Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.”

Sobre o tema, confira alguns julgados em casos semelhantes:

“1) DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE


SEGURANÇA E VIGILÂNCIA AO JUDICIÁRIO. NÃO PAGAMENTO, PELA
CONTRATADA, DE ADICIONAL A FUNCIONÁRIOS POR TRABALHO EM FERIADO.
INEXECUÇÃO CONTRATUAL INCONTROVERSA. APLICAÇÃO DE MULTA DE 20%
DO VALOR GLOBAL DO CONTRATO. CRITÉRIO DESPROPORCIONAL.
PERCENTUAL INFLEXÍVEL, QUE NÃO CONSIDERA A GRAVIDADE DA
INFRAÇÃO. OFENSA AO ART. 160 DA LEI ESTADUAL Nº 15.608.2007.
READEQUAÇÃO DA SANÇÃO MANTIDA. a) No caso, discute-se a proporcionalidade
e a razoabilidade de multa contratual imposta à Empresa Apelada por inexecução
parcial do Contrato Administrativo nº 40/2014, cujo objeto era a prestação de serviços
de segurança e vigilância armada/não armada em Fóruns do Poder Judiciário
paranaense. b) A inexecução contratual é incontroversa (e sequer discutida na
origem), considerando o não pagamento de adicional, pela Empresa Apelada, a
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
funcionários por trabalho no feriado de 07/09/2017.c) Sob o prisma da legalidade, a
multa aplicada pela Administração (R$ 160.756,92) tem previsão contratual – 20% do
valor global do Contrato (cláusula 16, “c”) – e foi precedida de Processo
Administrativo, com contraditório e ampla defesa garantidos à Empresa Apelada. d)
Todavia, o Poder Judiciário, quando provocado, pode exercer o controle dos atos
administrativos sob os prismas da proporcionalidade e da razoabilidade. Precedentes

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDG7 FCB95 8PXYE ZZAFR


do STF. e) Nesse sentido dispõe o art. 160 da Lei Estadual nº 15.608/2007, que, ao
fixar normas sobre Licitações, Contratos Administrativos e Convênios no âmbito dos
Poderes do Estado do Paraná, dispõe que deve haver proporcionalidade entre a
sanção e a gravidade da infração, dentre outros critérios. f) Sob esses prismas, infere-
se que a multa (20% do valor global do Contrato) foi prevista independentemente da
natureza ou da gravidade da infração; trata-se de sanção taxativa e inflexível,
aplicada indistintamente às obrigações descumpridas. g) Embora seja legítima a
imposição de penalidade pela inexecução contratual, a Administração desconsiderou
que o inadimplemento da Empresa Apelada foi pontual, pois apenas deixou de arcar
com o adicional devido aos funcionários por trabalho no feriado de 07/09/2017 – valor
que, inclusive, foi integralmente pago antes mesmo da conclusão do Processo
Administrativo Disciplinar. h) Não se pode olvidar que o valor da multa aplicada (R$
160.756,92) corresponde a quase 40 vezes o valor adimplido a título do adicional aos
funcionários (R$ 4.128,51).i) Não é proporcional nem razoável, portanto, que a
Empresa Apelada arque com a mesma penalidade que lhe seria imputada no caso de
descumprimento total do Contrato Administrativo. Entendimento desta Câmara em
casos análogos. j) Assim, considerando a desproporcionalidade e a irrazoabilidade da
multa imposta, o recálculo operado pela sentença foi correto, considerando os termos
do art. 21 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).k) Portanto,
merece mantida a sentença ao declarar a invalidade da Cláusula 16, alínea “c”, do
Contrato, bem como readequar a multa imposta à Empresa Apelada para 4% do valor
mensal máximo do Contrato (R$ 22.532,88) – perfazendo R$ 901,31, em cálculos
meramente estimativos –, acrescido de consectários legais na forma indicada pelo
Juízo de origem. 2) APELO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.” (TJPR - 5ª Câmara
Cível - 0003328-07.2020.8.16.0004 - Curitiba - Rel.: DESEMBARGADOR LEONEL
CUNHA - J. 02.05.2023)

“APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO DESCONSTITUTIVA DE


ATOS ADMINISTRATIVOS COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
LICITAÇÃO. PREGÃO PRESENCIAL. CONTRATO ADMINISTRATIVO DE
FORNECIMENTO/AQUISIÇÃO DE 2.000 MICROCOMPUTADORES, SOB Nº 62
/2010. MULTA ADMINISTRATIVA IMPOSTA PELO TJPR. ATRASO NO
CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO DE GARANTIA. PEDIDO DE REDUÇÃO DO
VALOR DA MULTA APLICADA. ACOLHIMENTO. DESPROPORCIONALIDADE E
IRRAZOABILIDADE VERIFICADAS. RECÁLCULO DA SANÇÃO COM BASE NO
PERCENTUAL DE DESCRUMPRIMENTO DO CONTRATO. READEQUAÇÃO DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS COM BASE NO §3º DO ART. 85 DO CPC. CAUSA
EM QUE A FAZENDA PÚBLICA É PARTE. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DO
CRITÉRIO SUCESSIVO EXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO. UTILIZAÇÃO DESSE
VALOR COMO BASE DE CÁLCULO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.1. Restou comprovado que a empresa
contratada descumpriu as normas pactuadas nos contratos com relação ao atraso na
prestação da garantia, sendo devida a aplicação da penalidade. Contudo, não
obstante a sanção pecuniária possua o objetivo de desestimular o descumprimento
das obrigações contratadas, ela não pode onerar excessivamente o contratado a
ponto de representar a inviabilidade da execução contratual e o locupletamento
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
indevido do contratante. Isto é, as disposições atinentes ao atraso da empresa com
relação aos chamados não atendidos não podem se sobrepor de maneira absoluta
aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade. 2. A aplicação das multas nos
valores arbitrados pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná revela onerosidade
excessiva e viola os postulados da proporcionalidade, razoabilidade e adequação,
razão pela qual admite-se a revisão por esta c. Corte, no intuito de impedir que

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDG7 FCB95 8PXYE ZZAFR


prevaleça sanção administrativa excessiva. Por isso, o valor das penalidades deve
ser recalculado com base nos percentuais de descumprimento dos contratos.
RECURSO 1 PARCIALMENTE PROVIDO.RECURSO 2 NÃO CONHECIDO.
SENTENÇA PARCIALMENTE MODIFICADA EM REEXAME NECESSÁRIO.” (TJPR -
5ª Câmara Cível - 0002787-70.2016.8.16.0179 – Curitiba, Rel.: DESEMBARGADOR
NILSON MIZUTA - J. 29.06.2021)

Assim, considerando que houve execução de significativa de parcela do contrato, não se


justifica a imposição de multa integral em virtude de atraso na entrega dos pneus, correta está
a sentença ao determinar a aplicação da cláusula “5.5” do contrato firmado com a
administração pública municipal (mov.1.2), cuja hipótese de incidência refere-se ao
descumprimento parcial do contrato, especialmente o prazo para entrega das mercadorias,
como se vê:

5.5 Em caso de atraso injustificado no cumprimento do previsto neste Edital, será


aplicada à contratada multa moratória de valor equivalente a 1% do valor da Ordem
de Serviço/Autorização de Fornecimento não cumprida, por dia de atraso, até o limite
de 9,99% do valor total do contrato”.

Portanto, assegurando da inexistência de inexecução da obrigação de entrega das


mercadorias requisitadas, mas, sim atraso no seu repasse, já que todas requisições foram
atendidas, ainda em destempo do prazo previsto no contrato público, a sentença está correta e
deve prevalecer.

Destarte, conheço do recurso de apelação cível e no mérito lhe nego provimento.

Ante o desprovimento do recurso, majoro os honorários advocatícios recursais para 11% (onze
por cento) sobre a diferença entre a multa originalmente imposta, com fundamento na cláusula
“5.6”, e a multa remanejada ao patamar da cláusula “5.5”, a ser apurada por simples cálculo,
devidamente atualizada, tratando-se do benefício econômico auferido, nos termos do artigo 85,
§1º e 11 do CPC.

III - DECISÃO
PROJUDI - Recurso: 0001352-80.2020.8.16.0095 - Ref. mov. 17.1 - Assinado digitalmente por Luiz Mateus de Lima:5484
13/12/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Luiz Mateus de Lima - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 5ª Câmara
Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar
CONHECIDO E NÃO-PROVIDO o recurso do Município de Inácio Martins/PR.

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDG7 FCB95 8PXYE ZZAFR


O julgamento foi presidido pelo Desembargador Leonel Cunha,
sem voto, e dele participaram Desembargador Luiz Mateus De Lima (relator), Desembargador
Ramon De Medeiros Nogueira e Desembargador Rogério Etzel.

11 de dezembro de 2023

Desembargador Luiz Mateus de Lima

Relator

Você também pode gostar