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PROJUDI - Recurso: 0008338-39.2020.8.16.0131 - Ref. mov. 19.

1 - Assinado digitalmente por Marcel Luis Hoffmann:9159


28/11/2021: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Marcel Luis Hoffmann - 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJTDN K4MUV 9M2YX HZT8Y


Autos nº. 0008338-39.2020.8.16.0131

Recurso: 0008338-39.2020.8.16.0131
Classe Processual: Recurso Inominado Cível
Assunto Principal: Compra e Venda
Recorrente(s): GEOMAR GUERRA
Recorrido(s): MERCADO PAGO.COM REPRESENTAÇÕES LTDA

RECURSO INOMINADO. COMÉRCIO ELETRÔNICO. COMPRA PELA


INTERNET. TRANSAÇÃO INTERMEDIADA PELO MERCADO PAGO.
ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA. SENTENÇA DE EXTINÇÃO
SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO ANULADA. CAUSA MADURA.
REQUERENTE QUE NÃO SE DESINCUMBIU DO ÔNUS DE
COMPROVAR O TEMPO DE DEMORA PARA ENTREGA DO
PRODUTO E OS DEFEITOS DA MERCADORIA, MUITO MENOS QUE
DOS FATOS NARRADOS HOUVE EXCEPCIONAL ABALO EM
DIREITOS DE PERSONALIDADE. DANOS MATERIAIS E MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. RECURSO PROVIDO EM PARTE PARA ANULAR
SENTENÇA DE EXTINÇÃO E NO MÉRITO JULGAR IMPROCEDENTES
OS PEDIDOS.

1. Narra a parte autora, em síntese, que adquiriu o aparelho BTV PREMIUM GATAULU BOX
no importe de R$764,10 (setecentos e sessenta e quatro reais e dez centavos) da empresa
EUROFORTE AGROCIENCIAS LTDA e o pagamento dessa compra ocorreu por meio da
plataforma da requerida Mercado Pago. Entretanto, a mercadoria foi entregue após o prazo
estipulado, que seria dia 31 de agosto de 2020, e possuía defeitos, além de ser divergente do
produto anunciado. O reclamante alega que realizou diversas reclamações, que foram tratadas
com descaso. À vista disso, o autor entrou com ação judicial e solicitou a devolução do valor
pago pela mercadoria na forma dobrada e indenização por danos morais (ev. 1.1). O processo
foi extinto sem resolução de mérito diante do entendimento do juiz de origem de que a ré era
ilegítima para configurar o polo passivo da demanda (ev. 22.1), motivo pelo qual recorre a parte
promovente em movimento de n°28.1, requerendo a legitimidade passiva da requerida nessa
demanda judicial e a procedência dos pedidos feitos em sua inicial.

2. Inicialmente, importante ressaltar que a compra foi realizada diretamente pela loja
EUROFORTE AGROCIENCIAS LTDA, sendo que a promovida Mercado Pago atuou como
meio de pagamento da compra realizada pela recorrente.

3. Quanto a responsabilidade e legitimidade da empresa reclamada que atua como


intermediadora do pagamento, firmou entendimento esta 2a Turma Recursal que: “Ao
disponibilizar uma plataforma online de meio de pagamento, concretizando uma relação de
consumo entre compradores e vendedores e auferindo renda nessa transação comercial, a ré
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28/11/2021: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Marcel Luis Hoffmann - 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Mercado Pago atrai para si a responsabilidade por danos causados ao consumidor quando a
operação não oferece a segurança que dela se espera. Logo, dentro do modelo de negócio da
Mercado Pago, quando fraudadores usam a sua plataforma como meio para ludibriar o
consumidor, ela tem o dever de indenizar os prejuízos gerados aos seus usuários, com base na
teoria do risco do empreendimento (CDC, art. 14).” TJPR - 2ª Turma Recursal -

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0028779-87.2019.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.: Juiz Alvaro Rodrigues Junior - J.
03.07.2020.

4. Para mais, é consolidado a jurisprudência do STJ no sentido de “que em uma relação de


consumo, são responsáveis solidários, perante o consumidor, todos aqueles que tenham
integrado a cadeia de prestação de serviços” (STJ, AgInt no REsp 1822431/SP, Rel. Ministro
Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 08/06/2020, DJe 12/06/2020 in TJPR - 2ª
Turma Recursal - 0042429-36.2019.8.16.0182 - Curitiba - Rel.: Juiz Alvaro Rodrigues Junior - J.
02.02.2021).

5. Assim, deve ser anulada a sentença que extinguiu o processo sem resolução do mérito, para
reconhecer a legitimidade passiva da empresa Mercado Pago para julgamento do feito em
relação à indenização por danos morais e materiais.

6. Oprocesso se encontra em condições de imediato julgamento do mérito, uma vez que foi
devidamente encerrada a instrução do processo (CPC 1.013, §3º, II), pelo que passo ao pronto
julgamento do mérito.

7. Ademais, entende-se que a demanda está pronta para julgamento “quando instaurada a
relação processual e encerrada a necessária instrução do processo, assegurado às partes o
amplo direito de deduzir alegações, de requerer a produção das provas que entender
necessárias para demonstrar o próprio direito material e de impugnar as teses e as provas
apresentadas pela parte contrária” (REsp 1.340.800/CE, 4ª Turma, DJe de 04/12/2017)" (STJ,
3ª T., AgInt no AREsp 751507 / SP, Relatora Ministra Nancy Andrighi, julgado em 25.03.2019).

8. Seguidamente, importante salientar que “a inversão do ônus da prova não dispensa a


comprovação mínima, pela parte autora, dos fatos constitutivos do seu direito” (AgInt no REsp
1717781/RO, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 05/06/2018, DJe
15/06/2018). No caso dos autos, o promovente de fato comprova que realizou o pagamento da
mercadoria adquirida nos eventos de n°1.7 e 1.6 e que buscou auxílio para ter conhecimento
do paradeiro de seu produto (ev. 1.10). Entretanto, no que se refere ao atraso na entrega do
produto relatado pelo autor em sua inicial, não é mencionada a data de entrega do produto, e
consequentemente, a quantidade exata de dias ou meses que a empresa demorou para prestar
seu serviço de entrega. Para mais, o requerente também menciona que o produto foi enviado
com defeito e divergências, quando comparado com o anunciado. Contudo, em momento
algum é explicitado nos autos quais são os supostos defeitos da mercadoria e as divergências
entre o produto adquirido e o que foi entregue, que poderiam, por exemplo, ser explicitados por
meio de fotografias, pelo que não demonstrado o alegado, ônus que incumbia ao requerente
como fato constitutivo de seu direito.

9. Isto posto, tenho que as alegações do autor foram genéricas e nada há no recurso interposto
a gerar convicção de que houve falha na prestação de serviços, no que se refere a entrega de
produto tardia e não satisfatória, ônus que incumbia ao autor provar (art. 373, I do CPC). Desse
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modo, não existindo comprovação de falha na prestação de serviços ou ato ilícito pela
reclamada, tenho que a devolução do valor pago pela mercadoria, na forma dobrada, não deve
ser conferida à recorrente.

10. No que se refere à indenização por danos incorpóreos, essa não comporta acolhimento,

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haja vista que o autor não conseguiu demonstrar prova mínima dos fatos constitutivos de direito
em qualquer das diversas modalidades alegadas na inicial, inexistindo, para mais, prova de
excepcional abalo em direitos de personalidade pelos fatos narrados. Todavia, mesmo se a
falha na prestação de serviços fosse constatada no que se refere à demora no envio de produto
supostamente defeituoso, o STJ já decidiu no sentido de que “o simples inadimplemento
contratual não gera, em regra, danos morais, por caracterizar mero aborrecimento, dissabor,
envolvendo controvérsia possível de surgir em qualquer relação negocial, sendo fato comum e
previsível na vida social, embora não desejável nos negócios contratados” (AgInt no AREsp
1667103/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 14/09/2020, DJe
01/10/2020).

11. Recurso provido em parte para o fim de anular a sentença que extinguiu o feito pela
ilegitimidade passiva do recorrido, mas, no mérito, julgar improcedentes os pedidos iniciais.

12. Diante do êxito apenas parcial do recurso, condeno a parte recorrente ao pagamento de
honorários de sucumbência de 10% sobre o valor corrigido da causa. Custas devidas (Lei
Estadual 18.413/14, arts. 2º, inc. II e 4º, e Instrução Normativa nº. 01/2015 - CSJEs, art. 18). As
verbas de sucumbência permanecerão sob condição suspensiva de exigibilidade enquanto
perdurar a concessão dos benefícios da justiça gratuita ao recorrente, nos termos do art. 98,
§3º do CPC.

13. Dou por prequestionados todos os dispositivos constitucionais, legais e demais normas
suscitadas pelas partes nestes autos.

Ante o exposto, esta 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade dos
votos, em relação ao recurso de GEOMAR GUERRA, julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito -
Provimento em Parte nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Irineu Stein Junior, com voto, e dele participaram os
Juízes Marcel Luis Hoffmann (relator) e Maurício Doutor.

26 de novembro de 2021

MARCEL LUIS HOFFMANN

Juiz Relator

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