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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000631465

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1006321-39.2018.8.26.0152, da Comarca de Cotia, em que é apelante ANDRESSA
GOMES DA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado MAQ-INJET COMÉRCIO
DE MAQUINAS E EQUIPAMENTOS EIRELLI.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 30ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Colhidos os
votos do Relator sorteado e do 3º Juiz, que negavam provimento ao recurso, e da
2ª Juíza, que dava provimento em parte, foi estabelecida a divergência. Houve, nos
termos do art. 942 do NCPC, a convocação de dois outros componentes da
Câmara, Des. Carlos Russo e Des. Marcos Ramos, tendo o julgamento
prosseguido, nos termos do §1º do referido dispositivo legal, com o seguinte
resultado final: Por maioria de votos, negaram provimento ao recurso, vencidos o
4º Juiz e a 2ª Juíza (que declarará voto).

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ANDRADE NETO


(Presidente), MARIA LÚCIA PIZZOTTI (vencida), LINO MACHADO, CARLOS
RUSSO (vencido) E MARCOS RAMOS.

São Paulo, 11 de agosto de 2020.

ANDRADE NETO
Relator
Assinatura Eletrônica
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Apelante: Andressa Gomes da Silva


Apelados: Maq-injet Comércio de Máquinas e Equipamentos Eirelli
Comarca: Cotia - 2ª Vara Cível
Juiz prolator: Diogenes Luiz de Almeida Fontoura Rodrigues

COMPRA E VENDA DE EQUIPAMENTO ALEGAÇÃO


DE VICIO DO PRODUTO NÃO CONFIGURAÇÃO
MERO ARREPENDIMENTO COMPROVADO POR
MENSAGENS DE TEXTO - AUSÊNCIA DE FATO
CONSTITUTIVO DO DIREITO À RESCISÃO
CONTRATUAL CUMULADA COM PERDAS E DANOS -
AÇÃO IMPROCEDENTE.

RECURSO DESPROVIDO

VOTO N.º 35106

Cuida-se de apelação interposta contra sentença que


julgou improcedente ação de rescisão contratual cumulada com perdas e
danos sob fundamento de que a autora não comprovou o fato constitutivo
do direito, condenando-a ao pagamento das custas, despesas e honorários
de sucumbência fixado em 15% sobre o valor da causa.

A apelante pretende a reforma do julgado alegando


que a máquina adquirida “...não funcionou devido um problema de
fabricação do seu molde, de modo que em virtude desse problema a autora
teve sua vida profissional e pessoal abaladas” e por se tratar de relação de
consumo, o ônus da prova sobre inexistência do vício era da ré,
fornecedora do produto.

O recurso foi regularmente processado com as


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contrarrazões.

É o relatório.

O recurso não merece provimento.

A apelante ajuizou a presente demanda alegando vício


redibitório em máquina injetora de plástico pneumática adquirida pelo
valor de R$ 7.800,00, alegando que o equipamento apresentou problemas
após sua entrega.

Alegou na inicial que “...a máquina injetora de


plástico pneumática não funcionava da maneira prometida, o que fez com
que a autora em vez de ter um sonho realizado viesse a ter diversos
transtornos.”.

A autora, portanto, sequer identificou na exordial qual


seria o defeito do equipamento e a mera alegação genérica de que o
produto não funciona da maneira prometida não é capaz de caracterizar
vício do produto imputável ao fabricante.

Também não merece nenhuma credibilidade a


inovação trazida em sede de apelação, no sentido de que o defeito ocorreu
no molde, até porque referida peça é apenas um acessório e não justificaria
a rescisão do contrato de compra do equipamento.
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Por outro lado, ao contestar a demanda o fabricante


esclareceu ter feito tudo que estava ao seu alcance para dar suporte na
venda do equipamento, entregou o manual de instruções do equipamento,
respondeu todas as dúvidas via WhatsApp, convidou a adquirente para ir
na empresa sanar suas dúvidas, mas a apelante sequer se deu ao trabalho de
se inteirar sobre o funcionamento da máquina, manifestando a intenção de
devolvê-la sob a alegação de que ela “...é muito complicada”.

Relevante destacar, ainda, que conforme se lê da


mensagem de texto encaminhada à fabricante no dia 05 de junho de 2018,
a apelante foi peremptória ao afirmar que “...perco mais dinheiro mais
não quero ela”.(destaquei, fl. 41)

Nestas circunstâncias, correta a conclusão do


magistrado de que se trata de mero arrependimento, que não se confunde
com vício do produto, sendo de rigor a manutenção da improcedência da
demanda.

Isto posto, pelo meu voto, nego provimento ao


recurso e elevo os honorários de sucumbência para 20%, com base no §
11, do art. 85 do CPC, observando-se as condições de exigibilidade do art.
98, § 3º, do CPC, por se tratar de beneficiária da justiça gratuita

ANDRADE NETO
Relator
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Voto nº 29244
Apelação Cível nº 1006321-39.2018.8.26.0152
Comarca: Cotia
Apelante: Andressa Gomes da Silva
Apelado: Maq-injet Comércio de Maquinas e Equipamentos Eirelli

DECLARAÇÃO DE VOTO

Vistos.

Em que pese o entendimento do Ilustre Relator, respeitosamente


divirjo de suas conclusões, que resultaram em negar provimento ao recurso de
apelação da autora, para dar-lhe parcial provimento, reformando a r. Sentença.

O I. Relator entendeu não haver provas de vício no produto,


concluindo pela improcedência da ação.

Todavia, divirjo de suas conclusões.

A autora adquiriu junto à ré três produtos: injetora de plástico


pneumática, molde conforme amostra, morsa. O valor total da compra foi de sete
mil e oitocentos reais (fls. 22/29).

Nesse ponto, já consigo vislumbrar um equívoco de premissa


adotado na fundamentação do I. Relator. O molde é vital para o funcionamento
do produto, tanto que alcança valor expressivo, mil e seiscentos reais. É a partir
do molde que o produto final é produzido (basta ver as imagens no sítio
eletrônico da ré, https://maqinjet.com/, acesso em 31.7.2020, às 17h10).

Na verdade, sem o molde a máquina perde sua funcionalidade. A


funcionalidade de uma injetora de plástico está condicionada à existência do
molde, que delimita o espaço onde o plástico ganhará forma. Basta checar um
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dos vídeos que a própria ré disponibiliza na internet


(https://www.youtube.com/watch?v=Mck6gT8oLdY, acesso em 31.7.2020, às
17h11) para entender o funcionamento do produto.

Posto isso, fica fácil resolver o problema. A prova documental


produzida pela autora (conversas de whatsapp com prepostos da empresa ré, fls.
35/42 e 52/56) demonstra à saciedade vários vícios no produto (além de atraso na
entrega, outro ponto pouco explorado pelo voto de relatoria). O molde veio
errado. A mangueira e o conector da injetora eram inadequados. Todos esses
detalhes são incontroversos, pois as mensagens retratam uma verdadeira via
crucis para a autora tentar resolver o problema; jornada que, ao final, foi
infrutífera.

Os prepostos da ré, ao longo das conversas, tentaram resolver os


problemas. Inclusive, tardiamente, vieram a propor um acordo à autora,
basicamente metade do valor investido, rejeitado por esta (fls. 63/65). Depreende-
se dessa conduta que a empresa ré reconhece o vício, discordando apenas da
solução a ser adotada (naturalmente, tentou emplacar um acordo que lhe fosse
vantajoso).

Diante disso, está muito bem assentado que o defeito no produto é


de origem, acarretando a incidência do art. 18 do Código de Defesa do
Consumidor para resolver o contrato com devolução dos valores pagos e
indenizar a autora nos danos materiais constados e morais apurados.

Quanto aos danos materiais, a autora pede dois. Os danos


emergentes (fls. 33) foram parcialmente provados, pois a nota fiscal possui
outros produtos que não tiveram seu nexo de causalidade explicado. Portanto, em
relação à nota fiscal, apenas a mangueira e o adaptador devem ser indenizados
(R$ 54,48 ao todo). Os lucros cessantes não contam com o mesmo zelo
probatório. A autora não demonstrou minimamente os lucros que razoavelmente
esperava e deixou de auferir em função do problema da máquina. O único
documento que menciona nesse capítulo (fls. 34) é uma tela do Mercado Livre
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parcamente explicada, sem sequer conter informações que a vinculam à autora.


Aliás, essa tela demonstra que a atividade da autora (assumindo que se refira a
ela) não sofreu com a perda da máquina, uma vez que as vendas continuaram no
mesmo padrão dos outros meses.

Finalmente, os danos morais. Indiscutível que o transtorno da


autora é passível de reparos na esfera extrapatrimonial. O atraso na entrega de
produto, forçando a autora a recorrer ao Poder Judiciário, caracteriza
situação extremamente desgastante. Mais que isso, o vício que o torne
inadequado ao uso gera, a partir da percepção quanto à frustração, ansiedade e
incômodo que só serão aliviados no momento em que a ré vier a resolver o
problema, devolvendo o dinheiro da autora; ou, como é o caso, com o
provimento jurisdicional transitado em julgado reconhecendo a pretensão da
autora.

Por essas razões que insisto na condenação por danos morais. Seu
escopo visa contemplar aquilo que o mero ressarcimento por danos materiais não
é capaz de atender. Com efeito, não conceder a indenização é dar uma resposta
manca à lesão sofrida pela autora, que, certamente, extrapola a esfera meramente
patrimonial. Reduzir o campo de incidência do instituto do dano moral às
raríssimas situações de grave afronta a direito da personalidade é compactuar
com a conduta desidiosa, indiferente, insensível e descompromissada dos
fornecedores de produtos e serviços, que, em vez de resolverem prontamente os
problemas que lhes são postos pelos consumidores, tratam-nos com descaso,
justamente por saberem que na maioria dos casos serão condenados apenas à
devolução dos valores pagos.

O valor indenizatório deve levar em consideração a repercussão na


vítima, a condição econômica da ré e as funções preventiva, punitiva e
compensatória do instituto. Daí que, sopesados esses parâmetros, avalio ser R$
5.000,00 (cinco mil reais) valor mais que suficiente para compensar os danos
sofridos pela autora, com correção monetária desde a publicação do v. Acórdão
(Súmula 362 do C. STJ) e com juros moratórios a partir da citação (mora ex
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persona).

Destarte, pelo meu voto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao


recurso, reformando a r. Sentença para julgar a ação PARCIALMENTE
PROCEDENTE, resolvendo o contrato, determinando a devolução pela ré do
valor pago pela autora para aquisição dos produtos (pedido de compra de fls.
28/29) com correção monetária desde o efetivo desembolso e com juros
moratórios a partir da citação, condenando-a, ainda, ao pagamento de
indenização por danos materiais (R$ 54,48), com correção monetária desde o
desembolso e com juros moratórios desde a citação, e de indenização por danos
morais (R$ 5.000,00), com correção monetária desde a publicação do v. Acórdão
e com juros moratórios a partir da citação.

Pela inversão do ônus sucumbencial, condeno a ré ao pagamento


das custas, das despesas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em
vinte por cento sobre o valor atualizado da condenação.

MARIA LÚCIA PIZZOTTI

Desembargadora
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Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais:

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Votos MENDES

Para conferir o original acesse o site:


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo
1006321-39.2018.8.26.0152 e o código de confirmação da tabela acima.

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