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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___

VARA CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DE SÃO


PAULO

Processo nº ....

JOÃO MACEDO, brasileiro , desenhista de produtos, portador do RG nº xxxx,


inscrito no CPF sob o nº xxxx, domiciliado na cidade de São Paulo,-SP, CEP xxxx. ,
vem, por meio de seu advogado, propor a presente :

AÇÃO INDENIZATÓRIA

pelo rito sumário em face de ABC ELETRONICS LTDA, inscrita no


CNPJ sob o nºxxx, estabelecida em Curitiba (PR), CEP ....,
pelos fatos e motivos adiante expostos:

DOS FATOS

O Autor é “designer” de produtos na cidade de São Paulo, onde é domiciliado e,


ao ser contratado para participar de um grande projeto, decidiu adquirir um
microcomputador portátil (“notebook”) de última geração, em estabelecimento da
empresa Ré, sediada na Cidade de Curitiba (PR), pelo valor de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais) .Diga-se que o produto, fabricado pela empresa Pearl Inc ., norte-americana, é
importado com exclusividade por algumas lojas no Brasil, como a da Ré, e que o
produto não possui qualquer prazo de garantia além daqueles informados no Código de
Defesa do Consumidor. Assim, o Autor efetuou a compra do produto pelo telefone e
solicitou a entrega do mesmo em sua residência. O pagamento foi debitado em
uma única prestação em seu cartão de crédito. Três dias depois da compra, o
microcomputador foi entregue na residência do Autor. Ocorre que, não obstante
tivesse seguido todas as instruções contidas no manual, o Autor não logrou êxito em
ligar o aparelho, já que o produto simplesmente não funcionava. Quatro dias depois da
compra, o Autor dirigiu-se ao estabelecimento comercial da Ré, em Curitiba (PR),
para exigir a substituição do produto, e foi informado de que a empresa, por ser
representante da marca do computador, possuía um serviço de assistência
técnica para onde o produto deveria ser encaminhado para verificar as
razões pelas quais não ligava. O Autor assinou e recebeu cópia de uma
ordem de serviço para comprovar o envio do produto ao conserto ( doc. de
fls ...). Trinta dias depois, o produto retornou da assistência técnica. O
autor testou o aparelho na própria loja e constatou que, apesar do
equipamento ligar, o monitor apresentava defeitos na imagem. Em razão disso, o Autor
recusou-se a retirar o produto e exigiu, nessa oportunidade, a restituição da quantia
paga. Ao ter seu pedido negado, o Autor deixou a loja, levando o aparelho
defeituoso, após protocolar um documento informando sua insatisfação e exigindo a
devolução do dinheiro. Diante do descaso e da negligência da empresa Ré em
solucionar o vício apresentado pelo produto , o Autor vem, perante este Juízo,
requerer que se faça Justiça.
DOS FUNDAMENTOS

1.DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

Ao caso em exame aplicam-se as normas do Código de Defesa


do Consumidor, eis que as partes litigantes estão inseridas nos conceitos
de consumidor e fornecedor previstos nos arts. 2º e 3 º, do mesmo
diploma legal.
A esse respeito, é de se consignar a violação, no presente caso,
do princípio da boa-fé objetiva, positivado no artigo 422 do Código Civil e
artigo 4º inciso III da Lei 8078/90, do qual depreende -se a ideia de
lealdade e cooperação que deve reger as relações contratuais, o que
implica na imprescindibilidade de respeito às legítimas expectativas
despertas na outra parte co-contratante.
A esse respeito, oportunas as lições de Cláudia Lima Marques:

“significa agir pensando no outro, no parceiro contratual,


respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, suas
expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com
lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou
desvantagem excessiva, cooperando para atingir o bom
fim das obrigações: o cumprimento do objetivo contratual
e a realização dos interesses das partes. (MARQUES,
Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do
Consumidor: O Novo Regime das Relações Contratuais.
4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p.
335.)

Ora, é evidente que a posição adotada pela ré é ilícita e atenta contra o


princípio da boa-fé objetiva, o qual, sublinhe-se, reporta ao padrão de
comportamento ético que o consumidor espera da empresa fornecedora. Porque a
Ré tinha (e ainda tem) o dever de respeitar as legítimas expectativas do Autor
tanto no tocante à qualidade do produto adquirido quanto relativamente à qualidade
dos serviços de assistência técnica prestados.
Desta forma, há de se reconhecer, fatalmente, a flagrante violação a um dos
princípios norteadores da relação consumerista com o cometimento de ato ilícito por parte
da empresa ré.

2.DO DIREITO À SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO OU RESTITUIÇÃO


DO VALOR PAGO (art. 18 parágrafo 1º da Lei 8.078/90)

Resta incontroversa a aquisição do produto em ... (fl...), a ocorrência de defeito e


a remessa para a assistência técnica (fls...).
Nos termos do art. 18 parágrafo 1º do CDC, verificando o consumidor a
ocorrência de vícios de qualidade, que torne o produto inadequado ao fim a que se
destina e não sendo sanado o defeito no prazo de 30 dias, pode ser exigido do
fornecedor a substituição do produto, a restituição do valor pago ou o abatimento
proporcional do preço.
Destarte, na hipótese vertente, tendo ocorrido o decurso do prazo precitado sem
que fosse efetivado o conserto do aparelho, torna-se impositiva a substituição do
produto, a teor do que estabelece a legislação protetiva do consumidor. E, na hipótese
de não ser possível entregar produto igual em condições de uso ao postulante,
deve ser restituído a este o preço pago, atualizado monetariamente pelo índice do
IGP -M, bem como com a incidência dos juros de mora de 1 % ao mês, na forma
do artigo 406 do Código Civil.

3. DO DEVER DE INDENIZAR

Diante do exposto e dos arts. 6º, I e 12, CDC, forçoso concluir


pelo dever de indenizar os danos morais e materiais perpetrados ao autor
pela empresa ré.

3.1. DANO MATERIAL

Conforme documentado às fl s ..., o autor, sem poder usufruir


do aparelho que adquirira, dispendeu consideráveis quantias com os
custos de seu deslocamento para assistência técnica de seu produto no
estabelecimento da Ré (São Paulo-Curitiba ida e volta) e para retirá-lo
(São Paulo-Curitiba ida e volta).
Tendo todo o valor desembolsado pelo Autor sido em vão, eis
que a empresa Ré atuou com negligência e descaso relativamente aos
problemas técnicos do aparelho em questão, f az jus aquele à restituição
das quantias que dispendeu.

3.2. DOS DANOS MORAIS

A Constituição da República, no seu artigo 5º, inciso X, prevê


que “ são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente da sua violação”.
No mesmo sentido o Código Civil agasalha a reparabilidade dos
danos morais em seu artigo 186, segundo o qual, aquele, por ação ou por
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causa
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Complementa o artigo 927 , do Código Civil, estabelecendo que,
aquele que por ato ilícito (artigos 1 86 e 187) causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Na hipótese retratada nos autos, o dano moral configurou -se, tendo em vista a
desídia e descaso na prestação do serviço por parte da Ré, a qual ocasionou
prejuízos à parte autora, tanto de ordem material como moral.
Decorre daí a responsabilidade de ordem objetiva de reparar o dano causado à
parte autora, consoante estabelece o artigo 14, da lei
consumerista precitada, tendo em vista que o procedimento adotado foi
temerário, atentando a boa fé objetiva ao descumprir com o dever jurídico
de bem prestar seus serviços.
Não se pode olvidar que o Autor deslocou-se de seu domicílio
(São Paulo) em duas oportunidades, com vistas a levar pessoalmente o
produto para o estabelecimento da empresa Ré em Curitiba -Pr e,
posteriormente, para retirá-lo. Não obstante os esforços envidados para o
deslinde da questão, a parte autora não logrou êxito em solucioná-lo.
Em casos como o presente, os danos morais são presumidos e decorrem do
próprio fato, sendo evidentes a efetiva frustração e abalo psicológico causados a o
demandante, que ultrapassam em muito o mero dissabor.
Dessarte, não apenas com supedâneo constitucional mas, também, com fulcro no
art. 6º, inciso VI da Lei 8.078/90, impõe -se a indenização por d ano moral,
independentemente da prova objetiva do abalo à honra e à reputação sofrida pelo
autor, que se permite, na hipótese, presumir.

Nesse sentido, a jurisprudência do Tribunal:

INDENIZATÓRIA. MÁQUINA DE LAVAR ROUPA COM


DEFEITO. TROCA EFETUADA TRÊS MESES DEPOIS E POR
MODELO DE VALOR INFERIOR. NOVO DEFEITO
APRESENTADO E SEM CONSERTO PELA ASSISTÊNCIA
TÉCNICA. RESSARCIMENTO DO VALOR PAGO PELO
PRODUTO. DANO MORAL. Dúvida não existe de que o
produto adquirido apresentou sério defeito, visto que o
pedido de assistência técnica se deu imediatamente após
a instalação, o que ensejava sua troca ou a restituição do
valor pago nos termos do § 1º do art. 18 do C.D.C.
Somente após apresentar reclamação no PROCON é que
ficou acordada a troca do produto. Contudo, ainda sim,
demorou três meses para entregar. Não bastasse a
demora, entregou produto de outra marca e inferior ao
modelo adquirido pelo consumidor. Depois de dois meses
do produto entregue, no dia 03/05/2011, ele apresentou
defeito e não foi solucionado pela assistência técnica,
alegando falta de peça. Observa-se que o produto estava
dentro do prazo de garantia e o seu conserto não foi
realizado. Portanto, faz jus o autor à indenização pelo
dano material ora representado pelo valor
despendido na aquisição da máquina de lavar
roupa que não se prestou ao fim destinado, bem
como pelo dano moral, ora advindo da má
prestação de serviço da ré e representado pelos
transtornos e constrangimentos sofridos ante a
impossibilidade de usufruir da máquina de lavar
roupa. Mostrando-se justo e adequado o valor da
indenização ora arbitrada, deve o mesmo ser mantido
Recurso a que se nega provimento, na forma do artigo
557, caput, do CPC. (destaque nosso)
(Apelação Cível nº 2208821-24.2011.8.19.0021, Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro, Décima Nona Câmara Cível,
Rel. Marcos Alcino A. Torres, Julgamento: 25/09/2012)

APELAÇÃO. INDENIZATÓRIA. CONSUMIDOR. DEFEITO


EM REFRIGERADOR NA GARANTIA. REPARO
INADEQUADO. RECLAMAÇÕES SEM SOLUÇÃO.
RESPONSABILIDADE DO FABRICANTE. VÍCIO DO
PRODUTO. OBRIGAÇÃO DE SUBSTITUIR O PRODUTO.
ART. 18, § 1º, I, DO CDC. DANO MORAL CONFIGURADO
E RAZOAVELMENTE DIMENSIONADO. DESPROVIMENTO
DO RECURSO. 1. Fere o princípio da lógica razoável que
um refrigerador, bem durável que é, apresente defeito
poucos meses após o recebimento do produto, ainda no
prazo de garantia, sem que o fornecedor do produto
solucione adequadamente o problema, apesar das
reiteradas reclamações do consumidor e visitas da
assistência técnica. 2. Não obstante a tentativa de reparo
efetuado pelo fornecedor, não foi sanado o vício do
produto que permaneceu impróprio ao fim a que se
destinava. 3. A resistência injustificada e descabida da
empresa obrigada a solucionar o problema, be m como o
longo tempo em que o consumidor permaneceu sem
atendimento de suas justas postulações, justificam a
substituição do produto pleiteada pelo consumidor. 4. Na
responsabilidade por vício do produto a indenização fica
adstrita às hipóteses descritas no § 1º do artigo 18 do
CDC, razão pela qual, em regra, não há compensação
moral, mas sim, o ressarcimento material. No entanto,
impõe-se o reconhecimento do dano indireto, fora do
âmbito do vício do produto, mas a ele relacionado, por
conta do comportamento reprovável da ré, que deixou de
cumprir o dever legal de, diante do vício evidente,
providenciar a substituição do produto, causando
dissabores que em muito ultrapassaram o simples
aborrecimento. 5. Dano moral configurado e
arbitrado moderadamente, em atenção à
razoabilidade e proporcionalidade, tendo em conta as
circunstâncias fáticas. 6. Desprovimento do recurso.
(destaque nosso)
(Apelação Cível nº 0054387-02.2010.8.19.0004, Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro, Décima Sétima Câmara
Cível, Des. Rel. Elton Leme, Julgamento: 29/08/2012)

Apelação Cível. Sumário. Indenizatória. Compra de bebedouro


defeituoso. Assistência técnica que devolveu o aparelho diversas
vezes, embora sem conseguir sanar o defeito. Produto que
deveria ter sido substituído imediatamente após o insucesso na
tentativa de conserto, mas não o foi, estando o fabricante e o
vendedor obrigados à devolução do valor. Autor que restou
obrigado a ir e vir várias vezes, transportando objeto volumoso e
pesado, sem poder usufruir do aparelho que adquirira. Danos
morais caracterizados, pelo flagrante desrespeito ao direito do
consumidor. Montante fixado de forma insuficiente, em apenas R$
1.500,00 (mil e quinhentos reais) devendo ser majorado para R$
3.000,00 (três mil reais) valor mais adequado à hipótese,
segundo os critérios de satisfação/punição e
razoabilidade/proporcionalidade utilizados por esta Colenda
Câmara Cível. Honorários advocatícios fixados em R$ 500,00,
valor que corresponde ao percentual de 16,6% sobre o valor da
condenação e que se mostra adequado ao trabalho realizado.
Terceira-ré, assistência técnica que participou ativamente do dano
e somente permanece afastada da condenação à míngua d e
recurso neste sentido. Provimento parcial do recurso, somente
para majorar o montante indenizatório, mantida, no mais, a
sentença. (destaque nosso) (Apelação Cível nº 0001008-
47.2010.8.19.0037,Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Décima
Câmara Cível, Des. Rel. Gilberto Dutra Moreira, Julgamento:
08/08/2012
Assim, assiste à parte autora o direito à reparação pelo dano
moral, com base no art. 5º, incisos V e X, da Constituição Federal e art.
186 do Código Civil.

DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:

a) Citação do réu
b) Procedência do pedido para determinar a troca do produto
c) Não sendo possível a troca do produto, a devolução da quantia paga
acrescida de juros e correção monetária
d) Condenação do réu a reparar o dano material no valor de R$15.000,00 (QUINZE
MIL REAIS).
acrescido de juros e correção monetária
e) Condenação do réu a reparar o dano moral no valor de R$ 3.000,00( três mil reais)
f) Condenação nas verbas sucumbenciais

VALOR DA CAUSA

Dá à causa o valor de R$18.000,00 (DEZOITO MIL REAIS). (art. 259, II, CPC)

Termos em que espera deferimento.

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