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AO ___ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO – RJ

JOÃO SILVA (nome fictício), brasileiro, casado, servidor pú blico, portador da carteira de
identidade de nº xxxxxxx, inscrito no Cadastro de Pessoa Física sob o nº xxxxxxxxxxx, com
endereço eletrô nico xxxxxx@xxxxx.com.br, residente e domiciliado na Rua xxxx, nº xxx,
casa xxx, Bairro xxxx, Rio de Janeiro-RJ, cep xxxxx, vem, por sua advogada infra-assinada,
com endereço profissional na xxxxxxxxxx, Rio de Janeiro-RJ, o qual indica para os fins do
art. 77, inciso V, do Có digo de Processo Civil, propor

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DECLARATÓRIA DE INEXISTENCIA DE DÉBITO


COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de xxxxx, CNPJ xxxxxx, Inscriçã o Estadual xxxxxxx, situada à xxxxxxxxx, cep
xxxxxxx, pelas razõ es de fato e direito que passa a expor:

I – DOS FATOS
O Autor contratou a prestaçã o de serviço de internet banda larga da Ré, denominado
“Home Internet” (nome fictício) para uso residencial.
Ocorre que, desde abril de 2017, o serviço vem deixando de ser prestado conforme o
esperado, ficando o Autor sem o fornecimento do serviço de internet banda larga ora
contratado.
A cada contato com a Ré feito pelo Autor, visando uma soluçã o para o problema, lhe era
informado que o serviço estava sendo regularizado, mas nã o havia soluçã o para a negativa
de fornecimento do referido serviço.
Diante das tentativas infrutíferas de resoluçã o do problema junto a Ré, o Autor fez diversas
reclamaçõ es e solicitaçõ es junto a ANATEL, conforme constam nos documentos acostados,
porém, a Ré sempre lhe ludibriava informando que o serviço seria de pronto regularizado,
o que nã o ocorreu.
A Ré informou ao Autor que o serviço nã o estava sendo prestado adequadamente devido à
localidade onde ele residia. Foi informado, também, que o Autor seria isentado do
pagamento das faturas referentes ao período em que ele ficou sem o serviço devidamente
prestado.
Ao ser informado que o problema de internet banda larga contratado nã o estava sendo
devidamente prestado por conta da localidade, o Autor solicitou a mudança de endereço,
visto que tinha interesse real no fornecimento do serviço prestado pela Ré, mas lhe foi
negado sob a alegaçã o de que nã o poderiam mudar a localidade pois haviam faturas em
aberto; faturas estas que se referem ao período de inexistência da prestaçã o de serviço.
Como se nã o bastasse a falta de serviço prestado adequadamente, que gerou diversos
problemas para o Autor, a Ré inseriu seu nome no rol dos maus pagadores, incluindo-o no
Serasa, sem a devida notificaçã o, o que viola direito da personalidade, compromete o nome
e imagem que goza no seio social, além de impor restriçõ es creditícias à s relaçõ es
comerciais.
Ante o exposto, e apó s as infrutíferas tentativas extrajudiciais, o Autor nã o viu alternativa
senã o propor a presente demanda para declarar inexistente qualquer débito advindo do
referido contrato durante o período em que nã o houve a prestaçã o de serviço, como
também almeja ter seu nome retirado do rol de inadimplentes, a condenaçã o da Ré ao
pagamento de danos morais pela negativaçã o indevida e, havendo a possibilidade, que haja
a mudança de endereço para a continuidade da prestaçã o de serviço contratado.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II.1 – Aplicaçã o do Có digo de Defesa do Consumidor:

No caso em tela, devem ser observadas as regras de proteçã o e defesa do consumidor,


previstas na Lei 8.078/90, uma vez que restam configurados os elementos que
caracterizam a relaçã o de consumo, na qual se verifica, de um lado, o consumidor e, de
outro, o fornecedor, estando presentes, portanto, os requisitos subjetivos (consumidor e
fornecedor – artigos 2o e 3o) e objetivos (produto e serviço – §§ 1o e 2o do artigo 3o) da
Lei 8.078/91.
A norma extraída do Codex visa equilibrar a relaçã o jurídica existente entre consumidor e
fornecedor, justamente por aquele ser vulnerá vel - art. 4º, incisos I e III, da Lei nº. 8.078/90
-, diante da capacidade técnica, econô mica e jurídica do fornecedor/prestador de serviço.
Sendo assim, faz-se necessá rio reconhecer que as normas do CDC sã o de ordem pú blica e
de grande interesse social, por força de diretivas constitucionais – art. 5º, XXXII e 170 da
Constituiçã o Federal, aplicando-se, inteiramente, no caso concreto.
II.2- Da responsabilidade consumerista:

Os fatos narrados, devidamente comprovados, por si só , evidenciam a responsabilidade da


Ré, tornando incontestá vel a falha na prestaçã o do serviço e a obrigaçã o de reparar os
danos causados (art. 14 e 20 do CDC).
Trata-se de responsabilidade civil objetiva, onde deve ser comprovado o nexo de
causalidade entre o dano e o fato lesivo, nã o havendo necessidade de se averiguar a
existência de dolo ou culpa por parte do fornecedor de serviços.
Salienta-se que, no Có digo de Defesa de Consumidor, vigora a teoria do risco, ou seja,
aquele que através de sua atividade cria um risco de dano a terceiros, deve ser obrigado a
repará -lo.
O relato feito nessa peça, consubstanciado pelos documentos anexos, evidencia a
responsabilidade consumerista da Ré, tornando incontestá vel a obrigaçã o de reparar os
danos causados ao Autor, que não só foi cobrado indevidamente por um serviço não
prestado, em descompasso com o que estabelece o art. 42, § único, do Código de
Defesa do Consumidor, como, também, foi negativado, tendo seu nome sido lançado
no rol dos maus pagadores.
Malgrado, em virtude de seu cará ter protetivo, o CDC elenque, de forma exemplificativa,
uma série de direitos do consumidor no art. 6 º, dentre os quais se destacam o direito à
informaçã o, transparência, boa-fé, inversã o do ô nus da prova, reparaçã o integral pelos
danos causados e a vedaçã o de que sejam impostas pelo fornecedor prá ticas abusivas, a Ré,
em momento algum, tentou minimizar os prejuízos por ela causados. Ao contrá rio, só lhe
fez promessas de resoluçã o de sua demanda, renovando tal promessa, de modo que até
hoje o Autor está sem poder utilizar o serviço contratado.
Com sua conduta, a Ré infringiu os deveres de boa fé e informaçã o elencados no Có digo de
Defesa do Consumidor, respectivamente, no inciso III do artigo 4º e inciso III do artigo 6º.
Além disso, também resta claro que não só o dano material, mas, igualmente, o dano
moral está configurado e merece ser reparado. A jurisprudência do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro é firme no sentido de que extrapola o mero
aborrecimento a prestaçã o defeituosa do serviço de consumo, onde o prestador de serviço
nã o soluciona a reclamaçã o apresentada pelo consumidor, levando-o a contratar advogado
para que, judicialmente, haja o deslinde da questã o, sendo certo que, facilmente, o
imbró glio seria resolvido administrativamente.
O dano moral avulta da pró pria frustraçã o da impossibilidade de utilizaçã o do serviço de
banda larga contratado, além do constrangimento de estar com o seu nome negativado por
uma dívida que, de fato, nã o deveria existir.
Nã o se pode negar a gravidade do dano causado. É inquestioná vel a sensaçã o de revolta
face os problemas ocorridos, a frustraçã o face ao que, legitimamente, se esperava do
serviço a ser prestado pela Ré, e a impotência face ao problema gerado mesmo com a
tentativa de intervençã o da ANATEL.
Claro estã o as consequências na esfera psicoló gica do Autor, configurando, assim, o dano de
natureza moral que deve ser indenizado e, em casos como o presente, a jurisprudência
pá tria é assente no sentido de que, a nã o soluçã o extrajudicial do problema, gera o dever de
indenizar. Vejamos:
“0015234-74.2016.8.19.0028 - APELAÇÃ O - 1ª Ementa Des (a). NATACHA NASCIMENTO
GOMES TOSTES GONÇALVES DE OLIVEIRA - Julgamento: 19/07/2018 - VIGÉ SIMA SEXTA
CÂ MARA CÍVEL Apelaçã o. Açã o de obrigaçã o de fazer c/c declarató ria de inexistência de
débito com pedido de tutela de urgência c/c Indenizaçã o por Danos Morais. Negativaçã o
indevida. Cobrança da fatura referente a 14 de dezembro de 2012, no valor de R$ 35,00.
Alegaçã o de ausência de prestaçã o do serviço contratado. A sentença condenou o réu a
pagar ao autor o valor de R$ 4.000,00 como compensaçã o pelos danos morais e determinou
a baixa do apontamento do nome do autor nos cadastros restritivos de crédito
(SPC/SERASA), o que deverá ser cumprido mediante expediçã o dos competentes ofícios, na
forma do verbete sumular n.º 144 deste e. TJERJ. Apelam autor e réu. Falha na prestaçã o do
serviço devidamente comprovada. Prova clara dos autos dando conta que a ré cobrou por
serviço que nã o era prestado, e incluiu indevidamente o nome do autor nos cadastros de
restriçã o de crédito. Nã o se justifica a cobrança em 14/12/2012, no valor de R$ 35,00, visto
que a ré confessa em sua contestaçã o que o autor solicitou o cancelamento da linha em
30/10/2012. Inaplicabilidade da Sú mula 385 do STJ. Existência de contestaçã o dos demais
apontamentos. Dano moral configurado. Majoraçã o de valor para R$ 8.000,00, mostrando-
se adequada à s circunstâ ncias dos fatos eis que a inserçã o indevida do nome do
consumidor em cadastros restritivos viola direito da personalidade, compromete o nome e
imagem que goza no seio social, além de impor restriçõ es creditícias à s relaçõ es comerciais.
Ademais a negativaçã o aconteceu em 2013, sem a devida notificaçã o ao autor tendo que se
socorrer ao Judiciá rio a fim de ter seu direito atendido. Sentença parcialmente reformada.
Recurso do réu desprovido e do autor provido parcialmente. Íntegra do Acó rdã o - Data de
Julgamento: 19/07/2018”
Ressalte-se, por oportuno, a importâ ncia da indenizaçã o em cará ter pecuniá rio, do dano
moral, nã o apenas por recompor o Autor pelos danos efetivamente sofridos, mas
primordialmente, por desestimular a Ré, para que a mesma não venha a reincidir no
mesmo comportamento desidioso.

III.2 – Do pedido de antecipaçã o da tutela de urgência

O Autor preenche os requisitos para concessã o e deferimento dos efeitos da tutela de


urgência, tendo em vista que seu nome está inscrito no rol de maus pagadores sem haver,
de fato, nenhum débito referente ao período em que o serviço foi efetivamente prestado
pela Ré.
Como pressupostos necessá rios à concessã o da tutela de urgência, contem-se a prova
inequívoca capaz de gerar a verossimilhança das alegaçõ es e a irreparabilidade ou a difícil
reparaçã o do dano causado ao Autor, onde tal prova encontra-se demonstrada no
documento já anexado que atesta a inscriçã o indevida de seu nome no cadastro de proteçã o
ao crédito, realizada pela Ré.
Os danos irrepará veis ou de difícil reparaçã o estã o explanados nos fatos e fundamentos
jurídicos da açã o, pois a inscriçã o indevida viola direito consumerista, denigrindo a imagem
do Autor perante o comércio, transpassando visã o negativa de sua pessoa e impedindo-a de
efetuar negociaçõ es a prazo.
Em virtude da inclusã o do nome em ó rgã o de proteçã o ao crédito vem requerer perante
este Juízo, a concessã o da tutela de urgência, nos termos do artigo 300, do Có digo de
Processo Civil, inaudita altera parte, para que seja determinado à Ré que exclua e se
abstenha de inscrever o nome do Autor nos ó rgã os de proteçã o ao crédito, bem como em
qualquer outro ó rgã o semelhante, sob pena de multa diá ria a ser fixada por este Juízo.

IV.2 – Da inversã o do ô nus da prova

O artigo 6º, inciso VIII, do CDC estabelece que constitui direito bá sico do consumidor a
facilitaçã o da defesa dos seus direitos em juízo, inclusive com a inversã o do ô nus da prova,
a seu favor, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegaçã o ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordiná rias de experiência.
Neste mesmo sentido, ensina o Prof. Sérgio Cavalieri que:
“Verossímil é aquilo que é crível ou aceitá vel em face de uma realidade fá tica. Nã o se trata
de prova robusta e definitiva, mas da chamada prova de primeira aparência, prova de
verossimilhança, decorrente das regras da experiência comum, que permite um juízo de
probabilidade. Essa inversã o tem por fundamento a hipossuficiência do consumidor, nã o
apenas econô mica, mas também jurídica, mormente no plano processual.”(Programa de
Responsabilidade Civil/ Sergio Cavalieri Filho. – 7a ed, SP: Atlas, 2007).

III - CONCLUSÃO E ESPECIFICAÇÃO DOS PEDIDOS


Ut supra, e na certeza de ter justificado, a viabilidade e a procedência da pretensã o ora
deduzida, pede e requer:
1) A citaçã o da Ré, para querendo, contestar a presente demanda se assim houver
interesse, sob pena de revelia;
2) O deferimento da tutela de urgência, a fim de retirar o nome do Autor do Ó rgã o de
Proteçã o ao Crédito tendo em vista a negativaçã o indevida, sob pena de multa diá ria a ser
fixada por este Juízo;
3) A inversã o do ô nus da prova, na forma do art. 6º, VIII do CDC, ficando ao encargo da Ré a
produçã o de todas as provas que se fizerem necessá rias ao andamento do feito;
4) Que seja declarada a inexistência de qualquer débito referente ao período onde inexistiu
a prestaçã o de serviço (de abril de 2017 até hoje);
5) Que seja julgada totalmente procedente a açã o proposta, condenando a Ré ao pagamento
do montante de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de indenizaçã o por danos morais, e
que seja determinada a mudança de endereço para que ocorra a continuidade do serviço
contratado;
6) A condenaçã o da Ré, em caso de recurso, ao pagamento de honorá rios advocatícios
sucumbenciais na ordem de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenaçã o ou do
proveito econô mico obtido.

Nestes termos, dar-se o valor à causa, para efeitos previstos em lei, o valor de R$ 20.000,00
(vinte mil reais).

Sã o os termos em que espera deferimento.


Rio de Janeiro, 05 de novembro de 2020.

XXXXXXXXXXXX
OAB/XX XXX.XXX

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