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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

PJe - Processo Judicial Eletrônico

27/01/2022

Número: 0802735-03.2021.8.19.0011
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: Juizado Especial Cível da Comarca de Cabo Frio
Última distribuição : 14/07/2021
Valor da causa: R$ 10.000,00
Assuntos: Indenização Por Dano Moral - Outros
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ANDRE DE SOUZA ARAUJO (AUTOR) JENNIFFER RODRIGUES DE ASSUNCAO (ADVOGADO)
CAROLLYNE DE ASSIS LINS (AUTOR) JENNIFFER RODRIGUES DE ASSUNCAO (ADVOGADO)
Claro S.A. (RÉU) MARCELO NEUMANN MOREIRAS PESSOA (ADVOGADO)
PATRICIA SHIMA (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
63613 21/08/2021 01:54 Replica - Carollyne e Andre Lins Petição
28
AO JUÍZO DO VII JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DO CABO FRIO – RIO DE
JANEIRO

Processo nº 0802735-03.2021.8.19.0011

ANDRÉ DE SOUZA ARAÚJO E CAROLLYNE DE ASSIS LINS, devidamente


qualificados nos autos em epígrafe, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, manifestar-se acerca da contestação apresentada pela ré, em RÉPLICA, pelos
seguintes fatos e fundamentos abaixo expostos.

BREVE RELATO DOS FATOS

O autor manejou a ação de repetição de indébito c/c indenização por danos morais
em desfavor da TELEFÔNICA BRASIL S/A, cuja marca comercial é a VIVO, com o fim de
pleitear a indenização por danos morais e o ressarcimento das cobranças indevidas pagas
por serviços inicialmente não contratados e posteriormente indevidamente cancelados, que
totalizam o montante de R$ 109,20.

Com base no princípio da boa fé objetiva disposto no artigo 4º e 51º do Código de


Defesa do Consumidor, não se pode ignorar a má intenção da parte ré em quebrar o
princípio da confiança e da equidade presentes nas relações contratuais, que busca evitar o
prejuízo da parte frágil, o consumidor. É imprescindível o conhecimento do autor
consumidor do contrato supostamente realizado entre as partes e, mais ainda, o
conhecimento da diminuição de seu score perante o SERASA pelas atitudes da empresa ré,
sendo necessário sua responsabilização pelos danos que causou.

II. DA MANIFESTAÇÃO SOBRE A PETIÇÃO

Em contestação, a empresa ré alega que os fatos alegados pela autoria não


condizem com a realidade, constantes nos autos temos documentos que comprovam
claramente a conduta contraditória e lesiva da empresa ré.
Ademais, a empresa ré alegou, em sede de contestação, que os autores estavam de
acordo com a cobrança pela linha. De fato, os autores sabiam de sua obrigação de

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pagamento por um serviço que, inicialmente foi adicionado a sua fatura sem sua anuência
ou concordância. É fato que com o desconto oferecido pela empresa ré, o autor realizou -
agora com seu consentimento - a contratação da linha telefônica através de atendimento
telefônico constante no protocolo nº:
Não devem prosperar as alegações da ré quanto ao não pagamento das faturas dos
serviços por ela prestados, visto que pertencem aos autos o regular pagamento das faturas.
A parte autora, no âmbito desta lide, veio com a intenção de demonstrar a irregularidade do
cancelamento de sua linha telefônica mesmo com o seu regular pagamento e não ao tempo
atual, que por óbvio a linha continua cancelada unilateralmente pela empresa ré.
Neste sentido, devemos salientar que o atraso no pagamento nunca ultrapassou os
90 (noventa) dias como a ré alega em seus atendimentos (protocolo nº 03818.33427.27252)
como motivo de cancelamento da linha. Novamente, os comprovantes de pagamento estão
presentes nos autos, vossa excelência.
As informações e provas elencadas pela autoria demonstram que houve falha na
prestação de serviços e falta de transparência, dever tão importante ao direito do
consumidor, da ré em questão.
Em sede de inicial, o autor não alegou que seu nome estava negativado perante os
órgãos de restrição de crédito e sim que teve seu score no SERASA diminuído em
decorrência dos supostos débitos com a empresa ré, o que dificultou/impossibilitou a
aquisição de outros serviços.
Ainda nesta seara, cumpre destacar que a negativação em nome do autor
demonstrada na contestação da ré em nada interfere na corrente lide, visto que os fatos e
fundamentos aqui alegados remontam ao ano de 2018, momento este anterior ao período
de negativação demonstrado pela ré.
Nesse contexto, a empresa ré usa tal situação para eximir-se de sua
responsabilidade e alegar que a lide não ensejaria compensação por danos morais em
virtude de já existir outras anotações no nome do autor. No entanto, como salientado
anteriormente a atual negativação em nada tem conexão com a lide em discussão.
Outrossim, no autos o autor comprova por meio de números de protocolos, sua
tentativa em buscar solucionar o problema administrativamente junto com a ré, que foi
incapaz de satisfazer as pretensões do autor, cancelando a linha mesmo reconhecendo e
dando baixa nos pagamentos feitos pela parte autora e posteriormente alegando outro
débito inexistente (R$ 109,20).
A atitude ilícita da parte ré se demonstra explícita, porquanto cobrou o pagamento
de serviços não cabiam ao autor, que inicialmente não havia contratado serviços de
telefonia da ré e após a contratação via telefone pagou as faturas referentes aos
serviços. Posteriormente a alegação de débitos (inexistentes) superiores a 90 dias e o

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cancelamento da linha feito de forma irregular e contra as determinações da ANATEL.
Cabe destacar que em nenhum momento a ré realizou alguma notificação de cancelamento
ou suspensão da linha telefônica do autor, sendo que este só teve ciência do motivo do
irregular cancelamento quando, de boa-fé, entrou em contato com os meios de atendimento
da empresa ré. E mesmo neste e-mail (presente nos autos), a ré não esclarece valores e
datas de vencimento dos supostos débitos.

Meritíssimo, como uma empresa pode reconhecer seu erro ao cobrar um débito
que já estava pago e mesmo assim permanece com o cancelamento da linha? Linha esta
que era essencial ao trabalho do autor, que foi prejudicado em sua atuação e sofreu
constrangimento visto que nem seus chefes conseguiam entrar em contato com ele para
tratar de questões essenciais ao trabalho. Prejudicando assim o meio de sustento do autor,
que teve que lidar com questões de ordem de sua reputação como profissional e social.

Cabe destacar ainda a dificuldade do autor em contratar outros serviços devido a


diminuição que ocorreu em seu score perante o SERASA em decorrência de cobrança de
débito inexistente da empresa ré, o que também causou constrangimento de ordem pessoal
no autor.

É esperado que de empresas de grande porte como a ré, tenha sistema confiável
para realizar esclarecimentos ao cliente, porém não é o que vemos no campo factual, visto
que a empresa nem sequer tinha reconhecido os pagamentos da autoria, só tomando
conhecimento destes mediante envio de comprovantes de pagamento para o atendimento.
Desta forma, meritíssimo, não podemos ter confiança no sistema que a ré apresenta, visto
que este não confere ao consumidor um aspecto basilar do direito: segurança das
informações.

Neste sentido, não faz conexão a esta lide a quantidade de ações acionadas
perante a ré. O que buscamos resolução é o caso do autor, que fora lesado em diversos
âmbitos já citados na lide.

Dessa forma, não há nenhuma justificativa cabível para explicar a negligência


da empresa ré diante da não demonstração dos motivos, valores e prazos que
levaram ao cancelamento da linha, assim como a manutenção do cancelamento
mesmo reconhecendo os pagamentos feitos pela autoria e posterior cobrança de
débito que já estava devidamente pago, ainda tal dívida contribuiu para diminuir seu
SCORE e afeta, mostrando que o perfil do autor é de um mal pagador. O score de
crédito é um dos itens avaliados na concessão de empréstimos, financiamentos e cartões,
com a perda de pontos é cerceado ao autor tais atividades tão importantes da vida

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financeira, fato que exprime o dano causado ao autor desta demanda. Fatalmente, a boa-fé
e o princípio da confiança foram desrespeitados.

Inegável afirmar a humilhação pela qual o autor passou, mesmo a parte requerida
tendo alegando que não tem responsabilidade no cancelamento indevido da linha e a
consequente cobrança de débito indevido, diminuição do score do autor perante o SERASA,
sendo esta uma situação na qual interfere de maneira geral os aspectos da vida financeira
do autor, sem qualquer justificativa capaz de exonerar a culpa da empresa ré que, de má fé,
realizou cobrança indevida.

Cabe, neste âmbito, salientar o teor da Súmula nº 192, deste egrégio tribunal que
imputa o serviço de telefonia como essencial e que a interrupção em sua prestação
configura dano moral. Neste sentido temos o trecho da decisão da Apelação Cível nº
0033027-98.2013.8.19.0038 TJRJ de relatoria da Ilma Des. Isabela Pessanha Chagas:

1- Ação de Obrigação de fazer c/c indenização por danos morais.


(...)
5- Dano moral configurado
6- Em relação à interrupção indevida do serviço de telefonia/internet,
o entendimento deste Egrégio Tribunal de Justiça é no sentido de
que os danos morais emergem de maneira in re ipsa, sendo
desnecessária a comprovação do dano, haja vista tratar-se de
serviço essencial.
7- Responsabilidade objetiva da ré que responde pelos danos
independentemente de culpa, nos termos da Lei consumerista;
(...)

Incabível, pois, qualquer alegação de dano justificável, posto que, reitera-se,


houve a tentativa extrajudicial de resolver o cancelamento e cobrança irregulares,
demonstrando boa-fé por parte do autor e total falta de transparência e clareza por parte da
ré, caracterizando-se prática manifestamente ilegal, nos termos do art. 6º, inc. VII, do CDC.

Por fim, repisa-se que indeferir a inversão do ônus da prova acarretará


desproporcional e intransponível ônus à autora por ser parte frágil nessa relação de
consumo, não há paridade de armas entre a concessionária e o autor, sendo a inversão do
ônus da prova fundamental para que o devido processo legal seja respeitado e para
que a autora tenha condições de reivindicar seus direitos.

​ III. DOS PEDIDOS

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Ante o exposto, resta claro que os argumentos trazidos pela ré se revelam
insuficientes para rechaçar os pedidos formulados pela parte autora, que se reporta
inteiramente à inicial.

Termos em que,
Pede Deferimento.

Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2021.


JORGE ALHADEF DOS SANTOS
OAB/RJ 232.532

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