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Tribunal de Justiça
Comarca de Santo Antônio de Pádua 226
Cartório da 2ª Vara
Av. João Jazbick, s/n Ed.FórumCEP: 28470-000 - Bairro Dezessete - Santo Antônio de Pádua - RJ e-mail:
sap02vara@tjrj.jus.br
Fls.
Processo: 0003668-86.2021.8.19.0050
Processo Eletrônico
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Em 14/06/2023
Sentença
Trata-se de ação de indenizatória por danos morais proposta por PEDRO HENRIQUE ALEIDA
RAMOS em face de CRED - SYSTEM ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO LTDA e
CONFECÇÕES EDIPADUANA EIRELI.
Em síntese, argumenta que em outubro de 2020 o autor realizou um pedido de crediário, sendo
informado que seu Score estava baixo, em 07/04/2021, chegou em sua residência uma carta do
SERASA informando que o seu nome estaria inadimplente. Neste mesmo seguimento, em contato
com o SERASA, foi informado, que haveria valor em aberto de compras feitas pelo cartão da Loja
É D+ ( 2ª ré), informando a inadimplência de compras no valor de R$ 322,94.
Sustenta que nunca chegou a adquirir cartões ou compra a prazo na referida loja, a qual
apresentou o comprovante de compra, no que a assinatura não é do autor, mesmo assim a
cobrança foi mantida.
Alega que pagou o valor de R$ 381,33 indignado, pois se não realizasse o pagamento o seu
nome iria permanecer negativado.
Contestação apresentada pela 1ª ré no index 84, com documentos de indexes 95/121. Sustenta,
em síntese, que tomou as devidas cautelas para evitar a eventual fraude, bem como efetuou a
conferência do documento com foto apresentado no ato da adesão com a pessoa que se
apresentou na loja como PEDRO HENRIQUE ALMEIDA RAMOS. Alega que caso comprovada a
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fraude, o que não se espera, não há que se falar em conduta maliciosa ou ilícita praticada pela Ré
no que tange ao apontamento realizado. Assim, o suposto criminoso celebrou um contrato com as
Rés em nome do Autor. Este negócio jurídico ensejou obrigações para ambas as partes, as quais
resumidamente são as seguintes: à Ré, disponibilizar o valor do crédito ao Autor, o que foi
realizado; ao Autor, efetuar o pagamento das faturas mensais.
Afirma que tomou as providências necessárias para conferência dos dados do Autor. É de notório
conhecimento, o que dispensa a produção de provas (CPC, art. 374-I), que ao se solicitar o cartão
de crédito em qualquer administradora, há todo um procedimento burocrático, com análise
profunda de documentos, histórico do cliente, crédito, entre outros. E não foi diferente deste caso.
À época houve diligência, ao máximo, para emissão utilização do serviço de utilização do cartão
de crédito, uma vez que o documento apresentado estava em perfeitas condições de
autenticidade. Assim, busca a improcedência dos pedidos formulados na inicial.
No index 155, certificado o decurso do prazo sem contestação apresentada pela 2ª ré.
No index 154, o autor informa que não tem mais provas a produzir.
No index 189, a 1ª ré se manifesta no sentido de que não tem mais provas a produzir.
É o relatório. Decido.
Inicialmente, vê-se que o feito comporta, à luz do que dispõe o artigo 355, inciso I do Código de
Processo Civil, julgamento antecipado, uma vez que se mostra absolutamente desnecessária a
produção de qualquer outra prova pelas partes, sendo certo que a controvérsia nos autos gira em
torno, tão-somente, de questões de direito.
Não restam dúvidas que sendo a relação entre as partes uma relação consumerista, nos termos
do art. 3º do CODECON, tem a parte ré responsabilidade objetiva sobre suas condutas, devendo
ressarcir o consumidor, no caso a parte autora, de eventuais prejuízos causados, sejam de índole
material ou de índole moral. Da mesma forma, deverão ser aplicadas, também, a responsabilidade
objetiva da parte ré e a Teoria do Risco do Empreendimento. Por ela, o réu deve responder
independentemente de culpa pelos serviços que oferece, bem como pelos riscos que deles podem
advir a terceiros. A única exceção seriam as hipóteses do artigo 14, § 3º do CDC, ou seja: que
tendo prestado o serviço o defeito inexiste ou culpa exclusiva do consumidor ou terceiro.
Assim sendo, a responsabilidade que se aplica ao caso é objetiva, não necessitando que a parte
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autora faça prova da culpa da ré, necessitando, no entanto, que reste provado o dano e a relação
de causalidade.
Como se sabe, o ônus da prova incumbe ao autor quanto ao fato constitutivo de seu direito, nos
termos do art. 373, I, CPC, e o entendimento sumulado pelo TJERJ no verbete nº 330 é de que:
"Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus
da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato
constitutivo do alegado direito".
Dessa forma, para análise do feito, deve ser visto o compromisso da parte autora com a prova que
lhe cabe, eis que deve trazer aos autos o mínimo respaldo probatório aos argumentos por ela
narrados.
Trata-se de ação em que o autor se insurge contra compras realizadas sem sua autorização, que
deram ensejo à negativação de seu nome. Segundo alega na petição inicial, realizou um pedido de
crediário, sendo informado que seu Score estava baixo, em 07/04/2021, chegou em sua residência
uma carta do SERASA informando que o seu nome estaria inadimplente.
Neste mesmo seguimento, em contato com o SERASA, foi informado, que haveria valor em
aberto de compras feitas pelo cartão da Loja É D+ ( 2ª ré), informando a inadimplência de
compras no valor de R$ 322,94. Contudo desconhece a dívida, pois não celebrou qualquer
negócio com as rés.
A parte ré pleiteia a improcedência dos pedidos formulados pela parte autora, sob as alegações
acima expostas.
A análise dos argumentos sustentados pelas partes e das provas constantes dos autos permitem
concluir pela improcedência da ação, já que não logrou êxito o autor em demonstrar, ainda que
minimamente, os fatos constitutivos do direito alegado na peça vestibular.
Cabe ressaltar que, em que pese se tratar de relação de consumo, incumbe à parte autora
comprovar minimamente os fatos constitutivos do seu alegado direito, nos termos do artigo 373, I,
do CPC, ônus do qual não se desincumbiu adequadamente.
A regra geral do sistema probatório brasileiro, portanto, é a de que à parte que alegar a existência
de algum fato incumbe o ônus de demonstrar a sua existência.
Nem a possibilidade de inversão do ônus da prova não retira do consumidor o ônus de produzir as
provas que lhe são possíveis, devendo comprovar, ainda que minimamente, os fatos constitutivos
do seu alegado direito.
Destaco que, instado por duas vezes a se manifestar em provas, afirmou, em uma, tão somente,
que não possuía outras provas a produzir, conforme se verifica no index 154, em outra, quedou-se
inerte (index 193). Assim, o autor, além de não trazer aos autos elementos probatórios de seu
direito, se desonera de produzi-los ao longo da dinâmica processual.
Não há nos autos qualquer documento que comprove, nem mesmo de forma indiciária, a
existência de qualquer ilicitude ou falha no serviço prestado pela parte ré.
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Nessa toada, urge salientar que a parte autora apresentou duas versões ao longo do processo,
afirmando na inicial que não possuía cartão ou qualquer vínculo com a demandada, in verbis:
"Desta feita, o autor foi até a loja física da 2ª ré e contestou que desconhecia esta compra, uma
vez que nunca chegou a adquirir cartões ou compra a prazo na referida loja". Após, na réplica
juntada no index 165, alega que possui cadastro junto à demandada, mas que a compra foi
realizada sem sua autorização, cite-se: "Salienta-se ainda que, o nome Juliana Almeida é mãe do
autor, conforme comprova em fls.17 junto ao RG do autor. (...) Diante disso, não há crime de
estelionato diante do caso em concreto, pois o autor não autorizou a utilização do seu crédito para
sua mãe, mas a segunda ré creditou o valor da conta em nome do autor, assim criando a
desavença, onde o nome do autor foi incluído ao SPC e SERASA".
A tela acostada no index 206 demonstra a relação contratual entre as partes. Nessa linha, a nota
fiscal de index 22 (págs. 23 e 27) indica que a maior parte da compra foi realizada com a utilização
do cartão da loja, no valor R$ 300,00 (trezentos reais). Assim, soa estranho que o autor não teve
ciência de que sua mãe tenha feito uso do plástico para compras, tendo em vista que utilizou um
cartão que estava sob sua guarda, com digitação de sua senha pessoal.
É importante destacar, ainda, que ao contrário do que alega o demandante, não ocorreu a
negativação de seu nome, sendo a tela de index 22 (pág. 25) mero apontamento da dívida.
Já a notificação de index 18 apresenta dívida dessemelhante à questionada nos autos, uma vez
que lá consta débito no valor de R$ 156,03 (cento e cinquenta e seis reais e três centavos), ao
passo que o autor impugna compra no valor de R$ 322,94 (trezentos e vinte e dois reais e noventa
e quatro centavos).
Assim, com efeito, a análise de tudo o que consta dos autos não permite concluir que tenha
ocorrido qualquer falha nos serviços prestados pela parte ré, nem que tenha sido praticado
qualquer ato ilícito por esta.
Pela relevância, colaciono julgado deste E. Tribunal de Justiça ao apreciar caso similar:
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Portanto, o pleito autoral não merece prosperar, não se vislumbrando a ocorrência de ato ilícito
praticado pela ré, a qual, nos termos do art. 373, inc. II, do CPC, comprovou fato desconstitutivo
do direito da parte autora, motivo pelo qual a improcedência dos pedidos é medida que se impõe.
Condeno a parte autora ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios, que
fixo em 15% (quinze por cento) do valor atualizado da causa, ficando suspensas suas
exigibilidades em razão da gratuidade deferida nos autos, na forma do artigo 98, §3º do CPC.
P. I.
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