Você está na página 1de 4

Ao Juízo do Juizado Especial Cível da Comarca de Mesquita – RJ

“É legal a cobrança do valor correspondente ao consumo registrado


no medidor, com relação à prestação dos serviços de fornecimento
de água e luz, salvo se inferior ao valor da tarifa mínima, cobrada
pelo custo de disponibilização do serviço, vedada qualquer outra
forma de exação.” (Súmula TJERJ 84. Grifos nossos)

Processo nº. 0808392-62.2022.8.19.0213


GERPRO nº. 170499643

LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S/A (“LIGHT”), empresa concessionária de


serviços públicos de energia elétrica, inscrita no CNPJ do MF sob nº 60.444.437/0001-46, com
sede na Avenida Marechal Floriano nº 168, Centro, Rio de Janeiro, RJ, CEP 20.080-002, nos autos
da ação em referência, ajuizada por MARIA CLAUDIANE FERREIRA TRAJANO, vem, por seus
advogados, na forma da legislação processual civil, apresentar sua MANIFESTAÇÃO aos termos
da petição inicial, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

DA REALIDADE DOS FATOS

De acordo com o caso em tela, a parte autora reclama efetuou troca de titularidade e
solicitou a religação da energia e não obteve êxito.

Assim, alegando que os procedimentos adotados pela Cia foram irregulares, resolveu
recorrer ao Judiciário a fim de ser indenizada pelo dissabor que informa ter vivenciado, contudo, não
traz aos autos elementos suficientes que embasem as suas alegações iniciais.

INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL

Inicialmente, é válido mencionar que os procedimentos realizados pela Cia foram


estritamente legais e com a plena anuência da parte autora. Cabe ressaltar que, existem débitos
em aberto vinculados ao cpf da autora.
Desta forma, observa-se que as alegações da parte autora não procedem, tendo em vista
que não trouxe à baila qualquer fundamento concreto que embasasse às alegações que informa em
sua inicial ou qualquer conduta ilegal ou danosa empreendida pela ré, devendo, consequentemente,
ser reconhecida a improcedência integral de seus pedidos.

INEXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS

Pelo exposto até aqui resta comprovada que a conduta empreendida pela LIGHT não
configura ato ilícito indenizável, diante da ausência do nexo causal.

Sem prejuízo, inexistente, no presente caso, o dano moral alegado pela parte autora,
porquanto para sua configuração não bastam meras alegações: deve ser comprovada, ao menos, a
existência de fato que pudesse, ainda que potencialmente, colocar a suposta vítima em situação de
afronta moral ou psicológica.

Não basta, portanto, alegar ter sofrido o dano moral, deve ser comprovada a ocorrência de
situação que o pudesse, ainda que potencialmente, causar; o que não foi feito nestes autos pela
parte autora (CPC, art. 373, I).

E mesmo que a LIGHT tivesse concorrido para os danos que a parte autora alega ter
sofrido (o que desde sempre se refuta) a improcedência de tal pedido ainda seria impositiva, pois os
fatos narrados na inicial refletem tão somente a ocorrência de mero dissabor decorrente de

2
atividades corriqueiras, hipótese insuficiente para a configuração do dano moral, conforme
sedimentado pelo STJ:

“O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão
que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito
de quem ela se dirige.”1

Além disso, tratando a hipótese de relação de consumo, estamos diante de um caso de


responsabilidade contratual, terreno em que eventual inexecução ou descumprimento de obrigação
não é capaz de ensejar dano moral, muito menos, indenizável, sendo a doutrina uníssona no sentido
de que “(...) mero inadimplemento contratual, mora ou prejuízo econômico não configuram, por si
sós, dano moral, porque não agridem a dignidade humana.” 2.

Ademais, a Súmula 2303 do TJERJ é taxativa no sentido de que a mera cobrança feita
através de missivas, ainda que considerada indevida, não tem o condão de configurar dano moral,
como na hipótese dos autos.

Desta forma, merece ser julgado improcedente o pedido de indenização por danos morais.

IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, CDC) é admitida somente quando presentes os
seus pressupostos. A norma insculpida no art. 373, I do CPC, prevê expressamente que cabe ao
autor o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito. Nesse mesmo sentido é a Súmula nº 330
da jurisprudência predominante do TJERJ:

"Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus


da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato constitutivo
do alegado direito." 4

No caso dos autos, a parte autora pretende a inversão do ônus probatório sem apresentar
qualquer documento hábil a comprovar as alegações deduzidas na petição inicial, ou seja, sem
desincumbir-se do ônus de fazer prova mínima dos fatos que embasam o direito alegado, razão pelo
qual o pleito é manifestamente descabido.

1
REsp n.º 606382-MS, 4ª Turma, Rel. Min. César Asfor Rocha, DJ 17.05.04.
2
FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil, Malheiros Editores, 5a. edição, pág.98.
3
"Cobrança feita através de missivas, desacompanhada de inscrição em cadastro restritivo de crédito, não configura dano
moral, nem rende ensejo à devolução em dobro.” (Referência: Processo Administrativo nº. 0013649 47.2011.8.19.0000
Julgamento em 22/11//2010 Relator: Desembargadora Leila Mariano. Votação unânime.)
4
Referência: Processo Administrativo nº. 0053831 70.2014.8.19.0000 Julgamento em 04/05/2015 - Relator: Desembargador
Jesse Torres. Votação por maioria.

3
DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE
AUSÊNCIA DE PROPOSTA DE ACORDO

Informa a parte Ré que não tem interesse em apresentar proposta de acordo, pois, após a
realização de análise da presente demanda e tratando-se do caso em apreço, certifica-se que, por
ora, não comporta composição.

Oportunamente, cabe esclarecer que a parte ré não se opõe ao julgamento antecipado da


lide e esclarece que não tem mais provas para produzir.

CONCLUSÃO E PEDIDOS

Por todos os motivos expostos, a LIGHT confia em que será acolhida a preliminar de
incompetência relativa deste d. Juizado, com a extinção do presente feito, sem resolução do mérito,
na forma do art. 51, inciso II da Lei nº 9.099/95 c/c art. 485, inciso IV do Código de Processo Civil,
sob pena de cerceamento de defesa, ou, no caso de ultrapassada a preliminar arguida, na
decretação da improcedência de todos os pedidos.

Protesta pelos meios de prova em direito admitidos, em especial, oral e documental


superveniente.

Por fim, requer, para fins do disposto no § 2º do artigo 272 do Código de Processo Civil,
que de todas as publicações supervenientes conste, única e exclusivamente, o nome do seu
procurador Dr. DÉCIO FREIRE, devidamente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil,
Seccional do Rio de Janeiro, sob o nº 2.255-A, sob pena de nulidade na forma do §1º do artigo
236 do Código de Processo Civil, e do artigo 272 § 1º , 2º e 5º do Novo Código de Processo Civil
com endereço profissional situado à Rua São José nº. 90 - 17° andar; Centro, Rio de Janeiro, RJ,
CEP: 20.010- 020 e endereço eletrônico acordolight@dfa30anos.com.br.

Nestes termos,
pede deferimento.
Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2022.

Décio Freire Rodrigo Freire

OAB/RJ 2.255-A OAB/MG 129.725

Fernanda Souza Penteado Lopes Cruz


OAB/RJ 228.943

Você também pode gostar