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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSA-MG.


 
 
 
 
 
 
Ação de execução de cheque 
Processo nº. 5008209-63.2022.8.13.0647
Exequente: REGINALDO BATISTA AZEVEDO
Executado: ALEXANDRE DOS SANTOS BARBOSA
 
 
                                      ALEXANDRE DOS SANTOS BARBOSA, brasileiro,
solteiro, empresário, portador do RG nº. M-5.024.612 SSP/MG e inscrito no
CPF sob o nº. 938.063.706-30, domiciliado nesta cidade de São Sebastião do
Paraíso/MG, vem, com o devido respeito a Vossa Excelência, por intermédio
de seu patrono que ao final subscreve -- instrumento procuratório acostado -
ofertar a presente

CONTESTAÇÃO

em face de Ação de EXECUÇÃO DE TITULO


EXECUTIVO ESTRAJUDICIAL aforada por REGINALDO BATISTA AZEVEDO,
já qualificado na peça exordial, em razão das justificativas de ordem fática e de
direito, abaixo estipuladas.
 
Inicialmente requer os benefícios da justiça gratuita, (CPC, art. 98, caput);
                                                                                                                             
                                       O Réu não tem condições de arcar com as despesas
do processo, uma vez que são insuficientes seus recursos financeiros para
pagar todas as despesas processuais.

                                      Destarte, o Contestante ora formula pleito de


gratuidade da justiça, o que faz por declaração de seu patrono, sob a égide do
art. 99, § 4º c/c 105, in fine, ambos do CPC, quando tal prerrogativa se
encontra inserta no instrumento procuratório acostado.       
                                     
FATOS
                                     
                                      Os acontecimentos evidenciados na peça vestibular
foram grosseiramente distorcidos. Há uma “grave omissão”, intencional, a qual
comprometeria, se estipulada pelo Autor, o recebimento de seu pretenso
crédito.

                                      Consideramos como “grave omissão”, porquanto


o Código de Processo Civil disciplina que:
 
Art. 80.  Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos; (grifei)
 
                                      No sucinto quadro fático, estipulado na petição inicial, o
Autor revelou que o cheque, alvo da pretensão deduzida em juízo, era fruto de
“relação comercial entabulada entre as partes”.

                                      Todavia, não trouxe maiores detalhes acerca dessa


inverídica relação comercial. Ao invés disso, andou longe de sequer mencionar
os fatos relacionados à ação de execução. Se dessa forma fizesse, evidente
que com maior facilidade seria desmascarado a farsa, recôndita nas
superficiais linhas inaugurais. Entretanto, com a prova documental, que ora
acostamos, não haverá nenhuma dificuldade na elucidação do propósito
injurídico que envolve a querela em espécie.
 
                                      Na verdade, o crédito perseguido tem origem ilícita: a
odiosa agiotagem.  
                                      O Autor é notório agiota que atua nesta cidade e os
referidos cheques foram inicialmente entregues a senhora Tanea Alves da
Silva em serviços outros, possivelmente ela entregou ao autor. O Requerido
NÃO conhece o Autor, sendo pego de surpresa com essa ação, movida por um
desconhecido.

Não existe e nunca existiu qualquer relação entre o


autor e o requerido.
Importante destacar que o Requerido fez
representação criminal na delegacia de polícia, porque desconhece a
pessoa do autor e jamais fez qualquer tipo de negocio com ele, se
tratando por tanto de uma fraude ou coisa pior.                                     
                                     
                                      Desse modo, o caso em análise merece uma profunda
e apropriada investigação probatória, notadamente quanto à origem ilícita do
suposto crédito em estudo.   

Tendo em vista que já fora protocolado na delegacia de


policia civil (doc. anexo), representação criminal, requer antes do julgamento, a
paralização desse feito, para aguardar o desfecho criminal da suposta
agiotagem e só em seguida, julgar esse processo. 
                   
Do direito
 
2.1. Inversão do ônus da prova
(verossimilhança das alegações)
 
                                      Segundo dispõe a Medida Provisória nº. 2.172-
32/2001 que:
 
Art. 3º -  Nas ações que visem à declaração de nulidade de estipulações com
amparo no disposto nesta Medida Provisória, incumbirá ao credor ou
beneficiário do negócio o ônus de provar a regularidade jurídica das
correspondentes obrigações, sempre que demonstrada pelo prejudicado, ou
pelas circunstâncias do caso, a verossimilhança da alegação. 
 
                                          Extrai-se da norma, acima demonstrada, que o
Contestante faz jus ao benefício da inversão do ônus da prova, em
contraposição aos ditames da Legislação Processual Civil (art. 373, inc. II).
Porém, compete-lhe, primeiramente, provar a “verossimilhança da alegação”.

                                      Existindo “indício”(s) ou “começo de prova” acerca dos


fatos alegados, a regra é a inversão do ônus da prova, conforme os ditames da
legislação em espécie.
                                      Segundo as lições de DE PLÁCIDO E SILVA, “indício”
vem a ser:
 
“Do latim ´indicium´ ( rastro, sinal, vestígio ), na técnica jurídica, em sentido
equivalente a presunção, quer significar o fato ou a série de fatos, pelos quais
se pode chegar ao conhecimento de outros, em que se funda o esclarecimento
da verdade ou do que deseja saber...
 
                    
Configura simulação, causa de nulidade do negócio jurídico, a realização de
contrato de compromisso de compra e venda para mascarar a verdadeira
contratação de mútuo feneratício com cobrança de juros acima do limite legal
(juros usurários, prática de agiotagem).

Os negócios jurídicos simulados, além de nulos, são imprescritíveis quando a


Lei não fixar prazo para exercício do direito de ação. Doutrina de Agnelo
Amorim Filho.
 

EMBARGOS DO DEVEDOR. AVALISTA. EXCEÇÕES RELATIVAS À


ORIGEM DO CHEQUE. AGIOTAGEM.
Verossimilhança das alegações, inclusive quanto à própria circulação do título.
Inversão do ônus da prova. MP 2.172-32/01. Reabertura da instrução. [ ... ] 
2.2. Necessidade de dilação probatória     
 
                                      Se acaso Vossa Excelência não entenda que existem
indícios de prova da prática de usura, com a necessária inversão do ônus da
prova (MP nº. 2.172-32/2001), o que se diz apenas por argumentar, de já o
Réu evidencia a necessidade de produção de provas.

                                      É costume daqueles que primam pela usura não


destacarem suas articulações em juízo, maiormente quanto à origem do
crédito.

                                      A propósito, vê-se, logo da exordial, que o Autor


trouxera a vaga alegação de que “aos títulos cambiários devemos aplicar as
regras de abstratividade, pois inerente ao Direito Cambial, impossibilitando a
investigação da causa debendi. ”
                                      É cediço que a agiotagem é uma prática nefasta, que
acompanha as transações negociais do homem há muito tempo. Tal odiosa
atitude costuma desenvolver-se na calada da noite, em contatos e visitas sem
a presença de testemunhas. Ninguém se denomina à sociedade como agiota,
maiormente quando esse é seu único meio de subsistência. Ademais, quanto
maior a desgraça financeira que acometa o devedor, com maior vigor o mesmo
age sobre a vítima. Quem se socorre de agiota está no fundo do poço, não
detém crédito ou até mesmo credibilidade no mercado, não sabendo mais a
quem recorrer.
                                      Assim, poucas são as chances de produzirem-se
provas contra essa sinistra atitude. Daí a lei, em bom tempo, propiciar a
inversão do ônus da prova.
                                      Por esse ângulo, o julgador deve ficar atendo a essa
situação de desvantagem do devedor. Restringir a produção de provas, seria o
mesmo que condená-lo ao pagamento do débito discutido em juízo.

                                      Assim, o julgador, ao decidir antecipadamente a lide


(CPC, art. 355, inc. I), deve antes atentar aos princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa, a fim de não subtrair das partes o direito de
provar o fato constitutivo de seu direito ou as causas extintivas, modificativas
ou impeditivas. Na hipótese, o eventual julgamento precoce ensejaria na
extirpação do direito do Contestante de discutir a relação material, inclusive de
produzir provas dos fatos, que ora alega nesta defesa.                        
 
Ora MM. Juiz, no caso em tela, o título objeto da malsinada ação não se
reveste de “certeza, liquidez e exigibilidade”, requisitos indispensáveis para
pretensão.
Ao revés, os títulos ora questionados, referem-se a uma dívida inexistente.
Destarte, sem maiores delongas, diante da exigência legal de que o título
executivo seja sempre líquido, certo e exigível, um de seus requisitos
substanciais é o de ser completo (Amílcar de Castro, Comentários ao Código
de Processo Civil,1ª Ed., vol VIII, nº 90, p. 57), tanto objetiva como
subjetivamente, o que, data máxima vênia, conforme demonstrado, não se
configura in casu.
Em redundante síntese conclusiva, saliente-se que seja pela inexigibilidade do
título, diante da ausência de liquidez, certeza e exigibilidade decorrente do ato
legitimo de sustação dos cheques, seja pela inexistência de qualquer transação
comercial entre o autor e réu, o acolhimento dos argumentos citados, com a
conseqüente improcedência da ação é medida que se impõe.
Diante do exposto, requer seja julgada improcedente a presente ação de
cobrança, tendo em vista a inexigibilidade do título decorrente da sustação do
epigrafado cheque, bem como pela inexistência de relação comercial entre as
partes.
Requer, ad cautelam, a produção de todos os meios de prova em direito
admitidos, especialmente o depoimento pessoal do autor, sob pena de
confissão, caso não compareça ou, comparecendo, se recuse a depor,
requisição, exibição e juntada de documentos e inquirição de testemunhas, as
quais serão arroladas oportunamente.
requer por derradeiro, a paralização desse feito, para aguardar o desfecho
criminal da suposta agiotagem e só em seguida, julgar esse processo. 
                   

Nestes termos
Pede e espera,
Deferimento!

São Sebastião do Paraíso-MG, 05 de maio de 2023

ADRIANO BORGES CAMPOS – Adv


OAB/MG 79.592

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