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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA

CÍVEL DE RIBEIRÃO PRETO/SP.

Processo 1016219-59.2019.8.26.0114

MARIA HELENA DOS SANTOS NICODEMO, já qualificada nos


autos da AÇÃO PELO RITO COMUM em epígrafe, que move em face de TIAGO
HENRIQUE GERALDO, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, vem,
perante Vossa Excelência, opor CONTRARRAZÕES DE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, com fundamento no artigo 1.023, §2°, do Código de Processo Civil.

I. DA TEMPESTIVIDADE

As Contrarrazões aos Embargos de Declaração devem ser


apresentadas no prazo de 05 dias, conforme dispõe o artigo 1.023, § 2º do Código de
Processo Civil.

No presente caso, considerando que resta pendente, ainda, a intimação


da embargada, verifica-se que o prazo de contrarrazões ainda não se iniciou.

Contudo, o novo Código de Processo Civil admite a tempestividade de


manifestações realizadas antes do início do prazo. Veja-se:

Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos


em lei.

(...)

§ 4º Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo


inicial do prazo.
Assim, considerando que as contrarrazões estão sendo apresentadas
nessas circunstâncias, com a manifestação espontânea da embargada, patente a sua
tempestividade.

II. SÍNTESE DAS ALEGAÇÕES E DO PROCESSO

Trata-se de Ação de Cobrança proposta pela embargada, em face do


embargante, através da qual alega, em síntese, que celebrou contrato de locação com o
embargante, afiançado por Anasis e Maria Aparecida.

Afirma que o locatário desocupou o imóvel deixando débitos em


aberto, os quais foram objeto de acordo celebrado entre as partes, no valor de R$
30.274,33 (trinta mil duzentos e setenta e quatro reais e trinta e três centavos).

Diante da inadimplência do valor da multa contratual por desocupação


antecipada, pendência de débitos de energia elétrica e água, além de danos materiais no
imóvel, requereu a condenação dos réus ao pagamento destes valores, bem como dos
valores objeto do acordo.

Ocorre que, em sede de sentença, o processo foi extinto sem


julgamento do mérito relativamente aos fiadores, condenando a parte autora, ora
embargada, ao pagamento das custas e honorários, parcialmente procedente para
condenar o réu, ora embargante, ao pagamento do valor objeto do termo de confissão da
dívida, ao pagamento de multa contratual por rescisão antecipada e dos débitos de
consumo de energia e água.

A autora, ora embargada, interpôs recurso de Apelação (fls.178)


visando a reforma da sentença, para determinar a obrigação dos fiadores em adimplir
com a obrigação, para majorar os honorários de sucumbência, bem como a anulação do
julgado parcialmente procedente que a condenou ao indevido pagamento de honorários
de sucumbência.

O embargante, irresignado, interpôs Embargos de Declaração,


suscitando a nulidade de citação aventada anteriormente, porém não decidida (fls. 241).
Ocorre que, como restará demonstrado logo a seguir, os Embargos não
devem ser providos.

III. DAS RAZÕES DE IMPROCEDÊNCIA DOS EMBARGOS

O Embargante opôs Embargos de Declaração afirmando que a


sentença é omissa, uma vez que não se posicionou a respeito da nulidade de citação
arguida anteriormente às fls. 157/160.

Contudo, destaca-se que não há que falar em nulidade de citação. Isto


porque, conforme se verifica às fls. 132/134, o AR voltou devidamente cumprido, o que
evidencia o recebimento da citação e ciência do ajuizamento da ação, o que perfaz o
atendimento ao contraditório.

Ainda que não fosse assim, a conduta do Embargante,


permanecendo inerte ao longo de todo processo e somente apresentando
manifestação cinco dias após a publicação da sentença, às fls. 157/160, demonstra
que ele tinha conhecimento do processo, não tendo contestado por acreditar que o
feito seria julgado improcedente.

Ademais, dispõe o artigo 239, §1º, do Código de Processo Civil, que o


comparecimento espontâneo do réu ou executado, supre a falta ou nulidade de citação:

Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu


ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição
inicial ou de improcedência liminar do pedido.

§ 1 º O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a


falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para
apresentação de contestação ou de embargos à execução

Portanto, considerando que o Embargante compareceu espontânea e


repentinamente, e de forma célere, logo após sua condenação, denota conhecimento do
feito, bem como a sua má-fé.

Ademais, não verificam motivos suficientes ou elementos concretos


aptos a ensejar a comprovação da nulidade de citação alegada pelo Embargante, o qual
não demonstra de forma concreta os elementos ou circunstâncias que conduziriam à
nulidade apontada, não passando de meras e vãs alegações desprovidas de certeza
quando ao vício do ato citatório.

Não havendo qualquer fato apto a inquinar a validade da citação, bem


como comparecendo espontaneamente ao processo, o que se verifica é a validade da
citação e a perfeição da composição do polo passivo da lide, não havendo qualquer
vício que conduza à nulidade do ato.

Neste sentido, diversas decisões do Egrégio Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO –


NULIDADE DE CITAÇÃO – COMPARECIMENTO
ESPONTÂNEO – DEVOLUÇÃO DE PRAZO – CONTRADITÓRIO
E AMPLA DEFESA – Hipótese em que o agravante compareceu
espontaneamente nos autos, após bloqueio de ativos via Sistema
Bacenjud, arguindo a nulidade de citação – Comparecimento
espontâneo que supre a nulidade da citação – Novo Código de
Processo Civil que estabelece, ainda, que referido comparecimento é o
termo inicial do prazo de embargos à execução, independentemente da
intimação acerca da decisão que venha a resolver eventual alegação de
falta ou nulidade de citação – Inteligência do art. 239, §1º, do NCPC –
Precedentes deste E. Tribunal de Justiça – Inexistência de violação ao
contraditório e ampla defesa – Decisão mantida – Agravo improvido.

(24ª Câmara de Direito Privado 28/03/2018 – 28/3/2018 Agravo de


Instrumento AI 20282282420188260000 SP 2028228-
24.2018.8.26.0000 (TJ-SP) Salles Vieira)

PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – MULTA


ADMINISTRATIVA – EMBARGOS DO DEVEDOR NULIDADE
DA CITAÇÃO – COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DO
DEVEDOR – NULIDADE SUPRIDA. Nos Embargos à execução
incide o princípio da eventualidade, com a concentração da defesa do
devedor, que tem o ônus processual de alegar toda matéria útil à
defesa (art. 16, §2º, da Lei 6.830/80), sob pena de preclusão.
Precedentes do STJ. Executado que se limitou a suscitar a nulidade da
citação. Vício que se considera suprido com o comparecimento
espontâneo do executado (art. 239, §1º, CPC). Desnecessidade de
renovação dos atos processuais. Sentença reformada. Embargos
improcedentes. Recurso provido.

(9ª Câmara de Direito Público 27/05/2020 – 27/5/2020 Apelação


Cível AC 10012202820178260335 SP 1001220-28.2017.8.26.0035
(TJ-SP) Décio Notarangeli)

Evidente, portanto, que não há que se falar em nulidade de citação no


presente caso, e, ainda que houvesse, ela teria sido provocada pelo próprio Embargante.
E, nesse sentido, conforme dispõe o artigo 276 do Código de Processo
Civil, a decretação da nulidade não pode ser requerida por quem lhe deu causa:

Art. 276. Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de


nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe
deu causa.

Considerando que, o Embargante, obviamente, tinha conhecimento do


feito e somente interveio nos autos após a sentença para tentar anulá-la sob o
fundamento de que não foi citado, quando a sua própria aparição nos autos demonstra
que a citação foi válida, ele não poderia suscitar a nulidade a que deu causa.

Por fim, destaca-se o que dispõe o artigo 277 do Código de Processo


Civil:

Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz


considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a
finalidade.

Sobre isso, destaca-se o entendimento do doutrinador Fredie Didier:

A invalidade processual é sanção que somente pode ser aplicada se


houver a conjugação do defeito do ato processual (pouco importa a
gravidade do defeito) com a existência de prejuízo. Não há nulidade
processual sem prejuízo (pas de nullité sans grief). (...) Há prejuízo
sempre que o defeito impedir que o ato atinja sua finalidade. (DIDIER,
Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Introdução ao Direito Processual
Civil, Parte Geral e Processo de Conhecimento, vol. I, Salvador, ed. Jus
Podivm, 2016, p.410.)

No presente caso, em que pese a citação tenha ocorrido em suposto


endereço diverso, resta evidente que a citação foi válida e atingiu a sua finalidade, que é
cientificar a parte acerca da existência da demanda, restando certificado nos autos o
recebimento da correspondência, o que aperfeiçoa o ato citatório.

Isto porque, conforme amplamente exposto, pela aparição espontânea


do Embargado nos autos, sobram indícios de que o mesmo já possuía ciência da ação
anteriormente e acompanhava os atos processuais de forma distante, aparecendo no
processo de forma dissimulada apenas quando foi do seu interesse.

Por fim, ressalta-se que, os Embargos de Declaração não se afiguram


como sendo o instrumento idôneo para reformar decisão judicial. Logo, caso o
Embargante não concorde com a sentença, deve utilizar o recurso apropriado, eis que os
embargos apenas se destinam a corrigir omissão, contradição ou obscuridade, em nada
se relacionando com eventual nulidade processual.

Assim, os Embargos de Declaração devem ser julgados


improcedentes, em razão da completa ausência de nulidade de citação, que, se houve,
foi claramente provocada pelo Embargante.

IV. DA MULTA

Diante de tudo que foi exposto, resta evidente o caráter protelatório


dos presentes Embargos de Declaração.

Em primeiro lugar, os Embargos de declaração visam ao


aperfeiçoamento do julgado, com o fim de suprir omissão ou eliminar contradição, bem
como esclarecer obscuridade ou corrigir erro material, não servindo como instrumento
processual idôneo a corrigir eventual nulidade processual, conquanto deva ser manejado
para tanto o recurso cabível.

Quando esse recurso é utilizado com fins manifestamente


protelatórios, o Código de Processo Civil prevê a aplicação de multa de 2% sobre o
valor da causa, que pode ser elevada em caso de reiteração, a 10% desse montante.

Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo


e interrompem o prazo para a interposição de recurso.

(...)

§ 2 º Quando manifestamente protelatórios os embargos de


declaração, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenar á
o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois por
cento sobre o valor atualizado da causa.

§ 3 º Na reiteração de embargos de declaração manifestamente


protelatórios, a multa será elevada a até dez por cento sobre o valor
atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficar á
condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da
Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a
recolherão ao final.
No caso, as alegações do embargante não se inserem nas hipóteses de
cabimento do mencionado recurso, tendo em vista a manifesta ausência de pontos a
serem analisados em sede de Embargos de Declaração.

Nesse ínterim, cumpre confirmar o entendimento do Egrégio Tribunal


de Justiça do Estado de São Paulo:

"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – INTUITO PROTELATÓRIO –


PRETENSÃO À REFORMA DO DECISUM EMBARGADO –
IMPOSIÇÃO DE MULTA - Hipótese em que os embargos de
declaração opostos não se prestam a cumprir a finalidade original a
que o legislador definiu no âmbito restrito de sua matéria, qual seja,
complementar ou corrigir a decisão/sentença eivada de omissão,
obscuridade, contradição – O proceder do embargante, que manejou
recurso manifestamente infundado, sem sequer apontar quaisquer dos
vícios que podem ensejar sua interposição, denota, claramente,
propósito protelatório – Intuito protelatório verificado, notadamente
porque reitera teses de mérito já superadas no decisum – Aplicação do
art. 1.026, § 2º, do NCPC – Imposição da multa em favor da parte
adversa, no importe de 1% sobre o valor atualizado da causa,
observada a gratuidade da justiça deferida em favor do embargante –
Precedentes – Embargos de declaração rejeitados, com determinação."

(TJ-SP - EMBDECCV: 21312489420198260000 SP 2131248-


94.2019.8.26.0000, Relator: Salles Vieira, Data de Julgamento:
30/09/2021, 24ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
30/09/2021)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – INEXISTÊNCIA DE VÍCIO –


NÍTIDO CARÁTER INFRINGENTE – NÃO CABIMENTO –
RECURSO PROTELATÓRIO - RECONHECIMENTO - RECURSO
REJEITADO COM IMPOSIÇÃO DE MULTA. I- Inexistindo na
decisão recorrida quaisquer das hipóteses a que alude o art. 1.022 do
CPC, de rigor a rejeição dos embargos declaratórios opostos; II-
Evidenciado o intuito protelatório dos embargos de declaração, de
rigor a imposição de multa a que alude o art. 1.026, § 2º, do CPC.

(TJ-SP - EMBDECCV: 20045954220228260000 SP 2004595-


42.2022.8.26.0000, Relator: Paulo Ayrosa, Data de Julgamento:
23/03/2022, 31ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
23/03/2022)

Portanto, considerando o caráter protelatório e ausência de interesse


recursal, deve ser fixada multa em 10% sobre o valor da causa atualizado, haja vista a
reiteração do recurso, que está atravancando a análise do recurso da Embargada e
impondo óbice imotivado ao regular prosseguimento do feito.

VI. DOS PEDIDOS


Ante o exposto, requer-se

a) sejam os embargos julgados improcedentes, conhecendo a ausência


de nulidade de citação, com base nos artigos 239, §1°, 276 e 277, todos do Código de
Processo Civil;

b) seja condenado o Embargante às penas atribuídas aos embargos


protelatórios, nos termos do artigo 1.026, §3º, do Código de Processo Civil, com a
aplicação de multa.

VII. DAS PUBLICAÇÕES

Por fim, requer que todas as intimações relativas a este processo sejam
feitas, exclusivamente, em nome do advogado Leonildo Munhoz Alves, inscrito na
OAB/SP sob o n° 337.636, sob pena de nulidade, nos termos do artigo 272, §5º, do
Código de Processo Civil.

Termos em que,

Pede deferimento.

Ribeirão Preto, 31 de maio de 2022.

LEONILDO MUNHOZ ALVES

OAB/SP n° 337.636

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