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DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

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CONCEITO DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E DE OBRIGAÇÃO

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Pontes de Miranda

“O Direito das Obrigações é ramo de direito em que se constituem relações jurídicas de


estrutura pessoal; mas, ainda assim, há direitos de estrutura pessoal que estão fora dele.

No Direito Romano, [...] o vinculum iuris prendia as pessoas do devedor e do credor, de


modo que o objeto da prestação era secundário. [...] O Direito Germânico [caracterizou] a
pessoalidade do direito e das pretensões como relação entre sujeito passivo e ativo, porém
sem a inserção da pessoa em si. [...] A concepção germânica preparou o princípio da
transmissibilidade das relações jurídicas de obrigação.

[...]

Os negócios jurídicos de direito das obrigações irradiam pretensões pessoais, isto é,


pretensões a que alguém possa exigir de outrem, debitor, que dê, faça, ou não faça, em
virtude de relação jurídica só entre eles. A pretensão supõe o crédito; a obrigação, a dívida.

[...]

Em sentido estrito, “obrigação” é a relação jurídica entre duas (ou mais) pessoas, de que
decorre a uma delas, ao debitor, ou a algumas, poder ser exigida, pela outra, creditor, ou
outras, prestação.

[...]

A técnica jurídica criou eficácia erga omnes a negócios jurídicos de direito das obrigações,
para que - no tocante ao credor - não tenham efeitos as alienações que o devedor leve a cabo -
extensão negativa.

Para que haja obrigação, é necessário que a prestação seja exigível. [...] O interesse do credor
é o que se satisfaz quando se solve a dívida. [...] Se o negócio jurídico versou sobre prestação
que não poderia, de modo nenhum, ser de interesse do outorgado, crédito não surge. [...] Se o
negócio jurídico produziu o crédito e a pretensão, mas, após a irradiação de efeitos, se
extinguiu o interesse do credor, extingue-se o crédito e, pois, a pretensão.”

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A Obrigação é uma relação transitória entre dois sujeitos, pois uma vez que o seu objetivo é
alcançado, extinto está tal vínculo entre as partes. Os sujeitos dessa relação são o devedor e
o credor.

Segundo Geraldo Neves, “a Obrigação consiste em um vínculo pelo qual uma pessoa (o
devedor) deve, em benefício de outra (o credor), uma determinada prestação, consistente
num ato ou numa abstenção.”

O objetivo da relação jurídica obrigacional é sempre o adimplemento do devedor, ou seja,


espera-se que o sujeito passivo cumpra a sua obrigação para com o credor. Portanto,
caso o devedor se torne inadimplente, o credor desenvolve então pretensão para usar os
meios legais de satisfação da obrigação. Por outro lado, quando o devedor é adimplente e
cumpre sua parte na relação jurídica, há, naturalmente, a extinção da obrigação.

Caso o sujeito passivo se torne inadimplente, ou seja, deixe de cumprir sua parte na
obrigação a qual obrigou-se, o sujeito ativo tem então a pretensão de ajuizar uma ação,
reclamando a jurisdição ao caso concreto. Isso quer dizer que o credor pode, por meios
judiciais, fazer com que o devedor cumpra sua obrigação.

Obrigação Contraída

Sujeito Passivo Adimplente Sujeito Passivo


Inadimplente
Extinção da obrigação
após cumprimento da Pretensão ao credor para
mesma. utilizar-se de meios legais
de satisfação da obrigação

Resumindo, tem-se que toda obrigação possui algumas características fundamentais:

Pergunta Elemento Observação

Quem? Credor e Devedor Elementos subjetivos.

O quê? Prestação positiva ou Elemento objetivo.


negativa.

Por quê? Vontade das partes, atos Natureza/ origem da


ilícitos e/ou leis. obrigação contraída.

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V A LE

Vontade Atos Leis


das partes Ilícitos

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ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO
CRÉDITO, PRETENSÃO, AÇÃO

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Pontes de Miranda

"Pretensão é o poder exigir a prestação, ainda que se trate de pretensão à abstenção.”

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SUJEITOS DA OBRIGAÇÃO

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Pontes de Miranda

“Não há credor sem alguém que deva, nem devedor sem alguém a quem se deva. [...] O
credor não é vinculado à obrigação, vinculado é o devedor. O credor apenas está na relação
jurídica, como sujeito ativo.”

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A Obrigação, como relação jurídica, se dá entre dois sujeitos: o credor e o devedor. O


Credor, também chamado de sujeito ativo ou accipiens, é o sujeito ativo da relação
obrigacional, pois é ele quem está buscando uma prestação ou o cumprimento da obrigação
de maneira ativa.

O Devedor, também chamado de sujeito passivo ou souviens, é o sujeito passivo da


relação por estar sendo chamado a atenção pelo credor da obrigação.

Credor é quem cobra, devedor é quem paga.

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Sujeitos da Obrigação

Sujeito Ativo Sujeito Passivo


Credor Devedor
Accipiens Souviens

“Os créditos são direitos, direitos pessoais.”

“À relação jurídica de obrigação corresponde pretensão. Porém nem toda pretensão é ligada à
relação jurídica de obrigação. Há, por exemplo, as relações jurídicas de direito de família,
como a pretensão à entrega da criança.”

“O crédito atribui ao credor o direito à prestação e faz o devedor “devê-la”. A pretensão


consiste em poder exigir a prestação. Se o devedor ainda não prestou, tem o credor a
pretensão, pretensão que, de regra pode ser exercida com a tutela jurídica estatal.”

“A ação é mais do que a pretensão, porque, com ela, não só se exige, age-se.”

“Pode faltar a ação, ou a ação e a pretensão, e continuar de existir o crédito. Pode faltar a
ação, e continuarem de existir crédito e pretensão. Pretensão e ação são efeitos do crédito.”

“O que não pode ser objeto da prestação e o fazer ou o não fazer que esteja imediatamente
ligado à personalidade, ao direito de família ou ao direito das sucessões.”

“Começa de existir o crédito desde o momento em que a prestação é devida. Prestação devida
não é, necessariamente, prestação que se pode reclamar. Pretensão há desde o momento em
que o titular do direito pode exigir a prestação.”

“Se a pretensão não é satisfeita, surge a ação, que, de ordinário, tende, com o pedido de tutela
jurídica, condenar o demandado a prestar.”

“O credor tem pretensão contra o devedor, isto é, pode reclamar a prestação que lhe é devida
e a que o devedor está na obrigação.

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TIPOS DE OBRIGAÇÕES

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Pontes de Miranda

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“O devedor tem de fazer ou de não fazer, de dar, ou de não dar, que também são fazer e não
fazer. Deve fazer, ou deve não fazer. [...]

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O devedor se obriga perante o credor a prestar-lhe uma obrigação, que pode ser positiva ou
negativa. A Obrigação positiva divide-se em duas: obrigação de dar e obrigação de fazer.
Já a obrigação negativa é apenas uma: obrigação de não fazer.

Obrigações Positivas Obrigações Negativas

Obrigação de Dar Obrigação de Fazer Obrigação de Não Fazer

Conforme Geraldo Neves, “a obrigação positiva implica em um dar ou fazer alguma


coisa. A obrigação de dar é a que tem por objeto a entrega, pelo devedor (ou alguém por ele)
ao credor (ou alguém por ele) de uma coisa, seja móvel ou imóvel, quer estivesse ou não
incorporada ao patrimônio do primeiro.”

Tipo da Obrigação Objeto da Obrigação

Entrega de uma coisa, seja móvel ou


Obrigação de Dar imóvel, quer esteja ou não incorporada ao
patrimônio do devedor.

De acordo com Clóvis Bevilaqua, “ Na obrigação de dar, a prestação consiste na entrega de


uma coisa. Já na obrigação de fazer, o objeto da prestação é um ato do devedor.”

Tipo da Obrigação Objeto da Obrigação

Entrega de uma coisa, seja móvel ou


Obrigação de Dar imóvel, quer esteja ou não incorporada ao
patrimônio do devedor.

Obrigação de Fazer Ato do devedor.

Ainda segundo Geraldo Neves, “a obrigação negativa, ao contrário, representa uma


abstenção por parte do devedor, que redunda em benefício ao credor. [...] Trata-se, daí, de
omitir, por obrigação convencional, uma conduta que, do ponto de vista legal, seria lícita.
[...] Daí não se caracterizar como obrigação negativa a de comprometer-se o devedor a não
praticar um ato já considerado pelo ordenamento jurídico como ilícito”.

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Tipo da Obrigação Objeto da Obrigação Sentido da Obrigação

Entrega de uma coisa, seja


Obrigação de Dar móvel ou imóvel, quer esteja Devedor - Credor
ou não incorporada ao
patrimônio do devedor.

Obrigação de Fazer Ato do devedor. Devedor - Credor

Abstenção por parte do


devedor. Ele deixa de fazer
algo que lhe seria lícito fazer
para que o credor se Devedor - Credor ou
Obrigação de Não Fazer beneficie com essa omissão. Terceiro*

Pode ser não dar; não fazer


ou suportar uma atitude de *Se obrigar a não vender um
outro (Geraldo Neves). produto a outra pessoa.

“A obrigação de não fazer consiste em abster-se o devedor de executar o fato a cuja


omissão se tiver obrigado”.

As obrigações negativas têm por conteúdo não uma mudança, mas a conservação da
situação. Por isso fala-se em um não dar, não fazer ou até mesmo um “suportar uma
atitude de outro a qual, em situações normais, teria o direito de impedir.” (Geraldo Neves).

⬐ ← Prestações

Positivas Negativas

⬐ ⬎ ↓
Dar Fazer Não Fazer

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OBRIGAÇÕES DE DAR

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Pontes de Miranda

“É preciso não se confundir a obrigação de dar com a transferência. Quem vende, obriga-se a
dar; ainda não dá. Se deu imediatamente após obrigar-se, obrigou-se e transferiu. [...] O dar já
é execução da obrigação.

[...] o acordo de transmissão determina que se adquiram os bens futuros à medida que se
tornem bens atuais.

Quem vende a coisa de outrem apenas não pode prestá-la sem que a adquira: nenhuma
impossibilidade objetiva existe, no momento da conclusão do contrato, que enseja caso de
resolução.

[...] Se, a despeito da alienidade o outorgante presta, presta o que não era seu, e ou (a)
adquire, depois, a propriedade, e dá-se pós-eficacização, ou (b) o credor que recebeu o que
não podia ser prestado satisfatoriamente pede a resolução de contrato. Se vem contra o
outorgante o terceiro, dono ou possuidor do bem prestado, há a ação por evicção.”

[Evicção: é uma garantia legal ofertada ao adquirente, já que se ele vier a


perder a propriedade, a posse ou o uso em razão de uma decisão judicial ou de
um ato administrativo, que reconheça tal direito à terceiro, possa ele recobrar
de quem lhe transferiu esse domínio, ou que pagou pela coisa.]

“No plano do direito das obrigações, a pós-eficacização suscita alguns problemas. Se o


alienante de coisa alheia adquire o que alienara, sem ter direito de propriedade, e no momento
da aquisição tem dívidas, pode ser penhorada, no momento da aquisição, a propriedade que
está a passar por ele? A resposta tem de ser negativa, desde que tenha eficácia erga omnes o
negócio jurídico de transferência. O direito do adquirente de que se trata é direito expectativo.

As obrigações de dar ou são obrigações de dar coisa certa ou obrigações de dar coisa incerta.
Observe-se, de início, que o conceito de certo aqui só se refere ao bem, à coisa, e não à
dívida. A dívida pode ser certa, posto que [embora] incerta a coisa que é objeto da obrigação.
De regra, as obrigações ditas certas e líquidas são obrigações certas de coisas incertas e
líquidas, isto é, concebidas com liquidez ou já liquidadas.”

[A liquidez diz respeito à extensão e à determinação do objeto da prestação


(art. 1.533 do Código Civil revogado). De fato, não se pode exigir de alguém

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a prestação de alguma coisa que não se sabe exatamente o que é. Portanto, a
liquidez diz respeito à exata definição daquilo que é devido e de sua
quantidade.]

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As obrigações de dar são aquelas que têm por objeto a entrega, pelo devedor, de uma
coisa ao credor. Essa modalidade de obrigação pode ser dividida em duas categorias:
obrigação de dar coisa certa e obrigação de dar coisa incerta.

⬐ Obrigações de Dar

Obrigações de Dar Coisa Obrigações de Dar Coisa
Certa Incerta

“A prestação de coisa liga-se imediatamente com a ideia de dar, prestar ou restituir.”

Segundo Rui de Alarcão:

Dar Prestar Restituir

Entregar ao credor algo que Coisas que serão postas à A coisa é devolvida para a
já lhe pertence desde a disposição do credor, para mão de quem é titular de sua
constituição do vínculo uso ou fruição, mas não propriedade, feita por quem,
saem da titularidade do temporariamente, valeu-se
ou devedor. de seu uso ou fruição.

que passa a ser dele em


virtude da própria entrega.

(Venda de coisa
determinada/ indeterminada)

“Em nosso sistema, constitui-se de um compromisso de entrega de coisa, e não a efetiva


entrega da coisa. Vale dizer, a obrigação de dar gera um crédito, e não um direito real. Para
que haja a constituição do direito real é imprescindível que haja o registro ou a tradição.”

Lafayette: “os direitos pessoais (obrigações) têm por objeto imediato, não coisas corpóreas,
senão atos ou prestações de pessoas determinadas. Um grande número destes atos, uma vez
realizados, dão em resultado um direito real ou conduzem ao exercício desse direito,todavia
não lhes destrói a diferença.”

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OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA

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Pontes de Miranda

“Coisa certa é a coisa individuada. As características apontadas só as tem a coisa que se há de


prestar. Noutros termos: os sinais distintivos bastam para a identificação. Não há outra que os
tenha a todos. Pelo menos um há de faltar às outras coisas do mesmo gênero. Se a coisa que
se há de prestar foi indicada com características que em sua totalidade outras coisas têm, é
uma dentro do gênero; não é coisa certa.

A obrigação de dar coisa certa é obrigação em que se determinou o objeto a ser prestado e se
individuou tal objeto. Por isso mesmo, o credor de coisa certa não pode ser obrigado a
receber outra, ainda que mais valiosa. De regra, tal obrigação tem por objeto coisa
não-fungível.

A obrigação de dar coisa certa abrange as acessões e as pertenças, salvo ressalva.

A executabilidade forçada em natureza não caracteriza as obrigações de dar.

As obrigações de dar não são apenas as de entregar a coisa para que o credor adquira a
propriedade. [...] a passagem da coisa não é característica da obrigação de dar.

Se a coisa se perde ou se deteriora antes de ser entregue ao credor - [...] - o que importa
saber-se é se houve culpa do devedor, ou se não houve. [...]

A perda da coisa certa tem como consequência nascer o direito à resolução do negócio
jurídico, cabendo ao devedor o ônus de alegar e provar que houve a perda, que inclui a total
destruição, e não ter tido culpa.

A resolução importa em que o devedor restitua o que recebeu do credor.

Se houve culpa do devedor, a resolução pode ocorrer, mas o credor tem pretensão a haver o
equivalente mais perdas e danos.

Num e noutro caso, o devedor tem de comunicar ao credor o que aconteceu. A resolução não
é automática, ipso iure. Nasce ao devedor [...] o direito formativo extintivo, que é o direito à
resolução. Com o exercício dele, pode o credor repetir [cobrar novamente] o que prestara. Se
houve culpa do devedor, não há direito de resolução: o credor tem pretensão a haver o
equivalente mais perdas e danos.

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Quando se fala de culpa do devedor, há de entender-se dele, do seu representante legal, ou
voluntário, ou do servidor da posse ou do auxiliar.

[no caso de coisa deteriorada] há alternativa: recebimento da coisa mais o valor que a coisa
perdeu; ou direito à resolução. Para exercer esse, é preciso não aceitar, ou, receber não sem
protesto, a coisa tal como se acha.

Se o devedor foi culpado, não há resolubilidade do negócio jurídico. [o credor terá direito a
receber indenização por perdas e danos].

O que acima dissemos só se entende com as obrigações de dar a coisa certa, que não é do
credor.

Enquanto a coisa certa não é prestada ao credor, pertence ao devedor. [...] Melhoramentos e
acrescidos são benfeitorias necessárias, úteis, ou voluptuárias. [...] As últimas não dão ensejo
a que, não as querendo pagar o credor, nasça ao devedor direito a resolução do contrato, ainda
se não as quiser toler o devedor.

[...]

Frutos que pendem, são frutos que ainda são parte integrante do bem. Se o devedor incorre
em mora, tem de prestar perdas e danos pelos frutos que pendiam no momento em que
deveria ter sido entregue a coisa certa.

[...]

No caso de venda da coisa móvel futura, os riscos são do devedor até o momento da tradição.
[...] Se a venda foi de colheita, tem-se de interpretar o contrato e, na dúvida, o credor assumiu
os riscos.

[...] Em se tratando de promessa unilateral, as regras jurídicas sobre os riscos incidem até o
dia em que o beneficiário recebe e após a recepção. [...] A situação do credor, que recebeu a
coisa certa e ainda não é dono, depende de se saber se o devedor já se liberou ou não. Se já
se liberou, não há dúvida que o credor enfrenta os riscos.

Quem restitui dá, porém dá o que não é seu, nem de terceiro, e sim do próprio credor, ou de
alguém que ao credor outorgou a entrega. Restitui-se o que é de propriedade alheia, restitui-se
o que é de posse alheia, restitui-se o objeto sobre que o credor tem algum direito que já
existia ao tempo do nascimento da obrigação. As obrigações de restituir são espécie das
obrigações de dar.

Se a coisa certa a ser restituída se perde sem culpa do devedor, a resolução é, pois, ipso iure,
sendo ao credor devido os seus direitos até o dia da perda. Se por culpa do devedor, não há

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que se falar em resolução, ou seja, o devedor deverá prestar o equivalente mais perdas e
danos.

Em caso de deterioração sem culpa do devedor, o credor deve recebê-la, sem direito a
indenização por perdas e danos.

No caso de culpa do devedor, ou o credor exige o equivalente, ou aceita a coisa certa no


estado em que se acha, com direito a reclamar, numa e noutra espécie, indenização por perdas
e danos.

Há compensabilidade do valor das benfeitorias com o dos danos, sendo para tal necessário
que existam ao tempo da restituição.

Poder ser que o devedor da coisa restituível tenha de melhorar ou aumentar a coisa. Importa
saber-se se houve despesa ou trabalho do devedor, ou se não houve. Se não houve, lucrará o
credor o melhoramento, ou aumento, sem pagar indenização. Se houve, as benfeitorias
necessárias e úteis são indenizadas, se feitas de boa-fé. Quanto às voluptuárias, feitas de
boa-fé, há o devedor o ius tollendi. Pela indenização daquelas, tem o devedor o direito de
retenção. Se de má-fé as fez, só lhe cabe a pretensão à indenização das necessárias.

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A obrigação de dar coisa certa está prevista nos arts. 233 a 242 do Código Civil. É
caracterizada pela entrega de um objeto determinado pelo gênero, qualidade e quantidade.
Via de regra, todo bem infungível é coisa certa, mas nem toda coisa certa será bem
infungível, visto que coisa certa é um bem determinado, individualizado e identificado.

Art. 85. do CC. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da
mesma espécie, qualidade e quantidade.

Quando a obrigação de dar coisa certa é cumprida, ela cumpre o seu objetivo e deixa de
existir. O credor vira um ex-credor e o devedor vira ex-devedor.

Justamente por se tratar de coisa certa, ou seja, individualizada, o credor não está obrigado a
aceitar objeto diverso do pactuado, ainda que mais valioso. Do mesmo modo, não pode exigir
do devedor de coisa certa a entrega de objeto diverso, ainda que menos valioso. (Digesto).

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida,
ainda que mais valiosa.
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A coisa certa a ser entregue abrange também os seus acessórios, se o contrário não for
previsto no acordo.

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Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange todos os acessórios dela embora não
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

Titularidade da coisa certa: a coisa pertence ao devedor até o momento da tradição, que é o
momento da entrega da coisa ao credor.

Art. 237 do CC: Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e
acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o
devedor resolver a obrigação.

Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes


[futuros].

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Dar também pode ser entendido como restituir, como no caso de um apartamento alugado.
Nesse sentido, por vezes o devedor terá de fazer melhoramentos, visando a manutenção da
coisa certa. As benfeitorias e os melhoramentos podem ser de três espécies: necessárias, úteis
ou voluptuárias.

Benfeitorias e
Melhoramentos
⬐ ↓ ⬎
Necessárias Úteis Voluptuárias

↓ ↓ ↓
Têm por fim conservar o São aquelas que facilitam ou Mero deleite ou recreio, que
bem com o fim de evitar a aumentam o uso do bem. não aumentam o uso
deterioração. habitual do bem, ainda que o
tornem mais agradável ou
sejam de elevado valor.

No caso de melhoramentos sem trabalho/esforço do devedor, o credor não precisa pagar


indenização ao devedor no momento em que a coisa lhe for restituída.

Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem
despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização.

Entretanto, se houve empenho do devedor nas melhorias, e se ele as fez de boa-fé, o credor
deve indenizá-lo no caso de benfeitorias e melhoramentos necessários e úteis. Em relação às
benfeitorias voluptuárias, ele não é obrigado, porém nasce ao devedor o ius tollendi (direito
do devedor de poder retirar as melhorias e benfeitorias que fez, no caso de não prejudicar a
coisa certa).

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Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou
dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias
realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé.

Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o


disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé.
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Se o devedor não entregar a coisa certa para o credor, este poderá ingressar na justiça para
forçá-lo a entregar a coisa.

Existem duas possibilidades pelas quais o devedor não cumprirá com a entrega da coisa certa:
a coisa se perde ou se deteriora.

A perda da coisa certa não implica apenas em uma perda material ou física, bastando para
tanto apenas a não entrega do objeto pelo devedor, ainda que este esteja muito bem
guardado em sua casa ou em qualquer outro lugar. Parte da doutrina se refere ao instituto da
perda como “descumprimento total”.

Se ela se perder sem culpa do devedor, deve-se analisar de qual espécie é a obrigação de dar.
Se for simplesmente dar coisa certa (dar se refere a algo que não era do credor antes), fica
resolvida a obrigação. Em outros termos, a perda implica na extinção da obrigação.

Se for uma obrigação de restituir, o credor deverá sofrer a perda, também extinguindo a
obrigação, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.

Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor,
antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para
ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo
equivalente e mais perdas e danos.

Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se
perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá,
ressalvados os seus direitos até o dia da perda.

Nos casos em que o devedor tem culpa, ou dá causa à perda, ele deve ao credor o pagamento
de indenização de perdas e danos.

Art. 239. Se a coisa se perder, por culpa do devedor, responderá este pelo
equivalente, mais perdas e danos.

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos


devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que
razoavelmente deixou de lucrar.

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⬐ ⬎
Impossibilidades
⟵ de entrega da
Coisa Certa

⬐ ⬎
A coisa se perde A coisa se
(não entrega da deteriora
coisa) (desconformidade)

Sem culpa Por culpa


(causa) do (causa) do
Devedor Devedor

↓ ↓
O devedor
Fica resolvida a responde pelo
obrigação. equivalente (em
(Extingue-se). dinheiro),
perdas e danos.

Já a deterioração da coisa certa deve ser interpretada também de maneira extensiva,


significando que o objeto entregue não está em conformidade com o que foi acordado
anteriormente. A doutrina chama a deterioração de “descumprimento parcial”.

Se a deterioração se dá em objeto restituível (que já era do credor antes da pactuação da


obrigação), e o devedor não tem culpa, cabe ao credor aceitar a coisa como se encontra, sem
direito à indenização.

Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver
a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.

Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar
no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou outro caso, indenização
das perdas e danos.

Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o


credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor,
observar-se-á o disposto no art. 239.

19
⬐ ⬎
A coisa se
deteriora
(desconfor
midade)

⬐ ⬎ ⬐ ⬎
Sem culpa Por culpa
(causa) do (causa) do
Devedor Devedor

O credor
O credor pode
pode aceitar a O credor Aceitar no
rejeitar a coisa pode estado em
coisa e com o rejeitar, que se
resolver a valor da exigindo o acha
Obrigação perda equivalente
abatido em dinheiro

Pode
reclamar
perdas e
danos

Se for restituível, ele aceita e não pode reclamar indenização se o devedor não tiver culpa.

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OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA

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Pontes de Miranda

A obrigação de dar coisa incerta supõe que a coisa se possa tornar certa. Torna-se certa a
coisa incerta sempre que se determina, segundo o gênero e qualidade, a coisa que há de ser
prestada. A obrigação de dar coisa incerta que não se poderia tornar certa não é obrigação:
não é nula, porque não se trata aí de impossibilidade do objeto, mas sim de
indeterminabilidade, que pré-exclui haver-se querido.

O objeto da prestação é determinado, nas obrigações genéricas, por algumas características de


gênero e qualidade. Nas obrigações de dar coisa certa, a prestação é indicada por seus sinais
particulares.

O outorgante pode determinar o gênero mediante as características que entenda e, se bilateral


o negócio jurídico, há de ter havido o acordo na determinação. Maior número de
características diminui o gênero. Uma delas, para maior exigência, é a de proveniência; outra,

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a do fabricante, ou a do lugar em que se acha a coisa. Menos características ou sinais se
apontaram, maior é a liberdade do devedor no escolher.

O devedor há de prestar o que é de gênero médio e qualidade média. Ao devedor cabe


escolher dentro da classe de coisas que podem ser prestadas (ius dispositivum).

Sem esse sinais (gênero e qualidade) não há determinabilidade. [...] o fato de só existir uma
coisa do gênero e qualidade não tira à dívida o ser dívida de coisa determinada pelo gênero e
qualidade. [...] nem é essencial que a determinação se cifre em sinais de gênero, nem,
tão-pouco, que seja fungível.

“pior” é o objeto abaixo do médio. “Melhor” é o objeto acima do médio.

A dicotomia das coisas em fungíveis e não fungíveis nada tem com a das obrigações em
obrigações de dar coisa certa e obrigações de dar coisa incerta.

As obrigações genéricas (= de prestar coisas determinadas pelo gênero e qualidade) podem


ser puramente genéricas ou restritamente genéricas, - aquelas permitem escolha dentro de
classe, essas, não, porque se reduziu a classe a ponto de ser sentido a escolha.

As obrigações alternativas põem em foco duas ou mais prestações, uma só das quais pode ser
executada, razão porque pode ocorrer alternatividade a respeito de duas ou mais obrigações
de gênero e qualidade.

o conceito de escolha não é o mesmo utilizado quando nos referimos à escolha das
obrigações alternativas. Por se tratar de escolha dentro do gênero ou subgênero (espécie), não
há escolha entre duas prestações: há escolha interna.

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Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao
devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior,
nem será obrigado a prestar a melhor.
Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente.
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda
que por força maior ou fortuito.

Vontade unilateral ou bilateral (contratos)

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