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DIREITO

CIVIL II
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Prof(a). Brenda Araújo
A relação jurídica
obrigacional e suas
características
A relação jurídica obrigacional:
É uma relação jurídica bilateral.

Obrigação: “é uma relação jurídica pessoal por meio


da qual uma parte (devedora) fica obrigada a cumprir,
espontânea ou coativamente, uma prestação
patrimonial em proveito da outra (credora)”,
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil Volume único.
São Paulo: Editora Saraiva, 2017. pág. 213.
A relação jurídica obrigacional:

A relação jurídica obrigacional é composta por credor


e devedor, são os sujeitos da obrigação.

Essa relação entre credor e devedor é ligada por um


fenômeno denominado vínculo, e desse vínculo surge
uma prestação (dar, o fazer e o não fazer).
Estrutura da relação jurídica obrigacional:

Dar – Obrigação positiva;


Fazer – Obrigação
Vínculo
positiva;
Não fazer – Obrigação
negativa.

Credor Devedor

Prestação
3 Elementos Básicos da RELAÇÃO OBRIGACIONAL:

01 Subjetivo ou Pessoal

02 Objetivo ou material

03 Imaterial ou Vínculo
01 Elemento Subjetivo: 2 Sujeitos

Sujeitos da relação jurídica, ou seja, o sujeito ativo


(credor) e o sujeito passivo (devedor).
Podem ser pessoas físicas ou jurídicas.

1 - Credor (sujeito ativo)

2 - Devedor (sujeito passivo)


02 Elemento Objetivo ou Material: Prestação

Diz respeito ao objeto da relação jurídica, que é a


prestação. A obrigação possui dois tipos de objeto
presentes na prestação como um todo.
1. OBJETO DIRETO/IMEDIATO: dar, fazer, e não fazer;
Ex: dar o carro. A atividade positiva ou negativa do
devedor. Prestação.
2. OBJETO INDIRETO/MEDIATO: é o objeto coisa em si;
Ex: o carro. (Pergunte o que?).
Objeto da obrigação = prestação
Objeto imediato

Entregar o carro

Objeto da prestação = carro


Objeto mediato
Para que a obrigação seja válida:

1) lícito;
O Objeto direto 2) Possível (física e
da Obrigação juridicamente possível);
deve ser 3) Prestação Determinada
ou determinável.

Ou seja, a prestação que não obedecer esses critérios


será NULA, INVÁLIDA.
Impossibilidade da prestação
A impossibilidade pode ser originária ou
superveniente, dependendo do tempo de sua
ocorrência.
a) Impossibilidade originária: ocorre no momento da
formação do negócio jurídico; no início.
b) Impossibilidade superveniente: é posterior a
formação do negócio jurídico obrigacional.
Aqui poderá ocorrer um aproveitamento parcial da
obrigação, conforme o caso.
Impossibilidade da prestação

Patrimonialidade em regra:
O direito obrigacional é em regra essencialmente e indispensavelmente
patrimonial.
Ex: Não é possível considerar válida relação obrigacional que tenha por
objeto direitos personalíssimos.
Uma pessoa não pode alienar a sua honra, além da própria
impossibilidade jurídica do objeto, temos uma ausência de
patrimonialidade da honra, prejudicando a existência e a validade da
obrigação e da prestação.
Patrimonialidade em regra:
“Embora a maioria das obrigações possua conteúdo
imediatamente patrimonial, como comprar e vender, alugar, doar,
etc., há prestações em que esse conteúdo não é facilmente
perceptível ou mesmo não existe”. SÍLVIO DE SALVO VENOSA.
Pág. 218.
Ex: Alguém que se obriga por contrato a não ligar som nos finais
de semana para não prejudicar o vizinho .
Não há uma expressão econômica direta, mas no inadimplemento
pode haver a eventual apuração das perdas e danos.
Características:
1) Duplicidade ou dualidade;
3) Transmissibilidade ou mudança subjetiva (os
sujeitos originais da obrigação podem mudar –
Transmissão da obrigação).
4) Determinabilidade (partes e a prestação
determinadas ou determináveis).
5) Sinalagma: direitos e deveres para ambas as
partes.
03 Elemento Imaterial: Vínculo Jurídico

É também chamado de elemento abstrato da


relação obrigacional, que é o vínculo. Ninguém vê o
vínculo jurídico, mas ele existe.

O vínculo é imaginário/abstrato.

Uma criação jurídica.


Binômio obrigacional do VÍNCULO:
Em relação ao vínculo, temos a existência a ideia
de binômio das obrigações.

Esse binômio chamado de schuld e haftung, que


são expressões do direito alemão.

Essas expressões traduzem a dualidade do


vínculo obrigacional.
Binômio obrigacional obrigação do VÍNCULO:
Schuld e Haftung
• Schuld significa débito. O schuld é uma relação
que envolve o Direito Civil.

• Haftung significa responsabilidade patrimonial.


E a responsabilidade patrimonial é uma relação
que atrela o Direito Processo Civil.
Binômio obrigacional obrigação do VÍNCULO:
Schuld e Haftung

Schuld Débito Regra: o devedor


concentra nele o schuld
(débito) e o haftung
(responsabilidade).
Responsabilidade
Haftung patrimonial
É possível o Schuld sem Haftung?

É possível o Haftung sem Schuld?


É possível o Schuld sem Haftung?
Sim!

Nos casos elencados no Art. 790 do CPC os


devedores que possuem o schuld, não terão a si
aplicados o haftung, pois essas pessoas elencadas
no artigo é que responderão pelo débito.
É possível o Haftung sem Schuld?
Sim!

É possível alguém responder com o seu


patrimônio sem que tenha sido a pessoa que
contraiu a dívida. Todos os elencados no artigo
790 do CPC.
Schuld e Haftung

Os artigos 789 e 790 do Código de processo Civil


trabalham o fenômeno do haftung que atribui a
responsabilidade patrimonial.

Em regra aquele que contraiu a dívida é quem tem


também a relação de obrigação patrimonial.
RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

1. Art.789, CPC = responsabilidade patrimonial


primária.

2. Art. 790, CPC = responsabilidade patrimonial


secundária.
Ex.: Fiador. No contrato de locação, o fiador não
é o devedor, o locatário que é o devedor. Se o
locatário não paga a dívida, os bens do fiador são
atingidos, embora o fiador não seja o devedor inicial
isso acontece devido ao Haftung (responsabilidade
patrimonial).
OBS:

O patrimônio considerado bem de família do devedor


do débito de condomínio não pode ser penhorado,
considerando a sua impenhorabilidade (Lei 8.009/90 –
dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família),
mas no caso do fiador, mesmo que o bem do fiador
seja um bem de família este poderá ser penhorado.
RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

As pessoas elencadas no artigo 790 do CPC não


são devedoras, mas respondem com os seus
bens.

São pessoas que, em tese, não fizeram as


dívidas, mas terão o atingimento dos seus bens.
RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL PRIMÁRIA > DO DEVEDOR.

Art.789, CPC.O devedor responde com todos os


seus bens presentes e futuros para o cumprimento
de suas obrigações, salvo as restrições
estabelecidas em lei.

OBS: é a regra: quem tem o schuld, tem o haftung.


RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL SECUNDÁRIA > DE TERCEIROS.
Art.790, CPC. São sujeitos à execução os bens:

I – do sucessor a título singular, tratando-se de


execução fundada em direito real ou obrigação
reipersecutória;

II – do sócio, nos termos da lei;

III – do devedor, ainda que em poder de terceiros;


RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL SECUNDÁRIA > DE TERCEIROS.

IV – do cônjuge ou companheiro, nos casos em


que seus bens próprios ou de sua meação
respondem pela dívida;

V – alienados ou gravados com ônus real em fraude


à execução;

(...)
RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL SECUNDÁRIA > DE TERCEIROS.
(...)

VI – cuja alienação ou gravação com ônus real


tenha sido anulada em razão do reconhecimento,
em ação autônoma, de fraude contra credores;

VII – do responsável, nos casos de


desconsideração da personalidade jurídica.
Direito Real x
Direito obrigacional

As Figuras Híbridas
Diferença entre o Direito Obrigacional e o Direito Real:

Lembrando que ambos são direitos patrimoniais.

DIREITO REAL (Ius in re – Direito do titular sobre


uma coisa).

DIREITO OBRIGACIONAL (jus ad rem – Direito de


crédito em face de outra pessoa).
Diferença entre o Direito Obrigacional e o Direito Real:

No DIREITO OBRIGACIONAL, há uma relação entre


dois sujeitos ou mais.

De um lado há o credor, e de outro, o devedor.


SUJEITO + SUJEITO
Diferença entre o Direito Obrigacional e o Direito Real:

O DIREITO REAL sempre será uma relação de um


sujeito com uma coisa.
Ex.: direito real de propriedade. SUJEITO + COISA
OBS:

O direito obrigacional para ser implementado,


concretizado, é necessário o comportamento do
devedor.
Direitos Reais X Direitos Obrigacionais
DIREITOS REAIS DIREITOS
OBRIGACIONAIS
OBJETO Coisa (bem) Prestação (obrigação)
SUJEITO PASSIVO Indeterminado Determinados ou
Determináveis
DURAÇÃO São perpétuos Transitório
FORMAÇÃO Criados somente por São ilimitados
LEI (números clausus
– art. 1225, CC)
EFEITOS Contra todos (erga Entre as partes
omnes)
AÇÃO Ação contra qualquer Somente em face do
OBS: termos em latim

erga omnes

Inter partes

números clausus
TEORIAS SOBRE A DIFERIACIAÇÃO DOS DIREITOS PATRIMONIAIS:

Em relação aos direitos patrimoniais, existem duas


teorias:

1) TEORIA UNITÁRIA:

2) TEORIA DUALISTA OU CLÁSSICA (Adotada no


Código Civil no nosso ordenamento).
1) TEORIA UNITÁRIA: tenta unir o direito real e o
direito obrigacional por meio do critério de relação
patrimonial. O direito real e o direito obrigacional
possuem aspectos de direito patrimonial e por isso a
teoria unitária tenta tratá-los de maneira conjunta. A
maior crítica é que não há possibilidade de tratamento
igual, pois há diferenças claras, como vimos no quadro
resumo.
2) TEORIA DUALISTA OU CLÁSSICA: divide os
direitos patrimoniais em dois: direito real e direito
obrigacional, que possuem características próprias, que
diferenciam uma situação da outra.

Essa teoria é a adotada no Código Civil no nosso


ordenamento.
OBS:
É possível o uso do direito obrigacional para
adquirir um direito real!

Ex.: compra e venda de propriedade. Compra e


venda é contrato, mas é o contrato pode ser
fontes obrigacional, certo?
OBS:

Transferência da propriedade:

Bem móvel: com a tradição – art. 1226 CC

Bem Imóvel: Registro – art. 1227 CC


O direito real só se concretiza com a tradição (entrega), a assinatura
do contrato somente gera a relação obrigacional de entregar ou pagar.
FIGURAS HÍBRIDAS DAS OBRIGAÇÕES

O QUE SÃO FIGURAS HÍBRIDAS?


As figuras híbridas são situações jurídicas
encontradas entre os direitos reais e os direitos
obrigacionais.

Elas possuem características de ambos os direitos.


Direito real:

Ex: uma pessoa que tem a propriedade de um


celular está diante de uma relação de direito real.
Figura híbrida:

Ex.: O proprietário de uma casa. A relação que o proprietário


tem com a casa é de direito real. Porém, supondo que seja um
condomínio de apartamentos e que esse proprietário tenha
que pagar a taxa condominial. Ele é devedor, e o credor da
taxa condominial é o condomínio.

Essa obrigação DECORRE DO DIREITO REAL DE


PROPRIEDADE.
Se ele não tem a propriedade daquele
apartamento, não é obrigado a pagar o
condomínio. Pois essa é uma obrigação que surge
em função do direito real, sendo um exemplo de figura
híbrida.
FIGURAS HÍBRIDAS
Modalidades de figuras híbridas:
Temos 3 hipóteses de Obrigações com característica real
e pessoal:
01 Propter rem

02 Ônus real

03 Eficácia real
01 Obrigação propter rem

Obrigação propter rem: também é denominada ob rem, e


significa obrigação própria da coisa;
Por ser vinculada à coisa. Ela tem origem com a própria
coisa, é transmitida com a coisa automaticamente
(acompanha a coisa), passando a ser uma obrigação
ambulatória.
O que significa ser “ambulatória”?

A obrigação se diz ambulatória por haver a


indeterminabilidade inicial do credor ou do devedor, mas
que mesmo assim gera prestações de natureza pessoal
que aderem ao direito real.
OBS:
É em razão dessa característica da obrigação
propter rem que quando se fala de IPTU, IPVA e taxa
condominial, quem for o futuro proprietário da coisa,
será o futuro devedor destas taxas,
independentemente se era proprietário na época em
que o débito se originou.
OBS:

O bem de família do devedor é impenhorável pelas


dívidas contraídas por ele. Porém, se o devedor deve
obrigações propter rem (obrigações próprias das
coisas), ele pode perder o próprio bem de família sobre
o qual essas obrigações propter rem recaem.
LEI Nº 8.009, DE 29 DE MARÇO DE 1990.
Dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família.

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo


de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, salvo se movido:

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas


e contribuições devidas em função do imóvel familiar;
OBS: O STJ criou uma súmula firmando o entendimento
que as obrigações ambientais possuem natureza
“propter rem”

As obrigações ambientais possuem natureza propter


rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou
possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do
credor. (SÚMULA 623, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
12/12/2018, DJe 17/12/2018).
02 Ônus Reais

Obrigação com ônus real: O ônus real é um gravame


que limita o direito real de propriedade sobre a coisa
(usufruto, enfiteuse, superfície, penhor, hipoteca).
Obrigações com ônus reais são obrigações que serão
inseridas com caráter mais definitivo na coisa, e que
limitarão o uso e o gozo da propriedade.
03 Eficácia Real

Obrigação com Eficácia Real: é relativa ao “Efeito” da


relação.
Importante entender que a obrigação tem eficácia inter
partes, (especificamente credor e devedor). Já o direito
real é erga omnes (efeitos oponíveis contra todos) e isso é
o efeito real.
Dessa forma, será hibrida a obrigação a qual foi
conferida eficácia real, ou seja, a obrigação passou a
ter eficácia erga omnes.
Ex: art. 576, CC.
Exemplo do art. 576, CC

Ex.: Uma pessoa alugou o apartamento de outra. No contrato


de locação, foi estipulada uma validade de 24 meses. Com 5
meses, o proprietário do imóvel resolveu vendê-lo.
De acordo com a lei do inquilinato, o proprietário tem que
oferecer esse imóvel à pessoa que o alugou. Porém, caso ela
não tenha interesse de comprá-lo, o proprietário pode então
vender.
Exemplo do art. 576, CC

De forma geral o comprador NÃO PRECISA ESPERAR


O CONTRATO DE LOCAÇÃO TERMINAR para fazer
com que o inquilino se retire do imóvel, pois o contrato
de locação é uma relação obrigacional interpartes.
Exemplo do art. 576, CC
Porém, é possível transformar uma relação
obrigacional interpartes em erga omnes, se for dada a
essa obrigação uma eficácia de direito real.

Se o contrato de locação for registrado, ele passa a ter


obrigação com eficácia real e aí sim o novo proprietário
deverá respeitar o tempo do contrato de locação.
Exemplo do art. 576, CC

As obrigações com eficácia real de cara alcançam a dimensão de


direito real por força da lei. Logo, não existe um acordo de vontade
das partes ao formá-la. Veja: é uma obrigação que existe em virtude
de lei. (Carlos Roberto Gonçalves, p. 15).

Vincula pessoas por força da lei. O vínculo tem caráter pessoal,


mas a existência dar-se de modo legal, característica peculiar de
direito real. Por isso é híbrida.
Modalidades de figuras híbridas:

Imagem: QUEIROZ, Roberta. Palestra Online. Direito Civil Obrigações Híbridas. 2020.
Referências:

GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil 2 -
Obrigações. São Paulo: Editora Saraiva, 2021.
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil Volume
único. São Paulo: Editora Saraiva, 2017.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil - volume único. 12. ed. São Paulo: Método,
2022.

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