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Terminologia
Obrigação é a face passiva de uma relação jurídica, mas este termo também se usa
para designar a relação jurídica no seu todo, também se chamando relações jurídicas de
crédito, não tendo necessariamente por objecto o pagamento de dinheiro, podendo
também vincular a entrega de outras coisas.
O sujeito activo diz-se credor e o sujeito passivo devedor, podendo existir uma
pluralidade de sujeitos em qualquer dos lados da relação jurídica.
O princípio da boa fé
Credor e devedor devem proceder de boa fé, com lealdade e correcção – artº. 762º
nº2 CC – manifestando-se este princípio na proibição do abuso do direito – artº. 334º CC,
sendo que, não é necessário que o agente tenha consciência de que o seu procedimento
seja abusivo, basta que o seja na realidade.
Estrutura da obrigação
Direito à prestação
Direito contra a pessoa do devedor, tendente a obter dele uma conduta positiva ou
negativa.
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A verdade, porém, parece estar na teoria unitária, segundo a qual o credor não
dispõe de qualquer direito autónomo sobre o património do devedor. Quando este não
cumpre, o credor, com o concurso do tribunal, obtém à custa do referido património a
prestação que lhe é devida ou a prestação originária, se ainda for possível, através do
instituto da execução específica (artº. 827º CC), ou, no caso oposto, uma indemnização
pecuniária que toma o lugar da primeira e passa a ser uma prestação debitória.
Os direitos reais são direitos sobre coisas; os direitos de crédito são direitos sobre
pessoas.
Os direitos reais traduzem-se num poder directo e imediato sobre determinados
bens; os direitos de crédito num poder dirigido contra determinada pessoa, tendente a
obter a sua colaboração.
Os direitos reais, porque se dirigem a coisas, gozam dos atributos da sequela e da
preferência, ou seja, podem reivindicar a coisa sobre que recaem, qualquer que seja a
pessoa que a detenha – sequela. Por outro lado, se foram constituídos sucessivamente
vários direitos reais sobre o mesmo objecto, os mais antigos prevalecem em relação aos
mais recentes - prevalência.
Sujeitos
Objecto: modalidades
Diz-se fungível quando pode ser realizada tanto pelo devedor como por terceiro,
sem prejuízo para o credor.
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É não fungível quando tem necessariamente de ser realizada pelo devedor – artº.
767 CC.
Em regra as prestações de coisa são fungíveis e as de facto são infungíveis,
podendo ser fungíveis quando se trata de mero trabalho material que não necessite de
muita confiança em quem o pratica.
Existem graus intermédios de fungibilidade, assim acontecendo quando a
prestação se mostra susceptível de ser executada, não por toda e qualquer pessoas, mas
por outras para além do obrigado.
No caso de incumprimento, se a prestação for infungível o credor apenas tem o
direito de pedir uma indemnização. Se a prestação for fungível, assiste-lhe a faculdade de
exigir uma indemnização ou requerer que o facto seja prestado por outrem à custa do
devedor – artº. 828º CC.
A prestação pode recair sobre coisa futura sempre que a lei não o proíba (artº.
399º CC). A lei, por exemplo, admite a venda de bens futuros – artºs. 880º e 893º CC,
mas já não como objecto de doação – artº. 942º nº1 CC.
A noção de coisa futura presente no artº. 211º CC não é muito esclarecedora, pelo
que, se entende por coisa futura:
-as coisas que já têm existência mas ainda estão integradas num outro objecto;
-as coisas que já têm existência autónoma mas ainda não pertencem ao sujeito;
Requisitos do objecto
Ser possível
Exige-se que a prestação seja realizável porque ninguém pode obrigar-se ao que
não é susceptível de cumprimento – artº. 280º CC.
Existem diversos tipos de impossibilidade:
Legal – resulta da lei, acto jurídico ferido de ilegalidade, como por exemplo, a
venda de um direito inalienável como os direitos de personalidade;
Facto jurídico
Garantia
O credor goza da protecção da lei, o que constitui a garantia do seu direito, que se
traduz na possibilidade de o realizar.
As garantias podem ser:
Garantias especiais – são pessoais quando outra ou outras pessoas estão adstritas a
realizar a prestação no caso de ela não se efectuar, sendo exemplo a fiança; são
reais quando se traduzem na afectação de determinados bens do devedor ao
pagamento de certas dívidas, sendo que, os credores munidos de garantias reais
têm preferência em relação aos demais. Exemplo de garantia real é o penhor.
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Obrigações naturais
Fontes das obrigações são os seus factos constitutivos, ou seja, os factos que lhes
dão origem.
As obrigações podem surgir de factos de qualquer espécie, sendo que, existem
categorias de fontes de obrigações que merecem ser tratadas especialmente, pela sua
maior importância, destacando o Código Civil as seguintes: contratos, negócios bilaterais,
gestão de negócios, enriquecimento sem causa e responsabilidade civil.
Conceito de contrato
Diz-se negócio jurídico o acto produtor de efeitos jurídicos que representam uma
aplicação do princípio da autonomia da vontade, traduzindo uma auto-regulamentação de
interesses. No exercício dessa autonomia manifestam a sua vontade com vista a produzir
efeitos jurídicos, vinculando-se à face do direito.
Os negócios jurídicos distinguem-se em:
Segundo o artº. 406º nº1 CC, o contrato deve ser pontualmente cumprido, ou seja,
cumprido ponto por ponto, satisfazendo todos os deveres dele resultantes e só pode
extinguir-se por mutuo consentimento dos contraentes, salvo quando a lei disponha em
contrário, como é o caso do art.º 1170º que refere o contrato de mandato, que por
requerer muita confiança é livremente revogável e o artº. 1229, uma vez que como a
empreitada interessa mais ao dono da obra do que ao empreiteiro, este contrato é
livremente revogável, mediante o pagamento de uma indemnização.
No tocante à eficácia do contrato vigora o princípio da relatividade, presente no
nº 2 do artº. 406º CC, segundo o qual, em regra, o contrato só vincula as partes
contraentes, excepto no contrato a favor de terceiros – artº. 443º CC – sendo dele
exemplo o seguro de vida.
Contrato promessa
O contrato promessa (artº. 410º CC) tem sempre como objecto a prestação de um
facto, que é a celebração de um contrato, o contrato prometido.
Este tipo de contrato tem todos os elemento de um verdadeiro contrato e existe
numa imensa variedade, como por exemplo, o contrato promessa de compra e venda, de
troca, de cessão de quotas, de arrendamento, de trespasse, de comodato, de depósito, de
mutuo, de constituição de servidão, de constituição de sociedade, de fiança, etc..
Princípio da equiparação
Em 1989 o Supremo Tribunal de Justiça emite um assento que põe fim à duvida
de como tratar um contrato promessa ao qual falta a assinatura de um dos contraentes,
dizendo que é nulo, excepto se for considerado um contrato promessa unilateral, sendo
essa a vontade das partes.
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Promessa unilateral
Neste tipo de contrato promessa em que se vincula apenas uma das partes, afasta-
se o prazo normal de prescrição de 20 anos (artº. 309º CC), permitindo-se ao tribunal
fixar um prazo de caducidade, a pedido de quem se obrigou – artº. 411º CC.
O Contrato promessa sem eficácia real não é registável, o que não colide com os
casos em que o registo provisório de aquisição pode ser efectuado com base num CP de
alienação – art.º 47º nºs 1 e 3 C.R.Pre.
Poderá este registo proteger o PC contra actos registados posteriormente que
afectem a sua expectativa de aquisição definitiva do direito de propriedade sobre a coisa
objecto do contrato prometido?
Conjugando os dois números do artigo anterior com a alínea b) do nº 2 do art.º 92
do CRPre., que dispõe que qualquer registo posterior incompatível com um registo
provisório anterior passa a ser registo provisório, segundo o exemplo das fotocópias,
existindo um registo provisório de aquisição, com base em CP de alienação, o registo de
um arresto posterior sobre o mesmo prédio deverá ser efectuado como provisório por
natureza.
Assim, se quem tem o registo provisório correr tudo normalmente, correndo tudo
normalmente, registar a aquisição definitiva, a prioridade retroage ao momento da
inscrição provisória – art.º 6º nº3 CRPre., não prevalecendo o arresto registado em data
posterior à daquele registo – art.ºs 47º e 92º nº 1 g) CRPre.
Segundo este artigo presume-se que a coisa entregue o seja a título de antecipação
de pagamento, ou seja, presume-se que tem carácter de sinal, nos casos de CP de compra
e venda.
Mas será que o âmbito de aplicação do art.º 411 CC se estende a outros contratos
de alienação?
Segundo o art.º 939º CC a norma aplica-se à compra e venda e a contratos
análogos, como por exemplo o direito de habitação – art.º 1484º CC, o contrato de
trespasse e o de cessão de quota.
-fazer sua a coisa entregue como sinal – nº2 art.º 442º CC;
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-neste caso, o PC pode ainda optar por receber o valor da coisa determinado
objectivamente no momento do não cumprimento da promessa, menos o valor
acordado no contrato promessa, mais o sinal e mais a parte do valor já pago.
propriedade horizontal, o prédio não se pode vender a retalho, logo, como se processará a
execução específica?
Segundo o art.º 1417º CC, só se pode constituir propriedade horizontal nos casos
nele descritos e nenhum deles se adequa a esta situação.
O art.º 10º DL 268/94 refere que assim que for celebrado o CP de compra e
venda, o promitente vendedor fica obrigado a exercer diligências de modo à constituição
da propriedade horizontal. Contudo há autores cuja opinião é a de que caso o promitente
vendedor não o faça, pode na sentença de execução específica ser efectuada a
constituição em propriedade horizontal, o que é muito difícil, na medida em que o juiz, na
altura, não possui os elementos necessários para o efeito.
Segundo o nº 2 do art.º 830 CC, entende-se ter havido convenção em contrário,
quando tiver sido estabelecido um sinal ou uma pena.
O nº 3 do mesmo artigo declara que a execução específica não pode ser afastada
nos CP a que se refere o nº3 do art.º 410º CC.
Relativamente ao nº 4, refere-se a situações, como por exemplo, a do construtor
que normalmente pede um empréstimo e constitui uma hipoteca como garantia, sendo
que esta passa a abranger a construção posterior. Este nº 4 dá a possibilidade ao
promitente-comprador de exigir ao promitente vendedor, em sede de execução específica,
para além do imóvel, o valor da respectiva hipoteca. Contudo esta pretensão esbarra no
art.º 696º CC, segundo o qual, a hipoteca é indivisível, subsistindo por inteiro sobre cada
uma das coisas oneradas.
Quanto ao nº 5, a excepção do não cumprimento não referida encontra-se presente
no art.º 428º CC, sendo que, pode acontecer que o promitente vendedor se recuse a
cumprir o contrato prometido porque o promitente comprador não entregou a totalidade
do preço. Nestas situações, o tribunal notifica o promitente-comprador para constituir um
depósito do dinheiro em falta, caso contrário o juiz julgará a acção improcedente.
No caso de se julgar procedente a acção de execução específica, para o que o
promitente vendedor possa tomar posse da coisa, há quem defenda que a sentença de
execução específica pode servir de execução específica, mas parece mais correcto que o
promitente comprador tenha que uma nova acção de reivindicação ou então tem de
propor uma acção declarativa na sentença de execução específica.
2ª PARTE
Art.º 762º nº1 – O devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a
que está vinculado.
Art.º 763º nº1 - A prestação deve ser realizada integralmente e não por partes,
excepto se outro for o regime convencionado ou imposto por lei ou imposto pelos usos.
O art.º 784, que remete para este artigo, trata das situações em que existem várias
dívidas do devedor, sendo que, no caso de este não as puder pagar, oferece critérios para
que se satisfaçam as obrigações de acordo com as possibilidades do devedor. O nº2 deste
artigo impõe ao credor ter de aceitar o cumprimento parcial da prestação do devedor,
contradizendo, assim, o art.º 763º, sendo que, a generalidade da doutrina e da
jurisprudência é da opinião de que o credor é obrigado a aceitar o pagamento faseado.
O cumprimento é um acto jurídico e como tal pode ser declarado nulo ou anulado
– art.º 295º. Assim, se isto ocorrer e a culpa for do credor, as garantias prestadas por
terceiros não renascem, ou seja, por exemplo, se o devedor tem fiador e cumpre a
obrigação, sendo este cumprimento posteriormente declarado nulo por causa imputável
ao credor, o fiador deixa de o ser, deixa de prestar garantia.
Art.º 767º nº1 – A prestação pode ser feita tanto pelo devedor como por terceiro,
interessado ou não no cumprimento da obrigação.
A prestação pode ser paga por um terceiro interessado, por exemplo, um familiar
do arrendatário que também more no prédio arrendado ou um sublocatário (sub-rogação
legal – art.º 592º nº1 C.C.). Pode também ser paga por um terceiro não interessado, ou
seja, aqueles que pagam uma divida sem terem uma relação directa com ela, como
aqueles que garantem a obrigação do devedor.
E no caso de um terceiro que efectua o pagamento por engano?
Segundo o art.º 477º do C.C. o terceiro tem direito à repetição.
Relativamente à situação em que um terceiro paga uma dívida com espírito de
liberalidade, como por exemplo, no caso de um pai que paga uma dívida de um filho,
está-se no âmbito de uma doação indirecta, segundo o art.º 940º nº1 do C.C.
Art.º 767º nº2 – O credor não pode, todavia, ser constrangido a receber de
terceiro a prestação, quando se tenha acordado expressamente em que esta deve ser feita
pelo devedor, ou quando a substituição o prejudique.
Art.º 768º nº1 – Quando a prestação puder ser efectuada por terceiro, o credor
que a recuse incorre em mora perante o devedor.
Art.º 768º nº2 – É, porém, lícito ao credor recusá-la, desde que o devedor se
oponha ao cumprimento e o terceiro não possa ficar sub-rogado nos termos do art.º 592º
do C.C.; a oposição do devedor não obsta a que o credor aceite validamente a prestação.
Art.º 770º - A prestação feita a terceiro não extingue a obrigação excepto…f) nos
demais casos em que a lei determinar