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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Obrigação em sentido amplo

Em sentido amplo, obrigação designa o lado passivo de qualquer relação jurídica,


abrangendo o dever jurídico, por força do qual uma pessoa se encontra vinculada a
observar certa conduta, o estado de sujeição que se traduz na submissão aos efeitos
jurídicos produzidos por iniciativa alheia, no exercício de um direito potestativo e
também o ónus que se traduz numa necessidade de adoptar determinado comportamento
para alcançar ou conservar uma vantagem própria.

Obrigação em sentido restrito

Em sentido restrito, obrigação contrapõe-se à sujeição e ao ónus e tem de


característico achar-se determinada pessoa adstrita a fazer algo no interesse de outra
pessoa também determinada ou determinável, ou seja, o vinculo jurídico por virtude do
qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação – artº. 397º
CC.

Terminologia

Obrigação é a face passiva de uma relação jurídica, mas este termo também se usa
para designar a relação jurídica no seu todo, também se chamando relações jurídicas de
crédito, não tendo necessariamente por objecto o pagamento de dinheiro, podendo
também vincular a entrega de outras coisas.
O sujeito activo diz-se credor e o sujeito passivo devedor, podendo existir uma
pluralidade de sujeitos em qualquer dos lados da relação jurídica.

O problema da patrimonialidade da obrigação

O interesse do credor não tem de revestir carácter económico, podendo tratar-se,


por exemplo, de um interesse, como por exemplo assistir a um espectáculo.
A prestação debitória, segundo o artº. 398º nº2 CC também não tem que assumir
carácter pecuniário, mas é duvidoso que possam existir obrigações cujo objecto não se
resolva em última análise num valor pecuniário.
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O problema da autonomia da obrigação

As obrigações dizem-se autónomas quando não estão subordinadas a vínculos de


diferentes espécie (real, familiar, sucessória), sendo não autónomas na hipótese inversa.
As obrigações autónomas constituem a regra, como é o caso as de compra e venda.
Os dois tipos de obrigação identificam-se pela estrutura, sendo ambas consideras
obrigações, sendo que, este regime só sofrerá as alterações que a lei lhes imprimir, como
é o caso do herdeiro só ter de cumprir os legados na proporção do seu quinhão hereditário
– artº. 2265º CC – que é uma verdadeira obrigação mas oferece especialidades
decorrentes da sua subordinação à relação sucessória.

O interesse do credor como fim da obrigação

A prestação a que se encontra adstrito o devedor destina-se a satisfazer o interesse


o credor, representando este interesse o fim da obrigação e por isso goza de protecção
legal – artºs. 398º nº2, artº. 443º nº1 e 446º nº1 CC), satisfazendo-se através da realização
da prestação pelo devedor ou por terceiro – artº. 767º CC.
O interesse do devedor acha-se subordinado ao interesse do credor, como se pode
verificar pelos artºs. 767º nº2, 792º, 808º, 793º e 802º CC. Contudo, existem excepções
como no caso das obrigações genéricas, em que o objecto é determinado apenas pelo
género, nas quais a escolha a fazer é da responsabilidade do devedor – artºs. 539º e 543º
CC.
O credor não está adstrito ao dever de receber a prestação. Tem apenas o ónus de
a receber e de dar a sua colaboração ao devedor para que cumpra.

O princípio da boa fé

Credor e devedor devem proceder de boa fé, com lealdade e correcção – artº. 762º
nº2 CC – manifestando-se este princípio na proibição do abuso do direito – artº. 334º CC,
sendo que, não é necessário que o agente tenha consciência de que o seu procedimento
seja abusivo, basta que o seja na realidade.

Estrutura da obrigação

Entre as múltiplas teorias defendidas, avultam a teoria dualista e a teoria unitária.


A teoria dualista dissocia a relação jurídica de crédito em dois elementos:

Direito à prestação

Direito contra a pessoa do devedor, tendente a obter dele uma conduta positiva ou
negativa.
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Direito sobre o património

Direito sobre os bens do devedor.

A verdade, porém, parece estar na teoria unitária, segundo a qual o credor não
dispõe de qualquer direito autónomo sobre o património do devedor. Quando este não
cumpre, o credor, com o concurso do tribunal, obtém à custa do referido património a
prestação que lhe é devida ou a prestação originária, se ainda for possível, através do
instituto da execução específica (artº. 827º CC), ou, no caso oposto, uma indemnização
pecuniária que toma o lugar da primeira e passa a ser uma prestação debitória.

Distinção entre direitos de crédito e direitos reais

Os direitos reais são direitos sobre coisas; os direitos de crédito são direitos sobre
pessoas.
Os direitos reais traduzem-se num poder directo e imediato sobre determinados
bens; os direitos de crédito num poder dirigido contra determinada pessoa, tendente a
obter a sua colaboração.
Os direitos reais, porque se dirigem a coisas, gozam dos atributos da sequela e da
preferência, ou seja, podem reivindicar a coisa sobre que recaem, qualquer que seja a
pessoa que a detenha – sequela. Por outro lado, se foram constituídos sucessivamente
vários direitos reais sobre o mesmo objecto, os mais antigos prevalecem em relação aos
mais recentes - prevalência.

Importância do direito das obrigações

O direito das obrigações detém grande importância teórica e prática, na medida


em que, representa a regulamentação jurídica da maior parte da vida económica,
aplicando-se tanto nas relações civis como comerciais.

Elementos das obrigações

A obrigação é uma relação jurídica e como tal compõe-se dos elementos da


relação jurídica em geral, ou seja, os sujeitos, pois estabelece-se entre pessoas, objecto
porque se traduz em poderes e deveres, facto jurídico porque nasce e depende de
determinados eventos e garantia, na medida em que protegida pela lei.
Em rigor, só os factos que criam e modificam a relação jurídica são elementos da
relação, contudo os extintivos também serão analisados na medida em que fazem
desaparecer o vínculo.
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Sujeitos

Sujeitos são as pessoas entre as quais se estabelece a relação obrigacional: o


sujeito activo ou credor que é aquele a favor do qual deve ser efectuada a prestação e
que pode exigir o seu cumprimento e o sujeito passivo ou devedor que é aquele sobre
quem recai o dever de a realizar.
Em cada um dos lados podem existir uma ou várias pessoas.

Objecto: modalidades

Objecto mediato e imediato

Objecto imediato é o conteúdo do vínculo, ou seja, os poderes e deveres, o


débito e o crédito.
Objecto mediato é a prestação devida, a conduta a que o devedor se encontra
adstrito no interesse do credor. Constitui a resposta à pergunta “o que deve o devedor?”.
As partes podem fixar livremente, dentro dos limites da lei, o conteúdo da
prestação – artºs. 398º nº1 e 405º CC, sendo que, o devedor está obrigado não só ao que
expressamente se estipulou, mas também ao que decorra do convencionado segundo as
regras da boa fé – artº. 762º nº2 CC e o princípio da diligência do bom pai de família –
artºs. 799º nº2 e 487º nº2 CC.
Sobre o devedor podem ainda recair deveres acessórios ou secundários, como por
exemplo, dever de guarda, de informação, de sigilo, etc., - artº. 762º nº1 CC.

Prestação de coisa ou de facto

A prestação de coisa ou “dare” consiste na entrega de um objecto que passou a


pertencer ao credor (entrega de coisa vendida) ou se entrega coisa que continua a
pertencer ao devedor, para que o credor a utiliza (entrega de prédio arrendado) ou ainda
se restitui coisa que fora facultada para utilização (devolução do objecto emprestado).
A prestação de facto ou “facere” consiste numa conduta do devedor diversa da
entrega de coisa. Pode tratar-se de um facto positivo ou acção se o facto devido for um
facto material (ex.: construção de um prédio) ou um acto jurídico (celebrar o contrato
prometido num contrato de compra e venda). Nas obrigações negativas o devedor está
apenas adstrito a não fazer (ex.: depois de alienar um estabelecimento, obriga-se a não
abrir outro na mesma localidade) ou a deixar fazer (obrigar-se a deixar um vizinho passar
por um prédio).

Prestação fungível e não fungível

Diz-se fungível quando pode ser realizada tanto pelo devedor como por terceiro,
sem prejuízo para o credor.
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É não fungível quando tem necessariamente de ser realizada pelo devedor – artº.
767 CC.
Em regra as prestações de coisa são fungíveis e as de facto são infungíveis,
podendo ser fungíveis quando se trata de mero trabalho material que não necessite de
muita confiança em quem o pratica.
Existem graus intermédios de fungibilidade, assim acontecendo quando a
prestação se mostra susceptível de ser executada, não por toda e qualquer pessoas, mas
por outras para além do obrigado.
No caso de incumprimento, se a prestação for infungível o credor apenas tem o
direito de pedir uma indemnização. Se a prestação for fungível, assiste-lhe a faculdade de
exigir uma indemnização ou requerer que o facto seja prestado por outrem à custa do
devedor – artº. 828º CC.

Prestações instantâneas, continuadas ou periódicas

A prestação é instantânea quando consiste num acto isolado, como a entrega da


coisa pelo vendedor.
A prestação é continuada traduz-se numa conduta que se prolonga por um tempo
mais ou menos longo, como a do senhorio.
A prestação é periódica resolve-se em actos sucessivos, com intervalos mais ou
menos regulares, como a obrigação do inquilino de pagar as rendas, não se confundindo
esta com uma única obrigação prestada fraccionadamente, como é o caso de uma compra
a prestações, em que a prestação é instantânea.

A prestação pode recair sobre coisa futura

A prestação pode recair sobre coisa futura sempre que a lei não o proíba (artº.
399º CC). A lei, por exemplo, admite a venda de bens futuros – artºs. 880º e 893º CC,
mas já não como objecto de doação – artº. 942º nº1 CC.
A noção de coisa futura presente no artº. 211º CC não é muito esclarecedora, pelo
que, se entende por coisa futura:

-as coisas que ainda não têm existência;

-as coisas que já têm existência mas ainda estão integradas num outro objecto;

-as coisas que já têm existência autónoma mas ainda não pertencem ao sujeito;

A prestação pode recair sobre facto de terceiro

Verifica-se quando alguém, sem agir como representante doutrem, promete um


facto deste, tornando-se responsável pelos danos causados ao promissário no caso da não
realização do facto prometido.
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Se promete apenas usar a diligência necessária para conseguir que o terceiro


pratique o acto em causa, se não for atingido o desiderato, neste caso apenas responde se
não tiver utilizado a diligência necessária. Se promete a realização de um facto, responde
ainda que tenha usado da diligência máxima.

Requisitos do objecto

Conteúdo digno de protecção jurídica

A prestação deve corresponder a um interesse do credor digno de protecção


jurídica – artº. 398º nº2 CC e não apenas a um compromisso moral ou acto de cortesia.

Ser determinada ou determinável

É necessário que o conteúdo da prestação se encontre perfeitamente definido logo


de início, ou que essa definição possa vir a fazer-se em momento ulterior, com critérios
estabelecidos pelas partes ou pela lei – artºs. 280º nº1 e 400º CC.

Ser possível

Exige-se que a prestação seja realizável porque ninguém pode obrigar-se ao que
não é susceptível de cumprimento – artº. 280º CC.
Existem diversos tipos de impossibilidade:

Originária – é a impossibilidade contemporânea da constituição do vínculo


obrigacional, podendo ser definitiva ou temporária se for susceptível de
desaparecer num momento em que ainda ofereça interesse para o credor – artº.
401º nº1 CC;

Superveniente – impossibilidade que surge mais tarde, possibilitando que a


obrigação se constitua validamente, mas que mais cedo ou mais tarde será extinta
– artº. 790º CC;

Subjectiva – impossibilidade que afecta unicamente a pessoa do devedor, ou seja,


a obrigação constitui-se validamente e, ou a satisfaz o devedor se já não estiver
impedido, ou é satisfeita por intermédio de outrem que substitui o devedor;

Objectiva – afecta a prestação em si mesma, na medida em que ninguém a pode


executar – artº. 401º nº3 CC;
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Física – resulta da própria natureza da coisa, consiste num acto materialmente


irrealizável

Legal – resulta da lei, acto jurídico ferido de ilegalidade, como por exemplo, a
venda de um direito inalienável como os direitos de personalidade;

Além da possibilidade física e legal, o código também exige a sua licitude.


Falta este requisito quando a prestação se traduza numa conduta que a lei proíba,
como o furto ou a difamação, diferenciando-se esta da impossibilidade legal por
esta ter como defeito o facto de a prestação se concretizar num acto jurídico
inválido.

Facto jurídico

Os factos jurídicos podem ser:

Constitutivos – criam as obrigações, como é o caso do contrato;

Modificativos – introduzem alguma alteração, como por exemplo a alteração de


uma cláusula de um contrato;

Extintivos – põem fim às obrigações, como por exemplo, a prescrição ou o


pagamento de uma obrigação;

Garantia

O credor goza da protecção da lei, o que constitui a garantia do seu direito, que se
traduz na possibilidade de o realizar.
As garantias podem ser:

Garantia geral – pertence a todos os credores e consiste no facto de estes se


poderem fazer pagar à custa do património do devedor, constituindo este a
garantia comum dos credores – artºs 601º, 817º e 827º CC.

Garantias especiais – são pessoais quando outra ou outras pessoas estão adstritas a
realizar a prestação no caso de ela não se efectuar, sendo exemplo a fiança; são
reais quando se traduzem na afectação de determinados bens do devedor ao
pagamento de certas dívidas, sendo que, os credores munidos de garantias reais
têm preferência em relação aos demais. Exemplo de garantia real é o penhor.
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Obrigações naturais

Das obrigações civis distinguem-se as obrigações naturais, reguladas nos artºs.


402º, 403º e 404º CC e que são deveres cujo cumprimento não é exigível, mas que estão
sujeitas ao regime das obrigações civis em tudo o que não se relacione com a realização
coactiva da relação.
O devedor natural não pode ser compelido a efectuar a prestação, sendo que, se a
realizar não pode pedir-se a restituição da prestação e a prestação efectuada vale como
verdadeiro cumprimento da obrigação.
Não basta qualquer dever moral ou social, tem que se tratar de um dever de
justiça, como por exemplo no caso de se fazer um legado por meio de carta. O legado é
nulo por não se ter observado a forma que a lei existe. Daqui não nasce uma obrigação
civil mas sim uma obrigação natural, porque o dever de cumprir o legado é um dever de
justiça, só não transformado em obrigação civil pelo motivo exposto.
A lei alude expressamente a alguns casos de obrigações naturais, como é o caso
da obrigação prescrita (artº. 304º nº2 CC), obrigação natural de alimentos (artº. 495º nº3
CC) e obrigação proveniente de jogo ou aposta (artº. 1245º CC).

Conceito e espécies de fontes das obrigações

Fontes das obrigações são os seus factos constitutivos, ou seja, os factos que lhes
dão origem.
As obrigações podem surgir de factos de qualquer espécie, sendo que, existem
categorias de fontes de obrigações que merecem ser tratadas especialmente, pela sua
maior importância, destacando o Código Civil as seguintes: contratos, negócios bilaterais,
gestão de negócios, enriquecimento sem causa e responsabilidade civil.

Conceito de contrato

Diz-se negócio jurídico o acto produtor de efeitos jurídicos que representam uma
aplicação do princípio da autonomia da vontade, traduzindo uma auto-regulamentação de
interesses. No exercício dessa autonomia manifestam a sua vontade com vista a produzir
efeitos jurídicos, vinculando-se à face do direito.
Os negócios jurídicos distinguem-se em:

Negócios jurídicos unilaterais (art.º 457º CC)

Só intervém uma parte, podendo-se apontar como exemplos o testamento


– art.º 2179º CC e a promessa unilateral – art.º 459º CC. Vigora o princípio da
tipicidade, o que quer dizer que só existem os que se encontram tipificados na lei.
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Negócios jurídicos plurilaterais

Negócio jurídico em que intervêm mais do que uma parte, denominando-


se também por contratos, o que significa que os contratos unilaterais, como por
exemplo o depósito (art.º 1185º CC), o comodato (art.º 1129 CC), o mutuo (artº.
1145 CC) são negócios jurídicos plurilaterais, mesmo não sendo sinalagmáticos,
uma vez que podem implicar obrigações para ambos os lados, como é o caso da
doação (artº. 963º CC) que pode ser pura (gratuita) ou onerosa (com encargos).
Neste tipo de negócios jurídicos vigora o princípio da liberdade contratual
– artº. 405 CC.

Culpa na formação dos contratos

O art.º 227º CC estatui a responsabilidade pré-contratual, que é uma


responsabilidade contratual. Divide a fase pré-contratual em duas fases: a fase
negociatória que é constituída pelas actos tendentes à celebração do contrato e a fase
decisória constituída pela conclusão do acordo, sendo que, quem actuar com culpa e sem
boa fé nalguma destas fases responderá pelos danos que causar.
Casos padrão da responsabilidade pré-contratual são:

-contratos inválidos ou ineficazes, ou seja, por violação dos deveres de lealdade


ou de verdade os contratos são nulos, como por exemplo no caso de uma das
partes não informar a outra de que a compra de um imóvel necessita de escritura
pública, o que a não acontecer leva a que o contrato seja nulo;

-contratos válidos e eficazes mas que só se consolidam por inacção da parte


prejudicada, como é o caso de numa loja nos venderem gato por lebre, sendo que
são contratos anuláveis;

-contratos não concluídos porque uma das partes rompeu injustificadamente as


negociações. Há que distinguir entre interesses patrimoniais positivos que são
aqueles que resultam do facto da expectativa do cumprimento do contrato já
assinado e os interesses patrimoniais negativos que são os interesses ligados ao
facto de que quem entra em negociações para a celebração do contrato tem
interesse em que o contrato seja assinado. A responsabilidade pré-contratual tem
por objecto os danos negativos porque não são de indemnizar os danos positivos
na medida em que o contrato não chegou a nascer provido de eficácia.

O nº 2 do art.º 227º CC prevê que a responsabilidade proveniente da culpa na


formação do contrato prescreve nos termos do art.º 498º CC, ou seja, no prazo de três
anos a contar da data em que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete.
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Efeitos dos contratos

Segundo o artº. 406º nº1 CC, o contrato deve ser pontualmente cumprido, ou seja,
cumprido ponto por ponto, satisfazendo todos os deveres dele resultantes e só pode
extinguir-se por mutuo consentimento dos contraentes, salvo quando a lei disponha em
contrário, como é o caso do art.º 1170º que refere o contrato de mandato, que por
requerer muita confiança é livremente revogável e o artº. 1229, uma vez que como a
empreitada interessa mais ao dono da obra do que ao empreiteiro, este contrato é
livremente revogável, mediante o pagamento de uma indemnização.
No tocante à eficácia do contrato vigora o princípio da relatividade, presente no
nº 2 do artº. 406º CC, segundo o qual, em regra, o contrato só vincula as partes
contraentes, excepto no contrato a favor de terceiros – artº. 443º CC – sendo dele
exemplo o seguro de vida.

Espécies de contratos quanto à sua regulamentação

A lei autonomiza e regula uma série de contratos regulando os seus elementos e


efeitos – contratos típicos ou nominados. Contudo, estes, não são exclusivos, ou seja, as
partes podem adoptar outros modelos, dentro da sua liberdade de contratar – contratos
atípicos ou inominados.
Contratos socialmente típicos são as combinações contratuais que se encontram
enraizadas na prática e que por isso são quase típicos mas não o chegam a ser.
Os contratos mistos resultam da fusão de dois ou mais contratos ou de partes de
contratos distintos.

Contrato promessa

O contrato promessa (artº. 410º CC) tem sempre como objecto a prestação de um
facto, que é a celebração de um contrato, o contrato prometido.
Este tipo de contrato tem todos os elemento de um verdadeiro contrato e existe
numa imensa variedade, como por exemplo, o contrato promessa de compra e venda, de
troca, de cessão de quotas, de arrendamento, de trespasse, de comodato, de depósito, de
mutuo, de constituição de servidão, de constituição de sociedade, de fiança, etc..

Contrato promessa de doação

Há dúvidas sobre a possibilidade da sua celebração, sendo que, a doutrina tem


dito que sim mas a jurisprudência tem ido em sentido contrário.
Entende-se que a promessa de doação constitui, no nosso sistema jurídico, um
contrato válido de doação, uma vez que, o contrato prometido é um acto devido,
“assumindo, o doador, uma obrigação em benefício do outro contraente … por espírito de
liberalidade (sem esperar nada em troca)” – artº. 940º CC. É excluída, no entanto, a
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possibilidade de execução específica, pois a natureza da doação justifica que as partes


conservem a possibilidade de desistir, sendo que nessa situação incorrem em
responsabilidade civil por incumprimento.

Contrato promessa de partilha

O contrato promessa de partilha surge como um contrato típico da crise conjugal,


tornando seguro o destino dos bens e facilitando o mútuo consenso na extinção do
vínculo matrimonial.
Têm sido levantadas dúvidas na doutrina e jurisprudência, mas recentemente tem
sido considerado válido.
O principal argumento contra a sua aceitação era o de que só pode haver um
contrato promessa de um contrato que se possa realizar – princípio da equiparação artº.
410º nº1 CC e a lei não permite aos cônjuges a realização de uma partilha, excepto nos
casos nela previstos.
Contudo, e segundo o artº. 410º nº1 CC, o objecto de um contrato promessa pode
ser, em princípio, qualquer negócio jurídico, logo a partilha não se encontra afastada.
Assim, entendeu-se que o contrato promessa de partilha é um contrato sujeito a
uma condição, condição essa que é a de virem a criar-se condições de modo a que haja
uma partilha, sendo que, no caso de não existirem motivos para tal, cessa o contrato
promessa.
A partir de que momento se poderá celebrar validamente?
O contrato promessa de partilha, segundo a doutrina, será valido se for celebrado
num momento em que tenham terminado as relações de convívio conjugal.

Princípio da equiparação

O contrato promessa tem um horizonte, um referencial, que é o contrato que as


partes pretendem celebrar e é lá que tem que ser definido o conteúdo do contrato
prometido.
As excepções residem no facto de o contrato prometido se afastar do contrato
promessa quanto à forma, que é estipulada pelo artº. 219º CC e quanto à razão de ser,
porque, por exemplo, é valido o contrato promessa de venda de coisa alheia, mas inválida
a venda de coisa alheia.

O problema da falta de uma assinatura

Em 1989 o Supremo Tribunal de Justiça emite um assento que põe fim à duvida
de como tratar um contrato promessa ao qual falta a assinatura de um dos contraentes,
dizendo que é nulo, excepto se for considerado um contrato promessa unilateral, sendo
essa a vontade das partes.
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Decorrente deste assento surge a dúvida de saber se este consagra a tese da


nulidade parcial (redução) ou da nulidade total (conversão).
A conversão consiste na transformação de um negócio nulo noutro de conteúdo
diferente, do qual se mantenham os requisitos essenciais da forma e substância e cujo fim
é o que queriam as partes se não tivesse ocorrido a invalidade – artº. 293º CC. Acontece,
por exemplo, no caso da A vender a B uma casa por escrito particular, mas enquanto o
faziam lembraram-se que era necessário escritura pública e declaram que se necessário
esse escrito particular teria um valor de contrato promessa. Quando acontece a conversão
é a parte que está interessada em que surja o outro negócio que tem de fazer prova.
A redução ocorre porque a nulidade parcial não determina a invalidade de todo o
negócio, salvo quando se mostre que este não teria sido concluído sem a parte viciada –
artº. 292º CC. Quando acontece a redução é a parte que está interessada que o negócio
seja todo nulo que terá de efectuar a prova.
A tese que prevaleceu foi a da redução.
Relativamente ao artº. 410º nº3 CC, este estabelece requisitos de modo a que o
contrato seja válido, sendo que, o vendedor só pode invocar a omissão destes requisitos,
quando essa omissão tenha sido causada culposamente pelo comprador.
Sendo nulo o contrato por falta de algum dos requisitos necessários, levantou-se a
questão de saber quem poderia invocar essa nulidade, sendo que, em 1994 o Supremo
Tribunal de Justiça emitiu um assento que decretava que a omissão dos referidos
requisitos não poderia ser invocada por terceiros, tornando esta nulidade numa nulidade
mista ou atípica, mais próxima da própria anulabilidade. Acontece que neste assento não
se impediu a nulidade decretada oficiosamente pelo tribunal, o que veio a acontecer num
assento em 1995.

Promessa unilateral

Neste tipo de contrato promessa em que se vincula apenas uma das partes, afasta-
se o prazo normal de prescrição de 20 anos (artº. 309º CC), permitindo-se ao tribunal
fixar um prazo de caducidade, a pedido de quem se obrigou – artº. 411º CC.

Transmissão de direitos e obrigações das partes

Segundo o artº. 412º CC, os direitos e obrigações resultantes de contrato


promessa, que não sejam de natureza exclusivamente pessoal, transmitem-se aos
sucessores das partes. Contrato promessa de natureza exclusivamente pessoal são por
exemplo os contratos promessa de trabalho ou de mandato, sendo que, estes, não são
transmissíveis.
A transmissão entre vivos e mortis causa está sujeita às regras gerais.
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Eficácia real da promessa

Em regra o contrato promessa, por ter simples eficácia obrigacional, só produz


efeitos jurídicos entre as partes, é uma prestação de facere e não de dare. Assim se o
promitente vendedor vender o prédio prometido a outro para além do promitente
comprador, este apenas terá direito a uma indemnização.
Atribuindo as partes, ao contrato promessa, eficácia real, este transforma-se num
direito real de aquisição ou numa promessa real e passa a prevalecer sobre todos os
direitos que posteriormente se constituam sobre a coisa, sendo que, os requisitos
necessários para o efeito se encontram descritos no artº. 413º CC.
Partindo do princípio que o registo tem força meramente consolidativa ou de
oponibilidade a terceiros, como proceder se A promete vender X a B, com eficácia real
registada e entretanto vende a C?
B tem de dirigir-se contra A e C em execução específica, sendo que, se não
houver essa possibilidade caduca a eficácia real.

O registo predial e o contrato promessa (sem eficácia real)

O contrato promessa com eficácia meramente obrigacional não é registável. De


registo obrigatório é a acção de execução específica (porque o seu fim é a constituição de
um direito de propriedade), bem como a sentença final transitada – artº. 3º nº1 a) e c)
CRPre., sendo que, o registo da acção é provisório por natureza – artº. 92º nº1 a) CRPre..
Proferida a sentença, se favorável, o registo provisório converte-se em registo definitivo,
com efeito retroactivo à data do registo provisório – artº. 6º nº3 CRPre.
Por exemplo, se A promete vender X a B, mas A acaba por vender X a C que não
regista, B propõe uma acção de execução específica contra A e regista a acção.
Ficará a posição de B protegida?
O entendimento maioritário é de que o direito que prevalece é de C porque B só
tem o registo de uma acção e na colisão entre o direito real de C e o direito de crédito de
B, prevalece o direito de crédito de C. O registo a acção de execução de específica de B
apenas amplia os efeitos da respectiva sentença, tornando-a oponível não só às partes mas
também a terceiros.
Já no caso de A prometer vender X a B; B instaura uma acção de execução
específica e regista, e posteriormente A vende X a C.
Neste caso, X é do B porque registou a acção antes de C ter registado a aquisição,
pelo princípio da retroactividade do registo – artº. 6º nºs 1 e 3 CRPre.
Noutra situação, se A vende X a B que não regista; de seguida A promete vender
X a C, que regista a sentença de execução específica antes do registo da aquisição, neste
caso, C adquire por aquisição tabular
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O problema do contrato promessa sem eficácia real com base em registo


provisório de aquisição

O Contrato promessa sem eficácia real não é registável, o que não colide com os
casos em que o registo provisório de aquisição pode ser efectuado com base num CP de
alienação – art.º 47º nºs 1 e 3 C.R.Pre.
Poderá este registo proteger o PC contra actos registados posteriormente que
afectem a sua expectativa de aquisição definitiva do direito de propriedade sobre a coisa
objecto do contrato prometido?
Conjugando os dois números do artigo anterior com a alínea b) do nº 2 do art.º 92
do CRPre., que dispõe que qualquer registo posterior incompatível com um registo
provisório anterior passa a ser registo provisório, segundo o exemplo das fotocópias,
existindo um registo provisório de aquisição, com base em CP de alienação, o registo de
um arresto posterior sobre o mesmo prédio deverá ser efectuado como provisório por
natureza.
Assim, se quem tem o registo provisório correr tudo normalmente, correndo tudo
normalmente, registar a aquisição definitiva, a prioridade retroage ao momento da
inscrição provisória – art.º 6º nº3 CRPre., não prevalecendo o arresto registado em data
posterior à daquele registo – art.ºs 47º e 92º nº 1 g) CRPre.

Art.º 441 CC – Contrato promessa de compra e venda


Excepção à regra do art.º 440º CC

Segundo este artigo presume-se que a coisa entregue o seja a título de antecipação
de pagamento, ou seja, presume-se que tem carácter de sinal, nos casos de CP de compra
e venda.
Mas será que o âmbito de aplicação do art.º 411 CC se estende a outros contratos
de alienação?
Segundo o art.º 939º CC a norma aplica-se à compra e venda e a contratos
análogos, como por exemplo o direito de habitação – art.º 1484º CC, o contrato de
trespasse e o de cessão de quota.

Art.º 442 CC – Sinal

Não existindo sinal, a indemnização rege-se pelos princípios gerais ou surge a


execução específica.
Havendo sinal, os direitos do PV são:

-fazer sua a coisa entregue como sinal – nº2 art.º 442º CC;
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-na falta de convenção em contrário (convenção que se presume se existir sinal ou


tiver sido fixada uma pena – art.º 830º nº2 CC), execução específica – art.º 442º nº
3 CC;

-sempre execução específica se o CP for dos referidos no art.º 410 nº 3 CC;

Havendo sinal, os direitos do PC, se não houve tradição da coisa, são:

-exigir o sinal em dobro – nº 2 do art.º 442º CC;

-na falta de convenção em contrário (convenção que se presume se existir sinal ou


tiver sido fixada uma pena – art.º 830º nº2 CC), execução específica – art.º 442º nº
3 CC;

-sempre execução específica se o CP for dos referidos no art.º 410 nº 3 CC;

Havendo sinal, os direitos do PC, se houve tradição da coisa, são:

-neste caso, o PC pode ainda optar por receber o valor da coisa determinado
objectivamente no momento do não cumprimento da promessa, menos o valor
acordado no contrato promessa, mais o sinal e mais a parte do valor já pago.

Art.º 830º CC – Contrato promessa

Através da execução específica a parte lesada solicita ao tribunal que produza a


declaração da parte que não cumpriu.
Assim, segundo o nº 1 deste artigo, sempre que não haja convenção em contrário,
sendo que em princípio as partes podem afastar a execução específica e sempre que a isso
não se oponha a natureza da obrigação assumida, como por exemplo nos casos de
contrato de trabalho ou de mandato, de prestação de serviços, de penhor, comodato,
depósito, mutuo, promessa de venda de coisa alheia e também na promessa de venda sem
consentimento do outro cônjuge.
Relativamente a este caso, até há pouco tempo considerava-se que mesmo que um
dos cônjuges fosse comerciante vigorava esta interdição.
Mais recentemente tem prevalecido a opinião contrária, fundamentada no art.º
1678º nº 3 CC, ou seja, tem sido entendido que quando o estabelecimento mercantil é
explorado por um dos cônjuges, o facto de ser um bem comum não legitima a
interferência do consorte na sua gestão, pelo que, a alienação de imóveis que façam parte
do objecto da empresa deve poder ser efectuada sem o consentimento do cônjuge do
empresário.
Em relação ao problema da promessa de venda de fracção em prédio ainda não
construído em propriedade horizontal, se o promitente vendedor não constituir a
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propriedade horizontal, o prédio não se pode vender a retalho, logo, como se processará a
execução específica?
Segundo o art.º 1417º CC, só se pode constituir propriedade horizontal nos casos
nele descritos e nenhum deles se adequa a esta situação.
O art.º 10º DL 268/94 refere que assim que for celebrado o CP de compra e
venda, o promitente vendedor fica obrigado a exercer diligências de modo à constituição
da propriedade horizontal. Contudo há autores cuja opinião é a de que caso o promitente
vendedor não o faça, pode na sentença de execução específica ser efectuada a
constituição em propriedade horizontal, o que é muito difícil, na medida em que o juiz, na
altura, não possui os elementos necessários para o efeito.
Segundo o nº 2 do art.º 830 CC, entende-se ter havido convenção em contrário,
quando tiver sido estabelecido um sinal ou uma pena.
O nº 3 do mesmo artigo declara que a execução específica não pode ser afastada
nos CP a que se refere o nº3 do art.º 410º CC.
Relativamente ao nº 4, refere-se a situações, como por exemplo, a do construtor
que normalmente pede um empréstimo e constitui uma hipoteca como garantia, sendo
que esta passa a abranger a construção posterior. Este nº 4 dá a possibilidade ao
promitente-comprador de exigir ao promitente vendedor, em sede de execução específica,
para além do imóvel, o valor da respectiva hipoteca. Contudo esta pretensão esbarra no
art.º 696º CC, segundo o qual, a hipoteca é indivisível, subsistindo por inteiro sobre cada
uma das coisas oneradas.
Quanto ao nº 5, a excepção do não cumprimento não referida encontra-se presente
no art.º 428º CC, sendo que, pode acontecer que o promitente vendedor se recuse a
cumprir o contrato prometido porque o promitente comprador não entregou a totalidade
do preço. Nestas situações, o tribunal notifica o promitente-comprador para constituir um
depósito do dinheiro em falta, caso contrário o juiz julgará a acção improcedente.
No caso de se julgar procedente a acção de execução específica, para o que o
promitente vendedor possa tomar posse da coisa, há quem defenda que a sentença de
execução específica pode servir de execução específica, mas parece mais correcto que o
promitente comprador tenha que uma nova acção de reivindicação ou então tem de
propor uma acção declarativa na sentença de execução específica.

O problema da falta de licença de utilização

Não havendo licença de utilização a acção tem de improceder, na medida em que,


segundo o art.º 1º DL 281/99, não podem ser celebradas escrituras públicas que envolvam
transmissão da propriedade de prédios urbanos sem que se comprove perante o notário a
existência da correspondente licença de utilização.
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2ª PARTE
Art.º 762º nº1 – O devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a
que está vinculado.

A prestação é a resposta à pergunta “o que deve o devedor?”, é o que o credor


pode esperar relativamente à conduta do devedor.
O devedor deve só a conduta ou também o resultado da prestação?
O devedor não está obrigado exclusivamente à prestação, mas também aos
comportamentos que a realização desta exige, sendo que, se estes comportamentos
(programa obrigacional que normalmente se protela no tempo) não poderem ser
implantados a prestação torna-se impossível, como acontece, por exemplo, nas prestações
finalizadas de fim único ou infungível (ex: pintura de um retrato – art.º 791º do C.C.) e
nas prestações temporizadas, ou seja, de prazo absolutamente fixo (ex: serviço de boda de
um casamento – art.º 792º nº2 do C.C.). O resultado (resultado da prestação que é a
realização do interesse do credor) incorpora a conduta. Por exemplo, num contrato de
empreitada o labor do construtor (conduta), é necessário para ser satisfeita a obrigação
final.
Contudo, existem obrigações de meios quando o devedor se compromete a, com a
sua máxima diligência possível, conseguir determinado resultado para o credor, não
garantindo que o consiga, como por exemplo, uma consulta de um advogado ou de um
médico e também obrigações de resultado, quando o devedor se obriga a conseguir
determinado resultado para o credor

Art.º 762º nº2 – No cumprimento da obrigação, assim como no exercício do


direito correspondente, devem as partes proceder de boa fé.

Proceder de boa fé significa que têm de ser cumpridos deveres acessórios ou


secundários, em relação à obrigação principal, como por exemplo, o dever de
esclarecimento, de lealdade, de guarda, etc.

Art.º 763º nº1 - A prestação deve ser realizada integralmente e não por partes,
excepto se outro for o regime convencionado ou imposto por lei ou imposto pelos usos.

O número 1 expressa o carácter indivisível da prestação, ou seja, mesmo que a


prestação possa ser divisível, como é o caso das prestações pecuniárias (por exemplo,
quando alguém se encontra obrigado a entregar 1000€, apesar de este montante ser
divisível, tem que ser pago integralmente de uma só vez).
Este preceito consagra três excepções: pode ser afastado pela vontade das partes,
o que o torna numa norma supletiva, se a lei impuser coisa diferente (ex: art.º 39º da
LULL, o portador de uma letra não pode recusar pagamentos parciais) e também pode ser
afastado pelos usos.
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O art.º 784, que remete para este artigo, trata das situações em que existem várias
dívidas do devedor, sendo que, no caso de este não as puder pagar, oferece critérios para
que se satisfaçam as obrigações de acordo com as possibilidades do devedor. O nº2 deste
artigo impõe ao credor ter de aceitar o cumprimento parcial da prestação do devedor,
contradizendo, assim, o art.º 763º, sendo que, a generalidade da doutrina e da
jurisprudência é da opinião de que o credor é obrigado a aceitar o pagamento faseado.

Art.º 766º - Se o cumprimento for declarado nulo ou anulado por causa


imputável ao credor, não renascem as garantias prestadas por terceiro, salvo se este
conhecia o vício na data em que teve notícia do cumprimento da obrigação.

O cumprimento é um acto jurídico e como tal pode ser declarado nulo ou anulado
– art.º 295º. Assim, se isto ocorrer e a culpa for do credor, as garantias prestadas por
terceiros não renascem, ou seja, por exemplo, se o devedor tem fiador e cumpre a
obrigação, sendo este cumprimento posteriormente declarado nulo por causa imputável
ao credor, o fiador deixa de o ser, deixa de prestar garantia.

Art.º 767º nº1 – A prestação pode ser feita tanto pelo devedor como por terceiro,
interessado ou não no cumprimento da obrigação.

A prestação pode ser paga por um terceiro interessado, por exemplo, um familiar
do arrendatário que também more no prédio arrendado ou um sublocatário (sub-rogação
legal – art.º 592º nº1 C.C.). Pode também ser paga por um terceiro não interessado, ou
seja, aqueles que pagam uma divida sem terem uma relação directa com ela, como
aqueles que garantem a obrigação do devedor.
E no caso de um terceiro que efectua o pagamento por engano?
Segundo o art.º 477º do C.C. o terceiro tem direito à repetição.
Relativamente à situação em que um terceiro paga uma dívida com espírito de
liberalidade, como por exemplo, no caso de um pai que paga uma dívida de um filho,
está-se no âmbito de uma doação indirecta, segundo o art.º 940º nº1 do C.C.

Art.º 767º nº2 – O credor não pode, todavia, ser constrangido a receber de
terceiro a prestação, quando se tenha acordado expressamente em que esta deve ser feita
pelo devedor, ou quando a substituição o prejudique.

Este nº2 constitui uma excepção ao nº1, nele se enquadrando as prestações


infungíveis ou finalizadas.
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Art.º 768º nº1 – Quando a prestação puder ser efectuada por terceiro, o credor
que a recuse incorre em mora perante o devedor.

A mora do credor encontra-se prevista no art.º 813º do C.C.


Um exemplo de uma prestação que pode ser efectuada por terceiro é o caso da
consignação de depósito por terceiro, prevista no art.º 842º do C.C.

Art.º 768º nº2 – É, porém, lícito ao credor recusá-la, desde que o devedor se
oponha ao cumprimento e o terceiro não possa ficar sub-rogado nos termos do art.º 592º
do C.C.; a oposição do devedor não obsta a que o credor aceite validamente a prestação.

A oposição do devedor só tem relevância se o terceiro não puder ficar sub-rogado,


ou seja, segundo o art.º 589º do C.C. ficar sub-rogado é ficar na mesma posição do
credor, passa a ter direito ao crédito sobre o devedor. Segundo o art.º 592º do C.C., a sub-
rogação legal ocorre quando o terceiro estiver directamente interessado (fiador, avalista),
ou seja, a lei coloca directamente o terceiro interessado na posição de credor.
Assim, por exemplo, se o fiador efectuar a prestação do devedor perante o credor,
o devedor tem que aceitar que este terceiro, sub-rogado nos termos do art.º 592 do C.C.,
pague, sendo que, se o 3º não é particularmente interessado, o credor pode recusar se o
devedor se opuser. Contudo, na parte final do artigo dá-se o poder de escolher ao credor
ao afirmar-se que a oposição do devedor não obsta a que o credor aceite validamente a
prestação.

Art.º 770º - A prestação feita a terceiro não extingue a obrigação excepto…f) nos
demais casos em que a lei determinar

Esta situação abarca a acção sub-rogatória expressa no art.º 606º do C.C.


Assim, se A é credor de B e devedor de C, sendo o crédito em relação a B o seu
único bem, se A nada fizer para cobrar a divida de B, mediante a conjugação do nº1 e do
nº2 deste artigo, C pode exigir o crédito directamente a B.

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