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Direito das Obrigações II

Causas de extinção das Obrigações além do cumprimento

1- Dação em cumprimento – Art.837º a 840º


2- Consignação em depósito – Art. 841º a 846º
3- Compensação – Art. 847º a 856º
4- Novação – Art. 857º e ss
5- Remissão – Art. 863º a 867º
6- Confusão – Art. 868º a 873º
7- Prescrição – Art. 300º a 327º

1.Dação em cumprimento – Art. 837º a 840º CC


é um acto de cumprimento da obrigação, assente sobre uma troca convencional de prestações,
tendo sempre o credor que dar o seu consentimento.
Ex.: A deve a B a entrega dum automóvel. Em cumprimento da obrigação e de acordo com B,
entrega-lhe o valor do automóvel em dinheiro.
Objecto:
-transmissão da propriedade de uma coisa;
-transmissão de outro direito (usufruto, crédito do devedor sobre terceiro);
-prestação pecuniária;
-prestação de facto.

Diferente da dação em cumprimento é a dação “pro-solvendo” cujo objectivo é facilitar o


cumprimento da obrigação – Art. 840º CC .
Ex.: A deve certa quantia a B, este exige que A aceite uma letra de igual valor. Assim, ao lado
da obrigação fundamental subsiste uma obrigação cambiária.
A dação “pro-solutum” extingue a obrigação (está pago).

2.Consignação em depósito – Art. 841º a 846º CC


Quando o credor se recusa a cooperar com o devedor, querendo este cumprir a obrigação.
É feito um depósito judicial da coisa devida, á ordem do credor, na C.G.D.
A consignação tem carácter facultativo sendo só aplicável ás prestações de coisas (prestação em
dinheiro ou outra natureza).
Ex.: A, vendedor de certa coisa, pretende entregá-la a B, comprador. B não se dispõe a aceitar a
entrega. A pode fazer o depósito da coisa, exonerando-se.
Sendo a consignação aceite pelo credor ou o Tribunal a considere válida, extingue-se a
obrigação.
Quando tem lugar ( 841º): Mora do credor e impossibilidade de o devedor, por motivo
relativo á pessoa do credor, efectuar a prestação.

3.Compensação – Art. 847º a 856º CC


É o meio de o devedor se livrar da obrigação, por extinção simultânea de crédito equivalente
que tenha sobre o seu credor. Encontro de contas.
- Compensação voluntária – havendo acordo das partes, a extinção das dívidas pode
operar-se mesmo sem a verificação dos requisitos exigiveis; negócio jurídico bilateral.
- Compensação legal – verificando-se os requisitos da compensação, a lei prescinde do
acordo de ambos os interessados , extinguindo-se a dívida por acto unilateral, é um
direito potestativo tornando-se a compensação efectiva perante declaração de uma das
partes á outra.
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- Compensação contratual ou voluntária – não se exigem requisitos como na


compensação legal. É frequente o acordo entre duas pessoas ou empresas no sentido de
estabelecerem um sistema de conta-corrente, em que apenas é exigível o saldo apurado.
Requisitos da compensação (legal )– Art. 847º CC :
- Reciprocidade de créditos (o devedor tem de ser credor do seu credor) Art. 851º;
- Possibilidade de o devedor impor ao credor a realização coactiva do crédito –Art.847º nr.1 a);
- As duas obrigações têm de ter como objecto coisas fungíveis, da mesma espécie e qualidade –
Art. 847ºnr. 1 b);
- Obrigações pecuniárias;
- Obrigações genéricas da mesma espécie e qualidade.
Retroactividade- Art. 854º - Daqui resulta que, se já estivesse prescrito o contra-crédito
invocado pelo compensante, a prescrição é irrelevante se ainda não se verificava na data em que
os dois créditos se tornaram compensáveis (Art. 850º).

4.Novação – Art. 857º a 862º CC


Consiste na convenção pela qual as partes extinguem uma obrigação criando uma nova
obrigação no lugar daquela.
A obrigação em substituição tem de extinguir por completo a obrigação primitiva; a vontade de
contrair nova obrigação deve ser expressamente manifestada – Art. 859º CC.
Novação objectiva – Art. 857º CC
Novação subjectiva – Art. 858º CC
Ex.: A empregado duma empresa utiliza um veículo desta; terminado o contrato A teria a
obrigação de restituir o veículo mas, em vez disso, compromete-se a entregar o seu valor
ficando proprietário do veículo. Aqui há uma novação objectiva.
Ex.: Os trabalhadores da empresa Y têm as suas contas de depósito no banco Z; a empresa em
lugar de lhe pagar os ordenados directamente na empresa, transfere-os para o banco.
Aqui extingue-se a obrigação da empresa com a transferência dos ordenados e cria-se a
obrigação do banco de creditar aos seus clientes os respectivos valores – Novação subjectiva.

5.Remissão – Art. 863º a 867º CC


Na Remissão, Confusão e Prescrição o interesse do credor não chega a ser satisfeito: a
obrigação extingue-se sem haver prestação.
O credor com o acordo do devedor, renuncia a exigir a prestação devida.
A Remissão obedece ao princípio da contratualidade, não podendo resultar de acto unilateral
por parte do credor, sendo pois um negócio jurídico bilateral, um contrato.
Face ao nr. 2 do Art. 863º CC, conclui-se que a remissão pode não ter o carácter de
liberalidade. Quando tiver o carácter de liberalidade pode ser entendida como uma doação.

6.Confusão – Art. 868º a 873º CC


A Confusão dá-se quando as figuras de devedor e de credor se reúnem na mesma pessoa.
Ex.: A deve certa quantia a B; B morre e A sucede-lhe como herdeiro universal.

7.Prescrição – Art.300º a 327º CC


A prescrição no plano de Direitos de Crédito, consiste na extinção destes pelo não exercício do
direito pelo credor, durante o período de tempo mencionado na lei.
A obrigação prescrita pode ser cumprida, sendo-o então como obrigação natural- Art. 304º nr.
2, não havendo direito a restituição.
A prescrição não é de conhecimento oficioso, tem de ser invocada – Art. 303º.
A renúncia á prescrição só é válida depois de decorrido o prazo prescricional – Art. 302º nr. 1,
sendo pois nula a renúncia antecipada.
O prazo ordinário da prescrição é de 20 anos – Art. 309º.
Prescrição de 5 anos – Art. 310º
Há casos em que não é só o devedor que deve invocar a prescrição, pode também ser invocada
por terceiros interessados – Art. 305º nr. 1
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Prescrições Presuntivas – Art. 312º a 317º - são dívidas que se fundam na presunção do
cumprimento, dívidas que costumam ser pagas de imediato ás quais não é exigida quitação ou
se não conserva o recibo por muito tempo.
A presunção de cumprimento pode ser ilidida pelo credor, ainda que em estreitos limites – Art.
313º e 314º. A prescrição presuntiva não pode funcionar como prescrição normal, não posso ser
absolvida pela presunção de que paguei, tem de ser o credor a fazer prova de que o devedor não
pagou.
O Art. 316º dá exemplos de dívidas presuntivas que se presumem pagas ao fim de 6 Meses.
Não procede a invocação da prescrição. A prescrição presuntiva devolve ao credor o ónus de
provar o seu crédito.
Suspensão da prescrição – Art. 318º a 322º CC – havendo suspensão, não se conta o tempo
durante a situação que a determina, ou seja, se havia prazo decorrido e houve suspensão,
terminada a suspensão soma-se o tempo que já tinha decorrido antes desta.
Interrupção da prescrição – Art. 323º a 327º CC – havendo interrupção, fica inutilizado todo
o tempo decorrido anteriormente, perde-se o prazo contado até á interrupção.
A prescrição interrompe-se através de actos judiciais.
Requerida a citação ou notificação, se esta não se fizer dentro de 5 dias, a prescrição tem-se por
interrompida decorrido esse tempo. Desde que não tenha ocorrido causa imputável ao
requerente (por ex. domicílio errado do citando) – Art. 323º nr.2.

Responsabilidade contratual
O não cumprimento das obrigações

Não cumprimento em sentido amplo:


- Não obtenção da prestação devida.
- Não obtenção da prestação nas exactas condições em que ela tinha de ser efectuada.
Não cumprimento ou Inexecução:
- Retardamento ou atraso da Prestação – chegado o vencimento o devedor não cumpre a
prestação mas a prestação poderá ainda ser realizada, com interesse para o credor.
- Impossibilidade ou não realização definitiva da prestação – torna-se em definitivo
irrealizável. Se a Impossibilidade é originária, o negócio é nulo – Art. 280º nr.1
Ex.: alguém confia a outro o depósito de certos objectos que são destruídos por um incêndio, o
depositário não poderá mais restituí-los.

Retardamento casual e Mora

O retardamento da prestação é um simples incumprimento temporário:


1-Mora do devedor
2-Mora do Credor
3-Retardamento casual

Retardamento Casual – Art. 792º CC – o impedimento de realizar a prestação deve-se a um


caso fortuito (acontecimento inerente à actividade do obrigado) ou de força maior
(acontecimento estranho à actividade do obrigado). Ex.: tempestade no mar que danifica as
mercadorias transportadas num barco.
A impossibilidade temporária de cumprir a obrigação é uma impossibilidade superveniente,
porque a impossibilidade originária torna nulo o contrato – Art. 280º nr.1
É necessário que o facto não seja evitável ou previsível, porque se o fosse haveria culpa do
devedor. Tem de existir uma imprevisibilidade ou insuperabilidade.
Efeitos do retardamento casual: Irresponsabilidade pelo atraso – Art. 792ºnr.1
Não extinção da obrigação
A impossibilidade só se considera temporária, se se mantiver o interesse do credor–
Art.792ºnr.2; se não houver o interesse do credor o negócio caduca mas o credor não pode
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exigir indemnização ao devedor; nem o devedor ao credor; e o devedor tem sempre de suportar
as despesas, prejuízos inerentes.
A impossibilidade definitiva: quando já não se mantém o interesse do credor. Ex. uma boda que
deveria ter sido servida no dia dum casamento e não foi; materialmente poderia cumprir-se a
obrigação mas a prestação deixou de oferecer interesse ao credor.

Mora do devedor – At. 804º - retardamento culposo da prestação; atraso do cumprimento por
causa imputável ao devedor.
O contrato deve ser pontualmente cumprido – Art. 406º nr.1 – só cumpre quem cumpre
pontualmente.
O devedor não realiza a prestação mas esta conserva-se possível e o credor continua a ter
interesse nela, o devedor constitui-se em mora desde que o atraso lhe seja imputável (acto lícito
e a culpa).
Efeitos da mora do devedor – havendo mora tem de se indemnizar o credor.
Retardamento culposo se da mora advierem prejuízos para o credor – Art. 798º e 804º nr.1.
Tem de efectuar a prestação mais a indemnização moratória, que é o direito do credor a ser
indemnizado pelos danos resultantes da prestação não ter sido efectuada.
Nas obrigações pecuniárias- Art. 806º - por culpa do devedor não sejam pagas quando deviam
ser, tem o credor o direito aos juros de mora.

Risco – Art. 796º - Condição resolutiva


Condição suspensiva (carro vendido com reserva de propriedade, só é dono
quando pagar, até lá está suspensa a propriedade).
Inversão do Risco – Art. 807º - diz-se que suporta o risco a parte que sofre o prejuízo
proveniente de a prestação se impossibilitar por caso fortuito ou de força maior.
Se a mora do devedor foi a causa indirecta da perda ou destruição do objecto, é o devedor que
suporta o risco porque não entregou em tempo; o caso fortuito ou de força maior não teria
determinado essa perda se o devedor houvesse cumprido em tempo.
Mas se o devedor provar que a coisa se teria igualmente perdido se a obrigação tivesse sido
cumprida em tempo – Art. 807º nr.2 – pode assim afastar a referida responsabilidade. Ex.:
Incêndio que destroi a coisa em casa do devedor mas que a destruiria também em casa do
credor. Verifica-se aqui a relevância negativa da causa virtual; essa causa virtual tem relevância
negativa no sentido de que exclui a responsabilidade derivada da causa real (mora e destruição).
Extinção da mora:
- Purgação da mora – o devedor oferece ao credor a prestação em dívida e a
indemnização moratória;
- Acordo entre as partes (ex. prorrogação de prazo)
- Extinção do Crédito
Mora que redunda em não cumprimento definitivo
Perda do interesse do credor
Pode acontecer que ao não realizar a prestação pelo devedor no momento devido, apesar de a
prestação ser materialmente possível perde o interesse para o credor.
Prestação que já não interessa ao credor em consequência de atraso vale para o Direito como
prestação tornada impossível. Se o facto é imputável ao devedor, este não incorre em simples
mora mas em não cumprimento definitivo – Art. 808º nr.1. A perda de interesse na prestação é
apreciada objectivamente – Art. 808º nr.2
A mora torna-se em não cumprimento depois de interpelação admonitória (fixação de prazo
peremptório para o cumprimento) – Art.808º nr.1 – mesmo sem perda de interesse.
Exercício do direito de resolução
Para que a mora se torne em não cumprimento:
a) intimação para cumprir;
b) fixação de termo peremptório para cumprir;
c) comunicação de que a obrigação se terá definitivamente por não cumprida se não se
verificar o cumprimento dentro daquele prazo.
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Mora do Credor – Art. 813º CC


Falta de cooperação do credor sem motivo justificado.
Em todas as obrigações de prestação de coisa e em muitas obrigações de prestação de facto, o
credor tem de dar a sua colaboração ao devedor para que este possa cumprir nas condições legal
ou contratualmente previstas.
A “mora creditoris” supõe do lado do devedor que ele tinha a faculdade e a possibilidade de
cumprir e fez tudo o que lhe competia para o efeito; e supõe do lado do credor que este se
absteve de colaborar. Ex. recusou a prestação oferecida.
Não é um acto ilícito e culposo é um Ónus:
O credor não tem a obrigação propriamente dita de aceitar a prestação, ou então de uma maneira
geral, de praticar actos necessários ao cumprimento. Não é “devedor” desses actos.
Se o credor deixar de receber a prestação ou não fizer o que é necessário da sua parte, não viola
uma obrigação, desrespeita um Ónus. Sujeita-se assim aos efeitos desfavoráveis que a lei
associa à mora.
O exposto não se aplica se o credor está “obrigado” por convenção ou por lei a aceitar a
prestação ou a fazer o mais preciso para o cumprimento.
Efeitos da mora do credor
- O devedor não incorre em responsabilidade – o devedor deixa de realizar a prestação no
vencimento; mas não fica sujeito a responsabilidade alguma, porque a falta de cumprimento não
lhe é imputável – Art. 798º “a contrário”.
- O devedor adquire o direito a exonerar-se pela consignação em depósito, sempre que se
trate de obrigação de prestação de coisa. Consignação em depósito – Art. 841º nr.1 b) e Art.
1024º e ss CPC – A obrigação considera-se extinta a partir do depósito se este não for
impugnado ou for julgada improcedente a impugnação deduzida. A consignação em depósito é
facultativa, o facto de o devedor não recorrer a ela não agrava em nada a sua situação; não o faz
incorrer em mora, por exemplo. A consignação aceite pelo credor ou declaração válida por
decisão judicial libera o devedor, como se ele tivesse feito a prestação ao credor na data do
depósito – Art. 846º.
- Diminuição da intensidade da obrigação – Art. 814ºnr.1 - enquanto subsistir a mora do
credor, a obrigação passa a ter intensidade menor.
Apesar de o credor estar em mora, o devedor pode incorrer em falta de cumprimento definitivo
da obrigação, mas em condições menos gravosas.
O devedor só responde por incumprimento definitivo de houver dolo. Ex.: A empresta um
objecto a B; B quer devolver o objecto a A; A não colabora e constitui-se em mora; enquanto a
mora perdura o objecto desaparece por facto imputável a B; ou seja este destroi
intencionalmente o objecto; assim há dolo de B. Neste caso B responde por Dolo – Art. 814º
nr.1 .
Outra atenuação é que a dívida deixa de vencer juros – Art. 814º nr2.
- Inversão do Risco – Art. 815º nr.1 – o risco consiste em suportar o prejuízo resultante de a
prestação se impossibilitar por caso fortuito ou de força maior.
Quando o risco é do devedor, este continua vinculado como se a inexecução da prestação lhe
fosse imputável. Quando é do credor dá-se a inversão do risco, o devedor fica exonerado.
Sendo assim, se o risco é do devedor mas o credor se constitui em mora, passa o risco a ser do
credor, por todo o tempo que estiver em mora.
- Obrigação do credor de indemnizar as maiores despesas do devedor – Art. 816º - A mora
do credor obriga-o a indemnizar o devedor das maiores despesas que tenha de fazer .
Normalmente as despesas com o cumprimento da obrigação estão a cargo do devedor, mas
estando o credor em mora é este que tem de suportar as despesas maiores que o devedor tem
forçosamente em consequência da “mora creditoris”. Ex. despesas de guarda e conservação do
objecto, como despesas de armazenamento. Art. 816º.
Extinção da mora do credor
- purgatio morae – se o credor se apresentar junto do devedor para receber a prestação
- acordo das partes (aceitação da prestação pelo credor)
- extinção do crédito
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Não realização definitiva da prestação


Impossibilidade originária – Art. 280º nr.1 e 401º nr.1- não cumprimento da obrigação
a) Objectiva – em relação ao objecto, negócio nulo, por impossibilidade do objecto – Art.
280º nr.1- a impossibilidade originária da prestação produz a nulidade do negócio
jurídico – Art. 401º nr.1. Ex.: impossibilidade do objecto: vender a Torre dos Clérigos
é fisicamente possível mas legalmente impossível.
b) Subjectiva – em relação ao sujeito “só se considera impossível a prestação que o seja
relativamente ao objecto, e não apenas em relação à pessoa do devedor” – Art. 401º
nr.3. Ex.: um facto que ocorre posteriormente e o devedor não pôde fazer-se substituir
por outra pessoa – prestações infungíveis, dar um concerto, pintar um quadro, etc. Isto é
uma impossibilidade subjectiva originária.
Onerosidade originária – Art. 251º e 252º - quando o devedor por erro de avaliação aceita,
compromete-se em determinados termos, sem ter a certeza de que vai poder cumprir.
Há anulação do negócio ou a sua modificação por erro relevante, obtém-se a anulação do
contrato com fundamento em erro.
Impossibilidade superveniente – Art. 790º e 791º CC
Causas não imputáveis ao devedor. Constituída a obrigação, a prestação torna-se impossível; a
obrigação é possível originariamente mas são factores que acontecem posteriormente á
obrigação que a fazem caducar.
a) Impossibilidade superveniente objectiva – dá origem à extinção da obrigação – Art. 790º
nr.1- as causas são:
- Caso fortuito ou força maior – a obrigação vence-se mas o devedor não pode executá-la
por facto que não lhe é imputável. Isto inclui o facto de terceiro estranho á obrigação. Ex.:
um 3º que exerce autoridade pública, manda expropriar um prédio que está prometido
vender ou de um prédio que foi dado para arrendamento.
- Facto do credor não prestar a cooperação activa – a impossibilidade verifica-se tanto
no caso em que o credor tem de prestar a sua cooperação activa e não a presta, como no
caso de ele a vir a tornar impossível (não interessa averiguar se a falta de cooperação do
credor é ou não justificada).
b) Impossibilidade superveniente subjectiva – Art. 791º - em princípio não invalida a
obrigação; só a fará extinguir se o devedor não puder fazer-se substituir por terceiro. Isto só é
relevante se não houver culpa do devedor. Ex.: pintor de arte que fica paralítico dos braços.
Interpretação restritiva: apesar da sua redacção definitiva, a impossibilidade subjectiva não é
exoneratória quando, nos termos da própria obrigação, o devedor estaja vinculado ao devedor de
se fazer substituir por outra pessoa.
Não é liberatória a impossibilidade por falta de meios económicos. Ex.: instituto da insolvência.
A dificuldade da prestação – Art. 237º.
A “difficultas praestandi” supõe que a prestação só é realizável com sacrifício ou esforços
excepcionais. Ex.: entrega de jóia que cai ao mar.
A onerosidade da prestação – se for grave (imprevisão ou pressuposição), o devedor, por falta
de culpa, não é responsável.
Dificuldade e onerosidade – Art. 437º a 439º.

Falta de cumprimento e mora imputáveis ao devedor – Art. 798º e 801º nr.1


O devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável pelo
prejuízo que causa ao credor – Art. 798º.
Mora do devedor – a simples mora constitui o devedor na obrigação de reparar os danos
causados ao credor – Art. 804º nr.1
A prestação torna-se inútil (sem interesse para o credor) quando a prestação é realizável no
aspecto de facto mas não é realizável no aspecto de direito por se tornar inútil – Art. 808º nr.1 e
792º nr.2. Ex.: Boda de casamento.
A prestação torna-se impossível de facto – a inexecução definitiva é imputável ao devedor, este
constitui-se em responsabilidade, tendo de satisfazer ao credor uma indemnização que o
compense dos prejuízos sofridos – Indemnização compensatória – Art. 801º e 798º.
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Quando for o caso, o credor tem ainda direito à realização coactiva da prestação – Art. 817º.
Execução defeituosa
Quando há execução defeituosa – violação contratual positiva – Art. 799º nr.1. dá-se quando
o devedor executa materialmente a prestação mas não a cumpre porque a executa mal : ou
corrige o defeito ou se substitui a prestação imperfeita por uma prestação perfeita; se ainda
assim deixar de interessar ao credor, há então NÃO CUMPRIMENTO DEFINITIVO.
Pode ainda existir execução defeituosa, que é passível de causar maiores prejuízos – Art. 914º -
quando o devedor executa a prestação mas mais valia estar quieto porque fez mas fez mal.
É nos contratos especiais (contratos nominados) ex.: empreitada, que a lei insere
especificamente as disposições relativas ao cumprimento defeituoso. A consequência mais
importante do cumprimento defeituoso é a obrigação de ressarcimento dos danos causados ao
credor – Art. 914º, 1221º.

Responsabilidade Contratual e Extracontratual

Quando o devedor fica obrigado a indemnizar o credor, diz-se que é responsável –


responsabilidade obrigacional. A responsabilidade extracontratual, acontece perante uma pessoa
que não é devedor, e cujo âmbito se determina por exclusão de partes.
Responsabilidade contratual supõe a falta de cumprimento de uma obrigação, não há
responsabilidade sem culpa. Normalmente é a violação de um dever positivo.
Responsabilidade extracontratual determina-se por exclusão das partes. Normalmente é a
violação de um dever negativo. Existe neste capítulo a responsabilidade solidária, se forem
vários intervenientes – Art. 497º.
RC pressupõe uma relação obrigacional pré-existente .
RE caso mais frequente é a violação dos deveres de outra ordem, como os que correspondem a
direitos de personalidade ou direitos reais.
A responsabilidade extracontratual poderá abranger Direitos de Crédito por acto culposo de
terceiro ? É negado o direito com base e RE. O dano puramente económico não é indemnizável,
só o dano que atinge direitos absolutos (direito de propriedade).
Desde que uma interrupção temporária não actue sobre a substância da própria coisa, não
conduz também a um prejuízo do seu valor de mercado, pelo que não deve ser considerado
lesão de propriedade.
Só pode haver condenação pelo dano físico.
A razão determinante da não ressarcibilidade de princípio dos danos patrimoniais puros á a de
manter a obrigação de indemnizar dentro dos limites razoáveis.
Elementos da Responsabilidade Contratual:
Se o devedor deixa de realizar pontualmente a prestação, pode ficar (não fica necessariamente)
constituído em responsabilidade perante o credor.
Não basta o mero facto da não realização da prestação para que o devedor se torne responsável;
tem de se cumular outros requisitos:
a) Inexecução da obrigação (acto ilícito) – Art.483º e ss – o devedor não realiza a
prestação no momento e nos demais termos que estava obrigado; com isso viola o
direito do credor. Comete assim um acto ilícito- inexecução da obrigação.
b) Culpa – Art. 487º nr.2 e 799º nr.2 – para que o devedor se torne responsável, o facto
da não realização da prestação debitória tem de lhe ser imputável, ele tem de ter
procedido com culpa.
c) A responsabilidade civil de que a responsabilidade obrigacional é uma modalidade,
consiste na obrigação de indemnizar, reparar os danos ou prejuízos. Ou seja, tem de
haver prejuízo para o credor. Não basta que o facto lhe seja imputável, o credor tem de
ter sido prejudicado.
d) É necessário que os prejuízos que o credor invoca tenham sido originados pela falta de
cumprimento. Entre o acto ilícito (culposo) de um lado, e os prejuízos do outro, tem de
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haver nexo de causalidade. A causalidade é o último elemento da responsabilidade do


devedor.
Da responsabilidade extracontratual nasce a obrigação de indemnização – Art. 562º e ss.
É comum a obrigação de indemnizar.
Da responsabilidade contratual; garante-se a uma parte indemnização do que perdeu ou deixou
de ganhar, porque o outro contraente não cumpriu a obrigação.
Com responsabilidade extracontratual, reparam-se os efeitos do comportamento ilícito de
alguém que infringe directa e imediatamente um preceito legal e causa dano a outrém – Art.
483º.
Acto ilícito – Art. 483º

Resp.Extracontratual Acto lícito – Art. 339º estado necessidade


Art.1310º expropriação; 1348º escavações; 1349º passagem forçada

Diferenças entre Responsabilidade contratual e Responsabilidade Extracontratual:


- Tem de haver mora na RC mas na RE não.
- Solidariedade regra na RE Art. 497º; na RC há conjugação Art.513º
- Na RE há prescrição de curto prazo (3 anos) – Art. 498º nr1 ao contrário da RC que é
de 20 anos, prazo ordinário – Art. 309º.
- O ónus da prova funciona de maneira diferente, na RE Art. 487º; na RC Art. 799º.

Em comum entre Responsabilidade Contratual e Responsabilidade Extracontratual:


- obrigação de indemnizar – Art. 562 e ss
- apreciação da culpa em abstracto – Art. 487º nr.2 e 799º nr.2

A Prova – Art.799º CC

O credor que vai a juízo reclamar uma indemnização com fundamento na violação do seu
direito, em ordem a efectivar a responsabilidade obrigacional, tem que provar que se constitui
um vínculo creditório a seu favor, que sofreu prejuízos e que tais prejuízos são consequência da
violação do referido vínculo.
O Art. 342º nr.1 diz que “àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos
constitutivos do direito alegado”.
Os factos constitutivos do direito alegado:
- inexecução da obrigação
- a culpa
- os prejuízos
- e o nexo de causalidade
Mas em relação à culpa não tem o credor de a provar, apesar de se tratar de um elemento
constitutivo do seu alegado direito à indemnização, porque em relação à culpa dá-se a inversão
do ónus da prova; há uma presunção de culpa do devedor – Art.344º nr.1 e 350º.

Face ao Art. 799º nr.1 a prova reparte-se da seguinte forma:


- o credor tem de provar: constituição da obrigação/inexecução; prejuízos: nexo
causalidade.
- O devedor tem de ilidir a presunção legal de culpa e provar que agiu sem culpa.

A lei presume a culpa do devedor na inexecução da obrigação e portanto não é o credor que tem
de provar que o devedor procedeu com culpa, é este que tem de provar que não houve culpa da
sua parte.
É o devedor que tem de provar a impossibilidade de cumprimento (não ilícita).
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O cumprimento á um facto extintivo da obrigação – Art. 342º nr.2 – segundo este artigo, cabe
ao devedor (aquele contra quem a invocação é feita), provar o cumprimento da obrigação.
Provada a constituição do direito, a lei presume que à data da propositura da acção, o direito
ainda não está extinto, assim cabe ao devedor provar o cumprimento.

O Art. 342º nr.1 diz que a inexecução da obrigação é um dos elementos constitutivos do direito
à indemnização que o credor reclama; mas como o cumprimento teria feito extinguir o direito de
crédito, é ao devedor que compete provar a extinção, pois a lei põe a prova dos factos extintivos
a cargo daquele contra quem o direito é invocado – Art. 342º nr.1.

A prova do cumprimento defeituoso

Se o cumprimento for defeituoso, terá de ser o credor a provar que o cumprimento foi
defeituoso. É de presumir que o devedor que executa a obrigação a executa bem ; por isso cabe
ao credor ilidir esta presunção e provar que o devedor cumpriu mal.
Ex: compra de mercadorias que estavam deterioradas, cabe ao comprador provar a deterioração.
Excepções:
- as mencionadas no Art. 786º.
- As obrigações negativas (non facere) – o devedor comprometeu-se a não fazer, abstém-
se, presume-se que o devedor respeitou a abstenção; cabe ao credor provar o contrário.

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