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CASOS PRÁTICOS – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II

CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL :

LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações – Volume I, pp. 128- 161, 15ª edição,
Almedina, Coimbra, 2019.

ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil VI – Direito das Obrigações, 3ª


edição, Almedina, Coimbra 2019 pp. 493 e seguintes.

MÁRIO JÚLIO ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, pp. 689 e seguintes, 12ª edição (6ª
Reimpressão), Almedina, Coimbra, 2018.

CASO Nº 3

A comprometeu-se perante o seu vizinho B a não construir qualquer muro com mais de 2
metros, nas traseiras da sua vivenda, de modo a não prejudicar a vista para o rio, que B tanto
gostava. Como contrapartida B – dermatologista – obrigou-se a efectuar o tratamento
adequado a curar uma doença de pele de que A padecia.

1ª Hipótese: Após uma discussão entre os dois vizinhos, A contratou um empreiteiro que
ergueu um muro de quatro metros, nas traseiras da vivenda.

Prestação de facto – conduta do devedor;


Prestação de facto negativo – prestação de non facere (também existem prestações de pati-
suportar um determinada conduta);
Prestação de facto material – não realizar a obra;
Incumprimento – 798º e 799º;
Credor pode requerer que a mesma seja demolida à custa do devedor, 829º;

2ª Hipótese: Após um cuidadoso diagnóstico, B prescreveu uma pomada a A. Porém, não


obstante a boa qualidade do medicamento, não só se manteve a doença, como A veio a
contrair um nova alergia.

Prestação de facto – conduta do devedor;


Prestação de facto positivo, material – objecto é uma acção do devedor;
Discussão entre prestação de meios ou resultado – problema muito discutido no âmbito de
actuações médicas.

Resultado: devedor vincula-se a um determinado resultado – respondendo por


incumprimento se este não for obtido;
Meios: devedor obriga-se a uma determinada diligência;

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Relevante no âmbito de apreciação da culpa, 799º/ 1 e 2 e 487º - na prestação de meios pode
haver uma maior tolerância na apreciação de factos externos que ilidam a presunção de culpa.
Durante a relação as partes devem actuar de boa-fé, 762º/2 – a boa fé no cumprimento
implica sempre uma ideia de vinculação a um determinado resultado.

-Doutrina sobre esta questão em específico-

LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações – Volume I, pp. 137- 138, 15ª edição,
Almedina, Coimbra, 2019.

ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil VI – Direito das Obrigações, 3ª


edição, Almedina, Coimbra, 2019 - pp. 495- 506.

-Jurisprudência-

o http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/eecac7f6bbc593ae8
0257a60003adcdd?OpenDocument
o http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/47b3dea8d5fa92668
0257e27004e8d77?OpenDocument
o http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/5486c9a77575e1c08
0257fc7003185e7?OpenDocument

3ª Hipótese: Em data anterior ao acordo, na sequência de um processo disciplinar, B havia


sido proibido de exercer medicina.

Apenas se considera impossível a prestação que o seja em relação ao objecto e não em relação
à pessoa do devedor.

Obrigações são em princípio fungíveis pelo que o seu cumprimento pode ser realizado por
qualquer pessoa, 767º/1.

Discussão acerca da fungibilidade /não fungibilidade


767º/2 – infungibilidade natural ou convencionada;

Substituição não pode prejudicar o credor – discutir aqui se eventualmente a obrigação


poderia ser cumprida por um terceiro.

Neste caso poderia discutir-se o problema da impossibilidade originária – devemos distinguir


entre impossibilidade subjectiva (o devedor não pode realizar a prestação – ‘’inaptidão do
devedor’’) e impossibilidade objectiva (ninguém poderá cumprir a obrigação, é o objecto da
mesma que não é possível).

Nos termos do art. 401º/3 só se considera impossível a prestação que o seja relativamente
ao objecto e não apenas à pessoa do devedor.

Assim nesta hipótese se entendêssemos que a prestação seria fungível, então a


impossibilidade subjectiva não impede que a mesma se constitua validamente, podendo o
devedor substituir-se no cumprimento por um terceiro.

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Se contrariamente, a prestação fosse não fungível, então a impossibilidade já assumiria um
carácter objectivo e determinaria a nulidade

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CASO Nº 4 – PRESTAÇÕES DE FACTO, FUNGÍVEIS/NÃO FUNGÍVEIS, JUROS, OBRIGAÇÕES
PECUNIÁRIAS

A, pintor, obrigou-se perante B a pintar determinada sala do escritório deste, no dia X. Ficou
estipulado o preço de 250 euros.

1ª Hipótese: A recusa-se a realizar a pintura, desconhecendo-se se sofreu um acidente,


ficando impossibilitado de trabalhar.

Prestação de facto positivo – realizar a pintura;


Discussão da fungibilidade/não fungibilidade da prestação – teria que ser realizada por A? A
realização por terceiro prejudica o credor? Distinguir entre não fungibilidade convencional e
natural – 767º/2).

Nesta hipótese parece ser uma prestação fungível ( não há nenhuma particularidade na
realização da pintura da sala) – logo seria possível que a prestação fosse realizada por um
terceiro (não haveria prejuízo do credor).

Estando perante um situação de incumprimento poderá o credor que o facto seja prestado
por um terceiro à custa do devedor – 828º.

A classificação da prestação como fungível releva também para as situações de


impossibilidade subjectiva ( ou seja por parte do devedor, que não sabemos se esteve
envolvido num acidente ficando assim impossibilitado de realizar a pintura). Sendo a
prestação fungível a impossibilidade que respeita apenas à pessoa do devedor não o exonera
– pode fazer substituir-se por um terceiro.

2ª Hipótese: No dia combinado C – jurista desempregado – apresentou-se no escritório de


B, para efectuar a pintura, esclarecendo que A, seu irmão adoecera, B recusou a prestação.

Discussão da fungibilidade/infungibilidade;
767º/1 – em regra a prestação pode ser efectuada por terceiro;
Não pode prejudicar o credor – 767º/2 – a substituição por terceiro não é admitida nesses
casos; Se não for admitida a substituição a obrigação extingue-se 791º.

Neste caso a obrigação parece ser fungível – pelo que à partida A não poderia recusar o
cumprimento por C.

3ª Hipótese: A pintura foi efectuada na data prevista, mas B continua sem pagar o valor
acordado. Passados meses, A pretende que o preço convencionado seja actualizado, em
função da inflacção e acrescido de juros.

Obrigação pecuniária : tem dinheiro por objecto;


Art. 550º - obrigações de quantidade
Princípio do curso legal- espécies monetárias reconhecidas pelo Estado e do nominalismo
monetário – valor nominal, facial ou extrínseco;

Em momentos de inflacção o valor de troca da moeda pode sofrer alteração entre o


momento de constituição da obrigação e o momento do cumprimento.
550º - valor no momento de cumprimento ( 1 euro =1 euro) – risco de desvalorização da
moeda é suportado pelo credor.

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As partes podem estipular regime diverso ou a lei pode prever, p.e rendas, 551º. Neste caso
não haveria possibilidade de actualização do valor, dado que não é um caso expressamente
previsto na lei, nem houve convenção das partes nesse sentido.

Obrigação de juros: remuneração da cedência ou do diferimento da entrega de coisas


fungíveis – é uma obrigação de capital;

São frutos civis, 212º/2.


Distinção entre juros legais – 559º e juros convencionais (quando estipulados pelas partes) –
559º.

Distinção entre juros remuneratórios (visam a remuneração por um determinado capital


mutuado) e juros moratórios ( visam ressarcir os danos que são criados por uma situação de
atraso no cumprimento.

Nesta hipótese seriam juros moratórios, dado que se verifica uma situação de mora no
pagamento do preço – 804, 805º e 806º.

Taxa de 4% portaria 291/2003 de 8 de Abril – ver limites 1146º!

4ª Hipótese: A, após pintar metade da sala, alegou um cansaço súbito e não mais voltou.
Porém telefonou a B exigindo-lhe 125 euros.

Integralidade da prestação, 762º/1 e 763º/1


Neste caso há incumprimento por parte de A.

5ª Hipótese: Realizada a obra, B – que regressara havia pouco do EUA – apresentou-se


junto de A, pretendendo pagar o montante estipulado em dólares. A recusou.

Princípio do curso legal – o cumprimento das obrigações pecuniárias deve ser feito com
espécies monetárias a que o Estado reconheça função liberatória genérica – aceitação
obrigatória para os particulares.

Obrigações em moeda estrangeira ou valutárias – curso legal no estrageiro;


Obrigações valutárias puras: o próprio cumprimento da obrigação apenas pode ser
realizado em moeda estrangeira;
Obrigações valutárias impuras : funciona como como unidade de referência para
determinar através do câmbio de determinada data, a quantidade de moeda nacional devida
– cumprimento realizado em moeda nacional;

Nesta hipótese deve ser respeitado o disposto no art. 550º - o cumprimento deve ser feito
em moeda que tenha curso legal no país e pelo seu valor à data do cumprimento.

Note-se que nesta hipótese não foi convencionado pelas partes que o pagamento poderia ser
feito em moeda estrangeira – 558º. Logo A poderia recusar o pagamento feito em dólares,

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