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Aulas Práticas Direito Administrativo III - Professora Sara Matos (2020/2021)

O que são organismos de Direito Público? Um dos principais objetivos do CCP é o


estabelecimento de uma disciplina aplicável à contratação público em conformidade com o Direito
Europeu (no caso, a Diretiva 2014/24). A aplicação do CCP estará presente no art. 1º CCP, de
onde resulta pelo artigo 1º.2, que serão estes aplicáveis a “entidades adjudicantes”.

O art. 2º CCP diz quais são as entidades adjudicantes, as entidades que vão abrir os procedimentos
para celebrar contratos públicos. Numa Sistematização o professor Pedro Costa Gonçalves
distinguir 4 tipos de entidades adjudicantes:

⎯ Entidades adjudicantes institucionais; ⎯ Organismos de direito público; ⎯ Operadores de serviços


de rede; ⎯ Centrais de compras.

No art. 2º.2 CCP surgem os “organismos de direito público” expressão que segue das Diretivas
Europeias e não é específica do Direito Português , estes serão as entidades que independentemente
da sua natureza pública ou privada que “Tenham sido criadas especificamente para satisfazer
necessidades de interesse geral, sem carácter industrial ou comercial (....) aquelas cuja atividade
económica se não submeta à lógica do mercado e da livre concorrência, designadamente por não
terem fins lucrativos ou por não assumirem os prejuízos resultantes da sua atividade”; e sejam “
maioritariamente financiadas pelas entidades do art. 2º.1 CCP”. Existem 4 elementos essenciais das
mesmas:

1. tratarem-se pessoas coletiva: é irrelevante que se trate de pessoas coletivas de direito


público ou de direito privado. A condição de organismo de direito público não é fonte,
nem critério de atribuição da personalidade jurídica. Trata-se, antes, de uma qualificação
que se aplica a uma entidade que tem personalidade jurídica;

2. Satisfazer necessidades de interesse geral: o que conta aqui será a atividade exercida
pela entidade e não o que é estipulado no seu ato constitutivo, aqui o TJUE estabeleceu
uma teoria chamada de “teoria do contágio” que diria que para qualificar uma entidade
como organismo público não é necessário que se dedique somente à prática de atividades de
satisfação de interesse geral. O Acórdão Mannesmann (1998) acrescentou assim ser
indiferente que, simultaneamente com a satisfação de necessidades públicas, tal organismo
exerça outras atividades, designadamente de caráter industrial ou comercial. O Acórdão
Comissão/França (2001) reafirma que o conceito funcional de organismo de direito

Duarte Canau
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público mais não visa do que garantir o efeito útil do Direito comunitário, o qual seria
posto em causa de ficasse dependente de opções nacionais dos Estados que através de
mecanismos de fuga para o direito privado têm procurado escapar ao cumprimento das
exigências comunitárias.

Aqui estaria em causa o “levantamento do véu”: - teria aqui a ver com a natureza jurídica
pública ou privada; e “descortinar” para perceber como é que a entidade age, de forma
dinâmica e funcional;

3. sem natureza comercial/ industrial :O que está em causa é a definição das condições de
mercado em que um determinado organismo exerce as suas missões, para o efeito de o
submeter, ou não, às regras da adjudicação de contratos públicos. quando uma certa
entidade exercer uma atividade em condições normais de mercado concorrencial, com o
objetivo do lucro e exposta ao risco de perdas, é natural e normal que oriente as suas
compras por considerações económicas, como faz qualquer operador económico, qualquer
empresa

Ac. Taitotalo, indica que este critério tem 3 fatores principais: Opera em condições normais de
mercado; Prossegue um fim lucrativo;Suporta as perdas associadas à atividade

4. Sob a estreita dependência de entidades adjudicantes do artigo 2º/2º.a/ii: A situação


de influencia determinante/estreita dependência verifica-se por força da presença de um ou
de mais do que um de três fatores:

⎯ O financiamento maioritário das suas atividades;

⎯ Controlo da sua gestão;

⎯ Designação de mais de metade dos seus dirigentes por uma qualquer entidade adjudicante do
artigo 2º/1 ou por um outro organismo de direito público ( vide 2º.2.a.ii)

Hipótese Prática I

Pronuncie-se sobre a sujeição ao Código dos Contratos Públicos dos seguintes contratos:

Duarte Canau
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1. Contrato de arrendamento de um imóvel pelo Estado, através da Direcção-Geral do Tesouro e


Finanças.

Sendo esta entidade um organismo de Direito Público ( 2º 1 CCP) , neste caso o Estado, o mesmo
contrato caberia dentro do âmbito de aplicação do CCP, 1º.2. À luz do âmbito subjetivo estaria
preenchido.

No entanto estaria este estabelecido pelo art. 4º.2.b seria excluída pelo âmbito objetivo, não se
podendo aplicar assim o CCP.

2. Contrato de empreitada de obras públicas celebrado pelas seguintes entidades:

a) Direcção-Geral das Autarquias Locais;

Neste caso estaríamos perante uma entidade adjudicante presente no artigo 2º.2CCP, ou
seja estaríamos aqui perante um organismo de direito público criado neste caso para
seguir uma atividade económica que não estaria sujeita à lógica concorrencial e destinada
a prossecução da satisfação de um interesse geral ( que seria o das autarquias locais - alínea
i) e parecendo que seria possivelmente financiada e definitivamente controlada
maioritariamente nos seus órgãos ( 2º.2.a.ii CCP) por uma entidade adjudicante do 2º.1
CCP, neste caso por autarquias locais (2º.1.c CCP). Pelo que se aplicaria aqui o CCP pelo
art. 1º.2 CCP.

b) Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF);


Neste caso não se parecia aqui aplicar aqui o CCP, pois estaríamos perante uma entidade
administrativa independente pelo art. 2º.1.e pelo que se poderia aplicar neste caso aqui o CCP ,
pelo 1.2 CCP.
c) Câmara Municipal do Porto;
Estariamos aqui perante uma entidade que consta do art 2º.1. ( alínea c), pelo que pelo art. 1º.2 se
aplicaria aqui o CCP.
d) Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE (entidade pública empresarial);
Estariamos aqui perante uma entidade que consta do art 2º.1. ( alínea d),estando nós aqui perante
uma entidade administrativa pertencente à Administração Independente, pelo que pelo art. 1º.2 se
aplicaria aqui o CCP.

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e) TAP, S.A., sociedade anónima de capitais públicos;


Atualmente sim a TAP seria uma entidade à qual se aplicaria o CCP pelo 1º.2 CCP, porque neste
caso estaríamos perante um organismo de direito público pelos critérios do 2º.2.a CCP, visto que
promove uma necessidade geral ( sendo a única companhia aérea portuguesa) - alínea i; sendo esta
atualmente detida em 72,5% pelo Estado ( 2º.1.a) - alínea ii;
f) Fundação Oriente, pessoa colectiva de direito privado à qual foi reconhecida utilidade
pública;

Poderíamos aqui em primeiro lugar apontar para a aplicação da alínea g do 2º.1 CCP, no entanto
sendo esta uma fundação privada seria de aplicar aqui o 2º.2.a, pelo que teríamos aqui uma
entidade que se destinaria a satisfazer o interesse geral ( alínea i), não sabendo todavia se seria
maioritariamente financiada por alguma das entidades ( 2º.1). Assumindo que sim teríamos aqui
uma aplicação do CCP ( 1º.2).

g) Uma sociedade anónima de capitais privados concessionária de um serviço público.


Pela parte da SA, não seria possível pois esta não poderá nunca ser um organismo de direito
público nestes termos pois ainda que satisfaça uma necessidade de interesse geral ( alínea i), esta
não será maioritariamente financiada por nenhuma das entidades do 2º.1, nem está sujeita a
controle dessas entidades , nem terá órgãos cujos membros serão em mais de metade parte delas.
Ou seja não , não se poderia aplicar o art. 1º.2 CCP.

3. Contrato de aquisição de serviços celebrado entre o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente


e do Ordenamento do Território e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, I.P.

Neste caso teriamos um contrato público inteiramente celebrado entre entidades adjudicantes, que
constariam do art. 2º, pelo que se aplicaria o 1º.2. CCP, isto visto que teríamos neste caso o
instituto público ( 2º.1.d), neste caso o Instituto Protuguês do Mar e da Atmosfera e ainda de um
Ministério que seria parte da pessoa coletiva da Administração Direta Estado, ( 2º.1.a) CCP). Aqui
poderia se ver que aplicar o art. 5º-A do CCP por estarmos rante duas entidades que exercem o
controlo sobre o mesmo, através do mecanismo de superintendência 199º CRP:

4. Contrato de concessão de serviços celebrado entre o Ministério da Educação e a Universidade de


Lisboa.

Neste caso, o Ministério da Educação seria definitivamente uma entidade adjudicante pertencente

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neste caso à pessoa coletiva Estado ( 2º.1.a), pelo que se aplicaria aqui subsidiariamente o CCP art.
1º.2 CCP. A questão poderia vir em relação à ULisboa sendo qeu professores como o prof. Freitas
do Amaral teria aqui uma divergência com professores como o professor Vasco Pereira da Silva.

Hipótese Prática II

Em 29 de dezembro de 2018 a Câmara Municipal de Leiria aprovou uma decisão de contratar


tendo em vista a celebração um Protocolo de colaboração entre o Município de Leiria e a Leiria Digital,
S.A. (doravante designada também por LD, S.A.), com o valor de € 200.000,00.

O Protocolo em causa visava a atribuição de uma comparticipação financeira à LD, S.A.


tendente à realização, desenvolvimento e coordenação de projetos pela LD, S.A., que são de
interesse municipal. Em contrapartida, a LD, S.A. comprometia-se a assegurar a prestação de
serviços, designadamente, de consultoria e de suporte a serviços do Município de Lisboa na área das
tecnologias da informação e das comunicações (designadamente, a operacionalização de redes de
telecomunicações do município através de fibra ótica e a instalação da rede WiFi de acesso gratuito
da cidade).

Recorde-se que a LD, S.A. tem como accionistas o Município de Leiria, o Instituto Politécnico
de Leiria e a Leiri-Tec, S.A., tendo todos assento no respectivo Conselho de Administração, e tem
como objeto a promoção das tecnologias de informação na Área Metropolitana de Leiria.

a) Pronuncie-se relativamente à aplicabilidade da Parte II do Código dos Contratos Públicos à


celebração do Protocolo.

Não seria excepcionado nem pelo artigo 4º nem pelo artigo 5º, pelo âmbito objetivo esta não
seria excepcionada pela mesma.

Neste caso o CCP aplicar-se-ia ao contrato celebrado pois foi celebrado entre uma LDA e um
entidade adjudicante inquestionável que seria neste caso a Autarquia Local de Leiria ( 2º.1.c
CCP).

Já a LDA, seria um organismo de Direito Público,pois 1) Satisfazer necessidades de


interesse geral: o que conta aqui será a atividade exercida pela entidade e não o que é

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estipulado no seu ato constitutivo, aqui o TJUE estabeleceu uma teoria chamada de “teoria do
contágio” que diria que para qualificar uma entidade como organismo público não é necessário
que se dedique somente à prática de atividades de satisfação de interesse geral. O Acórdão
Mannesmann (1998) acrescentou assim ser indiferente que, simultaneamente com a
satisfação de necessidades públicas, tal organismo exerça outras atividades, designadamente de
caráter industrial ou comercial, sendo que se diria que tanto o objeto como a atividade que
desenvolve atualmente seriam de interesse geral. 2) Seria uma pessoa coletiva; 3) sem
natureza comercial/ industrial :o que está em causa é a definição das condições de mercado
em que um determinado organismo exerce as suas missões, para o efeito de o submeter, ou não,
às regras da adjudicação de contratos públicos; 4)Sob a estreita dependência de entidades
adjudicantes do artigo 2º/1, o que estaria aqui verificado pois visto o 2º.2.a.ii pelo que mais
de metade dos membros do seu ́órgão de administração seriam entidades do 2º.1.

No entanto, apesar de ser 2 entidades que estariam abrangidas pelo CCP teríamos aqui de
excepcionar a Parte II do CCP, sendo que aqui teríamos de verificar os requisitos do 5º-A CCP. Em
primeiro lugar a alínea b teríamos aqui uma entidade que seria 100% desenvolvida em favor do
desempenho de funções que são confiadas pela entidade adjudicante que a controla, porque ficaria
apenas a exercer as atividades que o controlam.

haveria aqui participação direta do capital privado como pode ser visto pois aquelas entidades
referidas seriam as suas maiores acionistas como resultado teriam à partida uma influência decisiva.

Em último lugar verificando o art. 5º.1.a ex vi 5º.4.a , faltaria aqui um controlo análogo pelo que
teria como condições o facto de ser compostos pelos representantes de todas as entidades
adjudicante ( o que sucede no seu conselho de administração) - alina a- de exercerem
conjuntamente uma influência decisiva sobre os objetivos estratégicos- o que também deverá ser o
caso pois neste caso a presença maioritária no conselho de administração permitirá que este tomasse
decisões vistas como relevantes - alínea b- a pessoa coletiva prosseguiria também todos os interesses
da entidade adjudicante pois neste caso estariam 100% contratados para que exercessem algo
determinado no contrato com a entidade adjudicante - alínea c.

Assim sendo estaríamos perante um contrato in house pelo que não se poderia aplicar a Parte II do
CCP.

Duarte Canau
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b) A LD, S.A. é uma entidade adjudicante, para efeitos do Código dos Contratos Públicos?

Por-s-eia a questão se seria um organismo de direito público, atendendo aos critérios do 2º2.2.a ,
pela alínea i , ou seja 1) Satisfazer necessidades de interesse geral: o que conta aqui será a
atividade exercida pela entidade e não o que é estipulado no seu ato constitutivo, aqui o TJUE
estabeleceu uma teoria chamada de “teoria do contágio” que diria que para qualificar uma entidade
como organismo público não é necessário que se dedique somente à prática de atividades de
satisfação de interesse geral. O Acórdão Mannesmann (1998) acrescentou assim ser indiferente
que, simultaneamente com a satisfação de necessidades públicas, tal organismo exerça outras
atividades, designadamente de caráter industrial ou comercial, sendo que se diria que tanto o objeto
como a atividade que desenvolve atualmente seriam de interesse geral. 2) Seria uma pessoa
coletiva; 3) sem natureza comercial/ industrial :o que está em causa é a definição das condições
de mercado em que um determinado organismo exerce as suas missões, para o efeito de o submeter,
ou não, às regras da adjudicação de contratos públicos; 4)Sob a estreita dependência de
entidades adjudicantes do artigo 2º/1, o que estaria aqui verificado pois visto o 2º.2.a.ii pelo que
mais de metade dos membros do seu ́órgão de administração seriam entidades do 2º.1.

Aula 25/03/2021

Contratação in-house:

No art. 5º-Aº 1 exclui-se da parte II os contratos hoje conhecidos como:

contratos in house → são contratos celebrados entre duas pessoas coletivas distintas, mas em que
uma delas está numa relação de dependência organizacional tão forte com a outra, que faz com que
ela possa ser encarada como um serviço da outra.

Critérios alínea 1:

O Acórdão Teckal é o acórdão mais importante na matéria dos contratos in house, tendo vindo a
estabelecer dois critérios para a definição de um contrato como contrato in house, que ainda hoje se
mantêm:

- entidade adjudicante exerça, direta ou indiretamente, sobre a atividade da outra pessoa


coletiva, um controlo análogo ao que exerce sobre os seus próprios serviços (art. 5º-A/1
a));
- entidade controlada desenvolva mais de 80% da sua atividade no desempenho de

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f unções que lhe foram confiadas pela entidade adjudicante ou entidades


adjudicantes que a controlam, ou por outra ou outras entidades controladas por aquela
ou aquelas entidades adjudicantes, consoante se trate de controlo isolado ou conjunto (art.
5º-A/1 b));

Sim a entidade pode trabalhar para outras entidades mas essa mesma colaboração não pode ser
excessiva, ao ponto de se dizer que o “core” não é feita em prol da entidade adjudicante.

- Não haja participação direta de capital privado na pessoa coletiva controlada, com exceção
de formas de participação de capital privado sem poderes de controlo e sem bloqueio
eventualmente exigidas por disposições especiais, em conformidade com os Tratados da
União Europeia, e que não exerçam influência decisiva na pessoa coletiva privada (art.
5º-A/1 c)). Isto porque quem exerce a influência dominante tem que ser a entidade
adjudicante.

O Acórdão Parking Brixen vem estabelecer que a entidade controlada tem ainda assim alguma
autonomia, mesmo que a primeira entidade exerça sobre ela uma influência decisiva sobre os
objetivos estratégicos e as decisões significativas da empresa, o que é mais do que mero controlo
societário.

No nº 5 exclui-se também do âmbito da parte II os conhecidos que são conhecidos como parcerias
público públicas (ou de cooperação horizontal). São contratos do setor público, celebrados entre
duas entidades públicas. A Regente diz que se estes contratos são verdadeiramente de cooperação,
em que duas entidades públicas vão cooperar numa determinada situação, então efetivamente não
faria sentido estarem sujeitos aos procedimentos de contratação pública.

Noção “Controlo análogo “:

controlo análogo → possibilidade de influência determinante quer sobre os objectivos estratégicos


quer sobre as decisões importantes;

A doutrina europeia sintetizou bem este critério: a adopção de procedimentos concorrenciais só é


dispensada se, na relação entre entidade adjudicante e adjudicatário, “só há uma vontade decisória
que ordena a realização de uma determinada actividade a um apêndice próprio [...]. O ente que
recebe o mandato deve realizar o encargo sem que possa negar-se.

A sua vontade não importa. O seu consentimento não é necessário”. Se o adjudicatário não pode

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representar mais do que uma parte da “estrutura interna” da entidade adjudicante, então não há
relação in house quando ele ainda dispõe de “uma margem de autonomia decisória sobre aspetos
relevantes da sua vida, relacionados, por exemplo, com a estratégia comercial a seguir, as actividades
a desenvolver, os endividamentos a contrair, etc.”

A Directiva 2014/2448 foi transposta pela alínea a) do n.º 1 e pelo n.° 3 do artigo 5.º-A do CCP
revisto, que densificam o conceito de “controlo análogo”, justamente, como uma “influência
decisiva sobre os objectivos estratégicos e as decisões relevantes da entidade controlada”

Hipótese Prática III

Suponha que, no contexto da revisão das regalias a oferecer aos respetivos


trabalhadores, a CMVM pretende implementar o pagamento do subsídio de almoço
a que os trabalhadores têm, nos termos da legislação laboral, direito, em cartão,
concretamente recorrendo aos comummente designados cartões-refeição, onde os
trabalhadores veem depositado, a cada mês, o montante do respetivo subsídio de
almoço. Assim, os serviços desta instituição desenvolveram uma série de diligências
e contactos informais junto de fornecedores conhecidos no mercado, com vista à
preparação do competente procedimento aquisitivo, tendo um destes fornecedores
transmitido que a contratação dos serviços em causa não comportaria custos para
aquela entidade, nem para os respetivos trabalhadores. Assim, a CMVM
encontra-se inclinada a adjudicar a contratação dos serviços em causa à referida
empresa. Considere as seguintes questões, que são independentes entre si:

a) Como enquadraria, à luz do Código dos Contratos Públicos, a contratação supra


descrita? Pronuncie-se quanto ao preenchimento do âmbito de aplicação subjetivo e
objetivo da Parte II do Código.

Em relação ao âmbito objetivo… não estaria este excluído nem pelo art. 4º CCP, nem pelo art. 5º
CCP.

Em relação ao âmbito subjetivo deveríamos aqui verificar que a CMVM, não seria uma das
entidades do art. 2º.1,seria assim parte da Administração independente pelo artigo 2º.1.e CCP.

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b) Qual a relevância – se é que alguma – da contratação não comportar qualquer


custo para a CMVM?

Em relação ao valor do contrato nos termos do 17º.1 CCP, a relevância do valor seria para assumir
um critério de escolha do contrato, ou seja, quanto mais barato mais solene seria o caso de contrato.
Aqui em causa seria um valor sem valor o que seria o caso da alínea 9 do artigo 17º.

Assim estaríamos perante o caso do artigo 31º CCP, caberia então aqui na escolha do
procedimento.

Aula 15/03/2021

c) A CMVM procedeu bem ao contactar diversos fornecedores para efeitos da


preparação do procedimento? Há algum enquadramento legal para o efeito

Os arts. 34º e ss. vêm, em 2018, introduzir a preparação do procedimento: antes da decisão, tem de
haver uma preparação, que passa, nomeadamente, por fazer o levantamento das necessidades
coletivas, das alternativas, etc. Neste caso estaríamos aqui perante uma consulta preliminar ao
mercado mediante os seus “ agentes económicos” ( artigo 35º-A, alínea 1). Serviria assim neste caso
para observar se estamos ou não perante um caso do 55º, em que haveria um impedimento na
contratação.

A Contratação Pública tem como principal fundamento a racionalidade económica significa que
processos de compras estão vocacionados para consideração dos custos, tendo em consideração que
estes devem ser cobertos pelos resultados da atividade.
Assim o regime dos Contratos Públicos é desenhado como forma à realização dos objetivos e
obtenção do “best value of money”.

Professora Maria João Estorninho → diz que para além dos aspetos patológicos, há que encarar
os institutos pela positiva, a Administração Pública não deve comprar o que não precisa, faz sentido
que olhe para o mercado. O contrato não deve surgir do nada, o contrato deve ser bem preparado.
Esta lógica de uma boa contratação pública implica programação e preparação, implica saber
daquilo que se precisa. Esta fase pré-procedimental é extremamente importante. Não podemos

Duarte Canau
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olhar para estes artigos sem ter em conta o que está em causa; o que está em causa é a decisão da
celebração do contrato, está em causa a prossecução do interesse público. Não há contrato publico
que não decorra de uma necessidade coletiva, de uma necessidade sentida no âmbito daquela
atividade. A primeira coisa a saber é qual a necessidade publica

Deve também ter-se- aqui em causa o princípio da prossecução do interesse público a


regulamentação da Contratação Pública deve também estar ao serviço da realização de interesses
públicos, desde logo o interesse público financeiro - “getting the best deaf for the public’s money”;

Hipótese Prática IV

O Instituto do Cinema e do Audiovisual, I.P. (ICA, I.P.) pretende celebrar um


contrato de empreitada de obras públicas para a realização de obras no edifício
onde está instalada a Cinemateca Nacional. Tratando-se de uma obra de
importância fundamental para a cidade de Lisboa e atendendo ao valor artístico do
projecto, o valor da empreitada é de 4.000.000 €, tendo a realização da despesa
sido autorizada pelo Presidente do Conselho Directivo do ICA, I.P. No mesmo
despacho, o Presidente do CD do ICA, I.P. determinou também que se recorresse a
um concurso limitado por prévia qualificação. No programa do concurso, no qual se
adoptou um sistema de selecção, estabelecia-se ainda que apenas podiam
concorrer empresas nacionais. Candidataram-se cinco empresas e apenas quatro
foram seleccionadas para apresentar propostas, tendo sido convidados para o fazer
no prazo de cinco dias. Apenas duas empresas apresentaram propostas, tendo uma
delas indicado um preço de 2.000.000 €, pelo que o júri propôs a adjudicação à
outra empresa. O Presidente do CD do ICA, I.P. veio a adjudicar o contrato a essa
empresa, mas fê-lo 75 dias após a apresentação das propostas, pelo que o
adjudicatário recusou-se a apresentar os documentos de habilitação, uma vez que
não pretende celebrar o contrato. Perante isto, o ICA, I.P. pretende abrir um
procedimento de ajuste directo para adjudicar o contrato.

Quid juris?

Neste caso teríamos aqui um contrato público que não seria excluída pelo âmbito objetivo ( 4º e 5º
CCP). Pelo âmbito subjetivo teríamos aqui uma Entidade Adjudicante ( art. 2º.1.d CCP)- 16º.2.a;

A decisão de contratar deverá ser fundamentada pelo artigo 36º do CCP, como forma a tender ao
princípio do interesse público e a concorrência. Assim o artigo 36º.3, diria que neste caso se
houvesse mais de 5 milhões de euros a contratar haveria um dever de fundamentação acrescido por
parte da entidade pelo que o valor seria mais avultado. No entanto, a prof. MJE discorda porque
seria sempre de acordo com o interesse público fazer uma fundamentação mais extensa pelo que em

Duarte Canau
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contratos como 4 milhões o contrato já seria de modo avulso que se deveria não ter em conta o
valor mas os valores que costumam ser praticados no mercado . Neste caso estando aqui perante
um contrato de obras públicas o custo de obra pública o cálculo do valor está disposto no art. 17º.3
CCP, pelo que o pelo artigo 18º a escolha do procedimento deverá seguir os termos dos artigos
seguintes pelo que pelo artigo 19º b ( ex vi 474º.3).apareceria ser o concurso limitado por prévia
qualificação. Dever-se-á entender que pelo artigo 38º, a decisão de escolha de formação dos
contratos teria de ser fundamentada pelo que teria de ser o órgão competente para a decisão de
contratar ( neste caso foi o Presidente).

Aula 22/04/2021

A decisão de adjudicação é o ato pelo qual o órgão competente para a decisão de contratar aceita a
única proposta apresentada ou escolhe uma de entre as propostas apresentadas – art. 73º. Pelo
artigo 76º, a decisão tem de ser notificada até ao termo do prazo da obrigação da manutenção das
propostas, que neste caso pareceria ter sido ultrapassado. Assim sendo, só por motivo devidamente
justificado poderia ser feita decisão de adjudicação, mas segundo o final do artigo 76º.2 nada iria
descurar a recusa por parte do concorrente escolhido ( 76º.2 , parte final). O preço seria
anormalmente baixo pelo artigo 70º.2.e ex vi 71, ou seja não seria o preço baixo estipulado, assim
não sendo excluído logo a entidade deve esclarecer o porquê do preço ser tão anormalmente baixo.

O preço anormalmente baixo (71º) tem a lógica de o preço ser significamente mais barato e atrativo
pode não ter a mesma longevidade e sustentabilidade em relação a outra propostas, podendo se
colocar a questão de estão a ser estabelecidas o artigo 1º- A .2., sendo que este artigo pode ser vista
como excessivamente rígido por colocar questões como "direito regional” ou até “igualdade de
género”. No momento em que a Administração deve atender não só ao preço ( valor estabelecido
no contrato) e os custos do preço anormalmente baixo (pois a longevidade e qualidade material
poderia a longo prazo gerar um detrimento superior à outra proposta). Antes de 2017 o legislador
fixava na lei os horizontes pelos quais um preço pode ser anormalmente baixo, agora os horizontes
deixaram de desaparecer eles seriam passivos de manipulação.

Neste caso seria violado o disposto do artigo 191º, que estipulava os 14 dias. Neste caso estaria
desrespeitando o artigo 181º, aplicando-se o disposto no artigo 174º. O legislador tem aqui um tom
garantístico, sem prejudicar a margem de decisão da entidade adjudicante.

O Concurso limitado por prévia qualificação está previsto nos arts. 162º e ss.: é um procedimento
concorrencial, mas é limitado por uma qualificação dos candidatos prévia à fase de apresentação das
propostas.O juri deve escolher os candidatos e apresentá-los em plataforma online (177º9, os

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requisitos para a qualificação prévia estão no artigo 165º. Este é o único procedimento em que se
pode olhar para o candidato em si, as suas qualidades e características. Neste caso a qualidade eram
só ser empresas nacionais, estando aqui em causa e sendo questionado se seria possível pois ao
excluir as empresas de fora de Portugal estamos a incorrer em violações do princípio da
concorrência ( que é basilar nos contratos públicos, dada a sua “função sistematizante" do Código)
e também o princípio da igualdade, neste caso na vertente da igualdade de acesso. O Acórdão
Conisma decretará que princípio da concorrência se pronunciará em favor da “Maior abertura
possível à concorrência”;

Há lugar à fase da habilitação em que pelo artigo 86º, a entidade faz passar que tem tudo o
necessário para fazer o contrato e não tem nenhum impedimento do artigo 55º. Se não apresentar
os documentos pelo artigo 86º haverá caducidade. A caducidade não ocorre logo havendo um prazo
supletivo pelo artigo 86º.2, sendo prazo de 5 dias.

De acordo com o artigo 188º e 189º, estariam sendo enviados a fim da decisão do contrato de fazer
uma notificação aos candidatos da decisão tomada.

A entidade teria o dever de adjudicação ( art. 76º) , não estando indicado nenhum prazo será o do
art. 65º, tendo sido ultrapassado haveria uma omissão ilícita. Neste caso não se poderia aqui fazer
um “ajuste direto” porque o valor do contrato seria superior a 30 000 euros ( 19º.d), ou seja a
Entidade não poderia passar esta barreira desta forma. Não haveria aqui barreira pra ultrapassar os
critérios materiais do ajuste direto, abrindo um novo procedimento e estariamos perante um
“concurso deserto” (24º.1.a), que não poderia estar verificado pois no caso a própria entidade
excluiu excessivamente as entidades. Dever-se-á sempre obedecer ao princípio da estabilidade (art.
50º por exemplo) do procedimento, pois as alterações podemos estar a “fazer o jeito" para um
concorrente ou outro. As propostas têm um princípio de intangibilidade, ou seja durante o prazo
de apresentação de propostas, a partir do momento em que termina o prazo de emissão das
propostas estas mesmas cristalizam.

Ver artigo Ana Alves, sobre preço anormalmente baixo e o Acórdão sobre o Concurso Deserto.

Aula 29/04/2021

Hipótese Prática V

Num concurso público para a execução de determinada obra, com o preço-base de


€ 6.500.000,00, foi fixado um prazo de 8 dias para a apresentação de propostas, a

Duarte Canau
Aulas Práticas Direito Administrativo III - Professora Sara Matos (2020/2021)

contar da data de envio do anúncio para publicação no Diário da República.

Após analisar as duas únicas duas propostas apresentadas no procedimento, o júri


passou directamente para o relatório final e decidiu:

a) Excluir a proposta A, por prever um preço 60% inferior ao preço-base; e

Estamos aqui perante um caso do artigo 19ºa pelo que a mesma deveria ser publicada em Jornal
Oficial ( artigo 19º.1.a). Neste caso a adoção deveria ser feita por decisão fundamentada. Tratamos
também de ver se se aplicaria ou não aqui o artigo 135º ou 136º, não tendo o anuncio sido
publicado, o prazo a ser publicado seria o do artigo 136º, devendo o prazo ser alargado. Findo o
prazo dever-se-á agir conforme o artigo 138º, seguindo os critérios de escolha do artigo 139º- não
tendo isto sido verificado. Neste caso estaríamos perante uma questão do artigo 47º do CCP. A
fixação do preço base deverá ser fundamentada com base em critérios objetivos e após a consulta
preliminar prevista no artigo 35º- a ( vide o Dever de Fundamentação da Administração 152º CPA)
como advém da alínea 3 do artigo 47º.. Pela alínea 4 do artigo 47º o tipo de procedimento a adoptar
independentemente do preço base seria o concurso público. Neste caso sendo o preço base o
máximo que uma entidade se dispõe a pagar não se perceberia o porquê de a mesma ter sido
excluída do concurso, pois neste caso a questão viria o mesmo apenas excluído se fosse superior
(47º.1 ex vi 70º.2.d). Por-se-ia ou não a questão de estarmos perante um preço anormalmente baixo
(70º.2.e ex vi 71º) Dever-se-á ver também as alíneas 3 e 4 do 71º.

Próxima aula: Apresentação da alteração do 72º.3 CCP - “suprimento de irregularidades”

Teoria da Degradação das Formalidades Essenciais e Não Essenciais -Acordão do Tribunal Central
Administrativo (dgsi.pt)

Acordão do Supremo Tribunal Administrativo (dgsi.pt)

Artigo Jorge Pação e Sara Matos

Casos da Jurisprudência

b) Admitir e propor a adjudicação da proposta B, a qual, apesar de prever um preço


ligeiramente superior ao preço-base, apresentava uma relação qualidade-preço que
o júri considerou “extremamente satisfatória” para o interesse público, na medida em
que os acabamentos da obra eram de luxo e, sob essa perspectiva, o acréscimo de
preço “não era significativo”.

Duarte Canau
Aulas Práticas Direito Administrativo III - Professora Sara Matos (2020/2021)

Neste caso não seria possível admitir a proposta de B. A relação do custo e a obtenção de benefícios
do mesmo custo e a relação qualidade preço deve ser identificada pela própria entidade
anteriormente ao concurso pelo recurso ao artigo 35º-A visto o artigo 47º devendo o mesmo ter
procedido previamente à fixação de preço base diferente como forma abranger. Pelo artigo 70º.2.d
estariamos aqui perante uma exclusão desta entidade. Tendo em conta a exclusão da anterior
entidade isto seria uma falta perante o princípio da transparência que tem a finalidade de garantir a
ausência de qualquer risco de favoritismo ou de arbítrio da parte da entidade adjudicante,
destinando-se a garantir a ausência de risco de arbitrariedade por parte da entidade adjudicante1.
Implica que todas as condições e modalidades do procedimento de adjudicação sejam formuladas
de forma clara, precisa e unívoca no anúncio/ peças do procedimento.
Surge aqui o princípio da integridade na contratação pública, assente na promoção da
transparência e da boa gestão pública na prevenção de conflitos de interesses e na luta contra a
corrupção, nos casos de dúvidas satisfação e realidade qualidade preço para com os intervenientes.
Poder-se-ia então suscitar a inclusão deste caso no artigo 72º.3, neste caso a entidade tendo todos os
elementos para apreciar a proposta.

Hipótese VI

Uma Direcção-Geral de um ministério e uma sociedade anónima de capitais


exclusivamente públicos associaram-se para adjudicar em conjunto um contrato
para a “aquisição do software e dos serviços para a sua instalação e manutenção
evolutiva”, com o preço base de 1.200.000 €. Apenas duas empresas – A e B –
apresentaram propostas. No relatório preliminar, a proposta da empresa A foi
excluída por apresentar um preço contratual de 500.000 € e a proposta da empresa
B por apresentar propostas com variantes, o que não era admitido no programa do
procedimento. Perante isto, o órgão competente para a decisão de contratar não
homologa o relatório final e decide abrir uma fase de negociações com vista à
alteração das propostas de ambas as empresas. O contrato foi adjudicado à
empresa A, a qual, no âmbito das negociações, alterou o preço, e o contrato é
celebrado cinco dias depois, apesar de não ter sido prestada caução. Responda às
seguintes questões, fundamentando-as devidamente:

1. A Parte II do Código dos Contratos Públicos é aplicável a este contrato?

Estaria aqui preenchido o Âmbito objetivo pois este contrato não seria excluído nem para fins do
artigo 4º nem 5º. Tendo em conta que a Direção Geral integra um Ministério e o mesmo pertence à
Administração Central do Estado, aqui teriamos um entidade adjudicante para efeitos artigo 2º.1.a,
estando preenchido o âmbito subjetivo.

1
Ac. SC Enterprise Focused Solutions SRL;

Duarte Canau
Aulas Práticas Direito Administrativo III - Professora Sara Matos (2020/2021)

Não conseguimos perceber se a Sociedade será uma ODP ou não pois apesar de ter fundado
exclusivamente públicos a mesma não indica quem é o principal financiador , não tendo qualquer
tipo de tutela a ser exercida sobre ela ( para efeitos da ii, a , 2.2).

Dever-se-á usar o fundamento sempre para engordar o âmbito subjetivo do Código para fins de
aplicação da Parte II do CCP ou seja não seria escusa estarmos diante de uma entidade privada para
se deixar de aplicar esta parte do Código.

Neste caso concluir-se-ia que estávamos perante um Agrupamento de Entidades Adjudicantes (


39º), pela alínea a sendo que teríamos de concluir que ambas as entidades teriam de ser qualificadas
( hipoteticamente) como uma entidade adjudicante para a alínea a. Seria de aplicar aqui o artigo
39º.4, porque estamos perante uma entidade do Estado, sendo o patamar o de 139 000 euros, sendo
um contrato misto de bens e serviços.

Aula 06/05/2021

2. Que procedimento(s) pré-contratual(is) podem/devem ser adoptados?

Para o caso referido, devemos ter em conta que por procedimento pré-contratual teremos sempre
todos os procedimentos que são tomadas antes da Decisão de Contratar. Deve-se aqui aplicar por
estarmos perante serviços o artigo 20º, neste caso devendo ter em conta que o Preço -Base obrigaria
a escolher-se o Concurso Público Limitado por Prévia Qualificação com prévia publicação no
Jornal UE ( alínea a), seria de aplicar o artigo 474º.3. b e c ( sendo que o limiar seria acima - neste
caso sendo o estado seria a alínea b ), excluindo assim aplicação do 20ºb. Devia ser elaborado um
relatório preliminar em que o júri avalia e analisa as propostas e exigências. Tem também a
audiência dos interessados. A consulta preliminar do mercado ( 35º-A), poderá também ser
requerida antes da abertura do procedimento para consultar o mercado. Devemos ter em atenção as
peças procedimentais ao artigo 40º.1.c.

Em relação ao Critério de Adjudicação o mesmo deve obedecer ao artigo 74º, podendo se tomar a
decisão de adjudicação também na alínea a e b do 1º.

Neste caso dever-se-ia ter em conta as alíneas 3 e 4 do 72º , devendo o júri solicitar ao candidato
suprir as irregularidades das suas candidaturas. Causadas por preterição de formalidades não
essenciais que careçam de suprimento.

3. Concorda com a decisão de excluir ambas as empresas?

Duarte Canau
Aulas Práticas Direito Administrativo III - Professora Sara Matos (2020/2021)

Não se compreende as razões de exclusão da Empresa A pois o preço base seria de 1 200 00 euros
pelo que o preço base se afere para o preço máximo ( 47º.1), assim sendo a mesma tendo um preço
inferior não poderia ter como esta razão de ser excluída da contratação.

Poder-se-ia no entanto colocar a questão de saber se estávamos ou não perante um preço


anormalmente baixo, que seria uma nova questão que teria sido trazida por vias das Diretivas
2914/24 e 2014/25. Este instituto jurídico é erigido como com o propósito de tutelar os riscos
associados à adjudicação de uma proposta de preço excessivamente baixo. Existem 2 Teses sobre este
conceito:

- Sue Arrowsmith: qualifica como anormalmente baixas (apenas) as propostas de preço que
apresentem um risco de incumprimento (aqui também designada por “perspectiva do risco
de incumprimento”);
- Peter Trepte: considera anormalmente baixas todas as propostas de preço situado abaixo do
preço de custo e, ou, sem adequada margem de lucro (a “perspectiva da cobertura de custos
e lucro”)

Ac. STA 20/07/2017 →e «para que seja anormalmente considerada baixa a proposta de preço tem
de revelar um sério risco de impossibilidade de cumprimento do contrato [art.º 71.º, n.os 1 e 2 do
CCP]: Daí que a previsão de um preço anormalmente baixo como factor de exclusão das propostas
se destine apenas a evitar o risco de um incumprimento integral pelo adjudicatário das obrigações
que assumiu perante a entidade adjudicante, mas já não o cumprimento pelo adjudicatário das
obrigações para com entidades terceiras ao contrato

o Acórdão Azienda Ospedaliero→ aponta para uma tendencial não consideração da situação e
capacidade financeira do concorrente, da sua reputação e performance em anteriores contratos, da
sua dimensão empresarial, do historial da sua presença e participação naquele segmento de
mercado, como elementos relevantes para qualificar uma proposta de preço como anormalmente
baixa, já que esses são elementos externos à prestação contratual.

Neste caso não tendo a entidade feito uma consulta prévia do mercado. Nem sabendo muitos mais
detalhes sobre a empresa não poderia neste caso , seria da minha opinão que face às incertezas da
performance da empresa no passado e atendendo a todos estes critérios estaria justificada esta sua
exclusão.

Já em relação a B, sendo apresentadas várias alternativas pelo artigo 59º, o que seria de aplicar 59º.2,
pois as mesmas não seriam de aplicar pelo que a mesma seria excluída pelo artigo 70º.2.b.

Duarte Canau
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4. E com o procedimento adoptado pelo órgão competente para a decisão de


contratar?

Neste caso pelo valor do contrato , seria um concurso limitado por prévia qualificação ( por via do
artigo 20º a), sendo que neste mesmos não poderá existir fase de negociações (149º.1.c e 152º ,
artigo 162º). O relatorio final é enviado à entidade adjudicante ( 148º), não havendo uma
vinculatividade do relatório o orgão adjudicante pode exigir termos diferentes do relatório, sendo
que neste caso seria ilegal porque não foi a entidade correta a fazer o relatório. Discute-se quais são
as fronteiras entre o membro do juri e dos orgãos da entidade, quer por questões de imparcialidade
e que têm o know-how adequado para a celebração de dado contrato. Fala-se daqui do poder de
discricionariedade e de autonomia, a margem decisória será aplicada pois estamos aqui numa zona
cinzenta em que a mesma será necessária.

Isto decorre do princípio da legalidade nomeadamente no que toca às questões da competência,


poderíamos ter aqui um caso em que não há discricionariedade prevista por lei para que o juri
delegue as competências e discutir se seria ou não possível a alteração do relatório final.

5. O contrato celebrado com a empresa A é válido?

A alteração do preço após o término do prazo seria uma fuga ao princípio da intangibilidade ou
seja durante o prazo de apresentação de propostas, a partir do momento em que termina o prazo de
emissão das propostas estas mesmas cristalizam, que decorre da alteração deste preço( 284º.2.a) -
seria inválido.

Após a adjudicação segue-se a habilitação e a prestação de caução (arts. 81º e ss.).A caução é uma
garantia que o adjudicatário deve prestar ( 88º e ss.). Devia ser prestada aqui a caução que apenas é
exigida nos termos do n.º 2 do artigo 88.º do CCP, ou seja, quando o valor contratual seja superior
a 200.000,00€ (alínea i) do n. º1 do artigo 115.º do CCP), seria aqui obedecido o artigo 90º.1 em
relação ao prazo pois seria de 10 dias e aqui foram 5 ara ser dada.

Decorre do Princípio da Concorrência, mas também do texto de lei, que uma vez ultrapassado o
prazo para apresentação/entrega das propostas, o concorrente fica vinculado a elas, não as podendo
retirar – efeito de indisponibilidade – nem alterar – efeito de congelamento ou petrificação.

104º .1 e 2 em relação à questão do stand still do prazo. Podiamos estar aqui perante uma garantia
administrativa. O interessado poderia accionar aqui uma figura de contencioso pré-contratual. ou
numa tutela cautelar

Duarte Canau
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Hipótese Prática VII

Atendendo ao progressivo envelhecimento da população residente no concelho, o


Município A decidiu construir um lar municipal de terceira idade para acolhimento
dos idosos que, comprovadamente, não tivessem condições económicas para
suportar os preços exigidos por um lar privado.

Uma vez que as próximas eleições autárquicas seriam já no ano seguinte, e


antevendo que os votos da população mais idosa seriam decisivos para ser
reconduzido no cargo, o Presidente da Câmara Municipal determinou que a
execução da obra se revestia de “urgência imperiosa” e que o lar em causa deveria
estar pronto a tempo de ser inaugurado na última semana de campanha eleitoral.

Com este fundamento, o Município A lançou um procedimento de ajuste directo para


a celebração do contrato de empreitada de obras públicas para a construção do lar
municipal, com o preço-base de € 6.000.000,00.

Mais deliberou o Município A, atendendo à urgência na execução da obra e na sua


importância estratégica para o bem-estar da população municipal, no segmento
etário da terceira idade, convidar apenas a empresa de construção civil
“Cimentos&Betões, Lda.” para apresentar proposta no procedimento de ajuste
directo, com o fundamento de que apenas este empreiteiro seria “de confiança” e
daria suficientes garantias de conseguir levar a obra a bom termo.

Por mero acaso do destino, o gerente da “Cimentos&Betões, Lda.” era familiar do


Presidente da Câmara Municipal e, também por feliz coincidência, esta empresa
tinha sido a adjudicatária em todos os procedimentos de ajuste directo promovidos
pela autarquia durante este mandato, tendo recebido pela execução de todas essas
empreitadas, no total dos últimos três anos, o valor acumulado de € 3.000.000.

A proposta da “Cimentos&Betões, Lda.” foi adjudicada pelo Município A, em virtude


de ter sido a única proposta apresentada no procedimento, embora o júri tivesse
notado que o concorrente não tinha entregado o plano de trabalhos imperativamente
exigido no convite.

Notificado para apresentar os documentos de habilitação, a “Cimentos&Betões,


Lda.” não entregou a certidão de registo criminal actualizada do seu gerente, mas
apresentou, em substituição deste documento, uma declaração através da qual o
mesmo gerente garantia solenemente que, apesar de ter sido condenado, por
sentença transitada em julgado no ano passado, pelo suborno de um Vereador da
Câmara Municipal, tal não colocava em causa a sua idoneidade para executar a

Duarte Canau
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obra, visto essa condenação resultar de uma “perseguição judicial” de que o


envolvido tinha sido vítima e que teria sido instigada pela “inveja” dos seus
concorrentes.

A Câmara Municipal aceitou esta justificação e procedeu à celebração do contrato


com o adjudicatário, o que não foi publicitado no portal da Internet dedicado aos
contratos públicos.

Ao deparar-se com a montagem do estaleiro e o início das obras de construção do


lar de terceira idade, um dos administradores da “Muros&Telhados, S.A.”, empresa
rival da “Cimentos&Betões, Lda.”, vem consultá-lo sobre a legalidade do
procedimento promovido pelo Município A e da decisão de adjudicação proferida no
âmbito do mesmo.

Tendo presente os factos acima expostos, esclareça as dúvidas colocadas pelo


administrador da “Muros&Telhados, S.A.”, pronunciando-se sobre:

a) A sujeição do contrato em causa ao regime procedimental previsto na Parte II do


Código dos Contratos Públicos;

Neste caso sendo este Contrato Celebrado por um Município este mesmo preencherá o âmbito
subjetivo ( 2º), preenchendo a alínea c. Sendo que o contrato irá cumprir com o âmbito objetivo
pelo artigo 4º e 5º.

Deveria ser aqui identificado se poderiamos estar aqui ou não perante uma causa de exclusão
contratual ( caso de contratação in-house) no entanto, não estariamos aqui perante dados
suficientes para determinar a natureza da SA.

b) A decisão de escolha do procedimento de ajuste directo para a execução da obra


em causa, tendo em conta o valor da empreitada e os fundamentos invocados pelo
Presidente da Câmara Municipal;

Neste caso tendo em conta o preço base da proposta sido fixado em 6 milhões de euros, pelo artigo
19º.1.a deveria aqui ser de aplicar o concurso público limitado por prévia qualificação com
publicação no JOUE .

Poderíamos estar aqui perante um caso de escolha de procedimento em função de critérios


materiais ( 23º e ss.)

Duarte Canau
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Neste caso perante todos os argumentos dados pela entidade poderíamos estar aqui perante um
contrato em que se escolheria o ajuste direto ( 25º), poderiamos estar aqui perante a a aplicação do
25º.1.a, pois seria uma nova obra similar a já realizadas a contratos estabelecidos entre estas 2
entidades. devendo se ver se se aplicaria aqui este artigo verificando cumulativamente as alíneas:

i) o contrato seria celebrado entre as mesmas 2 entidades o Município e a SA;

ii)não haveria aqui dados contudo se haveria ou não um projeto base com que teriam de estar em
conformidade ( no entanto temos o dado que as entidades estariam a trabalhar conjuntamente
pelos ultimos 3 anos);

iii) sabemos aqui que já haviam sido celebrados entre as duas entidades nos últimos 3 anos não
sendo especificado contudo como foi elaborado esta base;

iv) Neste caso é dito que o procedimento não foi publicitado;

v) Neste caso foi indicado e invocando a necessidade de ser por ajuste direito desde logo pela
urgência da construção do lar;

Assim penso que não estaria preenchido cumulativamente este artigo, pelo que não se poderia
escolher aqui o ajuste direto.

No entanto deveríamos de ser indiciados pelo critério material geral do artigo 24º: ou seja
deveriamos verificar os critérios da alínea 1- neste caso seria de aplicar a alínea c relativamente à
urgência pelo que seria dada à necessidade de construção do lar, sendo assim estariamos aqui
perante um caso em que seria permitido este a utilização desse ajuste. No entanto dever-se á sempre
verificar com cautela a “urgência imperativa” é de facto desta dupla natureza.

Temos então de ver sempre o artigo 24º e ver se está em qualquer um dos critérios, só depois
podemos ir para a parte especial ( que seria o caso do artigo 25º)

Neste caso teríamos aqui uma nulidade ( 171º.l CCP). . No entanto há aqui uma discussão se aqui
há uma anulabilidade ou nulidade.

Isto por que não seria de considerar esta adjudicação como imperativa ou mesmo urgente. Pode
haver aqui um desvio de poderes porque neste caso a urgência do lar ser feito seria feita por via de

Duarte Canau
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uma campanha eleitoral que se avizinha - para fins de interesses privados ( 161º nº2 alínea e CPA).

c) O envio de convite a um único concorrente, especificamente a


“Cimentos&Betões, Lda.”;

O convite não poderia ser feito porque neste caso não seria aqui um ajuste direto e também pelo
facto de a entidade já teria sido adjudicada em odos os procedimentos do mandato ( 113º.2).
Haveriam aqui impedimentos do CPA relativamente ao artigo 69º- no que releva a imparcialidade.

O artigo 113º.2 tem vários requisitos cumulativos: “horizonte temporal"; “procedimentos


restritivos da concorrência”; procedimentos do 19º e 20º - critério do valor;

d) A admissão e adjudicação da proposta apresentada pela “Cimentos&Betões,


Lda.”;

Haveria uma exclusão da proposta pelo artigo 70º.2.a, estando em causa uma condição. Poderia
aqui ser invocado o artigo 72º.3 para se ponderar a sua aplicação. Este procedimento estaria torto
desde o início e não havendo concorrência perguntar-se-ia aqui a sua aplicabilidade. Apelo também
ao princípio da celeridade e da eficiência.

Duarte Canau
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Aula 19/05/2021 (11 da Manhã)

e) Os documentos de habilitação apresentados pela “Cimentos&Betões, Lda.”;

f) A falta de publicitação da celebração do contrato na Internet

Hipótese Prática VIII

O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INS) pretende adquirir quatro
máquinas de radiografia. Estimando-se que a despesa não ultrapasse os 60.000€, é
aberto em Novembro de 2018 uma consulta prévia para adquirir os bens. O preço
base do procedimento é fixado precisamente naquele montante.

O INS convida a apresentar proposta sete empresas que fornecem aqueles bens.

Considere as seguintes hipóteses, que são independentes entre si:

a) Pode o INS convidar 7 entidades em vez de abrir um concurso público ou um


procedimento por negociação?

b) A empresa D, que tomou conhecimento do convite endereçado às diversas


empresas, alega que também deveria ter sido convidada a apresentar proposta,
pois tem créditos firmados no mercado do fornecimento de unidades de radiologia.
Por outro lado, considera que o concorrente A não poderia ter sido convidado,
porque sabe que esse concorrente, em Fevereiro de 2016, forneceu ao INS duas
unidades semelhantes às agora contratadas, pelo preço de 30.000€. Quid iuris?

c) A empresa A apercebe-se, durante a consulta das peças do procedimento, do


que considera ser um erro de cálculo manifesto no caderno de encargos – exige-se
5 KV de fotografia de tensão quando o mínimo exigível é de 50 KV – e chama a
atenção para o facto, no décimo dia do prazo de 15 dias para apresentação das
propostas. O INS nada diz sobre esse suposto erro, razão pela qual a empresa
apresenta a sua proposta tomando como pressuposto o valor que considera correto
(50 KV). Fez bem?

d) A empresa B apresentou uma proposta com preço contratual de € 70.000, que


justificou com a grande qualidade dos bens por si propostos. Contudo, a proposta é
excluída. A empresa B não compreende essa decisão, uma vez que o procedimento
em causa permite a celebração de contratos até ao valor de € 75.000

Duarte Canau
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O preço base do procedimento fixado em 60 000 euros ( 47º), ou seja ao apresentar uma proposta
superior ao valor esta poderia ser motivo para exclusão do contrato artigo 70º.

Apesar do limiar da consulta prévia ser o artigo 75 000 euros, pelo artigo 20º.c, não iria desprover o
facto de a empresa puder fixar o preço base num outro limite deste que não transcenda o artigo
20º.c.

e) A empresa C apresentou ao procedimento um equipamento fabricado com um


material de tecnologia de ponta, que oferece menos perigo para a saúde. Por essa
razão, na proposta apresentada o concorrente fez a seguinte menção: “A
informação acerca do processo de fabrico do material que compõe os equipamentos
propostos é estritamente confidencial e só pode ser acedida pelo júri do
procedimento”. Após a entrega das propostas, a empresa fica, pois, extremamente
surpreendida quando percebe que aquela documentação está disponível para
consulta livre pelos seus outros concorrentes, na plataforma electrónica utilizada
pelo INS.

f) O INS, após a apresentação das propostas, decide abrir uma fase de negociações
com a empresa D e a empresa E, que foram as que apresentaram preços mais
baixos. O júri propõe a ambas as empresas que baixem os respectivos preços, e,
por sugestão do concorrente E, numa reunião que corre em separado, propõe que
baixe o preço e o prazo de entrega dos bens. Nas versões finais das propostas, o
concorrente D baixa o preço e o concorrente E baixa o preço e também o prazo de
entrega, razão pela qual, em resultado da aplicação do critério de adjudicação, a
proposta daquele último fica classificada em primeiro lugar. Podem os outros
concorrentes contestar a actuação da entidade adjudicante e quais as vias legais
previstas no CCP para tutela dos seus interesses?

g) Foi adjudicada uma proposta no valor de 50.000€, comprometendo-se o


adjudicatário a entregar todos os rádios num prazo de 15 dias a contar da
adjudicação, tendo os bens garantia de três anos contra defeitos de fabrico. O INS
pretende saber se está obrigado a celebrar o contrato por escrito, e quando pode
receber os bens. O adjudicatário pretende ser pago imediatamente após a entrega
dos bens

Hipótese Prática IX

O Comando-Geral da Guarda Nacional Republicana, doravante designada por


GNR, lançou um concurso público, cujo aviso de abertura foi publicado no
Diário da República, para a celebração de um contrato para a “aquisição de
serviços de manutenção do Sistema de Gestão da Rede de Viaturas da GNR”.

Duarte Canau
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O preço base fixado foi de € 355.000,00.

O critério de adjudicação foi o da proposta economicamente mais vantajosa,


densificado pelos fatores “Preço”, “Qualidade do serviço proposto” e
“Avaliação da equipa”, com a ponderação de 50%, 30% e 20%,
respectivamente.

Do relatório preliminar de análise de propostas, resulta que das quatro


propostas concorrentes apenas uma ficou admitida a concurso, a da empresa
+Soluções, S.A.

Em sede de audiência prévia pronunciou-se a empresa Auto-visão, Lda.,


excluída do concurso, no sentido de que a proposta admitida se encontrava
assinada por uma pessoa que também assinava a proposta de outra empresa
concorrente, a Go-car, Lda. Em causa estava o facto de as propostas das
empresas +Soluções, S.A. e Go-car, Lda. terem sido assinadas por Bento, na
qualidade de presidente do Conselho de Administração da primeira e sócio
gerente da segunda.

O júri deliberou, no entanto, negar provimento à reclamação apresentada pela


Auto-visão, Lda. pelo facto de as empresas +Soluções, S.A. e Go-car, Lda. se
terem apresentado a concurso individualmente e não em agrupamento, não
obstante a +Soluções, S.A. deter uma quota na Gocar, Lda.

Nesta sequência, é o contrato adjudicado à empresa +Soluções, S.A., a 11 de


Novembro de 2015.

Tendo presente que o Programa do Concurso previa a exigibilidade da


prestação de caução no valor de 5% do preço contratual, contendo em anexo
um Modelo de Garantia Bancária, a empresa +Soluções, S.A. viria a questionar
a entidade adjudicante acerca do referido Modelo, concretamente no que toca
ao regime de liberação da caução aplicável, o que fez no dia 20 do mesmo
mês.

Já no dia 23 de Novembro o Comando-Geral da GNR respondeu a esta


empresa, clarificando que se deveria aplicar o disposto no artigo 295.º do
Código dos Contratos Públicos, tendo, então, a mesma prestado a caução
devida no dia 2 de Outubro.

Contudo, no passado dia 10 de Dezembro a empresa +Soluções, S.A. viria a


ser notificada da decisão de caducidade da adjudicação, com a consequente

Duarte Canau
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adjudicação do contrato em causa à Go-car, Lda.

Revoltado com a injustiça de que a +Soluções, S.A. foi alvo, Bento pondera
não celebrar o contrato com o Comando-Geral da GNR, entidade esta que,
sentindo-se ultrajada com este comportamento, decide lançar um ajuste
directo para a celebração do mesmo contrato, aproveitando para incluir a
prestação de assistência técnica ao mesmo Sistema, e convidando para o
efeito apenas a empresa Electro-Gestão, S.A.

Considere as seguintes questões, que são independentes entre si:

a) Lançamento do procedimento concursal;

b) Legalidade do método e factores da avaliação das propostas;

c) Pronuncie-se relativamente às alegações da empresa Auto-visão, Lda.;


70º/2/g) + 146º

Propostas variantes - 59º


• Não seria o caso porque provêm de empresas distintas - as propostas variantes devem partir
da mesma entidade, mesmo que materialmente pudessem ser a mesma.

A influência de uma empresa sobre a outra vai afetar a concorrência


• Assinatura das propostas - o centro de decisão de uma é influenciado pela outra.
o A entidade conhece o teor da proposta de outra, o que não é suposto no procedimento do
concurso público.
o Se há um preço base e várias empresas, há concorrência.
o Suscetibilidade de falsear a concorrência.

Agrupamento - 54º/2

Resolução:
Intervenção pessoal do mesmo representante na assinatura das propostas + Participação nas quotas
(centro de decisão comum)

d) Caducidade da adjudicação do contrato;


Não foi prestada a caução no prazo fixado, pelo que há caducidade da adjudicação
91º/1 e 2 + 89º

Duarte Canau
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Pedido de esclarecimento => Facto não imputável ao adjudicatário


A EA, ao responder, aumenta o investimento de confiança do adjudicatário, mas depois, ao
considerar a caducidade, há uma violação dos princípios da razoabilidade, da justiça e da boa-fé.

e) Escolha do procedimento de ajuste directo pelo Comando-Geral da GNR

Neste caso será uma questão de saber ou não se pode desistir da Contratação.
teríamos de ver se haveria alguma fundamento que justificasse tanto no ponto de
vista do critério material ou dos critérios valorativos para que fosse possível lançar
um procedimento de ajuste direto.

Tendo em conta que o preço de base foi fixado em 355 mil euros, pelo aue no nosso
caso seria de aplicar a alínea

Hipótese Prática X

Face às ocasionais cheias verificadas em diversas localidades do concelho, por


ocasião do Inverno, a Câmara Municipal de Unhais de Baixo lançou um
procedimento de negociação sem publicação de anúncio no Jornal Oficial da União
Europeia para a celebração de um contrato de aquisição de serviços para o estudo
e apresentação de soluções técnicas que permitam evitar ou minimizar os efeitos
das cheias. O preço base fixado foi de 160.000€.

Foram apresentadas apenas três propostas. Depois da respectiva análise, o Júri


propôs a exclusão da “Consultores de Ambiente, Lda.”, por ter apresentado um
preço de 110.000€, considerado pouco credível, e por não ter dado qualquer
justificação para esse mesmo preço.

É adjudicada a proposta da “Mestres da Água, SA”, ficando a “Matias Poços e


Piscinas Unipessoal, Lda.” em segundo lugar. A “Mestres da Água”, porém, não
apresentou a caução em tempo, levando Matias a reclamar de imediato a
celebração do contrato com a sua empresa. Passado algum tempo sem resposta,
Matias recebe um ofício no qual se dá conta que “face ao agravamento da situação
financeira do Município, decidiu-se não adjudicar o presente procedimento e revogar
a decisão de contratar”.

A Câmara contrata então directamente a “Empresa de Estudos Hidráulicos, SA”,


uma sociedade de capitais maioritariamente públicos, para a execução dos referidos
serviços, invocando a circunstância de se tratar de uma empresa do sector público,

Duarte Canau
Aulas Práticas Direito Administrativo III - Professora Sara Matos (2020/2021)

dando por isso garantia de preços baixos e dispensando qualquer procedimento


pré-contratual.

Considere as seguintes questões, que são independentes entre si:

a) É válida a escolha do procedimento de negociação neste caso?

O que se teria de fazer neste caso era ver os cirtérios de escolha deste
procedimento sendo certo que o que este procedimento tem de particular não seria
pelo cirtério valorativo do artigo 18 com o artigo 19º e 20, mas sim olhar para o
cirtério material 24º.

b) Aprecie a conduta do júri relativamente à “Consultores de Ambiente, Lda.”.

Teríamos aqui uma questão de preço anormalmente baixo ( art. 71º).

c) A Câmara poderia ter decidido não adjudicar o procedimento?

Neste caso está em causa uma caução do artigo 88º e ss. Segundo ao artigo 91º, a não prestação da
caução significaria a caducidade da adjudicação, pelo que pelo dever de adjudicação o dever 76º que
não é absoluto, que neste caso poderia até ser da aplicação da alínea d do artigo 79º ( "circunstâncias
supervenientes relativas aos pressupostos da decisão de contratar) , o que comportaria até uma
indemnização pelo artigo 76º.

No entanto, haveria uma discussão se existe ou não um verdadeiro dever de adjudicar pelo artigo
76º. A professor Maria João Estorninho diz que desde que haja fundamentação das circunstâncias
poderá se justificar a desistência por parte da entidade adjudicante.

As cláusulas do artigo 79º.1 já são suficientemente amplas. Mas mesmo que não caiba a entidade
adjudicante pode ou não recusar-se do seu dever de adjudicação com base no princípio do interesse
público ( 266º.1 CRP + 4º CPA) com o dever de fundamentação ( artigo 152º CPA) → com
subsequente dever de indemnização pro parte da entidade.

Um argumento contrário seria o de que ao admitir estes argumentos estaríamos a esvaziar o artigo
76º CCP.

d) Aprecie a validade da contratação da “Empresa de Estudos Hidráulicos, SA”

Duarte Canau
Aulas Práticas Direito Administrativo III - Professora Sara Matos (2020/2021)

Neste caso teríamos aqui uma contratação de publica in house, porque sendo que este caso
teriamos de verificar se temos os requisitos do artigo 5º.1.a, no entanto temos apenas um dos
requisitos do artigo pelo que seria de apenas uma das partes pelo que pa alínea c estaria verificada no
caso do artigo 5º- A, no entanto nada é dito pelo que não pudemos contudo referir que há controlo
análogo da alínea 4, pelo que não se poderia desde logo excluir e aplicar a contratação in house.

Quando tentativamente qualquer entidade tentar se excluir do 5º.1, este artigo terá uma natureza
residual pelo que será possível aplicar no caso para não excluir a parte II do CCP, poderíamos
suscitar a aplicação deste mesmo artigo olhando para o contexto da formação do contrato.

Se houvessem qualquer tipo de condições do 5º-A. 5 poderíamos utilizar o artigo 2º para tentar
identificar uma odp para poder excluir o âmbito no entanto não teriamos aqui dados suficientes
para concluir ou não se estariamos perante uma odp.

Não haveria aqui qualquer fundamento para se dispensar recurso à parte II, e haveria uma omissão
de um procedimento devido.

Temas da Pergunta Teórica: Sustentabilidade Ambiental, Social, Green Public Procurement ;


Concessões

Duarte Canau

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