Você está na página 1de 9

Caso VII

Considere que Joana tinha encomendado o material de decoração e iluminação a Vítor


(funcionário da loja de decoração) com a intenção de preparar uma festa com velhos
amigos em sua casa.  
  No dia 2 de Novembro de 2022, as partes acordam celebrar um contrato de compra
e venda com 40 prestações a serem pagas mensalmente e de igual montante (sendo o
preço total o de 10.000€).  
  No dia 6 de Novembro, Vítor entrega a Joana um documento escrito com
informações relevantes, tais como: as taxas de juro de mora, lugar do cumprimento,
etc.  
  No dia 19 de Novembro, a festa é cancelada e Joana pretende que o contrato deixe
de produzir efeitos.  

1- Pode fazê-lo? Estamos no âmbito de um contrato a prestações (art. 934).

Contrato de crédito ao consumo (D.L. 133/2009).


Art. 9º.
Art. 17º: Direito de arrependimento – 14 dias corridos (Joana). Podia arrepender-se até
dia 20 e teria de devolver os juros e capital que venceu.
Âmbito subjetivo: relação de consumo (consumidor e profissional).
Âmbito objetivo: tipo de contratos que existem – um contrato de crédito pode ser
mútuo. Existe um pagamento diferido (o comprador pode ir pagando e ser
financeiramente mais favorável).
Âmbito relacional: Estabelecimento de um nexo de causalidade. Este contrato o
profissional contratou e celebrou o contrato no âmbito das suas funções.
Âmbito teleológico: Qual o fim desta venda? Tendo de ser um fim pessoal e
desinteressado.

Art. 2º: Operações excluídas deste decreto-lei.


Necessariamente uma compra e venda a crédito tem uma taxa de juro aplicável ou
encargos. Há sempre taxas acrescidas de mora ou não.
A 2 ou 3 prestações não se aplica este decreto-lei.

Contrato de crédito coligado (art. 4º/1, alínea o). Pagamento diferido por parte do
comprador e a invalidade de um contrato depende a invalidade do outro (Art. 18º).

Art. 13º: Negócio nulo.

Se no contrato não estiverem previstas as taxas, lugar de cumprimento… o contrato é


anulável.

A invalidade na venda a crédito é atípica (art. 13º/5) e só pode ser invocada pelo
vendedor.

Proteção acrescida na publicidade e informações pré-contratuais (art. 5º e 6º e art. 60º da


CRP).
2- Considere que Joana decide, mesmo assim, ter a possibilidade de utilizar os
materiais de decoração noutras ocasiões similares. Porém, falta ao pagamento das
quatro primeiras prestações. Pode Vítor resolver o contrato? 

1
Art. 20º.
Art. 935º/2 do CC.
Art. 19º.
Art. 2º, alínea f) – há sempre juros que não vamos pagar se cumprirmos logo as
prestações todas e devendo reembolsar o vendedor.

Eu credora posso renunciar à exigência qualificada da resolução? O art. 20º é mais


exigente que o regime geral da resolução? Não – art. 26º.

Caso VIII - Decreto-Lei n.º 84/2021 OBJETIVIDADE DO BEM

Em março de 2022, Pedro dirigiu-se à loja GrandMarket para comprar a mais recente
máquina de lavar roupa no mercado. Pagou o preço de 856€ no balcão da loja e a
profissional, Rita, informou-lhe que a máquina de lavar roupa seria entregue na
morada indicada pelo comprador.  

2
1. Passados 36 dias, Pedro ainda não recebeu o eletrodoméstico na sua casa. O que
pode fazer? 

Decreto-Lei n.º 84/2021 de 18 de outubro: Aplicável aos contratos


entre consumidores (pessoa singular que atue com fins que não se incluam no âmbito
da sua atividade comercial, industrial, artesanal ou profissional) e profissionais (pessoa
singular ou coletiva que atue para fins relacionados com a sua atividade comercial,
industrial, artesanal ou profissional) – âmbito de aplicação subjetivo.
Este D.L. é aplicável a contratos de compra e venda, incluindo os contratos celebrados
para o fornecimento de bens a fabricar ou a produzir.

O artigo 5.º do Decreto-lei n.º 84/2021 impõe ao profissional o dever de entregar ao


consumidor bens conformes com o contrato de compra e venda.
Ora, há um dever de entrega que deve ser cumprido.

Assim, determina o artigo 11.º que o bem se considera entregue ao consumidor


“quando este ou um terceiro por ele indicado, que não o transportador, adquire a posse
física do bem”. Posse: Art. 1251º.

Quanto ao prazo para a entrega, o n.º 4 do artigo 11.º dispõe que o profissional deve
entregar os bens na data ou dentro do período especificado pelo consumidor, salvo
convenção em contrário. O n.º 5 do mesmo preceito estabelece que, na falta de
fixação da data para a entrega do bem, o profissional deve entregá-lo sem demora
injustificada, fixando, todavia, o prazo supletivo de 30 dias após a celebração do
contrato. No caso, já tinham passado mais de 30 dias.

Havendo mora na entrega do bem, o consumidor deve interpelar (“direito de


solicitar”, na formulação legal) o profissional para entregar o bem num prazo adicional
adequado às circunstâncias, conferindo a falta dessa entrega, ao consumidor, o direito
de resolver o contrato – art. 11º nº6 e 7. O direito à resolução imediata, em caso de
mora na entrega do bem, só existe nos casos previstos no nº8.

Concluindo, Pedro poderá interpelar o profissional e convencionar um prazo


adicional para a entrega do bem, na medida em que a resolução imediata só é
possível em casos muito específicos como vimos.

Âmbito objetivo: Art. 3º/1, a).

Âmbito subjetivo: Relação de consumo (consumidor e profissional). Art. 2º/g) e o).

Âmbito relacional: Estabelecimento de um nexo de causalidade. O profissional


contratou e celebrou o contrato no âmbito das suas funções.

3
Âmbito teleológico: Qual o fim desta venda? Tendo de ser um fim pessoal e
desinteressado (sem fins lucrativos). Art. 49º: fim misto (compro um telemóvel para fim
pessoal e tem um VPN, conseguindo usar o telemóvel para fins laborais). Se eu
conseguir demonstrar que é maioritariamente para uso pessoal, aplicaremos o decreto-
lei.

2. Considere que a máquina de lavar roupa tinha sido instalada na casa de Pedro no
prazo de 15 dias. Passados 2 anos e 3 meses, a opção de lavagem rápida (´15 minutos)
deixa de funcionar, sendo esta a que maioritariamente era utilizada por Pedro. O que
pode fazer? 

Nos casos em que o contrato segue o seu rumo normal, como determina o artigo 12.º,
que estabelece o prazo de garantia legal, o profissional é responsável por qualquer
falta de conformidade que se manifeste no prazo de três anos a contar da entrega do
bem móvel corpóreo.

4
Nos contratos de compra e venda de bens móveis usados (não é o nosso caso) e por
acordo entre as partes, o prazo de garantia pode ser reduzido a 18 meses.

O consumidor deve comunicar a falta de conformidade dentro do prazo da garantia.


No caso concreto, Pedro está dentro do prazo de garantia.

Quanto à prova de falta de conformidade: Presume-se a falta de conformidade à data


da entrega no prazo de 2 anos após entrega do bem (o bem considera-se entregue nos
termos do art. 11º/1 e 2). Ou seja, presume-se que o defeito já existia à data da
entrega, e no caso concreto, Pedro terá de fazer prova da desconformidade, dado que
já passaram mais de 2 anos desde a entrega do bem.

Art. 15º: Hierarquização de iure (primeiro tentamos a reposição fáctica e só depois


afetamos o contrato). VER ARTIGO 51º (+art. 26º do d.l. do último caso).

 Na reposição da conformidade, o consumidor pode optar entre a reparação e a


substituição, salvo se for física ou legalmente impossível ou implicar custos
desproporcionados (Em caso de reparação, o bem beneficia de um prazo de
garantia de 6 meses por cada reparação, até ao limite de quatro reparações.
Em caso de substituição, inicia-se novo prazo de garantia).

 O consumidor pode optar pela redução do preço se a reparação ou


substituição não tiver sido efetuada, ou não tiver sido efetuada de forma
adequada, se a falta de conformidade reapareça, se a sua gravidade o justificar
ou o bem tenha perecido ou se tenha deteriorado devido à falta de
conformidade por causa não imputável ao consumidor.
 A redução do preço deve ser proporcional à diminuição do valor do bem.
 Ao consumidor caberá provar a falta de conformidade dos bens: o consumidor
deve fazer prova de que o bem vendido não está em conformidade com o
contrato e que a falta de conformidade se revelou materialmente no prazo de
três anos a contar da entrega do bem.

PRAZOS:

A) Entre 2 e 3 anos. Art. 6º e 7º; Art. 12º; Acórdão de “Faber”;


B) Prazo até 2 anos –
C) Prazo até 30 dias – Podemos resolver num prazo de 30 dias.
D) Prazo até 18 dias – Art. 18º/3.

5
2.1. Considere que Pedro, tendo em conta o estado atual da máquina, optou por
substituir esta por outra da mesma loja. É comunicado que a única disponível no
momento é a mais recente, no valor de 920€. Rita exige o pagamento da diferença.
Pode fazê-lo? Ver art. 878º do CC.

O consumidor pode escolher, em primeiro lugar, entre a reparação ou a substituição


do bem, salvo se o meio escolhido para a reposição da conformidade for impossível ou,
em comparação com o outro meio (proporcionalidade relativa), impuser ao
profissional custos desproporcionados, tendo em conta todas as circunstâncias
(incluindo o valor que os bens teriam se não se verificasse a falta de conformidade, a

6
relevância da falta de conformidade e a possibilidade de recurso ao outro meio de
reposição da conformidade sem inconvenientes significativos para o consumidor).

 Deste modo, o profissional pode recusar a reposição ou substituição dos bens.

Doutrina maioritária (Princípio da gratuitidade da reposição da conformidade do


contrato)

 Havendo substituição do bem, não poderá ser cobrado qualquer valor pela
utilização do bem substituído – art. 18.

 Nos casos em que o vendedor entrega um bem não conforme, não executa
corretamente a obrigação à qual se tinha comprometido através do contrato
de venda e deve, assim, assumir as consequências dessa má execução do
contrato”. Ao receber um novo bem em substituição do bem não conforme, o
consumidor - que, por sua vez, pagou o preço de venda e, portanto, executou
corretamente a sua obrigação contratual - não beneficia de um
enriquecimento sem causa. Pelo contrário, “o consumidor recebe apenas, com
atraso, um bem conforme às estipulações do contrato, tal como o deveria ter
recebido desde o início”.

 Note-se que o consumidor pode optar entre a reparação e a substituição, salvo


se for física ou legalmente impossível ou implicar custos desproporcionados.

 Num 2º plano temos a redução proporcional do preço ou a resolução do


contrato, ou seja, apenas é possível quando não haja reparação ou substituição.

3. Pedro, no dia 14 de agosto de 2022, com a intenção de começar a aprender a


língua alemã, comprou 20 aulas on-line (semanais) de alemão para iniciantes no
valor de 230 €, através do site learning.german.

Pagou o preço na totalidade e iniciou o curso no mesmo dia. Quando faltavam


apenas 5 aulas para concluir o curso, os vídeos e materiais de estudo deixaram
de estar disponíveis no site, que bloqueava constantemente.

Após contactar com a empresa fornecedora, esta transmite que as falhas técnicas
não permitirão, tão cedo, a continuação da participação no curso. O que pode
Pedro fazer? 

7
D.L. 84/2021 – bem com elemento digital (prazo de garantia: 2 anos) é
diferente de bem com serviço digital.

Art. 26º.
Art. 32º.
Art. 33º/5 e 6.
Art. 35º/1, b) e c).
Art. 36º/2, b).
Art. 37º.

Um ato ou vários atos: prazo de garantia até 2 anos.

Fornecimento contínuo: prazo do contrato (20 aulas, 20 semanas).

Concluindo, a empresa revela impossibilidade de reparação e substituição, ou seja,


passamos para a redução do preço proporcional (Valor x 15, em vez de x 20). Não
manifesta uma situação grave ao ponto de se resolver o contrato.

Pergunta 5 do caso que tinha ficado por fazer.

Para evitar esses inconvenientes, tornou-se usual nos contratos de compra e venda a
prestações a estipulação de cláusulas penais para a hipótese de incumprimento por parte do
vendedor. Contudo, abusos verificados neste âmbito levaram o legislador a não se contentar
com a possibilidade de redução equitativa da cláusula penal (art. 812º), tendo antes
estabelecido limites máximos à estipulação de cláusulas penais nas vendas as prestações (art.
935º/1): a indemnização estabelecida em cláusula penal, por o comprador não cumprir, não
pode ultrapassar metade do preço, salva a faculdade de as partes estipularem, nos termos
gerais, a ressarcibilidade do prejuízo sofrido.

Esta disposição, contudo, deve ser alvo de uma interpretação restritiva, na opinião de ML: este
limite só se aplica às cláusulas penais relativas à indemnização a pedir na hipótese de
resolução do contrato. Isto porque, a indemnização por o comprador não cumprir, nos termos
dos arts. 798º e 801º/2, pode tomar por base tanto o interesse contratual negativo como o
positivo, consoante o vendedor proceda ou não à resolução do contrato.

8
Ora, estando em causa o interesse contratual positivo, por não se ter optado pela resolução do
contrato, não há qualquer motivo para limitar a indemnização a metade do preço. Esse limite
só pode valer quando o vendedor resolve o contrato com base no incumprimento do
comprador, o que lhe permite exigir a restituição da coisa entregue cumulativamente com a
indemnização pelo interesse contratual negativo (art. 801º/2).

 Cláusula penal stricto sensu: pena alternativa ao que ele iria ter de pagar “entras em
mora então vais ter de pagar 12 000 euros”. O devedor costuma fixar um preço
superior ao do bem.
 Cláusula penal indemnizatória: Fixo um montante relacionado com os danos por
incumprimento definitivo ou mora e cabe ao devedor mostrar que os danos não foram
provocados por si. Função de liquidação: dar ao vendedor/credor o montante que ele
está a perder com o incumprimento. Indemnização pelos danos.

 Cláusula penal moratória: não servem para todo o tempo da mora.

 Cláusula penal compulsória:

POSSO PEDIR A INDEMNIZAÇÃO DE DANOS EXCESSIVOS PARA ALÉM DO LIMITE,


INDEPENDENTEMENTE DAS CLÁUSULAS PENAIS.

935º: todas as cláusulas são permitidas e é mais exigente que o art. 806º.

806º: casos de mora, limite: juros legais ou convencionais.

Art. 935º nº2: limite máximo e o devedor não quer cumprir  devedor não fica com a coisa e o
credor só recebe metade do preço.

Este artigo acresce ao artigo 811º/2.

Comprador pode fazer uma redução equitativa perante uma cláusula penal excessiva, mesmo
se os limites do 935º estiverem cumpridos.

762º - boa-fé ou má-fé perante a mora.

494º

Você também pode gostar