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Caso IX 

1- Maria, produtora de cinema, dirigiu-se à loja mais próxima para comprar um auricular.
Quando começou a rodagem do filme, reparou que não conseguia ouvir o que os seus colegas a
uma distância superior a 120 metros estavam a tentar comunicar. Maria exigiu que lhe fosse
atribuído um auricular novo, desta vez sem problemas. Na loja foi-lhe respondido que nada se
sabia nem se podia ter sabido acerca dessa falha no produto, logo a loja não era obrigada a fazer
nada relativamente à situação. Quid iuris?
 
2- Imagine que a pretensão de Maria era a de resolver o contrato de imediato. Pode fazê-lo? 

3- Imagine agora que Maria se dirigiu à loja mais próxima para comprar lâmpadas para os
projetores. Foi-lhe dito no estabelecimento que as lâmpadas que foram requisitadas ainda se
encontravam em fase de fabrico. Maria pagou o preço de imediato e acordou ir levantar as
lâmpadas à loja passadas 2 semanas. No primeiro dia de rodagem do filme, Maria repara que as
luzes, para além de fracas, não param de piscar. O que pode fazer? 
 

Caso X 

Catarina vendeu a Diogo um automóvel em segunda mão, pelo preço de 25.000€. O contrato foi
celebrado em 1 de Janeiro de 2011, tendo Diogo recebido as chaves em 15 de Março. Poucos
dias depois, Diogo teve um acidente e o airbag não funcionou, razão pela qual Diogo sofreu
ferimentos com alguma gravidade. O mecânico explicou-lhe que o airbag tinha um defeito de
origem. Diogo notificou de imediato Catarina destes factos. 
Em Fevereiro de 2012, Diogo quer demandar Catarina para lhe exigir a reparação do airbag e
uma indemnização pelos prejuízos que sofreu. Quid iuris?

REGIME GERAL DA VENDA DE COISAS DEFEITUOSAS


A) Vícios: Há um prejuízo, valoração negativa da coisa.
B) Falta de qualidade: Plus, acréscimo que a coisa tem relativamente ao padrão, mas
mantém uma desconformidade face ao contrato.
C) Distinção relevante apenas para fins de ónus da prova.

Artigo 913º:
1) Vícios que desvalorizem a coisa.
2) Vícios que impeçam a realização do fim a que é destinada.
3) Falta de qualidades asseguradas pelo vendedor.
4) Falta de qualidades necessárias à realização daquele fim.

A aplicação do regime da venda de coisas defeituosas assenta em dois pressupostos:

i. Ocorrência de um defeito: Quer os vícios da coisa quer a falta de qualidade que


deveria ser assegurada ou necessária.

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ii. Repercussões desse defeito no âmbito do programa contratual, ou seja, o defeito
da coisa para desencadear a aplicação deste regime terá de se refletir no programa
contratual e tal acontece mediante 3 situações:

a) Desvalorização da coisa (VÍCIOS): É uma conceção objetiva de defeito, dado


que o vicio faz com que a coisa valha menos do que aquilo que valeria se não
existisse o defeito. Por outro lado, esta desvalorização terá de ser
manifestamente significativa (caso contrário não aplicaremos o regime).
b) Não correspondência com o que foi assegurado pelo vendedor (FALTA DE
QUALIDADE): É uma conceção objetiva, onde o vendedor certificou ao
comprador determinadas qualidades na coisa que acaba por não corresponder à
realidade. Ora, esta certificação da qualidade da coisa por parte do vendedor
poderá ser efetuada de forma expressa ou tácita (art. 217º + art. 919º).
c) Inaptidão para o fim a que a coisa é destinada (VÍCIOS E FALTA DE
QUALIDADE): É uma conceção subjetiva de defeito, estando em causa as
utilidades especificas que o comprador pretende que lhe sejam proporcionadas
pela coisa. No entanto, se não houver aceitação de uma destinação específica da
coisa pelo vendedor, entende-se que a coisa se destina à função normal das
coisas da mesma natureza (art. 913º/2)

Em caso de venda de coisas defeituosas, será aplicado o regime de bens onerados em tudo o que
não for modificado pelas disposições do regime da compra e venda de bens defeituosos.

O consumidor tem direito, caso se denote a não conformidade, à reparação, substituição,


redução do preço ou resolução do contrato, para além do direito à indemnização previsto
no art. 12.º, LDC.

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CASO IX
1.
Venda de bens defeituosos (afastamento do D.L.). Ver art. 914º do C. Civil: A fungibilidade da
coisa permite a substituição. Visto que o vendedor prestou uma “garantia elidicia”, ou seja,
garantiu tacitamente a inexistência de defeitos no bem vendedor, tendo de reparar ou substituir o
bem.
Se o vendedor tinha conhecimento do defeito da coisa (vícios ou falta de qualidade) poderemos
optar por outra via que não a substituição ou reparação.
No artigo 914º há uma primazia pela opção de reparação do que pela substituição (a
substituição só deverá ocorrer quando estritamente necessário e o objeto seja fungível, ou seja,
não tinha características especificas e podendo ser substituído por um objeto igual).
Por outro lado, caso o vendedor desconhecesse e SEM CULPA o vicio ou falta de qualidade
de que a coisa padece, não existirá esta obrigação de reparação ou substituição. No caso
concreto, estamos perante um defeito oculto, ou seja, o vendedor mesmo tendo as diligências
necessárias é legitimo não se aperceber do defeito presente na coisa.
Mesmo que o vendedor não tenha culpa, o comprador poderá anular o contrato mediante dolo
ou erro (quando cumpridos os pressupostos) ou pedir uma redução do preço (sempre que se
possa comprovar que os vícios ou falta de qualidades de que a coisa padece não influiriam na
sua decisão de adquirir o bem, mas apenas no preço que estaria disposto a pagar por ele).
Ou seja, a “garantia elidicia” não é então uma responsabilidade objetiva do vendedor, mas antes
uma presunção de culpa quanto à venda. Esta presunção poderá ser ilidida mediante a
demonstração de que o vendedor se encontrava numa situação de desconhecimento não culposo
do defeito da coisa.
MENEZES LEITÃO: Critica esta solução, dado que, quando falamos na produção de bens em
série, é muito fácil para o vendedor de ilidir essa presunção de culpa.
Regente: D.L. 84/2021 (art. 15º/2 e 3). Posso pedir a substituição, se não for um encargo
oneroso (abuso de direito) ou se não existir um impedimento por parte do comprador.

No caso concreto, temos de averiguar se estamos no âmbito do art. 913º e 905º (venda de coisa
defeituosa) ou se estamos no âmbito do art. 918º e 796º (cumprimento defeituoso). Ora, se a
venda é realizada, sendo a propriedade logo transmitida ao comprador (e foi) e já é defeituosa
no momento de celebração do contrato, estamos perante um erro do comprador do comprador
ao adquirir uma coisa com defeitos, sendo o contrato anulável por erro (estamos no primeiro
âmbito exposto).
A substituição seria possível (na medida em que estamos perante uma coisa fungível) mas há
uma primazia pela opção de reparação, ou seja, deverá ser necessário primeiro reparar o bem e
só depois substituir o mesmo – art. 914º.
Aplicando o regime do art. 914º: como o vendedor desconhecia o vicio ou falta de qualidade de
que a coisa padece (no caso concreto estamos perante um vicio e uma falta de qualidade, dado
que há uma inaptidão para o fim a que a coisa era destinada) não existirá a obrigação de reparar
ou substituir a coisa com defeito. Por outro lado, a compradora poderá optar pela anulação do
contrato caso tenha existido dolo (não houve) ou caso tenha existido erro (que poderá ter
havido). Se assumirmos que houve erro, a compradora poderá anular o contrato, apesar de não

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poder reparar ou substituir o bem. Deste modo, o vendedor poderá afastar a presunção de culpa
em relação a si (tacitamente ou expressamente confirmou as características do bem) mediante a
prova de que não tinha conhecimento (e sem culpa) sobre o erro de que a coisa padecia,
caducando a obrigação de reparação ou substituição da coisa.
O Prof. ML critica esta solução e com razão, dado que, quando falarmos na produção de bens
em série, é muito fácil para o vendedor de ilidir essa presunção de culpa.
Regente: Art. 15º/2 e 3 do DL 84/2021 (art. 762º: não havendo lugar à reparação, se for
infungível, posso recorrer à substituição caso não seja demasiadamente excessiva)
DIFICULDADE DE APLICAÇÃO DO ART. 921º.
Aplicando o regime do art. 921º (garantia do bom funcionamento – cláusula implícita geral
mediante o caso concreto): Afastamos o regime do art. 914º e o vendedor, independentemente
de culpa ou não ou erro por parte do comprador, por força dos usos a garantir o bom
funcionamento da coisa vendida ou por convenção entre as partes, terá necessariamente a
obrigação de reparar a coisa ou substituir a mesma (quando a coisa for fungível e a substituição
se mostrar imprescindível). No caso concreto, a loja parecia ser uma loja especifica e portanto,
assumindo que teria esta “garantia de bom funcionamento”, na medida em que espera-se que o
vendedor da loja realize sem perturbações a venda, garantindo que o bem está conforme ao
expectável. Posto isto, aplicaria este regime do art. 921º e o vendedor, independentemente de
culpa, é responsável pela reparação ou substituição da coisa defeituosa.

2. Podia resolver o contrato imediatamente?

A coisa comprada deixa de satisfazer as utilidades necessárias para a manutenção e o


desenvolvimento da atividade pretendida. É neste ponto que se coloca a questão: a coisa
adquirida não proporciona o interesse que motivou o comprador a comprar porque não
contem as qualidades que satisfazem a sua utilização, perdendo o sujeito o interesse pela
coisa. Neste âmbito, qual será o instituto jurídico que melhor satisfaz à tutela do comprador
quando se revela falta de qualidades no bem que foi comprado: direito à anulação ou direito à
resolução? O artigo 905º, aplicável devido ao disposto no artigo 913ºdo Código Civil, prevê que
“o contrato é anulável por erro ou dolo, desde que no caso se verifiquem os requisitos legais de
anulabilidade”. Desta interpretação resulta uma divergência na doutrina no que diz respeito ao
regime jurídico, no âmbito da venda defeituosa.
Surgem várias posições para uma noção mais ampla do defeito previsto no artigo 913º:
i. Conceção objetiva – o defeito da coisa incide sobre o error in qualitate quando
o bem não possua as caraterísticas objetivas da coisa do mesmo género, sendo
que o regime aplicável é a anulabilidade do contrato.

ii. Conceção subjetiva – o defeito incide na desconformidade entre a coisa


entregue e as qualidades asseguradas contratualmente, sendo aplicável o direito
à resolução do contrato, por incumprimento contratual.

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Apesar de minoritária, há quem entenda que a definição do art. 913º constitui uma definição
subjetivista-objetivista do defeito, uma vez que o defeito deriva de um conjunto de qualidades
necessárias, mas que têm de atender à função normal da coisa da mesma categoria.
Entende-se que o contrato deverá ser cumprido em conformidade entre a coisa e as
qualidades asseguradas contratualmente, ou seja, deverá a coisa ser entregue isenta de vícios.
A falta de qualidade consiste numa desconformidade entre o «ser» e o «dever ser», ou seja, uma
desconformidade entre a coisa que foi entregue e a vontade que foi estipulada no contrato.
De acordo com o art. 913º, o vicio consiste numa falta de qualidades asseguradas e necessárias
para aptidão e utilização ao destino que é dada à coisa, ou seja, qualidades que integram o
conteúdo do contrato, existindo a possibilidade de compreensão que o direito à anulação e os
restantes direitos de tutela do comprador não se encontram em harmonia e em equilíbrio quanto
ao regime jurídico (arts. 914º e 917º). Significa que o próprio direito de anulação constitui
um error in qualitate, e os direitos de tutela do comprador acentuam de forma concreta no
incumprimento contratual.
Basta a recusa da reparação por parte do vendedor que conduz à perda do interesse do
comprador na prestação para recorrer à via do incumprimento contratual, ou seja, recorrer à
resolução do contrato. O comprador não poderá assumir uma exigência que vai para além das
suas capacidades, para lhe conferir um erro seu. O comprador não poderá prever que a coisa
contém vícios ocultos, fundamentando o erro nas qualidades da coisa, pela existência daquele
defeito.

De acordo com a interpretação do negócio jurídico, determina-se que as qualidades da coisa


prestada ao comprador integram o conteúdo do contrato. Por esta hipótese não será
considerável o regime do direito à anulação na venda defeituosa, porque não está em causa
um erro (consideração errónea da realidade) na formação da vontade, mas sim um direito
à resolução por incumprimento do contrato, por virtude da desconformidade entre a coisa e as
qualidades asseguradas contratualmente. Estamos perante um erro técnico-jurídico e não um
erro na formação de vontade.

Relativamente à indemnização, o credor pode pedir uma indemnização de interesse contratual


positivo a par com a resolução. Um dos fundamentos para essa indeminização pressupõe a
violação do princípio pacta sunt servanda e a existência dos defeitos , causando prejuízos,
sobretudo, nas perdas quer a nível monetário, quer a nível de serviços. Esta indemnização vai
colocar o credor na posição em que estaria se houvesse a conformidade da coisa com o
conteúdo obrigacional, quando o devedor cumprisse a sua prestação.

Todavia, note-se que este direito à resolução não será permitido se a falta de conformidade não
for manifestamente visível (tal decorre do Princípio da Boa-fé na sua vertente negativa), sob
pena de ser uma situação de abuso de Direito. É ainda subsidiário (assim como a redução do
preço).

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Hierarquização dos meios de reação:
Romano Martinez: Reparação; Substituição; Redução do preço; Resolução.
Regente: Redução do preço ou resolução.
Galvão da Silva: Posso escolher o meio que quiser mediante o princípio da boa-fé.

Quando há direito de resolução ou redução do preço (meios de reação subsidiários):


i. Não foi efetuada a reparação ou substituição do bem.
ii. A reparação ou substituição não foi realizada nos termos devidos.
iii. Recusa por parte do vendedor em reparar ou substituir o bem com base na sua
impossibilidade ou desproporção dos seus custos.
iv. A falta de conformidade é grave e justifica a rescisão do contrato ou redução do
preço.
v. O vendedor diz ou é evidente que ano irá repor os bens em conformidade num
prazo razoável.
vi. A desconformidade tem de ser manifestamente significativa.

3. Imagine agora que Maria se dirigiu à loja mais próxima para comprar lâmpadas para os
projetores. Foi-lhe dito no estabelecimento que as lâmpadas que foram requisitadas ainda se

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encontravam em fase de fabrico. Maria pagou o preço de imediato e acordou ir levantar as
lâmpadas à loja passadas 2 semanas. No primeiro dia de rodagem do filme, Maria repara que as
luzes, para além de fracas, não param de piscar. O que pode fazer? VENDA DE COISA
ESPECÍFICA OU GENÉRICA.

Diferenciação dogmática:

i. Se comprador comprar um anel numa ourivesaria e depois descobrir um risco, tem


de demonstrar um erro seu para anular o negócio e apenas tem direito à restituição
do preço e a uma indemnização pelos danos emergentes com base no interesse
contratual negativo (art. 915º e 909º). VÍCIO EXISTE NO MOMENTO DA
VENDA.

ii. Se encomendar esse mesmo anel e o vendedor entregar um anel riscado, considera-
se haver incumprimento do vendedor (art. 918º) e a indemnização naturalmente
abrange o interesse contratual positivo. VÍCIO EXISTE EM MOMENTO
POSTERIOR 

Estamos perante a compra e venda de coisas futuras:

Art. 918º  Não aplicamos o regime do art. 913º, mas sim o regime do não cumprimento das
obrigações.

Qual é o regime do art. 913º então?


Se a venda é realizada, sendo a propriedade logo transmitida ao comprador, e já é defeituosa ao
tempo da celebração do contrato, estamos perante um erro do comprador ao adquirir uma coisa
com defeitos, sendo o contrato anulável por erro (art. 913º e 905º).

No nosso caso, estamos perante um cumprimento defeituoso e o vendedor encontra-se em


incumprimento (art. 918º) e a indemnização abrangerá o interesse contratual positivo, ou seja,
uma indemnização que se destina a colocar o lesado na situação que se encontraria se o contrato
fosse cumprido de forma definitiva ou se não houvesse um cumprimento tardio ou defeituoso.
Afastada a presunção de culpa por parte do vendedor (art. 799º) e tratando-se de coisas futuras,
aplicaremos o regime constante do art. 408º/2 e do art. 796º, ou seja, o risco corre por conta do
vendedor!

Estamos perante um vicio:

a) Imputável ao vendedor (presunção prevista no art. 799º): respondendo o vendedor


pelos danos causados ao comprador (art. 798º e ss). O comprador poderá exigir uma
indemnização pelos prejuízos que lhe causou o cumprimento defeituoso ou pode
resolver o contrato juntamente com a indemnização pelos prejuízos resultantes da sua
celebração (art. 801º).

b) Não imputável ao vendedor: estamos perante uma questão de risco pela perda ou
deterioração da coisa e que corre por conta do comprador nos casos de defeito
superveniente ou corre por conta do vendedor no caso de venda de coisa futura ou de
coisa genérica (art. 408º/2 + art. 796º) 

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Ora, tendo a venda como objeto lâmpadas para os projetores, estamos perante uma coisa futura
(não está disponível). Sendo a coisa produzida em série é muito fácil para o vendedor da coisa
descartar-se da sua culpa e ilidir a presunção da mesma no caso de cumprimento defeituoso.
Admitindo que estamos numa situação de culpa não imputável ao vendedor, o risco pela perda
ou deterioração da coisa corre por conta do vendedor (no caso de coisas futuras e coisas
genéricas – art. 408º/2 + art. 796º).

Obrigações genéricas: Art. 539º do CC + art. 540º  Aplica-se o regime do não cumprimento
das obrigações.
Obrigações específicas: Género e espécimes da prestação já estão determinados. Aplica-se o
regime do não cumprimento das obrigações.
Poderemos estar perante uma obrigação genérica que se concentrou e transformou-se numa
obrigação especifica?

Pode haver erro na compra e venda de coisa genérica, como pode haver uma execução
defeituosa na compra e venda de coisa específica, motivo por que se deve concluir que o
disposto no artigo 918º, o legislador não terá pretendido afastar todo o regime da venda
defeituosa para a venda de coisa genérica, mas apenas evidenciar que se reportou
essencialmente a clássica garantia elidicia a vícios preexistentes ou contemporâneas da
conclusão do contrato e que teve essencialmente presente a venda de coisa específica.

i. Coisa genérica: As qualidades abstratas eram adequadas ao fim visado pelo credor
e o devedor entrega uma coisa que não tem essas qualidades. Exemplo: Encomendo
um motor de 15 CV e entregam-me um motor de 10 CV.  Erro na compra e
venda de coisa genérica. Art. 913º e ss. ??

ii. Coisa específica: Não era defeituosa no momento do contrato, mas adquire depois
deste e antes da entrega um defeito ou perda de qualidades (defeito superveniente).
Exemplo: Compro o carro X especificamente e antes de entregue pelo vendedor, ele
sofre uma avaria.  Execução defeituosa na compra e venda de coisa específica.
Art. 918º e regime do incumprimento das obrigações. ??

No incumprimento defeituoso (não cumprimento das obrigações), o comprador pode optar


entre:
i. Não manter o contrato, resolvendo-o (quando cumpridos os pressupostos).
Indemnização pelo interesse contratual negativo.
ii. Manter o contrato, exigindo a retificação da coisa, substituição da mesma ou
redução do preço. Indemnização pelo interesse contratual positivo.

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Na prática, na generalidade das situações em que a prestação na compra e venda de coisa
defeituosa tem por objeto coisa genérica, as qualidades dessa coisa determinaram o comprador a
adquiri-la e por isso integram o conteúdo vinculativo do contrato. Se a coisa prestada não tiver
essas condições, há incumprimento imperfeito.
Na generalidade das situações em que a prestação tem por objeto uma coisa específica e há uma
venda defeituosa, as qualidades da coisa, apesar de terem determinado e motivado realmente o
comprador a adquiri-la, não entram no conteúdo do contrato. Ou seja, caso a coisa prestada não
tenha essas características, haverá um problema de erro e aplicar-se-á o regime do art. 913º e ss.
A garantia elidicia que decorre do art. 913º e ss. está moldada para situações de erro ou dolo.

Na maior parte dos casos a compra e venda defeituosa assume sobre coisa genérica e traduz-se
numa situação de execução defeituosa e não de erro, não sendo aplicáveis os ónus de denúncia
dos defeitos, respetivos prazos e caducidade da ação.

ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL:
i. Coisa genérica  Integra o conteúdo vinculativo do contrato  Incumprimento da
obrigação.
ii. Coisa específica  Não integra o conteúdo vinculativo do contrato  Problema de
erro e aplicar-se-á o regime do art. 913º e ss.

Aula:
914º: Compra e venda com eficácia real imediata e defeito originário.
918º: Compra e venda sem eficácia real imediata (art. 408º nº2) e compra e venda com eficácia
real imediata e um defeito superveniente.
Artigo 918º  Art. 796º e ss.

Regente: Existe uma ligação entre o regime de incumprimento e o regime da venda de bens
defeituosos.
No momento do contrato, se estivermos perante o art. 408º/2, não posso estar em erro perante
uma coisa inexistente.
Podemos aplicar o incumprimento das obrigações nos casos de compra e venda com eficácia
real imediata e defeito originário (art. 916º/2: o praço de 6 meses começa a contar desde a
entrega. Antes da entrega, estamos perante o regime do incumprimento das obrigações).
REAL CRITÉRIO: O defeito foi antes ou depois da entrega.
Podemos optar entre o art. 914º e art. 918º. Posso optar pela reparação da coisa, substituição ou
redução do preço ao invés da resolução.

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Casos onde já houve entrega: compra e venda de bens defeituosos. O regime, sendo diretamente
aplicável, pode optar também pelo regime geral do incumprimento: já houve entrega, o
comprador não pagou o preço (art. 428º).

O regime do art. 913º e ss. poderá ser aplicável ao invés do regime geral do incumprimento.

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CASO X
Catarina vendeu a Diogo um automóvel em segunda mão, pelo preço de 25.000€. O contrato foi
celebrado em 1 de Janeiro de 2011, tendo Diogo recebido as chaves em 15 de Março. Poucos
dias depois, Diogo teve um acidente e o airbag não funcionou, razão pela qual Diogo sofreu
ferimentos com alguma gravidade. O mecânico explicou-lhe que o airbag tinha um defeito de
origem. Diogo notificou de imediato Catarina destes factos. 
Em Fevereiro de 2012, Diogo quer demandar Catarina para lhe exigir a reparação do airbag e
uma indemnização pelos prejuízos que sofreu. Quid iuris?

Estamos perante uma coisa específica. Um carro em segunda mão tem características
especificas e quem compra um carro em segunda mão queria essas características (matrícula,
motor…). Se fosse um carro novo, poderíamos estar perante uma coisa genérica.

Âmbito de aplicação:
i. A venda é realizada e a propriedade logo transmitida ao comprador, sendo a venda
já defeituosa no momento de celebração do contrato. Estamos perante um erro
do comprador e o contrato será anulável (art. 913º e art. 905º). A indemnização
abrangerá o interesse contratual negativo. 

ii. O defeito na coisa ocorre após a celebração do contrato, ou seja, a coisa foi entregue
em boas condições. Estamos face a um cumprimento defeituoso cujo defeito pode
ser imputável ao vendedor (art. 918º em caso de defeito superveniente) e cujo risco
corre por conta do comprador à partida (art. 796º). A indemnização abrangerá o
interesse contratual positivo.

Estamos no 1º âmbito de aplicação, ou seja, estamos no âmbito de uma venda defeituosa (e não
de um cumprimento defeituoso), aplicando-se o regime do art. 913º e ss. (e não o
incumprimento das obrigações).

Estamos no 2ª âmbito de aplicação, ou seja, estamos no âmbito de um cumprimento defeituoso


(e não de uma venda defeituosa), aplicando-se o regime do art. 918º e do incumprimento das
obrigações.

Estamos perante um defeito superveniente? NÃO (o defeito era de origem) onde a presunção de
culpa é estabelecida a favor do vendedor (mas podendo ser ilidível – art. 799º). O risco de perda
ou deterioração da coisa correrá por conta do comprador em caso de defeito superveniente. Não
é uma questão de erro porque o negócio exprime apropriadamente a vontade do
comprador.
Não estamos perante o cumprimento defeituoso de uma venda de bens futuros dado que a
vendedora (Catarina) já tinha a propriedade do automóvel no momento de celebração do
contrato (art. 211º).
A verdade é que Catarina (vendedora) podia sempre alegar que era um “defeito de origem”, ou
seja, nem ela tinha conhecimento da incapacidade do airbag e, portanto, a presunção de culpa
estabelecida em relação a ela podia ser afastada. Se a presunção de culpa fosse afastada, não

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existiria qualquer obrigação de reparação ou substituição do airbag por parte de Catarina (art.
914º) OU não se aplicaria o regime de incumprimento das obrigações?
Se Catarina desconhecesse sem culpa o vicio, não existiria qualquer obrigação de reparação ou
substituição da coisa defeituosa, restando ao Diogo (comprador) a anulação do contrato
mediante erro ou dolo.
Art. 914º + art. 799º: A presunção de culpa só é afastada se o vendedor demonstrar que cumpriu
todas as diligências exigíveis.

ESTES ÓNUS SÓ EXISTEM SE APLICARMOS O REGIME DO ART. 913º E SS.


(COISA ESPECÍFICA)
Art. 916º (denúncia do defeito).
Art. 916º/2: A denúncia ao vendedor do defeito tem de ser realizada 30 dias depois de conhecido
o defeito e dentro de um prazo de 6 meses desde a entrega da coisa.
No caso concreto, se o Diogo conheceu do defeito do airbag no dia 15 de março, teria até 14 de
abril para realizar a denúncia ao vendedor (coisa que o fez). Por outro lado, a entrega da coisa
deveria ter sido realizada no máximo há 6 meses (no momento da denúncia de Diogo, ainda não
tinham decorridos 6 meses desde a entrega do carro).
Concluindo, Diogo cumpriu todos os requisitos formais de uma denúncia válida ao vendedor.

Art. 916º/1: Tem de existir dolo e aplicar-se-á a todos os meios de reação.


Regente: Este prazo do art. 287º só se aplica na ação de resolução ou redução do preço.
Os casos de dolo do vendedor em que eu queira a reparação, substituição ou redução do preço,
não se aplica o prazo de 1 ano, mas sim o prazo geral de prescrição geral do C. Civil (art. 309º:
20 anos para exigir o cumprimento de restantes obrigações).

Quer resolver  Prazo de 1 ano (art. 287º - 916º).


Reparação  Prazo de 20 anos do regime geral.

Art. 917º (regente): Temos de distinguir entre os meios de reação quando haja dolo.
i. Resolução (art. 287º).
ii. Restantes (20 anos).

Pode existir uma indemnização por dolo; Uma indemnização por não fazer convalescer o
contrato.

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Erro – art. 916º e art. 917º.
Prazo de ação em tribunal: Passaram 11 meses e o artigo 917º refere 6 meses.

Doutrina:
Regente: Prazo curto que incentiva litigiosidade no caso em que eu quero continuar o contrato
(reparação ou substituição), mas já quando eu quero resolver o contrato, aplicaremos sim o art.
917º.
Regente: Aplicamos o prazo de 20 anos.

PRINCÍPIO DA UNIDADE DO SISTEMA JURÍDICO

Romano Martinez: Art. 917º em todos os meios de reação? Analogia com o art. 1224º.
Estabelece a mesma caducidade para todos os meios de reação.

Art. 921 nº4: Prazo de caducidade de 6 meses no caso de reparação ou substituição da coisa,
mesmo não havendo culpa.

Regente: Garantia de bom funcionamento, tenho 6 meses para intentar uma ação para uma
responsabilidade objetiva.

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