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CASO XXII 

Veiga Beirão & Associados, sociedade de advogados de renome em Portugal, encomendou à


fábrica de artesanato e decoração BB a produção de vinte figuras decorativas com as dimensões
e os desenhos indicados pela Sociedade, no valor de 5,000€, a serem entregues no prazo de 35
dias, mesmo dia em que ficou acordada a verificação da obra por parte da Sociedade. Findo esse
período, o administrador da Sociedade aparece na fábrica apenas para receber as figuras que
estavam dentro de uma caixa de cartão. Impaciente com a inércia da outra parte, a fábrica
estabelece e comunica o prazo de 15 dias para a Sociedade manifestar a sua posição. Passado
esse período, continua sem receber resposta. Dezasseis meses após a entrega da coisa, a
Sociedade repara que as figuras apresentam manchas e, após analisar o material com cuidado,
apercebe-se que foi utilizado um tipo de argila diferente do acordado. Comunicou de imediato
esta insatisfação à fábrica e pretende uma devolução parcial do preço, no valor de 575€. Quid
iuris? 

Sub-hipótese 1: Considere que a fábrica BB, tendo em conta a falta de materiais de pintura com
as devidas condições, e com receio de entrar em mora na entrega da coisa se tiver que esperar
pelo fornecimento dos materiais adequados, utilizou materiais tóxicos para construir as figuras.
Passados dois dias da entrega da coisa, Roberto, Associado Coordenador da Área de Bancário,
ao se aproximar e inalar os materiais provenientes da pintura tóxica, desmaia, o que lhe provoca
uma fratura no braço. Quid iuris? 

Sub-hipótese 2: Imagine que tinha sido estipulada a seguinte cláusula no contrato de


empreitada: “A fábrica BB é responsável por todos os defeitos, independentemente de culpa, no
prazo de 2 meses após a entrega da coisa. Findo o prazo de garantia, a obra tem-se por aceite”.
Será a cláusula válida? 

Sub-hipótese 3: Imagine que a Veiga Beirão & Associados, aquando da verificação, reparou de
imediato que o tipo de argila era distinto do acordado. Nesse momento, comunicou à fábrica que
vai aceitar a obra, mas que detetou a desconformidade. Passado um ano e dois meses, a
Sociedade pretende que as figuras sejam construídas com o material de argila que tinha sido
inicialmente estipulado. Quid iuris? 

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O pagamento do preço é o principal dever do dono da obra. Há uma regra especifica
referente ao momento do pagamento do preço: art. 1211º nº2. Por força deste preceito, o preço
deve ser pago no ato de aceitação da obra. Caso as partes nada estipulem e à falta de usos, o
preço apenas é devido a partir do momento da aceitação da obra, sendo indiferente o momento
de aquisição de propriedade sobre os materiais (sendo que essa aquisição opera nos termos do
art. 1212º).

Verificação, comunicação e aceitação da obra:


O dono da obra deve verificar a obra após a sua conclusão e antes do momento da aceitação,
devendo essa atuação comprovar se a obra se encontra de acordo com o plano convencionado e
sem vícios (art. 1218º nº1).
Para ocorrer esta verificação, o empreiteiro deve cumprir o seu dever de comunicar a conclusão
da obra, bem como de colocar à disposição deste a mesma (art. 1218º nº2).

É discutida a qualificação da posição jurídica do dono da obra quanto à verificação:

 Ónus material ou encargo, dado que o dono da obra pode escolher não realizar a
verificação (importando um conjunto de consequências potencialmente negativas). É
um dever de comportamento, funciona no interesse de outras pessoas, mas não pode ser
exigido por estas o seu cumprimento.

 Dever do dono da obra: Atendendo à letra do art. 1218º e no mesmo sentido podíamos
interpretar o nº2 do art. 1228º, pois se o dono da obra pode estar em mora quanto à
verificação, esse indicia a existência de um dever.

Quanto ao prazo para a verificação:


O primeiro critério será sempre o da vontade das partes e depois é que partimos para os usos –
art. 1218º nº2. No caso concreto, foi fixado que a verificação ocorre no dia da entrega.

Quanto às despesas da verificação:


Art. 1218º nº3: A lei não regula expressamente os encargos de verificação que não seja feito por
peritos. Parece que nessa caso, correm por conta do empreiteiro, exceto se se tratar de uma
verificação com um elevado grau de complexidade ou duração, caso onde suportará esse
encargo o dono da obra.
Na ausência de critério, a Doutrina segue o critério da razoabilidade e da boa-fé: cabe ao
empreiteiro suportar os custos da verificação quando não seja realizada por perito, na medida
em que são acessórios face ao cumprimento do seu dever de entrega da obra.

Após a verificação, existe o dever segundo alguns ou o ónus material (seguida pelo prof.
Regente) de comunicar o respetivo resultado ao empreiteiro – art. 1218º nº4.

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É um ato jurídico simples no qual se comunica a existência ou inexistência de vícios (aparentes)
ou a existência de desvios ao plano convencionado. Não carece de nenhuma forma legalmente
exigível, sendo um ato consensual nos termos do art. 219º.
O CC não refere expressamente o prazo de comunicação, mas parece ser de aplicar o critério do
art. 1218º nº2 para o prazo de verificação (primeiro a vontade das partes, depois os usos, e em
falta de usos, dentro do período que se julgue razoável depois de o empreiteiro colocar o dono
da obra em condições de a poder fazer).
No caso concreto: o prazo para a comunicação foi estabelecido (15 dias).

Se a comunicação for no sentido de a obra se encontrar de acordo com o plano convencionado e


sem vícios, ela conterá, tacitamente, a aceitação da obra sem reservas. Caso a obra tenha
defeitos, tem o significado de recuso da aceitação e denúncia de defeitos, ou quando muito, de
aceitação com reservas e denúncia de defeitos.

Nota: Na falta de verificação e comunicação, o silencia ganha um valor declarativo e vale como
aceitação – art. 1218º nº5. Na hipótese de existência de vícios aparentes na obra, o empreiteiro
exime-se da respetiva responsabilidade – art. 1219º nº1 – dado que a aceitação presuntiva do nº5
é uma aceitação sem reservas. A RECEÇÃO DA COISA PER SI NÃO É VERIFICAÇÃO.
A ausência de verificação ou comunicação só valem como aceitação da obra depois de se fazer
funcionar o art. 808º, interpelando o dono da obra para cumprir o dever em falta, dando para
isso um prazo razoável, ou depois de o empreiteiro ter perdido o interesse no cumprimento.
Antes disso há apenas uma situação de mora, cujo único efeito é a inversão do risco, nos termos
do art. 1228º nº2.
No caso concreto, a fábrica “estava impaciente” com a inércia da Sociedade e fixou um prazo
admonitório de 15 dias. Ultrapasso esse prazo de 15 dias, houve uma aceitação sem reservas por
parte da Sociedade e a fábrica exime-se da responsabilidade perante defeitos aparentes. MAS
TINHAMOS UM DEFEITO OCULTO NO CASO CONCRETO.

Podemos ainda admitir a possibilidade do dono da obra fazer a denúncia de defeitos mesmo sem
ter realizado a verificação da obra. Pode ocorrer quando o dono da obra detete defeitos no
exercício de fiscalização da obra, ou devido ao facto do próprio empreiteiro confessar a existe
cia de algum defeito. A situação visada no art. 1218º nº5 é aquela em que o dono da obra
simplesmente nada fez.

Feita a verificação e transmitido o seu resultado ao empreiteiro, o dono da obra deve ainda
proceder à respetiva aceitação, quando a obra se encontre de acordo com o plano convencionado
e sem vícios.
Apesar de serem atos autónomos, a verificação, comunicação e aceitação da obra estão
mediante uma relação incindível, ou seja, há uma ligação entre estes atos diversos.
Efeitos da aceitação da obra:

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 Transferência da propriedade nas situações do art. 1212º nº1 (empreitada de coisa
móvel com materiais fornecidos pelo empreiteiro – era o nossos caso).
 Transferência do risco, nos termos do art. 1228º nº2.
 Irresponsabilidade do empreiteiro por vícios conhecidos do dono da obra e não
ressalvados e pelos vícios aparentes que se presumem conhecidos nos termos do art.
1219º nº1 e 2.
 Aceitação com reservas: Inicia o prazo de garantia legal ou convencional sobre os
defeitos ressalvados nos termos do art. 1224º nº1.
 Vencimento da obrigação de pagamento do preço – art. 1211º nº2.

Distinção de aceitação com e sem reserva:


A aceitação da obra pode não importar todos os efeitos acima referidos em sede de
responsabilidade do empreiteiro. A aceitação pode ser feita com ou sem reserva: art. 1219º 1
(sem reserva) e art. 1224º nº1 (com reserva). A aceitação da obra com reserva ocorre quando a
obra tem defeitos, mas o dono da obra a aceita, declarando não prescindir dos direitos que lhe
assistem. A reserva é feita de forma pouco afirmativa, sendo que aqui também vigora o princípio
da liberdade declarativa: as reservas podem ser efetuadas expressa ou tacitamente nos termos do
art. 217º.
A aceitação sem reserva ocorre se o dono da obra a aceitar, simplesmente, sem menção a
quaisquer defeitos que tenha encontrado: nesse caso, se a obra apresentar defeitos conhecidos
do dono da obra, considera-se que a aceitação sem reservas exonera o empreiteiro da
responsabilidade por esses defeitos – art. 1219º nº1. No caso concreto, já vimos que a aceitação
presuntiva do artigo 1218º nº5 é uma aceitação sem reservas e portanto considera-se exonerada
a responsabilidade do empreiteiro por esses defeitos.
Existindo uma aceitação sem reservas, presumem-se conhecidos os defeitos aparentes – art.
1219º nº1, sendo uma presunção inilidível, nos termos do art. 350º nº2. Ao dono da obra seria
possível privar não serem, apesar de aparentes os defeitos suscetíveis de conhecimento. Não
obstante, podemos questionar se é possível ao dono da obra elidir a presunção na hipótese de
não ter existindo verificação e de a obra se considerar presuntivamente aceite (art. 1218º nº5).
Não tendo existindo verificação, mas havendo defeitos aparentes, não se vê facilmente como
poderá o dono provar desconhecer, sem culpa, os defeitos aparentes. O objetivo do art. 1218º
nº5 é imputar uma consequência negativa ao dono da obra por não ter realizado a verificação da
mesma: aceitação da obra sem reservas, tal e qual como ela se encontrava, ou seja, mesmo com
defeitos aparentes. No caso concreto, o tipo de material usado ser diferente do convencionado é
um defeito aparente.

A aceitação não está sujeita a forma especial, regente a liberdade de forma – art. 219º.
Também nada impõe o dever de aceitação ser expressa, podendo resultar de comportamento do
dono da obra sem outro sentido possível ou razoável (pagamento do preço não acompanhado de
qualquer outra declaração).
CONCLUSÃO: A SOCIEDADE NÃO TEM DIREITO A ESSE REEMBOLSO.
Não há redução do preço, a menos que haja responsabilidade do empreiteiro.
Sub-hipótese 1: Considere que a fábrica BB, tendo em conta a falta de materiais de pintura com
as devidas condições, e com receio de entrar em mora na entrega da coisa se tiver que esperar

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pelo fornecimento dos materiais adequados, utilizou materiais tóxicos para construir as figuras.
Passados dois dias da entrega da coisa, Roberto, Associado Coordenador da Área de Bancário,
ao se aproximar e inalar os materiais provenientes da pintura tóxica, desmaia, o que lhe provoca
uma fratura no braço. Quid iuris? 

Não tinham maneira de saber do produto tóxico – era um vicio oculto.


A coisa já tinha sido entregue, e ao que tudo indica, ocorreu uma aceitação sem reservas:
A aceitação sem reserva ocorre se o dono da obra a aceitar, simplesmente, sem menção a
quaisquer defeitos que tenha encontrado: nesse caso, se a obra apresentar defeitos conhecidos
do dono da obra, considera-se que a aceitação sem reservas exonera o empreiteiro da
responsabilidade por esses defeitos – art. 1219º nº1.
Erros patentes: nº2 do artigo. São defeitos que não são conhecidos, mas o legislador presume
que eles o são porque são defeitos aparentes (é um defeito e com uma simples análise
percebemos que existe). Mesmo que não tenha verificado, entende-se que eu conhecia o defeito.
Consequência: não posso reagir perante o empreiteiro mediante esse defeito, porque eu “o
aceitei”.
Esta presunção é ilidível ou inilidível?
Prof: Mesmo que se admita prova em contrário desta presunção, do ponto de vista prático é
difícil afastar a presunção. Boa-fé subjetiva ética: É um defeito aparente, qualquer pessoa
perceberia.
No caso concreto, estamos perante um vicio oculto e aí, mesmo mediante uma aceitação sem
reservas, o dono da obra pode fazer valer eventuais direitos.

Cumprimento defeituoso no contrato de empreitada  Do defeito da obra. Os defeitos da obra


verificam-se perante todas as desconformidades, em sentido amplo, entre a prestação devida e a
prestação efetuada, incluindo a hipótese de a obra apresentar uma redução ou extinção do valor
ou utilidade. Pelos defeitos apresentados pela obra em resultado da prestação do empreiteiro
responde este nos termos do art. 1219º e ss. do CC.
Um vicio oculto é latente, existindo em potência e não em ato. Se o defeito existir já em
potência no momento daa entrega, a sua manifestação, mesmo se posterior, não
desresponsabiliza o empreiteiro, pois é a sua prestação defeituosa a gerar essa manifestação. 
Defeitos existentes e manifestados  Responsabilidade do empreiteiro.
Defeitos existentes e não manifestados  Responsabilidade do empreiteiro.
Todos os restantes defeitos  Responsabilidade do dono da obra (defeitos patentes).

2 tipos de defeitos:

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 Vícios, suscetíveis de serem sinteticamente identificados como as divergências entre a
obra realizada e um padrão comum.
 As desconformidades, em sentido estrito, representativas de uma divergência com o
estipulado entre as partes, traduzidas, num desvio face ao plano acordado. É uma
construção de uma obra diferente da acordada, ocorrendo um afastamento de regras
técnicas e utilização de materiais diferentes do convencionado.

Ambos os defeitos enunciados cabem no amplo conceito de defeito, sendo o seu regime o
mesmo: o cumprimento defeituoso. Ambos originam responsabilidade contratual (violação dos
deveres de boa-fé). O terceiro tem de estar no âmbito de proteção do contrato. Sendo o
trabalhador do dono da obra, integra-se aqui. Se for fora, responsabilidade civil.
Pertence ao dono da obra a prova da existência dos defeitos, como factos constitutivos dos seus
direitos nos termos do art. 242º nº1. Feita essa prova, o empreiteiro deverá provar não se
deverem eles ao cumprimento defeituoso da sua prestação.
Deve traçar-se uma distinção entre as hipóteses de incumprimento parcial e de cumprimento
defeituoso (defeitos da obra). A distinção é relevante dado que só vamos aplicar o regime dos
arts. 1218º e ss. à hipótese de defeitos da obra. O incumprimento parcial segue o regime dos
arts. 728º e ss.
A distinção na prática é difícil na medida em que, dado as desconformidades corresponderem a
situações próximas de incumprimento parcial.
O incumprimento parcial é um vicio meramente quantitativo, já o defeito é uma deficiência, um
vicio qualitativo. O incumprimento parcial é uma falta de elementos que exercem uma função
própria na obra.
O cumprimento defeituoso parece ter autonomia nas hipóteses de o dono da obra desconhecer
os defeitos e a aceitar, ou conhecendo os defeitos, aceita a obra com reservas. Se a obra foi
realizada com defeitos imediatamente conhecidos do dono da obra e este a rejeita logo, haverá
mora ou incumprimento definitivo dependendo dos casos em concreto.

No caso concreto, iriamos aplicar o regime de cumprimento defeituoso, aplicando o regime dos
arts. 1218º e ss. ao invés do regime do incumprimento parcial. O empreiteiro responde por estes
vícios.

i. Distinção entre defeitos conhecidos e não conhecidos – art. 1219º nº1 e art. 1224º
nº2.

ii. Defeitos aparentes e não aparentes (ocultos) – art. 1219º nº2 e art. 1220º nº1.

Sendo um defeito oculto, o dono da obra deve denunciar o mesmo dentro do prazo de 30 dias à
luz do art. 1220º nº1. Há uma necessidade de tutelar os interesses do empreiteiro: convém este
saber de forma célere a extensão das suas obrigações perante a existência de defeitos numa obra
que realizou, para poder resolver rapidamente a situação, evitando o agravamento de defeitos e
danos ulteriores.

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São tidos por conhecidos os defeitos efetivamente percebidos pelo dono da obra, sejam eles
ocultos ou aparentes. O dono da obra pode ter conhecimento de defeitos ocultos, quando por
exemplo acompanhou pessoalmente a execução da obra e assistiu à sua realização defeituosa.
Nestas hipóteses, a aceitação sem reservas implica a desresponsabilidade do empreiteiro.

No caso concreto, o dono da obra não se encontrava nesta situação e não tinha maneira de
conhecer o defeito oculto.
A aceitação sem reservas não desresponsabiliza o empreiteiro (isso contrariava o art. 809º) e
façamos numa reserva implícita dos defeitos ocultos, mesmo se tiver existido aceitação sem
reservas. Todavia, temos de ter em conta o padrão de diligência adequado para medir a
diligência devida. Será diferente a situação do dona da obra ser um leigo ou um técnico, mas
mesmo assim devemos atender a diligência média de um profissional no conhecimento dos
defeitos. O mesmo defeito pode ser oculto ou aparente, tendo em conta o caso concreto. Se os
defeitos apenas são visíveis para pessoas com alguns conhecimentos e a verificação é realizada
por um defeito oculto, há defeito oculto e não aparente.

Estávamos perante um defeito oculto e não conhecido – art. 1220º nº1 e art. 1224º nº4.
O dono da obra deve denunciar o defeito nos 30 dias subsequentes ao conhecimento do defeito e
esse direito à denúncia caduca. O prazo de caducidade conta-se a partir da denúncia e este
direito não pode ser exercido caso tenham passado mais de 2 anos sobre a entrega da obra.
Atuação dolosa aquando da execução.
Extensão do regime do art. 916º nº1: Se o vendedor tiver usado de dolo para ocultou ou manter
em erro o comprador sobre os defeitos do bem, este não tem o ónus de vir a denunciar sequer o
defeito.
Na eventualidade de dolo do empreiteiro na ocultação de um defeito da obra, suscita-se o
problema de saber até quando o dono da obra pode invocar os seus direitos. Não se aplica
nenhum prazo de denúncia, mas resta saber se o empreiteiro ainda é responsável perante o dono
da obra se este descobrir um efeito ocultado pelo empreiteiro depois de decorridos os prazos de
dois e cinco anos a partir da entrega da obra – art. 1224º e 1225º. Se sim, quais os prazos para
essa responsabilidade ser exigida?
Os direitos do dono da obra podem ser invocados mesmo após o decurso do prazo constante nos
artigos: o agente doloso não pode ser beneficiado. A partir do conhecimento dos defeitos, o
dono tem um prazo de 1 ano – art. 1224º nº1, sem sujeitação ao limite dos cinco anos nem os
dois anos – para exercer judicialmente os seus direitos. Quem atua dolosamente não pode exigir
da outra parte uma atitude baseada na boa-fé subjetiva e ética – não havendo a equiparação
entre o dever de conhecimento e o conhecimento efetivo.

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Sub-hipótese 3: Imagine que a Veiga Beirão & Associados, aquando da verificação, reparou de
imediato que o tipo de argila era distinto do acordado. Nesse momento, comunicou à fábrica que
vai aceitar a obra, mas que detetou a desconformidade. Passado um ano e dois meses, a
Sociedade pretende que as figuras sejam construídas com o material de argila que tinha sido
inicialmente estipulado. Quid iuris? 

Aceitação com reservas – art. 1224º nº1.

A aceitação da obra com reserva ocorre quando a obra tem defeitos, mas o dono da obra a
aceita, declarando não prescindir dos direitos que lhe assistem. Caso a reserva seja feita de
forma pouco afirmativa, aqui também vigora o princípio da liberdade declarativa: as reservas
podem ser efetuadas expressa ou tacitamente nos termos do art. 217º.
Há um dever de eliminação dos defeitos da prestação como o de realização de nova obra:
adimplemento perfeito do contrato de empreitada. É uma “indemnização em forma especifica”.
Na eliminação dos defeitos a obra inicial mantém-se, ao passo que na realização de nova obra
não.
Estes direitos não estão numa relação de alternatividade: Na eventualidade de defeitos, em
primeiro lugar temos a eliminação dos mesmos e se ela não for possível ou for
desproporcionada, temos a realização de obra nova – art. 1221º nº1. Qualquer um destes direitos
cessa se as despesas forem desproporcionadas face ao proveito – art. 1221º nº2.
Os deveres de eliminação dos defeitos ou construção de obra nova pertencem ao empreiteiro.
Devem ser-lhe imputados todos os valores inerentes ao seu cumprimento (mesmo o transporte).
Não são estabelecidos prazos para estes deveres, mas tem-se entendido poder o dono da obra
fixar um prazo razoável para o desempenho dessas obrigações pelo empreiteiro. A
ultrapassagem deste prazo determina a mora (se este já tiver natureza admonitória) ou o
incumprimento definitivo nos termos do art. 808º.

Receção provisória (mesmo com a inércia do dono da obra, não se dão os efeitos do CC – não é
necessária haver uma cláusula) e depois receção definitiva.
O dono da obra cede a obra e passado algum tempo há uma receção definitiva.
Jurisprudência: Não podemos aplicar o regime do CPP porque é contrariável face ao art. 1218º.
O empreiteiro fica desresponsabilizado por defeitos aparentes.
Regente: O art. 1218º nº5 não é uma regra imperativa. Há responsabilidade objetiva do
empreiteiro 2 meses e depois é que a obra se dá por aceite.

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Se a mora na modificação importar logo a aceitação, transfere a propriedade dos móveis, logo
eu dizer que basta a mora para haver uma aceitação presumida, inutiliza o art. 1228º nº2, pois
íamos dizer que a mora importa a transferência do risco e da propriedade.

Dúvida da Bea: art. 1218º nº2  o que é considerar um período razoável? Depende sempre da
natureza da empreitada.

Estamos perante um defeito aparente – as manchas nos objetos – e perante um defeito oculto
(materiais de argila serem diferentes). Critério de definição: a doutrina vai ao art. 1548º nº2 para
dizer que um defeito aparente.
Esta aceitação sem reserva irresponsabiliza o empreiteiro, nos termos do art. 1219º,
relativamente aos defeitos aparentes (manchas) e não defeitos ocultos.
Para haver a reparação do defeitos, o dono da obra tem de existir que o defeito existe desde o
início e que era oculto. Enquanto o objetivo do empreiteiro é ilidir a presunção de culpa do art.
799º.
Temos de estar perante um defeito oculto conhecido pelo dono da obra aquando da fiscalização
da obra, especialmente se for feita por peritos ou técnicos, e podemos ter um defeito aparente
não conhecido pelo dono da obra e aqui coloca-se a questão de ilidir a presunção de que os
defeitos aparentes são conhecidos. A doutrina entende que, tendo havido verificação, o dono da
obra pode dizer que mesmo assim não teve condições para o fazer, mas se este não tiver
realizado a verificação é muito difícil achar que pode ilidir a presunção não tendo verificado
(houve uma “negligência” dele e depois vem dizer “não consegui reparar nos defeitos”).
Relativamente ao defeito oculto, o dono da obra pode exercer os seus direitos à luz do art. 1221º
e ss.

Resposta da Bea:
Prazos  Tanto o direito de eliminação dos defeitos, nova construção, como a redução do
preço, resolução do contrato ou indemnização o dono da obra tem o ónus de denunciar ao
empreiteiro os defeitos da obra nos 30 dias subsequentes ao conhecimento (no casso concreto
verifica-se, ele soube o defeito e disse logo).
Estes direitos caducam se não forem exercidos dentro do prazo de 1 ano a contar desde a recusa
da obra ou aceitação com reserva.
O art. 1224º nº2 fala da aceitação sem reserva (1 ano a contar da denúncia).

Temos a conjugação de 3 tipos de prazos:


1. Prazo para a denúncia do defeito, do qual se encontra dependente a possibilidade de
escolha e direitos conferidos pela lei (prazo geral de 30 dias).
2. Prazo para o exercício de qualquer um destes direitos (no caso concreto ele queria a
redução do preço) e seria o prazo de 1 ano.

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3. Estas pretensões só existem relativamente a defeitos que se manifestem durante o prazo
de 2 anos a contar da data de entrega.

Professora  1 ano a contar da denúncia.

A sociedade repara no defeito e comunica logo, a denúncia e as ações dos direitos é


tudo ao mesmo tempo. Mas pode não acontecer isto e posso ir ao empreiteiro e dizer
“isto está mal e tenho noção”, passado 16 meses digo “quero reparar”.

Ou seja, no caso concreto os prazos estavam todos cumpridos, mas ele não podia pedir a
redução do preço porque há uma hierarquia de meios de reação: art. 1222º nº1, só
podemos pedir a redução se não for possível a eliminação dos defeitos ou a nova
construção for impossível (…).

Primeiro, temos de pedir a eliminação dos defeitos, depois uma nova construção e
se isso não fosse possível é que íamos para a redução do preço.

Doutrina: Quem é que decide se é feita uma coisa ou outra, a maioria da doutrina
diz que é o empreiteiro, pois é um “juízo com causa própria”, tendo o total
controlo da decisão. O prof. RM diz que se houver discordância entre ambos, é o
tribunal a decidir.
Não sendo possível a reparação (tinham de realizar tudo de novo), têm de proceder
a uma obra nova e não sendo possível ambas (impossibilidade fáctica e jurídica –
infungibilidade*).

* Tenho um automóvel que ganhei especificamente na corrida e há um defeito que


torna o automóvel impossível de utilização. Infungibilidade  Temos de reduzir o
preço ou à resolução.
Aqui não podíamos reduzir o preço, menos na situação de haver incumprimento
definitivo do empreiteiro.

Minha dúvida: O que é assistir à realização de uma obra defeituosa? O art. 1209º nº2
refere que são retirados ao dono da obra os seus direitos se tiver aceite expressamente
os defeitos da obra e aí há irresponsabilidade do empreiteiro.

Regente: Questão de abuso do direito  Conheço o defeito efetivamente e só digo


depois (antes da aceitação ou depois da mesma).

O dono da obra, conhecendo os defeitos, aceita com reservas e aí não há logo


irresponsabilidade do empreiteiro. É a única forma que, conhecendo os defeitos, não há
logo irresponsabilidade do último.

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Sub-hipótese 1:

O empreiteiro tanto incumpriu com o plano convencionado porque utilizou matéria-


prima diferente, bem como incumpria regras de segurança que estava obrigado a
cumprir e produzem efeitos jurídicos perante terceiros merecedores de proteção – art.
483º.

Romano Martinez:
Danos abrangidos pelo âmbito de eficácia de proteção de terceiros, emergentes da
violação de deveres de proteção ou segurança perante o credor, faz-se uma distinção
entre os danos:

i. Danos extra rem  São verificados de modo autónomo face ao objeto da


prestação e são danos onde outros bens do credor não abrangidos pelo objeto do
contrato de empreitada e seguimos o regime do cumprimento defeituoso.
Não se impõe aos donos da obra os curtos prazos de denúncia e de caducidade
do art. 1224º. Origina responsabilidade delitual por incumprimento de deveres
de segurança geral e seguraça.

Materiais tóxicos.

ii. Danos circa rem  Todos os restantes danos que incidem sobre o objeto da
prestação ou que tenham com ele uma relação conexa e nestes casos, o regime é
o da responsabilidade contratual – art. 483º.

Pedro Albuquerque: Paracontratualidade e aplicação do modelo alargado da obrigação se


estiver em causa deveres de segurança. MC: Esquema que utiliza dos círculos (prestação
primária, secundária e depois os deveres acessórios da obrigação – boa-fé, segurança. Os
deveres de segurança na aquisição dos materiais estão dentro do círculo da obrigação). Ambos
são os danos originam a responsabilidade contratual por se integrarem nos deveres acessório de
conduta dentro da obrigação. O terceiro afetado tem de estar dentro do âmbito de aplicação do
contrato, por oposição a um terceiro que não esteja ligado diretamente ao contrato (sendo um
trabalhador, está sempre relacionado com o contrato) e aplica-se a responsabilidade civil (até
para o regente). Para os condóminos, aplicamos o art. 1348º nº2 (responsabilidade solidária).
Regente:
Regime geral dos direitos das obrigações  Aquele caso que tivemos da má
injunção dos projetores, há um “defeito na execução da obra” que só se manifesta
depois da obra realizada e já aceite (o defeito não se reflete logo na obra finalizada).
Aí há falta de cumprimento dos deveres de segurança e aplicamos o regime geral
dos direitos das obrigações. Durante a execução do contrato e defeitos não
refletidos logo.

i. Empreitada  Aplicamos os prazos da empreitada quando há um dano extra rem e


o dano extra rem seja provocado pelo vicio da obra diretamente (no caso, há
materiais tóxicos inseridos na própria obra realizada, havendo uma conexão direta).
Vício da obra (materiais serem diferentes).

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Minha resposta  Dolo.
Ocultação dolosa do defeito.
Aqui houve mais ocultação dolosa da execução da obra.
Mas não era parva a minha resposta, por isso fixe.
Regente: Analogia com o art. 916º nº1 1ª parte.
Se eu tiver tido conhecimento do vicio depois dos 2 anos ou dos 5 anos a contar da entrega,
mesmo assim posso acionar os meus direito desde que sejam feitos no prazo de 1 ano a contar
do conhecimento.
Não está sujeito a nenhum regime nem dos 2 anos ou 5 anos.

Dúvida da Joana:
Cumprimento defeituoso devido à utilização de materiais com qualidade inferior à media – art.
1214º nº2.
Podíamos vir por aqui.
O ponto central era distinguir o cerca rema e o extra rem.

Regente: Tanto os danos extra rem e os danos circa rem implicam responsabilidade
obrigacional geral ou a aplicação dos prazos da empreitada.
Isto pode acontecer em concurso: posso ter uma fábrica com incêndio e há pessoas feridas, o
dano circa rem é a desvalorização da máquina (preço) e os danos extra rem são os danos não
patrimoniais.

Sub-hipótese 2:
Cláusula em que a obra é entregue e no prazo de 2 meses mantém-se a responsabilidade do
empreiteiro – extensão da responsabilidade.
Receção provisória  O dono da obra recebe a obra (verificou e diz “verifiquei”), dizemos
que há uma receção provisória e uma aceitação provisória (CCP: vistoria provisória). O
dono da obra leva a obra para a testar durante algum tempo e depois há uma vistoria
definitiva, havendo uma aceitação definitiva (consequentemente uma receção definitiva).
Jurisprudência: Não se pode aplicar este regime ao CC. O regime da aceitação provisória
contraria o número 5 do art. 1218º (quando não há verificação, a obra tem-se como aceite e o
empreiteiro fica desresponsabilizado pelos defeitos aparentes). Eu dizer que há uma receção
provisória é sinónimo de dizer que, mesmo com a inércia do dono da obra, não se dão os efeitos
do art. 1218º nº5.

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Pedro Albuquerque: Aceita que se estabeleçam receções provisórias, porque não se trata
de uma norma imperativa este artigo.
Que normas imperativas é que existem:
Imperativo mínimo do prazo do art. 1228º, de durabilidade da obra.
Imperativo: art. 51º (empreitadas de bens de consumo).

Há responsabilidade objetiva do empreiteiro durante 2 meses e depois é que a obra se dá


por aceite.

Receção provisória VS outras aceitações:

 Mesmo que haja uma inércia por parte do dono da obra, não se aplica o CC e apenas as
questões do contrato (prazo de garantia), mas não tem de haver uma cláusula – vou
verificar (TENHO DE VERIFICAR PARA HAVER RECEÇÃO PROVISÓRIA) e
venho-me embora, há uma presunção de que me fui embora para testar a coisa.
 Regente: A cláusula era válida.

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