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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DO

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE XXXXXX/RN.

Número do Processo: 080XXXX-XX.20XX.8.20.XXXX


Parte autora: JOÃO DAS QUANTAS
Parte ré: Eletônica dos EUA Ltda

JOÃO DAS QUANTAS, já devidamente qualificado nos autos do processo supracitado,


vem, por intermédio de seu Advogado e bastante procurador, apresentar RÉPLICA À
CONTESTAÇÃO, apresentada por ELETRÔNICA DOS EUA LTDA, com base nos
fundamentos a seguir expostos:

I – DA SÍNTESE DA CONTESTAÇÃO

Em apertada síntese, alegou a Ré Eletônica dos EUA Ltda (ID XXXXXXXXX),


preliminarmente, que houve decadência do direito à reparação, substituição ou
ressarcimento do produto, posto que o vício do produto e seu consequente conserto era de
responsabilidade do fabricante, sendo que tal prazo seria de noventa dias e que o requerente
deixou transcorrer tal prazo, o que acarretaria extinção do processo sem resolução do mérito.
Aduz, ainda, que o produto estava fora do prazo de garantia e que o vício
apresentado enseja incompetência do Juizado Especial Cível, tendo em vista a complexidade
da prova a ser produzida, qual seja a perícia técnica, requerendo, mais uma vez a extinção do
processo sem resolução de mérito.
Apresentou proposta de acordo.
No mérito, pugna pela improcedência dos pedidos por ausência de responsabilidade
da requerida e prazo da garantia expirado, “inexistindo qualquer obrigação jurídica que
imponha a ré o dever de reparar o produto de forma gratuita”. Posto que a
“responsabilização da fabricante não pode ser eternizada, ainda que se leve em conta o
tempo de vida útil do produto”.

II – DO MÉRITO
No tocante à preliminar de decadência do direito à reparação, substituição ou
ressarcimento do produto, apresentada pela Requerida Eletônica dos EUA Ltda, esta não
deve proceder, pois o direito autoral é assegura no CDC, em seu art. 32, que diz:
Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de
componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou
importação do produto.
Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser
mantida por período razoável de tempo, na forma da lei.

Este é o entendimento de nossos tribunais superiores, senão vejamos:


AUSÊNCIA DE PEÇA DE REPOSIÇÃO. DECADÊNCIA. NÃO
OCORRÊNCIA. OBRIGAÇÃO DO FABRICANTE EM MANTER
PEÇAS DE REPOSIÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.
Não há falar em decadência quando a reclamação do consumidor não
diz respeito a vicio do produto. É obrigação do fabricante manter, por
prazo razoável, a oferta de peças de reposição. Inteligência do art. 32 do
CDC . Inexistência de peças apenas quatro anos após a aquisição do
bem que se revela abusiva, pois um refrigerador certamente não é um
bem descartável feito para durar tão pouco tempo. Obrigação de
substituição por outro refrigerador mantida, considerando que sequer
alegada em contestação a existência da peça reclamada na inicial, bem como
a possibilidade de conserto do bem. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos. RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Recurso Cível
Nº 71004764130, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, relator:
Pedro Luiz Pozza, Julgado em 22.04.14). (grifos acrescidos).

Assim, não merece prosperar a alegada preliminar de decadência do direito autoral.


Sobre a preliminar de transcurso de prazo para se pleitear a solução do vício que,
segundo a requerida, seria de 90(noventa) dias, também não merece guarida.
Os arts. 26 e 27, do CDC, assim dispõem sobre prescrição e decadência:
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação
caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não
duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos
duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do
produto ou do término da execução dos serviços.
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante
o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
II - (Vetado).
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no
momento em que ficar evidenciado o defeito.
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do
dano e de sua autoria.

Deste modo, não deve proceder a preliminar de prescrição/decadência alegado pela


requerida.
Veja-se que logo que o produto apresentou problemas a requerente acionou a
fabricante, por meio de sua autorizada, para que o produto fosse consertado, não há que se
falar aqui em garantia. O autor sabia, e isso foi explanado na exordial, que o produto não mais
estava acobertado pela garantia.
O que se queria era que houvesse peças de reposição no mercado, como determina o
Código Consumerista, consoante explanado acima (art. 32).
No mais, o acionamento da autorizada, caso fosse alegar prescrição ao direito, teria o
condão de suspender a prescrição e interromper a decadência, sendo este o entendimento de
nossos tribunais quando reconhece que o processo administrativo (no caso, reclamação
administrativa) junto à requerida faz com que a prescrição tenha seu prazo suspenso e a
decadência, interrompido.
Contudo, mais uma vez, o requerente informa que não tentou acionar o seguro do
produto. O que ele quer é a peça de reposição para corrigir o defeito apresentado e a
requerida, após dois anos de tratativas e acordos não cumpridos, diz que não mais existia a
peça de reposição de um produto que sequer fazia três anos que o consumidor tinha
comprado, violando assim o disposto no art. 32, da Lei Consumerista.
Entretanto, é exatamente este o objeto em litígio, pois a fabricante não efetuou o
conserto e, tampouco, a troca do produto ou peça que apresentou defeito e, menos ainda,
cumpriu com os acordos extrajudiciais firmados com o requerente, conforme explanado
na inicial!
Sobre a preliminar de incompetência do juizado especial cível, por se tratar de
complexidade de prova, também não deve prosperar, já que aqui não se trata de análise
pericial de defeito, mas de violação de direito, conforme procedeu a requerida quando não
mais dispôs peças de reposição no mercado, mesmo num curto intervalo de tempo entre a
aquisição do bem e o defeito apresentado (art. 32, do CDC).
Insiste o autor que trata-se de direito consumerista e que, por tal motivo, a inversão
do ônus da prova se faz necessária, em respeito à hipossuficiência do consumidor, o que se
reitera, conforme pedidos iniciais.
Alega a parte promovida em sua defesa de mérito que não há responsabilidade do
dever de ressarcir, pois não houve prejuízo comprovado.
Mais uma defesa que tenta impor erro ao julgador. Como não houve dano e não há
responsabilidade se estas premissas e consequências advêm da própria legislação? O dano
existe quando faltou peça para reparar o bem e a consequência disso é o tempo em que o
requerente está sem usar o produto, devendo ser responsabilizada por isto.
Afirma, ainda, que não restou demonstrado o dano moral requerido, pois este é
cabível quando se viola direito da personalidade, olvidando-se de que este dano é, como já
decidiu o STJ, in re ipsa, ou seja, presumido.
No mais, ficar com um produto defeituoso e sem utilidade, por não mais existir peças
de reposição no mercado, quando deveria a requerida garantir tais peças por um período
razoável, para a ré, não viola a personalidade. Estranho modo de considerar personalidade
quando se é o transgressor deste direito!

III – DO REQUERIMENTO

Diante todo exposto, requer-se:


a) Não seja acatada as preliminares apresentadas pela ré, conforme rebatidas acima;
b) que seja julgada a presente ação totalmente procedente nos exatos termos da
inicial;

Nestes termos,
pede e espera deferimento.

XXXXXXXX/RN, 26 de janeiro de 2024.

Advogado
OAB/RN xx.xxx

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