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Informativo 638-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
ANISTIA POLÍTICA
 Súmula 624-STJ.

DIREITO AMBIENTAL
OBRIGAÇÕES AMBIENTAIS
 Súmula 623-STJ

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL


 Súmula 629-STJ.

DIREITO CIVIL
RESPONSABILIDADE CIVIL
 Atraso de voo internacional não gera dano moral in re ipsa.

CONTRATO DE SEGURO
 Súmula 620-STJ.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
 O credor fiduciário somente responde pelas dívidas condominiais após a imissão na posse.

ALIMENTOS
 Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena capacidade processual, cabe exclusivamente a ele
provocar a integração posterior no polo passivo.
 Súmula 621-STJ.

DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
 É legítima a recusa do plano de saúde em custear medicação importada não nacionalizada, ou seja, sem registro
vigente na ANVISA.

DIREITO EMPRESARIAL
PROTESTO
 Credor que havia protestado o título tem o dever de fornecer carta de anuência para cancelamento do protesto,
mas para isso precisa haver um pedido do devedor.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO
 Os novos julgadores convocados na forma do art. 942 do CPC/2015 poderão analisar todo o conteúdo das razões
recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve divergência.

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RECURSO ESPECIAL
 Necessidade de impugnação específica de todos os fundamentos da decisão proferida pelo Tribunal de origem que
inadmite o recurso especial.

EXECUÇÃO
 O agravo de instrumento não pode ser utilizado como meio de impugnação de toda e qualquer decisão interlocutória
proferida no processo de execução.

MANDADO DE SEGURANÇA
 Súmula 628-STJ.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


SENTENÇA
 É nula a sentença proferida de forma oral e degravada parcialmente sem o registro das razões de decidir.

TRIBUNAL DO JÚRI
 É possível a pronúncia do acusado baseada exclusivamente em elementos informativos obtidos na fase inquisitorial?

DIREITO TRIBUTÁRIO
PRESCRIÇÃO
 Parcelamento de ofício não interfere no curso do prazo prescricional

IPTU
 Termo inicial do prazo prescricional em caso de IPTU

CRÉDITO TRIBUTÁRIO
 Súmula 622-STJ.

COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA
 Súmula 625-STJ.

IMPOSTO DE RENDA
 Súmula 627-STJ.

IPI
 Não deve incidir IPI sobre a venda de produtos, na hipótese de roubo ou furto da mercadoria antes da sua entrega
ao comprador.

ISS
 Incide ISS sobre serviço de proteção ao crédito oferecido por sindicato ou CDL aos seus associados?

IPTU
 Súmula 626-STJ.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ANISTIA POLÍTICA
Súmula 624-STJ

Súmula 624-STJ: É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica
da Lei nº 10.559/2002 (Lei da Anistia Política).
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi vítima de intensa perseguição política praticada pelo governo federal durante a época da ditadura
militar instalada no Brasil em 1964.
O art. 8º do ADCT concede anistia política a pessoas que foram prejudicadas por perseguições decorrentes
de motivação política no período de 18/09/1946 até a data de promulgação da CF/88.
Há previsão também de que o anistiado receba uma reparação de natureza econômica, a ser paga pela
União, em alguns casos nos quais fique demonstrado que ele sofreu prejuízos em sua atividade laboral.
A Lei nº 10.559/2002 regulamentou o art. 8º do ADCT e a concessão dessa reparação econômica para os
anistiados. Veja:
ADCT
Art. 8º. É concedida anistia aos que, no período de 18 de setembro de 1946 até a data da
promulgação da Constituição, foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente
política, por atos de exceção, institucionais ou complementares, aos que foram abrangidos pelo
Decreto Legislativo nº 18, de 15 de dezembro de 1961, e aos atingidos pelo Decreto-Lei nº 864, de
12 de setembro de 1969, asseguradas as promoções, na inatividade, ao cargo, emprego, posto ou
graduação a que teriam direito se estivessem em serviço ativo, obedecidos os prazos de
permanência em atividade previstos nas leis e regulamentos vigentes, respeitadas as
características e peculiaridades das carreiras dos servidores públicos civis e militares e observados
os respectivos regimes jurídicos.

Lei nº 10.559/2002
Art. 1º O Regime do Anistiado Político compreende os seguintes direitos:
I - declaração da condição de anistiado político;
II - reparação econômica, de caráter indenizatório, em prestação única ou em prestação mensal,
permanente e continuada, asseguradas a readmissão ou a promoção na inatividade, nas condições
estabelecidas no caput e nos §§ 1º e 5º do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias;
(...)
Art. 3º A reparação econômica de que trata o inciso II do art. 1º desta Lei, nas condições
estabelecidas no caput do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, correrá à
conta do Tesouro Nacional.
(...)
Art. 4º A reparação econômica em prestação única consistirá no pagamento de trinta salários
mínimos por ano de punição e será devida aos anistiados políticos que não puderem comprovar
vínculos com a atividade laboral.
(...)
Art. 5º A reparação econômica em prestação mensal, permanente e continuada, nos termos do art.
8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, será assegurada aos anistiados políticos que
comprovarem vínculos com a atividade laboral, à exceção dos que optarem por receber em
prestação única.
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(...)
Art. 6º O valor da prestação mensal, permanente e continuada, será igual ao da remuneração que
o anistiado político receberia se na ativa estivesse, (...)

João requereu e recebeu, administrativamente, a reparação econômica prevista na Lei nº 10.559/2002


(Lei de Anistia).
Ocorre que, depois disso, já em 2014, ele ajuizou ação de compensação por danos morais contra a União
pedindo indenização extrapatrimonial pelos sofrimentos que passou neste período.

A pretensão em tela está prescrita?


NÃO.
As ações de indenização por danos morais decorrentes de perseguição, tortura e prisão, por motivos
políticos, durante o regime militar, são imprescritíveis. Para esses casos, não se aplica o prazo prescricional
de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/6/2013 (Info 523).

O STJ concluiu que tais demandas são imprescritíveis porque se referem a um período (regime militar) em
que a ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de exceção, tendo havido, sem dúvida,
incontáveis abusos e violações dos direitos fundamentais, mormente do direito à dignidade da pessoa
humana (AgRg no Ag 1391062/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/08/2011).

É possível que o anistiado político pleiteie judicialmente indenização por danos morais mesmo já tendo
recebido administrativamente a reparação econômica da Lei nº 10.559/2002?
SIM. É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei nº 10.559/2002
(Lei da Anistia Política).
Assim, o anistiado político que obteve, na via administrativa, a reparação econômica prevista na Lei nº
10.559/2002 não está impedido de pleitear, na esfera judicial, indenização por danos morais pelo mesmo
episódio político.
A Lei nº 10.559/2002, em seu art. 16, prevê o seguinte:
Art. 16. Os direitos expressos nesta Lei não excluem os conferidos por outras normas legais ou
constitucionais, vedada a acumulação de quaisquer pagamentos ou benefícios ou indenização
com o mesmo fundamento, facultando-se a opção mais favorável.

Esse dispositivo pode dar a impressão de que seria proibida a acumulação da reparação econômica com a
indenização por danos morais. Contudo, não foi esta a interpretação dada pelo STJ.
Segundo entendeu o Tribunal, o art. 16 é um comando dirigido, antes e unicamente, à Administração
Pública, e não à jurisdição. Em outras palavras, esse dispositivo proíbe que o Poder Público pague,
administrativamente, a reparação econômica cumulada com outros pagamentos, benefícios ou
indenização.
Além disso, a reparação econômica prevista na Lei nº 10.559/2002 não tem por objetivo indenizar danos
morais.
O art. 8º do ADCT determina que seja paga reparação econômica para aquelas pessoas que sofreram
prejuízos na sua esfera profissional e, por consequência, patrimonial. A Lei nº 10.559/2002, ao
regulamentar o art. 8º do ADCT, restringiu-se a estipular os direitos profissionais do anistiado político e
suas repercussões econômicas. Analisando os arts. 4º e 5º da Lei, fica ainda mais claro que essa reparação
econômica tem natureza patrimonial e se destina a compensar o anistiado pelo fato de ele não mais ter
podido exercer suas atividades laborais.
Desse modo, o recebimento da reparação econômica de que trata a Lei nº 10.559/2002 não exclui, por si
só, o direito de o anistiado buscar na via judicial, em ação autônoma e distinta, a reparação dos danos

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morais que tenha sofrido em decorrência da mesma perseguição política geradora da anterior reparação
administrativa (art. 5º, V e X, da CF/88), pois distintos se revelam os fundamentos que amparam cada uma
dessas situações.

DIREITO AMBIENTAL
OBRIGAÇÕES AMBIENTAIS
Súmula 623-STJ

Súmula 623-STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível
cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João possuía uma fazenda e parte dela, estava em área de preservação permanente.
Em 2015, João fez um desmatamento em sua propriedade e parte das árvores derrubadas estavam na
área de preservação permanente.
Vale ressaltar que isso foi feito sem qualquer autorização das autoridades ambientais.
Em 2016, João vendeu o imóvel a Pedro.
Em 2017, foi constado o desmatamento ilegal.
Diante disso, o Ministério Público ajuizou ação civil pública pedindo que Pedro seja condenado a fazer a
recomposição florestal.

Pedro demonstrou, por meio de fotos e perícia que, quando ele comprou a fazenda, a situação já estava
daquele jeito e o desmatamento já havia sido realizado. Com isso, ele ficará desobrigado de reparar os
danos ambientais?
NÃO.
As obrigações ambientais (ex: obrigação de reparar os danos ambientais) são propter rem.
Isso significa que as obrigações ambientais aderem ao título de domínio ou posse e se transferem ao atual
proprietário ou possuidor, ainda que eles não tenham sido os responsáveis pela degradação ambiental.
Vale ressaltar também que não interessa discutir a boa ou má-fé do adquirente, considerando que não se
está no âmbito da responsabilidade subjetiva, baseada em culpa.

Aplica-se também para multas


Em 2016, a empresa “X” comprou um hotel da empresa “Y”.
Em 2017, houve uma fiscalização do IBAMA no local e se constatou que uma lagoa foi aterrada
irregularmente, causando degradação ambiental.
A empresa “X” demonstrou que esse aterro foi realizado em 2013, ou seja, antes que ela tivesse adquirido
o imóvel.
Mesmo assim, a empresa “X” poderá ser autuada e receber uma multa por infração ambiental.
Nesse sentido:
(...) Independentemente de não se poder constatar quem foi o autor do dano ambiental, sua reparação
adere à propriedade como obrigatio propter rem, o que legitima o IBAMA a responsabilizar o atual
proprietário pela conduta dos anteriores, no esteio da jurisprudência desta Corte. (...)
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 268.217/PE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 30/11/2017.

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Escolha do credor
Vale ressaltar que o mais comum é que a obrigação ambiental seja exigida do possuidor ou proprietário atual
em virtude da facilidade de localização e maior efetividade em caso de execução. No entanto, existe uma
solidariedade entre o atual e os anteriores, de forma que o credor pode escolher aqueles que serão acionados.

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL


Súmula 629-STJ

Súmula 629-STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de


fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Imagine que determinada empresa causou grave dano ambiental. O Ministério Público (ou outro
legitimado) poderá ajuizar ação civil pública pedindo que essa empresa seja condenada a recompor o
meio ambiente (obrigação de fazer)?
SIM, sem nenhuma dúvida.
Além disso, é possível que, na ACP, seja pedida a condenação da empresa ao pagamento de danos
morais em favor da coletividade (obrigação de indenizar)? Em outras palavras, em caso de dano
ambiental, é cabível a cumulação da obrigação de fazer (ou não fazer) com a obrigação de indenizar?
SIM. É perfeitamente possível que o poluidor seja condenado, cumulativamente, a recompor o meio
ambiente e a pagar indenização pelos danos causados. Isso porque vigora, em nosso sistema jurídico, o
princípio da reparação integral do dano ambiental, de modo que o infrator deverá ser responsabilizado
por todos os efeitos decorrentes da conduta lesiva, permitindo-se que haja a cumulação de obrigações de
fazer, de não fazer e de indenizar.

Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP)


O art. 3º da Lei nº 7.347/85 afirma que a ACP “poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”.
Para o STJ, essa conjunção “ou” – contida no citado artigo, tem um sentido de adição (soma), não
representando uma alternativa excludente. Em outras palavras, será possível a condenação em dinheiro
e também ao cumprimento de obrigação de fazer/não fazer.
Veja precedente nesse sentido:
(...) Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3º da Lei 7.347/1985 permite a
cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização pecuniária em sede de
ação civil pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, já
consumado. Microssistema de tutela coletiva. (...)
STJ. 2ª Turma. REsp 1269494/MG, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 24/09/2013.

Importante esclarecer que não há “bis in idem” neste caso, considerando que as condenações possuem
finalidades e naturezas diferentes.
Vale ressaltar, por fim, que, apesar dessa possibilidade existir em tese, a condenação, no caso concreto, e
o seu eventual valor dependerão da situação:
O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento consolidado segundo o qual é possível a cumulação de
obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar nos casos de lesão ao meio ambiente, contudo, a
necessidade do cumprimento de obrigação de pagar quantia deve ser aferida em cada situação analisada.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1538727/SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/08/2018.

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DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL
Atraso de voo internacional não gera dano moral in re ipsa

Importante!!!
Na hipótese de atraso de voo, não se admite a configuração do dano moral in re ipsa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.465-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João tinha um voo de Belo Horizonte (MG) para Paris (França).
O voo atrasou três horas, fazendo com que João chegasse na capital francesa após o horário inicialmente
previsto.
Ele ingressou, então, com ação de indenização por danos morais.
O juiz e o TJ negaram o pedido afirmando que houve um simples aborrecimento e que não foi
demonstrado qualquer situação que gerasse a indenização extrapatrimonial.
João interpôs recurso especial ao STJ sustentado que o atraso de voo configura dano moral in ire ipsa.
Logo, ele precisaria provar apenas o ato ilícito praticado.

O STJ concordou com a tese de João?


NÃO.
Na hipótese de atraso de voo, não se admite a configuração do dano moral in re ipsa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.465-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Dano moral in re ipsa


Em algumas situações, a doutrina e a jurisprudência afirmam que a demonstração do dano moral não é
necessária, bastando se demonstrar que houve a prática do ato. Nesse caso, fala-se em damnun in re ipsa,
também conhecido como dano moral in re ipsa.
Assim, dano moral in re ipsa, também chamado de dano moral presumido, é aquele que se origina de uma
presunção absoluta, dispensando, portanto, prova em contrário.
No dano moral in re ipsa, o dano existe no próprio fato violador. Não cabe ao lesado, pois, fazer
demonstração de que sofreu, realmente, o dano moral alegado. O exemplo típico é o da mãe que perdeu
o filho assassinado. Não se exige que a mãe comprove que sofreu com a morte do filho. É um fato sobre
o qual há uma espécie de consenso no sentido de que gera danos de ordem moral.

Interpretação não pode ser elastecida


A caracterização do dano moral in re ipsa não pode ser elastecida a ponto de afastar a necessidade de sua
efetiva demonstração, em qualquer situação. Isso porque ao proceder assim, se estaria a percorrer o
caminho diametralmente oposto ao sentido da despatrimonialização do direito civil, transformando em
caráter meramente patrimonial os danos extrapatrimoniais e fomentando a já bastante conhecida
“indústria do dano moral”.

Mero atraso do voo não gera dano moral in re ipsa


Considerar que o atraso do voo gera dano moral presumido, seria dizer que, obrigatoriamente, o
passageiro sofreu um abalo que maculou a sua honra e dignidade pelo fato de a aeronave não ter partido
na exata hora constante do bilhete.
Não há, portanto, razoabilidade nesta conclusão.

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Atraso do voo pode ou não gerar dano moral a depender das circunstâncias do caso concreto
As circunstâncias que envolvem o caso concreto servirão para que o juiz analise se houve ou não o dano moral.
Exemplos de particularidades que devem ser analisadas:
a) a real duração do atraso;
b) se a companhia aérea ofertou alternativas para melhor atender aos passageiros;
c) se foram prestadas a tempo e modo, informações claras e precisas por parte da companhia aérea a fim
de amenizar os desconfortos inerentes à ocasião;
d) se foi oferecido suporte material (alimentação, hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável;
e) se o passageiro, devido ao atraso da aeronave, acabou por perder compromisso inadiável no destino.

CONTRATO DE SEGURO
Súmula 620-STJ

Súmula 620-STJ: A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento da


indenização prevista em contrato de seguro de vida.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João fez um seguro de vida, por meio do qual paga R$ 50 por mês (prêmio) e, se vier a falecer na vigência
do contrato, a seguradora terá que pagar R$ 500 mil reais (indenização) ao seu filho (beneficiário).
Determinado dia, João, após sair de uma festa completamente embriagado, perdeu o controle sobre o
carro e o colidiu contra um poste, falecendo no local.
A seguradora se negou a pagar o valor da apólice, ao argumento de que houve agravamento intencional
do risco (embriaguez ao volante). A seguradora afirmou que existe cláusula contratual prevendo a
exclusão de cobertura nestes casos. Confira:
Cláusula 2.3.1 – Há perda do direito à indenização no caso de morte ocorrida em acidente cuja
consequência direta ou indireta tenha sido decorrente de ingestão, por parte do segurado, de álcool, de
drogas, entorpecentes ou substâncias tóxicas.
O filho de João questionou judicialmente a validade desta cláusula.

Esta cláusula presente no seguro de vida é válida?


NÃO.
É vedada a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro ou acidente decorrente de
atos praticados pelo segurado em estado de embriaguez.
Tal cláusula é abusiva, com base nos arts. 3º, § 2º, e 51, IV, do CDC.
STJ. 2ª Seção. EREsp 973.725-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado Do TRF 5ª
Região), julgado em 25/04/2018 (Info 625).

Cláusulas limitativas das avenças securitárias


Em tese, é possível que existam cláusulas no contrato de seguro que limitem ou restrinjam o pagamento
da indenização. Ex: é válida a cláusula que exclua o pagamento da indenização caso a morte tenha ocorrido
por conta de uma doença preexistente que foi omitida pelo segurado no momento da contratação.
Vale ressaltar, no entanto, que as cláusulas que limitam a cobertura securitária, para serem válidas, não
podem contrariar:
• as disposições legais;
• a finalidade do contrato.

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A jurisprudência do STJ entende que a cláusula presente no contrato de seguro de vida que exclua a
cobertura em caso de morte decorrente de embriaguez é uma cláusula muito restritiva que acaba
contrariando a própria finalidade do contrato. Essa é também a posição da Superintendência de Seguros
Privados, que editou a Carta Circular SUSEP/DETEC/GAB n° 08/2007 orientando que as seguradoras não
incluam cláusulas excluindo a cobertura na hipótese de sinistros ou acidentes decorrentes de atos praticados
pelo segurado em estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias tóxicas.

Situação diferente no caso de seguro de veículos


No caso de seguro de veículos, o STJ e a SUSEP entendem que é válida a cláusula contratual que preveja a
exclusão da indenização caso os danos ao automóvel tenham sido causados pela embriaguez do segurado.

Compare:
No SEGURO DE VIDA (seguro de pessoas) é devida No SEGURO DE AUTOMÓVEL (seguro de bens)
a indenização securitária mesmo que o acidente celebrado por uma empresa com a seguradora, é
que vitimou o segurado tenha decorrido de seu devida a indenização securitária se o condutor do
estado de embriaguez? veículo estava embriagado?
SIM. É vedada a exclusão de cobertura do seguro • Em regra: NÃO.
de vida na hipótese de sinistro ou acidente • Exceção: será devido o pagamento da
decorrente de atos praticados pelo segurado em indenização se o segurado conseguir provar que o
estado de embriaguez. acidente ocorreria mesmo que o condutor não
STJ. 3ª Turma. REsp 1.665.701-RS, Rel. Min. estivesse embriagado.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/5/2017 Não é devida a indenização securitária decorrente
(Info 604). de contrato de seguro de automóvel quando o
STJ. 2ª Seção. EREsp 973.725-SP, Rel. Min. Lázaro causador do sinistro (condutor do veículo
Guimarães (Desembargador Convocado Do TRF 5ª segurado) estiver em estado de embriaguez, salvo
Região), julgado em 25/04/2018 (Info 625). se o segurado demonstrar que o infortúnio
ocorreria independentemente dessa circunstância.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016
(Info 594).

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
O credor fiduciário somente responde pelas dívidas condominiais após a imissão na posse

Importante!!!
O credor fiduciário, no contrato de alienação fiduciária de bem imóvel, tem responsabilidade
pelo pagamento das despesas condominiais deixadas pelo devedor fiduciante? NÃO.
• A responsabilidade pelo pagamento das despesas condominiais recai sobre o devedor
fiduciante enquanto estiver na posse direta do imóvel.
• O credor fiduciário somente responde pelas dívidas condominiais incidentes sobre o imóvel
se consolidar a propriedade para si, tornando-se o possuidor direto do bem.
Assim, a responsabilidade do credor fiduciário pelo pagamento das despesas condominiais
dá-se quando da consolidação de sua propriedade plena quanto ao bem dado em garantia, ou
seja, quando de sua imissão na posse do imóvel.
É o que prevê o § 8º do art. 27 da Lei nº 9.514/97:

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§ 8º Responde o fiduciante pelo pagamento dos impostos, taxas, contribuições condominiais e


quaisquer outros encargos que recaiam ou venham a recair sobre o imóvel, cuja posse tenha
sido transferida para o fiduciário, nos termos deste artigo, até a data em que o fiduciário vier
a ser imitido na posse.
STJ. 3ª Turma. REsp 1696038/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/08/2018.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.731.735-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Em que consiste a alienação fiduciária?


“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança,
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:
Método, 2012, p. 565).

Regramento
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97;
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento
bancário com garantia de alienação fiduciária.
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se apenas de forma
subsidiária:
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-
se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste
Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.

Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis e bens MÓVEIS infungíveis
Alienação fiduciária de
infungíveis quando o credor quando o credor fiduciário for
bens IMÓVEIS
fiduciário for pessoa natural ou jurídica
instituição financeira (sem ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002
Lei nº 9.514/97
Decreto-Lei nº 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)

Alienação fiduciária de bem imóvel


Na alienação fiduciária de bem imóvel, alguém (fiduciante) toma dinheiro emprestado de outrem
(fiduciário) e, como garantia de que irá pagar a dívida, transfere a propriedade resolúvel de um bem imóvel
para o credor, ficando este obrigado a devolver ao devedor o bem que lhe foi alienado quando houver o
adimplemento integral do débito.
Veja agora o conceito dado pela Lei nº 9.514/97:
Art. 22. A alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o devedor, ou
fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da
propriedade resolúvel de coisa imóvel.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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Desdobramento da posse
O art. 23, parágrafo único, da Lei deixou, ainda, expressamente consignado que, com a constituição da
propriedade fiduciária, ocorre o desdobramento da posse. O que significa isso:
• o fiduciante (devedor da dívida) será o possuidor direto e
• o fiduciário (credor) será o possuidor indireto da coisa imóvel.

Essa situação de propriedade resolúvel e de desdobramento da posse resolve-se quando ocorrer:


• o pagamento integral da dívida garantida por parte do devedor/fiduciante. Neste caso, o fiduciante se
torna o proprietário pleno; ou
• se houver o inadimplemento contratual do devedor/fiduciante. Nesta hipótese, haverá a consolidação
da propriedade plena no patrimônio do credor fiduciário (o “banco” será o único dono do imóvel).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João celebrou com o banco um contrato de alienação fiduciária para a compra de seu imóvel residencial.
Significa dizer que João tomou dinheiro emprestado do banco (agente financeiro/mutuante) com o
objetivo de adquirir a sua moradia, ficando o imóvel em nome da instituição financeira até que ele pague
totalmente a dívida. Dessa forma, João permaneceu morando no imóvel adquirido, mas este ficou
registrado em nome do banco, como uma forma de garantia de que o devedor irá pagar o débito, sob
pena de perder o bem.
A alienação fiduciária de bens imóveis é regida precipuamente pela Lei nº 9.514/97.

Personagens
No exemplo dado acima, podemos assim definir os personagens envolvidos:

João
Chamado de mutuário/fiduciante.
Mutuário é a pessoa beneficiada por um contrato de mútuo, ou seja, quem toma dinheiro emprestado.
Fiduciante é a pessoa que, no contrato de alienação fiduciária, transmite a propriedade do bem ao credor
como forma de garantia da dívida. Fiduciante é a parte devedora. Fidúcia é uma palavra de origem latina
que significa confiança. Assim, fiduciante é a pessoa que dá o bem em confiança.

Banco
Chamado de mutuante/fiduciário.
Mutuante é a pessoa que empresta dinheiro em um contrato de mútuo.
Fiduciário é a pessoa que, no contrato de alienação fiduciária, recebe a propriedade do bem do devedor
como forma de garantia da dívida. É a parte credora.

Inadimplência
João comprometeu-se a pagar a dívida em 180 prestações.
Ocorre que, por dificuldades financeiras, o mutuário/fiduciante tornou-se inadimplente.
Quando o fiduciante não paga a dívida, a lei afirma que ocorre a consolidação da propriedade em nome
do fiduciário. Nesse sentido, é o que prevê o art. 26 da Lei nº 9.514/97:
Art. 26 Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante,
consolidar-se-á, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário.

Notificação do devedor para constituição em mora


Vale ressaltar que, em caso de atraso no pagamento, a Lei exige que o credor/fiduciário requeira que o
Oficial do Registro de Imóveis faça a notificação extrajudicial do devedor/fiduciante (seu representante

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ou procurador) para pagar a dívida em 15 dias. Trata-se da notificação com a finalidade de fazer a
constituição do devedor em mora. Veja:
Art. 26 (...)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, o fiduciante, ou seu representante legal ou procurador
regularmente constituído, será intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do competente
Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo de quinze dias, a prestação vencida e as que se
vencerem até a data do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais encargos
contratuais, os encargos legais, inclusive tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao
imóvel, além das despesas de cobrança e de intimação.
(...)
§ 3º A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu representante legal ou ao
procurador regularmente constituído, podendo ser promovida, por solicitação do oficial do
Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do
imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso de recebimento.
§ 3º-B. Nos condomínios edilícios ou outras espécies de conjuntos imobiliários com controle de
acesso, a intimação de que trata o § 3º-A poderá ser feita ao funcionário da portaria responsável
pelo recebimento de correspondência.

Paga a dívida: fica tudo bem


Purgada a mora no Registro de Imóveis, convalescerá o contrato de alienação fiduciária (art. 26, § 5º).

E se o devedor não purgar a mora?


Decorrido o prazo de 15 dias sem que o devedor tenha feito a purgação da mora, o oficial do Registro de
Imóveis irá fazer uma certidão disso e, em seguida, averbará, na matrícula do imóvel, que houve a
consolidação da propriedade em nome do fiduciário/credor.
Vale ressaltar que, antes da averbação, o credor terá que pagar o imposto de transmissão inter vivos e, se
for o caso, do laudêmio.

Se o imóvel era parte de um condomínio edilício (ex: um apartamento), como o fiduciante estava com
dificuldades financeiras, é muito comum que ele também estivesse em atraso com o pagamento das
cotas condominiais. Como fica a situação do condomínio neste caso? É possível que o condomínio cobre
do fiduciário (“banco”) as despesas condominiais que o fiduciante deixou e que se referem a um período
anterior à consolidação da propriedade?
NÃO.
• Despesas condominiais referentes a período anterior à imissão na posse: devem ser cobradas do
devedor fiduciante. O credor fiduciário (“banco”) não pode ser obrigada a pagar.
• Despesas condominiais referente a período posterior à imissão na posse: são de responsabilidade do
credor fiduciário.
O tema é disciplinado expressamente pelo § 8º do art. 27 da Lei nº 9.514/97, que diz o seguinte:
Art. 27 (...)
§ 8º Responde o fiduciante pelo pagamento dos impostos, taxas, contribuições condominiais e
quaisquer outros encargos que recaiam ou venham a recair sobre o imóvel, cuja posse tenha sido
transferida para o fiduciário, nos termos deste artigo, até a data em que o fiduciário vier a ser
imitido na posse. (Incluído pela Lei nº 10.931/2004)

Cuidado com isso porque, como aprendemos que as contribuições condominiais são obrigações propter
rem, a tendência é raciocinar de forma diferente do que foi explicado acima. No entanto, houve uma opção
expressa da Lei em proteger o credor fiduciário, livrando-os dos débitos anteriores à imissão na posse.
Essa mesma previsão foi inserida no Código Civil em 2014:

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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Art. 1.368-B. A alienação fiduciária em garantia de bem móvel ou imóvel confere direito real de
aquisição ao fiduciante, seu cessionário ou sucessor. (Incluído pela Lei nº 13.043/2014)

A doutrina reforça a conclusão legal:


(...) A responsabilidade do agente financeiro sobre os ônus que pendem em coisas submetidas a
alienação fiduciária em garantia somente passa a existir no momento em que ocorre a retomada
definitiva do bem junto ao devedor fiduciante inadimplente, pois então se consolida a propriedade
na esfera jurídica de quem a tinha apenas, até então, em caráter resolúvel.” (MATIELLO, Fabrício
Zamprogna. Código civil comentado: Lei n. 10.406, de 10.01.2002. 7ª ed. São Paulo: LTR, 2017, p.
714)

O STJ aplicou a lei e assim decidiu:


A responsabilidade do credor fiduciário pelo pagamento das despesas condominiais dá-se quando da
consolidação de sua propriedade plena quanto ao bem dado em garantia, ou seja, quando de sua
imissão na posse do imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.731.735-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Considerando que os condomínios não podem cobrar do banco, o que eles podem fazer para garantirem
seu direito e receberem essas quantias?
Uma dica para os condomínios é a de executar o devedor fiduciante e requerer ao juízo a penhora dos
direitos que este devedor fiduciante tiver sobre o contrato.
Nesse caso, o condomínio exequente irá se sub-rogar nos direitos do devedor fiduciante. Isso significa o
que? Quando o banco alienar o imóvel, irá utilizar o produto da venda para satisfazer o seu crédito. O
restante teria que devolver ao devedor fiduciante. Ocorre que o condomínio já terá feito a penhora deste
eventual crédito e, assim, ele receberá esse valor (que seria do fiduciante) para pagar as dívidas
condominiais.

ALIMENTOS
Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena capacidade processual, cabe
exclusivamente a ele provocar a integração posterior no polo passivo

O Código Civil prevê o seguinte:


Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de
suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias
as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos
respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a
integrar a lide.
Neste julgado, o STJ entendeu que este artigo possui natureza jurídica de “litisconsórcio
facultativo ulterior simples”.
Trata-se, contudo, de litisconsórcio com uma particularidade: em regra, a sua formação pode
ocorrer não apenas por iniciativa do autor, mas também por provocação do réu ou do
Ministério Público.
Vale ressaltar, contudo, uma exceção: se o credor dos alimentos (autor da ação) for menor
emancipado, possuir capacidade processual plena e optar livremente por ajuizar a demanda
somente em face do genitor, não pode o réu provocar o chamamento ao processo da genitora
do autor (codevedora).

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Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena capacidade processual, cabe
exclusivamente a ele provocar a integração posterior no polo passivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.715.438-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Lucas, 17 anos, é emancipado e mora sozinho em Porto Alegre (RS), onde faz faculdade.
Seus pais são divorciados e cada um mora em uma cidade diferente no interior do Estado.
Lucas ajuizou ação de alimentos contra o pai.
Ao contestar a demanda, o genitor, dentre outras alegações, pediu o chamamento ao processo da mãe de
Lucas, argumentando que ela também pode pagar alimentos considerando que é jovem, economicamente
ativa e apta a complementar o valor necessário para a subsistência do filho.
O pedido do genitor foi fundamentado no art. 1.698 do Código Civil, que assim determina:
Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de
suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as
pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos
recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

O pedido do pai de Lucas deverá ser acolhido? O juiz deverá determinar, a requerimento do réu, o
chamamento ao processo da mãe do autor?
NÃO.

Natureza da obrigação do art. 1.698


A doutrina majoritária, ao interpretar o art. 1.698 do CC/2002, tem se posicionado no sentido de que a
obrigação alimentar não é solidaria, mas sim divisível, ao fundamento de que não há disposição legal que
autorize a cobrança integral do valor de apenas um dos codevedores, que arcam apenas com a cota que
puder prestar, no limite de suas possibilidades.

Se todos os devedores previstos no art. 1.698 não estiverem na lide, como é possível “chama-los” para
participar do processo?
Existem quatro correntes sobre esse dispositivo:
1ª) trata-se de intervenção de terceiro anômala ou atípica, suscetível de instauração por provocação de
quaisquer das partes. É a posição defendida por Daniel Amorim Assumpção Neves e por Cristiano Chaves
de Farias e Nelson Rosenvald.
2ª) consiste em litisconsórcio facultativo ulterior simples e, como tal, de iniciativa privativa do autor da
ação e credor dos alimentos. Nesse sentido, está por exemplo a doutrina de Yussef Said Cahali, de Flávio
Tartuce e de Fredie Didier Jr.
3ª) representa hipótese de litisconsórcio necessário. Defendida por Rolf Madaleno.
4ª) cuida-se de uma hipótese adicional de chamamento ao processo. É a tese defendida por Cássio
Scarpinella Bueno.

Qual foi a corrente adotada pelo STJ?


O STJ, neste julgado, manifestou-se no sentido da 2ª corrente e entendeu que se trata de litisconsórcio
facultativo ulterior simples.
Trata-se, contudo, de litisconsórcio com uma particularidade: a formação dessa singular espécie de
litisconsórcio não ocorre somente por iniciativa exclusiva do autor, mas também por provocação do réu
ou do Ministério Público, quando o credor dos alimentos for incapaz.
Desse modo, o art. 1.698 do CC é um litisconsórcio facultativo ulterior simples que pode ser formado:
• por iniciativa do autor;
• por provocação do réu;

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• por provocação do MP (quando envolver incapaz).

Mas por que não foi admitido, no caso concreto, a provocação do réu (pai de Lucas) para que a genitora
também participasse da lide?
Porque o se tratava de credor de alimentos com plena capacidade processual.
O STJ entendeu que:
Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena capacidade processual, cabe
exclusivamente a ele provocar a integração posterior no polo passivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.715.438-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Se o autor (credor) não quis fazer isso, essa sua inércia deve ser interpretada como concordância tácita
com os alimentos que puderem ser prestados pelo réu por ele indicado na petição inicial, sem prejuízo de
eventual e futuro ajuizamento de ação autônoma de alimentos em face dos demais coobrigados.
O credor dos alimentos é menor emancipado, possui capacidade processual plena e optou livremente por
ajuizar a ação somente em face do genitor, cabendo a ele, com exclusividade, provocar a integração
posterior do polo passivo, devendo a sua inércia em fazê-lo ser interpretada como a abdicação, ao menos
neste momento, da quota-parte que lhe seria devida pela genitora coobrigada, sem prejuízo de
eventualmente ajuizar, no futuro, ação de alimentos autônoma em face da genitora.

Em síntese, em relação aos legitimados para provocar a integração do polo passivo, é possível concluir que:
a) Nas hipóteses em que o credor de alimentos reúna plena capacidade processual, cabe a ele,
exclusivamente, provocar a integração posterior do polo passivo, devendo a sua inércia ser interpretada
como concordância tácita com os alimentos que puderem ser prestados pelo demandado;
b) Se o autor ajuizou a ação por meio de representante processual, ou seja, o credor de alimentos é
incapaz, a integração posterior do polo passivo pode ser promovida pelo réu (devedor) ou pelo MP.

Qual é o momento processual adequado para a integração do polo passivo?


• Autor: deverá requerer em sua réplica à contestação;
• Réu: deverá requerer na contestação;
• MP: após a prática dos referidos atos processuais pelas partes.

Não é possível a ampliação objetiva ou subjetiva da lide após o saneamento e organização do processo,
em homenagem ao contraditório, à ampla defesa e à razoável duração do processo.

ALIMENTOS
Súmula 621-STJ

Súmula 621-STJ: Os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do


pagamento retroagem à data da citação, vedadas a compensação e a repetibilidade.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Imagine o seguinte exemplo hipotético:


Gabriel ingressou com ação de alimentos contra Rui, seu pai.
O juiz, na sentença, fixou os alimentos em R$ 4 mil.
Após pagar alguns meses, Rui mostrou-se inadimplente, razão pela qual Gabriel iniciou a execução dos
alimentos.
Rui, por sua vez, propôs ação de redução de alimentos.

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Gabriel foi citado na ação de revisão no dia 01/07 e, no dia 31/12, o juiz prolatou a sentença, reduzindo a
obrigação alimentícia para R$ 1 mil mensais.
Rui estava atrasado em 4 meses (setembro a dezembro), ou seja, deixou de pagar 4 meses de pensão
(equivalente a um total de R$ 16 mil).

Recapitulando:
• Antes da execução, Rui estava pagando 4 mil por mês.
• 01/09 a 31/12: Rui não pagou nada (ficou devendo 4 meses = 16 mil).
• Gabriel ajuizou execução de alimentos.
• Rui ajuizou ação de revisão de alimentos.
• 01/07: Gabriel foi citado para a ação de redução de alimentos.
• 31/12: transitou em julgado a sentença do juiz reduzindo os alimentos para 1 mil mensais.

Tese do alimentante
Enquanto era julgada a revisional, a execução proposta por Gabriel continuava tramitando.
O valor cobrado na execução era de R$ 16 mil (4 meses de 4 mil cada).
Depois do trânsito em julgado da revisional, o advogado de Rui apresentou uma petição no processo
executivo afirmando que seu cliente não precisa mais pagar os R$ 16 mil que estavam sendo cobrados
porque foi proferida uma sentença de redução de alimentos.
Alegou que a sentença na ação de revisão retroage à data da citação, conforme prevê o § 2º do art. 13 da
Lei nº 5.478/68 (Lei de Alimentos):
Art. 13 (...) § 2º Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação.

Logo, o valor que estava sendo cobrado (16 mil) foi reduzido para 4 mil. Isso porque o valor da prestação
mensal deixou de ser 4 mil e passou a ser 1 mil.

A tese alegada pelo advogado de Rui está correta? A decisão que revisa a obrigação alimentícia possui
efeito retroativo?
SIM. Os efeitos da sentença proferida em ação de revisão de alimentos (seja em caso de REDUÇÃO,
MAJORAÇÃO ou EXONERAÇÃO) retroagem à data da citação, conforme prevê o art. 13, § 2º, da Lei nº
5.478/68.
Essa solução tem por objetivo evitar o enriquecimento sem causa do credor dos alimentos, porque o
entendimento contrário – sentença de redução ou exoneração dos alimentos produzindo efeitos somente
após o seu trânsito em julgado – ensejaria a inusitada consequência de submeter o alimentante à execução
das parcelas pretéritas não adimplidas (por qualquer razão), mesmo estando ele amparado por decisão
judicial transitada em julgado que diminuiu ou até mesmo eliminou o encargo.

Em julho e agosto, Rui pagou R$ 4 mil em cada mês e, posteriormente, esse valor foi reduzido para R$ 1
mil mensais. Ele poderá pedir de volta esses R$ 6 mil que pagou a mais para Gabriel (seu filho) (3 mil a
mais em cada mês)?
NÃO. A decisão na revisão de alimentos é RETROATIVA, no entanto, os valores adimplidos são irrepetíveis,
ou seja, as parcelas que já foram pagas não podem ser pedidas de volta. É vedada (proibida) a
repetibilidade. Isso porque o direito presume, de forma absoluta (presunção jure et jure), que as quantias
recebidas a título de alimentos foram utilizadas para o sustento da pessoa, isto é, foram efetivamente
consumidas, não sendo, portanto, legítimo que o beneficiário seja obrigado a devolver por conta de uma
decisão posterior.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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Rui poderá utilizar esse valor pago a mais (R$ 6 mil) como crédito e compensá-lo (abatê-lo) das
prestações futuras?
NÃO. A decisão na revisão de alimentos é RETROATIVA, no entanto, mesmo que isso gere um “crédito”
em favor do alimentante, ele não poderá utilizar esse saldo positivo para abater (fazer a compensação)
dos valores que ele ainda tem que pagar. Em outras palavras, ele não pode compensar o excesso do que
foi pago com prestações vincendas.
É vedada a compensação.

OUTRAS PERGUNTAS RELACIONADAS COM O TEMA:


Se existe uma decisão determinando que o pai/devedor pague pensão alimentícia para o seu filho e este
pai ajuíza uma ação de exoneração ou redução dos alimentos, o simples fato de ter sido proposta a
demanda já faz com que fique suspensa a sua obrigação?
NÃO. O ajuizamento de ação pleiteando exoneração/revisão de alimentos não exime o devedor de
continuar a prestá-los até o trânsito em julgado da decisão que modifica o valor da prestação alimentar
ou exonerá-lo do encargo alimentar (art. 13, § 3º, da Lei b, 5.478/68).

Se o juiz profere sentença exonerando o pai/devedor de pagar alimentos ou reduzindo o valor fixado,
mas o alimentando (filho) apresenta apelação, a obrigação alimentícia é suspensa?
NÃO. Da sentença revisional/exoneratória caberá apelação com efeito suspensivo e, ainda que a referida
decisão seja confirmada em segundo grau (pelo Tribunal), não haverá liberação da prestação alimentar se
for interposto recurso especial ou recurso extraordinário. Em suma, somente com o trânsito em julgado é
que haverá a retroação da decisão que reduz ou exonera.
Durante todo o período de tramitação da ação revisional/exoneratória, salvo se concedida antecipação de
tutela suspendendo o pagamento, o devedor deverá adimplir a obrigação, sob pena de prisão (art. 733 do CPC).
Desse modo, pretendeu a lei conferir ao alimentado (credor) o benefício da dúvida, dando-lhe a segurança de
que, enquanto não assentada, definitivamente, a impossibilidade do cumprimento da obrigação alimentar nos
termos anteriormente firmados, as alegadas necessidades do credor não deixarão de ser providas.
Agora, transitada em julgado a sentença revisional/exoneratória, se, por qualquer motivo, não tiverem sido
pagos os alimentos, a exoneração ou a redução terá efeito retroativo à citação (art. 13, § 2º, da Lei nº
5.478/68), não sendo cabível a execução de verba já afirmada indevida por decisão transitada em julgado.

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE
É legítima a recusa do plano de saúde em custear medicação importada não nacionalizada,
ou seja, sem registro vigente na ANVISA

Importante!!!
As operadoras de plano de saúde não estão obrigadas a fornecer medicamento não registrado
pela ANVISA.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.712.163-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 08/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 638).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, cliente do plano de saúde ACEM, sofre de cirrose hepática causada pelo vírus da hepatite C.
O médico de João prescreveu a ele tratamento com o medicamento importado Harvoni (Sofosbuvir 400
mg e Ledispavir 90 mg).
Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17
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Ocorre que o plano de saúde se recusou a autorizar o custeio argumentando que se trata de medicamento
não registrado pela ANVISA.
Diante disso, João ajuizou ação contra o plano de saúde pedindo que fosse condenado a custear todas as
despesas que se fizessem necessárias para a importação do referido fármaco.

A questão jurídica é, portanto, a seguinte: as operadoras de plano de saúde estão obrigadas a fornecer
medicamento não registrado pela ANVISA?
A resposta é NÃO.

Não são obrigados a fornecer medicamentos não nacionalizados


A Lei nº 9.656/98 (lei que rege os planos de saúde) prevê, em seu art. 10, V, que os planos de saúde estão
dispensados de fornecer “medicamentos importados não nacionalizados”.
Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, “medicamento importado não nacionalizado”
é aquele produzido fora do território nacional e sem registro vigente na ANVISA (RN nº 428/2017 da ANS).

Papel da ANVISA
A ANVISA é uma autarquia sob regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde, tendo sido criada pela
Lei nº 9.782/99 com o objetivo de promover a proteção da saúde da população, por intermédio do
controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância
sanitária (art. 6º).
O processo de aprovação e registro de medicamentos pela ANVISA é de fundamental importância para a
garantia do direito à saúde e para o próprio sistema de saúde.
Assim, não faz sentido obrigar os planos de saúde a fornecerem medicamentos que ainda não foram
aprovados pela ANVISA.

Lei nº 6.360/76 (vigilância sanitária)


A Lei nº 6.360/76 dispõe sobre a Vigilância Sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os
insumos farmacêuticos e outros correlatos.
O art. 12 desta Lei estabelece que nenhum desses produtos (ou seja, inclusive os medicamentos) podem
ser industrializados, expostos à venda ou entregues ao consumo antes de registrado no Ministério da
Saúde.
O art. 16 da mesma Lei prevê os requisitos específicos que devem ser efetivamente atendidos para o
registro de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, dentre eles, que o produto,
através de comprovação científica e de análise, seja reconhecido como seguro e eficaz para o uso a que
se propõe.
Sem o registro do medicamento pela ANVISA, não se sabe se o medicamento é seguro e realmente eficaz.

Recomendação CNJ
Foram realizadas diversas audiências públicas sobre o tema no STF e o CNJ expediu a Recomendação nº
31/2010, na qual resolve:
I. Recomendar aos Tribunais de Justiça dos Estados e aos Tribunais Regionais Federais que:
(...)
b.2) evitem autorizar o fornecimento de medicamentos ainda não registrados pela ANVISA, ou em fase
experimental, ressalvadas as exceções expressamente previstas em lei.

Jornada de Direito à Saúde


Alguns anos depois, o CNJ promoveu a I Jornada do Direito à Saúde, em que foram aprovados os seguintes
enunciados relacionados com o tema:
Enunciado nº 6: A determinação judicial de fornecimento de fármacos deve evitar os medicamentos ainda não
registrados na Anvisa, ou em fase experimental, ressalvadas as exceções expressamente previstas em lei.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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Enunciado nº 26: É lícita a exclusão de cobertura de produto, tecnologia e medicamento importado não
nacionalizado, bem como tratamento clínico ou cirúrgico experimental.

Precedente do STF
Nessa mesma linha, o STF possui um julgado no qual se manifestou pela indispensabilidade do registro
pela ANVISA: STA 175/CE AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), Tribunal Pleno, julgado em
17/3/2010.

Infração sanitária e, até, crime


Além do mais, a importação de medicamentos, sem prévio registro, constitui infração de natureza
sanitária, nos termos dos arts. 10, IV, da Lei nº 6.437/77, e 12 e 66, ambos da Lei nº 6.360/76.
Logo, não é possível o Judiciário impor às operadoras de plano de saúde que realizem ato tipificado como
infração de natureza sanitária, pois isso implicaria manifesta vulneração do princípio da legalidade.
Vale ressaltar, ainda, que a importação de medicamento sem registro na ANVISA configura, inclusive,
crime previsto no art. 273 do Código Penal:
(...) Consoante o disposto nos arts. 1º e 12, ambos da Lei nº 6.360/1976, só é admissível a venda de
medicamento no território nacional, inclusive importado, após registro no órgão público competente.
2. Se o registro figura como condição para a difusão de medicamento, nos termos da lei, afigura-se
desnecessário que o laudo pericial ateste a sua exigibilidade, sendo suficiente - para fins de caracterização
do crime tipificado no art. 273, § 1º-B, I, do Código Penal -, evidência de que o medicamento, objeto de
difusão, não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. (...)
STJ. 6ª Turma. REsp 1.755.862/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 18/09/2018.

Tese fixada pelo STJ:


As operadoras de plano de saúde não estão obrigadas a fornecer medicamento não registrado pela
ANVISA.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.712.163-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 08/11/2018 (recurso repetitivo)
(Info 638).

Obs: durante a tramitação do processo, o medicamento “Harvoni” obteve registro na ANVISA.

Não confundir com este outro tema:


Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização
está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)
A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescrito pelo médico sob
o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual
registrado na ANVISA (uso off-label).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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DIREITO EMPRESARIAL

PROTESTO
Credor que havia protestado o título tem o dever de fornecer carta de anuência para
cancelamento do protesto, mas para isso precisa haver um pedido do devedor

Não há como impor tacitamente ao credor o dever de enviar, sem provocação, o documento
hábil ao cancelamento do legítimo protesto.
O credor tem o inequívoco dever de fornecer o documento hábil ao cancelamento do protesto,
mas para isso precisa ser previamente provocado.
Assim, se o devedor paga ao banco um título de crédito que estava protestado, o banco deverá
fornecer uma carta de anuência com a qual o devedor poderá cancelar o protesto. No entanto,
o credor não tem o dever de fornecer este documento automaticamente. É necessário que haja
um requerimento (um pedido) daquele que pagou.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.584-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 09/10/2018 (Info 638).

NOÇÕES GERAIS SOBRE O PROTESTO


O que é um protesto de título?
Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade de provar a
inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de outros documentos
de dívida.

Regulamentação
O protesto é regulado pela Lei nº 9.492/97.

Quem é o responsável pelo protesto?


O tabelião de protesto.
"O particular não pratica o protesto, mas solicita ao Tabelião que o pratique. Este pode, depois de
analisar os requisitos formais do documento, negar-se a tal lavratura, caso encontre vício que
justifique a negativa.
(...)
O protesto é, pois, ato do tabelião de Protesto, que o pratica por provocação do interessado,
depois de respeitado o procedimento legal." (BUENO, Sérgio Luiz. O protesto de títulos e outros
documentos de dívida. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2011, p. 20 e 21)

Quais são as vantagens de o credor realizar o protesto?


Existem inúmeros efeitos que decorrem do protesto; no entanto, as duas principais vantagens para o
credor são as seguintes:
a) serve como meio de provar que o devedor está inadimplente;
b) funciona como uma forma de coerção para que o devedor cumpra sua obrigação sem que seja
necessária uma ação judicial (como o protesto lavrado gera um abalo no crédito do devedor, que é inscrito
nos cadastros de inadimplentes, a doutrina afirma que o receio de ter um título protestado serve como
um meio de cobrança extrajudicial do débito; ao ser intimado do protesto, o devedor encontra uma forma
de quitar seu débito).

Qual é o objeto do protesto? O que pode ser protestado?


Segundo o art. 1º da Lei nº 9.492/97:

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento
de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida.

Assim, conclui-se que podem ser levados a protesto:


a) títulos de crédito e
b) outros documentos de dívida.

O que é um documento de dívida?


Documento de dívida é todo e qualquer meio de prova escrita que comprove a existência de uma
obrigação líquida, certa e exigível.

RESPONSABILIDADE PELA BAIXA DO PROTESTO APÓS O PAGAMENTO


Procedimento até ser registrado o protesto do título:
1) o credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que se proceda ao
protesto e informando os dados e endereço do devedor;
2) o tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
3) se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto devedor no endereço
apresentado pelo credor (art. 14);
4) a intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou providencie a
sustação do protesto antes de ele ser lavrado;

Após a intimação, poderão ocorrer quatro situações:


4.1) o devedor pagar (art. 19);
4.2) o apresentante desistir do protesto e retirar o título (art. 16);
4.3) o protesto ser sustado judicialmente (art. 17);
4.4) o devedor ficar inerte ou não conseguir sustar o protesto.

5) se ocorrer as situações 4.1, 4.2 ou 4.3: o título não será protestado;


6) se ocorrer a situação 4.4: o título será protestado (será lavrado e registrado o protesto).

Imaginemos que o devedor foi intimado (etapa 4), mas não pagou nem conseguiu sustar o protesto. O
que aconteceu então?
O título foi protestado.

Após um tempo, esse devedor quis comprar um carro financiado, no entanto, não conseguiu porque o
banco constatou a existência desse título protestado e, por essa razão, não liberou o crédito. O devedor
decidiu, então, pagar o título protestado. Com o pagamento do débito, será possível retirar a anotação
desse título protestado?
SIM.

Após o pagamento do título protestado, o credor que foi pago tem a responsabilidade de retirar o
protesto lavrado?
NÃO. Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR providenciar o cancelamento do protesto, salvo se
foi combinado o contrário entre ele e o credor.
Segundo o STJ, a Lei nº 9.492/97 não impõe ao credor o dever de retirar o protesto. Veja:
Art. 26. O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no Tabelionato de
Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado,
cuja cópia ficará arquivada.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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Desse modo, quando o art. 26 da Lei nº 9.492/1997 fala que o cancelamento do registro de protesto pode
ser solicitado por qualquer interessado, a melhor interpretação é a de que o principal interessado é o
devedor, de forma que a ele cabe, em regra, o ônus do cancelamento.
O tema foi pacificado em recurso especial repetitivo:
Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR, providenciar o cancelamento do protesto, salvo se foi
combinado o contrário entre ele e o credor.
No regime próprio da Lei nº 9.492/97, legitimamente protestado o título de crédito ou outro documento
de dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor, após a quitação da
dívida, providenciar o cancelamento do protesto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1339436-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/9/2014 (recurso repetitivo)
(Info 549).

Esse entendimento vale mesmo que se trate de uma relação de consumo, ou seja, que o devedor seja
um consumidor e o credor um fornecedor?
SIM. Cabe ao devedor que paga posteriormente a dívida o ônus de providenciar a baixa do protesto em
cartório, sendo irrelevante se a relação era de consumo (STJ. 4ª Turma. REsp 1.195.668/RS, Rel. p/ Acórdão
Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 11/9/2012).

A solução jurídica acima aplica-se também no caso de inscrição em cadastros de inadimplentes (exs:
SERASA/SPC)?
NÃO. A posição acima explicada vale apenas para os casos de cancelamento de título protestado. Na
hipótese de devedor inserido em cadastro de inadimplentes (ex: SERASA, SPC), a solução é diferente. Veja:
CADASTRO DE INADIMPLENTES REGISTRO DE PROTESTO
Se a dívida é paga, quem tem o dever de retirar o Se o título é pago, quem tem o dever de retirar o
nome do devedor do cadastro (ex: SERASA)? protesto que foi lavrado?
O CREDOR (no prazo máximo de 5 dias). O próprio DEVEDOR.
Fundamento: art. 43, § 3º do CDC (por analogia). Fundamento: art. 26 da Lei nº 9.492/1997.

CREDOR TEM O DEVER DE ENVIAR AUTOMATICAMENTE O DOCUMENTO NECESSÁRIO PARA QUE CREDOR
POSSA DAR BAIXA NO PROTESTO?
Imagine a seguinte situação hipotética:
Cláudia tinha uma dívida com o banco, materializada em uma nota promissória, cujo vencimento era
janeiro de 2016.
Como ela não pagou, o banco apresentou o título a protesto, o que foi efetivado em março de 2016.
Em abril de 2016, Cláudia conseguiu receber uma rescisão trabalhista e, aproveitando o dinheiro, imprimiu
novo boleto do banco na internet e pagou a dívida principal, com juros e multa (quitação integral).
Em agosto de 2016, Cláudia tentou comprar uma televisão a prazo, mas não conseguiu crédito porque foi
informada pela loja, que seu nome constava no SERASA em razão de um protesto do banco.
Chateada, Cláudia procurou um advogado querendo processar o banco por não ter feito o cancelamento
do protesto depois de ela ter pagado.
O advogado que atendeu Cláudia sempre acompanhava a jurisprudência e explicou para a cliente que,
infelizmente, ela, enquanto devedora, é quem tinha o ônus de providenciar o cancelamento do protesto,
conforme decidiu o STJ no REsp 1339436-SP.
Cláudia perguntou do advogado como ela poderia fazer esse cancelamento e o profissional explicou que
ela deve levar até o cartório a “carta de anuência” do banco. Carta de anuência é um documento no qual
o credor declara que o título de crédito que havia sido protestado já foi pago e que, portanto, ele não se
opõe ao cancelamento do protesto.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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Cláudia, então, disse: quando eu paguei o débito, o banco deveria ter me enviado por correio essa carta
de anuência. Eles falharam comigo. Quero processar.
Diante disso, Cláudia ajuizou ação de indenização por danos morais contra o banco argumentando que
houve negligência do banco em não lhe enviar automaticamente o documento que ela necessitava (“carta
de anuência”) para dar baixa no protesto.

O STJ concordou com o pedido de Cláudia?


NÃO.
Não há como impor tacitamente ao credor o dever de enviar, sem provocação, o documento hábil ao
cancelamento do legítimo protesto.
O credor tem o inequívoco dever de fornecer o documento hábil ao cancelamento do protesto, mas
para isso precisa ser previamente provocado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.584-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 09/10/2018 (Info 638).

Situação diferente seria se o banco, mesmo após o pagamento, recusasse ou dificultasse o fornecimento
da declaração. Aí haveria ato ilícito passível de indenização.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO


Os novos julgadores convocados na forma do art. 942 do CPC/2015 poderão analisar todo o
conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve divergência

Importante!!!
Como ocorre a continuidade do julgamento na hipótese em que houve uma parte unânime e
outra não unânime? Ex: no julgamento de uma apelação contra sentença que havia negado
integralmente a indenização, a Câmara Cível entendeu de forma unânime (3x0) que houve
danos materiais e por maioria (2x1) que não ocorreram danos morais. Foram então

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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convocados dois Desembargadores para a continuidade do julgamento ampliado (art. 742).


Esses dois novos Desembargadores que chegam poderão votar também sobre a parte unânime
(danos materiais) ou ficarão restritos ao capítulo não unânime (danos morais)?
O colegiado formado com a convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015) poderá
analisar de forma ampla todo o conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria
sobre a qual houve originalmente divergência.
Constatada a ausência de unanimidade no resultado da apelação, é obrigatória a aplicação do
art. 942 do CPC/2015, sendo que o julgamento não se encerra até o pronunciamento pelo
colegiado estendido, ou seja, inexiste a lavratura de acórdão parcial de mérito.
Os novos julgadores convocados não ficam restritos aos capítulos ou pontos sobre os quais
houve inicialmente divergência, cabendo-lhes a apreciação da integralidade do recurso.
O prosseguimento do julgamento com quórum ampliado em caso de divergência tem por
objetivo a qualificação do debate, assegurando-se a oportunidade para a análise aprofundada
das teses jurídicas contrapostas e das questões fáticas controvertidas, com vistas a criar e
manter uma jurisprudência uniforme, estável, íntegra e coerente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.815-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Técnica de julgamento do art. 942 do CPC/2015


O resultado do julgamento da apelação pode ser unânime (quando todos os Desembargadores
concordam) ou por maioria (quando no mínimo um Desembargador discorda dos demais).
Se o resultado se der por maioria, o CPC prevê uma nova “chance” de a parte que “perdeu” a apelação
reverter o resultado. Como assim?
Se o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em uma nova sessão, que
será marcada e que contará com a presença de novos Desembargadores que serão convocados, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial.
Ex: o resultado da apelação foi 2x1; 2 Desembargadores votaram pelo provimento da apelação (em favor
de João) e um Desembargador votou pela manutenção da sentença (em favor de Pedro); significa dizer
que deverá ser designada uma nova sessão e para essa nova sessão serão convocados dois novos
Desembargadores que também irão emitir votos; neste nosso exemplo, foram convocados 2 porque a
convocação dos novos julgadores deverá ser em número suficiente para garantir a possibilidade de
inversão do resultado inicial (se os dois novos Desembargadores votarem com a minoria, o placar se
inverte para 3x2).
Veja a previsão legal:
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em
sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos
previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade
de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar
oralmente suas razões perante os novos julgadores.

A previsão deste art. 942 é chamada de “técnica de complementação de julgamento não unânime” ou
“técnica de ampliação do colegiado”.
Vamos verificar outras informações sobre esta técnica.

Prosseguimento na mesma sessão


Sendo possível, o prosseguimento do julgamento pode ocorrer na mesma sessão, colhendo-se os votos
de outros julgadores que porventura componham o órgão colegiado (§ 1º do art. 942).

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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Juízo de retratação
Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento do
julgamento (§ 2º do art. 942).
Ex: o resultado da apelação foi 2x1; dois Desembargadores votaram pelo provimento da apelação (em
favor de João); por outro lado, um Desembargador (Des. Raimundo) votou pelo improvimento da apelação
(contra João); designou-se, então, um novo dia para prosseguimento do julgamento ampliado, tendo sido
convocados dois Desembargadores de uma outra Câmara Cível do Tribunal (Desembargadores Cláudio e
Paulo); logo no início, antes que Cláudio e Paulo votassem, o Des. Raimundo pediu a palavra e disse: olha,
melhor refletindo nesses dias, eu gostaria de evoluir meu entendimento e irei acompanhar a maioria
votando pelo provimento da apelação.
Mesmo que isso ocorra, ou seja, que alguém mude de opinião, ainda assim deverão ser colhidos os votos
dos Desembargadores convocados. Nesse sentido:
Enunciado 599-FFPC: A revisão do voto, após a ampliação do colegiado, não afasta a aplicação da técnica
de julgamento do art. 942.

Esse art. 942 é uma espécie de recurso?


NÃO. Trata-se de uma “técnica de complementação de julgamento nas decisões colegiadas não unânimes
de segunda instância”.

A parte que “perdeu” a apelação precisa pedir a aplicação do art. 942?


NÃO. Essa técnica de julgamento é obrigatória e aplicável de ofício, automaticamente, pelo Tribunal. A
parte não precisa requerer a sua aplicação.

A técnica é aplicada antes da conclusão do julgamento


Como não se trata de recurso, a aplicação da técnica ocorre em momento anterior à conclusão do
julgamento, ou seja, não há proclamação do resultado, nem lavratura de acórdão parcial, antes de a causa
ser devidamente apreciada pelo colegiado ampliado.
Tanto isso é verdade que, conforme já explicado, sendo possível, o prosseguimento do julgamento pode
ocorrer na mesma sessão, colhendo-se os votos de outros julgadores que porventura componham o órgão
colegiado (§ 1º do art. 942). No entanto, mesmo que ocorra em outro dia, considera-se que houve um só
julgamento. Não se encerrou um para começar o outro ampliado.

Como ocorre a continuidade do julgamento na hipótese em que houve uma parte unânime e outra não
unânime? Ex: no julgamento de uma apelação contra sentença que havia negado integralmente a
indenização, a Câmara Cível entendeu de forma unânime (3x0) que houve danos materiais e por maioria
(2x1) que não ocorreram danos morais. Foram então convocados dois Desembargadores para a
continuidade do julgamento ampliado (art. 742). Esses dois novos Desembargadores que chegaram
poderão votar também sobre a parte unânime (danos materiais) ou ficarão restritos ao capítulo não
unânime (danos morais)?
Poderão analisar de forma ampla, ou seja, tanto a parte unânime como não unânime. Foi o que decidiu o STJ:
O colegiado formado com a convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015) poderá analisar de
forma ampla todo o conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve
originalmente divergência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.815-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Esse é também o entendimento de Alexandre de Freitas Câmara:


“(...) Uma vez ampliado o colegiado, todos os cinco magistrados que o integram votam em todas
as questões a serem conhecidas no julgamento da apelação. A atuação dos dois novos integrantes
da turma julgadora não é limitada à matéria objeto da divergência (afinal, não se está aqui diante

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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dos velhos embargos infringentes, estes sim limitados à matéria objeto da divergência). Devem
eles, inclusive, pronunciar-se sobre matérias que já estavam votadas de forma unânime. Assim,
por exemplo, se o colegiado (formado por três juízes havia, por unanimidade, conhecido da
apelação, e por maioria lhe dava provimento, os dois novos integrantes do colegiado devem se
manifestar também sobre a admissibilidade do recurso. E nem se diga que essa questão já estaria
superada, preclusa, pois a lei é expressa em estabelecer que os votos podem ser modificados até
a proclamação do resultado (CPC, art. 941, § 1º), o que permite afirmar, com absoluta segurança,
que o julgamento ainda não se havia encerrado. E pode acontecer de os magistrados que
compunham a turma julgadora original, depois da manifestação dos novos integrantes do
colegiado, convencerem-se de que seus votos originariamente apresentados estavam
equivocados, sendo-lhes expressamente autorizado que modifiquem seus votos (art. 942, § 2º).”
(A ampliação do colegiado em julgamentos não unânimes. Revista de Processo. vol. 282. ano 43.
p. 251-266. São Paulo: RT, agosto 2018)

A técnica do art. 942 do CPC vale apenas para a apelação?


NÃO. Além da apelação, a técnica de julgamento prevista no art. 942 aplica-se também para o julgamento
não unânime proferido em:
a) ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu
prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição previsto no regimento interno;
b) agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito.

Embargos infringentes
Os embargos infringentes eram uma espécie de recurso previsto no CPC/1973.
Os embargos infringentes só cabiam para questionar acórdão. Não bastava, contudo, que fosse acórdão.
Era necessário que ele fosse NÃO UNÂNIME, ou seja, acórdão em que houve voto vencido.
A finalidade dos embargos infringentes era a de renovar a discussão para fazer prevalecer as razões do
voto vencido.
Segundo o art. 530 do CPC/1973, cabiam embargos infringentes em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reformasse, em grau de apelação, a sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julgasse procedente a ação rescisória.

O CPC/2015 acabou com a existência dos embargos infringentes, mas criou essa “técnica de julgamento” do
art. 942, que possui algumas semelhanças com os embargos infringentes, mas que não se trata de recurso.
Nesse sentido:
“(...) Esse mecanismo, conquanto não tenha natureza recursal, faz lembrar os embargos
infringentes. Por não ser recurso, no entanto, não depende de interposição, constituindo apenas
uma fase do julgamento da apelação, do agravo de instrumento contra decisão de mérito e da
ação rescisória, não unânime.”
(GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 885).

IMPORTANTE. Situações nas quais não se aplicará a técnica de julgamento do art. 942
Não se aplica a técnica de julgamento do art. 942 do CPC ao julgamento:
I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II - da remessa necessária;
III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.

A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de rescisão apenas parcial do julgado rescindendo?
SIM. Enunciado 63 – Jornada CJF: A técnica de que trata o art. 942, § 3º, I, do CPC aplica-se à hipótese de
rescisão parcial do julgado.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


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A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no julgamento de apelação em processo de mandado de


segurança?
SIM. Enunciado 62 – Jornada CJF: Aplica-se a técnica prevista no art. 942 do CPC no julgamento de recurso
de apelação interposto em mandado de segurança.

A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada nos Juizados Especiais?


NÃO. É a posição da doutrina majoritária:
Enunciado 552-FPPC: Não se aplica a técnica de ampliação do colegiado em caso de julgamento não
unânime no âmbito dos Juizados Especiais.

RECURSO ESPECIAL
Necessidade de impugnação específica de todos os fundamentos da decisão proferida
pelo Tribunal de origem que inadmite o recurso especial

A decisão de inadmissibilidade do recurso especial não é formada por capítulos autônomos,


mas por um único dispositivo, o que exige sua impugnação total.
Em outras palavras, o agravante deve atacar, de forma específica, TODOS os fundamentos da
decisão que, na origem, inadmitiu o recurso especial.
STJ. Corte Especial. EAREsp 831.326-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. Acd. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 19/09/2018 (Info 638).

Interposição de REsp e juízo de admissibilidade


A parte que deseja interpor um Recurso Especial (REsp) deve protocolizar este recurso no juízo a quo
(recorrido) e não diretamente no juízo ad quem (STJ).
Ex: TRF1 profere acórdão, por unanimidade, em apelação, afirmando que Gilson, servidor público federal,
não possui determinado direito previsto na Lei nº 8.112/90. Nessa hipótese, ele poderá interpor recurso
especial contra essa decisão, a ser julgado pelo STJ, com base no art. 105, III, “a”, da CF/88.
O REsp deverá ser protocolizado no próprio TRF1. A recorrida (no caso, a União) será intimada para
apresentar suas contrarrazões. Após, o Presidente do Tribunal (ou Vice-Presidente, a depender do
regimento interno), em decisão monocrática, irá fazer um juízo de admissibilidade do recurso.
Se o juízo de admissibilidade for POSITIVO Se o juízo de admissibilidade for NEGATIVO
Significa que o Presidente (ou Vice) do Tribunal Significa que o Presidente (ou Vice) do Tribunal
entendeu que os pressupostos do REsp estavam entendeu que algum pressuposto do REsp não
preenchidos e, então, remeterá o recurso para o STJ. estava presente e, então, não admitirá o recurso.
Contra esta decisão, não cabe recurso, Contra esta decisão, a parte prejudicada poderá
considerando que o STJ ainda irá reexaminar interpor recurso.
novamente esta admissibilidade.

O que a parte pode fazer caso o Presidente (ou Vice) do Tribunal não admita o REsp? Qual é o recurso
cabível contra essa decisão?
CPC/1973 CPC/2015
Agravo nos próprios autos, previsto no art. 544. 1) Se a inadmissão do Presidente do Tribunal de
Também chamado de “agravo em recurso origem foi com base no inciso I do art. 1.030 do
especial” (no caso do REsp) ou “agravo em recurso CPC/2015: cabe agravo interno, que será julgado
extraordinário” (no caso do RE). pelo próprio Tribunal de origem.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27


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2) Se a inadmissão foi com fundamento no inciso


V do art. 1.030: cabe “agravo em recurso especial
e extraordinário”, recurso previsto no art. 1.042
do CPC/2015.

O que o STJ decidiu sobre esse agravo do art. 544 do CPC/1973:


O recorrente, que interpuser “agravo em recurso especial” (art. 544 do CPC/1973), deverá impugnar
especificamente TODOS os fundamentos constantes da decisão de inadmissibilidade do recurso especial:
Na vigência do CPC/1973, era possível afirmar o seguinte:
• Em regra, o recorrente podia escolher quais os fundamentos da decisão recorrida que pretendia que
fosse reformada, de acordo com o princípio da dialeticidade. Assim, em regra, era possível eleger os
fundamentos que serão objeto do recurso. Isso estava previsto no art. 514, II c/c art. 505 do CPC/1973.
• Exceção: no caso do agravo interposto contra decisão denegatória de admissibilidade do recurso
especial, era necessário que o recorrente atacasse todos os fundamentos da decisão agravada. Essa
exceção estava prevista no art. 544, § 4º, I, do CPC/1973:
Art. 544 (...)
§ 4º No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo
obedecerá ao disposto no respectivo regimento interno, podendo o relator:
I - não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado
especificamente os fundamentos da decisão agravada;

Para o STJ, essa expressão “especificamente” significa TODOS os fundamentos da decisão agravada.
O regimento interno do STJ tem disposição que confirma essa ideia:
Art. 253. O agravo interposto de decisão que não admitiu o recurso especial obedecerá, no
Tribunal de origem, às normas da legislação processual vigente.
Parágrafo único. Distribuído o agravo e ouvido, se necessário, o Ministério Público no prazo de
cinco dias, o relator poderá:
I - não conhecer do agravo inadmissível, prejudicado ou daquele que não tenha impugnado
especificamente todos os fundamentos da decisão recorrida;

A interpretação literal e pragmática da norma regimental permite afirmar que todos os fundamentos
utilizados pelo Tribunal de origem para inadmitir o recurso especial, independentemente de eventual
caráter autônomo, deverão ser impugnados, sob pena de não conhecimento do agravo em recurso
especial.

A decisão que não admite o recurso especial não é formada por capítulos autônomos. Nela existe um único
dispositivo (ela é incindível). Logo, todos os fundamentos que a embasam devem ser atacados.
Aplica-se aqui, por analogia, a Súmula 182 do STJ:
Súmula 182-STJ: É inviável o agravo do art. 545 do CPC (1973) que deixa de atacar especificamente os
fundamentos da decisão agravada.

Ex: a decisão do Presidente do TJ não admitiu o Resp com base em dois fundamentos:
• violação do art. 535 do CPC/1973; e
• incidência da Súmula nº 7-STJ.

Se a parte agravante impugnar apenas um desses fundamentos, o agravo não será conhecido.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28


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Em suma:
A decisão de inadmissibilidade do recurso especial não é formada por capítulos autônomos, mas por
um único dispositivo, o que exige sua impugnação total.
STJ. Corte Especial. EAREsp 831.326-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. Acd. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 19/09/2018 (Info 638).

O julgado acima foi baseado no CPC/1973. O entendimento exposto permanece com o CPC/2015?
SIM. Existem vários precedentes já na vigência do CPC/2015 aplicando o mesmo entendimento, com base
no art. 933, do CPC vigente e também no Regimento Interno do STJ. Nesse sentido:
Incumbe ao agravante infirmar, especificamente, todos os fundamentos da decisão que inadmitiu o
Recurso Especial, demonstrando o seu desacerto, de modo a justificar o processamento do apelo nobre,
sob pena de não ser conhecido o Agravo (art. 932, III, do CPC vigente).
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1122084/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 05/12/2017.

Nos termos da 182 da Súmula desta Corte, é manifestamente inadmissível o agravo em recurso especial
que não impugna, especificamente, todos os fundamentos da decisão confrontada.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 915.415/ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/09/2017.

Cuidado com a parte final do art. 1.042 do CPC/2015


O art. 1.042 do CPC/2015 veda o cabimento do agravo contra decisão do Tribunal a quo que inadmitir o
recurso especial, com base na aplicação do entendimento consagrado no julgamento de recurso
repetitivo:
Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido
que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos.

Neste caso, conforme expus no quadro comparativo no início da explicação, será cabível apenas agravo
interno para o Tribunal de origem, nos termos do art. 1.030, § 2º, do CPC/2015:
Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado
para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos
ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal
não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto
contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal
exarado no regime de repercussão geral;
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça,
respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos;
(...)
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria
constitucional ou infraconstitucional;
(...)
§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos termos do
art. 1.021.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29


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EXECUÇÃO
O agravo de instrumento não pode ser utilizado como meio de impugnação de
toda e qualquer decisão interlocutória proferida no processo de execução

Não cabe agravo de instrumento contra decisão do juiz que determina a elaboração dos
cálculos judiciais e estabelece os parâmetros de sua realização.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.700.305-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/09/2018 (Info 638).

Imagine a seguinte situação hipotética:


No curso do processo de execução movido por João contra a União, o juiz federal proferiu decisão na qual
determinou o envio dos autos ao contador judicial para elaboração de cálculos. Nesta decisão, o
magistrado determinou que o contador utilizasse os índices de juros e correção monetária previstos no
“Manual de Cálculos da Justiça Federal” para fins de atualização do valor devido.
A União entende que os índices estabelecidos no Manual de Cálculos lhe são desfavoráveis e, por isso,
interpôs agravo de instrumento contra a decisão.
A recorrente fundamentou o cabimento do agravo de instrumento no parágrafo único do art. 1.015 do
CPC/2015:
Art. 1.015 (...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.

Houve discussão sobre o cabimento ou não do agravo de instrumento nesta hipótese e a questão chegou
até o STJ.

Cabe agravo de instrumento neste caso?


NÃO.
A fim de otimizar o Código de Processo Civil, o parágrafo único do art. 1.015 deve ser interpretado
restritivamente. Assim, não se deve admitir o agravo de instrumento como meio de impugnação de toda
e qualquer decisão interlocutória proferida no processo de execução. Se isso for admitido irá prejudicar a
celeridade que se espera do trâmite processual.
Se a cada decisão proferida pelo juiz na execução for possível um agravo de instrumento para o Tribunal
de 2ª instância, haverá uma drástica diminuição na efetividade do processo.
Segundo entendeu o Min. Herman Benjamin, não há motivo para se admitir o agravo de instrumento
contra esta decisão considerando que, como consignado na Exposição de Motivos do CPC, “todas as
decisões anteriores à sentença podem ser impugnadas na Apelação”. Assim sendo, para o Ministro, o novo
diploma processual postergou o momento de sua impugnação.

Em suma:
Não cabe agravo de instrumento contra decisão do juiz que determina a elaboração dos cálculos
judiciais e estabelece os parâmetros de sua realização.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.700.305-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/09/2018 (Info 638).

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30


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MANDADO DE SEGURANÇA
Súmula 628-STJ

Súmula 628-STJ: A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando


presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos:
a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que
ordenou a prática do ato impugnado;
b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e
c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Autoridade coatora
O mandado de segurança é impetrado contra o ato de uma autoridade coatora.
Nesse sentido, veja o que diz o art. 5º, LXIX, da CF/88:
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

No mesmo sentido é a redação da Lei do Mandado de Segurança (Lei nº 12.016/2009):


Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer
pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade,
seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.
§ 1º Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de
partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de
pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no
que disser respeito a essas atribuições.

E quem é a autoridade coatora, no caso concreto?


Considera-se autoridade coatora:
• a pessoa que praticou o ato impugnado; ou
• a pessoa da qual emanou a ordem para a sua prática (pessoa que mandou o ato ser praticado).
Petição inicial
Na petição inicial do MS deverá ser expressamente indicada quem é a autoridade coatora:
Art. 6º A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será
apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na
segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha
vinculada ou da qual exerce atribuições.

Indicação errada da autoridade coatora


A Administração Pública é cheia de meandros, setores, gerências, departamentos e outros subdivisões, de
forma que nem sempre é uma tarefa fácil identificar, com exatidão, quem foi o responsável pela ordem.
Diante disso, na prática, verificava-se que o indivíduo impetrava o mandado de segurança indicando, por
exemplo, como autoridade coatora, o diretor de determinado departamento da Secretaria de Estado.
Nas informações do mandado de segurança, este diretor vinha dizendo que a indicação da autoridade foi
errada, considerando que o responsável pelo ato seria o subdiretor. Ao final, a autoridade pedia que o
mandado de segurança fosse extinto sem resolução do mérito por ilegitimidade passiva.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31


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Teoria da encampação
Situações como a acima expostas, não se revelam razoáveis, tendo em vista que o mandado de segurança
é um remédio constitucional idealizado para a garantia de direitos, não podendo seu acesso ser
inviabilizado por dificuldades burocráticas de se identificar o verdadeiro autor do ato impugnado na
Administração Pública.
Diante desse cenário, há muitos anos, a doutrina e a jurisprudência idealizaram a chamada “teoria da
encampação”, por meio da qual se busca relativizar esse “erro” na indicação da autoridade coatora, desde
que cumpridos determinados requisitos.

Primeiros precedentes
Essa teoria da encampação não se encontra expressamente regulamentada em lei.
Dessa forma, o STJ construiu três requisitos para que ela seja aceita.
Um dos primeiros precedentes do STJ a discorrer, de forma sistematizada, sobre tais requisitos foi em
2008, no RMS 12.779/DF (o STJ já havia tratado sobre a teoria, mas sem organizá-la em requisitos no MS
10.484/DF, do ano 2005).
No RMS 12.779/DF, a situação concreta foi a seguinte:
Determinada Fundação Educacional e Cultural impetrou mandado de segurança indicando como
autoridade coatora o Ministro de Estado da Previdência Social.
Como o MS era contra Ministro de Estado, ele foi ajuizado no STJ (art. 105, I, “b”, da CF/88).
A impetrante alegou que seu “Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social” (CEBAS) foi
indevidamente cancelado e, com isso, a Fundação ficou sem poder gozar dos benefícios da imunidade
tributária.
O Ministro da Previdência Social apresentou as informações no mandado de segurança dizendo que:
• o documento cancelando o CEBAS foi assinado pelo Chefe da Seção de Orientação da Arrecadação
Previdenciária (e não por ele, Ministro). Logo, a impetrante teria indicado a autoridade errada.
• caso não se concorde com isso, a segurança não deve ser concedida porque esse cancelamento observou
a lei e a impetrante não tem direito realmente ao CEBAS.

Requisitos
O STJ, ao apreciar este caso acima relatado (RMS 12.779/DF), afirmou que são três os requisitos para
aplicação da teoria da encampação no mandado de segurança:
a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática
do ato impugnado;
b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e
c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal.

a) vínculo hierárquico entre as autoridades


No caso concreto, o Ministro da Previdência alegou que quem praticou o ato foi o Chefe de Arrecadação
Previdenciária. Está certo. No entanto, esse Chefe de Arrecadação está subordinado hierarquicamente ao
Ministro, de forma que o primeiro requisito da teoria da encampação está preenchido.

b) defesa do mérito do ato


O segundo requisito para a aplicação da teoria é que a autoridade que foi indicada no MS e que apresentou
as informações tenha se manifestado a respeito do mérito do ato impugnado.
Esse requisito também foi preenchido, considerando que o Ministro afirmou, expressamente, que o ato
praticado foi legal e que a impetrante não teria direito.

c) ausência de modificação de competência


Esse terceiro requisito significa o seguinte:
A autoridade indicada no MS foi “A”. No entanto, a autoridade que praticou o ato realmente foi “B”.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 32


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Se o mandado de segurança tivesse sido impetrado contra a autoridade correta (ou seja, contra “B”), esta
ação estaria tramitando perante o mesmo juiz ou Tribunal que está agora? O mandado de segurança
proposto contra “A” é julgado pelo mesmo juízo que julgaria o mandado de segurança impetrado contra
“B”? Se a resposta for sim para essas perguntas, o terceiro requisito está preenchido.
Por outro lado, se a Constituição Federal prever que o mandado de segurança impetrado contra a
autoridade “A” é julgado pelo Tribunal e que o mandado de segurança contra a autoridade “B” é de
competência da 1ª instância, neste caso, não será possível aplicar a teoria da encampação. Isso porque,
na prática, estaria havendo uma burla às regras de competência. A parte autora poderia, de forma
maliciosa, indicar autoridade errada para escolher outro juízo que não fosse o natural.
No caso concreto acima explicado (RMS 12.779/DF), este terceiro requisito não foi preenchido e, por isso,
a teoria da encampação não pode ser aplicada.
O mandado de segurança contra o Ministro da Previdência era de competência do STJ. Por outro lado, o
mandado de segurança contra o Chefe de Arrecadação Previdenciária deveria ter sido impetrado perante
um juiz federal de 1ª instância (art. 109, VIII, da CF/88).
Logo, se fosse admitida a teoria da encampação, teríamos uma modificação da competência que é prevista
na Constituição Federal.

Veja trecho da ementa:


(...) 1. São três os requisitos para aplicação da teoria da encampação no mandado de segurança: existência
de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato
impugnado; ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal; e
manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas. Precedente da Primeira Seção: MS
10.484/DF, Rel. Min. José Delgado.
2. O ato coator apontado foi exarado pelo Chefe da Seção de Orientação da Arrecadação Previdenciária,
da Delegacia da Receita Previdenciária de Niterói/RJ, vinculada à Secretaria da Receita Previdenciária do
Ministério da Previdência Social.
3. O conhecimento do writ esbarra na alteração de competência estabelecida pela Carta da República. (...)
STJ. 1ª Seção. MS 12.779/DF, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 13/02/2008.

E se houver modificação de competência prevista na Constituição Estadual?


As Constituições Estaduais também trazem regras de competência para mandado de segurança.
Como exemplo, em geral, as Cartas estaduais preveem que os mandados de segurança impetrados contra
Governador e Secretários de Estado são de competência do Tribunal de Justiça.
É possível adotar a teoria da encampação mesmo que haja uma modificação de competência estabelecida
em Constituição Estadual?
Não. Apesar de a letra “c” da Súmula falar apenas em Constituição Federal, podemos encontrar inúmeros
julgados do STJ afirmando que a teoria da encampação também não se aplica se isso implicar em mudança
das regras de competência definidas na Constituição Estadual. Ex: o autor impetrou, no TJ, mandado de
segurança contra o Secretário de Estado de Educação; ocorre que o ato foi praticado por um diretor de
departamento pedagógico (que é julgado em 1ª instância); logo, mesmo que o Secretário defenda o ato
nas informações do MS, ainda assim o processo deverá ser extinto sem resolução do mérito.
Nesse sentido:
(...) Revela-se incabível falar em aplicação da teoria da encampação, uma vez que a indevida presença do
Secretário da Fazenda no polo passivo do Mandado de Segurança modificaria a regra de competência
jurisdicional disciplinada pela Constituição do Estado. (...)
STJ. 1ª Turma. AgInt no RMS 56.103/MG, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 23/08/2018.

Emenda da inicial ou correção de ofício


Outra situação importante e que deve ser destacada aqui é que, algumas vezes, o órgão julgador já
percebe, no momento da propositura, que a indicação da autoridade coatora foi incorreta.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


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Nestes casos, o órgão julgador (juiz ou Relator) deverá determinar a emenda da inicial ou, se o erro for
escusável, fazer a correção de ofício, desde que isso não implique modificação de competência.
Ex: candidato aprovado dentro do número de vagas para o concurso de professor estadual impetra
mandado de segurança contra o Secretário de Educação pedindo a nomeação. Ocorre que não é o
Secretário quem nomeia, mas sim o Governador do Estado. O Relator deverá determinar que o autor
emende a Inicial para corrigir a autoridade coatora. Vale ressaltar que isso é possível porque, em regra, o
MS impetrado tanto contra o Governador como contra o Secretário é julgado pelo TJ.
Veja precedente do STJ nesse sentido:
(...) O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento de que "considerando a finalidade precípua do
mandado de segurança que é a proteção de direito líquido e certo, que se mostre configurado de plano,
bem como da garantia individual perante o Estado, sua finalidade assume vital importância, o que significa
dizer que as questões de forma não devem, em princípio, inviabilizar a questão de fundo gravitante sobre
ato abusivo da autoridade. Consequentemente, o Juiz, ao deparar-se, em sede de mandado de segurança,
com a errônea indicação da autoridade coatora, deve determinar a emenda da inicial ou, na hipótese de
erro escusável, corrigi-lo de ofício, e não extinguir o processo sem julgamento do mérito" (REsp
865.391/BA, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 7/8/2008.
2. Recurso Ordinário provido.
STJ. 2ª Turma. RMS 55.062/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/04/2018.

Veja o que estabelecem os arts. 338 e 339 do CPC/2015:


Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo
invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para
substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários
ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa
ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8º.

Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação
jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais
e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.
§ 1º O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à alteração da petição
inicial para a substituição do réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como
litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu.

Leonardo da Cunha defende que esses dispositivos também devem ser aplicados para o processo de
mandado de segurança, “permitindo que se corrija a autoridade coatora ou, até mesmo, a pessoa jurídica
da qual ela faz parte. Assim, se a parte impetrou mandado de segurança, por exemplo, contra o
Governador do Estado, mas a autoridade impetrada seria o Secretário de Estado, é possível corrigir. De
igual modo, se impetrou contra o Governador do Estado, mas deveria ter indicado, como autoridade, o
diretor de determinada autarquia, poderá haver a correção tanto da autoridade como da pessoa jurídica
de cujos quadros faça parte.” (CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. São Paulo:
Forense, 2016, p. 534).
Com a mesma conclusão:
Enunciado 511-FPPC: A técnica processual prevista nos arts. 338 e 339 pode ser usada, no que couber,
para possibilitar a correção da autoridade coatora, bem como da pessoa jurídica, no processo de mandado
de segurança.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34


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DIREITO PROCESSUAL PENAL

SENTENÇA
É nula a sentença proferida de forma oral e degravada
parcialmente sem o registro das razões de decidir

Importante!!!
É nula a sentença proferida de forma oral e degravada parcialmente sem o registro das razões
de decidir.
Nas alterações promovidas pela Lei nº 11.719/2008 no art. 405 do CPP, não se estabeleceu a
possibilidade de se dispensar a transcrição de sentença penal registrada por meio
audiovisual.
Ao contrário, manteve-se o art. 388 do CPP, que prevê a possibilidade da sentença “ser
datilografada”, admitindo-se, na atualidade, a utilização de outros meios tecnológicos
similares, como por exemplo o computador, para o seu registro escrito.
Daí a inaplicabilidade do disposto no art. 405, §§ 1º e 2º, do CPP - que permite a dispensa de
transcrição de depoimentos - à sentença penal.
STJ. 5ª Turma. HC 336.112/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/10/2017.
STJ. 6ª Turma. HC 470.034-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/10/2018 (Info 638).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi denunciado pela prática de furto.
Foi realizada audiência de instrução e julgamento na qual foram ouvidas as testemunhas e realizado o
interrogatório.
Depois das oitivas, o Promotor de Justiça e o advogado ofereceram alegações finais orais.
Vale ressaltar que todos os atos da audiência foram gravados em meio audiovisual.
Em seguida, o juiz proferiu a sentença, na própria audiência.
Até aí, tudo bem. O CPP, inclusive, prefere que seja assim:
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas
alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa,
prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
(...)
§ 3º O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às
partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso,
terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.

Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas
partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.
§ 1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e
testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou
técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações.
§ 2º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do registro
original, sem necessidade de transcrição.

O “problema” foi que o magistrado resolveu também proferir a sentença oralmente.


Assim, o juiz, falando ao microfone e sendo filmado, analisou as provas produzidas e concluiu pela
condenação do réu.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 35


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Na ata da audiência, o juiz transcreveu apenas a dosimetria da pena e o dispositivo.

Essa sentença é válida?


NÃO.
É nula a sentença proferida de forma oral e degravada parcialmente sem o registro das razões de decidir.
STJ. 6ª Turma. HC 470.034-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/10/2018 (Info 638).

O art. 405 do Código de Processo Penal possibilita o registro dos termos da audiência de instrução em
meio audiovisual. Tal regra, que foi inserida no CPP pela Lei nº 11.719/2008, tem dois objetivos:
1) abreviar o tempo de realização do ato, considerando que não será necessário reduzir a termo todos os
depoimentos (o que consumia MUITO tempo);
2) possibilitar o registro fiel da íntegra do ato, com imagem e som, em vez da simples escrita, permitindo
ver as expressões não verbais das testemunhas, vítima e réu.

O art. 405 do CPP não autoriza, contudo, que a sentença seja proferida oralmente, sem ser escrita.
Assim, ainda persiste a exigência de que a sentença seja reduzida a termo (assuma forma escrita), nos
termos do art. 388 do CPP:
Art. 388. A sentença poderá ser datilografada e neste caso o juiz a rubricará em todas as folhas.

A busca da celeridade na prestação jurisdicional não dispensa a forma escrita da sentença. No caso
concreto, ainda que parte da sentença tenha sido escrita (dosimetria e dispositivo), houve nulidade
porque não foram transcritas as razões de decidir.
Nesse sentido:
Nas alterações promovidas pela Lei n. 11.719/2008, não se estabeleceu a possibilidade de se dispensar a
transcrição de sentença penal registrada por meio audiovisual (ex vi, do título XII do CPP).
Ao contrário, manteve-se o art. 388 do CPP, que prevê a possibilidade da sentença “ser datilografada”,
admitindo-se, na atualidade, a utilização de outros meios tecnológicos similares, como por exemplo o
computador, para o seu registro escrito. Daí a inaplicabilidade do disposto no art. 405, §§ 1º e 2º, do CPP
- que permite a dispensa de transcrição de depoimentos - à sentença penal.
STJ. 5ª Turma. HC 336.112/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/10/2017.

Uma pergunta correlata: as oitivas das testemunhas, vítima e réu e as alegações finais do MP e da
defesa, se forem feitas oralmente, precisam ser transcritas? Há necessidade de degravação?
NÃO.
Não há necessidade de degravação no caso de depoimentos colhidos por gravação audiovisual, cabendo
ao interessado promovê-la, a suas expensas e com sua estrutura, se assim o desejar, ficando vedado
requerer ou determinar tal providência ao Juízo de primeiro grau.
STJ. 5ª Turma. HC 339.357/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 08/03/2016.

O registro audiovisual de depoimentos colhidos em audiência dispensa sua degravação, salvo comprovada
demonstração de sua necessidade.
STJ. 6ª Turma. RMS 36.625/MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 30/06/2016.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 36


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TRIBUNAL DO JÚRI
É possível a pronúncia do acusado baseada exclusivamente
em elementos informativos obtidos na fase inquisitorial?

Importante!!!
É possível a pronúncia do acusado baseada exclusivamente em elementos informativos
obtidos na fase inquisitorial?
• NÃO. Haverá violação ao art. 155 do CPP. Além disso, muito embora a análise aprofundada
seja feita somente pelo Júri, não se pode admitir, em um Estado Democrático de Direito, a
pronúncia sem qualquer lastro probatório colhido sob o contraditório judicial, fundada
exclusivamente em elementos informativos obtidos na fase inquisitorial.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.740.921-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/11/2018 (Info 638).
STJ. 6ª Turma. HC 341.072/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/4/2016.

• SIM. É possível admitir a pronúncia do acusado com base em indícios derivados do inquérito
policial, sem que isso represente afronta ao art. 155. Embora a vedação imposta no art. 155 se
aplique a qualquer procedimento penal, inclusive dos do Júri, não se pode perder de vista o
objetivo da decisão de pronúncia não é o de condenar, mas apenas o de encerrar o juízo de
admissibilidade da acusação (iudicium accusationis). Na pronúncia opera o princípio in dubio
pro societate, porque é a favor da sociedade que se resolvem as dúvidas quanto à prova, pelo
Juízo natural da causa. Constitui a pronúncia, portanto, juízo fundado de suspeita, que apenas
e tão somente admite a acusação. Não profere juízo de certeza, necessário para a condenação,
motivo pelo qual a vedação expressa do art. 155 do CPP não se aplica à referida decisão.
STJ. 5ª Turma. HC 435.977/RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 15/05/2018.
STJ. 6ª Turma. REsp 1458386/PA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/10/2018.
Obs: prevalece, no STJ, a segunda posição, ou seja, de que é possível a pronúncia.

Procedimento do Tribunal do Júri


Quando a pessoa pratica um crime doloso contra a vida, ela responde a um processo penal que é regido
por um procedimento especial próprio do Tribunal do Júri (arts. 406 a 497 do CPP).

Procedimento bifásico do Tribunal do Júri


O procedimento do Tribunal do Júri é chamado de bifásico (ou escalonado) porque se divide em duas
etapas:
1) Fase do sumário da culpa (iudicium accusationis): é a fase de acusação e instrução preliminar (formação
da culpa). Inicia-se com o oferecimento da denúncia (ou queixa) e termina com a preclusão da sentença
de pronúncia.
2) Fase de julgamento (iudicium causae).

Sentença que encerra o sumário da culpa


Ao final da 1ª fase do procedimento do júri (sumário da culpa), o juiz irá proferir uma sentença, que poderá
ser de quatro modos:
PRONÚNCIA IMPRONÚNCIA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA DESCLASSIFICAÇÃO
O réu será pronunciado O réu será impronunciado O réu será absolvido, desde Ocorre quando o juiz se
quando o juiz se convencer quando o juiz não se logo, quando estiver convencer de que o fato
de que existem prova da convencer: provado (a): narrado não é um crime
materialidade do fato e • da materialidade do fato; • a inexistência do fato; doloso contra a vida, mas sim
indícios suficientes de • que o réu não é autor ou um outro delito, devendo,
autoria ou de participação. partícipe do fato;

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 37


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• da existência de indícios • que o fato não constitui então, remeter o processo


suficientes de autoria ou de crime; para o juízo competente.
participação. • que existe uma causa de
isenção de pena ou de
exclusão do crime.

Ex.: todas as testemunhas


Ex.: a única testemunha que ouvidas afirmaram que o Ex.: juiz entende que não
havia reconhecido o réu no réu não foi o autor dos houve homicídio doloso, mas
IP não foi ouvida em juízo. disparos. sim latrocínio.
Recurso cabível: RESE. Recurso cabível: APELAÇÃO. Recurso cabível: APELAÇÃO. Recurso cabível: RESE.

Pronúncia
A pronúncia é prevista no art. 413 do CPP.
Veja o que dizem o caput e o § 1º:
Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do
fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
§ 1º A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o
dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e
as causas de aumento de pena.
(...)

Indaga-se: é possível a pronúncia do acusado baseada apenas em elementos informativos obtidos na


fase inquisitorial?
O tema é polêmico e há decisões em ambos os sentidos:

É possível a pronúncia do acusado baseada exclusivamente


em elementos informativos obtidos na fase inquisitorial?

NÃO SIM

O principal fundamento seria o art. 155 do CPP: É possível admitir a pronúncia do acusado com
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre base em indícios derivados do inquérito policial,
apreciação da prova produzida em contraditório sem que isso represente afronta ao art. 155.
judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos Embora a vedação imposta no art. 155 (decisão
colhidos na investigação, ressalvadas as provas fundada exclusivamente em elementos
cautelares, não repetíveis e antecipadas. informativos colhidos na investigação) se aplique
a qualquer procedimento penal, inclusive dos do
A decisão de pronúncia é um mero juízo de Júri, não se pode perder de vista que o objetivo da
admissibilidade da acusação, não sendo exigido, decisão de pronúncia não é o de condenar, mas
neste momento processual, prova incontroversa apenas o de encerrar o juízo de admissibilidade da
(bastam indícios suficientes de autoria e certeza acusação (iudicium accusationis).
da materialidade).
Na pronúncia opera o princípio in dubio pro
Muito embora a análise aprofundada seja feita societate, porque é a favor da sociedade que se
somente pelo Júri, não se pode admitir, em um resolvem as dúvidas quanto à prova, pelo Juízo
Estado Democrático de Direito, a pronúncia sem natural da causa. Constitui a pronúncia, portanto,
qualquer lastro probatório colhido sob o juízo fundado de suspeita, que apenas e tão
contraditório judicial, fundada exclusivamente em somente admite a acusação. Não profere juízo de
certeza, necessário para a condenação, motivo

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 38


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elementos informativos obtidos na fase pelo qual a vedação expressa do art. 155 do CPP
inquisitorial. não se aplica à referida decisão.

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.740.921-GO, Rel. STJ. 5ª Turma. HC 435.977/RS, Rel. Min. Felix
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/11/2018. Fischer, julgado em 15/05/2018.
STJ. 6ª Turma. HC 341.072/RS, Rel. Min. Maria STJ. 6ª Turma. REsp 1458386/PA, Rel. Min. Rogerio
Thereza de Assis Moura, julgado em 19/4/2016. Schietti Cruz, julgado em 04/10/2018.

No STJ, prevalece a segunda posição, ou seja, é possível admitir a pronúncia do acusado com base em
indícios derivados do inquérito policial, sem que isso represente afronta ao art. 155 do CPP.

DIREITO TRIBUTÁRIO

PRESCRIÇÃO
Parcelamento de ofício não interfere no curso do prazo prescricional

IPTU
Termo inicial do prazo prescricional em caso de IPTU

Parcelamento de ofício não interfere no curso do prazo prescricional


O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da contagem
da prescrição, uma vez que o contribuinte não anuiu.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018
(recurso repetitivo) (Info 638).

Termo inicial do prazo prescricional em caso de IPTU


O termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial
Urbano - IPTU - inicia-se no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018
(recurso repetitivo) (Info 638).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João é proprietário de um imóvel urbano (uma casa).
Logo, ele é contribuinte de IPTU.
O IPTU é um imposto sujeito a lançamento de ofício.
O lançamento de ofício (ou direto) é aquele no qual o Fisco, sem a ajuda do contribuinte, calcula o valor
do imposto devido e cobra do sujeito passivo. A Administração tributária já possui, de antemão, os
elementos informativos para realizar a constituição do crédito tributário, não dependendo de nenhuma
providência do contribuinte para isso.
Em outras palavras, o próprio Fisco, sozinho, já calcula quanto o contribuinte deverá pagar e apenas o
avisa: pague este valor de imposto até o dia XX.

Notificação do lançamento
Após o Fisco realizar o lançamento, ele precisa comunicar que fez isso ao sujeito passivo para que este
possa pagar o tributo ou impugná-lo, caso não concorde com o que está sendo cobrado.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 39


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"É a notificação que confere efeitos ao lançamento realizado, pois antes daquela não se conta prazo para
pagamento ou impugnação." (ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. 10ª ed., São Paulo:
Método, 2016, p. 377).

Forma de notificação do contribuinte


O CTN não prevê a forma como o contribuinte deverá ser notificado de que houve o lançamento de ofício
e de que ele deverá pagar o tributo. Diante dessa lacuna, a jurisprudência entende que a legislação que
rege cada tributo poderá disciplinar o meio idôneo para essa notificação.
No caso do IPTU, por exemplo, a maioria das leis municipais prevê que a notificação ocorre mediante o
envio de uma correspondência ao sujeito passivo. Esse procedimento é considerado legítimo:
Súmula 397-STJ: O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço.

Alguns Municípios, no início do ano, divulgam um calendário informando os proprietários dos imóveis
urbanos que deverão efetuar o pagamento do IPTU em determinada data. Este modo de notificação é
válido?
SIM. O envio do carnê é apenas uma modalidade, que não exclui outras eventualmente mais convenientes
para a Administração, como é o caso da divulgação de um calendário de pagamento, com instruções para
os contribuintes fazerem o pagamento.

Qual é a principal função da notificação do contribuinte do IPTU?


A notificação do contribuinte para o recolhimento do IPTU perfectibiliza a constituição definitiva do
crédito tributário.
Em outras palavras, com a notificação do contribuinte para o recolhimento da exação (pagamento do
tributo) ocorre a constituição definitiva do crédito tributário.

João recebeu o carnê de pagamento


Em 10/01/2012, João recebeu, por correio, o carnê do IPTU relativo a este imóvel.
Neste momento, João foi notificado de que o Fisco municipal fez o lançamento do imposto.

Dia de vencimento
No carnê do IPTU, havia duas opções de pagamento para o contribuinte:
• à vista (com desconto de 15%), que deveria ser pago até 05/02/2012; ou
• parceladamente, em 10 parcelas, sendo que a última era para o dia 05/11/2012.

Vale ressaltar que esse parcelamento é oferecido ao contribuinte sem que ele tenha pedido. Não houve
requerimento. Já chegou no carnê essa possibilidade para todos. Por essa razão, é chamado pela
jurisprudência de “parcelamento de ofício”, ou seja, por iniciativa da própria Administração Tributária.

Se o contribuinte não pagar, o que o Fisco deverá fazer?


Deverá ajuizar uma execução fiscal cobrando o crédito tributário.

Existe um prazo para que o Fisco ajuíze essa execução fiscal?


SIM. Ele possui o prazo prescricional de 5 anos. Passado esse prazo, ocorre a prescrição, nos termos do
art. 174 do CTN:
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data
da sua constituição definitiva.

Consideremos que João não pagou o IPTU.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 40


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Quando iniciou a contagem do prazo prescricional para que o Fisco ajuíze a execução cobrando o
imposto não pago?
Esse prazo se iniciou em 06/02/2012 (um dia após a data estipulada para pagamento da cota única).
O STJ definiu a seguinte tese:
O termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU
- inicia-se no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 638).

No caso, por se tratar de lançamento de ofício, o prazo prescricional de cinco anos para que a Fazenda Pública
realize a cobrança judicial de seu crédito tributário começa a fluir somente após o vencimento do prazo
estabelecido pela lei local para o vencimento da exação (pagamento voluntário pelo contribuinte). Isso
porque, embora o crédito já esteja constituído com o recebimento do carnê pelo contribuinte, a Fazenda
ainda não pode executar considerando que a lei deu ao contribuinte um prazo para pagamento voluntário.

Ex: João recebeu o carnê dia 10/01/2012; já está constituído o crédito tributário; ocorre que o Fisco ainda
não pode executar o crédito; isso porque a data de vencimento do IPTU (conforme legislação local) é dia
05/02/2012; logo, antes de esgotado esse prazo para pagamento voluntário, não começou a ser contado
o prazo prescricional.

A pretensão executória surge, portanto, somente a partir do dia seguinte ao vencimento estabelecido no
carnê encaminhado ao endereço do contribuinte ou da data de vencimento fixada em lei local e
amplamente divulgada através de calendário de pagamento.

Releitura do art. 174 do CTN pelo STJ


O art. 174 do CTN estabelece o seguinte:
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data
da sua constituição definitiva.

Para o STJ, a constituição definitiva do IPTU ocorre com a notificação do contribuinte para pagamento.
Desse modo, se fossemos utilizar a redação literal do art. 174, o prazo prescricional teria início na data da
notificação do sujeito passivo (constituição definitiva). Ex: no dia em que ele recebeu o carnê de
pagamento ou na data em que foi divulgado o calendário de pagamentos.
Ocorre que o STJ fez uma releitura dessa parte final do dispositivo e decidiu que o prazo prescricional
deverá ser contado a partir do dia seguinte à data estipulada como vencimento do imposto.
O STJ decidiu assim porque, antes de passar a data do vencimento do tributo, o Fisco ainda não poderá
executar o contribuinte, que ainda nem pode ser considerado devedor.
Até o último dia estabelecido para o vencimento, é assegurado ao contribuinte realizar o recolhimento
voluntário, sem qualquer outro ônus, por meio das agências bancárias autorizadas ou até mesmo pela
internet, ficando em mora tão somente a partir do dia seguinte.
Desse modo, tem-se que a pretensão executória da Fazenda Pública (actio nata) somente surge no dia
seguinte à data estipulada para o vencimento do tributo.
Assim, o STJ “corrige” a parte final do art. 174, que deve ser lido da seguinte forma: a ação para a cobrança
do crédito tributário decorrente de IPTU prescreve em cinco anos, contados do dia seguinte à data
estipulada para o vencimento da exação.
Alerta. Em concursos, se for cobrada a redação literal do art. 174 em provas objetivas, essa alternativa
está correta. No entanto, se for falado em “entendimento do STJ”, deve-se adotar a redação da tese acima
exposta.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 41


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Como os Municípios geralmente oferecem esse parcelamento, no caso do IPTU teremos duas datas de
vencimento: a do pagamento à vista e a do pagamento parcelado. Qual delas deverá ser considerada?
Quando se inicia a contagem do prazo prescricional para que o Fisco ajuíze a execução cobrando o
imposto não pago? Em nosso exemplo, esse prazo se iniciou em 06/02/2012 (um dia após a data
estipulada para pagamento da cota única) ou o se iniciou em 06/11/2012 (um dia depois de terminado
o prazo para pagamento parcelado)?
O Fisco defendeu a tese de que, durante o prazo oferecido para parcelamento, não estaria correndo a
prescrição.
Segundo argumentou o Fisco, o parcelamento é uma forma de suspensão do crédito tributário, ou seja,
enquanto o parcelamento estiver ativo (vigente), o Fisco não poderá dar início à execução fiscal contra o
devedor. Logo, não pode estar sendo contado o prazo prescricional.
O Município disse que deveria ser aplicado o inciso I ou o inciso VI do art. 151 do CTN:
Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:
I - moratória;
(...)
VI - o parcelamento.

A tese do Fisco foi acolhida pelo STJ?


NÃO. O STJ definiu a tese de que o parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa
interruptiva da contagem da prescrição.
O “parcelamento de ofício” não tem o condão de suspender o prazo prescricional para a cobrança do IPTU,
estendendo-o por mais dez meses além do vencimento da parcela única ou da primeira cota.
A moratória é a dilação do prazo para pagamento por convenção das partes.
Dessa forma, a moratória pressupõe um acordo entre credor e devedor, estabelecendo datas diferentes
das previstas originalmente em lei para pagamento do tributo.
Além disso, pressupõe a edição de uma lei para tratar da situação.
O parcelamento é uma hipótese de moratória e, por isso, também está submetida à reserva legal (art. 97,
VI do CTN).
A liberalidade do Fisco em conceder ao contribuinte a opção de pagamento à vista (cota única) ou
parcelado (10 cotas), independente de sua anuência prévia, não configura as hipóteses de suspensão do
crédito tributário previstas no art. 151, I e VI do CTN (moratória ou parcelamento), tampouco causa de
interrupção da prescrição, a qual exige o reconhecimento da dívida por parte do contribuinte (art. 174,
parágrafo único, IV do CTN).
Com efeito, não houve adesão a qualquer hipótese de parcelamento por parte do contribuinte ou
reconhecimento de débito. Na verdade, o contribuinte do IPTU manteve-se inerte e sua inércia não pode
ser interpretada como adesão automática à moratória ou parcelamento, passível de suspender a
exigibilidade do crédito tributário.
O contribuinte não pode ser despido da autonomia de sua vontade, em decorrência de uma opção
unilateral do Estado, que resolve lhe conceder a opção de efetuar o pagamento em cotas parceladas.
Se a Fazenda Pública municipal entende que é mais conveniente oferecer opções parceladas para
pagamento do IPTU, ao tempo em que oferta ao contribuinte a possibilidade de quitação em cota única,
com descontos que variam de 10 a 15% do crédito tributário constituído, o faz dentro de uma política
fiscal, por mera liberalidade, o que não induz a conclusão de que houve moratória ou parcelamento.

Em suma:
O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da contagem da
prescrição, uma vez que o contribuinte não anuiu.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 638).

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 42


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CRÉDITO TRIBUTÁRIO
Súmula 622-STJ

Súmula 622-STJ: A notificação do auto de infração faz cessar a contagem da decadência para a
constituição do crédito tributário; exaurida a instância administrativa com o decurso do prazo
para a impugnação ou com a notificação de seu julgamento definitivo e esgotado o prazo
concedido pela Administração para o pagamento voluntário, inicia-se o prazo prescricional
para a cobrança judicial.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Fato gerador e obrigação tributária


O contribuinte realiza o fato gerador do tributo (exs.: adquire renda, faz uma doação, chega no dia 01/01
sendo proprietário de um bem imóvel etc.).
Quando o contribuinte realiza o fato gerador, torna-se sujeito passivo de uma obrigação tributária
principal, ou seja, passa a ter a obrigação de pagar o tributo.

Constituição do crédito tributário


Diante dessa situação, o Fisco irá praticar um ato chamado de “lançamento tributário”.
O lançamento é, portanto, o ato por meio do qual o Auditor Fiscal constata que ocorreu um fato gerador
de tributo. Ele, então, identifica quem é o sujeito passivo (contribuinte), calcula o quanto do tributo é
devido (aplicando a alíquota sobre a base de cálculo) e inclui também a multa (se for o caso).
O crédito tributário é constituído (nasce) com um ato do Fisco chamado de “lançamento”.
O lançamento confere exigibilidade à obrigação tributária.
Com o lançamento, a obrigação tributária transforma-se em crédito tributário.
Só depois que a obrigação tributária se transforme em crédito tributário é que ela se torna líquida e
exigível e poderá ser executada.
O Fisco possui, no entanto, um prazo para efetuar o lançamento. Se não fizer no prazo, haverá decadência.

Decadência
A decadência é, portanto, a perda do direito que o Fisco possui de fazer o lançamento em virtude de essa
providência não ter sido feita no prazo de 5 anos.
A decadência está prevista no art. 173 do CTN:
Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco)
anos, contados:
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado;
II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o
lançamento anteriormente efetuado.
Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se definitivamente com o decurso
do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito
tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao
lançamento.

Auto de infração
Auto de infração, normalmente conhecido pela sigla “AI”, é um procedimento administrativo realizado
pelo Fisco caso constate alguma infração à legislação tributária. Trata-se de uma forma de lançamento de
ofício.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 43


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Notificação do auto de infração


Imagine que a empresa “X” deixou de pagar um tributo federal, que venceu em setembro/2000.
Vale ressaltar que esse tributo era sujeito a lançamento de ofício. Isso significa que a Receita Federal tinha
5 anos para fazer esse lançamento, iniciando-se o prazo em 1º de janeiro de 2001, conforme prevê o art.
173 do CTN:
Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco)
anos, contados:
I – do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado;

Em outras palavras, em 01/01/2001 iniciou o prazo decadencial para que a Fazenda Pública fizesse o
lançamento do tributo. Esse prazo se encerraria em 01/01/2006. Assim, se o Fisco não fizesse o
lançamento até essa data (01/01/2006), haveria a decadência, que é uma causa de extinção do crédito
tributário (art. 156, V, do CTN).
Suponhamos, contudo, que o Fisco lavrou o auto de infração em 05/12/2005.
No entanto, o Fisco terá ainda que notificar a empresa contribuinte sobre esse auto de infração.

Notificação do lançamento
Após o Fisco realizar o lançamento, ele precisa comunicar que fez isso ao sujeito passivo para que este
possa pagar o tributo ou impugná-lo, caso não concorde com o que está sendo cobrado.
“É a notificação que confere efeitos ao lançamento realizado, pois antes daquela não se conta prazo para
pagamento ou impugnação.” (ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. 10ª ed., São Paulo:
Método, 2016, p. 377).

Voltando ao nosso exemplo


Imaginemos que a notificação do auto de infração ocorreu em 10/12/2005. Repare que, por pouco, o Fisco
não ultrapassa o prazo de 5 anos para lançar. Se ele tivesse ultrapassado, teria havido a decadência.
A notificação do contribuinte perfectibiliza a constituição definitiva do crédito tributário.
Com a notificação da empresa contribuinte sobre o auto de infração, termina a contagem da decadência,
ou seja, o Fisco cumpriu o seu poder-dever de lançar.
Essa é a primeira parte da Súmula 622:
“A notificação do auto de infração faz cessar a contagem da decadência para a constituição do crédito
tributário; (...)”

Possibilidade de impugnação administrativa


O sujeito passivo, depois de receber a notificação do auto de infração, terá um prazo (normalmente de 30
dias), ao final do qual poderá adotar uma de três opções:
a) pagar;
b) fazer a impugnação administrativa;
c) ficar inerte.

Assim, o contribuinte receberá a notificação do auto de infração, que terá um texto mais ou menos assim:
“Fica o autuado intimado do conteúdo deste auto de infração para efetuar o pagamento ou apresentar
impugnação, no prazo de 30 dias, na forma da Lei XXX”.

Pagamento
Se o contribuinte pagou, fica extinto o crédito tributário (art. 156, I, do CTN).

Impugnação
Se o contribuinte impugnou, esta impugnação será julgada em âmbito administrativo.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 44


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• Se a impugnação for julgada procedente (contribuinte tem razão): o lançamento que foi realizado será
desconstituído (ex: contribuinte não praticou o fato gerador) ou alterado (ex: Fisco calculou o valor errado).
• Se a impugnação for julgada improcedente (contribuinte não tem razão) e não couber mais recurso
(houve o julgamento definitivo na esfera administrativa): neste caso, a Administração Tributária deverá
notificar o contribuinte sobre a decisão.
No âmbito federal, depois que o contribuinte é notificado de que “perdeu” por decisão definitiva, ele ainda
terá um prazo de 30 dias concedido pela Administração para pagamento voluntário. Isso está previsto no
art. 43 c/c art. 21 do Decreto 70.235/72:
Art. 43. A decisão definitiva contrária ao sujeito passivo será cumprida no prazo para cobrança
amigável fixado no artigo 21, aplicando-se, no caso de descumprimento, o disposto no § 3º do
mesmo artigo.

Art. 21. Não sendo cumprida nem impugnada a exigência, a autoridade preparadora declarará a
revelia, permanecendo o processo no órgão preparador, pelo prazo de trinta dias, para cobrança
amigável.
(...)
§ 3º Esgotado o prazo de cobrança amigável sem que tenha sido pago o crédito tributário, o órgão
preparador declarará o sujeito passivo devedor remisso e encaminhará o processo à autoridade
competente para promover a cobrança executiva.

Assim, com a notificação do contribuinte de que houve o julgamento definitivo e esgotado o prazo
concedido pela Administração para o pagamento voluntário (30 dias), só resta agora ao Fisco executar
judicialmente o crédito. Começa, então, o prazo prescricional para a Fazenda ajuizar a execução fiscal.

Inércia
Passado o prazo de 30 dias sem que o contribuinte tenha pagado nem impugnado: começa o prazo
prescricional para o Fisco ajuizar a execução fiscal.
Assim, esgotado o prazo para impugnar ou pagar, inicia-se o prazo prescricional para a cobrança judicial
do crédito tributário.

Segunda parte da súmula


A segunda parte da súmula trata, portanto, do caso em que a impugnação é julgada improcedente ou da
hipótese na qual o contribuinte fica inerte. Veja:
(...) exaurida a instância administrativa com o decurso do prazo para a impugnação ou com a notificação
de seu julgamento definitivo e esgotado o prazo concedido pela Administração para o pagamento
voluntário, inicia-se o prazo prescricional para a cobrança judicial.

COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA
Súmula 625-STJ

Súmula 625-STJ: O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o


prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do
CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Repetição de indébito

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 45


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Ação de repetição de indébito (ou ação de restituição de indébito) é a ação na qual o requerente pleiteia
a devolução de determinada quantia que pagou indevidamente.
A ação de repetição de indébito, ao contrário do que muitos pensam, não é restrita ao direito tributário.
Assim, por exemplo, se um consumidor é cobrado pelo fornecedor e paga um valor que não era devido,
poderá ingressar com ação de repetição de indébito para pleitear valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável (art. 42,
parágrafo único do CDC).
No âmbito tributário, o contribuinte que pagar tributo indevido (exs: pagou duas vezes, pagou imposto
que era inconstitucional, houve erro na alíquota etc.) terá direito à repetição de indébito, ou seja, poderá
ajuizar ação cobrando a devolução daquilo que foi pago.
As hipóteses em que o contribuinte terá direito à repetição de indébito, no âmbito tributário, estão
previstas no art. 165 do CTN:
Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à restituição total
ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º
do artigo 162, nos seguintes casos:
I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da
legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador
efetivamente ocorrido;
II - erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável, no cálculo do
montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao
pagamento;
III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória.

O mencionado art. 165 afirma que o sujeito passivo tem direito à restituição, independentemente de
prévio protesto (isto é, mesmo que na hora de pagar não tenha “reclamado” do tributo indevido ou tenha
feito qualquer ressalva; não interessa o estado de espírito do sujeito passivo no momento do pagamento,
ou seja, se sabia ou não que o pagamento era indevido). Pagou indevidamente, tem direito de receber de
volta a fim de evitar o enriquecimento sem causa da outra parte (no caso, o Fisco).

Qual é o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário?


5 anos. O CTN prevê o prazo prescricional de 5 anos para que o contribuinte ajuíze a ação de repetição de
indébito tributário pedindo a restituição das quantias que pagou indevidamente:
Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos,
contados:
I - nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do crédito tributário;
II - na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se tornar definitiva a decisão
administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado
ou rescindido a decisão condenatória.

Pedido administrativo de compensação não interrompe o prazo


Imagine a seguinte situação:
Em 2010, João pagou R$ 900,00 a título de IPTU de sua casa. Ocorre que, logo depois, ficou reconhecido
que João pagou um valor maior do que era o devido segundo a legislação tributária. Em outras palavras,
João pagou R$ 900,00, no entanto, o correto seria ele pagar apenas R$ 400,00.
Isso significa que João (sujeito passivo) tem direito à repetição de indébito, ou seja, tem direito à
restituição parcial do tributo pago.
O art. 168 do CTN afirma que João tem um prazo de 5 anos para ingressar com ação exigindo isso.
João estava cheio de problemas e esqueceu de fazer o pedido.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 46


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Em 2015, pouco antes de completar 5 anos, João descobre que está devendo R$ 450,00 de taxa de lixo
(tributo municipal). Ele lembra, então, que tem aquele “crédito” de R$ 500,00 do IPTU de 2010 que pagou
a mais.
Diante disso, ele requer, ao Fisco municipal, a compensação do crédito com o débito.
Vou abrir um parêntese para relembrar o que é a compensação no direito tributário: ocorre
quando o contribuinte possui um crédito a receber do Fisco, podendo ser feito o encontro de
contas do valor que o sujeito passivo tem que pagar com a quantia que tem a receber da
Administração. Trata-se de causa de extinção da obrigação tributária (art. 156, II do CTN).

O Fisco, contudo, em 2016, dá a resposta, negando o pedido do contribuinte.


O que isso significa?
Que houve a prescrição da pretensão para o ajuizamento da ação de repetição de indébito tributário de
que trata o art. 168 do CTN.
Isso porque o STJ entende que o “pedido administrativo de compensação” não interrompe o prazo
prescricional de 5 anos que o contribuinte tem para ajuizar a ação de repetição de indébito tributário.

Pedido administrativo de restituição também não interrompe o prazo


A mesma situação ocorre nos casos de pedido administrativo de restituição.
No exemplo acima, suponhamos que João não tivesse esse débito de taxa de lixo.
Assim, em 2015, pouco antes de completar 5 anos, ele lembra que tinha esse “crédito” do IPTU de 2010
pago a mais.
Diante disso, formula um pedido administrativo de restituição.
Em 2015, o Fisco nega a restituição pleiteada. Isso significa que o prazo prescricional continuou correndo
e que não foi interrompido com o requerimento administrativo.
João não poderá mais entrar com a ação de repetição de indébito de que trata o art. 168 do CTN.

Por que não há a interrupção?


O STJ entende que, em se tratando de créditos e débitos tributários, as hipóteses de interrupção de
prescrição são apenas aquelas listadas no parágrafo único do art. 174 do CTN.
O pedido administrativo de compensação e o pedido administrativo de restituição não foram previstos
neste rol. Logo, não têm o condão de interromper a prescrição. Veja a redação legal:
Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data
da sua constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I - pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
II - pelo protesto judicial;
III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do
débito pelo devedor.

Logo, por ausência de previsão legal, não se pode admitir que a formalização de pedido de
restituição/compensação interrompa o prazo prescricional.

João ainda tem alguma possibilidade de resguardar seu direito?


SIM. Em tese, ele poderá, ainda, ajuizar ação anulatória buscando desconstituir a decisão administrativa
que negou o seu pedido. Esta ação é disciplinada pelo art. 169 do CTN:
Art. 169. Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão administrativa que denegar a
restituição.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 47


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Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrompido pelo início da ação judicial, recomeçando
o seu curso, por metade, a partir da data da intimação validamente feita ao representante judicial
da Fazenda Pública interessada.

Nesse sentido:
O contribuinte que formula pleito de compensação na via administrativa dispõe de dois anos, a contar da
ciência da resposta que o denega, para ingressar em juízo com a respectiva pretensão anulatória, nos
termos do art. 169 do CTN.
STJ. 1ª Turma. REsp 1180878/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 06/02/2018.

Assim, não se deve confundir o prazo prescricional do art. 168 do CTN, que versa sobre o direito que o
contribuinte possui de pleitear a restituição (repetição/compensação) diretamente na via judicial, daquela
contemplada no art. 169, que cuida do prazo extintivo de ação anulatória, na qual o contribuinte se insurge
contra decisão administrativa do Fisco.
A Súmula 625 versa apenas do prazo prescricional do art. 168 do CTN, não tratando sobre a ação anulatória
do art. 169.

O que quer dizer a parte final da súmula: “nem o da execução de título judicial contra a Fazenda
Pública”?
É o caso, por exemplo, em que o contribuinte teve reconhecido seu direito à restituição tributária por
meio de decisão judicial transitada em julgado.
Ex: a empresa “X” pagou determinado tributo; posteriormente ingressou com ação judicial pedindo o
reconhecimento de que ela não estava obrigada a pagar e que a exigência do Fisco foi indevida; o juízo acolhe
o pedido da contribuinte e há o trânsito em julgado; com o trânsito em julgado tem início o prazo para a
ação de repetição do indébito; se a empresa optar por pedir a restituição na via administrativa ou formular
pedido administrativo de compensação, deverá estar ciente de que esses pedidos não irão interromper o
prazo que ela possui para executar o título judicial contra a Fazenda Pública.
É sobre isso que fala a parte final da súmula.
Veja precedente do STJ no mesmo sentido:
(...) a ação de repetição do indébito tributário foi ajuizada após o transcurso do prazo de cinco anos, cujo
termo inicial coincide com a data do trânsito em julgado da ação mandamental que reconheceu a
inexigibilidade do imposto cobrado, de modo que configurada a prescrição.
II - O pedido administrativo de compensação constitui meio inidôneo para interromper a fluência da
prescrição para ajuizamento da respectiva ação de repetição. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.276.022/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 19/5/2015.

IMPOSTO DE RENDA
Súmula 627-STJ

Súmula 627-STJ: O contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da isenção do imposto de


renda, não se lhe exigindo a demonstração da contemporaneidade dos sintomas da doença
nem da recidiva da enfermidade.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

Isenção de imposto de renda sobre os proventos da aposentadoria para doentes graves

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 48


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O imposto de renda é regido pela Lei nº 7.713/88. Esta Lei prevê que as pessoas portadoras de neoplasia
maligna ou outras doenças graves e, que estejam na inatividade, não pagarão imposto de renda sobre os
rendimentos recebidos a título de aposentadoria, pensão ou reforma (art. 6º, XIV).
Em palavras mais simples: pessoas portadoras de doenças elencadas pela legislação não pagarão imposto
de renda sobre os rendimentos que receberem a título de aposentadoria, pensão ou reforma.
Para ter direito à isenção do imposto de renda é necessária a cumulação de dois requisitos pelo
contribuinte:
a) receber proventos de aposentadoria, pensão ou reforma; e
b) estar acometido de uma das doenças arroladas no dispositivo legal.
Veja a previsão legal:
Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos percebidos por pessoas
físicas:
XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os
percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental,
esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante,
cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave,
hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação
por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina
especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma;

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João, aposentado, estava apresentando problemas de saúde e foi internado em um hospital particular.
Fez diversos exames nos quais ficou constatado que ele está com neoplasia maligna (câncer).
Diante disso, ele requereu isenção do imposto de renda sobre os valores que ele recebe a título de
aposentadoria. Para tanto, ele juntou todos os laudos dos exames que realizou, assim como uma
declaração do médico do hospital.
A Receita Federal, contudo, indeferiu o pedido alegando que, para ter direito à isenção, seria indispensável
a apresentação de um laudo médico oficial.
Inconformado, João ingressou com ação judicial pedindo o reconhecimento de seu direito à isenção com
base nos inúmeros laudos médicos particulares que examinaram a sua situação e que atestaram a
existência da moléstia.

O juiz poderá acolher o pedido de João? O magistrado pode reconhecer o direito à isenção do Imposto
de Renda de que trata o art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 apenas com base em documentos médicos
particulares (sem um laudo médico oficial)?
SIM. A comprovação da moléstia grave para fins de isenção de imposto de renda não precisa ser
comprovada mediante laudo médico OFICIAL podendo o magistrado valer-se de outras provas produzidas.
Súmula 598-STJ: É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial
da isenção do Imposto de Renda, desde que o magistrado entenda suficientemente demonstrada a doença
grave por outros meios de prova.

Voltando ao exemplo de João: suponhamos que ele fez quimioterapia e outros tratamentos e ficou
aparentemente curado, não apresentando mais qualquer sintoma do câncer. Também não há qualquer
sinal de recidiva, ou seja, de reaparecimento da doença. Mesmo assim, João terá direito à isenção do
imposto?
SIM. Mesmo que a lesão tenha sido aparentemente curada e que o paciente não apresente sinais de
recidiva, o STJ entende que é devida a isenção do imposto de renda em favor dos inativos portadores de
moléstia grave. Isso porque o objetivo da isenção é diminuir o sacrifício do aposentado, aliviando os
encargos financeiros que ele ainda terá para fazer acompanhamento médico e continuar tomando as
medicações ministradas.
Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 49
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O portador de uma doença grave, como aquelas listadas no art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88, mesmo
aparentemente curado e assintomático, nunca mais poderá deixar de fazer acompanhamento médico
periódico, tendo, muitas vezes, que tomar medicações para o resto da vida. Além disso, há cuidados adicionais
com a saúde. Desse modo, as razões protetivas que justificaram a edição da norma ainda permanecem.

Em suma:
O contribuinte tem direito à concessão ou direito de manter (se já havia sido concedido) a isenção do
imposto de renda de que trata o art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 mesmo que atualmente
(contemporaneamente) ele não esteja mais apresentando sintomas da doença nem sinais de recidiva
(volta da enfermidade).

IPI
Não deve incidir IPI sobre a venda de produtos, na hipótese de roubo ou furto
da mercadoria antes da sua entrega ao comprador

Na hipótese em que ocorrer roubo/furto da mercadoria após a sua saída do estabelecimento


do fabricante não se configura o evento ensejador de incidência do IPI.
Não deve incidir IPI sobre a venda de produtos, na hipótese de roubo ou furto da mercadoria,
antes da sua entrega ao comprador. Isso porque, neste caso, como não foi concluída a operação
mercantil, não ficou configurado o fato gerador.
STJ. 1ª Seção. EREsp 734.403-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018 (Info 638).

IPI
IPI é a sigla para Imposto sobre Produtos Industrializados.
Trata-se de um tributo federal e que incide sobre a produção e a circulação de produtos industrializados.
O IPI foi instituído por meio da Lei nº 4.502/64.
Fato gerador do IPI
Segundo o art. 46 do CTN, o IPI possui três fatos geradores:
I - o desembaraço aduaneiro do produto industrializado, quando de procedência estrangeira;
II - a saída do produto industrializado do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial;
III - a arrematação do produto industrializado, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão.
Imagine agora a seguinte situação hipotética:
A “Souza Cruz”, indústria de tabaco, produziu 2 mil cigarros e os vendeu para o distribuidor “BB”.
O caminhão saiu da fábrica levando os cigarros que seriam entregues na distribuidora.
Ocorre que o veículo foi abordado por assaltantes armados que roubaram toda a carga.
Apesar disso, a Receita Federal fez o lançamento tributário cobrando o IPI referente aos 2 mil cigarros
produzidos.
A empresa ingressou, então, com ação ordinária pedindo a anulação do lançamento e,
consequentemente, do crédito tributário ao argumento de que não houve o fato gerador.
O pedido da indústria é acolhido pela jurisprudência do STJ?
SIM.
Na hipótese em que ocorrer roubo/furto da mercadoria após a sua saída do estabelecimento do
fabricante não se configura o evento ensejador de incidência do IPI.
Não deve incidir IPI sobre a venda de produtos, na hipótese de roubo ou furto da mercadoria, antes da
entrega ao comprador. Isso porque, neste caso, como não foi concluída a operação mercantil, não ficou
configurado o fato gerador.
STJ. 1ª Seção. EREsp 734.403-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018 (Info 638).

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 50


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Se ocorre o roubo ou furto da mercadoria após a sua saída do estabelecimento do fabricante, a operação
mercantil não se concretiza, não havendo proveito econômico para o fabricante sobre o qual deve incidir
o tributo. Logo, não se configura o fato gerador do IPI.
Assim, só cabe o IPI se o produto industrializado sai do estabelecimento do fabricante e se há a sua entrega
ao adquirente, com a transferência da propriedade do bem. Nesse momento, a operação passa a ser
dotada de relevância econômica capaz de merecer tributação.

(...) 4. O fato gerador do IPI não é a saída do produto do estabelecimento industrial ou a ele equiparado.
Esse é apenas o momento temporal da hipótese de incidência, cujo aspecto material consiste na realização
de operações que transfiram a propriedade ou posse de produtos industrializados.
5. Não se pode confundir o momento temporal do fato gerador com o próprio fato gerador, que consiste
na realização de operações que transfiram a propriedade ou posse de produtos industrializados.
6. A antecipação do elemento temporal criada por ficção legal não torna definitiva a ocorrência do fato
gerador, que é presumida e pode ser contraposta em caso de furto, roubo, perecimento da coisa ou
desistência do comprador.
7. A obrigação tributária nascida com a saída do produto do estabelecimento industrial para entrega futura
ao comprador, portanto, com tradição diferida no tempo, está sujeita a condição resolutória, não sendo
definitiva nos termos dos arts. 116, II, e 117 do CTN. Não há razão para tratar, de forma diferenciada, a
desistência do comprador e o furto ou o roubo da mercadoria, dado que em todos eles a realização do
negócio jurídico base foi frustrada.
(...)
10. O furto de mercadorias antes da entrega ao comprador faz desaparecer a grandeza econômica sobre
a qual deve incidir o tributo. Em outras palavras, não se concretizando o negócio jurídico, por furto ou
roubo da mercadoria negociada, já não se avista o elemento signo de capacidade contributiva, de modo
que o ônus tributário será absorvido não pela riqueza advinda da própria operação tributada, mas pelo
patrimônio e por rendas outras do contribuinte que não se relacionam especificamente com o negócio
jurídico que deu causa à tributação, em clara ofensa ao princípio do não confisco. (...)
STJ. 2ª Turma. REsp 1203236/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 21/06/2012.

ISS
Incide ISS sobre serviço de proteção ao crédito
oferecido por sindicato ou CDL aos seus associados?

Se uma entidade sem fins lucrativos, como é o caso do sindicato ou da câmara de dirigentes
lojistas, oferece serviço de consulta a cadastros de proteção ao crédito em favor de seus
associados, deverá pagar ISS?
1ª Turma: SIM
O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN - incide sobre os serviços de proteção
ao crédito, ainda que prestados por entidade sindical a seus associados.
STJ. 1ª Turma. AREsp 654.401-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 04/10/2018 (Info 638).

2ª Turma: NÃO
A Câmara de Dirigentes Lojistas é uma associação cujos serviços destinam-se a atender seus
próprios sócios, os diretores de lojas, sem objetivo de lucro, mas visando a realização de seus
objetivos, tal como previsto em seu estatuto.
Assim, como o CDL realiza suas atividades sem fins lucrativos não está sujeito à incidência do ISS.
STJ. 2ª Turma. REsp 1338554/RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 07/05/2015.

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 51


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ISSQN
O ISSQN significa Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza.
Algumas vezes, você encontrará apenas a sigla ISS. É a mesma coisa.
Trata-se de um tributo de competência dos Municípios.
Em âmbito nacional, o ISSQN é disciplinado pela LC 116/2003, que estabelece suas normas gerais. Vale
ressaltar, no entanto, que cada Município, para cobrar este imposto, precisa editar uma lei ordinária
municipal tratando sobre o assunto. Esta lei local, obviamente, não pode contrariar a LC 116/2003 e nem
prever serviços que não estejam expressos na lei federal.

Fato gerador
O ISSQN incide sobre a prestação dos serviços listados no anexo da LC 116/2003.
Confira o texto constitucional:
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei
complementar.
(...)
§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei complementar:
I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas;
II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior;
III - regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e
revogados.

Veja agora o que diz o art. 1º da LC 116/2003:


Art. 1º O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do
Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços constantes da lista anexa, ainda
que esses não se constituam como atividade preponderante do prestador.

Exemplos: quando o médico atende o paciente em uma consulta, ele presta um serviço, sendo isso fato
gerador do ISSQN; quando o cabeleireiro faz uma escova progressiva na cliente, ele também presta um
serviço e deverá pagar ISSQN.
Todos os serviços que estão sujeitos ao pagamento de ISSQN encontram-se previstos na lista anexa à LC
116/2003. Se não estiver nesta lista, não é fato gerador deste imposto. Vale ressaltar que esta lista é
taxativa (exaustiva).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


O Sindicato dos Comerciantes de Santos oferece aos lojistas da cidade, mediante pagamento, serviços de
proteção ao crédito.
Funciona assim: o comerciante/lojista pode pedir à entidade sindical informações sobre a situação
creditícia dos clientes que tenham anteriormente comprado mercadorias de seus associados. Além disso,
o sindicato faz também a cobrança dos consumidores que estão devendo os lojistas, enviando cartas,
telefonando etc. Em contrapartida, os associados pagam um valor para o sindicato.
O Município entendeu que esse serviço é fato gerador de ISS e exigiu da entidade sindical o pagamento
do imposto.
O sindicato questionou a cobrança alegando que não tem objetivo de lucro e que os valores recebidos são
apenas para ressarcir as despesas.

Incide ou não ISS neste caso? Incide ISS sobre serviço de consulta a cadastros de proteção ao crédito
prestado por sindicato ou por câmara de dirigentes lojistas, entidades sem fins lucrativos, em favor de
seus associados?

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 52


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O STJ está dividido:


1ª Turma: SIM
O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN - incide sobre os serviços de proteção ao
crédito, ainda que prestados por entidade sindical a seus associados.
STJ. 1ª Turma. AREsp 654.401-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 04/10/2018 (Info 638).

2ª Turma: NÃO
A Câmara de Dirigentes Lojistas é uma associação cujos serviços destinam-se a atender seus próprios
sócios, os diretores de lojas, sem objetivo de lucro, mas visando a realização de seus objetivos, tal como
previsto em seu estatuto.
Assim, como o CDL realiza suas atividades sem fins lucrativos não está sujeito à incidência do ISS.
STJ. 2ª Turma. REsp 1338554/RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 07/05/2015.

IPTU
Súmula 626-STJ

Súmula 626-STJ: A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela lei local
como urbanizável ou de expansão urbana não está condicionada à existência dos
melhoramentos elencados no art. 32, § 1º, do CTN.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

IPTU
IPTU significa imposto sobre propriedade territorial urbana de bens imóveis, sendo tributo de
competência dos Municípios.
O IPTU está previsto no art. 156, I, da CF/88:
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
I - propriedade predial e territorial urbana;

Normas que regem o IPTU


• CF/88 (arts. 156, I, e § 1º; art. 182, § 4º, II);
• CTN (arts. 32 a 34);
• Estatuto da Cidade - Lei federal nº 10.257/2001 (art. 7º);
• Lei municipal que institua o imposto (verificar a lei local).

Características
Trata-se de um imposto:
• Real: incide sobre uma coisa (propriedade imobiliária urbana);
• Direto: o próprio contribuinte é quem suporta o encargo financeiro da tributação (não há repercussão
econômica);
• Fiscal: a função precípua deste imposto é a arrecadação (imposto fiscal). Vale ressaltar, no entanto, que,
em alguns casos, ele poderá assumir também um caráter extrafiscal (forma de estimular o cumprimento
da função social da propriedade);
• Progressivo: pode ser progressivo no tempo caso a propriedade não esteja cumprindo sua função social
(art. 182, § 4º), além de poder ser progressivo em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I);

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 53


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Fato gerador
- de bem imóvel
• propriedade
O fato gerador - por natureza ou
• domínio útil
do IPTU é a... - por acessão física
• posse
- localizado na zona urbana.

IPTU x ITR
O IPTU incide sobre imóveis urbanos.
O ITR recai sobre imóveis rurais.
Assim, em regra, o ITR incide apenas sobre imóveis rurais. Se o imóvel for urbano, o imposto devido é o IPTU.
O conceito de imóvel rural é dado por exclusão. O CTN, em seu art. 32, §§ 1º e 2º, explica em que consiste
o imóvel urbano para fins de incidência do IPTU. Se o imóvel não se enquadrar em tais critérios, será
considerado rural.

Por que se falou “em regra”? Existe alguma exceção? Existe hipótese em que o ITR incidirá sobre imóvel
localizado em zona urbana?
SIM. Segundo o STJ, incide o ITR (e não o IPTU) sobre imóveis comprovadamente utilizados para
exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial, ainda que localizados em áreas
consideradas urbanas pela legislação municipal. Nesse sentido:
Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que
comprovadamente utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial.
STJ. 1ª Seção. REsp 1112646/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/08/2009.

O fundamento para essa decisão do STJ está no art. 15 do DL 57/66:


Art. 15. O disposto no art. 32 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966(artigo do CTN que fala
sobre o fato gerador do IPTU), não abrange o imóvel de que, comprovadamente, seja utilizado em
exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial, incidindo assim, sobre o mesmo,
o ITR e demais tributos com o mesmo cobrados.

O que é um imóvel urbano, para fins de incidência do IPTU?


Imóvel urbano, para fins de incidência de IPTU, é aquele localizado na zona urbana.
O CTN, nos §§ 1º e 2º do art. 32, traz os critérios para essa definição. Ele diz, basicamente, o seguinte:
• A Lei municipal irá definir o que é a zona urbana daquele respectivo Município.
• No entanto, a lei municipal só poderá incluir, como sendo zona urbana, as áreas da cidade que tiverem,
no mínimo, dois dos seguintes “melhoramentos” construídos ou mantidos pelo Poder Público:
a) meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
b) abastecimento de água;
c) sistema de esgotos sanitários;
d) rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar;
e) escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel
considerado.

• Repetindo: para que o Município preveja, na lei, que determinado bairro, comunidade, loteamento etc.,
está incluído na “zona urbana”, é necessário que nesse local existam dois ou mais dos melhoramentos
acima listados e que estão exigidos no § 1º do art. 32 do CTN.
• A lei municipal poderá prever, no entanto, um outro conceito, qual seja, o de área “urbanizável ou de
expansão urbana”.
• Segundo o § 2º do art. 32 do CTN, áreas urbanizáveis (ou de expansão urbana) são aquelas que abrangem
loteamentos aprovados pelos órgãos competentes e que são destinados à habitação, à indústria ou ao

Informativo 638-STJ (19/12/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 54


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comércio, mas que não se enquadram na definição do § 1º do art. 32. Para você entender melhor, é como
se fossem áreas para onde a “cidade” está crescendo (expandindo) e que, por estar no início da expansão,
ainda não há tantos melhoramentos feitos pelo Poder Público. Apesar disso, já pode cobrar IPTU, até para
ter recursos para conseguir fazer os referidos melhoramentos.

IPTU Para ser zona urbana, a Área urbanizável ou de Área urbanizável ou de


Recai sobre imóveis região da cidade deve ter, expansão urbana: é uma expansão urbana:
localizados na: no mínimo, 2 dos área que, mesmo sem ter loteamentos aprovados
melhoramentos previstos os 2 melhoramentos, pelos órgãos competentes
ZONA URBANA no § 1º do art. 32 do CTN. pode ser incluída na e que são destinados à
esfera de tributação do habitação, à indústria ou
A zona urbana é definida IPTU. ao comércio.
por lei municipal.

Desse modo, o IPTU incide sobre:


1) Imóveis localizados na 2) Imóveis localizados na
zona urbana área urbanizável ou de expansão urbana

Locais onde possuem, no mínimo, 2 dos São loteamentos aprovados pelos órgãos
melhoramentos do § 1º do art. 32 do CTN. competentes e destinados à habitação, à indústria
ou ao comércio.
Art. 32 (...) Não possuem os 2 dos melhoramentos do § 1º,
§ 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se mas mesmo assim irão ser objeto de IPTU, desde
como zona urbana a definida em lei municipal; que previstas na lei municipal. Isso porque são
observado o requisito mínimo da existência de áreas que o CTN autorizou que a lei municipal
melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois) considerasse como urbanas, apesar de não terem
dos incisos seguintes, construídos ou mantidos os melhoramentos.
pelo Poder Público:
I - meio-fio ou calçamento, com canalização de Art. 32 (...)
águas pluviais; § 2º A lei municipal pode considerar urbanas as
II - abastecimento de água; áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana,
III - sistema de esgotos sanitários; constantes de loteamentos aprovados pelos
IV - rede de iluminação pública, com ou sem órgãos competentes, destinados à habitação, à
posteamento para distribuição domiciliar; indústria ou ao comércio, mesmo que localizados
V - escola primária ou posto de saúde a uma fora das zonas definidas nos termos do parágrafo
distância máxima de 3 (três) quilômetros do anterior.
imóvel considerado.

Assim, o que diz a súmula:


Pode incidir IPTU sobre imóvel situado em área urbanizável ou de expansão urbana mesmo que ainda não
existam os melhoramentos previstos no art. 32, § 1º do CTN.
O exemplo típico são os sítios de recreio:
É legal a cobrança do IPTU dos sítios de recreio, localizados em zona de expansão urbana definida por
legislação municipal, mesmo que não contenha os melhoramentos previstos no art. 31, § 1º, do CTN.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 783.794/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/12/2009.

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