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NOÇÕES PRELIMINARES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

1. NOÇÕES GERAIS
 O que se entende por Estado?
o Conceito  instituição organizada política, social e juridicamente, dotada de personalidade
jurídica de direito público, formada por um território, uma comunidade humana e um
governo soberano, não subordinado juridicamente a qualquer outro poder, externo ou
interno
 Governo  elemento formador do Estado,
 Sentido subjetivo cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução
das atividades estatais
 Sentido objetivo ou material  atividade diretiva do Estado, confundindo-
se com o complexo de suas funções básicas.
o Estado de Direito  concepção de Estado na qual a Administração Pública se submete ao
ordenamento jurídico posto, baseado na tripartição dos poderes, na universalidade da
jurisdição (controle da validade dos atos estatais) e na generalização do princípio da
legalidade
o Poderes do Estado  segmentos estruturais em que se divide o poder geral e abstrato
decorrente da soberania, dotados de funções típicas e atípicas
o Quais são os Poderes do Estado?
 Poder Legislativo  função típica de criação normativa e de fiscalização
 Poder Judiciário  função típica de solucionar definitivamente conflitos de
interesses mediante a provocação do interessado
 Poder Executivo  função administrativa típica, consistente na defesa concreta dos
interesses públicos, de ofício ou a requerimento, atuando dentro dos limites da lei.
o  Os Poderes do Estado também podem exercer funções atípicas:
  As funções atípicas de cada poder devem estar previstas na Constituição
  As funções atípicas devem ser interpretadas restritivamente, dado o seu caráter
excepcional
o Celso Antônio Bandeira de Mello  Função Política ou de Governo, abrangendo os atos
jurídicos do Estado que não se encaixam nas funções anteriores.
 O que se entende por Administração Pública?
o Sentido formal (orgânico ou subjetivo)  designa conjunto de órgãos e agentes estatais no
exercício da função administrativa, independentemente do poder a que pertençam
o Sentido objetivo-material  função administrativa, devendo ser entendida como a atividade
administrativa exercida pelo Estado para a defesa concreta do interesse público.
 Função externa (extroversa)  atividade-fim da Administração Pública, visando a
atender interesses públicos primários em benefício diretos dos cidadãos.
 Função interna (introversa)  atividade-meio, atendendo às necessidades da
coletividade de forma mediata
o Critério objetivo-formal  Administração Pública é analisada a partir do regime jurídico
adotado
o Quais são as atividades abrangidas pela Administração Pública?
 Poder de Polícia  limitação e condicionamento pelo Estado da liberdade e
propriedade privadas em favor do interesse público
 Função prestacional  prestação de serviços públicos.
 Função regulatória (fomento)  incentivo a setores sociais específicos em atividades
exercidas por particulares, estimulando o desenvolvimento da ordem social e
econômica
 Função de controle  poder-dever atribuído ao Estado de verificar a correção e
legalidade da atuação exercida pelos seus próprios órgãos.
o Qual é a relação órgão/pessoa?
 Teoria do mandato  agentes seriam mandatários do Estado (teoria do mandato)
  Estado é despido de vontade, não podendo outorgar mandato
 Teoria da representação  agentes são representantes do Estado (teoria da
representação)
  Estado estaria sendo considerado uma pessoa incapaz
  Se o representante exorbitasse os poderes concedidos, não seria
possível responsabilizar o Estado
 Teoria do órgão (Otto Von Gierke)  vontade da pessoa jurídica deve ser atribuída
aos órgãos que a compõem
 Princípio da imputação volitiva  vontade do órgão público é imputada à
pessoa jurídica a cuja estrutura ele pertence
o Relação externa  pessoa jurídica e outras pessoas
o Relação interna  órgão e a pessoa jurídica englobante
 Há 03 teorias de caracterização do órgão:
o Teoria subjetiva  órgãos públicos são o próprio agente público
o Teoria objetiva  órgão público é a unidade funcional da
organização administrativa
o Teoria eclética  círculo de competência e o agente público
exercente
 O que se entende por Direito Administrativo?
o Direito Público  objeto principal é a regulação dos interesses da sociedade como um todo,
compondo-se de normas que visam a disciplinar as relações jurídicas em que o Estado
aparece como parte
  Desigualdade nas relações jurídicas por ele regidas (verticalidade)
  Normas imperativas
o Direito Privado  objeto principal é a regulação dos interesses dos particulares
  Igualdade jurídica entre as partes (horizontalidade)
  Normas supletivas, que podem ser afastadas ou modificadas por acordo das
partes interessadas.
o Há 07 critérios para definição do Direito Administrativo:
 Critério legalista (escola exegética)  Direito Administrativo se resume no conjunto
da legislação administrativa existente no país.
 Critério do Poder Executivo  Direito Administrativo corresponde à atuação do
Poder Executivo
 Critério das relações jurídicas  Direito Administrativo é disciplina das relações
jurídicas entre a administração pública e o particular.
 Critério do serviço público (Escola do Serviço Público, Leon Duguit)  Direito
Administrativo tem por objeto a disciplina jurídica dos serviços públicos
 Critério teleológico ou finalístico  Direito Administrativo deve ser conceituado
como sistema de princípios jurídicos que regula as atividades do Estado para
cumprimento de seus fins.
 Critério negativista  Direito Administrativo deve ser conceituado por exclusão,
regulando as funções do Estado que não são legislativas ou jurisdicionais.
 Critério da distinção entre atividade jurídica e social do Estado  distinção entre a
atividade jurídica não contenciosa do Estado e a atividade de cunho social, por meio
da qual estrutura seus órgãos e atividades em geral.
o Conceito moderno  ramo do Direito Público consistente em um conjunto harmônico de
regras e princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas
tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado".
  O objeto do Direito Administrativo é a função administrativa, ainda que ela seja
exercida pelo Poder Legislativo ou pelo Poder Judiciário, de forma atípica.
 Teleologia  realizar de forma concreta, direta e imediata os fins desejados pelo
Estado
o Ciência da Administração  ciência de cunho social consistente no estudo de técnicas e
estratégias para melhor planejar, executar e organizar a gestão governamental, definindo
técnicas de gestão.
 O que se entende por regime jurídico administrativo?
o Conceito  conjunto harmônico de princípios e regra que definem a lógica da atuação da
Administração Pública e dos agentes administrativos em geral, baseando-se nos princípios da
supremacia do interesse público e da indisponibilidade do interesse público, definindo
prerrogativas a serem estipuladas ao Estado e limitações impostas ao ente estatal na
persecução do interesse público
o O que se entende pela constitucionalização do Direito Administrativo?
 Conceito  tendência modernização do conceito de legalidade no Direito
Administrativo (e no Direito Público em geral), introduzindo uma parametricidade
que contempla todos os princípios e regras constitucionais (conceito de
juridicidade), ensejando uma ampliação do controle judicial sobre os atos
administrativos, principalmente no que diz respeito à atuação voltada para políticas
públicas
  Há uma redução do âmbito de discricionariedade do legislador
 Sentido restrito de legalidade  princípio da reserva legal  determinadas matérias
da atuação administrativa são reservadas à lei.
 Sentido amplo de legalidade  abrange não somente a lei formalmente
considerada, mas também os atos normativos emanados do Poder Executivo, além
dos princípios expressos e implícitos no texto constitucional.
 Como deve ocorrer a interpretação do Direito Administrativo?
o  A interpretação das regras do Direito Administrativo está sujeita aos princípios
hermenêuticos gerais
o Hely Lopes Meirelles  03 pressupostos que devem ser observados na interpretação de
normas de Direito Administrativo
  Desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados, em virtude da
supremacia do interesse público sobre o interesse privado
  Presunção de legitimidade dos atos da administração
  Necessidade de poderes discricionários para a Administração atender ao
interesse
 público, haja vista o fato de que o administrador público não atua como mero
interpretador da lei
o Quais são os sistemas de controle da atuação administrativa?
 Sistema francês (sistema do contencioso administrativo)  sistema da dualidade de
jurisdição  proíbe o conhecimento pelo Poder Judiciário, de atos ilícitos praticados
pela Administração Pública, ficando esses atos sujeitos à jurisdição especial do
contencioso administrativo
 Jurisdição administrativa  Tribunais de natureza administrativa, com
plena jurisdição em matéria administrativa
 Jurisdição comum  formada pelos órgãos do Poder Judiciário, com
competência para resolver os demais litígios que não envolvam atuação da
Administração Pública.
  Analisa a separação de poderes de forma absoluta
 Sistema inglês (sistema de jurisdição única)  aquele no qual todos os litígios
podem ser levados à justiça comum
  O sistema de unicidade de jurisdição não obsta a realização do controle
de legalidade dos atos administrativos pela própria Administração Pública.
o Qual é o sistema adotado no Brasil?
  O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema inglês, conforme o princípio
da inafastabilidade da jurisdição ou da unicidade
  A formação de coisa julgada administrativa não impede ou obstaculiza a decisão
judicial acerca da matéria, desde que seja provocado a atuar.
  A possibilidade de recorrer ao judiciário não depende do esgotamento das
instâncias administrativas.
 Exceção  ações relativas à disciplina e às competições desportivas após
esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva

2. REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO


 Qual é o conteúdo do regime jurídico administrativo?
o  A atuação administrativa deve se orientar pela busca do interesse público
o Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o privado  os interesses da sociedade
devem prevalecer diante das necessidades específicas dos indivíduos, estabelecendo
prerrogativas especiais ao ente público na persecução do interesse coletivo
  O interesse público primário é composto pelas necessidades da coletividade
  O interesse público secundário abrange as necessidades do Estado como sujeito
de direito.
o Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público  princípio que define os limites da
atuação administrativa, decorrente da impossibilidade de renúncia ao interesse público
  A atuação do administrador público configura um poder-dever, duplamente
condicionado pelas limitações e prerrogativas do regime jurídico
 Quais são as críticas ao princípio da supremacia do interesse público?
o  O giro pragmático estabelece o foco eficiência e solução de problemas reais, se
distanciando de uma atuação meramente burocrática
o  O giro democrático-constitucional coloca os direitos fundamentais como foco das
políticas públicas, transformando Administração Pública em uma Administração Pública
cidadã.
  Em uma sociedade plural e complexa, não se pode destacar apenas um interesse
público, havendo uma coexistência de interesses igualmente relevantes e
justificados
  O interesse público não pode ser observado sob prisma exclusivo do princípio
majoritário, exigindo-se uma ressignificação constitucional a partir do sistema de
direitos fundamentais
 Humbert Ávila  a estrutura principiológica da supremacia do interesse público
enseja a necessidade de sopesamento no caso concreto, de modo que haveria a
primazia estabelecida “a priori e não ex post”, em favor do interesse público
o Celso Antônio Bandeira de Mello  supremacia do interesse público não é absoluta,
conferindo apenas prerrogativas ao ente público
  A supremacia do interesse público não está acima de direitos e garantias
fundamentais, principalmente aqueles que são oponíveis por parte do indivíduo em
face do Estado da sociedade.

3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPRESSOS


 O que se entende pelo Princípio da Legalidade?
o Conceito  princípio segundo o qual as limitações à atividade individual devem ser
decorrência de previsão legal, ensejando uma subordinação jurídica da atividade
administrativa
 Maria Sylvia Zanella Di Pietro  bipolaridade do direito administrativo  dicotomia
entre a liberdade do indivíduo (princípio da legalidade) e autoridade da
administração (supremacia do interesse público)
o Princípio da legalidade na esfera privada (legalidade-compatibilidade)  tudo que não está
proibido está juridicamente permitido  princípio da não contradição à lei.
o Princípio da legalidade na esfera pública (legalidade-conformidade)  atuação administrativa
deve encontrar subsídio na lei  tudo que não está permitido está juridicamente proibido
  O Princípio Legalidade não exclui a atuação discricionária do agente público,
desde que exercida nos limites legais e com base proporcionalidade e razoabilidade
de conduta
o Qual é a abrangência do princípio da legalidade?
  Abrange todas as espécies normativas previstas no artigo 59 da Constituição
Federal
  A Medida Provisória tem força de lei, podendo ser analisada como lei em sentido
material, haja vista seu poder coercitivo de inovação no ordenamento jurídico
o Não se confunde a legalidade com o princípio da reserva legal, que consiste na atribuição à
lei (sentido estrito) da competência para regulamentar determinado tema
o Quais são as exceções ao princípio da legalidade?
  O Estado de Defesa e o Estado de Sítio podem ser entendidos como atenuações
do princípio da legalidade, mas se trata de uma excepcionalidade
constitucionalmente admitida e regrada, sujeita ao controle político e judicial
 O que se entende pelo Princípio da Impessoalidade?
o Conceito  princípio segundo o qual a atuação do agente público deve-se pautar pela busca
dos interesses da coletividade, não objetivando o benefício ou prejuízo de sujeitos específicos
o 1º aspecto: Princípio da isonomia  Administração deve tratar a todos sem favoritismos ou
perseguições
o 2º aspecto: Teoria do órgão  atuação do agente público configura a manifestação de
vontade órgão que ele representa (teoria da imputação volitiva),
o 3º aspecto  impossibilidade de publicidade que configure promoção pessoal
 Artigo 37, §1 °, da Constituição Federal  A publicidade dos atos, programas
 obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
 deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social
 dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens
 que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores
públicos".
 Essa norma pode ser mitigada por legislação infraconstitucional?
 Está em desconformidade com a Constituição Federal a previsão contida na
Lei Orgânica do Distrito Federal que autoriza que cada Poder defina, por
norma interna, as hipóteses pelas quais a divulgação de ato, programa, obra
ou serviço públicos não constituirá promoção pessoal. Essa delegação
conferida viola o § 1º do art. 37 da CF/88, que não admite flexibilização por
norma infraconstitucional ou regulamentar. STF. Plenário. ADI 6522/DF, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 14/5/2021 (Info 1017).
 É de se conferir interpretação conforme à Constituição ao § 6º do art. 22 da
Lei Orgânica do Distrito Federal para que a divulgação de atos e iniciativas
de parlamentares seja tida como legítima apenas quando efetuada nos
ambientes de divulgação do mandatário ou do partido político, não se
havendo de confundi-la com a publicidade do órgão público ou entidade.
STF. Plenário. ADI 6522/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 14/5/2021
(Info 1017).
o Princípio da intranscendência  princípio que excepcionaliza a ideia de impessoalidade,
inibindo a aplicação de sanções à Administração Pública por ato de gestão anterior à
assunção dos deveres públicos ou por irregularidade advinda do desempenho das funções
do Poder Judiciário ou do Poder Legislativo
 Súmula 615-STJ  Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em
cadastros restritivos fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na
gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à reparação dos danos
eventualmente cometidos
 A imposição de sanções ao Executivo estadual em virtude de pendências dos
Poderes Legislativo e Judiciário locais constitui violação do princípio da
intranscendência, na medida em que o Governo do Estado não tem competência
para intervir na esfera orgânica daquelas instituições, que dispõem de plena
autonomia institucional a elas outorgadas por efeito de expressa determinação
constitucional. STF. Plenário. ACO 2995 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 23/02/2018.
 A imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de
pendências de órgãos dotados de autonomia institucional e orgânico-
administrativa, tais como o Ministério Público estadual, constitui violação
do princípio da intranscendência, na medida em que o Governo do Estado
não tem competência para intervir na esfera orgânica dessa instituição
autônoma. O Poder Executivo não pode ser impedido de contratar
operações de crédito em razão do descumprimento dos limites setoriais de
despesa com pessoal por outros poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e
23, § 3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO 3072, Rel.
Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).
 É possível ao Município obter certidão positiva de débitos com efeito de
negativa quando a Câmara Municipal do mesmo ente possui débitos com
a Fazenda Nacional, tendo em conta o princípio da intranscendência
subjetiva das sanções financeiras. STF. Plenário. RE 770149, Rel. Min. Marco
Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 05/08/2020
(Repercussão Geral – tema 743) (Info 993).
 Como deve ocorrer a inscrição em eventual cadastro?
 A inscrição de Estado-membro nos cadastros federais de inadimplência
antes da instauração e do julgamento de tomada de contas especial viola o
devido processo legal. STF. Plenário. ACO 2910 AgR, Rel. Roberto Barroso,
julgado em 29/06/2020 (Info 988 – clipping).
 O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à
ampla defesa e ao contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição
pode ter, além de motivação meramente financeira, razões políticas.
Assim, ao poder central (União) é possível suspender imediatamente o
repasse de verbas ou a execução de convênios, mas o cadastro deve ser
feito nos termos da lei, ou seja, mediante a verificação da veracidade das
irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro tem consequências,
como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas das receitas
voluntárias. A tomada de contas especial, procedimento por meio do qual
se alcança o reconhecimento definitivo das irregularidades, com a devida
observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras
definidas em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida
e certa, e a decisão tem eficácia de título executivo extrajudicial. Desse
modo, o STF determinou que a União se abstenha de proceder à inscrição
do Estado-membro no SIAFI, no CADIN e no CAUC, até o exaurimento da
Prestação de Contas Especial, observados os princípios constitucionais da
ampla defesa e do contraditório. STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
11/9/2019 (Info 951).
 Quem julga tais demandas? Por quê?
 O Supremo Tribunal Federal é originariamente competente para processar
e julgar as causas que revelem potencial conflito federativo entre a União e
os Estados-membros (art. 102, I, ‘f’, da CRFB/88), como nos casos em que se
discute a inscrição destes nos cadastros federais de irregularidades ou
inadimplência. A União é parte legítima para figurar no polo passivo das
ações em que Estado-membro impugne inscrição em cadastros federais de
inadimplentes e/ou de restrição de crédito. STF. Plenário. ACO 2764 AgR,
Relator p/ Acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 16/10/2017.
 A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que
Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores
e/ou de restrição de crédito. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo
Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).
o Quando é vedada a inscrição?
 É indevida a inscrição do Estado-membro nos cadastros desabonadores em
decorrência de pendências administrativas relativas a débitos já submetidos a
pagamento por precatório. Isso porque a CF/88 já previu que, em caso de
descumprimento do pagamento do precatório, existe a possibilidade de intervenção
federal no ente inadimplente. Logo, é incompatível com o postulado da
razoabilidade onerar duplamente o Estado-membro, tanto com a possibilidade de
intervenção federal quanto com a sua inscrição em cadastros desabonadores. STF.
Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 –
clipping).
 O que se entende pelo Princípio da Moralidade?
o Conceito  princípio segundo o qual a atuação administrativa deve obedecer a padrões
adequados de probidade de conduta
  A obrigatoriedade de atuação conforme padrões éticos de conduta configura uma
moralidade jurídica (moralidade quanto aos fins ou moralidade fechada), não se
confundindo com a moral social
  A "moralidade social" procura fazer uma diferenciação entre o bem e o mal
  A moralidade jurídica está ligada ao conceito de atuação que vise alcançar o bem
estar de toda a coletividade
o  A atuação em desconformidade aos padrões de moralidade enseja uma violação ao
princípio da legalidade, autorizando o controle judicial dos atos administrativos
o Aspecto do princípio da moralidade  vedação ao nepotismo
 Súmula vinculante 13-STF  A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em
linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança,
ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas viola a Constituição
Federal.
 Nepotismo cruzado (nepotismo transverso)  nepotismo mediante designações
recíprocas
o A regra abrange os cargos de provimento efetivo?
 A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado
ao servidor público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até
segundo grau civil”. Foi proposta uma ADI contra esta norma. O STF decidiu que
essa regra é... constitucional para os cargos de provimento em comissão, função
gratificada, cargos de direção e assessoramento; mas não pode ser aplicada para
servidores de provimento efetivo que passaram em concurso público. STF. Plenário.
ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 20/5/2015 (Info 786).
o Exige-se influência hierárquica sobre a nomeação?
 SIM. Não há nepotismo na nomeação de servidor para ocupar o cargo de assessor
de controle externo do Tribunal de Contas mesmo que seu tio (parente em linha
colateral de 3º grau) já exerça o cargo de assessor-chefe de gabinete de
determinado Conselheiro, especialmente pelo fato de que o cargo do referido tio
não tem qualquer poder legal de nomeação do sobrinho. STF. 2ª Turma. Rcl
18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 23/2/2016 (Info 815).
o A regra se aplica aos cargos de natureza política?
 O STF tem afastado a aplicação da SV 13 a cargos públicos de natureza política, como
são os cargos de Secretário Estadual e Municipal. Mesmo em caso de cargos
políticos, será possível considerar a nomeação indevida nas hipóteses de: nepotismo
cruzado; fraude à lei e inequívoca falta de razoabilidade da indicação, por
manifesta ausência de qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado.
STF. 1ª Turma. Rcl 29033 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/9/2019
(Info 952).
 O STF tem afastado a aplicação da SV 13 a cargos públicos de natureza política, como
são os cargos de Secretário Estadual e Municipal. Mesmo em caso de cargos
políticos, será possível considerar a nomeação indevida nas hipóteses de:
 • nepotismo cruzado;
 • fraude à lei e
 • inequívoca falta de razoabilidade da indicação, por manifesta ausência de
qualificação técnica ou por inidoneidade moral do nomeado.
 STF. 1ª Turma. Rcl 29033 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/9/2019
(Info 952).
o A contratação, por agente político, de parentes para cargos em comissão ocorrida antes da
Súmula Vinculante 13 configura ato de improbidade administrativa?
 1ª corrente  NÃO
 Não configura improbidade administrativa a contratação, por agente
político, de parentes e afins para cargos em comissão ocorrida em data
anterior à lei ou ao ato administrativo do respectivo ente federado que a
proibisse e à vigência da Súmula Vinculante 13 do STF. STJ. 1ª Turma. REsp
1.193.248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 24/4/2014
(Info 540).
 2ª corrente  SIM.
 A prática de nepotismo configura grave ofensa aos princípios da
administração pública, em especial aos princípios da moralidade e da
isonomia, enquadrando-se, dessa maneira, no art. 11 da Lei nº 8.429/92.
A nomeação de parentes para ocupar cargos em comissão, ainda que
ocorrida antes da publicação da Súmula vinculante 13, constitui ato de
improbidade administrativa, que atenta contra os princípios da
administração pública, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.429/92, sendo
despicienda a existência de regra explícita de qualquer natureza acerca da
proibição. STJ. 2ª Turma. REsp 1643293/MG, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 28/03/2017.
o A lei estadual pode prever exceções ao nepotismo?
 É inconstitucional lei estadual que excepciona a vedação da prática do nepotismo,
permitindo que sejam nomeados para cargos em comissão ou funções gratificadas
de até dois parentes das autoridades estaduais, além do cônjuge do Governador.
STF. Plenário. ADI 3745/GO, rel. Min. Dias Toffoli, 15/5/2013 (Info 706).
 O que se entende pelo princípio da publicidade?
o Conceito  princípio segundo o qual os atos praticados pela Administração devem ser
públicos, salvo quando o sigilo for imprescindível à segurança da sociedade ou do Estado
 O Princípio da publicidade administrativa consiste no dever de atuação da
Administração Pública pautada na transparência e clareza, bem como na
divulgação dos atos para a sociedade, a fim de que esta possa estar ciente das
atividades administrativas e possa controlar as ações do Poder Público.
 A partir de seu conceito, é possível extrair alguns subprincípios, quais sejam:
princípio da transparência e da divulgação oficial. O primeiro consiste na obrigação
de a Administração atuar com clareza e publicidade, no sentido de não praticar
condutas ocultas. Já o segundo consiste na divulgação das atividades em meio
oficial previsto no ordenamento ou definido pela prática administrativa.
 O princípio da publicidade tem como objetivos: externar a vontade da Administração
Pública, divulgando seu conteúdo para conhecimento público; presumir o
conhecimento do ato pelos interessados e consequentemente impedir a alegação
de desconhecimento; tornar exigível o conteúdo do ato; desencadear a produção
de efeitos do ato administrativo; dar início ao prazo para interposição de recursos;
indicar a fluência dos prazos de prescrição e decadência; permitir o controle de
legalidade do comportamento.
 Conforme a corrente majoritária, a natureza jurídica da publicação dos atos
administrativos gerais seria uma condição de eficácia do ato, estando, pois, no
plano da eficácia, conforme teoria de Pontes de Miranda.
 A doutrina cita três exceções ao princípio da publicidade, sendo que nestes casos o
sigilo deve ser garantido, são eles: risco à segurança do Estado (art. 5º, XXXIII, da
CF/88), como, por exemplo, no caso de informações militares; b) risco à segurança
da sociedade (art. 5º, XXXIII, da CF), como, por exemplo, no caso de sigilo das
informações sobre o interior de usina nuclear para evitar atentados terroristas; e c)
risco à intimidade dos envolvidos (art. 5º, X, da CF), em, por exemplo, processos
administrativos disciplinares.
 Quais são as espécies de publicidade?
 Transparência ativa  publicidade dos atos é feita de ofício
 Transparência passiva  publicidade dos atos é feita mediante solicitação
do interessado
 Transparência reativa  produção de dados requeridos pelo cidadão e que
não estejam nos arquivos administrativos
  A Publicidade não se confunde com Publicação, que é somente uma das
hipóteses de publicidade
o CJF  A Administração Pública promoverá a publicidade das arbitragens da qual seja parte,
nos termos da Lei n. 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
o A quem se aplica a Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011)?
 Art. 1º  Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados
 pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios
 com o fim de garantir o acesso a informações
 previsto no inciso XXXIII do art. 5º
 no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal.
 Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei:
 os órgãos públicos integrantes da administração direta
o dos Poderes Executivo, legislativo
o incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério Público;
 as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas
o as sociedades de economia mista e demais entidades
o controladas direta ou indiretamente
o pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
 Art. 2º  Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber
 às entidades privadas sem fins lucrativos que recebam
 para realização de ações de interesse público
 recursos públicos diretamente do orçamento
 ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão, termo de parceria
 convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres.
 Parágrafo único  A publicidade a que estão submetidas as entidades citadas no
caput
 refere-se à parcela dos recursos públicos recebidos e à sua destinação
 sem prejuízo das prestações de contas a que estejam legalmente
obrigadas.
 CJF  As empresas estatais são organizações públicas pela sua finalidade, portanto,
submetem-se à aplicabilidade da Lei n. 12.527/2011, “Lei de Acesso à Informação”,
de acordo com o art. 1º, parágrafo único, inc. II, não cabendo a decretos e outras
normas infralegais estabelecer outras restrições de acesso a informações não
previstas na Lei.
o Qual é a regra geral dos atos administrativos?
 Art. 5º  É dever do Estado garantir o direito de acesso à informação
 que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis
 de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão.
 Artigo 7º, §1º  O acesso à informação previsto no caput não compreende
 as informações referentes a projetos de pesquisa
 e desenvolvimento científicos ou tecnológicos
 cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
  São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da
solicitação de informações de interesse público.
o Qual é o procedimento para a obtenção da informação?
  Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações
 aos órgãos e entidades referidos no art. 1º desta Lei
 por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter
 a identificação do requerente e a especificação da informação requerida
  São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da
solicitação de informações de interesse público.
  No caso de indeferimento de acesso a informações ou às razões da negativa do
acesso
 poderá o interessado interpor recurso contra a decisão
 no prazo de 10 (dez) dias a contar da sua ciência.
  Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Executivo
Federal
 o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União
 que deliberará no prazo de 5 (cinco)
o Quais são as exceções ao princípio da publicidade?
 Art. 23  São consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado
 e, portanto, passíveis de classificação
 as informações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam:
 pôr em risco a defesa e a soberania nacionais
o ou a integridade do território nacional;
 prejudicar ou pôr em risco a condução
o de negociações ou as relações internacionais do País
o ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso
o por outros Estados e organismos internacionais;
 pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população;
 oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária
do País;
 prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças
Armadas;
 prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa
o e desenvolvimento científico ou tecnológico
o assim como a sistemas, bens, instalações
o ou áreas de interesse estratégico nacional;
 pôr em risco a segurança
o de instituições ou de altas autoridades
o nacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou
 comprometer atividades de inteligência
o bem como de investigação ou fiscalização em andamento
o relacionadas com a prevenção ou repressão de infrações.
o Quais são os prazos máximos de sigilo?
 Artigo 24, §1º  Os prazos máximos de restrição de acesso à informação
 conforme a classificação prevista no caput
 vigoram a partir da data de sua produção e são os seguintes:
 ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos;
 secreta: 15 (quinze) anos; e
 reservada: 5 (cinco) anos.
o É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos
nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens
pecuniárias. STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015
(repercussão geral) (Info 782)
 O que se entende pelo princípio da eficiência?
o Conceito  princípio constitucional introduzido pela EC 19/98, segundo o qual a atuação
administrativa deve perseguir o interesse público mediante o menor dispêndio de recursos e
com a maior intensidade possível
o Eficiente  atuação que promove os fins públicos de modo satisfatório em termos
quantitativos, probabilísticos e qualitativo
  obter o máximo de um fim com o mínimo de recursos (efficiency)
  obter o fim ao máximo (effectiveness)
o Há 02 dimensões do princípio da eficiência no Direito Administrativo:
 1º aspecto  modo de atuação do agente público
 2º aspecto  modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública,

4. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS


 O que se entende pelo princípio da presunção de legitimidade e de veracidade das condutas estatais?
o Conceito  princípio segundo o qual as atividades administrativas são presumivelmente
praticadas conforme o direito (presunção de legitimidade) e expressam fatos verdadeiros
o Efeito da presunção de legitimidade  atos públicos produzirão efeitos regularmente desde
a sua publicação, até que haja demonstração no sentido de que foram praticados em
desconformidade com o ordenamento jurídico
o Efeito da presunção de veracidade  inversão do ônus da prova
 O que se entende pelo princípio da autotutela?
o Conceito  princípio que atribui à Administração Pública o poder-dever de proceder ao
controle de legalidade (anulação) dos atos administrativos, bem como a prerrogativa de
revoga-los, quando ausente a oportunidade e a conveniência
 Súmula 473 do STF  A administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial
  A Administração Pública não precisa ser provocada para rever seus próprios atos,
podendo ser feito o controle de ofício;
  O exercício da autotutela não afasta a incidência da tutela jurisdicional e os
direitos adquiridos
o Princípio da sindicabilidade  princípio segundo o qual todo ato do Poder Público se
submete à possibilidade jurídica de causar lesão de direito ou ameaça de lesão está sujeito
algum tipo de controle.
o Qual é o prazo para o exercício da autotutela?
 Regra  05 anos
 Súmula 633-STJ  A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao
prazo decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da
administração pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos
Estados e municípios se inexistente norma local e específica regulando a
matéria.
 É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo decadencial de 10 (dez)
anos para anulação de atos administrativos reputados inválidos pela
Administração Pública estadual. STF. Plenário. ADI 6019/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12/4/2021
(Info 1012).
 E se o ato for anterior à lei 9.784/1999?
o O STJ possui o entendimento de que o prazo decadencial previsto
no art. 54 da Lei n.° 9.784/99, quanto aos atos administrativos
anteriores à sua promulgação, inicia-se a partir da data de sua
entrada em vigor, ou seja, na data de sua publicação, em 1/2/99.
Assim, caso o ato ilegal tenha sido praticado antes da Lei n.°
9.784/1999, a Administração tem o prazo de 5 anos a contar da
vigência da aludida norma para anulá-lo. STJ. 2ª Turma. REsp
1.270.474-RN, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
18/10/2012.
 Exceção 01  quando não decorram efeitos favoráveis aos destinatários
 Exceção 02  salvo comprovada má-fé
 Exceção 03  ofensa direta à Constituição (vedação à usucapião de
inconstitucionalidade)
 É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública,
evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando decorrido
o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS 19.070-
DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes,
julgado em 12/02/2020 (Info 668).
 No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública
rever os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com
fundamento na Portaria nº 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de
ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado,
em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não
devolução das verbas já recebidas. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info
956).
o No exercício de seu poder de autotutela, poderá a Administração
Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos da
Aeronáutica relativos à Portaria n. 1.104/1964, quando se
comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente
política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento
administrativo, o devido processo legal e a não devolução das
verbas já recebidas. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 16/10/2019 (Repercussão Geral – Tema 839)
(Info 956). STJ. 1ª Seção. MS 20187-DF, Rel. Min. Manoel Erhardt
(Desembargador convocado Do TRF5), julgado em 10/08/2022
(Info 744).
 Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando
a vacância do cargo ocorre na vigência da CF/88, que exige a submissão a
concurso público (art. 236, § 3º). O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº
9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a
Constituição Federal. O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional
autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei 8.935/1994 ela já tinha
plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição para o
ingresso na atividade notarial e de registro. STF. Plenário. MS 26860/DF,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741).
o É possível o deferimento de provimentos cautelares?
 Durante o processo administrativo instaurado para apurar a legalidade de
determinada gratificação, a Administração Pública pode determinar, com
fundamento no poder cautelar previsto no art. 45 da Lei nº 9.784/1999, a suspensão
do pagamento da verba impugnada até a decisão definitiva do órgão sobre a sua
validade no âmbito do procedimento aberto. STF. 2ª Turma. RMS 31973/DF, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 25/2/2014 (Info 737).
 A Polícia Militar pode, mediante decisão administrativa fundamentada, determinar a
suspensão cautelar do porte de arma de policial que responde a processo criminal.
STJ. 2ª Turma. RMS 42620-PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/2/2014
(Info 537).
o O que deve ser feito no curso do procedimento?
 CJF  O exercício da autotutela administrativa, para o desfazimento do ato
administrativo que produza efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está
condicionado à prévia intimação e oportunidade de contraditório aos beneficiários
do ato.
 O que se entende pelos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade?
o Princípio da razoabilidade  princípio segundo o qual é vedada uma atuação desarrazoada
ou despropositada do Administrador, configurando um limite para discricionariedade do
administrador
  O Poder Judiciário pode controlar o mérito do ato administrativo (conveniência e
oportunidade) sempre que, no uso da discricionariedade admitida legalmente, a
Administração Pública agir contrariamente ao princípio da razoabilidade.
o Princípio da Proporcionalidade  princípio que determina a ponderação entre os meios e os
fins da atuação administrativa, vedando-se a atuação excessiva (proibição do excesso) ou
insuficiente (proibição da proteção insuficiente)
 O que se entende pelo princípio da motivação?
o Conceito  princípio que impõe o dever de o ente estatal indicar os pressupostos de fato e
de direito que determinaram a prática dos atos administrativos, condicionando a validade da
atuação administrativa
 1ª corrente  não se configura como preceito constitucional implícito, mas tão
somente exigência para determinadas condutas estatais
 2ª corrente  Constituição Federal reconhece a cidadania como fundamento da
República, atribuindo ao povo a titularidade do poder, configurando configura
princípio implícito do ordenamento jurídico brasileiro.
o  Não se confundem motivação (exposição dos pressupostos de fato e de direito que
fundamentam o ato) e motivos dos atos administrativos (elementos formadores da atuação e
que a motivação)
o É possível o suprimento do vício de motivação?
 O ato de remoção de servidor público por interesse da Administração Pública deve
ser motivado. Caso não o seja, haverá nulidade. No entanto, é possível que o vício da
ausência de motivação seja corrigido em momento posterior à edição dos atos
administrativos impugnados. Assim, se a autoridade removeu o servidor sem
motivação, mas ela, ao prestar as informações no mandado de segurança, trouxe
aos autos os motivos que justificaram a remoção, o vício que existia foi corrigido.
STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 40427-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em
3/9/2013 (Info 529).
 O que se entende pelo princípio do contraditório e da ampla defesa?
o Princípio do contraditório  princípio segundo o qual é conferido ao particular o direito de
saber o que acontece no processo administrativo ou judicial de seu interesse, bem como o
direito de se manifestar na relação processual
 Concepção tradicional  audiência bilateral + possibilidade de reação
 Concepção atual  possibilidade de efetiva influência no processo da tomada de
decisão, vinculando-se à paridade de armas
o Princípio da ampla defesa  princípio segundo o qual o indivíduo pode dispor de todos os
meios admitidos em direito para realizar a defesa de seus interesses
o Quais são as dimensões do contraditório e da ampla defesa no processo administrativo?
  Direito à informação
  Defesa prévia, consistente na possibilidade de o particular se manifestar antes de
ser proferida decisão administrativa acerca da matéria objeto do processo, salvo em
hipóteses emergenciais
  Defesa técnica
 Súmula Vinculante 5  A falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição
  O entendimento sumular não se aplica aos processos administrativos no
âmbito da execução penal
  Duplo grau de julgamento ou direito ao recurso administrativo:
 Súmula Vinculante 21  É inconstitucional a exigência de depósito ou
arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso
administrativo
o Os processos administrativos no Tribunal de Contas se submetem ao contraditório e à ampla
defesa?
 Entendimento tradicional  03 hipóteses
 Regra  SIM, desde que implique revogação ou anulação de ato que
beneficie ao interessado
 Exceção  apreciação da legalidade da concessão inicial da aposentadoria,
reforma ou pensão (porquanto não se trata de anulação ou revogação, mas
terminação do processo administrativo de um ato complexo), salvo quando
superado o prazo de 05 anos
o Súmula vinculante 03  Nos processos perante o Tribunal de
Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa
quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma e pensão
 Entendimento atual  SIM, salvo nos casos de concessão inicial da aposentadoria,
reforma ou pensão (que devem ser obrigatoriamente apreciados no prazo de 05
anos, sob pena de decadência)
 Súmula 6-STF  A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria,
ou qualquer outro ato aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes
de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a competência revisora do judiciário.
 O que se entende pelo princípio da Continuidade?
o Conceito  princípio segundo o qual a atividade administrativa deve ser ininterrupta, com
vistas à garantia do interesse público
  Celso Antônio Bandeira de Mello trata tal condição como um subprincípio,
decorrente do princípio da obrigatoriedade do desempenho da atividade pública.
o O servidor público tem direito à greve
 Servidor público militar  NÃO, conforme expressa dicção constitucional
 Os policiais civis têm direito à greve?
 O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é
vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem
diretamente na área de segurança pública. É obrigatória a participação do
Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas das
carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para
vocalização dos interesses da categoria. STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel.
orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).
 Servidor público civil  SIM
  Trata-se de norma de eficácia limitada (STF), devendo ocorrer a
aplicação da lei geral de greve do setor privado (Lei 7.783.1989) enquanto a
matéria não for regulamentada
 São requisitos para a deflagração de uma greve no serviço público:
o  tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
o  frustração ou impossibilidade de negociação
o  deflagração após decisão assemblear;
o  comunicação aos interessados, o que envolve o ente da
Administração Pública a que a categoria se encontre vinculada e a
população, com antecedência mínima de 72 horas (uma vez que
todo serviço público é atividade essencial);
o  adesão ao movimento por meios pacíficos;
o  garantia de que continuarão sendo prestados os serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades dos
administrados
o A quem compete julgar a abusividade de greve de servidores públicos?
 A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade de
greve de servidores públicos celetistas da Administração pública direta, autarquias e
fundações públicas. STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 1º/8/2017 (repercussão geral) (Info 871).
o Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da
remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
 Regra: SIM.  Os dias em que o trabalhador fica afastado do serviço com o objetivo
de participar da greve são considerados pela legislação como período de suspensão
do contrato de trabalho.
  Em vez de realizar o desconto, é possível que os servidores públicos
façam a compensação dos dias parados
 Exceção  não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.
 A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores
públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre. É
permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo,
incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público. STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 27/10/2016 (repercussão geral) (Info 845).
o Para que seja realizado o desconto dos dias não trabalhados, exige-se a instauração de
processo administrativo?
 NÃO. Não há necessidade de processo administrativo prévio para realizar descontos
na remuneração do servidor, em razão de dias parados decorrentes de greve (STJ. 2ª
Turma. AgInt no AREsp 780.209/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
24/5/2016).
o O desconto pode ser feito de forma única?
 Não se mostra razoável a possibilidade de desconto em parcela única sobre a
remuneração do servidor público dos dias parados e não compensados provenientes
do exercício do direito de greve. STJ. 2ª Turma. RMS 49339-SP, Rel. Min. Francisco
Falcão, julgado em 6/10/2016 (Info 592).
o É possível o exercício do direito de greve durante o estágio probatório?
 SIM, desde que realizado licitamente  não se trata de ausência imotivada ao
exercício
o É possível o corte do fornecimento do serviço por razões de ordem técnica?
 É legítima a interrupção do fornecimento de energia elétrica por razões de ordem
técnica, de segurança das instalações, ou ainda, em virtude do inadimplemento do
usuário, quando houver o devido aviso prévio pela concessionária sobre o possível
corte no fornecimento do serviço. STJ. 1ª Turma. REsp 1270339/SC, Rel. Min. Gurgel
de Faria, julgado em 15/12/2016.
 O aviso por rádio é suficiente?
 A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica
por meio de emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a
exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95 . STJ.
1ª Turma. REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
15/12/2016 (Info 598).
o É possível a interrupção de serviços públicos como meio para compelir o usuário ao
pagamento de tarifa ou multa?
 SIM. o princípio da continuidade do serviço público deve ser temperado, ante a
exegese do artigo 6º, §3º, II, da Lei 8.987.1995, que prevê a possibilidade de
interrupção do fornecimento de energia elétrica, quando, após aviso, permanecer
inadimplente o usuário, considerado o interesse da coletividade
 Qual é a natureza da obrigação de pagar tarifa?
 A obrigação de pagar por serviço de natureza essencial, tal como água e
energia, não é propter rem, mas pessoal, isto é, do usuário que
efetivamente se utiliza do serviço. Desse modo, o consumidor não pode ser
responsabilizado pelo pagamento de serviço de fornecimento de energia
elétrica utilizado por outra pessoa. STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp
45.073/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 02/02/2017.
 É legítimo o corte cruzado?
o Por ser a interrupção no fornecimento de energia elétrica medida
excepcional, o art. 6º, § 3º, II, da Lei nº 8.987/95 deve ser
interpretado restritivamente, de forma a permitir que o corte
recaia apenas sobre o imóvel que originou o débito, e não sobre
outros imóveis de propriedade do inadimplente. STJ. 1ª Turma.
REsp 662.214/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em
06/02/2007.
 Quais são os débitos que autorizam a interrupção do serviço?
 débitos decorrentes do consumo regular  atraso normal de pagamento
 débitos relacionados com recuperação de consumo por responsabilidade da
concessionária e;
 débitos relacionados com recuperação de consumo por responsabilidade
atribuível ao consumidor (fraude do medidor).
 É possível a suspensão do serviço de energia elétrica pelo não pagamento de conta
regular?
 SIM. É permitido corte da energia elétrica do consumidor quando se tratar
de inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo. Para
isso, no entanto, antes de fazer o corte, a concessionária é obrigada a
comunicar o consumidor, ou seja, exige-se aviso prévio.
 É possível a suspensão do pagamento por débitos antigos?
o O corte de serviços essenciais, tais como água e energia elétrica,
pressupõe o inadimplemento de conta regular, sendo inviável,
portanto, a suspensão do abastecimento em razão de débitos
antigos. STJ. 1ª Turma.AgRg no Ag 1320867/RJ, Rel. Min. Regina
Helena Costa, julgado em 08/06/2017.
 É legítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito
irrisório?
o Comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos costumes (art. 187 do
Código Civil). A concessionária, ao suspender o fornecimento de
energia elétrica em razão de um débito de R$ 0,85, não agiu no
exercício regular de direito, e sim com flagrante abuso de direito.
Aplicação dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. STJ.
1ª Turma. REsp 811.690/RR, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em
18/05/2006.
 É possível o corte no fornecimento no caso de recuperação de consumo por
responsabilidade da fornecedora?
 Nos casos de recuperação de consumo por responsabilidade da
fornecedora, o STJ entende que não é possível a interrupção do
fornecimento, devendo os valores serem cobrados pelas vias ordinárias É
ilegítima a suspensão de fornecimento de energia elétrica por dívida
pretérita, a título de recuperação de consumo, devendo o valor ser cobrado
pelas vias ordinárias. STJ. 1ª Turma. EDcl no REsp 1339514/MG, Rel. Min.
Sérgio Kukina, DJe 05/03/2013.
 É possível o corte da energia elétrica nos casos de dívidas decorrentes de fraude no
medidor (recuperação de consumo por responsabilidade do consumidor?
 Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por
fraude no aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado
em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é
possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia
elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do
consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias
anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em até
90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de
a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da
dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de
retroação. STJ. 1ª Seção. REsp 1.412.433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo) (Info 634).
 É legítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o direito
à saúde e à integridade física do usuário?
 Não, a suspensão do serviço de energia elétrica, por empresa
concessionária, em razão de inadimplemento de unidades públicas
essenciais - hospitais; pronto-socorros; escolas; creches; fontes de
abastecimento d'água e iluminação pública; e serviços de segurança pública
-, como forma de compelir o usuário ao pagamento de tarifa ou multa,
despreza o interesse da coletividade. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp
543.404/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2015.
 É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando
inadimplente pessoa jurídica de direito público?
 A legitimidade do corte no fornecimento do serviço de telefonia quando
inadimplentes entes públicos, desde que a interrupção não atinja serviços
públicos essenciais para a coletividade, tais como escolas, creches,
delegacias e hospitais. STJ. 1ª Turma. EDcl no REsp 1244385/BA, Rel. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 13/12/2016.
o Lei estadual pode fixar plantão de escritório de prática jurídica?
 É inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de prática jurídica da
Universidade Estadual deverá manter plantão criminal nos finais de semana e
feriados para atender pessoas hipossuficientes que sejam presas em flagrante. Esta
lei viola a autonomia administrativa, financeira, didática e científica assegurada às
universidades no art. 207 da CF/88 (inconstitucionalidade material). Além disso,
contém vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal), na medida em que foi
usurpada a iniciativa privativa do Governador. STF. Plenário. ADI 3792/RN, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 22/09/2016 (Info 840).
o A exceção de contrato não cumprido pode ser aplicada em contratos com a administração?
  Exceptio non adimpleti contractus é o direito de suspender a execução do
contrato em face do inadimplemento da outra parte.
  O particular não pode determinar a rescisão unilateral do contrato, mas poderá
suspender a execução do contrato pela exceção de contrato não cumprido
independentemente de autorização judicial (exceptio non adimpleti contractus
diferida), exigindo-se a intervenção judicial apenas para a rescisão contratual
 O que se entende pelo Princípio da Isonomia?
o Conceito  princípio que obsta discriminações e privilégios injustificados, sob um duplo
aspecto, abrangendo a igualdade na lei (destinada ao legislador) e a igualdade perante a lei
(na aplicação dos atos normativos)
 Igualdade formal  abolição de privilégios injustificadas
 Igualdade material  produção de discriminações lícitas, a fim de desigualar os
desiguais
 Diferenciações (discriminação lícita)  mecanismos necessários à proteção
de minorias
 Discriminações  elementos arbitrários e lesivos ao princípio da igualdade
o Celso Antônio Bandeira de Mello  04 elementos para a diferenciação lícita
  A diferenciação não pode atingir apenas uma pessoa
  As situações ou pessoas a serem diferenciadas pela norma jurídica devem ser
distintas (discrímen fático)
  Deve existir uma lógica abstrata entre os fatos diferenciais e a distinção
estabelecida pela norma jurídica; e
  O vínculo de correlação deve ser pertinente em razão de interesses
constitucionais protegidos
o O que se entende por teoria do impacto desproporcional (Disparate Impact Doctrine)
 Conceito  teoria segundo a qual o exame de constitucionalidade de uma lei, no
que concerne à isonomia, não deve cingir-se ao seu teor, devendo ser aferidas as
condições de incidência no suporte fático
 Origem  Caso Griggs vs. Duke Power  testes de conhecimentos gerais para a
promoção de funcionários
 O que se entende pelo princípio da finalidade?
o 1ª corrente  manifestação do princípio da impessoalidade (José dos Santos Carvalho Filho)
o 2ª corrente  princípio autônomo que determina a atuação do agente público sempre
visando a uma finalidade pública previamente estipulada pela lei (Celso Antônio Bandeira de
Mello)
o O que se entende pelo princípio da especialidade?
 Conceito  princípio segundo o qual a persecução eficiente e adequada das
finalidades públicas impõe a desconcentração e a descentralização das atividades no
âmbito das Administração Pública
o O que se entende pelo princípio da segurança jurídica?
 Conceito  princípio segundo o qual a atividade administrativa deve tutelar a
estabilidade das relações jurídicas (dimensão objetiva), bem como a legítima
confiança dos administrados (dimensão subjetiva)
o Considerando a proibição do venire contra factum proprium, qual norma jurídica deve
nortear o julgamento, na esfera administrativa, de um caso que verse sobre relação jurídica
continuada?
  A proibição do comportamento contraditório ou do venire contra factum
proprium está estritamente ligado aos princípios da boa-fé objetiva e da segurança
jurídica, sobretudo em seu aspecto subjetivo, enquanto proteção da confiança e da
legítima expectativa, sendo regra aplicável tanto nas relações particulares quanto
nas de direito público.
 Venire contra factum proprium/teoria dos atos próprios  sujeito
contratual não pode exercer um direito próprio contrariando um
comportamento anterior, devendo ser mantida a confiança e o dever de
lealdade, decorrentes da boa-fé objetiva.
 Há 05 pressupostos para a configuração do comportamento contraditório:
o (a) fato próprio, configurando uma conduta inicial
o (b) possibilidade de extração de um significado objetivo da
conduta
o (c) legítima confiança de outrem na conservação do sentido
objetivo dessa conduta
o (d) comportamento contraditório com sentido objetivo contrário
ao comportamento anterior
o (e) dano ou um potencial de dano decorrente da contradição.
  Dessa forma, enquanto regra geral, deve ser aplicada a norma cristalizada na
jurisprudência do órgão julgador à época em que ocorreram os fatos jurídicos,
atendendo à proteção da confiança e da legítima expectativa.
  Importante ressaltar, contudo, que é imprescindível que haja uma mudança
abrupta da posição assumida pela Administração Pública, pois somente essa é capaz
de atingir à legítima expectativa. Questões que eram controvertidas à época dos
fatos não possuem esse condão.

5. PODERES ADMINISTRATIVOS
 O que se entende por Poderes Administrativos?
o Conceito  conjunto de prerrogativas de direito público que a ordem jurídica atribui aos
órgãos e entidades administrativas para que executem suas tarefas e cumprem suas funções
 Instrumentalidade  concedidos ao ente estatal para que ele consiga alcançar o fim
público que almeja.
 Irrenunciabilidade  administrador não pode dispor deles livremente
 Obrigatoriedade  devem ser obrigatoriamente exercidos pelos titulares (Poderes-
deveres)
o O que se entende por abuso de poder?
 Conceito  situações nas quais a autoridade pública pratica o ato extrapolando a
competência legal ou visando uma finalidade diversa daquela estipulada pela
legislação.
 Excesso de poder  autoridade pública atua fora dos limites de sua competência
 Desvio de poder  quando o agente do Estado praticar visando a alcançar outra
finalidade que não aquela prevista em lei.
  O agente público pratica um ato visando interesses individuais,
  A autoridade pública pratica o ato respeitando a busca pelo interesse
público, mas não respeitando a finalidade especificada por lei para aquele
determinado ato.
o Quais são as espécies de poderes administrativos quanto aos limites legais?
 Poder Vinculado  hipóteses em que a previsão legal estabelece de forma
apriorística todos os elementos do ato administrativo, sem que a autoridade pública
possa exercer um juízo de valor sobre a consequência da conduta, quando houver
preenchimento do suporte fático da norma jurídica
 Hely Lopes Meirelles  poder vinculado ou regrado é aquele que
estabelece único comportamento possível a ser tomado pelo administrador
diante de casos concretos, sem nenhuma liberdade para juízo de
conveniência e oportunidade."
 Poder Discricionário  hipóteses em que a previsão legal confere margem de
apreciação ao administrador, a quem incumbe a escolha da solução mais adequada
em face do caso concreto, segundo critérios de oportunidade e conveniência (mérito
administrativo)
  A atuação discricionária encontra limites no ordenamento jurídico, não
configurando um poder arbitrário

6. CONTROLE JUDICIAL DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA DISCRICIONÁRIA


 Como ocorre o controle judicial dos atos discricionários?
o Competência discricionária  aquela que incide quando inexistente disposição normativa
específica sobre a atuação administrativa, de modo que o agente se encontra livre para optar
pela solução que melhor atenda ao interesse público, em razão de critérios de oportunidade
e conveniência,
o Discricionariedade  espaço de liberdade de decidir outorgado pela lei ou regulamento ao
administrador
  Configura uma liberdade meramente aparente, pois a Administração Pública se
encontra sujeita ao princípio da juridicidade, não se confundindo com a
arbitrariedade
 Celso Antônio Bandeira de Mello  Discricionariedade atua como uma competência
funcional, visto que consiste em situação jurídica na qual se projeta um dever de
atuar para a realização de uma finalidade
o A discricionariedade se confunde com o mérito administrativo?
 1ª corrente  SIM, vide a doutrina de Seabra Fagundes
 2ª corrente  NÃO, visto que a análise do mérito pode ocorrer no exercício da
competência discricionária ou vinculada
  A discricionariedade configura um espaço de liberdade de decidir
outorgado pela lei ou regulamento ao administrador, enquanto o mérito
administrativo consiste na análise da oportunidade e conveniência da
prática de um ato
  Afigura-se impróprio falar em ato discricionário.
  O Conselho de Estado da França abandonou a noção de ato
discricionário, a qual servia a favor da compreensão de que se cuidava de
um ato de pura administração e que, por isso, estaria isento de todo e
qualquer controle jurisdicional
o Quais são os fundamentos da discricionariedade?
  Necessidade conferir margem de maleabilidade à Administração em face das
mudanças fáticas (vide o escalonamento vertical de Kelsen)
o Quais são os traços característicos da discricionariedade?
  A discricionariedade se encontra conexa as chamadas normas de fim (regras ou
princípios), as quais indicam àqueles incumbidos de aplicá-las uma finalidade a ser
atingida, abstendo-se de determinar previamente a conduta a ser seguida para
tanto.
  A extensão da discricionariedade estará a depender da densidade de regulação da
norma que a habilita
  A discricionariedade pode resultar da hipótese da norma (maneira imprecisa
mediante a qual a lei descreve o motivo autorizador da decisão), do comando
normativo (alternativa de condutas) ou da finalidade da norma
o O que são conceitos jurídicos indeterminados?
 Conceitos jurídicos indeterminados  enunciados normativos em que conteúdo é,
numa certa medida, dotado de incerteza
  zonas de certeza positiva e de certeza negativa
  zonas de penumbra
 Os conceitos jurídicos indeterminados conferem discricionariedade?
 Entendimento tradicional  conceitos jurídicos indeterminados seriam de
verificação por parte dos órgãos administrativos e dos governos, estando a
salvo de revisão judicial.
 Entendimento após a 2ª Guerra Mundial  conceitos jurídicos
indeterminados não consistem em atribuição de juízo discricionário
absoluto em favor da Administração.
 Entendimento posterior Desenvolvimento da teoria da margem de
apreciação (Alemanha), segundo a qual os conceitos jurídicos
indeterminados podem habilitar a Administração para proferir decisões
variadas, as quais somente limitadamente poderiam ser revisadas pelos
tribunais.
 Entendimento atual majoritário  há uma liberdade de escolha na
apreciação dos conceitos jurídicos indeterminados, ainda que limitada pelo
ordenamento jurídico
 José dos Santos Carvalho Filho  conceito jurídico indeterminado está
situado no plano de previsão da norma (antecedente), enquanto a
discricionariedade se aloja na estatuição da norma (consequente)
o  O Poder Judiciário não pode e não deve substituir a decisão do administrador, julgando o
mérito de um ato administrativo discricionário
o  Poder Judiciário somente pode analisar os atos administrativos no que tange aos
aspectos da legalidade.
  Há uma ampliação do bloco de controle de legalidade dos atos administrativos,
sobretudo a partir da constitucionalização do Direito Administrativo (vide
proporcionalidade e razoabilidade)
 Há discricionariedade no exercício de atividades técnicas pela Administração?
o Giannini  diferenciação de 02 aspectos
  discricionariedade se refere a um poder que implica um juízo e uma vontade
  Discricionariedade técnica se reporta a um momento cognitivo e, por isso,
acarreta somente um juízo, podendo, posteriormente, envolver ou não uma
separada apreciação discricionária (vide apreciação sobre a natureza tóxica de uma
substância)
o Giannini  distinção entre os juízos técnicos valorativos (separação entre o juízo técnico e a
decisão administrativa) e os juízos técnicos de existência (conexão entre as fases)
o Eva Desdentado Daroca  03 situações distintas
 Discricionariedade técnico-jurídica  hipótese em que a norma atribui à
Administração a possibilidade de escolher o modo de agir para a consecução do
interesse público  técnica identifica mais de uma opção eficaz para a finalidade
pretendida, cabendo a sua escolha ao administrador  discricionariedade forte
 Incerteza técnica  hipóteses científicas que não podem ainda ser objeto de
confirmação, em face do estado não avançado da ciência, deferindo-se à
Administração a possibilidade de escolher a solução  discricionariedade forte
 3ª hipótese  Hipóteses em que o exercício da atividade administrativa exige a
análise da relevância especial de critérios técnicos que não se encontrem em relação
com a discricionariedade administrativa  discricionariedade fraca
  requer solução com base em critérios técnicos adequados.
o Doutrina Brasileira  02 hipóteses
 1ª hipótese  critério técnico se encontra em conexão com o administrativo, vindo
a ser absorvido por este  elementos técnicos constituem pressupostos da ação
administrativa, não impedindo que a Administração atue com certa liberdade (ex.:
condições de higiene de um prédio)
 2ª hipótese  Critério técnico não se liga ao administrativo, de maneira que a sua
apreciação independe de qualquer decisão administrativa.
 Maria Sylvia Zanella di Pietro  somente se poderá cogitar de uma
discricionariedade técnica conforme os conceitos técnicos estejam ou não
ligados com os critérios administrativos.
o Como ocorre o controle jurisdicional da atividade técnica.?
 Regra geral  O desempenho da função administrativa mediante critérios técnicos
não implica em discricionariedade.
 Exceção Haverá discricionariedade se for conferido à Administração a
possibilidade de decidir ou não, ou ainda de, ao decidir, adotar uma ou mais
providências possíveis.
 E se o auxílio fornecido pela técnica reputar de forma satisfatória o emprego de mais
de um método?
  NÃO há discricionariedade, pois a investigação técnica consiste em uma
aferição de certeza quanto a determinadas circunstâncias que possam ser
qualificadas como motivo para a prática ou não de uma decisão
administrativa (com base no estado atual da ciência)
 Conclusão  A dificuldade técnica, por si só, não consiste em impedimento
constitucional à competência de revisão por parte do Judiciário, que tem a
faculdade de acorrer a especialistas
  O controle jurisdicional se desdobra em 02 fases:
 Exame procedimental  constatação dos conhecimentos especializados
daqueles incumbidos de expressar o posicionamento técnico
 Exame do acerto da Administração  indagação acerca da presença e da
adequação do motivo que o sistema jurídico acolhe como justificador da
ação administrativa
o  exame da existência do motivo
o  exame da correspondência do fato com a situação jurídica da
norma
  A revisão judicial haverá de se direcionar à demonstração de equívoco – não
necessariamente manifesto – na verificação da existência e da correspondência do
motivo, o que se insere no âmbito do controle de legalidade;
 E se não houver prevalência de qualquer vertente científica?
  Deve-se atribuir em favor da Administração uma deferência, desde que
as suas conclusões se apresentem com motivação razoável (presunção de
legitimidade dos atos administrativos)
  Não implica em se deferir uma competência discricionária ao
administrador, pois não há liberdade de escolha quanto ao motivo do ato,
mas ao momento de deliberação
o O STF suspendeu decisão de TRF que havia anulado portaria do Ministério das Comunicações
tratando sobre aspectos técnicos da transmissão dos programas de TV (recursos de
audiodescrição para deficientes visuais e intelectuais). Segundo a Corte, a complexidade da
causa requer cautela por parte dos magistrados e maior consideração às soluções
encontradas pelos órgãos técnicos especialistas na área. STF. Plenário. ADPF 309 Referendo-
MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/9/2014 (Info 760).
7. PODERES ADMINISTRATIVOS
 Quais são os poderes administrativos?
o Poder Normativo ou Poder Regulamentar  poder conferido à Administração Pública de
expedir atos administrativos de natureza normativa, com efeitos gerais e abstratos
  Não se trata de poder para a edição de leis, mas apenas um mecanismo para a
edição de normas complementares à lei.
 Regulamentos  ato normativo privativo do chefe do Poder Executivo, exarado
mediante decreto (forma)
 1ª corrente  Poder Regulamentar é sinônimo de Poder Normativo.
 2ª corrente  Poder normativo abrange a edição de regulamentos (poder
regulamentar), bem como de autos atos normativos
 Quais são as espécies de regulamentos?
 Regulamentos executivos  aqueles editados para a fiel execução da lei,
não podendo inovar no ordenamento jurídico
 Regulamentos autônomos  atuam em substituição à lei, podendo inovar o
ordenamento jurídico
 Admitem-se regulamentos autônomos no ordenamento jurídico brasileiro?
 1ª corrente  NÃO
 2ª corrente  SIM, vide o artigo 84, VI, da CF
o organização e funcionamento da administração federal, quando
não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de
órgãos públicos;
o  extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
 O que se entende por regulamentação técnica?
 Conceito  processo de transferência da competência para regular
determinadas matérias para outras fontes normativas (migração do
domaine de la loi para o domaine de l´ordonnance)  deslegalização ou
descongelamento hierárquico
  A delegação não é total, sujeitando-se a limites (delegação com
parâmetros ou delegation with standards)
o Poder Hierárquico  poder de estruturação interna da atividade pública, abrangendo as
prerrogativas de organizar, distribuir e escalonar as funções dos órgãos administrativos
 Hierarquia  escalonamento no plano vertical dos órgãos e agentes da
Administração que tem como objetivo a organização da função administrativa
  Não existe manifestação de hierarquia externa, somente se manifestando dentro
de uma mesma Pessoa Jurídica
  O controle exercido entre pessoas jurídicas diferentes não decorre do
Poder Hierárquico nem retiram dele seu fundamento, mas de uma
vinculação (controle de finalidade ou tutela administrativa)
o Poder Disciplinar  atribuição do poder de aplicação de sanções decorrente de um vínculo
especial, apurando infrações dos servidores ou outros que são submetidos à disciplina da
Administração
  O Poder Disciplinar pode decorrer do Poder Hierárquico, haja vista tratar-se a
hierarquia de uma espécie de vinculação especial, mas também pode decorrer dos
contratos celebrados pela Administração Pública, sejam regidos pelo direito público
ou pelo direito privado.
  O Poder Disciplinar pode ser exercido em face de servidores aposentados (vide a
cassação da aposentadoria)
  O Poder Disciplinar consiste em um sistema punitivo interno e por isso não se
pode confundir com o sistema punitivo exercido pela justiça penal muito menos com
o exercício do Poder de Polícia, cujos destinatários não possuem um vínculo especial
com a Administração Pública.
  O Poder disciplinar não influencia na responsabilização em outras esferas
 Súmula 651-STJ  Compete à autoridade administrativa aplicar a servidor
público a pena de demissão em razão da prática de improbidade
administrativa, independentemente de prévia condenação, por autoridade
judicial, à perda da função pública.
 Qual é a natureza dos atos praticados no exercício do poder disciplinar?
  Os atos decorrentes do Poder Disciplinar são praticados no exercício de
competência discricionária.
  A discricionariedade não contempla opção entre sancionar ou não o
agente infrator.
  A discricionariedade fica limitada ao tipo de sanção e à extensão da
sanção, desde que haja margem legal de discricionariedade
o Súmula 650-STJ  A autoridade administrativa não dispõe de
discricionariedade para aplicar ao servidor pena diversa de
demissão quando caracterizadas as hipóteses previstas no art. 132
da Lei nº 8.112/90.
o Poder de Polícia
 O que se entende por delegação?
o Conceito  extensão da competência, de forma temporária, de um agente competente para
outro de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior, em razão de circunstâncias de índole
técnica, social, econômica, jurídica ou territorial
 Artigo 12 da Lei 9.784/1999  Um órgão administrativo e seu titular poderão
 se não houver impedimento legal
 delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares
 ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados
 quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole
 técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
o Quais são as características do ato de delegação?
  Ato discricionário, podendo ser revogado a qualquer tempo
 Artigo 14, §2º, da LPAF  O ato de delegação é revogável a qualquer
tempo pela autoridade delegante.
  Ato público, devendo ser de conhecimento de todos
 Artigo 14 da LPAF  O ato de delegação e sua revogação deverão ser
publicados no meio oficial.
  O ato de delegação não pode ser genérico, devendo prever a matéria a ser
delegada de forma específica, sob pena de nulidade
 Artigo 14, §1º, da LPAF  O ato de delegação especificará
o as matérias e poderes transferidos
o os limites da atuação do delegado
o a duração e os objetivos da delegação
o e o recurso cabível
o podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada.
  Ato praticado mediante reserva de poderes, visto que a autoridade delegante
continua cumulativamente competente
 Destinatário da delegação  pode ocorrer para agente de mesma hierarquia ou de
nível hierárquico inferior
o Quem é responsável pelo ato pratica pela autoridade delegada?
 Artigo 14, §3º, da LPAF  As decisões adotadas por delegação
 devem mencionar explicitamente esta qualidade
 e considerar-se-ão editadas pelo delegado.
 Súmula 510 do STF  Praticado o ato por autoridade no exercício de competência
delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial
o Quais são as hipóteses impeditivas de delegação?
 Artigo 13 da LPAF  Não podem ser objeto de delegação:
 a edição de atos de caráter normativo;
 a decisão de recursos administrativos;
 as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.
 O que se entende por avocação?
o Conceito  ato por meio do qual o agente público, em situações excepcionais, devidamente
justificadas, toma para si, de forma temporária, a competência de agente subordinado
 Artigo 15 da LPAF  Será permitida em caráter excepcional
 e por motivos relevantes devidamente justificados
 a avocação temporária de competência
 atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
o Quais são as características do ato de avocação
  Ato discricionário, pode ser revogado a qualquer momento
  Pressupõe o vínculo hierárquico entre os agentes públicos
  Ato justificado e excepcional, dada a irrenunciabilidade da competência
o Quais são as vedações?
 Não é possível a avocação nas hipóteses em que é vedada a delegação

8. PODER DE POLÍCIA
 O que se entende por Poder de Polícia?
o Conceito  prerrogativa de direito público, calcada na lei, que autoriza a Administração
Pública a restringir ou condicionar o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em favor do
interesse coletivo
 Art. 78 do CTN  Considera-se poder de polícia atividade da administração
pública
 que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade
 regula a prática de ato ou abstenção de fato
 em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene
 à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado
 ao exercício de atividades econômicas dependentes
 de concessão ou autorização do Poder Público
 à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade
 e aos direitos individuais ou coletivos.
 Poder de Polícia no sentido amplo  qualquer atuação restritiva do Poder Público,
abrangendo atos gerais ou concretos
 Poder de Polícia em sentido estrito.  atuação concreta da Administração Pública
de condicionamento de direitos (Polícia Administrativa)
o Quais são as formas de expressão do Poder de Polícia?
 Preventiva  disposições genéricas e abstratas que visam prevenir lesões ao
interesse público
 Repressiva  atos concretos visando à obediência à lei e aos regulamentos
 Fiscalizadora
o Quais as diferenças entre Polícia administrativa e Polícia judiciária?
 Polícia judiciária  atuação administrativa que visa à prevenção e à repressão à
prática de ilícitos criminais
  Incide sobre pessoas, de forma ostensiva ou investigativa
  Exercida pelas Polícias Civil e Federal
 Polícia Administrativa  condicionamento dos direitos ou da liberdade, com vistas à
consecução do interesse público
  Atua sobre bens, direitos ou atividades.
  Atua para evitar ou reprimir o ilícito administrativo.
  Exercida por diversos órgãos da Administração.
 Quais são os atributos do Poder de Polícia
o Imperatividade  possibilidade de impor obrigações aos particulares independentemente de
sua concordância
o Autoexecutoridade  A Administração Pública pode executar seus atos e decisões
independentemente de prévia autorização judicial, utilizando-se de seus próprios meios,
desde que haja previsão legal ou se trate de uma situação de urgência
 A Administração Pública tem interesse de agir?
 STJ  A administração pública possui interesse de agir para tutelar em juízo
atos em que ela poderia atuar com base em seu poder de polícia, em razão
da inafastabilidade do controle jurisdicional.
o Coercibilidade  os atos determinados pela Administração são obrigatórios, podendo haver
a utilização de meios indiretos de coerção
o Discricionariedade  Administração Pública tem a liberdade de definir a medida mais
adequada ao interesse público, conforme a oportunidade e conveniência da prática dos atos
de poder de polícia.
 STJ  A prerrogativa de fiscalizar as atividades nocivas ao meio ambiente concede
ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA interesse jurídico suficiente para exercer seu poder de polícia administrativa,
ainda que o bem esteja situado dentro de área cuja competência para o
licenciamento seja do município ou do estado.
 STJ  Ante a omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo que outorgante da
licença ambiental, o IBAMA pode exercer o seu poder de polícia administrativa, já
que não se confunde a competência para licenciar com a competência para
fiscalizar.
 STJ  O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor - PROCON detém poder de
polícia para impor sanções administrativas relacionadas à transgressão dos preceitos
ditados pelo Código de Defesa do Consumidor - art. 57 da Lei n. 8.078/90.
 STJ  O PROCON tem competência para aplicar multa à Caixa Econômica Federal -
CEF por infração às normas do Código de Defesa do Consumidor,
independentemente da atuação do Banco Central do Brasil.
o O Poder de Polícia é discricionário?
 1ª corrente (entendimento tradicional, vide Hely Lopes Meirelles)  Poder de
Polícia é marcado pela discricionariedade, podendo o agente público definir a
melhor atuação nos limites e contornos autorizados pela lei.
 2ª corrente  NÃO é possível afirmar que o poder de polícia seja sempre
discricionário, haja vista a possibilidade de previsão legal de atos vinculados
decorrentes do exercício do poder de polícia (vide licenças)
o Qual é a natureza dos atos de polícia?
 Entendimento tradicional  poder de polícia constitui um poder negativo, haja
vista o fato de que os atos decorrentes dessa atividade encerram a exigência de
abstenções a particulares (obrigações de não fazer)
 Entendimento atual  São admitidos atos positivos decorrentes do exercício do
poder de polícia (vide a obrigação de edificação)
 É possível a delegação dos atos de polícia?
o Há 04 fases do ciclo de polícia:
 Ordem de polícia (restrição de polícia)  fase do ciclo de polícia em que a
Administração Pública estabelece os limites e condições necessárias para o exercício
da atividade ou uso dos bens por parte dos particulares.
 Consentimento de Polícia  fase na qual a Administração exara o consentimento
para que o particular pratique determinada atividade ou para que utilize o bem
segundo a ordem de polícia em vigor.
 Fiscalização de Polícia  fase na qual a Administração verifica se o particular está
cumprindo as regras estabelecidas na ordem de polícia.
 Sanção de Polícia  fase na qual a Administração procede à aplicação das
penalidades administrativas para aquele que descumpriu a ordem de polícia.
o  As fases da ordem de polícia e de fiscalização de polícia estão presentes em todo e
qualquer ato de poder de polícia, enquanto as fases de consentimento de polícia e de sanção
de polícia podem ocorrer ou não.
o  Atividades de Polícia Administrativa são indelegáveis aos particulares, sendo delegáveis
apenas atividades de apoio ao poder de polícia (ex.: instalação de radares)
 STJ  A atividade fiscalizatória exercida pelos conselhos profissionais, decorrente da
delegação do poder de polícia, está inserida no âmbito do direito administrativo,
não podendo ser considerada relação de trabalho e, por consequência, não está
incluída na esfera de competência da Justiça Trabalhista.
o É possível a delegação para pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração
Pública?
 Entendimento tradicional  possibilidade de delegação apenas das fases de
consentimento de polícia e de fiscalização de polícia, porque estariam ligados ao
Poder de Gestão da Administração Pública
 STJ  Não é possível a aplicação de sanções pecuniárias por sociedade de
economia mista, facultado o exercício do poder de polícia fiscalizatório.
 Entendimento atual  SIM
 É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas
jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta de
capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente
serviço público de atuação própria do Estado e em regime não
concorrencial. STF. Plenário. RE 633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 532) (Info 996).
 Qual é a prescrição das sanções de polícia
o Artigo 1º da Lei 9.873/99  Prescreve em cinco anos a ação punitiva
 da Administração Pública Federal, direta e indireta
 no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor
 contados da data da prática do ato
 ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado
o STJ  Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a
pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração
ambiental.
o E se não houver legislação local?
 STJ  O prazo prescricional para as ações administrativas punitivas desenvolvidas
por Estados e Municípios, quando não existir legislação local específica, é
quinquenal, conforme previsto no art. 1º do Decreto n. 20.910/32, sendo
inaplicáveis as disposições contidas na Lei n. 9.873/99, cuja incidência limita-se à
Administração Pública Federal Direta e Indireta.
o E se o fato constituir crime?
  Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir
crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
o Quais são as hipóteses de interrupção do prazo prescricional?
 Artigo 2º  Interrompe-se a prescrição da ação punitiva
 pela notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por meio de
edital
 por qualquer ato inequívoco, que importe apuração do fato;
 pela decisão condenatória recorrível.
 por qualquer ato inequívoco que importe
o em manifestação expressa de tentativa
o de solução conciliatória no âmbito interno da administração
pública federa
 Artigo 2º-A  Interrompe-se o prazo prescricional da ação executória
 pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
 pelo protesto judicial
 por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor
 por qualquer ato inequívoco
o ainda que extrajudicial
o que importe em reconhecimento do débito pelo devedor;
 por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação expressa
o de tentativa de solução conciliatória
o no âmbito interno da administração pública federal.
o Há incidência de prescrição intercorrente?
 Artigo. 1 °, §1 °  Incide a prescrição no procedimento administrativo
 paralisado por mais de três anos
 pendente de julgamento ou despacho
 cujos autos serão arquivados de oficio
 ou mediante requerimento da parte interessada
 sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente da
paralisação, se for o caso".
 Quais são as demais teses firmadas pelo STJ sobre o Poder de Polícia?
o  É legítima a cobrança da taxa de localização, fiscalização e funcionamento quando
notório o exercício do poder de polícia pelo aparato administrativo do ente municipal, sendo
dispensável a comprovação do exercício efetivo de fiscalização.
o Quando as balanças de aferição de peso estiverem relacionadas intrinsecamente ao serviço
prestado pelas empresas ao consumidor, incidirá a Taxa de Serviços Metrológicos,
decorrente do poder de polícia do Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e
Qualidade Industrial - Inmetro em fiscalizar a regularidade desses equipamentos.
 STJ  O uso de balança no interior da empresa sem qualquer relação com a
comercialização de produtos não acarreta pagamento de taxa de serviços
metrológicos
o É legitima a cobrança da Taxa de Fiscalização dos Mercados de Títulos e Valores
Mobiliários decorrente do poder de polícia atribuído à Comissão de Valores Mobiliários -
CVM, visto que os efeitos da Lei n. 7.940/89 são de aplicação imediata e se prolongam
enquanto perdurar o enquadramento da empresa na categoria de beneficiária de
incentivos fiscais.
o Os valores cobrados a título de contribuição para o Fundo Especial de Desenvolvimento e
Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização - FUNDAF têm natureza jurídica de taxa,
tendo em vista que o seu pagamento é compulsório e decorre do exercício regular de poder
de polícia.
 É possível a cobrança de multa em múltiplos de salário mínimo?
o Impossibilidade de aplicação de multa administrativa vinculada ao salário mínimo.
o Tal entendimento é baseado na cláusula final do inciso IV do artigo 7º da Constituição Federal
em que a tomada do salário mínimo como parâmetro de cálculo de multa ofende a CF. STF.
1ª Turma. Ag-RE-AgR 1.377.546; SP; Rel. Min. Dias Toffoli, DJE 19/09/2022. STF. 2ª Turma.
ARE 1361517 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/08/2022, DJE 29-08-2022.
o Multa administrativa vinculada ao salário mínimo = INCONSTITUCIONAL
o Multa processual vinculada ao salário mínimo = CONSTITUCIONAL (ADI 4398)
 Quando pode ocorrer a inscrição em cadastro de ente público inadimplente?
o A inscrição de entes federados em cadastro de inadimplentes (ou outro que dê causa à
negativa de realização de convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos congêneres que
impliquem transferência voluntária de recursos), pressupõe o respeito aos princípios do
contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, somente reconhecido:
 a) após o julgamento de tomada de contas especial ou procedimento análogo
perante o Tribunal de Contas, nos casos de descumprimento parcial ou total de
convênio, prestação de contas rejeitada, ou existência de débito decorrente de
ressarcimento de recursos de natureza contratual (salvo os de conta não prestada)
e;
 b) após a devida notificação do ente faltoso e o decurso do prazo nela previsto
(conforme constante em lei, regras infralegais ou em contrato), independentemente
de tomada de contas especial, nos casos de não prestação de contas, não
fornecimento de informações, débito decorrente de conta não prestada, ou
quaisquer outras hipóteses em que incabível a tomada de contas especial.
 STF. Plenário. RE 1067086, Rel. Rosa Weber, julgado em 16/09/2020 (Repercussão
Geral – Tema 327)

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