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PODER JUDICIÁRIO

Processo nº...
Denunciante: Ministério Público Federal
Denunciados: Armênio, Vitor, Maria e Antônio

1.RELATÓRIO
O Ministério Público Federal, no exercício de suas atribuições legais, com base no inquérito
policial de fls..., ofereceu denúncia em face de Armênio e Vitor, qualificados nos autos, dando-os como
incursos nas penas dos artigos 317 e 327, §2º, ambos do Código Penal, e em face de Maria e Antônio,
qualificados nos autos. imputando-lhes a sanção prevista no artigo 317 do Código Penal.
Os autos vieram conclusos para a sentença. Eis o relatório. Passo a decidir

2. FUNDAMENTAÇÃO
Antes de adentrar o mérito, passo a analisar as questões processuais pendentes e as
preliminares suscitadas pelas partes.
Em sede de alegações finais, o réu Vitor sustenta a inépcia da inicial acusatória, nos termos do
artigo 395 do Código Penal. No entanto, referida preliminar não merece acolhida, porquanto a denúncia
acostada aos autos preenche todos os requisitos legais insculpidos no artigo 40 do CPP. Outrossim, a
análise do presente feito evidencia a ausência de prejuízo para a defesa dos acusados. Desta feita,
rejeito a preliminar.
Outrossim, a defesa dos acusados Maria e Antônio argumenta no sentido da ilegalidade das
interceptações telefônicas que servem de supedâneo à presente ação penal. Conforme o disposto no
artigo 2º da Lei 9.296/1996, a interceptação das comunicações telefônicas é admitida desde que
preenchidos os seguintes requisitos: a) indícios razoáveis da autoria ou participação criminosa; b)
ausência de outros meios hábeis de obtenção da prova (subsidiariedade ou caráter ultima ratio); c)
infração penal punida com pena de reclusão. No caso em lume, restam verificados todos os
pressupostos acima delineados, razão pela qual afasto a alegação de nulidade.
A materialidade delitiva está devidamente comprovada pelos autos do inquérito policial (fls...) e
pela interceptação das comunicações telefônicas dos réus, trazidas aos autos por meio dos relatórios de
quebra, das transcrições e das mídias anexadas aos autos (fls...).
A autoria delitiva dos acusados Vitor, Maria e Antônio é evidenciada pelo cotejo do arsenal
probatório juntado aos autos, sobretudo pelos depoimentos das testemunhas Ronaldo e Henrique
(Procurador Federal atuante junto ao IBAMA) e pelas declarações dos ofendidos.
No que concerne à imputação criminal em face do réu Armênio, superintendente do IBAMA à
época dos fatos, verifico a inexistência de elementos probatórios que configurem participação ou
autoria delitiva. Nesse sentido, faz-se imperioso observar que a mera posição do acusado na estrutura
organizacional da autarquia ambiental não é suficiente para atribuir-lhe responsabilidade penal pelos
fatos ora narrados.
Como é cediço, o artigo 383 do Código de Processo Penal prevê o instituto da Emendatio Libelli,
procedimento no qual o magistrado sentenciante, sem alterar a descrição fática da denúncia ou da
queixa, procede a uma nova capitulação legal dos fatos narrados. No presente caso, verifico que,
inobstante os réus Maria e Antônio tenham sido denunciados pela infração penal do artigo 317 do
Código Penal (corrupção), suas condutas se amoldam ao disposto no artigo 333 do Estatuto repressivo
(corrupção ativa). Por conseguinte, valho-me do disposto na disposição processual supramencionada
para ajustar a imputação criminal em face dos acusados.
A tipicidade objetiva dos fatos narrados na denúncia está comprovada, visto que as condutas
dos acusados se amoldam ao disposto nos artigos 317 e 333 do Código Penal. Conforme as transcrições
das comunicações telefônicas juntadas aos autos, os réus Maria e Antônio realizaram promessa de
vantagem indevida ao funcionário público Vitor (“prometer vantagem indevida a funcionário público”),
quem, na condição de técnico do IBAMA, aceitou a proposta, a fim de intermediar a aprovação de uma
proposta de termo de ajustamento de conduta.
Ademais, os crimes de corrupção ativa e de corrupção passiva são crimes de cunho formal, de
modo que a consumação delitiva ocorre, respectivamente, no momento da promessa e da aceitação,
prescindindo da ocorrência do ato funcional objeto de mercancia.
Por fim, resta comprovada a culpabilidade dos réus, haja vista a imputabilidade, a potencial
consciência da ilicitude das condutas e a exigibilidade de agir diverso.
No que concerne à causa de aumento de pena do artigo 327, §2º, do Código Penal, observo que
a referida majorante não merece aplicação no presente caso. Tendo em vista que o dispositivo
mencionado abrange os funcionários públicos exercentes de cargos em comissão ou de funções de
direção e assessoramento na Administração Direta, em sociedades de economia mista, empresas
públicas ou fundações, o princípio da taxatividade da lei penal exige uma interpretação estrita do
conteúdo normativo. Desta feita, conforme entendimento sedimentado no âmbito do Superior Tribunal
de Justiça, afasto a incidência do comando legal, dado que os réus desempenhavam suas funções em
instituições autárquicas, bem como, em relação ao acusado Vitor, há mera atividade de Técnico
Administrativo.

3. DISPOSITIVO
Ante o exposto, julgo parcialmente procedente a pretensão punitiva estatal delineada na
denúncia, a fim de:
a) condenar o acusado Vitor pela prática do delito previsto no artigo 317 do Código
Penal;
b) condenar os acusados Maria e Antônio pela infração penal insculpida no artigo
333 do Código Penal;
c) absolver o acusado Armênio, com base no artigo 386, inciso VII, do Código de
Processo Penal, ante a ausência de elementos probatórios suficientes para a
condenação.
Passo a dosar as penas aplicadas aos réus, conforme o disposto nos artigos 59 e 68, ambos do
Código Penal, a fim de concretizar o mandamento delineado no artigo 93, IX, da Constituição Federal.
Na 1ª fase da dosimetria relativa ao acusado Vitor, verifico culpabilidade elevada,
transcendendo a estrutura do tipo penal, porquanto, conforme a prova dos autos, além de aceitar a
promessa de vantagem indevida, realizou intentos efetivos de influenciar no processamento do Termo
de Ajustamento de Conduta (TAC). Deixo de valor as circunstâncias judiciais da personalidade e da
conduta social do agente, dada a ausência de elementos suficientes nos autos. Circunstâncias, motivos e
consequências do crime são normais à espécie. Por fim, a conduta da vítima é caractere neutro na
valoração.
Desta feita, fixo a pena-base no patamar de 03 anos e 06 meses de reclusão, e 62 dias-multa.
Na segunda fase da dosimetria, ausentes circunstâncias atenuantes e agravantes, mantenho a
pena intermediária na mesma dimensão da pena-base.
Na terceira fase da dosimetria, ante a não incidência de causas de aumento ou de diminuição
de pena, estabeleço a pena definitiva para o acusado Vitor no patamar de 03 anos e 06 meses de
reclusão, e 62 dias-multa.
Fixo o valor do dia-multa no valor de R$ 600,00 (Seiscentos Reais), equivalente a 1/30 dos
rendimentos mensais do acusado.
Nos termos do artigo 33, §2º, alínea “c”, e §3º, ambos do Código Penal, tendo em vista os
critérios de adequação, estabeleço o início do cumprimento de pena no regime semiaberto.
Em atenção ao artigo 387, §2º, do Código de Processo Penal, verifico que o acusado não foi
submetido à prisão provisória ou administrativa, razão pela qual não há tempo de pena a ser detraído.
Ante a presença dos requisitos previstos no artigo 44 do Código Penal, procedo à substituição
da pena privativa de liberdade por 02 penas restritivas de direito (vide o artigo 44, §3º, do Código
Penal), consistentes na prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas (artigo 43, IV, do
CP) e a proibição de exercício de cargo público (artigo 47, I, do CP).
Deixo de proceder à suspensão condicional da pena, haja vista a substituição da pena privativa
de liberdade.
Na 1ª fase da dosimetria relativa à acusada Maria, verifico culpabilidade elevada,
transcendendo a estrutura do tipo penal, porquanto, conforme a transcrição das conversas telefônicas,
além de oferecer promessa de vantagem indevida a funcionário público, revelou o intento de obter
ganhos financeiros em proveito próprio. Deixo de valorar as circunstâncias judiciais da personalidade e
da conduta social da agente, dada a inexistência de elementos suficientes nos autos. Circunstâncias,
motivos e consequências do crime são normais à espécie. Por fim, a conduta da vítima é caractere
neutro na valoração.
Desta feita, fixo a pena-base no patamar de 03 anos e 06 meses de reclusão, e 62 dias-multa.
Na segunda fase da dosimetria, ausentes circunstâncias atenuantes e agravantes, mantenho a
pena intermediária na mesma dimensão da pena-base.
Na terceira fase da dosimetria, ante a não incidência de causas de aumento ou de diminuição
de pena, estabeleço a pena definitiva para a acusada Maria no patamar de 03 anos e 06 meses de
reclusão, e 62 dias-multa.
Fixo o valor do dia-multa no valor de R$ 200,00 (Duzentos Reais), equivalente a 1/30 dos
rendimentos mensais da acusada.
Nos termos do artigo 33, §2º, alínea “c”, e §3º, ambos do Código Penal, tendo em visto os
critérios de adequação, estabeleço o início do cumprimento de pena no regime semiaberto.
Em atenção ao artigo 387, §2º, do Código de Processo Penal, verifico que a acusada não foi
submetida à prisão provisória ou administrativa, razão pela qual não há tempo de pena a ser detraído.
Ante a presença dos requisitos previstos no artigo 44 do Código Penal, procedo à substituição
da pena privativa de liberdade por 02 penas restritivas de direito (vide o artigo 44, §3º, do Código
Penal), consistentes na prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas (artigo 43, IV, do
CP) e a limitação de fim de semana (artigo 43, I, do CP).
Deixo de proceder à suspensão condicional da pena, haja vista a substituição da pena privativa
de liberdade.
Na 1ª fase da dosimetria relativa ao acusado Antônio, verifico que as condutas praticadas
revelam reprovabilidade comum ao tipo penal, não transcendendo a estrutura delitiva. Deixo de valorar
as circunstâncias judiciais da personalidade e da conduta social da agente, dada a inexistência de
elementos suficientes nos autos. Circunstâncias, motivos e consequências do crime são normais à
espécie. Por fim, a conduta da vítima é caractere neutro na valoração.
Desta feita, fixo a pena-base no patamar de 02 anos de reclusão, e 10 dias-multa.
Na segunda fase da dosimetria, ausentes circunstâncias atenuantes e agravantes, mantenho a
pena intermediária na mesma dimensão da pena-base.
Na terceira fase da dosimetria, ante a não incidência de causas de aumento ou de diminuição
de pena, estabeleço a pena definitiva para o acusado Antônio no patamar de 02 anos de reclusão, e 10
dias-multa.
Fixo o valor do dia-multa no valor de R$ 100,00 (Cem Reais), equivalente a 1/30 dos
rendimentos mensais do acusado.
Nos termos do artigo 33, §2º, alínea “c”, e §3º, ambos do Código Penal, tendo em vista os
critérios de adequação, estabeleço o início do cumprimento de pena no regime aberto.
Em atenção ao artigo 387, §2º, do Código de Processo Penal, verifico que o acusado não foi
submetido à prisão provisória ou administrativa, razão pela qual não há tempo de pena a ser detraído.
Ante a presença dos requisitos previstos no artigo 44 do Código Penal, procedo à substituição
da pena privativa de liberdade por 02 penas restritivas de direito (vide o artigo 44, §3º, do Código
Penal), consistentes na prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas (artigo 43, IV, do
CP) e na limitação de fim de semana (artigo 43, I, do CP).
Deixo de proceder à suspensão condicional da pena, haja vista a substituição da pena privativa
de liberdade.

Determino a perda do produto do crime ou de quaisquer valores auferido pelos agentes, nos
termos do artigo 91 do Código Penal.
Deixo de fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração (artigo 387, inciso
IV, do Código de Processo Penal), porquanto ausentes elementos probatórios suficientes.
Nos termos do artigo 387, §1º, do Código de Processo Penal, verifico que os acusados não
ficaram sujeitos a medidas cautelares no curso do processo. Desta feita, em face da manutenção das
circunstâncias fáticas e da ausência dos pressupostos da prisão preventiva, os réus devem permanecer
em liberdade na pendência de eventual recurso.
Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, expeça-se Carta de Sentença, a fim de
proceder à execução definitiva da pena.
Oficie-se ao Tribunal Regional Eleitoral, a fim de proceder à suspensão dos direitos políticos dos
réus.
Dispensada a intimação do ofendido, haja vista que a vítima dos delitos é o Estado.
Condeno os acusados ao pagamento das custas processuais. Eventuais causas de isenção
devem ser aferidas pelo Juízo da Execução Penal.
Após o julgamento de eventuais recursos, proceda-se ao arquivamento definitivo dos autos,
nos termos da Resolução 113/2007 do Conselho Nacional de Justiça.
Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Juiz Federal Substituto.
Local e Data.

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