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Introdução

Durante o período de aulas, aprendeu-se vários temas na cadeira de “Direito


Processual Penal” e na mesma sequência de aprendizagem por orientação do
nosso estimado professor avizinhando-se o período de pausas, recomendou-se
o estudo de alguns temas que serão apresentados em espécies de trabalhos
colectivos ou em grupo.

Assim sendo dentre os vários temas, o grupo nº 03, acabou por ficar com o
seguinte tema: a “Acusação Particular”.
Noção: acusação, é uma denúncia deduzida pelo ofendido sobre determinados
factos que vão contra a sua esfera jurídica ou que viole os seus interesses
legalmente protegidos pela lei.

No âmbito acusatório ou da acusação, existe uma divergência sobre os moldes


relativos a competência da acusação tendo em conta a natureza diversa do
crime cometido.

Queremos com isto dizer que existem crimes cuja, a sua denúncia depende do
Ministério Público, a esta natureza, os crimes são denominados de “Crimes
Públicos”, dispõe o art.º 48 e 49 do CPP.

Existem outros crimes que a sua denúncia está sobre dependência do ofendido
e outros sujeitos que tenham um interesse directo no processo que são os
denominados crimes “Particulares” ou “Semi-Públicos”, segundo dispõe os
arts.º 50 e 51 do CPP.

Das abordagens apresentadas, o que nos interessa aqui é abordarmos de


forma mais profunda sobre os crimes cuja, a sua acusação depende do
interesse particular, daí a necessidade do tema em questão: Acusação
Particular.

Acusação Particular

A acção penal a luz do ordenamento jurídico português relacionado ao nosso


contexto do ordenamento jurídico angolano dispõe o artigo 1º do Decreto-lei
35.007 de 13 de Outubro de 1945 e 48 da Lei nº 39/20 de 11 de Novembro,
compete ao Ministério Público.

Esta é a regra geral. A lei não se omitiu em dar uma excepção para que outras
entidades possam prestar uma queixa ou denúncia de um crime cometido que
carece de uma acção penal.

Esta abertura que a lei dá, coloca restrições para o Ministério Público na sua
actuação. A doutrina portuguesa na visão do autor Vasco Grandão Ramos,
páginas 159 em diante, caracteriza estas restrições em três momentos:

 No primeiro momento, temos os crimes Semi-públicos. Crimes desta


natureza a sua prossecução processual, depende de um acto voluntário
do ofendido que vai resultar numa queixa ou denúncia.

Neste âmbito, o Ministério Público só poderá intervir quando lhe for participada
a acusação, dispõe o art. 50º do CPP.

A título de exemplo, temos o crime de ameaça segundo dispõe o art. 170º do


CP.
 No segundo momento, termos os crimes de natureza Particular. A sua
denúncia, depende do ofendido.

O Ministério Público, só poderá prosseguir com as diligências necessárias


quando a acusação for feita.

Como exemplo, temos: a coação tal como dispõe o art.º 171 do CP.

 No terceiro momento, sucede quando os assistentes acusam na medida


em que o Ministério Público se abstem de fazer a acusação.

Quem são os assistentes?

A luz do ordenamento jurídico angolano, nos termos do art.º 59 do


C.P.Penal são assistentes os seguintes:

a)- Os próprios ofendidos , uma vez considerados como os tais titulares


daqueles interesses que a norma incriminadora especialmente visa
proteger;

b)- As pessoas de cuja queixa ou acusação particular depender o


procedimento criminal;

c)- O cônjuge sobrevivo do ofendido falecido sem ter renunciado ao


direito de queixa ou a pessoa que com ela vivia em situação análoga a dos
cônjuges, assim como os descendentes e adoptados, ascendentes ou
adoptantes e os irmãos e seus descendentes, se não tiverem comparticipado
no crime;

1. O marido nos processos por infracções que seja ofendida a mulher, salvo a
oposição desta (este ponto já não se adequa a contexto actual);

1. O cônjuge não separado de pessoa e bem, ou viúvo ou qualquer


ascendesse, descendente ou irmão no caso de morte ou de
incapacidade do ofendido para reger a sua pessoa;
2. Qualquer pessoa nos processos relativos ao crime de peculato, peita,
suborno, concussão e corrupção;
3. O ordenamento jurídico angolano, vai um pouco mais além do
ordenamento jurídico português, desta queremos acrescer os seguintes
pontos:
4. As pessoas de cuja queixa ou acusação particular depender o
procedimento criminal;
5. O representante legal de ofendido menor de 16 anos e, na sua falta, as
pessoas enumeradas na alínea anterior, segundo a ordem nela
estabelecida e com as necessárias adaptações, que não tenham
participado no crime;
6. Qualquer pessoa nos crimes contra paz e a humanidade, nos crimes
ambientais e contra o património público;
7. As pessoas a quem uma outra lei atribuir esse direito;

Identificados os assistentes, importa fazermos uma distinção entre os titulares


da acusação particular dos simples assistentes à acusação pública:

 Titulares da acusação particular: são tidos como titulares da


acusação particular todos aqueles que têm um interesse directo no
processo e cuja a acção principal depende dele sem a intervenção ou
subordinação do Ministério Público para que se tenha noção da
existência de um crime cometido;
 Simples assistentes a acusação pública: são simples assistentes
aqueles que a sua intervenção no processo é de forma subordinada ao
Ministério Público na perspectiva de auxiliar este órgão.

Ainda sobre este ponto, temos a dizer que os simples assistentes para
além de intervirem como auxiliares e estarem subordinados ao Ministério
Público, lhes é assistido o direito de efectuar a acusação nos moldes
próprios quando o Ministério Público não o formule, e outros direitos que se
efectivam nos seguintes momentos:

 Na instrução preparatória;
 Na instrução contraditória;
 No Julgamento,

A doutrina estrutura a intervenção do assistente no processo e traz consigo os


fundamentos legais a luz do Código de Processo Penal, em remissão ao
Decreto-Lei 35.007 e consequentemente outros diplomas legais.. A luz do
nosso ordenamento jurídico angolano a atribuição ou intervenção do assistente
no processo obedece os passos estruturados num único artigo e suas
respectivas alíneas, art. 62º do CPP vigente em Angola.

Instrução preparatória

Na instrução preparatória, o assistente, lhe é assistido os seguintes direitos:

 Colaboração (investigação e instrução do processo) a par do Ministério


Público contribuindo para a descoberta da verdade;
 Consultar o processo (tomar conhecimento dos factos declarados
sobre o arguido que a certo modo servirá de garante para a sua
intervenção no processo);
 Obter a confiança do processo (para formulação da acusação).

Instrução contraditória

 Intervir directamente (sem dependência do Ministério Público


oferecendo provas que contribuíam para o êxito do processo
requerendo do juiz as diligências convenientes);
 Assistir (autos da instrução contraditória com algumas restrições
quando haver incompatibilidade com a sua presença para o êxito da
diligência);
 Requerer (abertura de pergunta as testemunhas de modo a
completar e esclarecer os depoimentos da verdade);
 Manter ou não a acusação (formular a acusação definitiva ou
abster-se), etc.

Julgamento

 Assistir a audiência;
 Pronunciar-se sobre a defesa e execre o contraditório;
 Recorrer da sentença, etc.

Toda esta estruturação, é o que nos elucida a doutrina portuguesa sustentada


pela sua jurisprudência, a jurisprudência angolana não foge desta realidade
mencionada apesar de que nesta vertente a jurisprudência portuguesa vai um
pouco mais além da nossa realidade segundo dispõe o art.º 62 do actual
código do processo penal.
É fundamental não deixar de parte a noção que se deve ter dos procedimentos
da constituição de um assistente. A constituição de um assistente procede da
seguinte maneira nos termos do art.º 60 do CPP:

 Pode ser requerida do Ministério Público na fase da instrução


preparatória ou ao juiz;
 Requerida 5 dias antes da audiência do julgamento;
 Requerida junto o duplicado da guia de depósito da taxa de justiça
devida;
 Requerida na fase da instrução preparatória.

Uma outra nota importante que não queremos deixar de parte, é a


representação judiciária do assistente, segundo dispõe o art.º 61 do CPP, os
assistentes, são representados no processo pelo advogado.

Os ofendidos

São todos aqueles que a lei protege os seus interesses na medida em que os
mesmos quando violados por outrem, deverá este ser responsabilizado
criminalmente.

Os ofendidos e a respectiva indemnização

A indemnização é uma das vias de reparação de um dano causado. Art. 75º do


CPP.

A prática da infracção, para além da ofensa de interesses essenciais da


comunidade, é susceptível de lesar interesses patrimoniais e morais,
pertencentes quer as pessoas físicas quer as pessoas civis, interesses
juridicamente protegidos e cuja lesão faz incorrer o infractor ou agente do crime
em responsabilidade delitual .

A indemnização é de natureza civil e intervém no Direito Penal de forma


subsidiária.
A Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil consiste em reparar os danos causados a outrem e


colocar o ofendido na situação em que este estaria se não se verificasse tal
lesão, nos termos do art. 562º do Código Civil.

A título de exemplo podemos trazer ao caso o atropelamento, que para além de


uma responsabilidade penal, pode comportar simultaneamente uma
responsabilidade civil.
Conclusão

Depois de reiteradas leituras efectuadas no Manual de Direito Processual


Penal da autoria de Vasco Grandão Ramos, concretamente nas págs. 160 a
170, relativas ao tema que nos foi orientado, chegamos a compreender que a
acção penal é por padrão, uma competência do Ministério Público, mas que há
excepções a observar quanto a esta regra, cujas foram detalhadas ao
pormenor mo nosso trabalhos.

Vimos também que a Acusação Particular resume-se numa queixa ou denúncia


deduzida por um particular nos chamados crimes particulares e semi-públicos,
assim como os seus trâmites. Retratamos a figura dos ofendidos, sua
respectiva indemnização e responsabilidade civil imputadas.

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