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DIREITO PROCESSUAL PENAL

13/02/2023 – Aula O.T.

No impulso do processo penal há uma diferença entre direito civil substantivo e direito penal
substantivo.

No direito civil se eu sinto que sofri um dano e a pessoa não reconhece eu tenho de me dirigir
(através de advogado) ao tribunal e fazer um pedido (petição inicial).

No direito processual civil quando eu decido desencadear uma ação isso prende-se com o
facto de eu entender que sou titular de um direito subjetivo (por ex: indemnização etc…).

O que é facto é que entendo que sou titular do direito e há outra parte que deverá
satisfazer/concretizar este direito em concreto , esta parte que , não reconhece o meu direito.

O processo civil mediante este direito subjetivo que faz parte do meu pedido , é um processo
que se estrutura como a composição de um litigio. Tudo se situa aqui numa composição de um
litigio entre interesses privados dos sujeitos.

São os sujeitos processuais que delimitam o objeto da ação , ou seja , o tribunal tem poucos
poucos poderes oficiosos.

Quando se inicia um processo penal não é porque alguém se arroga titular de um direito , mas
sim porque , significa que há indícios que um bem jurídico foi ofendido..

DIREITO SUBJETIVO =/= BEM JURIDICO

Se se trata de um bem jurídico que foi ofendido não é apenas o seu portador que a pode
intentar mas sim qualquer pessoa , ou seja , quem tenha conhecimento de um crime pode
denunciá-lo quer numa esquadra de policia quer no ministério público.

O ministério público é uma espécie de “advogado da comunidade”. Portanto , A que viu um


individuo a apontar uma arma e a subtrair mediante coação a carteira de B , este A que não viu
nenhum dos seus direitos subjetivos ser ofendido pode dirigir-se diretamente a estas
entidades e denunciar o crime que assistiu.

A denuncia refere-se a alguém que não é vitima do crime (não está diretamente envolvida mas
está interessada na sua prossecução) , ou seja , um cidadão vai relatar factos que se
enquadram num tipo legal de crime mas não está diretamente envolvida no mesmo.

Pode também ser a própria vitima do crime a denunciar o crime.

Só se chama queixa quando estamos perante um crime que não é considerado um crime
público.

Em regra geral todos os crimes são públicos , mas em certas situações existem crimes que não
são públicos , por exemplo quando a gravidade não é assim tanta , por exemplo , se for uma
ofensa simples não é publico , mas se for uma ofensa grave já o é.

Art.203º CPP – “… o procedimento criminal depende de queixa …”

Art.143º CPP – “…. O procedimento criminal depende de queixa …”


Qual é o critério para que se entenda que alguns crimes não são públicos/semipúblicos ?

Quando esse crime não afeta o bem jurídico com grande gravidade. A gravidade depende
sobretudo do valor patrimonial do bem.

O valor do bem é essencial para qualificar , por exemplo , se estamos perante um furto simples
ou um furto qualificado. A pena é mais grave e o crime deixa de ser semipúblico dependendo
agora apenas de uma denuncia , esta que pode ser realizada por qualquer pessoa.

Nos crimes públicos qualquer pessoa pode denunciar , isto é não é necessário que seja o
ofendido propriamente dito a denunciar.

Em termos processuais a noticia do crime é o relato dos factos que constituem o tipo legal de
crime em concreto. Há aqui um relato de factos. A autoridade que está a tomar conta da
ocorrência logo num juízo rápido perceberá se está perante um crime , ou não. Há 2 juízos , se
os factos forem verdadeiros e tem que se fazer a subsunção destes mesmos factos a um tipo
legal de crime.

O que se vai ver desde logo é se existe credibilidade naquela história que está a ser contada.
Tem que existir indícios mínimos da credibilidade destes factos que estão a ser relatados.

É também preciso que estes factos se enquadrem numa norma penal.

!! SÓ TEMOS NOTICIA DE CRIME QUANDO OS FACTOS RELATADOS INTEGRAM UMA NORMA


PENAL !!
A autoridade policial entendendo que existe ali matéria de facto minimamente credível e que
esta se integra numa norma penal tem que comunicar no mais curto prazo de tempo a noticia
de crime ao ministério público.
Se for queixa a autoridade judiciária tem que aferir se aquela pessoa em concreto tem
legitimidade para apresentar queixa.
Se o crime é público houve uma denuncia , se é semipúblico houve uma queixa , quando estas
são aceites estamos perante uma noticia de crime.

Passa-se agora para a segunda fase : A fase do inquérito


Esta é anterior ao julgamento , aqui vamos perceber se aquela noticia de crime é digna de ir a
julgamento , ou seja , se existem indícios suficientes da prática do crime , e só se estes
existirem ai sim é que se vai para julgamento.
O ministério público em conjunto com os órgãos de policia criminal (OPC – GNR , POLICIA
JUDICIÁRIA ETC…..) , vai investigar os factos de forma a perceber se há indícios suficientes para
levar a causa a julgamento.
O inquérito é dirigido pelo ministério público e após esta investigação este deduz se há indícios
suficientes para a acusação , ou não. Ou então , pode também acontecer que os factos , por
exemplo , não enquadram uma norma penal. Em ambos estes casos resultam no
arquivamento.
A acusação em termos processuais significa submeter a causa a julgamento porque há indícios
suficientes da prática do mesmo e estes integram um tipo de crime.
Se a causa arquivar este não vai a julgamento.
O assistente é a vitima enquanto sujeito processual.
Estes podem requerer a fase da instrução esta que tem características mais próximas de um
julgamento , admitindo-se aqui o contraditório , este que não é imposto propriamente no
inquérito.
Há portanto aqui uma outra fase esta que é uma espécie de “julgamento prévio” , mais
concretamente , esta é uma fase com características já semelhantes a um julgamento. O juiz
vai lavrar aqui um despacho de pronuncia ou de não pronuncia.

13/02/2023 – Aula P
Bibliografia :
 Germano Marques da Silva , VOL1 ;
 Direito processual Penal , Maria João Antunes (mais simples de entender) ;
 Livro de casos práticos de processual penal ;

13/02/2023 – Aula T
-Apresentação ;
-Programa e bibliografia ;

O processo penal está moldado para os interesses da comunidade.


Os processos penais situam-se todos entre o modelo acusatório e o inquisitório , apesar de o
nosso modelo ser maioritariamente acusatório.
O modelo acusatório é característico das democracias liberais , ou seja , procura-se com a
separação de poderes e as garantias dos indivíduos.
No modelo inquisitório todo o processo pode caber a apenas um magistrado. O que lhe deu o
nome foi o processo religioso da inquisição.
No modelo acusatório , a acusação é uma peça importante da peça penal por duas
características que ela implica :
 A entidade que julga não é a entidade que acusou , ou seja , há uma separação de
poderes ;
 Quem presidiu a investigação não vai ser o mesmo magistrado que vai proceder ao
julgamento , isto pelo principio da imediação e da garantia de quem vai julgar a causa
não tem qualquer preconceito em relação ao arguido (o juiz deve ao máximo abstrair-
se do preconceito) ;
Por exemplo , um juiz vai julgar uma pessoa acusada do furto de um automóvel , e nos
antecedentes criminais dessa pessoa estão já 6 condenações pelo mesmo motivo , o juiz ,
sabendo destes antecedentes criminais já não estaria em condições de proceder a um
julgamento justo. Os preconceitos podem deturpar o julgamento , estes têm partir de um facto
que foi provado para a convicção do juiz e caso este tenha preconceito vai levar a que o seu
raciocínio seja aqui influenciado.
Deve haver um pensamento livre de preconceitos antes do julgamento.
O modelo acusatório significa que quem julga não é quem acusa.
Por outro lado , implica que o julgamento versa sobre os factos da acusação.
O julgamento versa apenas sobre os factos constituídos objeto da acusação.

No modelo inquisitório não implica separação de poderes (pode ser a mesma pessoa a acusar
e a julgar).
O inquisidor a qualquer momento pode trazer factos novos a um processo.

O direito processual penal é muito diferente dependendo se estamos em países liberais ou em


países mais restritos/autoritários.

17/02/2023 – Aula T
Notas : sobre o programa
O direito processual penal tem regras que são influenciadas pelo direito penal , pela
criminologia e pela politica criminal.
Todos os modelos de direito processual penal não são puramente inquisitório ou puramente
acusatório.
O que existem são países mais inquisitórios (países autoritários) e países mais acusatórios
(países liberais).

Introdução :
O direito adjetivo existe porque é preciso aplicar o direito substantivo e a própria aplicação do
direito substantivo tem que ser regrada porque este é feito de norma que preveem
factos/comportamentos humanos e dá-lhes a respetiva consequência jurídica.
Para se aplicar as normas é necessário que os factos se provem.
O direito processual penal é muito influenciado pelo direito substantivo , mas o direito
processual penal também influencia muito o direito penal em concreto.
A lei penal deve ser o mais clara possível pois a consequência jurídica é muito grave , mas ,
dentro desta lógica a lei penal deve descrever os factos e a forma da prova propriamente dita.
O processo penal também influencia o direito substantivo.
De que modo é que a criminologia influencia o direito processual penal ?
Através da vitimologia.
24/02/2023 – Aula T

Lei processual penal e a sua aplicação :

Quais são as fontes do direito processual penal? Só há direito se houver fontes. Temos aqui
como fonte a constituição.

A CRP como fonte do direito processual penal :

O direito processual penal é direito constitucional aplicado. A constituição muitas vezes


estabelece regras que a própria densificação das mesmas se pode buscar ao direito ordinário.

A constituição regula o direito processual penal de uma forma particularmente exaustiva , dai
a importância da vertente constitucional no direito processual penal.

O direito penal protege bens jurídicos/valores fundamentais que correspondem na


constituição a direitos fundamentais.

Quando atua o direito penal restringe direitos fundamentais , portanto estamos no domínio
mais constitucional possível que é o equilíbrio entre direitos fundamentais.

O direito penal tem particular relevância no art.18º/2 da CRP , não há direitos


absolutos/irrestringíveis , todos os direitos podem ser submetidos ao critério do equilíbrio e da
mutua restrição.

Este equilíbrio é difícil.

Neste sentido , o direito penal por si só já tem uma grande relevância constitucional.

No direito processual penal temos um contexto onde os sujeitos processuais se movem


estando sempre em causa o equilíbrio destes direitos.

O direito processual penal exige por parte do legislador constitucional uma particular atenção
e regulação.

Na constituição começamos pelo art.27º/2 , este permite a existência do direito penal , ou seja
, este legitima que o código penal possa prever certos comportamentos e culminar uma
sanção que resulta da restrição destes direitos fundamentais. É possível a lei penal restringir a
liberdade para salvaguardar a segurança.

É permitido que haja uma lei ordinária que preveja sanções como a restrição da liberdade.

A liberdade só se consegue com segurança e tem que existir este equilíbrio que surge do
contrato social.

O art.27º/3 vem estender esta restrição da liberdade a momentos Intra processuais , ou seja ,
sem a sanção transitada em julgado. Isto justifica-se para que o processo penal exerça de
forma cabal a sua finalidade que é a procura da verdade material para que se possa então
decidir.

Esta decisão precisa de um processo penal que possa ser tramitado de uma forma que seja
possível prosseguir a verdade material. Isto implica a restrição aos direitos fundamentais da
pessoa durante o processo , apesar de estas serem ainda consideradas “inocentes”.
Este art.27/3 direciona-se para esta restrição da liberdade no processo penal permitindo
medidas de coação etc….

Na sequência do art.27º/2 o n3 começam com “excetua-se” alínea a) a h)

O que interessa mais nestes casos de exceção são os que implicam a privação da liberdade das
pessoas.

O art.28º diz respeito à prisão preventiva.

Relativamente a outras medidas de coação que não estão previstas na CRP , o art.28º é
importante , como se verifica no n2 “A prisão preventiva tem natureza excecional, não sendo
decretada nem mantida sempre que possa ser aplicada caução ou outra medida mais
favorável prevista na lei.”

Com o 28º/2 não temos duvidas que o legislador processual penal pode impor outras medidas
que não a prisão preventiva sendo que , estas medidas de coação têm que ser menos gravosas
para os direitos fundamentais do individuo do que a prisão preventiva.

O n2 tem carácter subsidiário às outras medidas de coação. Com este temos a legitimação da
aplicação de outras medidas de coação.

O art.31º tem haver com o “Habeas Corpus”

Relativamente ao art.32º temos aqui o preceito mais emblemático que pode ser considerado
como sendo a magna carta do arguido , percebendo-se este percebe-se muito do nosso
processo penal.

Desde logo , no n1 “o processo criminal assegurará todas as garantias da defesa , incluindo o


recurso”.

O recurso do ponto de vista material engloba outras situações que o legislador ordinário
entende que o arguido pode impugnar decisões. O arguido impugna a decisão do ministério
público.

No sentido geral em que se coloca a relação entre a CRP e a lei ordinária , a CRP tem
princípios/conceitos muito genéricos que não são tecnicamente rigorosos.
Aqui quando se diz que o processo penal assegura todas estas garantias e dizer que inclui o
recurso faz englobar a impugnação/a ideia do contraditório de decisões que sejam
desfavoráveis ao arguido quer sejam através de recurso , ou não.

A lei ordinária ajuda a densificar os conceitos constitucionais e essa conformação é


importante para interpretar a constituição.

27/02/2023 – Aula O.T.

O direito processual penal apresenta normas que visam executar a politica criminal que
orientam o nosso direito penal.

É da aplicação do lei penal e do direito processual penal que há a realidade transformada no


sentido se se tá , ou não , a prosseguir os fins da politica criminal.

A realidade que é condicionada pelo direito penal e o direito processual penal é a


criminologia.

Um dos aspetos fundamentais da criminologia é para o facto de que o sistema penal pode ter
uma reação perversa no sentido de ser contrária ao que se pretende quando é aplicado , isto
porque , uma ideia fundamental é a da ressocialização , porém , os estudos da criminologia
têm vindo a demonstrar/defender que o sistema jurídico penal tende a ser desocializador , por
vezes pode piorar a prevenção especial no sentido em que se não interviesse esta poderia ser
pior prosseguida.

Há dois momentos que estigmatizam os suspeitos.

Têm vindo a aumentar a sua estigmatização , 28% dos inquéritos terminam com uma proposta
de suspensão provisória do processo.

Muitas vezes é o sistema que produz os marginais , ou seja , é o sistema que produz estes
“outsiders” quer o sistema social quer o sistema jurídico-social.

Se , por exemplo , um jovem com 17 anos cometeu um delito ocasional e a policia dirige-se ao
bairro onde ele mora para o deter , o primeiro aspeto que surge é o facto de este ser detido no
bairro onde mora tendo como testemunhas os vizinhos , amigos etc…. , ou seja , há desde logo
uma reação de choque e aquela pessoa que é detida pela policia e é vista no banco de trás do
carro da policia. E o segundo é o banco dos réus no processo penal , e as pessoas ao
verificarem que a pessoa foi detida ficam desconfiadas. Toda esta lógica faz com que a pessoa
que cometeu o delito comece a ser mal vista pela comunidade.

Muitas vezes o contexto social é o próprio sistema de justiça. Existe um sistema de justiça que
o estado gasta tanto para combater o crime que por muitas vezes acaba por ser este a
multiplicar a delinquência/os crimes.

!! O modo de como o sistema de justiça funciona pode sistematizar as pessoas de uma certa
forma que acaba por aumentar a incidência nas normas que constituem um tipo de crime !!

No nosso processo penal existe o principio da obrigatoriedade que obriga o MP a uma de duas
decisões , o fim do inquérito (ou há indícios da prática do crime ou não há , portanto , os
indícios suficientes leva a que o MP esteja obrigado a acusar e lavra o respetivo despacho de
acusação este que significa que os factos que constam da acusação vai constituir aquilo a que
se chama o corpo da acusação que vai ser o objeto do julgamento , por outro lado , se não
houver indícios suficientes arquiva o processo).

Considerando as teorias da estigmatização através do rótulo que se coloca à pessoa , em


algumas circunstâncias permite-se que para evitar a estigmatização das pessoas e de que estas
se afastem ainda mais da sociedade se possa aplicar uma medida diversa para solucionar a
questão penal.

O modo diverso de solucionar a questão penal é solucionar esta sem julgamento/sem o banco
dos réus evitando este que é considerando como sendo o momento mais estigmatizante para
o sujeito.

O que é a suspensão provisória do processo? – Art.281º CPP

Significa que , se à partida existem estas duas alternativas ao fim do inquérito nesta dictomia
que é característica do principio da obrigatoriedade , ao introduzir-se o instituto da suspensão
provisória do processo são alternativas à acusação o que significa que quando há indícios
suficientes da prática do crime o MP acusa , mas pode , alternativa à acusação promover o
arquivamento por dispensa de pena ou a suspensão provisória do processo (art.281º CPP) isto
como carácter restaurativo ou ressocializador.

A ideia de restaurar surge da justiça restaurativa esta que significa que quando se tem um
comportamento criminoso contrário a um determinado bem jurídico , uma consequência
penal restaurativa significa atribuir uma consequência que represente um bem para o bem
jurídico violado. Por exemplo , um delinquente teve um comportamento que denegriu um
bem jurídico , agora vai ter que ter um bem que reponha a “integridade” do bem jurídico
violado.

Posto isto , na suspensão provisória do processo não são crimes muito graves (por exemplo ,
no caso de um homicídio obviamente que não vai ser o banco dos réus que vai estigmatizar a
pessoa) , no fundo , a pessoa cometeu um crime , promove-se uma hipótese de ela concordar
em cumprir determinadas condutas e se esta cumprir o processo está arquivado. Tem de
existir uma preocupação de não defraudar as expectativas comunitárias (por exemplo , o
agente não pode ter antecedentes criminais , não ser inimputável , ausência de grau de culpa
elevado etc…).

A sociedade se revê na conciliação entre o agente e a vitima (uma solução que reaproxima os
sujeitos) , isto na pequena e média criminalidade.

A lógica deste instituto tal como a do 280º CPP é a de permitir libertar os tribunais e não
estigmatizar os indivíduos através de soluções que permitam prosseguir os fins da politica
criminal.
27/02/2023 – Aula P

Noção de direito processual penal :

O direito processual penal é aquele conjunto de normas jurídicas que disciplinam a aplicação
do direito penal ao caso concreto e que , por isso , orientam e disciplinam o próprio processo.

É necessário que haja imparcialidade objetiva do tribunal no sentido de não existir qualquer
pré-juízo no sentido da culpabilidade quer inocência do agente.

Também é essencial a presunção de inocência do arguido (isto não é o mesmo que um pré-
juízo).

Na ciência global do direito penal , o lugar do direito processual penal é a relação entre o
direito penal e o direito processual penal. Entre estes 2 ramos o que se costuma dizer é que se
estabelece uma relação de mutua complementaridade funcional , o que quer dizer que ambos
se vão complementar mas também influenciar aos níveis mais fundamentais dos 2 ramos.

O direito penal é o ramo substantivo (define o que é crime e quais são as sanções aplicáveis) ,
o direito processual penal é o ramo adjetivo (define como vamos investigar , determinar o
agente e aplicar a sanção).

A sanção da pena é regulada pelo direito penal executivo.

A inimputabilidade é definida no direito penal mas a sua concreta apreciação é colocada e


resolvida durante o processo penal. Existe uma influência inversa do próprio processo penal ao
nível do direito penal que é hoje particularmente relevante porque está a determinar uma
expansão do direito penal , nomeadamente do direito penal secundário.

Em matéria do crime de corrupção foram identificadas algumas dificuldades probatórias e isso


levou a que fosse introduzido no direito penal um outro tipo de ilícito que está hoje no
art.362º CPP que é o recebimento indevido de vantagens , ou seja , não se conseguia provar a
corrupção e então fez-se um novo tipo de ilícito que é mais fácil de provar.

Parece haver uma certa atitude de se punir o que não se consegue provar porque não se
consegue provar o que na verdade se cria punir.

Por fim , há também alguns institutos que demonstram esta relação entre os dois ramos do
direito , a queixa , acusação e prescrição , estes têm efeitos ao nível da aplicação da lei no
tempo , na integração de lacunas situações estas que são mais comuns no direito processual
penal ao contrário do que acontece no direito penal.

A adstrição destas normas a um ou a outro ramo do direito vai ter relevância

Quanto ao direito de execução das penas , é a execução da sanção imposta pelo tribunal e na
verdade são identificáveis no direito executivo penal normas de natureza penal como de
natureza processual penal.

Na execução da sentença vao intervir tanto o tribunal de 1º instância que determinou a


sentença e as restantes competências repartem-se pelo tribunal das penas ou pelo ministério
público.
Depois temos uma segunda relação que é entre o direito processual penal , a criminologia e a
politica criminal.

O direito processual penal é diretamente influenciado pelos ensinamentos da criminologia e


pelos mandatos politico criminais.

Em relação à criminologia refletem primeiro sobre as instâncias formais de controlo da


criminalidade (policias , criminais , ministério público) e foram eles que deram o conceito de
efeito funil onde há uma discrepância entre os crimes que são descobertos , denunciados e as
pessoas que são consideradas culpadas e sujeitas a sanção o que levou a que o criminoso não
é na verdade quem comete os crimes , mas aquele a quem o estigma é aplicado com sucesso.

A criminologia reflete também sobre a vitima e sobre o efeitos estigmatizador do próprio


processo penal ou de certos momentos e práticas penais o que levou a certas soluções no
código do processo , como a própria disposição da sala de audiência processo no tribunal ou
ainda a prestação várias vezes de declarações por parte de algumas vitimas etc…

Os estudos da criminologia têm ainda relevância na classificação de cada criminalidade que são
realidades distintas quanto à sua explicação , ao grau de danosidade social que provocam e
quanto ao alarme coletivo o que tem consequências em diversos graus do processo.

Quanto à politica criminal que é o segundo ramo desta relação , diz-nos que há uma
necessidade por parte do direito penal de se voltar para a proteção de bens jurídicos e para
fundamentalmente a reintegração do agente na sociedade o que implica que o processo penal
se oriente para cumprir estas finalidades e não pode exigir outras. Por exemplo , o processo
penal deve desenrolar-se de forma célere.

Exige também que existam mecanismos de diversão , estes que são aqueles que não vão ser
propriamente o processo penal , mas são mecanismos como por exemplo , a suspensão do
processo.

A politica criminal pede ao direito penal que cumpra 2 ambições contrárias :

 Por um lado pede-lhe que limite o poder do estado devido à salvaguarda dos direitos ,
liberdades e garantias dos cidadãos ;
 Pede também que amplie os poderes do estado , curiosamente em nome dos direitos
liberdades e garantia dos cidadãos na sua coletividade/na vertente de uma sociedade
que deve ser protegida do crime pois tem o direito à segurança ;

Isto tem consequências práticas o art.1º/1 j) k) l) m) CPP onde fica implícito que os factos que
são ai subsumíveis integram já essa respetiva categoria. O juiz o que deve fazer quando
confrontado com estes factos é verificar em caso se se realmente se subsumem a estas normas
(se o crime apresenta uma natureza violenta ou altamente organizada).

O objeto do processo é de extrema relevância porque vai implicar que o tribunal só pode
interferir quando solicitado por uma acusação (esta que vai ser por parte de uma entidade
independente MP) e que o próprio conteúdo dessa acusação vai delimitar os poderes do
tribunal e a sua própria atuação processual.
O tribunal não é uma entidade livre na sua atuação tendo que ser solicitado , e por outro , os
seus poderes cognitivos vão estar limitados ao objeto do processo penal.

Isto significa que o arguido só se terá que defender do que consta da acusação e não de tudo o
que consta do processo.

Art.1º/1/a) – Definição de crime/do próprio objeto do processo penal.

Este objeto/crime que é definido na acusação deve ser o mesmo do inicio (acusação) até o fim
(sentença) do processo penal , por isso , o objeto do processo é um conjunto aparente de
pressupostos de que depende a aplicação de uma pena ou de uma medida de segurança , ou
seja , um facto aparentemente punível.

O fim do processo penal não é aplicar uma pena ou medida de segurança , mas sim averiguar
se estão definidos todos os pressupostos para que seja aplicada uma pena ou medida de
segurança , falhando um pressuposto o tribunal não pode exercer o seu poder punitivo.

Também iremos ter , possivelmente , uma ação de indemnização civil (art.71º e seguintes do
CP) , isto de acordo com o principio da suficiência e da adesão que se encontram no art.7º CP
sendo entregues apenas à jurisdição civil os casos do art.72º CP.

O processo penal é o local certo para averiguar todas as situações que se relacionem com
aquele objeto típico.

As finalidades do processo penal :

Conforme temos finalidades das sanções penais também temos fins que estão ligados ao
próprio processo penal e essas finalidades são 3 :

 A realização da justiça e a descoberta da verdade material ;


 A proteção dos direitos fundamentais das pessoas perante o estado ;
 O restabelecimento da paz jurídica ;

Estas não se harmonizam por inteiro , pois os processos penais ou apontam para uma maior
proteção dos interesses do estado , ou apontam para a vertente mais protetora dos direitos
fundamentais dos sujeitos.

O nosso processo penal visa a máxima proteção dos direitos fundamentais e pauta-se sempre
pela dignidade da pessoa humana , sendo este um limite inafastável do nosso processo penal.

Quanto à proteção dos direitos fundamentais temos ainda uma absoluta privação de valoração
sobre provas obtidas por tortura ou outras forma do art.32º/8 CRP e do 126º CPP.

Temos também uma proibição de valoração do silêncio que está mais visível no art.345º/1
CPP.

Por fim , a contraposição entre o restabelecimento da paz jurídica em relação com os direitos
fundamentais tem grande importância nas medidas de coação art.204º/c) CPP.

Como é que se vão compatibilizar estas finalidades todas ?

Não há uma formula para isto. O que tem que se ver/determinar naquela situação é qual das
finalidades é que deve prevalecer/qual é que demonstra uma maior necessidade de proteção.
27/02/2023 – Aula T

Art.32º CRP – aqui a constituição estabelece os princípios fundamentais.

Principio da obrigatoriedade – art.219º CRP (conceito na aula O.T. anterior)

O processo penal é feito de atos processuais , destes atos fazem parte atos de investigação , de
produção de prova e o arguido tem sempre o direito a ser ouvido (direito de audiência) sobre
tudo aquilo que lhe for imputado.

O nosso processo penal é muito estruturado das óticas das garantias de defesa do arguido
como pode ser visto pelo art.32º CRP.

A verdade material é a verdade das provas.

Art.32º CRP – Garantias do processo criminal (dividido em 10 pontos que correspondem a


princípios)

 Nº1 – principio da proteção global e completa dos direitos de defesa do arguido (o


arguido pode defender-se de tudo que é investigado) ;
 Nº2 – principio da presunção de inocência , principio da celeridade do processo (para
que se fique com uma decisão de justiça processual penal , a decisão tem que dar
todas as possibilidades de defesa ao arguido de forma a ficar-se com consciência de
que há poucas hipóteses que o individuo tenha sido condenado sem ser culpado – no
processo penal o ónus da prova nunca é do arguido) ;
 Nº3 – o direito à escolha de um defensor (o arguido pode escolher um defensor e ser
por ele assistido em todas as fases do processo) ; atos em que é obrigatória a
constituição de advogado =/= direito dentro da lógica do 32º/1 de poder constituir
advogado seja para que ato for ;
 Nº4 – toda a instrução é o principio da judicialização da instrução , ou seja , toda a
instrução é da competência de um juiz de instrução podendo delegar certos atos
noutras figuras. Esta delegação de atos também acontece na fase da instrução , agora ,
o que aqui é importante é que a expressão “instrução” é mais do que a instrução
técnica , temos o inquérito e a instrução é facultativa , ou seja , a ideia de que ,
durante a investigação todos os atos que sejam aptos a restringir ou a colocar em
causa os direitos fundamentais são da competência do juiz. Na própria fase do
inquérito está vedado praticar atos que possam restringir direitos fundamentais do
individuo , tem de ser sempre um juiz a decidir estes tipos de atos. ;
 Nº5 – O processo criminal tem estrutura acusatória, estando a audiência de
julgamento e os atos instrutórios que a lei determinar subordinados ao princípio do
contraditório A ideia de estrutura acusatória no processo penal é que o julgamento
tem que versar sobre os factos que constituem objeto da acusação. Uma acusação
formal não é suficiente para uma estrutura acusatória. A estrutura acusatória significa
que o arguido sabe que vai ser julgado por um corpo de delito. Quem julga não é a
mesma que acusou , ou seja , estes atos têm que ser praticados por estruturas
diferentes. Temos como estrutura acusatória a separação de poderes entre quem
acusa e quem julga , e corpo de delito ;
 Nº6 – “A lei define os casos em que, assegurados os direitos de defesa, pode ser
dispensada a presença do arguido ou acusado em atos processuais, incluindo a
audiência de julgamento” ;
 Nº8 – Diz respeito aos limites de obtenção de prova excluindo-se logo a possibilidade
de provas obtidas mediante tortura coação e ofensas à integridade fiscal e moral da
pessoa , isto vai dar lugar às provas nulas ;
 Nº10 – “Nos processos de contra-ordenação, bem como em quaisquer processos
sancionatórios, são assegurados ao arguido os direitos de audiência e defesa” , há aqui
uma ideia de que os princípios/regras do direito penal também se estendem aos
processos sancionatórios , este está dentro das garantias do processo criminal ;

Notas :

 Um crime que deu origem a um processo penal e implique responsabilidade civil , por
vezes o tribunal tem que decidir de forma diferente na responsabilidade civil e não
responsabilidade penal. Por vezes , o tribunal penal tem de decidir relativamente a
uma forma diferente na questão penal face à civil porque face à parte penal pode
recair o ónus da prova ao MP e na parte civil este pode recair sob o réu ;
 Se for constituído arguido ele pode , desde logo , chamar um advogado e tem ainda o
direito ao silêncio , ou seja , o arguido tem uma série de direitos que por vezes a
própria pessoa pede para ser constituída arguido. Qualquer ato processual praticado
ele tem o direito de estar com advogado ao lado ;
 O primeiro interrogatório judicial de arguido detido é presidido pelo JIC ;

Qual é o ato que submete a causa a julgamento? É a acusação. Quando se faz a acusação o
juiz que for competente por lei no momento da acusação é o juiz que tem que ser competente
para o julgamento.

Nenhuma causa pode ser subtraída a tribunal que tenha competência em razão de lei anterior.

Temos que identificar qual o momento que submete a causa a julgamento e o tribunal/juízes
competentes são aqueles que tiverem definidos como competentes no momento da acusação
mesmo que a lei mude posteriormente a este momento.
03/03/2023 – Aula T

O direito processual penal é regulado de forma exaustiva na constituição.

Art.219º CRP – insere-se já num momento diferente da constituição e diz respeito ao


ministério público e aos tribunais ;

O art.219º/1 diz “Ao MP compete representar o estado” e portanto o MP tem o papel de no


contexto criminal estar no dever de obter o máximo de provas para descobrir a verdade.

O MP no processo penal defende a comunidade face à possibilidade de ocorrência de crimes ,


participar na execução de policia criminal definida pelos órgãos de soberania.

Compete a este ainda exercer a ação penal e é aqui que na CRP se dá ao MP o domínio da
ação penal , é a este que cabe promover o processo penal e submete-lo a julgamento.
Prosseguir e promover a ação penal. ´

Não podem os outros sujeitos processuais nem ao próprio MP desistir da ação penal.

Só pode arquivar por falta de indícios suficientes.

O domínio da ação penal é o domínio de promover a ação penal , de a prosseguir , mas


também não é muito mais do que isto.

A nossa cultura jurídica não permite ao MP usar estratégias processuais que não se prendam
com a de descoberta da verdade e obtenção de prova.

Quando aqui se diz exercer a ação penal orientada pelo principio da legalidade isto tem 2
decorrências :

Principio da obrigatoriedade (quando se diz que o MP prossegue ou exerce a ação penal


segundo o principio da legalidade , a interpretação que é dada é de que o MP está obrigado a
seguir estritamente a lei , o que significa que este no exercício da ação penal que o MP só pode
fazer no estrito cumprimento da lei isto é , se tiverem verificados os requisitos ou pressupostos
da noticia do crime , e esta noticia de crime tem que existir factos indiciários mínimos de que
aqueles factos ocorreram , por vezes o MP tem que fazer uma pequena investigação de forma
a apurar se existe um crime ou não , sobretudo o MP tem que cumprir estes requisitos e
pressupostos , só depois disto é que o MP deve abrir/tem a obrigação de abrir inquérito , o MP
tem um maior poder de gestão do processo. VERIFICADOS TODOS ESTES REQUISITOS E
PRESSUPOSTOS O MP ESTÁ OBRIGADO A PROSSEGUIR COM A AÇÃO PENAL) ;

É do art.219º/1 que sabemos que o MP está obrigado a fazer a promoção e a prossecução do


processo penal mediante a verificação de determinados pressupostos ;

Na prossecução da ação penal pode haver um afloramento de oportunidade mediante alguns


requisitos e pressupostos do próprio processo penal , como por exemplo , a suspensão
provisória do processo , o arquivamento e também a justiça restaurativa ;

O domínio da ação penal segundo o principio da obrigatoriedade mantem-se nos crimes


semipúblicos e particulares se houver uma queixa do ofendido e se houver credibilidade na
queixa , o MP está obrigado a abrir o processo , a diferença é que nos crimes semipúblicos e
particulares é que o agente pode não apresentar queixa e pode também desistir da queixa a
qualquer momento do processo. Aqui apenas atenua a obrigatoriedade do processo penal
considerando todos os crimes.

No art.219 temos também o principio da oficialidade onde é uma entidade pública que tem o
dever de prosseguir a ação penal estando obrigada a faze-lo. Esta ideia de oficialidade é
atenuada e está limitada porque o particular acaba por ter um grande domínio no que toca aos
crimes semipúblicos e particulares (nestes a vitima tem o direito a não fazer queixa quando se
tratam destes tipos de crimes).

Aquilo que interessa referir é que este principio da oficialidade é um pouco restringido , mas
permite que haja uma margem de manobra nestes processos penais de onde deriva a
mediação penal.

O acordo da mediação penal poderia não ser cumprido , pois tal não implicava consequências.

Este tinha o objetivo de libertar os tribunais desta sobrecarga de processos e procura também
a conciliação entre os intervenientes e a respetiva estigmatização , por exemplo , do réu.

Se a mediação funcionar está um conjunto de soluções entre arguido e vitima , estas que , caso
não sejam cumpridas voltasse para o processo penal.

A mediação é uma forma de vincular as partes a um acordo.

Isto é uma limitação ao principio da oficialidade , pois está-se a dar a estas entidades
capacidades que não tinham anteriormente.

O direito internacional público , nomeadamente o direito internacional penal pode integrar o


nosso ordenamento jurídico através do art.8º da CRP seja através dos tratados e das
convenções internacionais.

As fontes :

 Código do processo penal e restante legislação (fontes formais) ;


 Jurisprudência e doutrina (fontes informais) ;

Regras de interpretação do direito processual penal :

A interpretação extensiva é possível.

O art.4º do CPP tem como epigrafe “Integração de Lacunas” :

“Nos casos omissos, quando as disposições deste Código não puderem aplicar-se por analogia,
observam-se as normas do processo civil que se harmonizem com o processo penal e, na falta
delas, aplicam-se os princípios gerais do processo penal.”

Estas normas do processo civil são aqui entendidas como direito subsidiário.

Se no processo civil não se conseguir integrar as lacunas , passa-se para o direito penal.

06/03/2023 – Aula O.T.


Quais as finalidades do processo penal?

Realização da justiça e da verdade material e o restabelecimento da paz jurídica que está


ligada à ideia da prevenção.

Em termos de processo penal estas finalidades têm algumas características técnicas do próprio
processo , desde logo a verdade material.

A verdade material é a verdade probatória , mas esta não é suficiente porque sabemos que a
verdade é a verdade das provas/daquilo que se consegue provar durante o processo ,
nomeadamente no julgamento.

Todos os sujeitos podem promover diligências probatórias , aqui estamos a tratar de algo a
que a toda comunidade interessa , ou seja , não é apenas um litigio entre duas pessoas onde
se tutela o direito subjetivo das pessoas , mas o que se trata aqui é a realização da justiça face
a toda a comunidade , ou seja , todos estão interessados no processo penal e não só o arguido
e o ofendido/vitima.

Os factos que são trazidos para o processo podem ser trazidos por qualquer sujeito
processual , nomeadamente o MP , o JIC , o juiz de julgamento , o arguido , o assistente etc… ,
conforme a fase processual em que se encontra.

Principio da adesão , em regra , a questão da responsabilidade civil é tratada paralelamente à


situação da responsabilidade criminal , ainda que estas questões sejam tratadas por vias
diferentes.

O processo penal e o processo civil , em regra , correm conjuntamente no tribunal penal ,


porque são os mesmos factos que estão em causa.

A verdade material significa que todos os sujeitos estão legitimados a realizar diligências
probatórias , estas que por vezes podem ser realizadas fora de prazo caso se demonstre
estritamente necessário.

A possibilidade durante o processo se aplicarem medidas que à primeira vista se podiam


estranhar nomeadamente relativamente ao arguido este que se presume inocente , estas são
as chamadas medidas de coação e que em termos materiais são muito similares às penas , por
exemplo , a prisão preventiva é muito parecida com a pena de prisão definitiva.

As medidas de coação restringem direitos fundamentais das pessoas , nomeadamente do


arguido , estas não visam castigar apesar de serem muito parecidas com as penas em termos
práticos.

Quando se aplica uma medida de coação o que se tem em vista é , sobretudo , que não seja
ocultada a prova , nesse sentido estas também buscam a verdade material , e que a pessoa
não continue a atividade criminosa (apesar da pessoa se presumir inocente as medidas de
coação só se aplicam se houver fortes indícios de que se cometeu um crime , não ultrapassa o
valor probatório/duvida razoável , ou seja , nunca é uma prova bastante e portanto , há aqui
indícios da prática do crime e que se demonstra necessário que não se continue esta atividade
criminosa que se indicia).
As medidas de coação servem para que os arguidos não continuem esta atividade criminosa
e também para evitar que as pessoas fujam , demonstrando-se também útil para a
descoberta da verdade material.

A verdade das provas permite que se restrinjam direitos fundamentais ao arguido , nada disto
existe no processo civil.

No processo penal podem existir documentos que contêm os factos que delimitam o objeto do
processo.

Atualmente a fase do inquérito não tem como regra o segredo de justiça (o MP nada
necessitava de fazer para que o processo estivesse em segredo de justiça) , atualmente , o MP
tem que requerer este segredo de justiça e o juiz tem que aceitar , isto porque numa fase
inicial investigatória , o segredo na investigação também é muito importante para a busca da
verdade material e , portanto , a fase do inquérito a maior parte das vezes corre em segredo
de justiça o que significa que as pessoas não têm acesso ao processo.

Quando o juiz vai aplicar uma medida de coação vai interrogar o arguido e este vai ter que ter
uma noção dos factos que lhe são indiciados.

O segredo de justiça não é um secretismo puro em relação ao arguido , mas relativamente às


restantes pessoas é.

Aqui estamos a olhar para o processo penal na ótica da investigação. Esta ideia de investigação
tem que ser equilibrada com os direitos fundamentais , porque esse respeito para com estes
garante na maior parte das circunstâncias uma “maior” verdade material.

!! Se não forem garantidas as defesas ao arguido a busca da verdade também perde !!

Se ao mesmo tempo se restringem direitos fundamentais esta tem que ser a mínima
necessária , ou seja , tem que existir aqui uma vertente de proporcionalidade.

Esta proteção dos direitos fundamentais (art.126º CPP e 32º/8 CRP) lista determinados
métodos de prova que são absolutamente proibidos (nunca podem ser levados a cabo) e as
relativamente proibidas (estas podem ser admitidas por autorização de um juiz ou por
conhecimento do investigado.

O art.126º CPP é uma conformação dos direitos fundamentais do arguido que se encontram
no art.32º/8 CRP.

Vinculação temática significa que durante o julgamento não se pode alterar de forma
substancial o objeto do processo , pois isto é elementar para o arguido exercer o seu direito de
defesa.

Se não for permitida a defesa do arguido , a verdade material torna-se ilusória.

Tudo isto visa restabelecer a paz jurídica , não só porque se sabe que a investigação se
equilibrou com os direitos fundamentais do arguido , mas também com a ideia de que se
deram todas as garantias fundamentais ao arguido. O preço a pagar por isto é que pode haver
muitos culpados que não são condenados , mas é preferível que aconteçam situações destas
do que se condenem pessoas inocentes.
O que se pretende é a segurança e a paz jurídica.

Modelos estruturais :

Os modelos estruturais distinguem-se em dois :

 Modelo inquisitório
 Modelo acusatório

O modelo inquisitório ficou assim conhecido porque durante a idade média a Santa Sé era o
órgão fundamental do direito internacional. Posto isto , a Santa Sé , obviamente , como
organismo de influência internacional não via com bons olhos quem contestava o seu
domínio , e esta cria reprimir estas revoltas , e mais do que um direito substantivo forte , o
momento inquisitório de delitos cometidos era um modelo que se demonstrava eficaz para
combater estes indivíduos.

A denuncia significa que qualquer pessoa pode denunciar , aqui a ideia é a mesma , mas é
eficaz no sentido em que aqui qualquer pessoa poderia denunciar um delito religioso o que
levava a que , enquanto , a termos normais atuais pensamos como algo em que alguém relata
a prática de um crime e são necessários indícios mínimos que a sustentem , por outro lado , na
denuncia do santo oficio da inquisição a aceitação ou não da denuncia estava dependente do
arbítrio do inquisidor. Esta denuncia qualquer pessoa a podia fazer , estava ao cargo do
arbítrio de quem tinha o domínio da ação aceitar ou não aceitar , o que levava a que
independentemente dos factos relatados poderia dar origem à abertura do processo.

Ainda que fosse uma denuncia anónima com pouco fundamento , se o inquisidor aceitasse a
denuncia , a pessoa(s) denunciada(s) presumiam-se culpadas o que levava à privação da
liberdade.

O advogado no oficioso do contencioso era um advogado da inquisição o que levava a um


grande desequilíbrio.

É o mesmo sujeito processual que tem o domínio do processo inquisitório.

O inquisidor a todo o tempo poderia alterar o objeto do processo , ou seja , poderia trazer
novos factos a qualquer momento.

A confissão era a “rainha” das provas e esta era normalmente obtida mediante tortura.

Temos aqui um modelo mais extremado que deu origem ao modelo inquisitório e que busca
sobretudo condenar pessoas que não interessa que vivam em liberdade.

Notas :

Os países europeus com regimes absolutistas acharam boa ideia este modo de processo , logo ,
hoje em dia os modelos ou são mais acusatórios (normalmente os mais liberais) ou sã mais
inquisitório (mais restritos).
06/03/2023 – Aula P

A relevância constitucional do processo penal :

Foi Roxin que cunhou a expressão “o direito processual penal é o sismógrafo da constituição
de um estado dependendo por isso , tanto a estrutura como a caracterização do processo
penal das características do estado em questão”.

O direito processual penal é o direito constitucional aplicado.

Por um lado , os fundamentos do DPP são os alicerces constitucionais de um estado ,e por


outro , a regulamentação de alguns problemas específicos do processo penal , vai ser
encontrada/conformada pela nossa CRP.

O primeiro problema legislativo quando se reforma o CPP é , desde logo , um problema politico
porque muito dos seus aspetos têm haver com a ideia do “homem” que se encontra
subjacente ao estado em questão.

Por um lado a proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos que são sujeitos a um
processo desta natureza e por outro , a proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Art.27º/3 CRP

Art.27º/4 CRP

Art.27º/5 CRP

Art.28º/1 – o detido tem que ser apresentado ao juiz num prazo de 48 horas

Art.28º/2 e 4 CRP – a natureza excecional da prisão preventiva bem como o dever de


comunicação dessa decisão no n3 do mesmo artigo.

Art.32º CRP – garantias de processo penal

Art.29º/5 CRP -

Art.29º/6 CRP – a possibilidade de revisão de sentença e indemnização por condenação injusta

Art.31º CRP – “habeas corpus” -procedimento especifico para responder à ilegalidade de uma
situação de privação da liberdade , ou seja , casos em que não deveria ter sido detido alguém ,
ou quando já passaram os prazos legais para tal ;

Art.32º CRP :

 N1 - Recurso enquanto garantia de defesa (e de) ;


 N3 – Escolher defensor e ser representado por este em todos os atos do processo ;
 N4 - Competência reservada do juiz para praticar atos que se prendam com direitos
fundamentais (medidas que restrinjam direitos fundamentais não podem ser decididas
apenas pelo MP) ;
 N5 – Principio do contraditório (direito do arguido contraditar tudo aquilo que foi dito
ou apresentado no processo penal)
 N7 – Direito de intervenção por parte do ofendido ;
 N8 - Nulidade de provas obtidas por certos meios ;
 N9 - Principio do juiz natural (há certas regras de competência na nossa lei que devem
ser seguidas e portanto não se podem retirar) ;

Art.34º/2 , 3 e 4 - Situações em que a entrada no domicilio contra a vontade do cidadão é


permitida e ingerência nas comunicações ;

Art.130º , 157º e 196º CRP - Aplicação do direito processual penal (desvios quanto às
imunidades , ou seja , há determinadas pessoas em que a lei processual penal não se vai
aplicar da mesma forma que se aplica às restantes pessoas)

Art.207º/1 CRP –

Art.20º/1 e 2 CRP – acesso ao direito e aos tribunais

Art.202º e seguintes CRP

Art.219º CRP

Art.272º/1 e 2 CRP

O regime que se encontra no art.17º e 18º da CRP também é aqui aplicável.

Nenhum juiz é obrigado a aplicar normas inconstitucionais pelo que , quando um juiz ou
tribunal num caso concreto ache que aquela norma é inconstitucional não a deve aplicar ,
como também têm os arguidos o direito de levantar esta questão no âmbito do processo.

Distinção entre os modelos processuais :

 Modelo acusatório
 Modelo inquisitório

A modelo acusatório tem origens muito remotas e esta tem como principal característica a
separação entre a entidade que acusa e a entidade que depois acaba por julgar a causa. Isto
vai garantir a imparcialidade do julgador porque não tem um contacto prévio com o caso que
lhe chega às mãos.

Este modelo procura uma igualdade entre a acusação e defesa , ficando por isso o julgador
numa situação de independência supra partes.

O impulso processual neste modelo pertence ao ofendido que deve por isso fazer a acusação ,
e o processo não visa a descoberta da verdade material , mas sim a descoberta da verdade
processual (que resulta do confronto das partes em juízo.~

O debate processual é feito em moldes contraditórios , em público (não há processos secretos)


e oralmente perante a passividade (o juiz não tem uma intervenção ativa) o que torna o juiz
como apenas um arbitro das partes.

O juiz não pode promover o processo nem condenar para além da acusação.
Neste modelo todos os meios de prova são admitidos e depois estas são valoradas de acordo
com a livre convicção do julgador (não há provas com valor pré-determinado).

São ambas as partes que introduzem estas provas no processo , há portanto uma distribuição
do ónus de prova.

A sentença faz caso julgado , logo , depois de estável já não é possível reabri-la

O modelo inquisitório afirmou-se na idade média e tem como principal a concentração do


poder de investigar , acusar e julgar numa única entidade , é o juiz acusador/o magistrado
profissional que intervém ex oficio sem necessidade de uma acusação externa que investiga
oficiosamente com plena liberdade na recolha de provas.

Procede depois para a pronuncia e julga também com base nas provas por si próprio
recolhidas.

Neste caso é obvio que quando se chega à fase de julgamento não há qualquer imparcialidade
porque o juiz esteve envolvido na obtenção de provas.

O arguido nestes modelo não é um sujeito processual , mas é meramente um objeto do


processo.

A inquisição era promovida pelo magistrado baseada no conhecimento dele próprio (de algo
que tenha visto) ou de uma denuncia que podia ser mantida secreta não podendo desta forma
o arguido saber quem o acusou e muitas vezes de que. Isto tinha consequências nefastas
porque este via-se obrigado a defender-se sem saber o objeto do processo.

O âmbito da inicial acusação podia ser alargado.

Neste modelo o processo é totalmente escrito , decorre em segredo e sem contraditório.

Privilegia ainda a descoberta da verdade material , mas a qualquer preço o que significa que
não era propriamente muito incomum ver-se o uso de tortura para retirar a confissão a
alguém ou como meio de obtenção de outras provas.

Os meios de prova admitidos eram tarifados/tabelados , estavam estabelecidos na lei e tinham


um valor rígido , por exemplo , o testemunho de uma só pessoa na altura não fazia prova.

A confissão era a “Rainha das provas” pois esta fazia prova plena.

A sentença não fazia caso julgado sendo que surgindo eventualmente outras provas poderia
ser sempre reaberto.

Apesar de no fundo este modelo ter surgido com o intuito de descobrir a verdade material , o
que acontece é que esta se perverteu de tal forma que se transformou no paradigma de
injustiça.

Temos um modelo misto que surge com as reformas liberalistas , este que vai ter uma
estrutura acusatória , mas é dividido na instrução e no julgamento.
Na instrução a direção estava entregue a um juiz e dominava nesta fase o principio do
inquisitório. Era uma fase escrita , secreta , não contraditória etc…

A fase de julgamento era orientada pelo princípio do acusatório , ou seja , havia um tribunal
que buscava a verdade mas agora seguindo as características do modelo acusatório.

Este modelo esteve associado aos países que sofreram reformas liberalistas.

O modelo inquisitório puro já não existe/está completamente extinto.

O modelo acusatório puro existe ainda de uma certa forma na Inglaterra , mas mais até nos
EUA. Existem criticas , como , a igualdade é apenas teórica porque as partes não disponham
dos mesmos meios sejam estes técnicos ou financeiros etc… , cerca de 85% dos processos não
chegam a ir a um juiz o que faz com que a acusação não tenha de exibir provas nenhumas. Só
se vão interrogar os meios de prova processuais que são arrolados pela acusação-

O modelo português :

O nosso processo penal é um processo de estrutura acusatória , mas , integrado por um


principio de investigação , isto diz-nos também o art.32º/5 CRP.

A estrutura acusatória resulta desde logo de termos uma entidade que investiga e acusa que é
o MP , e uma outra entidade distinta que vai julgar o caso que é o juiz.

Temos um amplo leque de sujeitos processuais. Os sujeitos tÊm uma participação constitutiva
na declaração do direito naquele caso concreto sem ser , no entanto , um processo de partes ,
o MP em Portugal não é uma parte porque este não tem o dever de acusar , mas sim de
recolher provas e verificar se deve , ou não , acusar.

É por esta acusação que se vai definir o objeto do processo e o acusado só pode vir a ser
condenado daquilo que conste na acusação (art.309º e 379º CPP).

Há uma independência entre juiz e MP , o que significa que o juiz não pode ordenar ao MP que
faça uma acusação.

A vertente acusatório vê-se também na garantia do contraditório , na proibição de alguns


meios de prova , na vinculação do juiz à sua própria imparcialidade , no estatuto processual
que o arguido vai adquirir e também na publicidade das audiências e na fundamentação das
decisões.

Esta estrutura em geral acusatória vai ser integrada por um principio de investigação , este que
é um principio subsidiária , a cargo de um juiz com o dever de descrever o facto sujeito a
julgamento (art.340º/1 CPP) , pode prosseguir , por isso , a descoberta da verdade mas tendo
sempre em conta os direitos fundamentais do arguido.

A igualdade de armas só vai ter lugar no julgamento (não no inquérito) e na instrução formal ,
logo este vai ser dominado por uma estrutura inquisitória , o que significa que a investigação
decorre de uma forma secreta e escrita (art.86º/2 e 3 e 286º CPP) não tendo por isso o arguido
e o seu defensor acesso aos autos nessa fase inicial do processo , desconhece das provas que o
MP tem contra si.

Com a alteração do código em 2007 , a regra passou a ser a da publicidade , mas o MP pode
entender que o segredo de alguma forma se justifica ficando assim essa fase em segredo
durante a duração normal que consta do art.86º CPP.

Art.89º/6 CPP.

No entanto , o inquisitório no nosso sistema é bastante limitado pelo princípio da legalidade


processual em relação a dois aspetos :

 Meios de prova ;
 Métodos de obtenção de prova ;

O modo como o MP recolhe a prova e como estas vão valer em julgamento está legalmente
determinado e também relativamente às competências que estão delegadas aos juízes.

Tanto o MP como a policia funcionam aqui como elementos que procuram a verdade e não
forçosamente condenar o arguido , é por isso que não podem ser vistos como partes , estes
apenas procuram provas sejam , ou não , a favor do arguido o que significa que estes também
recolhem provas que vão ser atenuantes quanto à conduta do agente.

A revisão de 2007 prendeu-se com um acréscimo de proteção da vitima em processo penal e


também com o reforço das garantias do arguido que foram compatibilizadas com melhorias
quanto à eficácia do processo penal.

!! O suspeito não é um participante processual , só o é quando for constituído arguido !!

06/03/2023 – Aula T

A aplicação da lei processual penal no espaço e no tempo :

As leis processuais lidam com uma aplicação no tempo um pouco mais complexa do que as leis
substantivas.

Sempre que uma lei nova entra em vigor há processos que já acabaram , outros que estão
pendentes e ainda há processos futuros , portanto é necessário verificar como se aplica a lei
processual penal perante esses 3 momentos.

A grande questão aqui coloca-se relativamente aos processos pendentes.

Há aqui 2 ideias :

 Se a lei processual penal se alterou é porque havia algo que foi necessário corrigir ou
melhorar algum aspeto anterior , e portanto , o melhor será que essa nova lei entre
em vigor o mais rapidamente possível ;
 Por outro lado , o processo penal é um conjunto de atos encadeados , e o encadeado
de atos processuais tem uma determinada harmonia/sequência tornando-se
complicado por vezes aplicar uma lei de imediato porque esta pode mudar factos
estruturais do processo.
Se a lei nova entra em vigor num determinado momento e quebra a harmonia do próprio
processo muito provavelmente não poderá ser aplicada de imediato.

Quando se fala do art.5º do CPP não se está a aplicar esse artigo à alteração legislativa que fez
entrar em vigor o novo código , ou seja , esta lida com as alterações ao CPP propriamente
ditas.

Este art.5º aplica-se a novas leis que entram em vigor e portanto , relativamente ao que se diz
no n1 estamos a falar de uma nova lei que altera o CPP. A regra é a da aplicação imediata.

É verdade que uma nova lei processual penal entra em vigor mas não se prejudica a validade
dos atos que entretanto foram praticados. Este é o regime regra.

O art.7º CPP estabelece , que uma coisa são alterações pontuais a um código que é o que
regula o art.5º CPP , outra coisa é quando entra em vigor um novo código processual penal (na
prática a alteração deve ser tão significativa que seria muito difícil conciliar os atos praticados
num processo pendente com a aplicação deste novo código , ou seja , seria difícil conciliar os
atos anteriores com os atos que ainda irão ter lugar no processo em questão).

A harmonia dos atos processuais seria quebrada e até praticamente impossível continuar o
processo penal , pois tal iria causar confusão.

Quando se trata de uma alteração estrutural (nomeadamente um código que substitui outro) ,
a regra para os processos pendentes é se for uma alteração profunda (nomeadamente a do
código) esta é a da ultra atividade da lei anterior dentro do processo pendente , logo a lei nova
não se aplica imediatamente. Quando se trata de uma alteração do código esta lei nova , em
regra , não se aplica imediatamente.

Para tal é importante considerar o art.7º do DL preambular - Só se aplica o novo CPP para os
processos iniciados após a data de entrada em vigor do novo código , isto independentemente
da data em que a infração foi cometida , ou seja , é apenas relevante o momento em que o
processo é instaurado.

A lei nova só se aplica aos processos instaurados após 1 de janeiro , para os processos
pendentes estes continuam-se a reger pelo código penal anterior até o trânsito em julgado ,
sendo isto que se chama de ultra atividade da lei anterior.

A lei já foi revogada mas continua-se a aplicar aos processos pendentes.

Posto isto , se possível aplica-se a lei imediatamente isto significa aos processos pendentes.

A aplicação mediata significa o que está no art.7º , o que significa que aos processos
pendentes aplica-se a legislação revogada até o trânsito em julgado.

Quanto ao regime que temos atualmente , art.5º tem uma regra completamente diferente ,
sendo aqui a regra geral a da aplicação imediata sem prejuízo dos atos praticados sob a
vigência da lei anterior/revogada. Se não prejudica a validade dos atos anteriores pode haver
situações de difícil adaptação , mas em regra aplica-se a lei nova imediatamente , mas o n2
estabelece exceções.
O art.5º/2 estabelece a capacidade de aplicar ultra ativamente a lei anterior , isto pode
acontecer em 2 circunstancias :

 Limitação do direito de defesa do arguido (temos de ver se esta é uma limitação


sensível e evitável)
 Quebra de harmonia dos atos processuais (esta é a razão pelo qual quando entra um
novo código em processo este não é aplicado imediatamente , se esta quebra de
harmonia acontecer continua-se a aplicar o CPP sem a lei nova) ;

Quando entra em vigor uma lei nova é o art.5º que se aplica , mas a própria lei nova pode
definir no seu preambulo a sua própria aplicação no tempo , esta que prevalece
hierarquicamente em relação ao art.5º.

Temos que ter a perceção de que estas 3 situações podem existir , mas tem um foco maior na
aplicação da lei no tempo dos processos pendentes.

Para os processos anteriores , não se vai reabrir o processo para aplicar a lei nova.

Portanto , neste sentido na aplicação da lei no tempo a problemática prende-se com os


processos pendentes.

O normal é o art.5º CPP para alteração do código , o art.7º do diploma preambular que
aprova o CPP trata dos casos em que entra em vigor um novo código propriamente dito.

10 / 03 /2023 – Aula T

Os sujeitos processuais :

No processo penal participam várias pessoas e nem todas são sujeitos processuais.

Como é que se distinguem estes? Os sujeitos processuais são aqueles que , participando no
processo tomam decisões que conformam a concreta tramitação , isto significa que , há
diversas pessoas que participam no processo mas a sua participação no processo por muito
importante que possa ser não tomam decisões que definem a tramitação processual.

Decisões que definem a tramitação processual temos que ter a consciência de que este é um
encadeado de atos e esses atos vão implicando um “desenho” diferente , pelo menos , nos
momentos processuais mais importantes.

Por exemplo , a passagem da noticia do crime para inquérito é um ato que define a tramitação
do processo.

Todos aqueles atos que fazem com que o inquérito se prolongue em vista de uma decisão
penal apenas são praticados pelo MP , pelo juiz de instrução e eventualmente pelo arguido e o
assistente.
O MP é que toma uma decisão relativamente aquilo que obteve da testemunha. Mesmo os
OPC (órgão de policia criminal) nada decidem.

Os OPC quando querem praticar outras atividades muitas vezes têm que requerer ao MP.

O avançar do processo dá-se com decisões do MP e do juiz de instrução criminal e também do


arguido e do assistente que podem pretender a prática de determinados atos.

A existência da fase intermédia depende do arguido , do assistente do MP , portanto há uma


série de atos fundamentais que definem a tramitação do processo.

Posto isto , os sujeitos processuais são :

 Juízo/Tribunal ;
 Ministério Público ;
 Arguido ;
 Assistente ;
 Partes civis (também são sujeitos processuais porque o CPP prevê o principio da
adesão que significa que do crime que é objeto do processo resultar danos civis
suscetíveis de desencadear o mecanismo da responsabilidade civil , em regra , a
questão da responsabilidade civil é decidida no processo penal , mas de forma
autónoma) ;

A questão da responsabilidade civil até por razões de economia processual , em regra , podem
ser juntas num só processo sem perder a autonomia das regras de ambos. Os mesmos factos
provados podem dar uma convicção diferentes aos magistrados.

Os tribunais :

Vamos estudar a competência material e a competência territorial.

A competência funcional tem haver com a competência dos tribunais mediante a fase
processual em causa.

Art.11º/3/b) e 11º/4/b) e 12º - relativamente aos recursos.

Quanto ao objeto do processo há uma ideia base que é , quantos mais decisores tivermos no
tribunal , maiores garantias haverá por parte do arguido , o tribunal se for coletivo os juízes
fiscalizam-se uns aos outros. Nos tribunais tem haver com o garantir a imparcialidade , logo ,
quanto maior for o coletivo a julgar melhor se garante a imparcialidade/as garantias dos
arguidos.

Existem 3 espécies de tribunais: estas que se definem pela sua composição

 Tribunais de júris (composto por um coletivo de 3 juízes que é acompanhado por 4


jurados) ;
 Tribunais coletivos (composto por 3 juízes) ;
 Tribunais singulares (constituído por 1 só juiz) ;
Quanto às espécies de tribunais , a tendência é que , quanto mais grave for o crime maior é a
quantidade julgadores , logo , este critério quantitativo é a regra.

Se os crimes tiverem uma pena máxima superior a 8 anos pode o tribunal ser o tribunal de júri.

O tribunal de júri tem que ser requerido por um dos sujeitos processuais.

 Se os crimes forem superiores a 8 anos pode o julgamento decorrer no tribunal de


júri ;
 Se os crimes forem superiores a 5 anos de pena máxima será no tribunal coletivo ;
 Até 5 anos será julgado no tribunal singular ;

O tribunal de júri tem que ser requerido , logo , devido a isto , muitas vezes o tribunal de
coletivo julga crimes cuja pena máxima é superior a 8 anos.

O tribunal de júri não é muito comum/recorrente no sistema penal português.

A cultura do júri tem haver com a ideia de um julgamento quase representativo do júri. Por
exemplo , nos Estados Unidos a escolha dos jurados visam representar os cidadãos de
determinado estado tornando-se similar à do parlamento.

Os jurados visam representar certas comunidades que podem existir num determinado
estado.

Posto isto , o que é importante é o critério quantitativo (quanto mais grave é o crime maior
será a composição do tribunal).

A complexidade da prova também tem alguma influência e o aspeto qualitativo de cada crime ,
nomeadamente , os crimes de sangue são os mais graves (crimes violentos) estes que deverão
de ser julgados pelo menos pelo tribunal coletivo , mas a lei prevê crimes de sangue mesmo
que sejam inferiores a 5 anos , como por exemplo , homicídio a pedido , homicídio
privilegiado , infanticídio e homicídio preterintencional

Sendo o critério quantitativo a regra e o critério qualitativo a exceção , quando estamos


perante um crime que cabe em ambos os critérios , por exemplo , o homicídio privilegiado
cabe num tribunal singular , só que o tribunal coletivo prevê no art.14º/2/a) define um critério
que não tem haver com a pena aplicada ao crime , mas com a natureza/qualidade do crime ,
nomeadamente um crime de sangue , logo , se estivermos perante um homicídio de sangue
temos um crime que cabe na norma geral e na norma excecional , e o que acontece é a
aplicação da norma excecional.

!! A NORMA EXCECIONAL PREVALECE SEMPRE RELATIVAMENTE À NORMA REGRA !!

Por exemplo , art.14º/2/a) CPP.

13/03/2023 – Aula O.T.

Principio da suficiência (CPC – ART.91º E SEGUINTES)

Diz respeito às questões incidentais.


Durante o processo penal pode acontecer que seja necessário apurar a existência de outro
facto que não faz parte do crime mas que prejudica o regime jurídico penal.

Por exemplo , num processo A é acusado de praticar um crime de furto , e mais à frente pode
necessitar de se esclarecer se A era proprietário da coisa em questão (era uma coisa que
estava na posse de outra pessoa , mas o A em determinado momento se arroga proprietário
da coisa , ou seja , a coisa estava na posse de outra pessoa mas esta era dele).

Podem surgir questões prejudiciais , isto é , questões que não fazendo parte à partida do
objeto do processo acabam por prejudicar a boa procedência do mesmo.

Pode estar acusado de um determinado crime , mas invoca um facto penal que prejudica o
regime jurídico do crime de que é acusado.

Podemos ter questões que surgem durante o processo penal que prejudicam a questão
principal que está em causa , tendo que haver regras para sabermos como o tribunal aborda
estas questões.

O principio da suficiência diz que o tribunal penal tem competência para decidir estas
questões.

Se a questão prejudicial que se coloca for do âmbito penal pode-se suscitar a questão de saber
se não haverá conexão processual.

Conexão processual significa que dois objetos crimes , que há partida são/começam em
processos autónomos podendo-se juntar estes num só , decidindo-se estas questões no
processo penal sendo ambas referidas como questões principais.

Um dos fundamentos da conexão é um crime ser causado por outro crime.

Havendo conexão processual temos dois processos autónomos que se podem juntar num só.

Se se juntarem num só decidem-se ambos como questões principais. O regime jurídico de um


influência o regime jurídico do outro e vice-versa , mas são ambos julgados/tratados como
crimes principais.

A decisão relativamente a cada um deles tem valor de caso julgado material , isto porque em
ambos os casos o tribunal julgou cada um deles como questão principal.

Art.7º/1 CPP – o processo penal é promovido independentemente de qualquer outro e nele se


resolvem todas as questões que interessarem à decisão da causa.

Art.91º/2 CPC – o valor sobre a decisão não tem valor de caso julgado , apenas sobre o
processo em questão ;

O que o art.7º/1 diz é que esta questão prejudicial pode ser decidida no processo penal , o
tribunal é competente para tal (principio da suficiência) , mas depois acrescenta o CPC por
força do art.91º/2 que esta questão prejudicial só vale para efeitos da decisão da questão
principal.

O processo penal é promovido independentemente de qualquer outro-


Tudo está em saber se a questão prejudicial é decidida como questão prejudicial (em relação à
qual não houve a promoção de um processo penal) , ou se é decidia como uma questão
principal.

O principio da suficiência só se refere aos casos em que é promovida como uma questão
prejudicial.

O próprio regime jurídico é diferente considerando a questão do “in dúbio pro reo”.

O art.7º/2 CPP suscita a questão de que a regra é a suficiência , de suscitar-se outra questão
sendo o processo penal competente para tal.

E se essa questão incidental for uma questão não penal? Podem surgir questões prejudiciais
que sejam do âmbito de outros ramos do direito. Em principio mantem-se o principio da
suficiência podendo o tribunal penal decidi-la , só que , o art.7º/2 prevê 3 requisito que
excecionam o principio da suficiência :

 Questão prejudicial ;
 Não penal ;
 Complexa (no domínio desse outro ramo do direito , essa complexidade pode já ser
tão especifica do outro ramo do direito que o juiz penal pode não estar propriamente
tão capacitado para aquelas circunstâncias tão especificas que o caso não penal
envolve) ;

Se se verificarem estes 3 requisitos o tribunal penal não será competente para julgar a questão
prejudicial , suspender o processo penal e enviar a questão em concreto para o tribunal
competente , este que , quando decidir devolve a questão ao processo penal (veio da decisão
do processo civil) , tendo a sua decisão o valor de caso julgado material.

Se funcionar a exceção à suficiência ou se a questão incidental for objeto de outro processo


penal então estes são decididos com autonomia tendo ambos valor de caso julgado material.

13/03/2023 – Aula P

Casos práticos estão no livro de CPs

Caso prático 1:

Entre junho de 1986 e fevereiro de 1987 Albino , Britaldo e Claúdio , membros de uma
organização terrorista mataram dois empresários , assaltaram várias dependências bancárias e
ofenderam gravemente a integridade física de diversas pessoas.

Em 2 de junho de 1987 o ministério público (MP) abriu inquérito mediante estes crimes.

Porém , devido a vicissitudes dilatórias o julgamento apenas se realiza hoje.

Qual é a legislação processual penal aplicável?


R: Neste caso em que os crimes tiveram lugar entre junho de 1986 e fevereiro de 1987 , e o
MP apenas abre inquérito em 2 de junho de 1987 , de acordo com o art.7º do decreto
preambular que aprova o código , logo aplicar-se-ia o código do processo penal anterior.

Qual a resposta se o ministério público apenas abrisse o inquérito no dia 15 de outubro de


1987?

R: Se o inquérito fosse aberto no dia 15 de outubro de 1987 o código aplicável seria o anterior
porque só se aplicará a lei nova a partir de 1 de janeiro de 1988.

E se o processo se inicia-se no dia 15 de janeiro de 1988?

R: Aqui já se aplicaria o código do processo penal atual.

Caso prático 4:

Otelo sempre que regressava embriagado a casa infligia maus tratos físicos e psíquicos a Inês ,
que com ele vivia em condições análogas à dos cônjuges.

Josefina , vizinha de ambos denuncia a situação ao ministério público.

Como deverá proceder o ministério público?

R: A vizinha avisa o ministério público desta situação. O processo penal começou com uma
denuncia.

Art.241º CPP (aquisição da noticia do crime).

Neste caso não estamos perante um caso de denúncia obrigatória nos termos do art.242º CPP
(denúncia obrigatória).

Como a vizinha fez a denuncia , o MP terá que levantar o auto da noticia de acordo com o
art.243º CPP , onde este terá que dizer todos os elementos que estão nesse artigo, como os
factos , o dia , a hora etc…

O MP adquiriu por denuncia e em principio abriu o auto da noticia.

O MP tem a noticia de um crime , o que este deve agora fazer é agir , principio da
obrigatoriedade (art.219º CRP) , portanto , o MP no nosso ordenamento não é livre para
decidir se quer , ou não , seguir com o processo penal.

Ele tem obrigatoriamente que prosseguir com todos os autos de noticia que tiver
conhecimento , mas há situações em que ele não é totalmente livre como acontece nos crimes
particulares.

Caso seja crime público não há aqui qualquer “barreira” podendo o MP prosseguir de forma
totalmente livre.

Nos crimes semipúblicos dependem de queixa.

Os crimes particulares também dependem de queixa e de acusação particular.

O crime do caso prático em questão é violência doméstica – art.152º CP.

Este crime não dizendo que depende de queixa ou acusação particular é um crime público.
Sendo um crime público , o MP depois de ter um auto de noticia de crime instaura o processo
penal , este que tem legitimidade para tal de acordo com o art.48 CPP.

Então , aqui o MP deveria abrir inquérito nos termos do art.53º CPP ---» remissão para os
art.262º , 263º e 276º CPP todos estes que se referem ao inquérito.

Que conselho daria a Inês que acabava sempre por perdoar Otelo e com o objetivo de
manter segredo , pretende a todo o custo evitar o julgamento?

R: Uma das finalidades do processo é realmente a aplicação do direito e a descoberta da


verdade , mas também temos que proteger as vitimas do crime e há mecanismos que nos
deixam fazer isso , como é o caso da suspensão provisória do processo prevista no art.281º/8
CPP. Portanto , neste caso , é um crime público , o MP é obrigado a abrir inquérito e a
prosseguir , mas a vitima podia requerer que aquele processo fosse provisoriamente suspenso.

13/03/2023 – Aula T

O CPP art.13º/n1 tem o critério quantitativo e o critério qualitativo

Quando o critério é qualitativo o legislador refere-se aos crimes relativos à integridade cultural
e pessoal , e os crimes contra o estado. São crimes de particular relevância e são os mesmos
que aparecem no art.14º CPP.

Esta competência prevalece sempre face a uma competência do critério quantitativo.

O critério qualitativo é exceção logo prevalece sempre sobre a regra geral que é o critério
quantitativo.

Raramente é pedido o tribunal de júri.

No critério do art.14º CPP temos o critério qualitativo. O n2 deste mesmo artigo também
estabelece uma critério qualitativo (porque se refere também como competente o tribunal
coletivo para crimes dolosos ou agravados pelo resultado quando for elemento a morte de
uma pessoa , os crimes de sangue) e um quantitativo.

Para a ofensa a integridade física simples é competente o tribunal singular.

Se houver conexão de processos , art.27º CPP – se temos uma conexão de processos se um dos
crimes for ofensa grave (pena superior a 10 anos) e um de furto (pena máxima até 3 anos) ,
como eles estão conexos aplica-se o tribunal de espécie mais elevado , logo será o tribunal
coletivo para os dois.

Quanto ao tribunal singular temos a norma do art.16º/1 CPP , o n1 está a pensar nos crimes
em cuja pena aplicável é apenas a pena de multa.

Art.16º/3 CPP – por vezes há crimes , como o furto qualificado que têm uma pena máxima
superior a 5 anos (art.204º/2 CP) , como é o caso do furto de autorrádio por exemplo , isto é
um furto só que tem uma pena superior a 5 anos , esta era uma situação muito comum
antigamente o que causava que se entupissem os tribunais com muitos processos de furto de
autorrádio , não obstante de haver moldura até 8 anos , era daqueles crimes que na prática ,
os tribunais quando condenavam a pena nunca era superior a 5 anos o que causava que se
empatassem muitos processos coletivos com crimes que por muitas vezes não tinham/não era
aplicada pena superior a 5 anos.

O que a lei atribui ao MP é que se entender que aqueles indícios vierem a ser provados em
tribunal , o tribunal , com uma grande possibilidade de certeza não vai aplicar uma pena
superior a 5 anos e , então , em vez de enviar para o tribunal coletivo envia para o singular ,
sendo isto o que acontece no art.16º/3 CPP.

O MP não decide o limite máximo de 5 anos , apenas prevê.

As normas relativas à competência material dos tribunais penais estão nos art.14º , 15º e 16º
CPP.

O critério geral é a gravidade do crime , mas depois , há crimes que quanto à sua natureza
podem cair na competência de um determinado tribunal.

Os crimes de sangue , mesmo que sejam inferiores a 5 anos normalmente têm uma prova
complexa o que acha dificuldade em enquadrar o homicídio em questão.

Quando um homicídio (que não seja negligente) vai a tribunal tanto pode ter uma pena
máxima de 5 anos como uma de 25 anos devido aos diversos fatores que entram em conta na
qualificação e complexidade da prova do homicídio em questão , logo , os crimes de sangue
vão para o tribunal coletivo independentemente da pena de prisão ser superior , ou não , a 5
anos.

17/03/2023 – Aula T

Temos agora a questão da competência territorial. Esta está regulada no art.19º do CPP , a
regra geral é que é competente o tribunal da área da consumação do crime , no entanto , o n2
exceciona referindo que se tratando de homicídio será o local onde o agente atuou.

A competência territorial relaciona-se muito com o local da prática do ato. Elegendo-se o


critério do bem jurídico , é o local da consumação e portanto , percebe-se que , seja o lugar da
consumação o lugar competente porque foi também o lugar onde o bem foi violado.

Importa que o local ou a área do tribunal seja a área onde a produção de prova também se
possa fazer com facilidade seja a reconstituição do crime , inquirição de testemunhas etc…

Em caso de homicídio pode a consumação ocorrer em local distante , o que dificultaria depois ,
em termos técnicos , a produção da prova. O legislador tem estes dois critérios , o substantivo
(local da consumação) , mas também importa que o processo corra os seus termos no local
que tenha proximidade com o local da execução do crime. O local da consumação pode ser
diferente do local de execução.

Art.19º/2 CPP – tratando-se de homicídios (independentemente do tipo) , é o local da


execução que conta ;
Quanto ao art.19º/3 , a ideia do critério/regra geral do n1 é a ideia do local da consumação
ainda que com a exceção do n2.

O n3 pergunta , quando é que estão consumados os crimes permanentes e os crimes


continuados? Eles vão ser prolongado ao longo do tempo logo o critério da consumação é aqui
sucessivo , se olharmos para o crime permanente ou continuado dir-se-ia que o local da
consumação é o local onde o ultimo ato da execução foi praticado.

Se o crime não se consumar , n4 , é o local da execução. Se houver mais do que um local de


execução é o local do ultimo ato de execução.

Art.20º , 21º e 22º CPP são situações muito especificas e o legislador nestes casos , por um
lado tenta respeitar a lógica da consumação.

Art.20º CPP – crimes cometidos a bordo de navio ou aeronave (local do destino) ;

Art.21º CPP - crimes de localização duvidosa e desconhecida ou duvidosa (critério da noticia


do crime) ;

Art.22º CPP – crime cometido no estrangeiro ;

Art.24º CPP – Competência por conexão

Conexão processual – vários processos são apensados uns aos outros ;

Quais são os critérios para a conexão processual ?

 Conexão subjetiva (conexão dos processo em relação ao sujeito do crime , ou seja , o


mesmo agente cometeu vários crimes através da mesma ação ou omissão) ;
 O critério de limitação do tempo e do espaço tem que ser ligado aos crimes em
questão , se os crimes não estão propriamente relacionados implicam um espaço de
tempo praticamente relevante e já não se preencherá a alínea b) ;
 Se o mesmo crime tiver sido cometido em comparticipação , isso naturalmente , por
razões de simplificar a descoberta de verdade , convém que todos os arguidos
respondam no mesmo processo , isto também é uma conexão processual , isto é um
critério/conexão objetiva porque é o mesmo crime para vários sujeitos acabando por
os unir ;
 A aliena d) reúne os critérios subjetivos e os objetivos

O n2 deste artigo também é importante.

Vários processos podem-se juntar num só processo. Isto vai suscitar alguns problemas no que
toca quer à competência material quer à competência territorial dos tribunais.

20/03/2023 – Aula O.T.

Caso prático 2 :

Após uma violenta discussão , Daniel agrediu Evaristo com dois murros e um pontapé.

Três dias depois o MP abriu inquérito. Nesse mesmo dia , foi publicada uma nova lei , a lei X ,
que determinava a eliminação da fase da instrução.
1. Quais os procedimentos necessários para que o MP pudesse abrir inquérito?
R: O processo penal é de competência do MP , mas este tem que adquirir noticia do
crime através de alguém que tenha legitimidade para tal.
Conforme a natureza jurídica dos crimes , as pessoas que podem levar o crime ao MP
diferem. Se os crimes forem públicos qualquer um pode fazer , se forem semipúblicos
ou particulares devido a ambos dependerem de queixa temos que verificar quem é
que tem legitimidade para proceder à queixa.
O primeiro diploma legal que temos de consultar é o código penal. Estamos perante
um crime de ofensa à integridade física simples nos termos do art.143º CP. Temos que
identificar o tipo legal de crime e o capitulo em causa , ou ambos estes nada dizem
quanto à natureza do crime e sendo assim este é público , ou a própria norma tipifica o
tipo de crime. O art.143º CP diz que os crimes de ofensa à integridade física simples diz
que o procedimento criminal depende de queixa , isto no seu n2. Portanto , o
legislador autonomiza num preceito quais os crimes que são semipúblicos ou
particulares apenas naqueles capítulos em que grande parte dos crimes não são de
natureza pública.
O crime em causa é semipúblico (art.143º/2 CP). Se o procedimento pelo crime
depende de queixa , quem tem legitimidade para a apresentar e dentro de que prazo?
Quer uma quer outra estão também no código penal , pois ainda estamos a diferir o
que é que é necessário para que o processo penal seja instaurado. Quanto à
legitimidade , art.113º CP (titulares do direito de queixa) e 49º CPP. Aqui , tínhamos
que considerar , que tinha legitimidade para apresentar queixa o Evaristo nos termos
do art.49 CPP conjugado com o art.113º CP. Evaristo é o ofendido e ele é titular dos
direitos que a lei visa defender. O bem jurídico tem uma visão comunitária e estes
correspondem a direitos subjetivos na sua grande maioria , estes que acabam por
assumir uma dimensão comunitária. Nestes tipos de crime , o sujeito acaba por ter o
domínio da ação penal. Posto isto , é o Evaristo que pode apresentar queixa nos
termos do art.49º CPP e art.113 CP , tendo um prazo de 6 meses para a apresentar de
acordo com o art.115º CP (extinção do direito de queixa). Os prazos de prescrição
encontram-se no art.118º CP. O direito de queixa extingue-se quando o crime
prescreve , ou seja , a prescrição prevalece sobre o direito de queixa.
O ofendido pode apresentar queixa 6 meses após ter sido agredido nos termos do
art.115º/1 CP.

2. Seria a lei X aplicável ao processo em curso?


R:

3. Qual seria a sua resposta à pergunta anterior se a lei X entrasse em vigor no decurso
da instrução?
R:

4. Como responderia à primeira pergunta se se tratasse de um crime de injúria?


R:

20/03/2023
Caso prático n8 :

Em 27 de fevereiro de 1996 , fino o inquérito insaturado dia 20 de novembro de 1995 , o


ministério público acusou Amadeu pelos seguintes factos ocorridos a 9 de setembro de 1995 :

 Homicídio negligente (na versão originária era punido com pena até 3 anos de prisão)
 Crime de condução sob efeito de álcool (que na versão originária era punido com
prisão até 1 ano ou multa até 200 dias ;

Com revisão ao código penal operada pelo DL 48/95 de 15/03 que entrou em vigor a 1 de
outubro de 1995 , o crime de homicídio por negligência passou para o art.137º CP e o crime de
condução em estado de embriaguez para o art.292º CP.

Tendo em conta as alterações à lei processual penal constantes do DL 317/95 de 28/11 , na


parte em que ampliou a competência do tribunal singular ao elevar de 3 para 5 anos de prisão
a pena máxima abstratamente aplicável aos crimes que pode julgar , qual o tribunal
materialmente competente para este julgamento?

R: Temos aqui um problema de aplicação da lei no tempo e relativamente à competência


material do tribunal.

Em termos de processo penal quem era competente antes desta alteração era o tribunal
singular pois ambas têm uma pena de prisão máxima até 5 anos nos termos do art.16º CPP.

A acusação foi pelos dois crimes. Quem era competente para este concurso efetivo , antes
daquela alteração era competente o tribunal coletivo porque isto , hipoteticamente poderia ir
até 4 anos de prisão (acumulação das penas) , ou seja , antes da alteração deixava de ser
competente o tribunal singular passando a ser da alçada/competência do tribunal coletivo ,
tudo isto nos termos do art.16º/2/b).

Com aquela alteração iria ser competente o tribunal singular para ambos.

O art.14º/2/a) , só se aplica quando o crime for doloso ou agravado pelo resultado , neste caso
, quando é negligente isto não se aplica recaindo a competência no tribunal singular. (casos de
morte)

Depois da reforma vai continuar a ser competente o tribunal singular no que toca à condução
sobre efeito de álcool.

Agora , quanto à aplicação da lei processual no tempo. A reforma do processo entrou em vigor
durante a pendencia deste processo.

Art.5º CPP – aplicação da lei processual penal no tempo ;

Aqui , em principio , isto não é um agravamento sensível e evitável da situação do arguido


porque nada nos garante que um tribunal coletivo seja sempre uma maior garantia do
arguido , assim sendo , seria competente o tribunal singular , esta que é a lei nova , caso
entendermos que exista um agravamento sensível da posição processual do arguido , neste
caso já aplicaríamos a lei antiga.

Se determinamos que é o singular , estamos , ou não , a violar o principio do juiz natural? Ao


dizermos que é o tribunal singular competente não estamos a violar este principio. Para
sabermos a aplicação da lei no tempo em princípio vamos ver quando é que começa o
processo e se a lei entra em vigor antes , ou depois deste. Para o problema do juiz natural isto
só se vai colocar quando os autos entram no tribunal , logo temos que ver a data da acusação
enão quando entra o inquérito , e neste caso aquela lei já é anterior , logo este tribunal
singular já seria competente.

20/03/2023 – Aula T

Os critérios utilizados para a competência dos tribunais (quer material quer territorial) , são
critérios que têm por referência os crimes.

Quando existe a conexão temos mais que um crime e então é necessário perceber como é que
se determina a competência por conexão. Isto define-se apurando primeiro qual o tribunal
competente para cada um dos crimes.

O art.27º diz-nos para a competência material que se os processos conexos forem da


competência de tribunais de diferente hierarquia , temos primeiro que definir a competência
de cada um dos processos.

Temos que verificar individualmente a competência material.

Caso prático :

Um individuo cometeu um furto qualificado e esta pessoa quando saiu do local , ao ser
capturada por um cidadão deu-lhe dois murros e fugiu (ofensas à integridade física simples).
Qual o tribunal competente?

R : Crime de furto qualificado – art.204º/1 CP – pena até 5 anos , logo tribunal singular

Ofensas à integridade física simples – pena até 3 anos , logo tribunal singular

Neste caso a competência era de tribunais da mesma espécie. Há uma outra norma que
restringe o âmbito de interpretação do art.27º CPP , esta que é o art.14º/2/b) CPP e de acordo
com este , mesmo que haja vários crimes cuja pena de prisão é inferior a 5 anos , a junção
destes leva a uma pena superior aos 5 anos o que torna competente o tribunal coletivo , esta é
determinada pelo que se preceitua no art.14º/2/b) CPP , que o art.27º CPP não exceciona.

Neste caso para cada um dos crimes era competente o tribunal singular , mas para o conjunto
dos dois seria o tribunal coletivo porque a junção das penas é superior a 5 anos.

O ministério público (MP) :

Em relação ao MP levanta-se a questão do domínio da ação penal.

Art.219º CRP – atribui ao MP o domínio/exercicio da ação penal e os princípios que estão


implicados.

O que vamos estudar é a questão do domínio da ação penal de uma forma mais especifica do
que a norma constitucional do art.219º.
Quais os princípios que estão implicados e o que é que eles significam?

A direção do inquérito cabe ao MP

24/03/2023 – Aula T

O Ministério Público :

Relativamente ao MP – art.48º a 56º CPP coloca-se desde logo a competência para o exercício
da ação penal.

O MP tem o domínio da ação penal nos termos do art.219º CRP. O MP é uma entidade pública
e por isso se fala segundo o principio da oficialidade , ou seja , a prossecução da ação penal é
feita por uma entidade pública que representa a sociedade/comunidade.

Aquelas circunstancias dos crimes semipúblicos e crimes particulares , decide se há processo


ou não , se apresentar queixa há processo , se não apresentar não há.

O particular ganha relevância nos crimes semipúblicos e particulares ao depender dele o facto
de o processo avançar , ou não , acabar , ou não , o que coloca em causa o principio da
oficialidade.

O prof. Figueiredo Dias prefere falar em restrição. A queixa vai ser avaliada pelo MP , logo ,
não deixa de ser a entidade oficial que lavra a instituição do processo mas também analisa os
factos e decide se eles são minimamente credíveis para o processo penal e se se integram
numa norma penal.

O MP tem os seus poderes restringidos nos crimes semipúblicos e particulares , ele ai já decide
segundo os critérios que são da sua competência de definir se é efetivamente a noticia de um
crime.

É noticia de um crime quando os factos relatados na queixa têm uma credibilidade mínima
para merecem processo penal , a chamada prova indiciária. A oficialidade não está
propriamente excecionada. A queixa é um momento pré-processual , mas também é verdade
que a legitimidade para apresentar queixa pertence em muito ao ofendido.

Nos crimes particulares a restrição ainda é um pouco maior , porque nos semipúblicos e
particulares quem tem legitimidade para apresentar queixa não distingue de crimes
semipúblicos e particulares.

Art.50º - nos crimes particulares é necessário que o ofendido se queixe ;

A queixa apresentada pelo ofendido é igual

Um ofendido pode apresentar queixa , no particular para além de apresentar queixa tem que
requerer a constituição de assistente no prazo de 10 dias sob pena de préclude o direito de
queixa.

Apesar desta diferença o impulso é o mesmo , é uma queixa.


Quer nos crimes públicos quer nos semipúblicos não há obrigatoriedade nenhuma de
constituição de assistente , este pode constituir-se assistente , ou não , conforme melhor
entender. Nestes não é obrigatória a constituição de assistente.

Nos crimes particulares não é que seja propriamente obrigatório , mas a ideia , nestes , é que
sem assistente não há processo , pois nestes o assistente tem um particular do domínio sobre
a acusação e sobre a ação penal.

Quando o MP chega à conclusão que tem indícios suficientes , o assistente acusa e o MP pode
e deve também acusar secundando a acusação do assistente no que diz respeito aos indícios
suficientes da prática do crime.

Os resultados do MP também vão ser relevantes se o assistente acusar.

O principio da oficialidade tem haver com o facto de o domínio da ação penal pertencer a uma
entidade pública que representa o interesse comunitário tendo em vista a proteção de um
bem jurídico.

O principio da obrigatoriedade é que mediante a noticia do crime o MP está obrigado a abrir o


inquérito , sendo esta a única analise que o MP pode fazer. Está obrigado a decidir mediante a
existência de indícios mínimos de crime.

No sistema anglo-saxónico o MP tem poder mediante noticia de crime e de factos mínimos da


existência do crime este pode não abrir o inquérito estando agora perante o principio da
oportunidade , neste sistema o MP tem o papel de parte. É uma estratégia do próprio MP para
prossecução do interesse da comunidade. No nosso processo penal isto não é possível.

O principio da obrigatoriedade , nesta fase inicial não tem exceções.

O MP se houver noticia do crime está obrigado , entende-se que esta obrigatoriedade que se
fala no direito processual penal é a indica pela CRP no art.219º. Nos países anglo-saxónicos
também existe esta ideia mas na vertente da oportunidade o que significa que a lei é mais
aberta.

Na conformação da lei o agente tem um maior nível de decisão em comparação a um que está
relacionado com a estrita legalidade.

É o art.262º que consagra o principio da obrigatoriedade

No art.262º diz-nos no seu n2 que , a noticia de um crime , salvo exceções , dá sempre lugar à
abertura do inquérito (principio da obrigatoriedade).

Há quem entenda que obrigatoriedade também existe nos crimes semipúblicos e particulares
dá sempre lugar à abertura do inquérito , ou seja , quando este recebe informação do crime
por pessoa que tenha competência para tal este está sempre obrigado a abrir inquérito.

Mesmo que entendamos que os crimes semipúblicos e particulares não representam


exceções , as a que se refere o art.262º/2 são de quando à noticia de um crime , é instaurado
um processo penal mas não há lugar à abertura do inquérito.

Se a noticia de um crime for legitima dá sempre lugar a um processo penal.

Isto que se diz no inicio do inquérito já não é tanto assim no final do inquérito
No fim da instrução temos uma verdadeira exceção à obrigatoriedade sendo esta a
suspensão provisória do processo.

Mediante indícios suficientes de uma prática de um crime o MP está obrigado a acusar , só que
estes institutos permitem que o MP mediante indícios suficientes da prática de um crime não
acuse , decide por uma outra forma de solucionar o conflito penal , nomeadamente a
suspensão provisória do processo , ou arquivamento.

O MP pode não acusar e optar por uma solução de diversão (solução diversa para resolver o
conflito penal).

27/03/2023 – Aula O.T

Caso prático 2 : continuação (na aula do dia 20/03/2023)

2. Depois da queixa e três dias depois de o MP ter aberto inquérito foi publicada uma nova lei
X que determinava a eliminação da fase de instrução. Estamos perante uma lei que entra em
vigor relativamente a um processo pendente. A questão da aplicação da lei no tempo é mais
problemática no sentido que se coloca com mais importância relativamente aos processos
pendentes , isto é um problema porque a pergunta que se faz é se a nova lei se aplica ao
processo pendente alterando as regras durante o processo , ou devemos manter as regras que
estavam em vigor anteriormente.

Art.5º CPP , em regra vai-se alterar , determina a regra da aplicação imediata.

Os atos do processo foram praticados até à entrada em vigor foram alguns no inicio do
inquérito , se nós temos uma lei que vai eliminar a fase de instrução significa que basta o
inquérito e o julgamento. Se se chega ao fim da fase de inquérito e foi eliminada a fase de
instrução , não seriam prejudicados estes qualquer ato do processo. Não temos aqui
propriamente um problema de harmonia dos atos processuais.

A resposta a esta questão vai depender de quem requer a abertura da instrução , a questão da
harmonia dos atos processuais não se coloca. Agora , há uma outra exceção , o principio da
aplicação imediata e esta exceção é que a aplicação imediata agrave sensivelmente a posição
do arguido , logo , teremos que pensar se a eliminação da fase de instrução vai prejudicar o
arguido , cuja resposta depende se vai ser o arguido a requerer a abertura da instrução ou um
assistente.

Se o MP acusa ,o arguido pode requerer a abertura da instrução para fiscalizar este ato do MP.
O arguido quando requer a abertura de instrução entende-se que este acha que nem deveria
ter sido feita a acusação.

Para que o juiz no fim da instrução lavre um despacho de não pronuncia , o arguido vai ter
uma oportunidade através do art.287º/1/a) CPP vai ter uma forma de impugnar a acusação do
MP. O arguido ao defender-se da acusação , que não há indícios suficientes da prática de um
crime , ou então o arguido pode dizer que não há indícios de que estes factos ocorreram.

O requerimento para abertura de instrução é um importante direito de defesa do arguido ,


pois impede que o arguido se sente no banco dos réus , que possa defender-se dizendo que a
acusação não tem fundamento.
Quando o assistente requer a abertura da instrução será para conseguir uma decisão ou para
ampliar os factos pelos quais o arguido foi indiciado , já não estando em causa o direito de
defesa do arguido.

Posto isto temos que considerar 3 hipóteses :

 Se chegar ao fim do inquérito e ninguém requere a fase de instrução não temos aqui
qualquer problema ;
 O assistente requerer a abertura da instrução , a lei X aplica-se imediatamente
impedindo a fase de instrução (art.5º/1 CPP)
 Se for o arguido a requerer a abertura do inquérito , em principio aplicar-se-ia a regra
geral do art.5º/1 CPP , mas aqui aplicam-se as exceções do art.5º/2/a CPP pois a
eliminação desta fase iria causar um agravamento sensível da posição deste e do seu
respetivo direito de defesa pois este iria ficar completamente sem defesa face à
acusação do MP ;

Se for o arguido a requerer a abertura da instrução aplica-se o art.5º/2/a) CPP e não se aplica a
imediatamente a lei X.

3. Caso a lei X entra-se em vigor durante a fase de instrução (independentemente de quem a


requereu) , se esta entrasse em vigor durante a instrução nós já teríamos aqui atos instrutórios
que iriam ser prejudicados e o problema é que na parte final do art.5º/1 CPP diz-nos que a lei
nova é de aplicação imediata , sem prejuízo dos atos praticados durante a vigência da lei
anterior.

Estes atos , caso a fase da instrução fosse eliminada iriam ser prejudicados pois o processo iria
imediatamente para julgamento ou seria arquivado e não haveria forma de salvaguardar a
validade destes atos.

Neste sentido estava prejudicada a validade dos atos praticados , logo , independentemente
de ser o arguido ou o assistente a requerer a instrução , seria sempre aplicável o art.5º/2/b) e
de acordo com este a lei processual penal não se aplica aos processos iniciados anteriormente
à sua vigência quando da sua aplicabilidade imediata possa resultar quebra da harmonia e
unidade dos vários atos do processo , e portanto , neste sentido a lei X não se aplicava/não
havia aplicação imediata da lei nova X , isto tudo na medida de que não se pode prejudicar os
atos processuais já praticados (iria quebrar a harmonia processual).

4. Se se tratasse de um crime de injúria

Nota :

Existe alguns capítulos do código penal em que a maior parte dos crimes não são públicos
nomeadamente tendo em vista a proteção da vitima , por exemplo , no capitulo dos crimes de
natureza sexual , o legislador utiliza uma técnica em que só num artigo , que normalmente fica
no fim do capitulo , é que vem dizer a se são crimes públicos , semipúblicos etc…
27/03/2023 – Aula P

Caso prático 13:

Num processo em que Aldina é acusada de ter cometido um crime de abuso de confiança , o
seu defensor invoca que a joia (objeto do crime) havia sido doada à sua cliente por Isabel (a
ofendida).

O tribunal penal abordou a questão concluindo que não houvera contrato de doação pois
Isabel entregara a joia a titulo de empréstimo e como tal , Aldina seria mera detentora do
bem , o que esta bem sabia.

Aldina é condenada pelo crime de abuso de confiança pois apropriara-se do bem alguns dias
após o empréstimo.

1. O tribunal agiu em conformidade com a lei?


R: Em principio , esta questão de doação seria resolvida no tribunal penal , pois
qualquer questão é decidida no processo penal isto de acordo com o art.7º/1 CPP -
principio da suficiência - , no entanto , há situações complexas que podem requerer
uma especialização maior , suspendendo o processo penal e enviar para a jurisdição
cível , mas isto com os limites impostos pelo art.7º/4 CPP e neste caso , mesmo que a
questão prejudicial seja enviada para uma jurisdição cível vai mesmo ter que ser
resolvida no âmbito do processo penal independentemente da sua complexidade.
Apesar disto , pelo que é dito no enunciado não parece extremamente difícil ou
complexa a situação de verificar se houve , ou não , abuso de confiança (art.205º CP) ,
é necessário determinar questões de processo civil e direitos reais de forma a
determinar se a joia foi doada ou apenas emprestada , logo , o tribunal agiu em
conformidade nos termos do art.7º/1 CPP e de acordo com o principio da suficiência.

2. Após transito em julgado da condenação podia Aldina interpor uma ação nos
tribunais civis pedindo que fosse declarada a existência do contrato de doação?
R: Os efeitos do julgamento da questão não penal no processo penal é o caso julgado
formal.
O tribunal penal pode abordar e decidir todas as questões , só que isto não vai ter os
mesmos efeitos caso fosse um tribunal civil , pois vai ser materialmente válido só
dentro do processo penal , para o resto do ordenamento jurídico ainda está em aberto
porque o tribunal penal não era competente para decidir relativamente ao contrato de
doação , ou seja , a situação aqui apenas fica resolvida na vertente penal , logo pode
interpor ação.
Isto poderia dar origem a uma contradição de julgados, eventualmente o tribunal civil
podia concluir que ali havia contrato de doação , isto decorre do facto de se poderem
decidir questões civis dentro de um processo penal.

Caso prático 24:

António dirige-se de Vila Nova de Gaia para Espinho conduzindo em excesso de velocidade
quando ainda em Gaia atropela Bento que teve morte imediata. Apercebendo-se que Bento
havia morrido , António preparava-se para fugir quando reparou em Carlos que a tudo
assistira. Para evitar complicações António , ainda do lado de Gaia decidiu eliminar a
testemunha disparando um tiro na sua direção , Carlos , atingido pelo tiro acabou por morrer
em local sob jurisdição da comarca de Espinho.

1. Aberto inquérito por ambos os crimes , haverá lugar a conexão processual?


R: Neste caso , aberto o inquérito , há lugar a conexão nos termos do art.24º/1/b) pois
o mesmo agente cometeu vários crimes , na mesma ocasião e lugar , sendo uns causa
e efeitos de outro , ou sendo uns destinados a ocultar outros , temos aqui a conexão
subjetiva devido a ser o mesmo agente.

2. Qual , ou quais , tribunal/tribunais são material e territorialmente competentes para


julgar o António?
R: Temos aqui dois crimes , dois homicídios , um por negligência e um qualificado ,
quanto ao primeiro temos uma pena de 3 anos e para o outro de 12 a 25 anos. Para a
morte de Bento é competente territorialmente o tribunal penal de Gaia de acordo com
o art.19º/2 CPP , e materialmente é o tribunal singular porque a pena de prisão é igual
ou inferior a 5 anos de acordo com o art.16º CPP.
Para a morte de Carlos é competente territorialmente o tribunal penal de Gaia porque
foi aqui que o agente atuou (art.19º/2 CPP) e materialmente é o tribunal coletivo por
força do art.14º/2/a) CPP.
Para ambos os crimes sujeitos a conexão , o tribunal territorialmente competente é o
de Gaia (art.19º/2) , a conexão é determinada pelo crime mais grave nos termos do
art.28º/a) CPP , e materialmente é o tribunal coletivo nos termos do art.27º CPP que
diz que se forem de competência de tribunais de hierarquia ou espécie diferente é
competente para todos o tribunal de hierarquia ou espécie mais elevada que neste
caso seria o coletivo.
Caso o conflito fosse entre um tribunal de júri e um tribunal coletivo , seria
competente o de júri caso este fosse suscitado. Os de júri e os coletivos são paritários ,
mas porque a intervenção do tribunal de júri tem que ser requerida este tem
preferência face ao coletivo nos termos do art.30º/2 CPP.

27/03/2023 – Aula T
O ministério público (continuação):
O ministério público visa a descoberta da verdade , portanto é um sujeito processual que tal
como o juiz procura a verdade material.
A acusação do MP deve ser sustentada nas fases posteriores.
Isto não impede que nos crimes públicos e semipúblicos o próprio assistente deduza uma
acusação , mas o facto de o assistente poder também ele deduzir a acusação não significa que
seja o MP a delimitar se há acusação ou não , e com isso também delimita o objeto do
processo a partir dai.
Art.284º CPP - o assistente pode também fazer acusação
A própria pessoa que é ofendida quando é notificada da acusação do MP , ele , como pessoa
com poder para se constituir assistente pode requere-la nesse momento e ele próprio também
deduzir acusação particular.
É a acusação do MP que decide se existe uma acusação , não a do assistente , é ela que
delimita o objeto do processo. Durante o inquérito podem surgir factos novos que alargam o
conteúdo da ação. O que representa este esquema é que não há uma vinculação ao tema da
noticia do crime pois os factos podem se ampliar.
Quando o MP acusa ele define o objeto do processo e a partir dai sim , há objeto do processo.
O assistente que a seguir acusa não vai delimitar o objeto do processo , pois esta só existe para
reforçar a acusação do MP.
O que o assistente vai fazer também é uma acusação , só que esta não pode ultrapassar o
objeto do processo do MP.
O assistente quando acusa está apenas a secundar/seguir a acusação do MP , mas no essencial
, isto é , ele pode ultrapassar de alguma forma a acusação do MP desde que não ultrapasse o
objeto do processo propriamente dito
O objeto de processo significa o conjunto de factos que estão na acusação e definem um
determinado limite e considera-se que ultrapassar o objeto dessa acusação não é apenas
introduzir factos novos , não é preciso é que estes alterem substancialmente a acusação do MP
, logo , é devido a isto que o assistente secunda a acusação do MP no seu essencial.
Art.284º CPP – “Acusação pelo assistente” - estamos a falar dos crimes públicos e
semipúblicos ;
Este poder de acusar é um poder central do MP , ele é o órgão acusador ainda que haja
sempre necessidade de dizer que este acusa pois assim se implica. O MP tem que decidir
segundo aquilo que entende como indícios suficientes para a prática do ato.
Apesar de materialmente praticarem a maior parte dos atos processuais , nada decidem
relativamente às conclusões dos atos praticados (interrogações , buscas etc…). Os órgãos de
policia criminal podem praticar a maior parte dos atos , porque apesar do MP ter o poder de
praticar a maior parte dos atos do inquérito , este também pode delegar estes poderes nos
OPCs , de acordo com os termos do art.270º CPP.
Na prática são os OPCs que praticam a maior parte dos atos do inquérito.
Apesar de serem órgãos independentes , o MP e as policias nos termos do art.55º CPP , existe
aqui uma relação de coadjuvação no que toca à atividade do MP , ou seja , os OPCs ajudam a
atividade do MP , temos aqui uma dependência funcional/hierárquica durante o
funcionamento do processo.
Art.55º CPP – Competência dos órgãos de policia criminal ;
Art.56º CPP – Orientação e dependência funcional dos órgãos de policia criminal ;
O MP cabe dirigir e instaurar o inquérito , e portanto , cabe também concluí-lo , o MP tem o
domínio da ação penal. Decide o desfecho do inquérito e portanto decide se há uma acusação
ou há arquivamento e portanto , estes poderes de instaurar o processo e de dirigir e finalizar o
inquérito dão-lhe o domínio da ação penal.
O MP representa a comunidade , mas há uma vitima , esta que se pode constituir como sujeito
processual , pode constituir-se como assistente.
Há ali uma sintonia de interesses , mas que depois não pode ser exatamente os mesmos. Essa
relação entre o MP e o assistente é uma relação que leva a que se o ofendido pretender ser
constituído assistente leva a que o próprio possa acusar.
O assistente pode acusar secundando a acusação do MP , mas também pode nada fazer , ou
até mesmo não concordar com o MP.
14/04/2023 – Aula T
Os direitos e deveres do arguido :
Em relação a estes , estão previstos no art.61º/1 e 3 CPP. Os direitos estão no art.61º/1 CPP e
os deveres estão no art.61º/3 CPP.
Relativamente a cada ato que é praticado por um respetivo sujeito processual , o arguido tem
o direito de se defender face a estes.
Direito de presença – pode estar presente em todos os atos , tendo o direito de defesa para
com estes caso entenda que tal.
O arguido tem o direito de estar presente nesses atos para melhor se defende.
Art.61º/1/a) CPP – tem o direito de estar presente nos atos processuais que diretamente lhe
digam respeito.
Este tem o direito de ser ouvido nestes atos processuais (direito de audiência). Sempre que
estes atos possam ter relevância no que diz respeito a decisões do juiz de instrução. –
art.61º/1/b) CPP
O direito ao defensor significa constituir advogado ou defensor. Art.61º/1/d) e) CPP. Todos os
arguidos no processo penal têm direito a defensor. Tem também o direito a comunicar com
este , mesmo em privado de acordo com o art.61º/1/f) CPP.
Direito à informação – art.61º/1/h) CPP.

Matéria para o teste :


 1 caso prático
 Principio da suficiência ;
 Aplicação da lei processual no tempo ;
 Competência das tribunais ;

17/04/2023 – Aula O.T.


Caso prático n14:
Após violenta discussão , António , skinhead , agrediu Carlos (africano) , motivado por ódio
racial.
Não contente com o facto subtraiu-lhe ainda um valioso relógio , um fio de ouro e a carteira
causando-lhe um prejuízo patrimonial de 5.000 euros.
Após a acusação , o arguido requereu a intervenção do tribunal de júri.
1. Pode neste caso requerer a intervenção do tribunal de júri?
R: Aqui não se trata de um roubo , porque se olharmos para o art.210º CP , a violência
no roubo é um meio de obter a coisa movel alheia , o que não foi o caso , o que aqui
aconteceu foi que houve uma ofensa à integridade física simples mas qualificada pois é
motivada por ódio racial tudo isto de acordo com o art.145º CP. Portanto , estamos
perante uma ofensa à integridade física por ódio racial , e quando se trata da
subtração do relógio , fio de ouro e a carteira com prejuízo patrimonial de 5.000 euros
estamos perante furto qualificado de acordo com o art.204º/1/d) CP.
Quanto ao furto qualificado temos uma pena de até 5 anos de acordo com o
art.204º/1 CP e relativamente às ofensas à integridade física temos uma pena máxima
de 4 anos nos termos do art.145º CP.
Podia haver intervenção do júri , desde que este fosse requerido e uma vez que este a
requereu é possível porque em abstrato , a pena máxima pode vir a ser até 9 anos.
2. Poderia em alguma circunstância ser competente o tribunal singular?
R: Sim , porque quando o tribunal coletivo ao ser competente (que seria caso não
houvesse o requerimento da pergunta anterior) porque a pena máxima é superior a 5
anos e não é um crime de sangue , não cabe no critério qualitativo art.14º/2/a) do CPP
, mas cabe no critério do art.14º/2/b) CPP.
Temos também de ver o limite mínimo da pena , neste caso , o mínimo dos mínimos
da pena até pode a vir a ser de 2 meses , como estamos no critério do art.14º/2/b)
CPP.
Quando estamos perante um crime que se enquadra no 14º/2/b) CPP e a pena mínima
é inferior a 5 anos existe a possibilidade de o MP limitar o limite máximo da pena para
5 anos e remeter para o tribunal singular de acordo com o art.16º/3 CPP.
Posto isto , era possível que em teoria o tribunal singular pudesse vir a ser
competente. Aqui estamos perante um crime , ou 2 crimes graves o que levaria a que
esta situação fosse permitida , apesar de ser legalmente possível.
3. Como responderia às questões anteriores se António fosse acusado por um crime de
terrorismo?
R: Lei 52/2003 – Lei do terrorismo (infrações terroristas). Não bastava a circunstância
do ódio racial para que fosse considerado terrorismo , para tal teria que existir que
este crime teve o objetivo de terrorizar/amedrontar as pessoas daquela raça , quando
existe este intuito e se percebe que à uma certa organização com este fim pode ser
considerada uma infração terrorista.
Quanto à pergunta 1 , o art.207º CRP impede a intervenção do tribunal de júri para
estas questões , e portanto , neste contexto , se ele fosse acusado pelo crime de
terrorismo não se poderia aplicar o tribunal de júri , e a competência iria recair num
tribunal coletivo.
Relativamente à pergunta 2 , o tribunal singular poderia ser competente dependendo
da infração terrorista em questão.

17/04/2023 – Aula P
Caso prático :
A 5 de janeiro , Beatriz denuncia que o seu marido Adriano foi alvo de furto qualificado nos
termos do art.204º CP praticado por Cristiano.
A 15 de março entra em vigor a lei X determinando que o crime de furto passa a depender de
queixa.
A 15 de outubro , em plena fase de julgamento , Beatriz declara querer desistir do processo ao
que Cristiano não se opõe.
1. Pode Beatriz desistir do processo ?
R: De inicio , mais concretamente no dia 5 de janeiro , o crime de furto qualificado
previsto no art.204º CP é público logo esta poderia denunciar nos termos do art.244º
CPP. Esta não estava obrigada a fazer a denuncia art.242º CPP (casos de denuncia
obrigatória). O MP abre inquérito. No julgamento Beatriz quer desistir , mas esta não
pode desistir porque ela não é o ofendido e nem sequer tem direito de queixa
(art.113º CP – titulares do direito de queixa) , logo , B nunca podia desistir deste
processo.
Beatriz não pode desistir do processo.

2. E se fosse Adriano a declarar querer desistir?


R: Adriano é o ofendido , e este em principio pode desistir pois tem o direito de queixa
, mas agora importa aqui a nova lei X. De acordo com o art.5º CPP a nova lei processual
penal é , de acordo com a regra geral , de aplicação imediata. Aqui não se podem
aplicar as exceções do art.5º/2/a) e b) , logo , segue-se o principio geral e aplica-se a lei
X.
Vamos aplicar a lei X como se o crime de furto qualificado dependesse de queixa , logo
, a abertura do inquérito antes da lei X é válido , ou seja , tudo até à entrada da lei X é
válido e o que se vai fazer a partir deste momento é assegurar todos os direitos que
podem surgir a partir deste momento.

Após uma discussão numa rua de Penafiel , Asdrúbal puxou da arma e com a intenção de
matar disparou na direção de Bernardino. A bala , porem apenas acertou de raspão o ombro
de Bernardino vindo a atingir Clemente que se encontrava um pouco mais atrás.
Gravemente ferido , Clemente é assistido no hospital do Porto , onde após várias horas lhe foi
amputada uma perna.
1. Há conexão entre estes crimes?
R: Há conexão nos termos do art.24º/1/a) CPP.

2. Quais os tribunais competente para este julgamento?


R: Quanto a Bernardino temos um crime de tentativa de homicídio , relativamente a
Clemente temos um crime de ofensas à integridade física negligente.
Para Bernardino é territorialmente competente o tribunal de Penafiel de acordo com o
art.19º/4 CPP , quanto a Clemente é territorialmente competente o tribunal do Porto
art.19º/1 CPP porque nenhuma das especialidades previstas nos números deste artigo
se aplicam.
Materialmente para Bernardino é competente o tribunal coletivo porque a pena é
superior a 5 anos como se trata de uma tentativa vai-se reduzir 1/3 , vai ser
competente o tribunal coletivo – art.14º/2/b) CPP.
Para Clemente é materialmente competente o tribunal singular nosso termos do
art.16º/2/b) CPP.
Como se trata de um caso de conexão aplica-se o art.27º CPP sendo competente o
tribunal coletivo pois este é de espécie superior , e será o de Penafiel nos termos do
art.24/1/a e 27 e 28º/a) CPP.

21/04/2023 – Aula T
A vitima também tem intervenção no processo penal , ou pelo menos pode ter. Apesar da
ideia de a relação jurídico criminal ser entre quem pratica o crime e a comunidade.
A qualidade de vitima não é relevante para o direto processual penal.
No caso português , a vitima tem relevância
A linguagem penal chama esta de ofendido , na criminologia já se fala da vitimologia. Na
vitimologia estuda-se o impacto que o crime e o processo penal têm na vitima.
O assistente :

24/04/2023 – Aula OT

Correção do 1º teste de avaliação continua :

Estávamos perante 2 crimes , um de abuso de confiança agravada pelo valor da coisa , em


virtude do art.205º/4/a) CP.

Ambos os factos foram no mesmo momento , porque o crime de abuso de confiança apenas se
verifica quando a pessoa se apropria da coisa. A pessoa detém algo , era mero detentor da
coisa mas , a partir de um certo momento começa a portar-se como proprietário da coisa , e é
ai que se verifica que o crime se consumou no abuso de confiança.

Neste sentido estamos perante uma situação de conexão subjetiva nos termos do art.24º/1/b)
CPP.

Aplicava-se a lei X.

Quanto à ultima pergunta , a aplicação da lei X “atirava” a competência para o tribunal singular
, e em relação ao abuso de confiança agravada com pena máxima de 5 anos seria da
competência do tribunal singular.

Mas , com a conexão seria competente o tribunal coletivo do porto.

24/04/2023 – Aula P

Caso prático :

A , paquistanês , residente no Porto foi detido por 2 agentes da PSP que o perseguiram
durante uma manifestação nos aliados , logo após o lançamento de um artefacto explosivo por
alguém com a compleição física semelhante à de A e com idêntica roupa escura.

Os 2 policias estavam portanto convencidos que A tinha sido o autor dessa explosão que
culminou com um automóvel que se incendiou provocando uma fuga dos manifestantes , isto
tudo apesar do A proclamar a sua inocência. Conduzido à esquadra foi espancado com vista a
obter uma confissão.

A , com o objetivo de por fim ao espancamento , confessou ter provocado a explosão , mas
negou conforme os policias pretendiam , tratar-se de um ato terrorista , e negou pertencer a
um grupo terrorista.

Conduzido , após 46 horas à presença do MP do Porto , este interrogou-o sumariamente após


a sua constituição como arguido , e ordenou a condução do mesmo ao juiz de instrução no dia
seguinte. Ordenou ainda , por causa dos indícios relativos ao crime de terrorismo que A
permanece-se em regime de incomunicabilidade que abrangia o advogado que ele indicasse.
A única questão é , se fosse o advogado de A , contactado pela família , o que podia alegar
junto do juiz de instrução.

R: A deveria ter sido constituído arguido na detenção nos termos do art.58º/1/c) CPP em
conjugação com o art.255º e 256º CPP (pois supostamente este foi apanhado em flagrante
delito) , em particularmente art.255º/1/a) CPP (pois foi a PSP que o deteve) , este deveria ter
sido constituído arguido neste momento nos termos do art.58º/1/c) e 254ç , 25º5 e 256º CPP-

A confissão é nula na medida em que foi obtida mediante tortura , tudo isto de acordo com o
art.25º/1 e 2 e 32º/8 ambos da CRP e art.125º e 126º/1 CPP. Portanto , esta confissão é nula o
que significa que não a vamos poder valorar no julgamento de A.

Este na esquadra , logo naquele primeiro momento foi interrogado o que não seria possível

As declarações que foram obtidas mediante tortura , caso não fossem obtidas através de
tortura não podiam ser valoradas , art.120º/1 CPP , ou seja , esta nulidade teria que ser
arguida. Caso já tivesse sido constituído arguido estaríamos perante uma nulidade do
art.119º/c) CPP.

Quanto ao facto de este ter sido conduzido ao MP após 46 horas aplicamos o art.28º/1 CRP e
art.143º/1 CPP e art.143º/2 CPP este n2 remete-nos para o art.141º CPP , logo teríamos um
prazo de 48 horas.

O juiz de instrução ordenou a condução na manha seguinte aplica-se o art.143º/3 CPP. O MP


disse que ele não podia comunicar com ninguém , nem mesmo com o advogado o que não
está correto 143º/4 CPP porque estamos aqui potencialmente perante um crime de terrorismo
, este ainda tem direito a comunicar com o seu defensor nos termos do art.61/1/e) CPP e
61º/2 CPP.

Por fim , este aparentemente está detido com várias nulidades , logo “habeas corpus” que
consta da CRP e 220º e seguintes do CPP , isto que é da competência do supremo de acordo
com o art.11º/4/c) CPP.

24/04/2023 – Aula T

As partes civis :

Esta matéria tem haver com a circunstância de haver crimes que geram também
responsabilidade civil , quase que se pode dizer que a grande maioria dos crimes geram
responsabilidade civil.

Quando estes ofendidos sofrem também danos , se esses danos forem danos civis , o facto ger
responsabilidade criminal e responsabilidade civil. A maior parte dos crimes ao atentarem
bens jurídicos atentam também contra bens subjetivos alheios o que leva a que os lesados
tenham direito a indemnização.

Tantos são estes os casos , que o art.71º CPP – Principio da adesão. Este principio não é
facultativo , mas sim obrigatório.
Quando os danos civis resultam da prática de um crime , quando esses factos gera também
responsabilidade civil , então este pedido de indemnização civil cujos danos civis resultaram de
um crime é deduzido (é uma obrigação) no processo penal respetivo (que está a correr por
crimes cujos factos geraram também responsabilidade civil) , só o podendo ser em separado
nos casos previstos na lei , nomeadamente no art.72º CPP.

A regra é mais especificamente principio da obrigatoriedade da adesão. A exceção é a opção


de pedir em separado.

A regra é que é obrigatório que o pedido de indemnização civil seja feita no processo penal.

OFENDIDOS (VITIMAS DOS CRIMES) =/= LESADOS (OS QUE SOFRERAM DANOS CIVIS)

Os ofendidos e os lesados tanto podem ser a mesma pessoa , como podem ser pessoas
distintas.

Uma das grandes vantagens do principio da adesão é que a prova é a mesma.

Situações em que se pode fazer o pedido em separado – exceções ao principio da


adesãoart.72º CPP. Estas são situações em que é preferível que o processo corra em separado
porque aquela ideia que favorece a adesão deixa de existir.

O pedido de indemnização civil pode ser deduzido em separado. A exceção é obrigatoriedade


ou opção.

Art.72º/1/i) , 75º/1 e 77º/2 todos do CPP.

Art.74º CPP - Legitimidade ;

Art.75º/1 e 2 CPP – Dever de informação ;

Art.76º CPP – Representação ;

05/05/2023 – Aula T

O objeto do processo :

O julgamento versa sobre os factos da acusação , ou seja , a acusação delimita qual é o objeto
do julgamento , o que não significa que os limites desse objeto sejam inflexíveis. Se essas
alterações não forem substanciais não significa que determinados factos sejam tidos em conta.

Os factos da acusação e os factos que vão a julgamento :

Só os factos da acusação podem ser considerados em julgamento. Os factos que


consubstanciam , se por exemplo , A é acusado de matar B no dia 5 de setembro em Penafiel e
durante o julgamento se apercebessem que este teria matado B não no dia 5 de setembro , se
o facto não estiver na acusação o tribunal já não o podia considerar.

Quando não estavam na acusação não podem ser considerados. Para evitar estas situações a
lei estabelece um critério de alteração do processo onde se pode harmonizar a verdade
material que é aquilo que se prossegue.
Quando se fala em verdade material não se está a falar em verdade ontológica. Quando
estamos perante a alteração de factos é que o arguido não seja apanhado desprevenido com
factos com os quais não contava. A flexibilidade implica que possa haver factos novos ainda
dentro do mesmo objeto do processo.

Isto considerado o problema que se coloca agora é , existe o objeto do processo , o principio
está subjacente a esta ideia de que o objeto do processo deve ser o mesmo no julgamento e
na acusação , principio da identidade do objeto do processo - O objeto do julgamento deve ser
o objeto da acusação é preciso que tenha a garantia de que os factos que vai tratar no
julgamento são os que constam da acusação. O critério de alteração de identidade do objeto
significa que o objeto da acusação deve ser o objeto do julgamento , podemos dizer que
determinados factos que estão a ser tratados em julgamento já não se identificam com o
objeto da acusação. Na parte em que o objeto é alterado já essa parte não pode ser
considerada pelo juiz de julgamento.

O critério é a alteração substancial do facto , alterou-se o objeto da identidade do projeto isto


que à partida não pode acontecer.

Quando ele for confrontado com um facto que altera substancialmente a acusação do MP.

Limites da identidade do processo do objeto.

Onde está prevista a alteração substancial dos factos?

A alteração de factos tem que ter por efeito : a imputação ao arguido de um crime diverso , ou
a agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis.

O que é uma alteração de factos? Não pode ser entendida exatamente da mesma forma da
vida comum. Garantir esta tutela de forma a que o arguido saiba que é acusado. Alteração de
factos só existe se forem acrescentados factos novos , ou se houverem factos novos que
substituem os anteriores/já existentes.

Quando se fala em alteração de factos não se considera exclusão de factos (art.284º CPP).

12/05/2023 – Aula T

15/05/2023 – Aula O.T.

Se houver factos novos que não alterem substancialmente o objeto entende-se que não há
uma alteração do objeto do processo.

Se houver um enquadramento jurídico diferente dos factos , mas estes factos mantêm-se os
mesmos.

A ideia fundamental está na base da identidade do processo , o arguido deve ser julgado pelo
objeto da acusação , na medida em que o julgamento versa sobre uma acusação.
O objeto do processo só se forma com a acusação , isto é , para se falar do objeto do processo
não basta falar num conjunto de factos , estes têm que se verificar e integrar num , ou mais ,
tipos de normas penais.

Esta fase do inquérito é uma fase com características inquisitórias.

A primeira questão é o principio da vinculação temática (o julgamento versa sobre uma


acusação , ou seja , a acusação define o objeto do processo/do julgamento).

À partida é o MP que delimita o objeto do processo , deduz a acusação , mas é possível ao


assistente impugnar esta acusação no sentido em que pode suceder que o assistente quando é
notificado da acusação entenda que aquela acusação é insuficiente , ou seja , entenda que há
mais factos que deviam constar do objeto do processo.

Para que o MP não ficasse com o monopólio da acusação , neste sentido , a fase de instrução
pode vir a permitir , se o assistente conseguir convencer o JIC , este último pode

A lei no art.287º/1/b CPP não diz que o assitente tem que alterar substancialmente o objeto
do processo.

Outro aspeto a ter em consideração é que temos o corpo do delito (conjunto de factos que
constituem um ou mais delitos que vão ser submetidos a julgamento) , mas também há outro
principio que está a ser prejudica com o objeto do processo e a sua alteração , que é o
principio da verdade material (desta produção de prova durante o julgamento podem começar
a surgir novos factos , umas vezes mais relacionados com o crime , outras vezes não , logo , por
força do principio da identidade do objeto estes factos , o que acontece é que estes novos
factos podem dar origem a um novo processo penal e portanto a verdade material não é
prejudicada , mas por motivo das garantias do arguido estes novos factos vão ter que ser
inseridos num novo processo.

Permitem ao juiz de julgamento lavrar uma certidão destes factos , encaminhados ao MP


podem valer como denuncia pois estes não têm autonomia para ser objeto de um processo.

O A entra na habitação de B e furta vários objetos (furto qualificado). Os factos novos são que
o A arrombou a porta e danificou a mesma o que leva o furto do art.204º/2 CP aumente a
pena , vai existir aqui um agravamento da pena. O JIC prenuncia por este conjunto de factos e
portanto prenuncia o furto qualificado. Estamos no julgamento os factos que surgem são que
quando ele estava sair do assalto apareceu uma pessoa e ele agrediu esta pessoa porque a
mesma não a deixava sair e prendeu-a numa arrecadação , num caso concreto estes factos são
autónomos mas não são autonomizáveis , o tribunal remete os novos factos para o MP se eles
forem autonomizáveis face ao objeto do processo.

Factos autónomos significa que é um facto que por si só isoladamente configurado constitui
crime.

Facto autonomizáveis significa que se podem separar do objeto do processo em questão , ou


seja , são separáveis do objeto do processo.
O que é um facto autonomizável , quando é que o juiz pode remeter para o MP? Quando por si
só consistem em crime e têm que estar em concurso efetivo de crimes com o objeto do
processo.

Esta questão acaba por ser a solução possível , salvaguarda-se a verdade material , para que
esta se salvaguarda-se ao máximo à a hipótese do art.359º/3 CPP – caso julgado de consenso

Se não houver caso julgado de consenso

15/05/2023 – Aula P

Findo o inquérito , tendo indícios suficientes contra Alcino pelo crime de burla qualificada
(art.218º/1 CP) o MP decidiu promover a suspensão provisória do processo com a
concordância do juiz de instrução , do arguido e verificados os restantes requisitos exigíveis o
arguido cumpriu a injunção aplicada , e dois meses depois o processo foi arquivado nos termos
do 282º/3 CPP.

Cassildo , ofendido que não se constituíra assistente revoltado , não só por não concordar com
aquele desenlace mas também por não ter sido chamado a participar no mesmo obteve novos
meios de prova e requereu a abertura do inquérito com base no art.279º CPP.

Quid Iuris ?

R: Nós só podemos suspender provisoriamente o processo no que retrata o art.281º/1/a) CPP ,


a concordância do assistente para a suspensão provisória do processo só é necessária caso
este tenha sido constituído.

A norma da constituição de assistente está no art.68º.

A burla qualificada é um crime público , logo quanto ao prazo de constituição de assistente


aplica-se o art.68º/3/a) CPP , ele tinha até 5 dias antes do debate instrutório para se constituir
assistente , mas neste caso ele não se constituiu assistente.

O art.282º/3 , porque já implica uma apreciação do caso , implica que o arguido cumpriu coisas
que lhe foram ditadas é um caso julgado material , logo o arquivamento está perfeitamente
estável no nosso ordenamento jurídico.

Art.279º CPP -----» remissão para o Art.277º CPP

Caso prático 19 :

Álvaro , 16 anos , foi acusado por Bento pelo crime de injúria (art.181º CP) atendendo a que
Álvaro não negando a ocorrência dos factos se encontra exposto a indemnizar Bento. O
julgamento seria traumático para um jovem daquela idade , mas , Bento recusa qualquer
possibilidade de acordo.

Como procederia colocado no lugar de defensor do arguido.


R: Apesar de ele ainda ser menor civilmente , já responde na vertente penal pois tem 16 anos.
Não poderíamos aplicar a suspensão do processo pois o requerente não concorda. Estamos no
fim do inquérito , não temos instrução porque ninguém a pediu , mas já temos acusação.

Nos temos uma acusação.

Requerimento de abertura de instrução previsto no art.287º CPP. O encerramento da


instrução está no art.307º/1 CPP – a instrução acaba com o despacho de pronuncia ou de não
pronuncia.

Analogicamente podemos aplicar também para o art.280º CPP – arquivamento em caso de


dispensa de pena.

O JIC tem que ter a concordância do MP. O problema aqui é que isto é um crime particular ,
logo o MP não tem autonomia de prossecução da ação penal , logo este não tem o mesmo
nível de autonomia.

Alguma doutrina diz que se isto é assim e o assistente acusa não se devia permitir o
arquivamento em caso de dispensa de pena porque isto era dar ao MP um poder que ele na
verdade não tem. Outra parte da doutrina diz que isto se aplica analogicamente se o JIC
determinar que deve ser arquivado e o MP também entender no mesmo sentido.

Se o MP não concordar não se arquiva.

Em termos materiais , no entanto , isto iria ser muito coercivo porque a decisão de
arquivamento em caso de dispensa de pena terminava logo aqui o processo. Se não se
permitisse aquilo que ia acontecer era , prosseguia-se para julgamento e muito provavelmente
no fim deste julgamento iria ser dispensado de pena. A dispensa de pena continua a ser uma
decisão condenatória (art.375º/3 CPP).

Portanto , enquanto que o resultado material é igual , há uma grande diferença em que num é
simplesmente arquivado , no outro tem efetivamente uma sentença condenatória. Para além
disto , para aplicar a dispensa de pena tem que haver certos requisitos que estão no art.74º
CPP. Na dispensa de pena , remissão para art.74º CPP.

15/05/2023 – Aula T

Tramitação processual – continuação :

A fase do inquérito :

Art.262º CPP – conforma a norma constitucional (art.219 CRP – refere-se ao exercício da ação
penal segundo o principio da legalidade . este traduz-se na vertente do principio da
obrigatoriedade) ;

Art-263º CPP

Art.267º CPP

Art.268º e 269º CPP – conformam o art.52º/4 CRP ;


Concluindo o MP que está perante um crime este não tem margem no sentido se deve ou não
instaurar um processo penal. O MP está obrigado a abrir inquérito segundo uma estrita
legalidade.

Existe uma competência genérica de delegação de poderes nos órgãos de policia criminal. Esta
é genérica porque é para a generalidade dos atos , não estão especificados os atos pelos quais
o MP pode praticar ou delegar as competências. Em regra , a lei restringe , eles podem delegar
todos os atos menos os que sejam restringidos nos termos do art.270 CPP (exceções à
capacidade de delegação).

O MP dirige o inquérito em conjunto com os OPC

Primeiro interrogatório de arguido detido é feito pelo JIC.

Findo o inquérito , produzida a prova e resultando em indícios suficientes da prática do crime ,


o MP em principio acusa. Por outro lado , não havendo indícios suficientes o MP arquiva.

A acusação do MP é notificada/comunicada aos outros sujeitos processuais. Feita a acusação


pelo MP o assistente pode deduzir também acusação (nos crimes públicos e semipúblicos).
Esta acusação feita pelo assistente tem que estar dentro dos limites do objeto definido pelo
MP.

A ideia do principio da obrigatoriedade aqui é que havendo indícios suficientes o MP deve


acusar (submeter a causa a julgamento).

O assistente só pode acusar nos termos do art.284º CPP.

A suspensão provisória do processo não são propriamente “plea bargaining”.

Nos crimes particulares , o ofendido quando apresenta queixa tem de constituir advogado ,
requerer assistente e pagar a taxa de justiça , no fim od inquérito é notificado para decidir se
acusa ou não acusa.

19/05/2023 – Aula T

Matérias importantes para o 2º teste : pedido de indemnização civil , inicio do processo penal ,
sujeitos processuais , crimes públicos , semipúblicos , tramitação

A fase da instrução :

A decisão de encerrar o inquérito , seja ela uma acusação , seja ela um arquivamento pode ser
impugnada mediante um requerimento para abertura de instrução dirigida ao JIC.

Quem pode requerer a abertura da instrução? Os dois sujeitos processuais que podem
impugnar a decisão do MP são o arguido e o assistente.
A lógica que se prende desde logo considerando a função da instrução será o arguido se foi
acusado pode perfeitamente impugnar essa decisão , e o assistente pode impugnar o
arquivamento. A ideia geral é esta.

No que diz respeito ao arguido quando se diz impugnar a acusação , este pretende que a
mesma não seja considerada , que a causa não seja submetida a julgamento e pretenderá
que , no fim da instrução , a decisão do JIC em termos de conteúdo seja diferente da acusação
do MP , nomeadamente que se lavre um despacho de não pronuncia. Permite que o arguido
não seja submetido a julgamento com a decisão de apenas um sujeito processual sem ter a
hipótese de chamar à colação a decisão de um outro sujeito processual.

No que diz respeito a impugnar a acusação , o arguido pode até querer apenas impugnar parte
da acusação , mas é verdade que se o arguido o que pretende é um despacho de não
pronuncia ele tanto pode conseguir se convencer o JIC durante a instrução que os factos não
são verdadeiros/que não há indícios que justifiquem tais factos.

O arguido pode prosseguir o mesmo efeito não impugnando os factos , mas defendendo que
aqueles factos não constituem crime. O efeito é o mesmo. Para a defesa do arguido tanto é
importante a matéria de facto como a matéria de direito.

Pode o arguido por mera questão de direito conseguir abrir a fase de instrução? O arguido
pode faze-lo porque esta é a única hipótese que o arguido tem de contestar a qualificação
jurídica do MP. O arguido tem que ter o direito de evitar o julgamento se conseguir que tais
factos não constituem crime , isto é o que ele pode fazer durante a instrução quer por via dos
factos , quer por via do direito. O arguido pode requerer a abertura da instrução apenas para
impugnar matéria de direito.

Estas situações foram alvo de alguma controvérsia na doutrina. Este é o único momento que o
arguido tem para impugnar a decisão do MP antes do julgamento.

O assistente não pode requerer a abertura de instrução por mera qualificação jurídica , mas o
arguido já pode pois este representa o único momento que este tem para impugnar tais
factos.

A defesa do arguido só está compelta se ele poder impugnar os factos , os factos e o direito ,
ou apenas o direito pois estes podem representar a diferença entre a submissão , ou não , a
julgamento.

A lei processual penal permite ao assistente alterar a qualificação jurídica do MP antes do


julgamento , logo , o arguido por igualdade de armas deve ter também esta capacidade.

Logo , em suma , o arguido pode requerer a abertura da instrução por mero facto de direito
através de uma interpretação extensiva do art.287º/1/a) CPP.

Quanto ao assistente , o art.287º/1/b) CPP diz que este pode requerer a abertura de instrução
se o crime não constituir natureza particular (pois não faria sentido este impugnar a acusação
que ele próprio integrou/deduziu no processo) , aqui já não se faz interpretação extensiva. O
assistente pode alterar a qualificação jurídica nos termos do art.284º CPP. O assistente
também pode alterar factos constantes da interpretação do MP.
Se o assistente pode qualificar de forma jurídica diversa , não deve utilizar a fase de instrução
para o efeito , deve utilizar a acusação porque não sacrifica a economia e celeridade
processual e está a favor da verdade material. Para tal isto terá que ser por algo que não
consta do art.284º CPP , logo , resulta daqui a classificação jurídica diversa e factos que não
alteram substancialmente.

Durante a instrução temos um momento processual facultativo que possa por um lado
fiscalizar a decisão do MP e possa já ter uma fisionomia acusatória , nomeadamente existir a
possibilidade de debate oral contraditório.

O conteúdo da instrução tem haver com a prova de factos. Esta também visa esclarecer o
direito , mas é vista sobretudo como uma fase de instrução.

O juiz é que decide oficiosamente ou a requerimento os atos a levar a cabo.

Requerimento para abertura de instrução =/= aquilo que acontece na instrução

O requerimento para abertura da instrução não é uma fase processual. Não pode haver uma
alteração substancial.

Como deve o juiz proceder? O que acontece a um despacho de pronuncia que altere
substancialmente o objeto do processo? É nulo nos termos do art.309 CPP.

Ou remete ao MP o facto novo ou pura e simplesmente o ignora. Se a nulidade não for arguido
o despacho de pronuncia convalida-se com este novo facto.

Esta é uma nulidade dependente de arguição.

Importante – distinguir factos autonomizáveis de factos não autonomizáveis. !!!!!!!!

Para o teste sai até esta aula

22/05/2023 – Aula O.T.

Caso prático 34 (continuação) :

3. A ----(143)-----» G ------------» H (3.000€)

G foi projetado por A contra um vidro que partiu.

O lesado não é ofendido.


Seria aqui possível um arbitramento do pedido civil? Temos o processo penal que está pendente no
inquérito , o H cumpriu a obrigação(ónus do art.75º/2 CPP) e depois será notificado , havendo
acusação , da mesma , o que lhe dá 20 dias para fazer o pedido cível.

O arbitramento da indemnização civil é aquele pedido que é feito pelo próprio lesado , e portanto não
tendo que seguir as formalidades técnicas do pedido de indemnização civil. Como se trata de um
processo civil cujo valor não implica obrigatoriedade de constituição de advogado , o pedido pode ser
feito pelo próprio , e é esse mecanismo que o tribunal avalia um pedido mais simples onde basicamente
consta os factos objeto do processo e os danos e o próprio tribunal é que vai arbitrar a indemnização.

Neste sentido , o tribunal podia arbitrar. Sem pedido do lesado o juiz não pode arbitrar a indemnização ,
como nos termos do art.77º/4 CPP.

4. Podia-se conduzir a um tribunal civil , mesmo antes de Guilherme (ofendido ter feito qualquer
queixa) porque se trata de um crime semipúblico , depende de queixa , logo o lesado tem
opção de fazer pedido num tribunal civil ou tribunal penal. (Principio da opção – tanto pode
fazer num tribunal civil como num tribunal penal).
As consequências deste ato ao fazer pedido num tribunal civil , não haveriam consequências ,
estas só existiam se quem entendesse fazer um pedido no tribunal civil e depois apresentar
queixa fosse o Guilherme.
Caso fosse Guilherme a pedir o pedido de indemnização primeiro num tribunal civil e só depois
no tribunal penal , quando a lei faz esta presunção percebemos logo se é uma declaração tácita
ou ficta (não é presumida , logo , art.72º/2 CPP.

22/05/2023 – Aula P

Caso prático 55 :

Américo foi acusado de furto qualificado (art.204º/2/e CP) por ter penetrado na habitação de Manuel
abrindo a porta com uma gazua e subtraído várias peças no valor de 13.000€.

Américo requereu a abertura de instrução invocando que nada subtraíra e que só tinha entrado na casa
de Manuel porque tinha visto a porta aberta e foi verificar o que se passava , pois sabia que Manuel
estava em viagem no Brasil.

Uma vez lá dentro , teve a sensação de que faltavam objetos pelo que seria de presumir que tivesse
havido um assalto , mas , a ser assim , o autor não era ele.

O JIC , durante esta fase convenceu-se da veracidade do relatado pelo arguido , da parte em que ele
menciona que a porta estava já aberta quando entrou na habitação , porem , Américo , teria
aproveitado por subtrair os bens mencionados na acusação , pelo que pronunciou por furto qualificado ,
mas enquadrado na alínea f) do n1 do art.204º CP.

Durante o julgamento , o tribunal deu como provada a factualidade descrita na acusação condenando o
arguido pelo crime de furto qualificado nos termos do art.204º/2/e) CP.

1.Poderia Américo requerer a abertura da instrução nos termos em que o fez?

R: O arguido não podia requerer a abertura da instrução pelos termos em que o fez nos termos do
art.287º/1/a). A matéria que está aqui em causa nas alegações dele são matérias de facto e de direito ,
esta questão seria mais pertinente se ele alegasse apenas factos de direito , isto por uma questão de
defesa , mas também por uma questão de igualdade de armas.
2.É válido o despacho de pronuncia?

R: No despacho de pronuncia houve uma alteração não há factos incriminatórios novos , para além disso
, caem factos , neste caso o de ele ter arrombado a porta isto que ainda foi alegado pela própria defesa.
Este despacho de pronuncia é válido.

3.É recorrível o despacho de pronuncia?

R: Este despacho de pronuncia é recorrível. A pronuncia para não ser recorrível tem que ser pelos
mesmos factos da acusação , ou seja , quando há alguma diferença , o despacho de pronuncia passa a
ser recorrível nos termos do art.310º/1 CPP. Isto também é assim quando há diferenças de opinião
entre as autoridades judiciárias.

4.Qual o tribunal materialmente competente?

R: O tribunal materialmente competente é o tribunal singular.

5.Como devia proceder o tribunal de julgamento?

R: O julgamento deveria ignorar o facto de ele ter aberto a porta e julgar pela pronuncia.

6.Seria admissível o caso julgado de consenso?

R: Art.359º/3 CPP. Da instrução para o julgamento voltou-se a inserir um facto novo , portanto já é uma
alteração substancial de factos , pois o juiz de julgamento está a introduzir um facto novo , logo poderia
haver um caso julgado de consenso se tiverem todos de acordo com a prossecução do julgamento de
acordo com estes factos.

7.É válida a sentença condenatória?

R: A sentença condenatória é nula nos termos do art.379º/1/b). Quando há pronuncia o objeto do


processo fica-se na pronuncia , logo , não pode o juiz de julgamento escolher livremente os factos que
estão na acusação ou na pronuncia.

Esta nulidade seria arguida/reconhecida em recurso nos termos do art.379º/2 CPP , mas há
jurisprudência que afirma que estas nulidades podem ser reconhecidas oficiosamente , e também há
jurisprudência que diz que este recurso se pode mesmo colocar perante o tribunal da decisão/que
decidiu a questão.

Logo , em suma , esta sentença não é válida.

26/05/2023 – Aula T

Despacho de pronuncia
Art.309º CPP – nulidade da decisão instrutória – o despacho é nulo nesta parte ;

O despacho pronuncia é nulo quando altera substancialmente os factos , e sendo nulo nesta parte
depende de arguição , o arguido tem prazo de 10 dias para arguir a nulidade do ato ou o ato convalida-
se com o novo facto.

Em relação ao momento que surgem factos novos é necessário verificar se o facto novo que altera
substancialmente é autonomizável ou não autonomizável.

É necessário que estes factos novos impliquem concurso efetivo , só se for de concurso efetivo é que é
considerado um facto autonomizável.

Art.303º CPP – Alteração dos factos descritos na acusação ou no requerimento para abertura da
instrução

Se constituir crime é não autonomizável quando estamos perante concurso aparente.

Fase de julgamento :

Atos preliminares – Art.311º a 320º CPP ;

Rejeita a acusação do assistente se ela não cumprir o art.284º CPP ;

Art.311º/3 CPP – Acusação manifestamente infundada

Art.312º CPP - o tribunal deve marcar a audiência de julgamento

Art.311º-B CPP – Este artigo vem substituir o art.315º CPP. O arguido é notificado para apresentar a
contestação , e em 20 dias a contar deste despacho. Permite que o arguido possa apresentar a
contestação e também diligências probatórias nomeadamente o rol de testemunhas que entenda levar
a julgamento.

A audiência de julgamento está prevista no art.321º CPP a 364º CPP.

Em regra e de acordo com o principio da publicidade a audiência é publica de acordo com o art.321º
CPP. A produção da prova está no art.340º e seguintes.

As nulidades invocam-se mediante a entidade que tomou a decisão (pode haver recurso da decisão caso
a entidade em questão não aceite).

Art.355º CPP – Proibição da valoração de provas – principio da imediação (o juiz de julgamento só se


pode motivar por provas que sejam produzidas na audiência de julgamento , ou seja , as provas não
valem se não tiverem sido analisadas em audiência de julgamento).

Neste contexto da audiência de julgamento também pode surgir uma alteração substancial dos factos.

O arguido tem que requerer um tempo de defesa , cingindo-se este ao prazo estritamente necessário.

29/05/2023 – Aula O.T.


Caso prático 84 :

1.Temos uma detenção em flagrante delito , esta que está prevista no art.256 CPP. Quando um cidadão
comum prossegue à detenção tem que respeitar o que está previsto no art.255º/1/b) CPP.

Feita uma detenção nestes moldes ela deve respeitar o art.255º/2 CPP , isto é , feita a detenção no mais
curto prazo de tempo , o detido deve ser entregue às autoridades. Neste caso foram cumpridos todos os
requisitos legais.

2.Os agentes da GNR , perante o relato dos factos , identificaram o suspeito , mantiveram-no detido 30
horas , em seguida apresentaram-no ao MP e remeterem auto de noticia com relato completo.

A verdade é que a GNR procedeu bem ao deter o suspeito , mas não devia ficar por aqui pois este
suspeito deveria ter sido constituído arguido nos termos do art.58º/1/c) CPP.

Ou se constitui arguido como impõe o art.58º/1/c) CPP e pode ficar detido até um máximo de 48 horas ,
ou , se não o fizer tem de libertar imediatamente o suspeito , logo , neste âmbito a GNR não atuou
corretamente. Devia ter constituído o suspeito como arguido. Sempre que isto acontece tem que se
lavra termo de identidade e residência.

A omissão desta atuação possibilitaria o arguido a fazer um pedido de habeas corpus.

Ou seja , neste caso não concordamos com o facto de o suspeito não ter sido constituído arguido.

A GNR teria procedido bem se tivesse o suspeito sido constituído como arguido.

Art.243º exige para auto de noticia presencialidade da autoridade face à prática do crime , ou seja , só
pode haver auto do crime quando a própria autoridade presenciou os factos. Teria que ser um auto
sumário de entrega previsto no art.255º CPP.

3.É normal o MP proceder a interrogatório para perceber se deve ser aplicada alguma medida de coação
, mas não havia necessidade de aplicação de prisão preventiva , o MP entendeu que esta não era
necessária. Quando estamos na fase de inquérito tem que ser o juiz a aplicar as medidas da coação a
requerimento do MP.

O MP entendeu que não era necessária a prisão preventiva. O MP procedeu bem ao constituir o
suspeito como arguido.

O MP relativamente ao interrogatório entendeu que não seria necessária prisão preventiva , constitui o
suspeito como arguido (procedeu bem) nos termos do art.58º/1/c) CPP. Lavrou termo de identidade e
residência e impos a obrigação de prestar 5.000€ de caução , esta última medida de coação teria que ser
obrigatoriamente aplicada por um juiz.

Não procedeu corretamente ao impor a obrigação de prestação de caução.

4.Aqui quando se fala da validade ou invalidade estamos a falar do objeto do processo , e a questão é se
a acusação do MP é válida. Aqui o problema que se coloca é da alteração substancial dos factos.

A noticia do crime tem aqui alguns factos e mediante estes , o caso prático diz que Benevides deixava de
estar indiciado pelo art.147º e passava a estar indiciado pelo art.131º. Quando o caso prática deixa de
ser indiciado pelo 147 mas sim pelo 131 por um facto novo que houve , entendemos que o MP teve
outra “visão”.

O que aconteceu durante a produção da prova foi de que o MP profere despacho de acusação
entendendo ainda que o arguido tinha a intenção de matar. Podíamos ter aqui duas situações , que
havia uma interpretação diferente do MP , mas aqui é que para chegar à conclusão de que tinha
intenção de matar tornou-se relevante.

Facto novo donde se deduz um facto subjetivo que é o dolo , por um facto novo , e por efeito deste
facto novo passamos , em termos metodológicos , para a agravação dos limites máximos , logo temos
efetivamente uma alteração substancial dos factos.

Havendo uma ASF entre a noticia e a acusação ainda não entramos no principio da definição do objeto ,
logo , neste sentido a acusação é válida.

5.Quando o arguido requer a abertura da instrução , estamos a perguntar se o JIC deve admitir ou não a
fase de instrução , ou seja , se deve deferir , ou não , o requerimento.

Há requisitos prévios , como a legitimidade , os prazos , mas passados estes pressupostos temos que
analisar o conteúdo do requerimento.

O que o juiz vai analisar é se aquele requerimento , nomeadamente o seu conteúdo está conforme a
lei , estando o requerimento para abertura de instrução previsto no art.287/1/a) CPP.

O sentido lógico do requerimento para abertura de instrução do arguido é para se defender/fazer cair
aquela acusação , portanto , quando existe um arquivamento o interesse genérico é que não há
interesse em agir por parte do arguido.

O arguido para requerer a abertura de instrução face ao arquivamento iria entender o mesmo que
entendeu no arquivamento. A ideia/sentido quer do 287º/1/a) quer da alínea b) , o sentido em bruto é
de contrariar a decisão do MP , logo , o arguido que vai reagir contra o arquivamento por parte do MP ,
não tem interesse em agir , porque mesmo assim quer instrução de forma a obter um despacho de não
pronuncia.

O art.32º/1 diz que o processo criminal assegura todas as garantias de defesa , incluindo o recuso. É
verdade que o recurso tem um sentido formal , é uma impugnação para uma instância superior. Isto
também dá um sentido lógico ao que vem atrás , no sentido que , a impugnação de factos , ou de direito
, implica que o arguido dela se possa defender , ou seja , tanto através do recurso como está previsto na
CRP , mas também outras decisões no processo que possam imputar ao arguido um crime.

O direito de defesa , antes de mais , é rejeitar os factos podendo estes ser de direito ou de facto.

É importante dizer que estamos perante um direito de defesa , porque faz parte de uma defesa
completa e global que este se possa defender só de facto , ou só de direito.

Se eu não impugnar os factos e impugnar apenas o enquadramento jurídico consigo o mesmo efeito. Se
eu não colocar em causa que pratiquei os factos , mas apenas a sua subsunção num tipo de crime ,
acabo por ter o mesmo efeito.

O art.287º/1/a) CPP tem como elemento literal a impugnação de factos.

A defesa completa e global do arguido obriga-nos a uma interpretação extensiva. Portanto , os


argumentos aqui são sobretudo a defesa completa do arguido e o principio da igualdade de armas
porque o assistente pode alterar o enquadramento/qualificação jurídica do MP , ao contrário do arguido
este que não tem hipótese para tal , mas , neste sentido , quer pela defesa completa e global quer pela
igualdade de armas interpretamos extensivamente o art.287º/1/a) CPP entendendo que isto é
admissível quando o arguido pretende apenas defender de questões de direito , mas , no caso prático
este utiliza este método tanto para se defender de questões de direito como de questões meramente
factuais.

Aqui a ideia era que se identificasse se estamos perante questões de facto ou questões de direito.

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29/05/2023 – Aula P

Correção do teste :

1. Falar da separação dos poderes para garantia a imparcialidade , referir também o facto de
existir uma acusação que fixa o objeto do processo , tudo isto para garantir a defesa do
arguido. Falar também do principio da investigação , porque o MP deve investigar , mas o JIC
também tem competências nessa área. Vertente da descoberta da verdade material.

Grupo II

1. Distinguir lesado do ofendido , art.74º , 75º , 76º se tinha ou não que ser patrocinada por
advogado , os prazos e modo como tinha de o fazer. Pedido em conjunto com o processo penal.
2. Não pode , porque a lesada não é vitima , não cabe em nenhuma das alienas do art.82-A , esta
apenas teve danos civis , não é vitima no processo penal.
3. Foi incumprido o dever de informação do art.75º CPP , logo estaria cumprida o art.72º/1/alínea
I) e poderia deduzir um pedido perante os tribunais civis. Quanto à reparação à vitima ficava
igual , não podia na mesma ser-lhe arbitrada uma indemnização quanto ao art.82-A CPP.

Caso prático 44 :

Durante o inquérito que corre contra Adilson , arguido Brasileiro , o MP obtém fortes indícios de este
haver praticado o crime de furto simples (art.203º CP) em concurso real com os crimes de abuso de
confiança (art.205º/1 CP) e ofensa à integridade física simples agravada pelo resultado morte (art.147º
CP).

O MP requereu a aplicação de uma caução carcerária no valor de 5.000€.

1. Podia ser aplicada a medida de coação mencionada? Quais as consequências se Adilson


fugisse para o Brasil e não mais aparecesse?
R: As medidas de coação estão previstas no art.196 e seguintes do CPP. A caução está no
art.197º CPP – caução carcerária. Temos aqui crimes que são punidos , respetivamente com 3 ,
3 e 4 anos , podemos aplicar esta medida de coação porque todos estes crimes são punidos
com pena de prisão. Caso Adilson fugisse para o Brasil , a caução revertia a favor do estão nos
termos do art.208º/2 CPP. A segunda com sequência está no art.203º CPP quando há violação
de obrigações que são impostas ao arguido , o juiz pode impor outras diferentes. Em principio
seria efetuado um pedido de extradição.
2. E se , prevendo um perigo de fuga , o JIC deferisse o requerimento do MP , mas aumentasse o
valor da caução e acumulasse com a obrigação de apresentação diária na esquadra , podia
faze-lo?
R: Estamos ainda na fase do inquérito , quem o dirige é o MP , antes do art.196º tem um
conjunto de normas que são princípios que se aplicam a todas as medidas de coação.
Art.194º/2 e 204º/a) e 204º/c) CPP , se ele prevê um perigo de fuga este pode fazer com que a
caução seja mais gravosa , logo a resposta seria 207º conjugado com o 194º/2 CPP.
Se quisesse cumular com a apresentação diária esta seria possível de acordo com o art.205º e
198º/2 CPP.

3. E se fosse o MP a prever o iminente perigo de fuga e decidisse requerer a aplicação da prisão


preventiva , como devia decidir o JIC?
R: Se nenhuma das medidas de coação menos gravosas forem suficientes , o juiz pode impor a
previsão preventiva caso se enquadre em alguma das alíneas do art.202º CPP. A orientação
jurisprudencial é que independente de todos os crimes que foram cometidos , tem que haver
pelo menos um que tenha pensa de prisão , no seu máximo , superior a 5 anos , por isto , o JIC
não poderia aplicar a medida de coação de prisão preventiva.

4. Imagine que o JIC aplicava a prisão preventiva. No lugar do defensor que providências
tomaria?
R: Habeas Corpus , art.220º e seguintes do CPP. Neste caso , Habeas Corpus em virtude de
prisão ilegal cujo fundamento legal seria o art.222º , mais concretamente , neste caso a lei não
permitia esta prisão , logo , aplicar-se-ia o art.222º/2/b) CPP. Este Habeas Corpus seria
interposto diretamente no Supremo Tribunal de Justiça.

5. Qual seria a resposta à questão anterior se além daqueles crimes que recaem sobre Adilson ,
houvesse ainda fortes indícios de ter praticado também o crime de lenocínio (art.169º/2 CP)
R: A pena de prisão para este crime é de no máximo 5 anos , logo , já se poderia aplicar a
medida de coação de prisão preventiva de acordo com o art.202º/1/a) CPP.
Na posição de defensor , utilizaria o recurso nos termos do art.219º CPP. Este recurso é
interposto ao tribunal hierarquicamente superior ao que proferiu tal decisão.

29/05/2023 – Aula T

Processos especiais :

Os processos especiais , de um modo geral , justificam-se por uma maior celeridade processual e isso
está relacionado com uma maior simplicidade da prova e a criminalidade envolvida não ser uma
criminalidade grave.

A margem de erro , nos processos especiais , pode ser um pouco maior.

Processo sumário - Art.381º e seguintes CPP :

No processo sumário temos os requisitos previstos no art.381º/1 CPP , e estes são detenção em
flagrante delito e crimes com uma moldura penal máxima até 5 anos.

Nesta lógica , o n2 veio ainda admitir crimes com moldura penal máxima superior a 5 anos , desde que
em concreto o limite máximo não deva ser superior a 5 anos , isto quando o MP entenda que não deve
ser aplicada uma pena superior a 5 anos.
O processo sumário , permite , à partida , que o processo em geral seja mais rápido. Ou manda para
julgamento ou aplica a suspensão provisória do processo ou arquivamento por dispensa de pena.

No processo sumário não há fase de inquérito. O que pode é o MP fazer o interrogatório sumário para
decidir se o submete , ou não , a julgamento. A pessoa é detida , apresentada ao MP , e após o
interrogatório sumário submete a julgamento.

Art.384º CPP – Arquivamento ou suspensão do processo.

Pode-se aplicar em processo sumário a suspensão provisória do processo ou o arquivamento por


dispensa de pena , no fundo pode atuar como se estive no inquérito do processo comum.

Art.382º/4 e 382º/3 CPP – Prorrogação do prazo

Excecionalmente permite-se que o processo sumário possa demorar mais tempo , o arguido ou MP por
razões de prova necessita de um prazo maior , podem pedir a prorrogação do prazo. Quando isto
acontece o arguido tem que ser imediatamente libertado mediante termo de identidade e residência e
notificação para julgamento ou interrogatório judicial.

Art.391º CPP – Recorribilidade

Só o auto de noticia pode substituir a acusação.

Processo abreviado e processo sumaríssimo :

Processo abreviado – art.391-A e seguintes do CPP :

Foi integrado em 1999. Este é uma espécie de processo comum mas com prazos mais curtos. Tinha uns
requisitos próximos do processo sumário , desde logo , provas simples e evidentes de que resultem
indícios suficientes de se ter verificado o crime - Art.391-A/3 CPP – estes requisitos são alternativos.

Aqui estamos a falar de testemunhas presencias com versões uniformes dos factos. Tal como o processo
sumário , o n2 prevê a possibilidade de ser aplicados com crimes de pena máxima até 8 anos , aqui não
se estabelece um limite de crimes puníveis até 8 anos , ou seja , este integra qualquer moldura penal.

É idêntico ao requisito do 16º/3 e é similar ao processo sumário , mas não estabelece aquele limite
máximo de 8 anos.

Processo sumaríssimo – art.392º e seguintes do CPP :

Permite o principio de “não há pena sem julgamento”. O MP requere julgamento em processo


sumaríssimo ao juiz , o juiz de julgamento ou rejeita ou aceita esta proposta do MP.

Se rejeitar acaba aqui o processo sumaríssimo , se aceitar notifica o arguido para ver se este também
aceita. Quando notifica o arguido este já sabe qual é a pena que lhe vai ser aplicada. O processo
sumaríssimo começa por um processo comum.

Caso o arguido aceite , a decisão corresponde à proposta que lhe foi feita , sendo lavrada a sentença.

Em que crimes o MP pode fazer isto? O limite máximo da moldura penal não pode ser superior a 5 anos
, o MP , por iniciativa do arguido , ou depois de o ter ouvido , deve ser concretamente aplicado pena ou
medida de segurança não privativa da liberdade.
Aqui conseguiu-se encontrar uma modalidade , mas este tem a garantia de que não há uma pena
privativa da liberdade.

Em concreto , o MP entende que não deve ser aplicada pena privativa da liberdade.

As partes civis não podem intervir no processo sumaríssimo.

O juiz pode rejeitar o requerimento nos termos do art.395º CPP , pode também ser um requerimento
manifestamente infundado e o juiz rejeitar.

Se o juiz não rejeitar notifica o arguido , podendo este , caso entenda opor-se nos termos do art.396º
CPP.

02/06/2023 – Aula T

Medidas de coação :

São medidas que têm uma natureza cautelar , elas visam sobretudo regular o bom funcionamento do
processo penal.

Esta natureza cautelar percebe-se pelos fins que estão implicados. Estes fins da medidas de coação
estão previstos no art.204º.

Os requisitos do art.204º aplicam-se a qualquer tipo de medida de coação , dai a designação “requisitos
gerais”.

O perigo de perturbação do decurso do processo , nomeadamente no que diz respeito à aquisição das
provas , porque pode suceder que o arguido destrua provas , ou arranje forma de dificultar a obtenção
das mesmas. Conseguem-se evitar muitas destas situações de perturbar a produção da prova.

Se olharmos para estes perigos há uma medida de coação que pode evitar tudo isto. A medida de
coação prisão preventiva é muito eficaz porque impede a continuação da atividade criminosa e impede
o distúrbio da ordem e paz pública.

Seja como for , a prisão preventiva é eficaz para cada uma destas finalidades , mas esta implica a
restrição à liberdade e é por isso , que nos processos inquisitórios a prisão preventiva seja uma regra.

Principio da subsidiariedade da prisão preventiva – este significa que , em regra , a prisão preventiva
não deve ser aplicada a não ser que seja estritamente necessária ;

Art.28º CRP – prisão preventiva ;

A prisão preventiva permite que as outras medidas de coação estejam legitimadas na CRP quando o
art.27º/3

Ao admitir-se a prisão preventiva e que esta é excecional às outras , se a CRP permite a prisão
preventiva também permite outras medidas de coação que sejam menos restritivas da liberdade do
individuo.

Para aplicar a medida de coação é necessário que o suspeito seja constituído arguido e que seja um juiz
a aplicar essa medida de coação.
Princípios gerais :

O principio da legalidade significa que não se pode aplicar uma medida de coação que não esteja
prevista na lei. É importante que a cumulação de uma medida de coação com outra seja permitida com
a lei.

A medida de coação tem que ser adequada na medida em que se consegue seguir os fins a que se
destina.

O próprio art.193º junta o principio da necessidade para definir , que de todas as medidas adequadas o
juiz deve escolher aquela que seja menos gravosa no que diz respeito à restrição dos direitos dos
indivíduos. A medida de coação tem que ser adequada , e das adequadas tem que ser a menos gravosa
para os direitos fundamentais do individuo.

As medidas de coação em termos práticos são parecidas com as penas. Quando se aplica uma medida
de coação não seria “razoável” estar a aplicar uma medida de coação que fosse mais gravosa para os
direitos do arguido , do que as penas caso o arguido fosse acusado com aqueles indícios. A
desproporcionalidade tem haver com uma relação entre a medida de coação e a gravidade do crime no
que diz respeito à moldura penal que ele implica.

O principio da proporcionalidade também vai aparecer nos requisitos específicos de cada medida de
coação , tendo que haver aqui também aquele tal juízo de personalidade.

Esta desproporcionalidade está na relação entre a medida de coação e a gravidade concreta do crime
que foi cometido.

Requisitos especiais :

Estes encontram-se especificados nas normas de cada medida de coação.

Art.201º e 202º CPP

Nos artigos 212º e seguintes CPP temos as alterações e revogações das medidas de coação , ou seja , por
exemplo , á medida que o processo vai evoluindo certa medida de coação pode-se tornar desnecessária.

As medidas de coação são suscetíveis de recurso.

Enquanto que no recurso o que se está a impugnar são os fundamentos da aplicação , no Habeas Corpus
é para aqueles casos que a prisão é ilegal e neste sentido , no prazo de 8 dias o STA decidirá a libertação
ou a não libertação.

Quanto às medidas de garantia patrimonial há duas :

 Caução económica ;
 Arresto (arrestam-se bens que se entendem que foram obtidos através da prática de crimes) ;

Se o arguido for condenado em crimes lucrativos o arguido perde estes lucros , mas como é difícil
comprovar a sua fonte , os estados estão obrigados a encontrar mecanismos que facilitem a perda
destes bens no sentido de transmitir à sociedade a ideia de que o crime não compensa
economicamente.
Se alguém comete um crime lucrativo , todo o lucro injustificado que tiver durante os 5 anos anteriores
é perdido a favor do estado.

Ele está no fundo , a perder uma determinada riqueza sem causa justificativa. O entendimento do
tribunal europeu não é que se presuma que o dinheiro injustificado tenha provido de um crime.

O arresto do art.228º visa a garantir uma futura eventual perda de bens a favor do estado por crimes
cometidos.

Quando se fala no confisco de bens por lucro injustificado , este não viola o principio da presunção da
inocência , porque se entende que isto é uma sanção económica por aquele crime cometido.

Seja como for , isto visa garantir o pagamento destas quantias.

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