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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO

II
DIREITO PROCESSUAL
PENAL E DIREITO
TRIBUTÁRIO
Autor: Ma. Kélvia Faria Ferreira
Revisor: Larissa Gonçalves

INICIAR
introdução
Introdução
Nesta unidade, estudaremos as disciplinas de Direito Processual Penal e
Direito Tributário. Passaremos pelas disciplinas de Processo Penal I e II,
rememorando os conteúdos aprendidos na graduação. A revisão será
apresentada de acordo com os temas de maior recorrência nos exames da
Ordem dos Advogados do Brasil. Há indicações de leitura, especialmente da Lei
Seca, durante todo o material. O estudo deve ser feito em conjunto com esta,
já que, na primeira fase do Exame da Ordem, o conhecimento da legislação é
primordial. Abordaremos os temas introdutórios do processo penal e que dão
a nota de proteção das garantias do acusado durante a persecução penal.
Falaremos das alterações que a constitucionalização do processo ocasionaram
no Código de Processo Penal, dos sistemas processuais e de princípios.
Relembraremos o inquérito e a ação penal. Em Processo Penal II, vamos tratar
dos procedimentos estabelecidos pelo CPP, das nulidades e dos recursos.
Passando ao estudo do Direito Tributário, estudaremos, em Tributário I, o
sistema constitucional tributário, o uso de lei complementar neste ramo, bem
como o conceito de tributo. Finalmente, em Tributário II, relembraremos os
tributos em espécie, os princípios tributários e as imunidades.
Processo Penal I

O Direito Processual Penal é o ramo do Direito que se ocupa de estabelecer as


normas aplicáveis para que seja possível ao Estado cumprir com o jus puniendi
, ou seja, processar, julgar e determinar o cumprimento da pena daqueles que
sejam acusados pela prática de ilícitos penais.

De acordo com Aury Lopes Jr. (2020, p. 38):

Existe uma íntima e imprescindível relação entre delito, pena e


processo, de modo que são complementares. Não existe delito sem
pena, nem pena sem delito e processo, nem processo penal senão
para determinar o delito e impor uma pena. Assim, fica estabelecido
o caráter instrumental do processo penal com relação ao Direito
Penal e à pena, pois o processo penal é o caminho necessário para
a pena.

Sendo assim, o processo penal serve ao Direito Penal, na medida em que é


mecanismo que possibilita a plena aplicação deste. Ao fim e ao cabo, podemos
dizer que o objetivo maior do processo penal é alcançar a pacificação social,
por meio da resolução do conflito de natureza penal.

Uma importante característica do processo penal que precisa ficar clara desde
já é o seu papel de garantidor dos direitos do acusado. Embora sua finalidade
seja assegurar a aplicação da lei penal, os direitos do acusado não podem ser
subjugados. A efetiva pacificação social será alcançada apenas se o processo
penal transcorrer de modo a possibilitar ao acusado exercer plenamente seu
direito de defesa, a fim de que possa provar sua inocência ou, em caso de
culpa, possa cumprir a pena dentro do que determina a legislação penal.

Parte geral – princípios e disposições


preliminares
Não é novidade que todos os ramos do Direito guiam-se por princípios. Em
decorrência da influência do pós-positivismo jurídico e do
neoconstitucionalismo, os princípios deixaram de figurar como fontes indiretas
do Direito para alçarem o status de normas jurídicas, portanto de observância
obrigatória, eficácia direta e imediata, cujo desrespeito pode gerar nulidades.

Especialmente no Processo Penal, ramo do Direito que tem a finalidade de


garantir o cumprimento da pretensão punitiva do Estado, há que se ter muita
atenção ao sistema de garantias do indivíduo – quase sempre representado
por princípios. Observemos, então, as principais modificações sofridas na
sistemática do processo penal em virtude do primado dos princípios.

O Código de Processo Penal em sua origem e na


atualidade
Se atualmente entendemos, sem maiores dificuldades, que garantir os direitos
do acusado é obrigação do processo penal, no passado, essa correlação não
era tão simples. Nosso Código de Processo Penal data de 1941 e tem como
inspiração a legislação italiana da década de 1930 – período no qual o regime
fascista imperava naquele país. Logo, nessa fase, não havia preocupação com
os direitos do acusado, e as bases utilizadas no nascedouro do nosso Código
são notoriamente autoritárias.

Esse cenário é modificado com a promulgação da Constituição de 1988,


momento que ocorre o que se denomina constitucionalização do processo
penal, por meio da qual passaram a vigorar os mandamentos constitucionais,
notadamente garantistas.

A Constituição de 1988 traz consigo um sistema de garantias individuais


destinadas aos acusados que estejam respondendo a uma ação penal. Além
disso, a Constituição estabelece o princípio da presunção de inocência,
estampado no Art. 5º, LVII (BRASIL, 1988), que representa um grande avanço
na proteção do indivíduo. Também é a partir de 1988 que o processo passa a
ser visto como instrumento de garantia do indivíduo em face do Estado. Passa-
se, então, a falar-se em devido processo legal, especificamente devido
processo penal constitucional .

São características do devido processo penal constitucional: instrução


contraditória; juiz natural da causa; participação efetiva da defesa técnica;
convencimento judicial motivado; decisão judicial justificada na atividade
probatória licitamente desenvolvida.

Sistemas processuais
Sistemas processuais são as formas pelas quais se conduz o andamento da
ação penal. No mesmo sentido em que o CPP era um em sua origem e outro a
partir da Constituição, observamos a existência de dois tipos de sistemas
processuais, mais garantista ou mais inquisidor, assegurando mais direitos ou
privando o acusado destes.

Basicamente, existem dois sistemas processuais diametralmente opostos – o


sistema inquisitório e o sistema acusatório:
Sistemas processuais

Sistema inquisitório Sistema acusatório

● As funções de acusar e julgar ● As funções de acusar e julgar


estão reunidas em uma só pessoa são atribuídas a pessoas ou
ou um só órgão. órgãos distintos.
● O processo já se inicia com a ● O processo tem início apenas
notitia criminis . com o oferecimento da denúncia.
● O juiz pode exercer ampla ● Objetiva-se uma posição de
atividade probatória. passividade do juiz.
● O acusado é objeto do ● O acusado é sujeito de
processo. direitos.
● A busca pela verdade real ● A busca pela verdade real é
justificaria até a tortura. limitada pelos direitos individuais.

Quadro 2.1 - Sistemas processuais


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 2.1 apresenta o resumo das principais


características dos sistemas processuais possíveis no processo penal. O
quadro está dividido em duas colunas e duas linhas. Seguindo as colunas,
da esquerda para a direita, temos, na primeira linha, os itens “Sistema
inquisitório” e “Sistema acusatório”. Na segunda linha, na coluna “Sistema
inquisitório”, há uma lista com cinco itens, sendo eles: “As funções de
acusar e julgar estão reunidas em uma só pessoa ou um só órgão”; “O
processo já se inicia com a notitia criminis”; “O juiz pode exercer ampla
atividade probatória”; “O acusado é objeto do processo”; “A busca pela
verdade real justificaria até a tortura”. Na coluna “Sistema acusatório”, há,
também, uma lista com cinco itens. São eles: “As funções de acusar e
julgar são atribuídas a pessoas ou órgãos distintos”; “O processo tem
início apenas com o oferecimento da denúncia”; “Objetiva-se uma posição
de passividade do juiz”; “O acusado é sujeito de direitos”; “A busca pela
verdade real é limitada pelos direitos individuais”.

Nota-se que os dois sistemas se opõem em diversas características, mas,


conforme adverte Aury Lopes Jr. (2020, p. 48), a principal diferença entre eles é
quanto à gestão da prova e à importância do contraditório:

Em última análise, é a separação de funções e, por decorrência, a


gestão da prova na mão das partes e não do juiz (juiz-espectador),
que cria as condições de possibilidade para que a imparcialidade se
efetive. Somente no processo acusatório-democrático, em que o juiz
se mantém afastado da esfera de atividade das partes, é que
podemos ter a figura do juiz imparcial, fundante da própria
estrutura processual. Não podemos esquecer, ainda, da
importância do contraditório para o processo penal e que somente
uma estrutura acusatória o proporciona. […] no processo
inquisitório há um “desamor” pelo contraditório, somente possível
no sistema acusatório.

Como vimos, o sistema processual brasileiro nasce inquisitório, sem que


garantias sejam asseguradas aos acusados, os quais aparecem como objeto do
processo. Isso mudou a partir da década de 1970 e, de modo mais profundo,
com a Constituição de 1988. Mas, não é possível dizer que o sistema
processual brasileiro é totalmente acusatório, sendo o mais correto classificá-
lo como sistema misto .

Nosso sistema é considerado misto em decorrência do papel do juiz no curso


da ação penal. No sistema acusatório brasileiro, o juiz não é inerte – ele pode
determinar a produção de provas, especialmente em defesa do réu. Isso
significa que nosso sistema tem feições acusatórias e feições inquisitórias, haja
vista a possibilidade de o juiz agir de ofício em diversos momentos da
instrução .
saiba
mais
Saiba mais
Observe, no Código de Processo Penal, as
diversas ocasiões nas quais o juiz pode agir
de ofício, mitigando, assim, o sistema
acusatório. Leia atentamente os seguintes
artigos: Art. 156; Art. 196; Art. 201; Art. 209;
Art. 234; Art. 242.

ACESSAR

Vamos tratar, agora, dos princípios aplicáveis ao processo penal, os quais


também contribuem para a caracterização do sistema processual brasileiro.

Princípios processuais
Antes de falarmos especificamente de cada um dos princípios aplicáveis ao
processo penal, é importante ressaltar uma concepção filosófica que incide
grandiosamente na lógica da processualística penal. Estamos falando do
garantismo penal . Através de tal conceito, observamos a necessidade de se
assegurar os direitos do acusado, aplicando-se a presunção de inocência,
assegurando-se o contraditório e garantindo todos os meios de defesa.

Feitas tais considerações preliminares, passemos ao estudo dos princípios que


guiam o processo penal, os quais são de observância obrigatória.

Princípio da presunção de inocência


Trata-se de princípio constitucional, estampado no Art. 5º, LVII, da Constituição
Federal (BRASIL, 1988). Observando a forma como foi redigido o dispositivo, o
mais correto seria chamar tal princípio de presunção de não culpabilidade. Isso
porque a redação constitucional traz um requisito negativo – negação da culpa.
Tal princípio funciona como regra probatória e regra de tratamento .

Como regra probatória, corporifica-se no brocardo latino In dubio pro reo , ou


seja, cabe à parte acusadora o ônus de demonstrar a culpa do acusado,
eliminando-se qualquer dúvida razoável que possa existir. Não é o acusado
que precisa provar sua inocência, pois, na dúvida, absolve-se o réu.

O princípio funciona também como regra de tratamento, determinando a


forma como o acusado deverá ser tratado durante o processo. A primeira
consequência desta regra é a primazia pela liberdade durante a persecução
penal, limitando a prisão a situações específicas. Em virtude disso, é proibida a
aplicação automática de medidas cautelares, as quais devem sempre se
fundamentar no caso concreto, com a finalidade de resguardar a efetividade
do provimento jurisdicional. Afasta-se, assim, a aplicação de medidas
prejudiciais ao réu com base exclusivamente na gravidade em abstrato do fato,
por exemplo.

O princípio também determina que o acusado seja protegido contra


publicidade excessiva e estigmatização, visando, então, proibir que os efeitos
negativos oriundos da condenação penal reflitam sobre o acusado quando
ainda exista dúvida sobre a culpabilidade.

Princípio do contraditório
O processo se desenvolve em pleno respeito ao contraditório quando é dada a
ciência bilateral dos atos ou termos do processo, bem como é concedida a
possibilidade de contrariá-los. Constitui, assim, o direito à informação e o
direito à participação . Ou seja, tanto autor da ação penal quanto réu devem
ter acesso a todos os atos praticados no curso da ação e devem ter a
possibilidade de se manifestarem, contradizendo o alegado pela outra parte.

O princípio do contraditório também é assegurado constitucionalmente,


conforme Art. 5º, LV (BRASIL, 1988), e pressupõe a paridade de armas : ambas
as partes devem ter os mesmos poderes de contribuir para o convencimento
judicial, cabendo ao magistrado, no curso da ação, assegurar que tanto autor
quanto réu sejam informados dos atos processuais e possam se manifestar
sobre eles.

Princípio da ampla defesa


O princípio da ampla defesa está diretamente relacionado ao princípio do
contraditório, também se tratando de princípio constitucional expresso no
mesmo inciso que o anterior – Art. 5º, LV, da Constituição (BRASIL, 1988). A
ampla defesa assegura tratamento diferenciado ao acusado, que tem certos
privilégios em detrimento da acusação. Como exemplo, podemos citar a
existência de recursos privativos da defesa; a proibição da reformatio in pejus; a
regra do in dubio pro reo; e a previsão de revisão criminal exclusivamente pro reo .

A ampla defesa abrange dois aspectos: o direito à defesa técnica


(impossibilidade de o réu ser processado sem um advogado) e à autodefesa
(direito à informação e direito à participação).

Princípio da inadmissibilidade das provas


obtidas ilicitamente
Também em decorrência do sistema de garantias ao qual o acusado faz jus,
proíbem-se as provas obtidas ilicitamente, ou seja, aquelas provas cuja colheita
não observou o procedimento legal. Também se trata de um princípio
constitucional, conforme Art. 5º, LVI, da Constituição (BRASIL, 1988).

O CPP (BRASIL, 1941) também trata do tema, no Art. 157, a cuja leitura
remetemos o aluno.

Portanto, para que uma prova possa ser apreciada em desfavor do réu, ela
precisa ter respeitado todas as normas atinentes à sua produção. Uma
interceptação telefônica feita sem autorização judicial, por exemplo, não pode
ser usada na condenação. São igualmente ilícitas as provas derivadas das
ilícitas, conforme preceitua a Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada.
Princípio do juiz natural
Este princípio está diretamente ligado à vedação aos tribunais de exceção .

Isso significa que o órgão que julgará o crime deve ter sido constituído em
momento anterior ao cometimento do fato, ou seja, não se pode criar um
tribunal especificamente para julgar um fato após o seu acontecimento.

O princípio também está relacionado à repartição constitucional da


competência jurisdicional , de modo que atenderá ao princípio do juiz
natural a causa que for processada pelo juiz com competência atribuída pela
Constituição Federal (BRASIL, 1988).

Princípio do direito ao silêncio e não


autoincriminação
Este princípio deriva do brocardo jurídico Nemo tenetur se detegere , o qual
traduz a máxima de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si
mesmo. É conhecido como modalidade de autodefesa passiva , na medida
em que assegura um não agir do acusado sem que isso o prejudique. O
princípio abrange o direito ao silêncio, ou direito de ficar calado; o direito de
não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal; a inexigibilidade de
dizer a verdade; o direito de não praticar qualquer comportamento ativo que
possa incriminá-lo; o direito de não produzir nenhuma prova incriminadora
invasiva.

O direito ao silêncio está assegurado no Art. 5º, LXIII, da Constituição (BRASIL,


1988), bem como no Art. 186 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941). Em
respeito ao mandamento constitucional, na prática forense, tem-se adotado o
procedimento de entregar ao preso, no momento da prisão, uma nota de
ciência das garantias constitucionais , a fim de se comprovar a realização da
advertência.

Princípio da vedação da revisão pro societate


A absolvição não pode ser revista. Ainda que surjam novas provas, não será
possível a reabertura da instrução de feito no qual o réu tenha sido absolvido
criminalmente.

A vedação não se aplica à revisão em favor do réu. Se surgirem novas provas a


respeito da inocência do acusado, a revisão criminal será possível, pois não se
pode aceitar que um inocente tenha sua liberdade privada injustamente.
Inquérito policial

O processo penal se conduz de modo diverso do processo civil. Isso porque,


conforme vimos, sua finalidade máxima é propiciar a realização do jus puniendi
, ou seja, a realização da pretensão punitiva estatal. Como no processo penal o
que está em jogo é a liberdade do indivíduo, faz-se necessário um complexo de
normas – regras e princípios – aptas a assegurar o direito de defesa do réu,
conforme vimos quando tratamos dos princípios.

Além disso, também é necessário um procedimento prévio para que se colham


elementos mínimos que apontem para a possível prática de ato ilícito. Isso
porque não seria razoável iniciar a persecução penal – o que,
indubitavelmente, já traz danos ao réu – sem que se houvesse uma reunião de
indícios razoáveis a respeito do cometimento do ilícito. Esse procedimento
prévio à ação penal é conhecido como inquérito policial .

Conceito de inquérito policial


O inquérito policial está disciplinado do Art. 4º ao Art. 23 do CPP (BRASIL, 1941).
É possível conceituá-lo como um procedimento administrativo , portanto,
realizado antes da fase processual; inquisitório , sem a incidência de todas as
garantias existentes no processo, uma vez que ainda não há acusação, mas tão
somente investigação; preparatório , pois tem o objetivo de preparar a ação
penal, fornecendo os elementos mínimos necessários; presidido pela
autoridade policial , justamente por ser uma fase investigativa; cujo objetivo é
identificar fontes de prova e colher elementos de informação a respeito da
autoria e materialidade da infração , em suma, permitir a formação da justa
causa para a persecução penal (LIMA, 2017).

Deve-se observar que, no inquérito, não se colhem provas, e sim identificam-se


as fontes de prova. Uma condenação penal nunca pode ser baseada
exclusivamente nos elementos do inquérito, já que nele não há o contraditório
nem as demais garantias do acusado.

Nesse sentido, o Art. 155 do CPP (BRASIL, 1941) determina que a formação da
convicção do juiz se dará a partir da prova produzida em contraditório judicial.

O inquérito policial exerce, portanto, uma função dupla: preservadora e


preparatória. Preservadora do acusado, na medida em que impede que se
instaure um processo penal sem fundamento, protegendo-se, assim, a
liberdade do inocente e evitando que o Estado arque com os custos de um
processo infundado. Mas também exerce uma função preparatória , ao passo
que fornece os elementos necessários para que se proponha a ação penal,
além de resguardar os meios de prova que poderiam desaparecer com o
decurso do tempo.

Características do inquérito policial


O inquérito policial apresenta algumas características que decorrem de sua
própria natureza de procedimento prévio à ação penal. Tais características
estão, em sua maioria, descritas no CPP (BRASIL, 1941) e na Constituição
(BRASIL, 1988). Vejamos abaixo as principais delas e seus respectivos
dispositivos.
Características do inquérito policial

Art. 9º. Em um só processo, todas as peças do


Procedimento inquérito policial serão reduzidas a escrito ou
escrito datilografadas e, neste caso, rubricadas pela
autoridade.

Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia


ou queixa, sempre que servir de base a uma ou
outra. Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá
provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos
em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por
escrito, informações sobre o fato e a autoria e
indicando o tempo, o lugar e os elementos de
Procedimento convicção. Art. 39, § 5º. O órgão do Ministério Público
dispensável dispensará o inquérito se, com a representação,
forem oferecidos elementos que o habilitem a
promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a
denúncia no prazo de 15 dias. Art. 46, § 1º. Quando o
Ministério Público dispensar o inquérito policial, o
prazo para o oferecimento da denúncia contará a
partir da data em que forem recebidas as peças de
informações ou a representação.

Procedimento Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo


sigiloso necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade. Nos atestados de
antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade
policial não poderá mencionar quaisquer anotações
referentes à instauração de inquérito contra os
requerentes – redação dada pela Lei nº 12.681
(BRASIL, 2012). Súmula vinculante 14: é direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso
amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de
defesa.

“[…] as atividades persecutórias concentram-se nas


mãos de uma única autoridade, a qual, por isso,
Procedimento prescinde, para a sua atuação, da provocação de
inquisitorial ou quem quer que seja, podendo e devendo agir de
inquisitivo ofício, empreendendo, com discricionariedade, as
atividades necessárias ao esclarecimento do crime e
da sua autoria” (CAPEZ, 2018, p. 118).

Arts. 6º e 7º. Rol exemplificativo de diligências – a


autoridade policial pode realizar outras diligências de
acordo com as necessidades da investigação.
Procedimento
Atentar-se ao inciso X do Art. 6º, inserido no CPP em
discricionário
2016, que determina que a autoridade policial colha
informações sobre a existência de filhos do
investigado preso.

Conduzido pelas Polícias Civil e Federal, conforme


Art. 144, § 1º, I, c/c Art. 144, § 4º (BRASIL, 1988). “O
Procedimento inquérito policial é uma atividade investigatória feita
oficial por órgãos oficiais, não podendo ficar a cargo do
particular, ainda que a titularidade da ação penal
seja atribuída ao ofendido” (CAPEZ, 2018, p. 118)

Procedimento Art. 5º. Nos crimes de ação pública, o inquérito


oficioso policial será iniciado de ofício.

Procedimento Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar


indisponível arquivar autos de inquérito.

Procedimento Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de dez


temporário dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante ou
estiver preso preventivamente; o prazo é contado a
partir do dia em que se executar a ordem de prisão,
nessa hipótese, ou no prazo de 30 dias, quando
estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 3º:
quando o fato for de difícil elucidação e o indiciado
estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a
devolução dos autos, para ulteriores diligências, que
serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Quadro 2.2 - Características do inquérito policial


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 2.2 apresenta o resumo das principais


características do inquérito policial. O quadro está dividido em duas
colunas e dez linhas. Seguindo as colunas, da esquerda para a direita,
temos, na primeira linha, o nome do quadro. A partir da segunda linha,
temos, na coluna da esquerda, a característica e, na coluna da direita, a
descrição desta. Na segunda linha, na coluna da esquerda, está
“Procedimento escrito”, na coluna da direita, está “Art. 9º. Em um só
processo, todas as peças do inquérito policial serão reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”. Na terceira
linha, na coluna da esquerda, está “Procedimento dispensável”, na coluna
da direita, está “Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou
queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. Art. 27. Qualquer
pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos
casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito,
informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os
elementos de convicção. Art. 39, § 5º. O órgão do Ministério Público
dispensará o inquérito se, com a representação, forem oferecidos
elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso,
oferecerá a denúncia no prazo de 15 dias. Art. 46, § 1º. Quando o
Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o
oferecimento da denúncia contará a partir da data em que forem
recebidas as peças de informações ou a representação”. Na quarta linha,
na coluna da esquerda, está “Procedimento sigiloso”, na coluna da direita,
está “Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Nos atestados
de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não
poderá mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de
inquérito contra os requerentes – redação dada pela Lei nº 12.681
(BRASIL, 2012). Súmula vinculante 14: é direito do defensor, no interesse
do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de
defesa”. Na quinta linha, na coluna da esquerda, está “Procedimento
inquisitorial ou inquisitivo”, na coluna da direita, está “‘[…] as atividades
persecutórias concentram-se nas mãos de uma única autoridade, a qual,
por isso, prescinde, para a sua atuação, da provocação de quem quer que
seja, podendo e devendo agir de ofício, empreendendo, com
discricionariedade, as atividades necessárias ao esclarecimento do crime e
da sua autoria’ (CAPEZ, 2018, p. 118)”. Na sexta linha, na coluna da
esquerda, está “Procedimento discricionário”, na coluna da direita, está
“Arts. 6º e 7º. Rol exemplificativo de diligências – a autoridade policial pode
realizar outras diligências de acordo com as necessidades da investigação.
Atentar-se ao inciso X do Art. 6º, inserido no CPP em 2016, que determina
que a autoridade policial colha informações sobre a existência de filhos do
investigado preso”. Na sétima linha, na coluna da esquerda, está
“Procedimento oficial”, na coluna da direita, está “Conduzido pelas Polícias
Civil e Federal, conforme Art. 144, § 1º, I, c/c Art. 144, § 4º (BRASIL, 1988).
‘O inquérito policial é uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais,
não podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade da ação
penal seja atribuída ao ofendido’ (CAPEZ, 2018, p. 118)”. Na oitava linha, na
coluna da esquerda, está “Procedimento oficioso”, na coluna da direita,
está “Art. 5º. Nos crimes de ação pública, o inquérito policial será iniciado
de ofício”. Na nona linha, na coluna da esquerda, está “Procedimento
indisponível”, na coluna da direita, está “Art. 17. A autoridade policial não
poderá mandar arquivar autos de inquérito”. Na décima linha, na coluna
da esquerda, está “Procedimento temporário”, na coluna da direita, está
“Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de dez dias, se o indiciado
tiver sido preso em flagrante ou estiver preso preventivamente; o prazo é
contado a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, nessa
hipótese, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou
sem ela. § 3º: quando o fato for de difícil elucidação e o indiciado estiver
solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para
ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz”.

Dessa forma, observa-se que o inquérito apresenta algumas características


próprias, tais como poder iniciar-se de ofício, mas não sendo possível o seu
arquivamento de ofício, eis que dispensável, porém indisponível.

Outra característica interessante é quanto à forma de condução do inquérito.


Este procedimento não tem uma série de atos previamente definidos – ao
contrário do processo –, já que as diligências são realizadas de acordo com o
caso concreto e com as necessidades para se alcançar a justa causa.
reflita
Reflita
Atenção! O Pacote Anticrime (BRASIL,
2019) instituiu a figura do juiz das
garantias, cujas funções foram
explicitadas do Art. 3º-A ao Art. 3º-F do
CPP. Mediante os dispositivos
mencionados, observa-se que a
intenção é diminuir o caráter
inquisitivo do inquérito policial,
vedando a iniciativa judicial durante a
fase de investigação. No entanto, a
figura não chegou sequer a ser
implantada em nosso ordenamento
jurídico, encontrando-se com a eficácia
suspensa, em virtude de decisão
cautelar proferida pelo Ministro Luiz
Fux nas ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305
(BRASIL, 2020). De toda forma, é
importante a leitura atenta dos
dispositivos mencionados, uma vez
que o Pacote Anticrime está previsto
no edital do Exame de Ordem.

Formas de instauração do inquérito policial


O Art. 5º do CPP (BRASIL, 1941) estabelece as formas de instauração do
inquérito policial. Além dessas formas, também há a instauração do inquérito
quando ocorre uma prisão em flagrante.

A doutrina distingue as formas de instauração do inquérito de acordo com o


modo pelo qual a notícia do crime chega à autoridade policial. Nesse sentido,
podemos falar em cognição imediata, cognição mediata e cognição coercitiva.

Vejamos, a seguir, como os tipos de cognição se correlacionam com as formas


de instauração e as principais características de cada um:
Formas de instauração do inquérito policial

Ocorre quando a autoridade


policial (delegado de polícia) toma
conhecimento do fato criminoso
De ofício – Art. 5º,
Cognição no exercício de suas atividades
I, CPP (BRASIL,
imediata rotineiras. Instaurado mediante
1941).
portaria. Apenas é possível nos
crimes de ação penal pública
incondicionada.

Cognição Por requisição da


mediata autoridade Apenas é possível nos crimes de
judiciária ou do ação penal pública
MP – Art. 5º, II, incondicionada. Instaurada
CPP (BRASIL, mediante portaria.
1941).

É possível nos crimes de ação


penal pública incondicionada,
Por requerimento condicionada à representação ou
do ofendido ou do privada. “Trata a representação de
seu representante simples manifestação de vontade
legal – Art. 5º, II, e da vítima, ou de quem legalmente
§§ 4º e 5º do CPP a representa no sentido de
(BRASIL, 1941). autorizar a persecução penal”
(CAPEZ, 2018, p. 127). Instaurada
mediante portaria.

Notícia oferecida Notitia criminis em sentido estrito.


por qualquer Ocorre quando alguém noticia a
pessoa do povo – prática de fato delituoso à
Art. 5º, § 3º, CPP autoridade policial. Em tese,
(BRASIL, 1941). crimes de qualquer tipo de ação
penal podem ser comunicados à
autoridade policial. No entanto,
para instaurar ou não o IP, o
delegado observará a necessidade
de requerimento ou
representação. Instaurada
mediante portaria.

Ocorre quando há uma prisão em


Cognição Auto de prisão em
flagrante. Instaurada mediante
coercitiva flagrante.
auto de prisão em flagrante.

Quadro 2.3 - Formas de instauração do inquérito policial


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 2.3 apresenta o resumo das formas de


instauração do inquérito policial. O quadro está dividido em três colunas e
três linhas, sendo que a segunda linha está dividida em mais três linhas.
Na primeira linha, está o nome do quadro. Na segunda linha, na primeira
coluna, está “Cognição imediata”; na segunda coluna, está “De ofício – Art.
5º, I, CPP (BRASIL, 1941)”; e na terceira, está “Ocorre quando a autoridade
policial (delegado de polícia) toma conhecimento do fato criminoso no
exercício de suas atividades rotineiras. Instaurado mediante portaria.
Apenas é possível nos crimes de ação penal pública incondicionada”. Na
terceira linha, na primeira coluna, está “Cognição mediata”; na segunda
coluna, há a divisão da linha em três linhas. Na primeira, está “Por
requisição da autoridade judiciária ou do MP – Art. 5º, II, CPP (BRASIL,
1941)”; nesta mesma linha, mas na terceira coluna, está “Apenas é
possível nos crimes de ação penal pública incondicionada.Instaurada
mediante portaria”. Na segunda linha, está “Por requerimento do
ofendido ou do seu representante legal – Art. 5º, II, e §§ 4º e 5º do CPP
(BRASIL, 1941)”; e na terceira coluna, está “É possível nos crimes de ação
penal pública incondicionada, condicionada à representação ou privada.
‘Trata a representação de simples manifestação de vontade da vítima, ou
de quem legalmente a representa no sentido de autorizar a persecução
penal’ (CAPEZ, 2018, p. 127). Instaurada mediante portaria”. Na terceira
linha, está “Notícia oferecida por qualquer pessoa do povo – Art. 5º, § 3º,
CPP (BRASIL, 1941)”; na terceira coluna desta linha, está “Notitia criminis
em sentido estrito. Ocorre quando alguém noticia a prática de fato
delituoso à autoridade policial. Em tese, crimes de qualquer tipo de ação
penal podem ser comunicados à autoridade policial. No entanto, para
instaurar ou não o IP, o delegado observará a necessidade de
requerimento ou representação. Instaurada mediante portaria”. Voltando
à primeira coluna, tem-se a terceira linha, na qual está “Cognição
coercitiva”; na segunda coluna, está “Auto de prisão em flagrante”; e na
terceira coluna, está “Ocorre quando há uma prisão em flagrante.
Instaurada mediante auto de prisão em flagrante”.

Prazos para conclusão do inquérito policial


O inquérito policial não pode ficar em aberto sem uma conclusão em
prazo razoável. Especialmente nos casos em que o réu se encontra
preso, o prazo deve ser cumprido rigorosamente. O desrespeito ao
prazo ocasiona o relaxamento da prisão, uma vez que ela se tornará
ilegal por excesso de prazo.

Vejamos, a seguir, os principais prazos de conclusão de inquérito


policial – tema recorrente nos exames da Ordem.
Prazos para conclusão do inquérito policial

Tipo de inquérito Investigado preso Investigado solto

Regra geral – Art.


10 30
10 do CPP

Inquérito Policial
15 + 15 30
Federal

Lei de Drogas 30 + 30 90 + 90

Economia Popular 10 10

Quadro 2.4 - Prazos para conclusão do inquérito policial


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 2.4 apresenta o resumo dos prazos para


conclusão do inquérito policial. O quadro está dividido em três colunas e
seis linhas. Seguindo as colunas, da esquerda para a direita, temos, na
primeira linha, o nome do quadro. Na segunda linha, temos, na primeira
coluna, o tipo de inquérito; na segunda coluna, o prazo para investigado
preso, e, na terceira coluna, o prazo para investigado solto. Na terceira
linha, na primeira coluna, está “Regra geral – Art. 10 do CPP”; na segunda,
está “10”; e na terceira, está “30”. Na quarta linha, na primeira coluna, está
“Inquérito Policial Federal”; na segunda, está “15 + 15”; e na terceira, está
“30”. Na quinta linha, na primeira coluna, está “Lei de Drogas”; na
segunda, está “30 + 30”; e na terceira, está “90 + 90”. Por fim, na sexta
linha, na primeira coluna, está “Economia Popular”; na segunda, está “10”;
e na terceira, está “10”.

Observe que os prazos são diversos para os casos tratados em legislação


especial. Atente-se a isso!
reflita
Reflita
Atenção! A Lei 13.964, conhecida
como Pacote Anticrime, inseriu uma
alteração na sistemática dos prazos
para conclusão do inquérito em caso
de réu preso (BRASIL, 2019). Segundo
o Art. 3º-B, § 2º do CPP (BRASIL, 1941),
conforme as alterações inseridas pelo
Pacote Anticrime, o juiz das garantias
poderá, atendendo à representação da
autoridade policial e ouvindo o
Ministério Público, prorrogar a duração
do inquérito por até 15 dias uma única
vez. Muito embora as alterações
trazidas pelo Pacote Anticrime estejam
suspensas, por força da decisão
cautelar proferida pelo Ministro Fux no
curso das ADIs mencionadas (BRASIL,
2020), é importante estar atento a essa
possibilidade, já que o Pacote
Anticrime consta no edital.

Encerramento e arquivamento do inquérito


policial
Encerradas as investigações, a autoridade policial fará relatório de todo o
ocorrido durante o inquérito e o remeterá à autoridade judicial, segundo o Art.
10, §§ 1º e 2º do CPP (BRASIL, 1941). Lembrando que o entendimento da
autoridade policial é meramente opinativo, cabendo apenas ao Ministério
Público a análise da existência de justa causa para a propositura da ação penal.
Nesse sentido, o Art. 17 do CPP estabelece que o delegado não poderá
determinar o arquivamento dos autos do inquérito (BRASIL, 1941). Assim, após
receber o inquérito concluso, dará o juiz vista dos autos ao MP para que
proceda à denúncia ou ao arquivamento do inquérito.

Uma vez que o Ministério Público entenda que há justa causa, ele apresentará
denúncia, dando início à ação penal. No entanto, caso o órgão ministerial
entenda que não há elementos suficientes, ocorrerá o arquivamento do
inquérito. Aqui, faz-se necessária a distinção da sistemática do arquivamento
antes e após a Lei nº 13.964 (BRASIL, 2019).

Antes do Pacote Anticrime – e é o regramento que está vigente, tendo em vista


a suspensão da eficácia deste –, o Ministério Público não tinha atribuição para
determinar o arquivamento do inquérito. Entendendo pela inexistência da
justa causa, deveria o Parquet requerer o arquivamento, que dependia de
decisão judicial. Caso o magistrado não concordasse com o entendimento do
Parquet, deveria remeter o feito ao órgão superior do Ministério Público –
situação extremamente criticada pelo seu notável viés inquisitório.

Pela sistemática trazida pela Lei nº 13.964 (BRASIL, 2019), o Ministério Público
passou a ter a atribuição de determinar o arquivamento do inquérito policial,
devendo comunicar à vítima, ao investigado e à autoridade policial e
encaminhar os autos para a instância de revisão ministerial para fins de
homologação, conforme a nova redação do Art. 28 do CPP (BRASIL, 1941).

Todavia, não se esqueça de que essa nova disposição encontra-se com a


eficácia suspensa. Portanto, ainda se aplica o arquivamento do inquérito
apenas com decisão judicial.
Ação penal

A ação penal é a forma por meio da qual a parte acusadora exerce o direito de
ação, ou seja, são os meios usados para provocar a jurisdição a se manifestar
quanto a uma ofensa a um bem jurídico tutelado penalmente. O que se busca
com a ação penal é a correta aplicação da lei penal. A pretensão será punitiva,
caso o Estado – personificado na figura do Ministério Público – entenda que a
culpabilidade do réu está comprovada.

Condições da ação
Tal qual ocorre no processo civil, no processo penal também devem ser
observados alguns requisitos para que a pretensão punitiva seja analisada pelo
Poder Judiciário. Sem o correto preenchimento, a denúncia ou queixa deverá
ser rejeitada, conforme determina o Art. 395, II, do CPP (BRASIL, 1941).

São consideradas condições da ação penal: interesse de agir; legitimidade;


possibilidade jurídica do pedido; justa causa; condições de procedibilidade.

O interesse de agir é formado pelo trinômio necessidade-adequação-


utilidade. Por necessidade, entende-se a indispensabilidade de obtenção da
tutela jurisdicional pleiteada. Já a adequação é verificada pela correlação entre
o pedido e a proteção jurisdicional que se pretende obter. Por fim, a utilidade
está relacionada à eficácia da atividade jurisdicional, isto é, a possibilidade que
o provimento jurisdicional tem de satisfazer o interesse do autor,
consubstanciado na pretensão punitiva.

A legitimidade se traduz na aptidão que as partes têm de figurar no polo ativo


e passivo da ação. Em regra, a legitimidade ativa pertence ao Ministério
Público, por expressa previsão constitucional, conforme Art. 129 (BRASIL,
1988). O particular poderá atuar na ação penal, mas como substituto
processual, nos casos de ação penal privada subsidiária da privada. Já a
legitimidade passiva pertence ao suposto autor do fato delituoso. Deste modo,
está vinculada ao mérito da ação penal.

A possibilidade jurídica do pedido é verificada quando se pede uma


providência admitida pelo direito objetivo, ou seja, o pedido deve encontrar
respaldo no ordenamento jurídico. Para não confundir a análise desta
condição da ação com o mérito da demanda, o juiz deve apreciar a causa de
pedir, considerada em tese, desvinculada de qualquer prova porventura
existente. Por exemplo, se estivermos diante de uma conduta atípica ou de um
fato impeditivo do exercício da ação, será caso de ausência de condição da
ação, já que a atividade probatória não é necessária para que se conclua que
uma conduta não constitui delito.

A justa causa é o suporte probatório mínimo necessário para que se


proponha qualquer ação penal. Como vimos no estudo do inquérito policial,
não é possível que se denuncie uma pessoa pela prática de um delito sem que
haja prova da materialidade do crime e indícios de autoria.

Já as condições de procedibilidade são condições específicas de algumas


ações penais. Como exemplo, podemos citar a necessidade de requisição do
Ministro da Justiça para que se possa dar início à ação penal contra algumas
pessoas e a necessidade de representação do ofendido nos crimes de ação
penal condicionada.

Espécies de ação penal


Vimos que, em regra, a ação penal será titularizada pelo Ministério Público. No
entanto, há determinadas situações que demandam a atuação de outros
atores, os quais passam a deter a legitimidade ativa para propositura da ação
penal.

Esquematicamente, podemos delinear as espécies de ação penal assim:

Figura 2.1 - Ação penal


Fonte: Elaborada pela autora.

#PraCegoVer : a imagem se trata de um fluxograma sobre os tipos de ação penal.


O fluxograma está organizado em patamares horizontais. Mais à esquerda da
figura, temos o primeiro retângulo, do qual saem duas setas apontando para
outros dois retângulos. No retângulo do primeiro patamar, está escrito “Ação
penal”. No primeiro retângulo do segundo patamar, está escrito “Pública”, e no
segundo retângulo do segundo patamar está escrito “Privada”. Do retângulo escrito
“Pública”, saem duas setas apontando para mais dois retângulos. No primeiro
deles, está escrito “Incondicionada”. No segundo, está escrito “Condicionada”.
Deste último, saem mais duas setas apontando para dois retângulos, nos quais
está escrito, respectivamente: “À representação” e “À requisição do Ministro da
Justiça”. Por fim, do retângulo escrito “Privada”, saem três setas, apontando para
três retângulos, nos quais está escrito, respectivamente: “Exclusiva”,
“Personalíssima” e “Subsidiária da pública”.

Vejamos as peculiaridades de cada uma delas.

ã ú
Ação penal pública incondicionada
É a regra, tendo em vista o princípio da obrigatoriedade da ação penal , isto
é, a obrigação que o Estado tem de promover a persecução penal,
assegurando a aplicação da lei penal.

Mas observe que o Ministério Público não está obrigado a pleitear a


condenação do réu. Sua obrigação é buscar a aplicação da lei penal que, por
óbvio, não tem a intenção de culpar inocentes. Desta forma, se observar a
presença de excludente de ilicitude no curso do inquérito policial, deve pugnar
pelo seu arquivamento. Se, por sua vez, observar o excludente já no curso da
ação penal, deve manifestar-se pela absolvição do acusado.

A forma de verificar se a ação penal será pública ou privada é mediante a lei. A


ação penal será sempre pública no silêncio da lei. Para que se tenha outro tipo
de ação penal, a lei deve ser expressa nesse sentido.

Como veremos, apenas em situações especiais é que a lei autoriza à iniciativa


privada a propositura da ação penal, permanecendo, ainda assim, a
possibilidade de o Ministério Público intervir no feito.

Ação penal pública condicionada


A ação penal pública condicionada permanece de titularidade do Ministério
Público; no entanto, para que este possa exercer adequadamente o seu direito
de ação, ele depende de uma condição de procedibilidade , a representação
ou a requisição, de acordo com o Art. 24 do CPP (BRASIL, 1941).

A representação ou a requisição deve ser oferecida antes mesmo do inquérito


policial, pois, sem ela, não se pode dar início às investigações, conforme § 4º do
Art. 5º do CPP (BRASIL, 1941).

A representação é necessária, pois a vítima pode considerar a propositura da


demanda uma agressão maior do que o próprio ato criminoso. É a ideia de
Strepitus Iudicii , ou seja, escândalo provocado pelo ajuizamento da ação penal.
Os efeitos negativos provocados pela ação penal podem ser superiores ao
próprio crime sofrido, razão pela qual o juízo de oportunidade e conveniência
reserva-se à vítima na instauração da ação penal.
A vítima tem o prazo de seis meses para representar contra o ofendido, sendo
este prazo decadencial, conforme Art. 38 do CPP (BRASIL, 1941). Já a requisição
do Ministro da Justiça não se submete ao prazo decadencial; portanto, pode
ser feita enquanto não operar a prescrição.

Ação penal privada exclusiva


A ação penal privada exclusiva é aquela na qual o único legitimado para a
propositura da ação é a própria vítima ou seu representante legal. Em regra,
quem detém a legitimidade ativa é o próprio ofendido, que é a pessoa com
maior capacidade de averiguar se é conveniente instaurar a ação penal. No
entanto, essa legitimidade pode passar a outras pessoas em determinadas
situações.

Se a vítima for menor de 18 anos ou incapaz, deverá estar representada por


seu representante legal para a propositura da ação penal. Caso haja qualquer
conflito de interesse entre o ofendido e seu representante, o juiz nomeará um
curador. Por outro lado, em caso de morte ou ausência do ofendido, a
legitimidade passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

A assistência de advogado é indispensável, devendo ser outorgada procuração


com poderes específicos para apresentação de queixa-crime.

A ação penal privada é regida pelo princípio da disponibilidade , ou seja, sua


propositura se encontra dentro do juízo de oportunidade e conveniência do
ofendido. É devido a essa disponibilidade que, na ação privada, se aplicam os
institutos da renúncia, da perempção, da desistência e do perdão.

Renúncia é a “abdicação ou recusa do direito à propositura da ação penal, por


meio da manifestação da vontade do não exercício dela no prazo previsto em
lei” (OLIVEIRA, 2017, p. 88). A renúncia extingue a punibilidade antes da
propositura da ação penal. Ela é tratada nos Art. 50 (renúncia expressa) e Art.
104, CP (BRASIL, 1940) c/c Art. 57, CPP (renúncia tácita) (BRASIL, 1941).

Já “a perempção é, pois, a perda do direito de prosseguir na ação penal já


instaurada, cujo efeito é a extinção da punibilidade, consoante o disposto no
Art. 107, IV, do CP” (OLIVEIRA, 2017, p. 89, grifo nosso). A perempção ocorre
quando o autor deixa de dar andamento ao processo por mais de 30 dias.
O perdão , por sua vez, constitui ato bilateral, ou seja, para ser válido, o réu
deve aceitá-lo. O perdão pode ocorrer dentro ou fora do processo, de modo
expresso ou tácito. O perdão será tácito quando resultar da prática de ato
incompatível com a intenção de processar criminalmente. Por exemplo, o
querelante que reata relação de proximidade com o querelado age de modo
contrário ao de quem pretende a condenação criminal do outro.

Mais uma observação importante sobre a ação penal privada: ela é indivisível
, isto é, caso o fato criminoso tenha sido praticado em concurso de agentes –
tendo, portanto, mais de um autor – a vítima não poderá propor a ação contra
apenas um ou alguns deles. Isso porque a ação penal não pode ser usada
como mecanismo de vingança privada. Neste mesmo sentido, a renúncia ou o
perdão oferecido a um dos agentes estende-se aos demais, conforme Arts. 48,
49 e 51 do CPP (BRASIL, 1941).

Da mesma forma que a representação, a propositura de ação penal privada


também desafia prazo decadencial de seis meses.

Ação penal privada personalíssima


O que diferencia a ação penal privada exclusiva da personalíssima é a
impossibilidade, nesta última, de ocorrer substituição processual. Em caso de
morte ou ausência da vítima, será extinta a punibilidade do agente, pois a ação
penal não poderá ter prosseguimento pelos sucessores do ofendido.

O único tipo penal de ação privada personalíssima é o crime do Art. 236 do CP


(BRASIL, 1940) (induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento, no
casamento). Até 2005, o adultério também era crime de ação penal privada
personalíssima, mas a Lei nº 11.106 (BRASIL, 2005a) revogou o Art. 240 do CP,
gerando a abolitio criminis do delito de adultério.

Ação penal privada subsidiária da pública


Este tipo de ação penal possui previsão constitucional, conforme Art. 5º, LIX da
Constituição (BRASIL, 1988).

Observa-se uma condicionante para que surja a possibilidade de se propor a


ação penal privada subsidiária, seja qual for: a não atuação do Ministério
Público no prazo legal. A ação penal aqui é, em regra, pública, mas, por desídia
do órgão ministerial, o direito de ação deixou de ser exercido no prazo legal,
surgindo, assim, o direito de o ofendido substituir o Parquet na atividade de
acusação.

A não atuação ministerial de modo imotivado deve ser verificada. O pedido de


arquivamento do inquérito policial em vez da propositura de demanda, por
exemplo, não caracteriza desídia, não dando azo à ação penal privada
subsidiária da pública.

Note, ainda, que o Ministério Público poderá, a qualquer momento, intervir no


feito, de acordo com o Art. 29 do CPP (BRASIL, 1941).

O prazo para o Ministério Público denunciar é, em regra, de 15 dias, caso o


acusado esteja solto, e de 5 dias, em caso de prisão. Desrespeitados os prazos,
nasce a possibilidade de propositura da ação penal privada subsidiária.
Jurisdição e
competência

A jurisdição é una, já que todos os atos e decisões judiciais partem do Estado-


juiz, corporificado na figura do Poder Judiciário. Todavia, para que o exercício
da função jurisdicional seja possível, há a repartição deste poder uno em
parcelas da jurisdição – as competências.

Tradicionalmente, dividimos as competências em absoluta e relativa. A


primeira, se desrespeitada, gera nulidades, não se convalidando. Já a segunda
é passível de convalidação. O quadro a seguir apresenta os critérios de
determinação de competência:
Critérios de determinação de competência

A natureza da
infração determina
Em razão da se o fato será
matéria. julgado pela Justiça
Decorre da Militar, Eleitoral,
CF/1988. Federal ou Estadual.
Interesse
público, Fixação de foros
indisponível e privativos,
Competência
inafastável determinada
absoluta
por vontade constitucionalmente,
das partes. para o processo e
Não se Em razão da julgamento de
submete à pessoa. infrações penais
preclusão. praticadas por
ocupantes de
determinados
cargos/funções
públicas.

Competência Pode ser Em razão do Em regra, o crime


relativa relativizada território. deve ser processado
para conduzir e julgado no local do
ou seu cometimento.
possibilitar
um
provimento
judicial final o
mais
acertado
possível. Está
sujeita à
preclusão.
Pode ser
alegada por
meio de
exceção ou
de defesa
direta. O juiz
pode declinar
da
competência
de ofício,
ainda que
relativa.

Quadro 2.5 - Critérios de determinação de competência


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 2.5 apresenta o resumo dos critérios de


determinação de competência. O quadro está dividido em quatro colunas
e três linhas. Seguindo as colunas, da esquerda para a direita, temos, na
primeira linha, o nome do quadro. Na segunda linha, temos, na primeira
coluna, “Competência absoluta”; na segunda coluna, “Decorre da CF/1988.
Interesse público, indisponível e inafastável por vontade das partes. Não
se submete à preclusão”. A terceira coluna está dividida em duas linhas;
na primeira linha, está “Em razão da matéria”; e na segunda, “Em razão da
pessoa”. A quarta coluna também está dividida em duas linhas; na
primeira, está “A natureza da infração determina se o fato será julgado
pela Justiça Militar, Eleitoral, Federal ou Estadual”; e na segunda, está
“Fixação de foros privativos, determinada constitucionalmente, para o
processo e julgamento de infrações penais praticadas por ocupantes de
determinados cargos/funções públicas”. Voltando-se à primeira coluna, na
terceira linha desta, está “Competência relativa”; na segunda coluna, está
“Pode ser relativizada para conduzir ou possibilitar um provimento judicial
final o mais acertado possível. Está sujeita à preclusão. Pode ser alegada
por meio de exceção ou de defesa direta. O juiz pode declinar da
competência de ofício, ainda que relativa”; na terceira coluna, está “Em
razão do território”; e na quarta coluna, está “Em regra, o crime deve ser
processado e julgado no local do seu cometimento”.

O foro por prerrogativa de função visa proteger o cargo ocupado por


determinadas autoridades públicas. A proteção é sobre o cargo, dada sua
importância no contexto nacional, e não sobre a pessoa. Vejamos quem são as
autoridades que gozam dessa prerrogativa e quais são os tribunais
competentes para julgar cada uma delas:
Foro por prerrogativa de função

Foro Dispositivo
Autoridades contempladas
privativo constitucional

Infrações penais comuns


Presidente da República Vice-
presidente Membros do Congresso
Nacional Ministros de Estado
Procurador-geral da República
Infrações penais comuns e crimes
Competência Art. 102, I, “b” de responsabilidade Ministros de
do STF e “c”, CF/1988. Estado Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica, ressalvado
o disposto no Art. 52, I Membros dos
Tribunais Superiores Membros do
Tribunal de Contas da União Chefes
de missão diplomática de caráter
permanente

Governadores de estados e do
Distrito Federal (apenas para crimes
comuns) Membros dos TRFs, TJs,
TRTs, TREs e TCs Membros do MPU
Competência (procurador regional da República,
Art. 105, I, “a”.
do STJ procurador regional do Trabalho,
procurador de Justiça) que atuam
perante tribunais Membros de
Tribunais de Contas Municipais =
exceção à regra da simetria

Competência Art. 108, I, “a”. Juízes federais, juízes do Trabalho,


dos TRFs juízes da Justiça Militar Membros do
MPU (procurador da República,
procurador do Trabalho e promotor
da Justiça Militar)

Juízes de Direito, prefeitos e


Competência
Art. 96, III. deputados estaduais, Ministério
dos TJs
Público estadual

Mesmas autoridades com foro


Competência
privativo nos TRFs e TJs, se o crime
dos TREs
for eleitoral

Quadro 2.6 - Foro por prerrogativa de função


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 2.6 apresenta o resumo da repartição de


competência decorrente do foro por prerrogativa de função. O quadro
está dividido em três colunas e sete linhas. Seguindo as colunas, da
esquerda para a direita, temos, na primeira linha, o nome do quadro. Na
segunda linha, temos, na primeira coluna, “Foro Privativo”; na segunda
coluna, “Dispositivo constitucional”; e na terceira coluna, “Autoridades
contempladas”. Na terceira linha, na primeira coluna, está “Competência
do STF”, na segunda coluna, está “Art. 102, I, ‘b’ e ‘c’, CF/1988”; e na terceira
coluna, está “Infrações penais comuns: Presidente da República, Vice-
presidente, Membros do Congresso Nacional, Ministros de Estado,
Procurador-geral da República, Infrações penais comuns e crimes de
responsabilidade, Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no Art. 52, I, Membros
dos Tribunais Superiores, Membros do Tribunal de Contas da União,
Chefes de missão diplomática de caráter permanente”. Na quarta linha, na
primeira coluna, está “Competência do STJ”; na segunda coluna, está “Art.
105, I, ‘a’” e na terceira coluna, está “Governadores de estados e do
Distrito Federal (apenas para crimes comuns), Membros dos TRFs, TJs,
TRTs, TREs e TCs, Membros do MPU (procurador regional da República,
procurador regional do Trabalho, procurador de Justiça) que atuam
perante tribunais, Membros de Tribunais de Contas Municipais = exceção
à regra da simetria”. Na quinta linha, na primeira coluna, está
“Competência dos TRFs”; na segunda coluna, está “Art. 108, I, ‘a’”; e na
terceira coluna, está “Juízes federais, juízes do Trabalho, juízes da Justiça
Militar, Membros do MPU (procurador da República, procurador do
Trabalho e promotor da Justiça Militar)”. Na sexta linha, na primeira
coluna, está “Competência dos TJs”; na segunda coluna, está “Art. 96, III”; e
na terceira coluna, está “Juízes de Direito, prefeitos e deputados estaduais,
Ministério Público estadual”. Na sétima linha, na primeira coluna, está
“Competência dos TREs”; a segunda coluna está em branco; na terceira,
está “Mesmas autoridades com foro privativo nos TRFs e TJs, se o crime
for eleitoral”.

Lembre-se de que o foro por prerrogativa de função elimina o julgamento em


primeira instância, concedendo a competência originária diretamente ao
tribunal.

Quanto à competência em razão da matéria, a competência é repartida entre


várias “justiças”, de acordo com a natureza do delito:
Competência em razão da matéria (ou natureza do crime)

Dispositivo
Justiça Natureza do crime
constitucional

Crimes militares, definidos


Justiça Militar Art. 124, CF.
no Código Penal Militar.

Art. 121 c/c Art. 109, Crimes eleitorais e


Justiça Eleitoral
IV, CF. conexos.

Crimes políticos, crimes


que afetem interesse da
União, violação de direitos
humanos, crimes
Art. 109, incisos IV, V, transnacionais, crimes
Justiça Federal
V ‐A, VI, VII, IX e X. contra a organização do
trabalho, crimes contra o
sistema financeiro, crimes
cometidos a bordo de
navio ou aeronave.

Definida por exclusão – o


que não for de
Justiça Estadual Não tem. competência das demais
justiças, competirá à Justiça
Estadual.

Quadro 2.7 - Competência em razão da matéria (ou natureza do crime)


Fonte: Elaborado pela autora.
#PraCegoVer : o Quadro 2.7 apresenta o resumo da repartição de
competência em razão da matéria (ou natureza do crime). O quadro está
dividido em três colunas e seis linhas. Seguindo as colunas, da esquerda
para a direita, temos, na primeira linha, o nome do quadro. Na segunda
linha, temos, na primeira coluna, “Justiça”; na segunda, “Dispositivo
constitucional”; e na terceira, “Natureza do crime”. Na terceira linha,
temos, na primeira coluna, “Justiça Militar”; na segunda, “Art. 124, CF”; e na
terceira, “Crimes militares, definidos no Código Penal Militar”. Na quarta
linha, na primeira coluna, está “Justiça Eleitoral”; na segunda coluna, está
“Art. 121 c/c Art. 109, IV, CF”; e na terceira coluna, está “Crimes eleitorais e
conexos”. Na quinta linha, na primeira coluna, está “Justiça Federal”, na
segunda, está “Art. 109, incisos IV, V, V ‐A, VI, VII, IX e X”; e na terceira, está
“Crimes políticos, crimes que afetem interesse da União, violação de
direitos humanos, crimes transnacionais, crimes contra a organização do
trabalho, crimes contra o sistema financeiro, crimes cometidos a bordo de
navio ou aeronave”. Na sexta linha, na primeira coluna, está “Justiça
Estadual”; na segunda coluna, está “Não tem”; e na terceira coluna, está
“Definida por exclusão – o que não for de competência das demais
justiças, competirá à Justiça Estadual”.

A divisão das Justiças se dá em Justiça Comum (Federal e Estadual) e Justiça


Especializada (Militar, Eleitoral e do Trabalho, sendo que esta última não possui
competência criminal).

Esses são os critérios de determinação constitucional de competência, mas


não são os únicos. O Código de Processo Penal traz os critérios
infraconstitucionais de fixação de competência:
Determinação da competência infraconstitucional

Art. 70 e 71, CPP


Regra:
· Teoria do Resultado: considera-se lugar da infração
o local onde se consumou o crime.
· Tentativa: lugar do último ato de execução.
Crimes a distância:
· Execução iniciada no território nacional e
consumação fora = competência do lugar em que foi
Pelo lugar
praticado o último ato de execução no Brasil.
da infração
· Último ato de execução praticado fora do território
nacional = competência do juiz do lugar em que o
crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia
produzir seu resultado.
Crimes plurilocais – parte do iter criminoso realizado
em mais de um lugar
· Aplica-se a regra = local do resultado.
· Tentativa: local do último ato de execução.

Art. 72 e 73, CPP


Pelo
· Se desconhecido o lugar da infração.
domicílio ou
· Caso se trate de ação penal privada, podendo o
residência
querelante optar por um ou outro (lugar da infração ou
do réu
domicílio do réu).

Art. 74, CPP


· Criação de varas especializadas (Varas Criminais de
Tóxicos, de Crimes de Trânsito etc.) decorrente do que
Pela
dispõem as leis de organização judiciária.
natureza da
· As varas do Tribunal do Júri e do JECRIM também
infração
decorrem da natureza do crime, mas não se trata de
competência relativa, e sim absoluta em razão da
matéria.
Art. 75, CPP
Por · Terá aplicação apenas se nenhum juiz tiver praticado
distribuição nenhum ato decisório antes da distribuição da ação
penal.

Conexão: Art. 76, CPP.


Continência: Art. 77, CPP.
· Reunião de processos.
· Ligação entre dois ou mais fatos.
· Ligação entre duas ou mais pessoas.
Por conexão · Julgamento único ( simultaneus processus ).
e · Celeridade e economia.
continência · Perfeita visão do quadro probatório.
· Evita decisões contraditórias.
Conexão e continência são critérios de modificação de
competência, mas podem fixar a competência inicial
quando um dos feitos já tiver sido distribuído!
Só incidem sobre competência relativa.

Art. 83; Art. 70, § 3º; Art. 72, § 1º, CPP


· Critério subsidiário de determinação da
Por competência.
prevenção · Sua inobservância gera nulidade relativa – Súmula
706/STF: é relativa a nulidade decorrente da
inobservância da competência penal por prevenção.

Quadro 2.8 - Determinação da competência infraconstitucional


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 2.8 apresenta a repartição de competência


infraconstitucional. O quadro está dividido em três colunas e sete linhas.
Seguindo as colunas, da esquerda para a direita, temos, na primeira linha,
o nome do quadro. Na segunda linha, temos, na primeira coluna, “Pelo
lugar da infração”; e na segunda, “Art. 70 e 71, CPP; Regra: Teoria do
Resultado: considera-se lugar da infração o local onde se consumou o
crime. Tentativa: lugar do último ato de execução. Crimes a distância:
Execução iniciada no território nacional e consumação fora = competência
do lugar em que foi praticado o último ato de execução no Brasil. Último
ato de execução praticado fora do território nacional = competência do
juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou
devia produzir seu resultado. Crimes plurilocais: parte do iter criminoso
realizado em mais de um lugar. Aplica-se a regra = local do resultado.
Tentativa: local do último ato de execução”. Na terceira linha, na primeira
coluna, temos “Pelo domicílio ou residência do réu”; na segunda coluna,
temos “Art. 72 e 73, CPP; Se desconhecido o lugar da infração; Caso se
trate de ação penal privada, podendo o querelante optar por um ou outro
(lugar da infração ou domicílio do réu)”. Na quarta linha, na primeira
coluna, temos “Pela natureza da infração”; na segunda coluna, temos “Art.
74, CPP; Criação de varas especializadas (Varas Criminais de Tóxicos, de
Crimes de Trânsito etc.) decorrente do que dispõem as leis de organização
judiciária. As varas do Tribunal do Júri e do JECRIM também decorrem da
natureza do crime, mas não se trata de competência relativa, e sim
absoluta em razão da matéria”. Na quinta linha, na primeira coluna, temos
“Por distribuição”; na segunda coluna, temos “Art. 75, CPP; Terá aplicação
apenas se nenhum juiz tiver praticado nenhum ato decisório antes da
distribuição da ação penal”. Na sexta linha, na primeira coluna, temos “Por
conexão e continência”; na segunda coluna, temos “Conexão: Art. 76, CPP.
Continência: Art. 77, CPP. Reunião de processos; Ligação entre dois ou
mais fatos; Ligação entre duas ou mais pessoas; Julgamento único
(simultaneus processus); Celeridade e economia; Perfeita visão do quadro
probatório; Evita decisões contraditórias. Conexão e continência são
critérios de modificação de competência, mas podem fixar a competência
inicial quando um dos feitos já tiver sido distribuído! Só incidem sobre
competência relativa”. Por fim, na sétima linha, na primeira coluna, temos
“Por prevenção”; e na segunda coluna, temos “Art. 83; Art. 70, § 3º; Art. 72,
§ 1º, CPP. Critério subsidiário de determinação da competência. Sua
inobservância gera nulidade relativa – Súmula 706/STF: é relativa a
nulidade decorrente da inobservância da competência penal por
prevenção”.
Competência é um tema muito recorrente no Exame da Ordem, portanto,
atente-se aos critérios e memorize-os. A leitura atenta dos artigos citados é
essencial.

Conhecimento
Teste seus Conhecimentos
(Atividade não pontuada)

O inquérito policial pode ser definido como um procedimento investigatório prévio,


cuja principal finalidade é a obtenção de indícios para que o titular da ação penal
possa propô-la contra o suposto autor da infração penal.

OAB – ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. XVI Exame de Ordem Unificado . 1.


Fase. FGV Projetos, 2015.

Sobre o tema, assinale a alternativa correta.

a) A autoridade policial, ainda que convencida da inexistência do crime, não


poderá mandar arquivar os autos do inquérito já instaurado.
b) A exigência de indícios de autoria e materialidade para oferecimento de
denúncia torna o inquérito policial um procedimento indispensável.
c) O despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito policial é
irrecorrível.
d) O inquérito policial é inquisitivo, logo o defensor não poderá ter acesso aos
elementos informativos que constem nele, ainda que já documentados.
Processo Penal II

Até agora, estivemos debruçados sobre o que acontece até o momento de


propositura da ação penal. Tendo em vista que o processo penal tutela a
pretensão punitiva do Estado, a qual pode impor a maior punição permitida
em nosso ordenamento jurídico – a privação da liberdade –, tem-se um maior
cuidado para que se proponha a ação penal, sendo necessário o cumprimento
de requisitos inexistentes no processo civil. Com isso em mente, é hora de
avançarmos para o curso da ação penal, ou seja, como se conduzirá o
processo caso a justa causa esteja presente para a propositura da demanda.

Trataremos, então, dos diversos procedimentos existentes para apuração dos


fatos delituosos. Veremos também as nulidades que podem inquinar a ação
penal, bem como os recursos que poderão ser interpostos no curso da ação.

Procedimentos
Processo é diferente de procedimento. Se o processo se constitui do conjunto
de atos concatenados praticados com uma finalidade, o procedimento é a
forma como tais atos serão praticados, é o que estabelece ritos diversos para
situações diversas.

O Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) determina que o procedimento


será comum ou especial, delineando em quais situações cada um deles será
usado, conforme Art. 394.

Em que pese o CPP (BRASIL, 1941) trazer os critérios de determinação do


procedimento a ser seguido, há certas categorias de crimes que não se
enquadram nesses critérios. São crimes que, ainda que tenham a pena
cominada dentro dos limites de um dos procedimentos, seguirão outro
procedimento, mais especial. Podemos citar: as infrações penais decorrentes
de violência doméstica – Art. 41, Lei nº 11.340 (BRASIL, 2006); os crimes
tipificados no Estatuto do Idoso, cuja pena máxima não ultrapasse quatro anos
– Art. 94 da Lei nº 10.741 (BRASIL, 2003); os crimes falimentares – Art. 185 da
Lei nº 11.101 (BRASIL, 2005b); e os crimes previstos na nova Lei das
Organizações Criminosas e infrações conexas – Art. 22, caput , da Lei nº 12.850
(BRASIL, 2013). Tal distinção se justifica pela especialidade dos delitos .

Passemos a uma breve análise de cada procedimento estabelecido pelo CPP


(BRASIL, 1941).
Figura 2.2 - Procedimentos
Fonte: Elaborada pela autora.

#PraCegoVer : a figura é constituída de um cronograma de fluxo horizontal. Da


esquerda para a direita, temos um retângulo no qual está escrito “Procedimentos”.
Deste, saem duas setas que apontam para dois retângulos. No superior, está
escrito “Comuns” e no inferior “Especiais”. Do retângulo “Comuns”, saem mais três:
“Ordinário”, “Sumário” e “Sumaríssimo”. Do retângulo “Especiais”, também saem
três: “Lei de Drogas”, “Tribunal do Júri” e “Crime praticado por funcionário público”.

Procedimento comum ordinário


O procedimento comum ordinário, apesar de ser o de maior utilização prática,
tem caráter residual, ou seja, será aplicado todas as vezes que não houver a
determinação de uso de algum procedimento especial. Tal determinação
decorre de lei. Além de residual, o rito do procedimento comum ordinário
também se aplica subsidiariamente aos demais, o que significa que, na falta ou
na omissão de determinação específica, aplicar-se-á o disposto para este
procedimento.

No fluxograma, a seguir, podemos observar todo o caminho a ser percorrido


durante a persecução penal.
Figura 2.3 - Procedimento comum ordinário
Fonte: Elaborada pela autora.

#PraCegoVer : a imagem apresenta um fluxograma sobre o procedimento comum


ordinário. O fluxograma está organizado em patamares verticais. São dez
patamares, com retângulos e setas ligando uns aos outros. No patamar mais alto,
há o primeiro retângulo, no qual está escrito “Oferecimento da peça acusatória”.
Deste, sai uma seta vertical apontando para o retângulo do segundo patamar, no
qual está escrito “Juízo de admissibilidade”. Deste, saem duas setas, uma para a
esquerda e uma para a direita. A seta da esquerda aponta para um retângulo, no
patamar abaixo, no qual está escrito “Rejeição”; deste retângulo, sai mais uma seta,
apontando para um retângulo no patamar abaixo, no qual está escrito “Cabe
RESE”. Voltando ao retângulo “Juízo de admissibilidade”, na seta da direita, há outro
retângulo, no qual está escrito “Recebimento”. Deste, sai uma seta apontando para
um retângulo no patamar abaixo, no qual está escrito “Citação do acusado”. Este
retângulo tem duas setas apontando para dois retângulos no patamar abaixo. No
da esquerda, está escrito “Apresentação da resposta escrita”. No da direita, está
escrito “Revelia”. Deste último, sai mais uma seta que aponta para um retângulo no
qual está escrito “Nomeia-se defensor”. Voltando ao retângulo “Apresentação da
resposta escrita”, há duas setas saindo dele, que apontam para dois retângulos no
patamar abaixo. No primeiro, está escrito “Possibilidade de absolvição sumária”, do
qual sai mais uma seta, apontando para mais um retângulo em um patamar
abaixo, no qual está escrito “Cabe apelação”. No segundo retângulo, está escrito
“Realização de diligências”. Deste, sai mais uma seta que aponta para o patamar
abaixo, no qual há um retângulo escrito “Designação de AIJ”. Deste, também sai
mais um retângulo abaixo, no qual está escrito “Audiência”. Deste, também sai
mais um retângulo, abaixo, no qual está escrito “Alegações finais”. Por fim, deste,
também sai mais um retângulo abaixo, no qual está escrito “Sentença”.

Conforme se observa do fluxograma, o procedimento comum ordinário inicia-


se com o oferecimento da acusação mediante denúncia ou queixa, atendendo
ao disposto no Art. 41 do CPP (BRASIL, 1941). Apresentada a acusação, é feito o
juízo de admissibilidade pelo magistrado, que poderá receber ou rejeitar a
denúncia ou queixa. São hipóteses de rejeição da denúncia: inépcia ou falta de
pressuposto processual, de condições da ação ou de justa causa – conforme o
Art. 395 do CPP (BRASIL, 1941). Da decisão que rejeita a denúncia, cabe recurso
em sentido estrito – conforme Art. 581, I, do CPP (BRASIL, 1941). Porém não
cabe recurso da decisão que recebe a denúncia ou queixa.

Por outro lado, o recebimento da denúncia tem como efeito a interrupção da


prescrição, a possibilidade de fixação da competência por prevenção e é o
marco inicial do processo. Recebida a denúncia ou queixa, proceder-se-á à
citação do acusado – Arts. 351 a 369 do CPP (BRASIL, 1941). Em regra, a citação
deverá ser pessoal (Art. 351), podendo ser realizada por hora certa, caso
verificada a tentativa de ocultação do réu (Art. 362), ou por edital, caso não seja
possível a citação pessoal (Art. 361) (BRASIL, 1941). Destas situações decorrem
consequências distintas: se o réu não comparecer à citação por hora certa, ser-
lhe-á nomeado defensor e o processo seguirá seu curso normalmente; se o réu
citado por edital não comparecer nem constituir defensor, o processo e o
prazo prescricional serão suspensos; se o réu citado por edital comparecer, o
prazo para resposta começará a contar do momento em que compareceu.

Citado, o acusado terá dez dias para apresentar resposta à acusação.


Ocorrendo a revelia, será nomeado defensor. Apresentando resposta à
acusação, o acusado poderá pleitear a absolvição sumária se entender que
algum dos requisitos do Art. 397 do CPP está presente (BRASIL, 1941).
Não sendo caso de absolvição sumária, proceder-se-á à realização de
diligências requeridas pelas partes. Findas estas, o juiz designará audiência de
instrução e julgamento. A audiência destina-se à colheita de prova oral –
testemunhal e depoimento pessoal.

Cada parte pode arrolar até oito testemunhas, conforme o Art. 401 (BRASIL,
1941). Em regra, primeiro são ouvidas as testemunhas de acusação e depois as
da defesa, mas é possível que essa ordem se inverta, de forma excepcional e
com a concordância das partes.

O interrogatório do acusado seguirá o disposto nos Art. 185 a 196 do CPP


(BRASIL, 1941). Aqui ganham relevância os princípios processuais estudados, já
que é um dos momentos nos quais há maior necessidade de assegurar as
garantias do acusado. Atente-se para o direito de entrevista prévia e reservada
com o defensor, estabelecido no Art. 185, § 5º, do CPP (BRASIL, 1941).

Ao final da audiência, as partes deverão fazer suas alegações finais oralmente,


na própria audiência – ocasião na qual as partes concentrarão todas as teses
de acusação e de defesa, respectivamente. Contudo, o magistrado pode
permitir a apresentação de alegações finais escritas, na forma de memoriais.
Uma das possibilidades de conclusão da audiência sem apresentação de
alegações finais decorre da necessidade de realização de diligências, conforme
Art. 404 e seu parágrafo único do CPP.

Chega-se, assim, à fase da sentença. Em caso de alegações finais orais, a


sentença será proferida em audiência. Em caso de memoriais, o juiz proferirá
sentença em dez dias.

Procedimento comum sumário


O procedimento comum sumário aplica-se aos crimes cuja pena máxima
cominada seja inferior a quatro anos e que não se enquadrem nos crimes de
menor potencial ofensivo. Ele está regulamentado do Art. 531 ao Art. 538 do
CPP (BRASIL, 1941).
A análise deste procedimento é feita por meio das distinções entre ele e o
procedimento ordinário:
Principais diferenças entre o procedimento comum ordinário e o
sumário

Procedimento Procedimento
comum ordinário comum sumário

Designação de AIJ,
havendo Prazo de 60 dias (Art. Prazo de 30 dias (Art.
possibilidade de 400, caput CPP). 531, CPP).
absolvição sumária

Oito testemunhas de Cinco testemunhas de


acusação e oito acusação e cinco
Testemunhas
testemunhas de testemunhas de
defesa. defesa.

Não há previsão,
devendo-se
fundamentar no Art.
Requerimento de Previsão expressa no 156, H, do CPP a
diligências Art. 402 do CPP. imprescindibilidade
da diligência para a
apuração da verdade
real.

Substituição das
Não há previsão
alegações finais Previsão expressa no
expressa, conforme
orais por Art. 403, § 3º, do CPP.
Art. 534 do CPP.
memoriais

Quadro 2.9 - Principais diferenças entre o procedimento comum ordinário e o


sumário
Fonte: Elaborado pela autora.
#PraCegoVer : o Quadro 2.9 apresenta o resumo das principais
diferenças entre o procedimento comum ordinário e o sumário. O quadro
está dividido em três colunas e seis linhas. Seguindo as colunas, da
esquerda para a direita, temos, na primeira linha, o nome do quadro. Na
segunda linha, temos, na primeira coluna, as distinções, na segunda
coluna “Procedimento comum ordinário”, e na terceira coluna,
“Procedimento comum sumário”. Na terceira linha, na primeira coluna,
está “Designação de AIJ, havendo possibilidade de absolvição sumária”; na
segunda, está “prazo de 60 dias (Art. 400, caput CPP)”; e na terceira, está
“prazo de 30 dias (Art. 531, CPP)”. Na quarta linha, na primeira coluna, está
“Testemunhas”; na segunda, está “Oito testemunhas de acusação e oito
testemunhas de defesa”; e na terceira, está “Cinco testemunhas de
acusação e cinco testemunhas de defesa”. Na quinta linha, na primeira
coluna, está “Requerimento de diligências”; na segunda linha, está
“Previsão expressa no Art. 402 do CPP”; e na terceira, está “Não há
previsão, devendo-se fundamentar no Art. 156, H, do CPP a
imprescindibilidade da diligência para a apuração da verdade real”. Na
sexta linha, na primeira coluna, está “Substituição das alegações finais
orais por memoriais”; na segunda, está “Previsão expressa no Art. 403, §
3º, do CPP”; e na terceira, está “Não há previsão expressa, conforme Art.
534 do CPP”.

Observa-se, portanto, que as diferenças estão relacionadas à simplicidade do


procedimento, ou seja, no procedimento sumário, alguns atos são
simplificados, alguns prazos são mais curtos, o número de testemunhas é
diminuído. Isso se deve, em regra, à menor complexidade dos fatos a serem
apurados.

Procedimento especial do Tribunal


do Júri
A competência do Tribunal do Júri é determinada constitucionalmente,
conforme Art. 5°, XXXVIII (BRASIL, 1988).

Trata-se de procedimento para processar e julgar os crimes dolosos contra a


vida – homicídio; infanticídio; aborto; e induzimento, instigação ou auxílio a
suicídio ou a automutilação. Está regulamentado nos Arts. 406 a 497 do CPP
(BRASIL, 1941).

Ele é dividido em duas fases. Na primeira, conhecida como iudicium


accusationis ou sumário de culpa, busca-se apurar os elementos necessários
para o julgamento em plenário pelo júri. Esta primeira fase é conduzida apenas
pelo juiz togado (juiz sumariante).

A primeira fase segue rito semelhante ao procedimento comum ordinário; a


diferença ocorre no momento de prolação da sentença. O juiz não proferirá
uma sentença condenatória ou absolutória. Ele poderá proferir quatro tipos de
decisões: impronúncia, desclassificação, absolvição sumária e pronúncia.

A absolvição sumária ocorre nas mesmas situações do procedimento comum


ordinário, ou seja, caso se presente alguma causa excludente de ilicitude ou
culpabilidade do acusado.

A impronúncia será a decisão proferida quando o magistrado entender que


não há provas suficientes da materialidade do crime ou indícios de autoria,
conforme Art. 414 do CPP (BRASIL, 1941).

Já a desclassificação do delito ocorrerá quando o juiz se convencer de que o


delito praticado não foi um daqueles de competência do tribunal do júri,
ocasião na qual remeterá o feito ao juízo competente, à luz do que dispõe o
Art. 419 do CPP (BRASIL, 1941).

Por fim, o juiz poderá proferir decisão de pronúncia , quando convencido da


materialidade e dos indícios de autoria do crime, de acordo com o Art. 413 do
CPP (BRASIL, 1941). É a decisão de pronúncia que permite a abertura da
segunda fase do procedimento. A preparação do processo para julgamento em
plenário tem início com a intimação da acusação e da defesa, para
apresentarem rol de testemunhas no prazo de cinco dias. Cada parte poderá
arrolar cinco testemunhas por fato e por réu. Em seguida, o juiz delibera sobre
os pedidos de provas a serem produzidas e/ou exibidas no plenário e sobre
eventuais pedidos de diligências, relatando o transcorrido até então. Assim,
determina a inclusão do feito em pauta para julgamento pelo júri.

A audiência do júri tem a seguinte sistemática: primeiro, são sorteados os


jurados, podendo as partes recusarem até três jurados cada sem justificativa,
bem como apresentar alegação de suspeição; após a formação do Conselho de
sentença – constituído de sete jurados – ter-se-á início a instrução, com a oitiva
das testemunhas, a possível exibição de documentos (que devem ser juntados
aos autos até três dias antes, dando-se conhecimento à outra parte) e o
depoimento pessoal do réu; após a instrução, abrem-se os debates,
oportunidade na qual as partes farão a exposição de suas razões para a
condenação ou para a absolvição – primeiro, fala a acusação, e depois, a
defesa, com possibilidade de réplica e tréplica. Findos os debates, passa-se à
quesitação, sendo os quesitos elaborados pelo juiz presidente, conforme Art.
482, parágrafo único, do CPP (BRASIL, 1941). Feitos os quesitos, os jurados
votarão, usando cédulas com as palavras Sim e Não; a decisão se dá por
maioria de votos, segundo o Art. 489 (BRASIL, 1941); finalmente, o juiz
presidente profere a sentença, ainda na sessão de instrução e julgamento.

Procedimento comum sumaríssimo


É o procedimento adotado nos Juizados Especiais. A competência dos juizados
restringe-se aos crimes de menor potencial ofensivo, ou seja, contravenções
penais e crimes aos quais a lei comine pena máxima não superior a dois anos,
conforme Arts. 60 e 61 da Lei nº 9.099 (BRASIL, 1995). O objetivo é apresentar
uma resposta mais rápida para as infrações de lesividade reduzida, bem como
promover a despenalização.

Dessa forma, na lógica dos juizados especiais criminais, é possível que não haja
a persecução penal, evitando-se a instauração da ação penal, por meio da
composição civil dos danos ou da transação penal.
Nulidades

Em se tratando de meio para o cumprimento da lei penal, o processo penal


deve observar uma série de regras procedimentais. A existência destas tem o
condão de assegurar o respeito ao devido processo legal. Quando um ato é
praticado em desconformidade com as normas aplicáveis ao caso, diz-se que o
ato está maculado com vício.

Tal vício pode ser maior ou menor, podendo ser convalidado ou não. Então,
fala-se em nulidades absolutas e nulidades relativas. São absolutas as
nulidades impassíveis de convalidação: “O ato existe, porém nunca será válido
e eficaz” (AVENA, 2017, p. 715). Por outro lado, são consideradas relativas
aquelas que podem ser corrigidas: “O ato existe, não é válido nem eficaz.
Contudo, poderá ser válido e produzir efeitos caso venha a ser sanado ou
convalidado” (AVENA, 2017, p. 716).

No entanto, é importante salientar que, de modo diverso do que ocorre no


processo civil, em processo penal apenas haverá decretação de nulidade se
provado que esta causou prejuízo às partes, conforme dispõe o Art. 563 do
CPP (BRASIL, 1941): “Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”. É a aplicação do
denominado princípio do prejuízo .

As nulidades em espécie estão expostas no Art. 564 do CPP (BRASIL, 1941) e


se dividem em nulidades relativas ao juízo, às partes e às formalidades dos
atos processuais. Contudo, deve-se ter em mente que se trata de rol
meramente exemplificativo, sendo possível a alegação de outras nulidades.
Recursos

A possibilidade de interpor recurso decorre da própria Constituição que


preceitua claramente o princípio do duplo grau de jurisdição. Especialmente
em se tratando do jus puniendi , há que se assegurar a possibilidade de
reanálise do feito por outro órgão.

Há certas peculiaridades na sistemática dos recursos em processo penal,


justamente com o intuito de assegurar a plenitude de defesa e evitar possíveis
injustiças. Estas peculiaridades corporificam-se na existência de recursos
exclusivos da defesa e na aplicação do princípio da fungibilidade , por meio
do qual é possível analisar a pretensão recursal, ainda que o recurso incorreto
seja apresentado.

Para que se aplique o princípio da fungibilidade, há que se observar dois


requisitos: a ausência de má-fé do recorrente – traduzida na observância do
prazo para o recurso cabível (tempestividade) e na existência de dúvida
razoável quanto ao recurso adequado –, bem como a possibilidade de
adequação do recurso interposto ao procedimento do recurso cabível.
Todos os recursos têm efeito devolutivo , na medida em que devolvem ao
Poder Judiciário a análise da questão. Todavia, nem todos têm efeito
suspensivo , ou seja, há situações em que a decisão recorrida manterá seus
efeitos, ainda que a análise do recurso esteja pendente.

saiba
mais
Saiba mais
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal
precisou analisar se a possibilidade de início
do cumprimento da pena privativa de
liberdade após o julgamento em segunda
instância teria amparo constitucional. Neste
sentido, analisando as Ações Declaratórias de
Constitucionalidade n. 43, 44 e 54, decidiu-se
que é necessário aguardar o esgotamento das
possibilidades de recurso.

Leia mais sobre o assunto no site do STF, a


seguir, no qual é possível acessar o inteiro
teor do acórdão.

ACESSAR

Passemos, agora, à análise dos recursos em espécie. Observe, a seguir, quais


são eles, onde estão disciplinados e quais são as hipóteses de cabimento:
Recursos em espécie

Hipóteses de Prazos de
cabimento interposição

Recurso em Arts. 581 a Cabe contra Cinco dias


sentido estrito 592. decisões (Art. 586).
(RESE) interlocutórias,
mas não se pode
fazer uma
correlação direta
deste recurso com
o agravo de
instrumento em
processo civil, haja
vista que as
decisões contra as
quais cabe RESE
são previstas
legalmente. O Art.
581 enumera as
hipóteses de
cabimento do
RESE. Além disso,
há a possibilidade
do seu manejo
conforme
legislação
específica – CTB,
Lei 1.508/1951 e
Decreto-lei
201/1967 são
alguns exemplos,
conforme trazido
por Avena (2017,
p. 818).

Apelação Arts. 593 a Cabe apelação Cinco dias


606. contra as (Art. 593).
sentenças, ou seja,
decisões
definitivas
absolutórias ou
condenatórias,
quer sejam
proferidas pelo
juiz de primeira
instância nos
crimes de sua
competência, quer
sejam proferidas
pelo juiz
presidente do
Tribunal do Júri
após o veredito
dos jurados.
Também é
possível a
interposição de
apelação contra as
decisões
interlocutórias
mistas (decisões
definitivas ou com
força de
definitivas),
quando não for
hipótese de
cabimento do
RESE (apelação
subsidiária ou
supletiva).

Cabe contra
acórdãos não
unânimes
proferidos pelos
Tribunais de
Justiça ou
Art. 609, Tribunais Dez dias (Art.
Embargos
parágrafo Regionais Federais 609, parágrafo
infringentes
único. (dois a um). É único).
recurso privativo
da defesa e tem a
intenção de
transformar o
voto vencido em
voto vencedor.

Cabe contra
acórdãos,
sentenças e
decisões
interlocutórias. O
objetivo é aclarar
ambiguidade,
Embargos de Arts. 619 e Dois dias (Art.
obscuridade,
declaração 620. 619).
omissão ou
contradição.
Assim, não tem a
finalidade de
substituir a
decisão originária,
mas de integrá-la.
Está previsto na
LEP (Lei de
Art. 197 da
Execução Penal) e
Lei nº
Agravo em cabe contra
7.210 Cinco dias.
execução qualquer decisão
(BRASIL,
proferida pelo juiz
1984).
da Vara de
Execução Penal.

Cabe contra a
decisão que não
recebe ou nega
seguimento ao
RESE e ao agravo
em execução. Tem
caráter subsidiário
Carta Arts. 639 a ou residual. Não é 48 horas (Art.
testemunhável 646. dirigido ao órgão 640).
jurisdicional, mas
ao chefe da
secretaria, para
que proceda ao
encaminhamento
do recurso à
instância superior.

Quadro 2.10 - Recursos em espécie


Fonte: Elaborado pela autora.

#PraCegoVer : o Quadro 2.10 apresenta os recursos em espécie do


processo penal. O quadro está dividido em quatro colunas e oito linhas.
Seguindo as colunas, da esquerda para a direita, temos, na primeira linha,
o nome do quadro. Na segunda linha, temos, na primeira coluna,
“Recurso”; na segunda coluna, “Dispositivo legal”; na terceira coluna,
“Hipóteses de cabimento”; e na quarta coluna, “Prazos de interposição”.
Na terceira linha, na primeira coluna, está “Recurso em sentido estrito
(RESE)”; na segunda coluna, está “Arts. 581 a 592”; na terceira, está “Cabe
contra decisões interlocutórias, mas não se pode fazer uma correlação
direta deste recurso com o agravo de instrumento em processo civil, haja
vista que as decisões contra as quais cabe RESE são previstas legalmente.
O Art. 581 enumera as hipóteses de cabimento do RESE. Além disso, há a
possibilidade do seu manejo conforme legislação específica – CTB, Lei
1.508/1951 e Decreto-lei 201/1967 são alguns exemplos, conforme trazido
por Avena (2017, p. 818)”; e na quarta está “Cinco dias (Art. 586)”. Na
quarta linha, na primeira coluna, está “Apelação”; na segunda coluna, está
“Arts. 593 a 606”; na terceira, está “Cabe apelação contra as sentenças, ou
seja, decisões definitivas absolutórias ou condenatórias, quer sejam
proferidas pelo juiz de primeira instância nos crimes de sua competência,
quer sejam proferidas pelo juiz presidente do Tribunal do Júri após o
veredito dos jurados. Também é possível a interposição de apelação
contra as decisões interlocutórias mistas (decisões definitivas ou com
força de definitivas), quando não for hipótese de cabimento do RESE
(apelação subsidiária ou supletiva)”; e na quarta coluna, está: “Cinco dias
(Art. 593)”. Na quinta linha, na primeira coluna, está “Embargos
infringentes”; na segunda coluna, está “Art. 609, parágrafo único”; na
terceira coluna, está “Cabe contra acórdãos não unânimes proferidos
pelos Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais Federais (dois a um). É
recurso privativo da defesa e tem a intenção de transformar o voto
vencido em voto vencedor”; e na quarta coluna, está: “Dez dias (Art. 609,
parágrafo único)”. Na sexta linha, na primeira coluna, está “Embargos de
declaração”; na segunda coluna, está “Arts. 619 e 620”; na terceira coluna,
está “Cabe contra acórdãos, sentenças e decisões interlocutórias. O
objetivo é aclarar ambiguidade, obscuridade, omissão ou contradição.
Assim, não tem a finalidade de substituir a decisão originária, mas de
integrá-la”; e na quarta coluna, está “Dois dias (Art. 619)”. Na sétima linha,
na primeira coluna, está “Agravo em execução”; na segunda coluna, está
“Art. 197 da Lei nº 7.210 (BRASIL, 1984)”; na terceira coluna, está “Está
previsto na LEP (Lei de Execução Penal) e cabe contra qualquer decisão
proferida pelo juiz da Vara de Execução Penal”; e na quarta coluna, está:
“Cinco dias”. Por fim, na oitava linha, na primeira coluna, está “Carta
testemunhável”; na segunda coluna, está “Arts. 639 a 646”; na terceira
coluna, está “Cabe contra a decisão que não recebe ou nega seguimento
ao RESE e ao agravo em execução. Tem caráter subsidiário ou residual.
Não é dirigido ao órgão jurisdicional, mas ao chefe da secretaria, para que
proceda ao encaminhamento do recurso à instância superior”; e na quarta
coluna, está “48 horas (Art. 640)”.

Vale lembrar, ainda, a possibilidade de impetração do remédio constitucional


que tutela a liberdade de ir e vir – o habeas corpus, previsto no Art. 5º, inciso
LXVIII (BRASIL, 1988). Embora haja, na prática forense, o uso exacerbado do
remédio heroico, sendo impetrado em situações nas quais há recurso cabível,
o estudante deve ficar atento, pois no Exame da Ordem não será considerado
correto o manejo de HC quando um dos recursos expressamente previstos for
cabível.

Conhecimento
Teste seus Conhecimentos
(Atividade não pontuada)

Caio foi denunciado pela suposta prática do crime de estupro de vulnerável. Ocorre
que, apesar da capitulação delitiva, a denúncia apresentava-se confusa na narrativa
dos fatos, inclusive não sendo indicada qual seria a idade da vítima. Logo após a
citação, Caio procurou seu advogado para esclarecimentos, destacando a dificuldade
na compreensão dos fatos imputados.
OAB – ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. XXXI Exame de Ordem Unificado . 1.
Fase. FGV Projetos, 2020.

O advogado de Caio, constatando que a denúncia estava inepta, deve esclarecer ao


cliente que, sob o ponto de vista técnico, com esse fundamento, ele poderia buscar:

a) sua absolvição sumária, podendo o Ministério Público apresentar recurso


de apelação em caso de acolhimento do pedido pelo magistrado, ou oferecer,
posteriormente, nova denúncia.
b) a rejeição da denúncia, podendo o Ministério Público apresentar recurso
em sentido estrito em caso de acolhimento do pedido pelo magistrado, ou
oferecer, posteriormente, nova denúncia.
c) sua absolvição sumária, podendo o Ministério Público apresentar recurso
em sentido estrito em caso de acolhimento do pedido pelo magistrado, mas,
com a decisão transitada em julgado, não poderá ser oferecida nova denúncia
com base nos mesmos fatos.
d) a rejeição da denúncia, podendo o Ministério Público apresentar recurso de
apelação em caso de acolhimento do pedido pelo magistrado, mas, com a
decisão transitada em julgado, não caberá oferecimento de nova denúncia.
Direito Tributário I

O Direito Tributário constitui ramo do Direito que trata da atividade estatal


coercitiva sobre a propriedade privada. Ele permite ao Estado instituir e cobrar
tributos, podendo tomar medidas capazes de forçar o particular ao
cumprimento da obrigação, mediante a possibilidade de expropriação de bens.

Sistema Constitucional Tributário


A Constituição Federal (BRASIL, 1988) trata das principais normas tributárias,
abordando a tributação e o orçamento em seu Título VI. Mais especificamente,
o Capítulo I institui o Sistema Tributário Nacional, que vai do Art. 145 ao Art.
162 da CF/1988. O capítulo está dividido em seis seções, da seguinte forma:
Título VI
Da Tributação e do Orçamento
Capítulo I
Do Sistema Tributário Nacional

Seção I – Dos princípios gerais Arts. 145 a 149-A

Seção II – Das limitações do poder


Arts. 150 a 152
de tributar

Seção III – Dos impostos da União Arts. 153 e 154

Seção IV – Dos impostos dos


Art. 155
estados e do Distrito Federal

Seção V – Dos impostos dos


Art. 156
municípios

Seção VI – Da repartição das


Arts. 157 a 162
receitas tributárias

Quadro 2.11 - Título VI da Constituição Federal


Fonte: Adaptado de Brasil (1988).

#PraCegoVer : o Quadro 2.11 apresenta a divisão da disciplina tributária


na Constituição Federal. O quadro está dividido em duas colunas e sete
linhas. Seguindo as colunas, da esquerda para a direita, temos, na
primeira linha, “Título VI – Da Tributação e do Orçamento – Capítulo I – Do
Sistema Tributário Nacional”. Na segunda linha, temos, na primeira
coluna, “Seção – Dos princípios gerais”; na segunda coluna, temos “Arts.
145 a 149-A”. Na terceira linha, na primeira coluna, está “Seção II – Das
limitações do poder de tributar”; na segunda coluna, está “Arts. 150 a
152”. Na quarta linha, na primeira coluna, está “Seção III – Dos impostos
da União”; na segunda coluna, está “Arts. 153 e 154”. Na quinta linha, na
primeira coluna, está “Seção IV – Dos impostos dos estados e do Distrito
Federal”; na segunda, está “Art. 155”. Na sexta linha, na primeira coluna,
está “Seção V – Dos impostos dos municípios”; na segunda coluna, está
“Art. 156”. Na sétima linha, na primeira coluna, está “Seção VI – Da
repartição das receitas tributárias”; e na segunda, está “Arts. 157 a 162”.

A sistematização das normas tributárias traz consigo diversos benefícios, ao


passo que estabelece, por exemplo, as competências tributárias de cada
ente federativo, evitando-se conflitos entre estes e a possibilidade de
bitributação.

Por competência tributária, entende-se o poder que os entes federados


possuem de instituir tributos . Trata-se de competência indelegável e
irrenunciável, uma vez que vigora a supremacia do interesse público. Não se
pode confundir tal conceito com o conceito de capacidade tributária , que,
por sua vez, abrange a capacidade de fiscalizar e arrecadar tributos , esta,
sim, podendo ser delegada.

É possível dizer que a repartição de competências tributárias, estabelecida pela


Constituição por meio do Sistema Tributário Nacional, permite a convivência
harmônica entre os entes federados, pois é a Constituição que estabelece
quais tributos poderão ser instituídos pelos entes federados.

Entre os Arts. 145 e 156 da Constituição (BRASIL, 1988), observamos a


distribuição das competências tributárias para instituição dos tributos em
espécie.

Atenção! Não deixe de ler atentamente os artigos supramencionados, exceto a


Seção VI, uma vez que a temática da repartição de receitas é estudada em
Direito Financeiro.

Lei Complementar Tributária


No estudo das fontes do Direito, costumamos aprender a distinção entre leis
ordinárias e leis complementares. Em que pese a discussão doutrinária a
respeito da existência ou não de hierarquia entre as duas, o que nos interessa
aqui é o fato de que elas têm quórum diferente para aprovação e disciplinam
assuntos diversos.

As leis ordinárias, como o próprio nome demonstra, são usadas na maioria dos
casos, visto que sua aplicação é ampla. Já as leis complementares cuidam de
temas específicos, os quais dependem de quórum qualificado, exigido para a
aprovação da lei complementar, conforme determinação constitucional.

Quanto ao Direito Tributário, o Art. 146 da Constituição (BRASIL, 1988)


enumera as matérias que devem ser regulamentadas por lei complementar.

Portanto, caberá à lei complementar estabelecer critérios para solucionar


possíveis conflitos de competência que venham a surgir em matéria tributária;
regulamentar os limites que a Constituição impõe ao poder de tributar, dando
maior concretude às proibições constitucionais; além de instituir normas gerais
em matéria tributária. É importante observar que o desrespeito ao processo
legislativo gerará a ineficácia da norma, especialmente se esta trouxer algum
gravame para o contribuinte.

Tributo
Mas, afinal, o que é tributo? Um bom ponto de partida é observar como a
legislação o define. Segundo o Art. 3º do Código Tributário Nacional (BRASIL,
1966):

Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda


ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de
ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada.

Dissecando o conceito trazido pelo artigo, é possível observar as seguintes


características dos tributos:
Tributo é gênero: ao dizer que “tributo é toda prestação pecuniária”, o
artigo demonstra que há mais de um tipo de prestação pecuniária que
integra o conceito. São elas: impostos, taxas e contribuições de
melhoria.
Tributo é prestação pecuniária: isto significa que o tributo traduz uma
quantidade de dinheiro, apurada em moeda corrente.
Tributo não é punição: o tributo não pode ter caráter sancionatório.
Na verdade, o tributo é uma prestação que decorre de uma relação
obrigacional , segundo o Art. 113 do CTN (BRASIL, 1966). Ele incidirá
todas as vezes que o fato gerador ocorrer; este, por sua vez, não
decorre de ato ilícito, mas das mais diversas atividades que podem ser
desempenhadas pelo particular.
Tributo é compulsório: o tributo decorre do poder de império do
Estado, que possui plena capacidade para instituir e cobrar tributos.
Tributo só pode ser instituído por lei: aplicação do princípio da
legalidade. Há determinados aspectos relacionados aos tributos que
independem de lei – majoração de alíquota, por exemplo. Mas a
instituição do tributo e a majoração da base de cálculo apenas podem
decorrer de lei.
Tributo é cobrado mediante atividade administrativa vinculada: não
há espaço para discricionariedade na cobrança de tributos; ocorrendo
o fato gerador, incide o tributo, e o Estado tem a obrigação de cobrá-
lo.

Ainda sobre o tributo como obrigação, vale remetê-lo à leitura do título do CTN
(BRASIL, 1966) que trata da obrigação tributária – Arts. 113 a 138. Lembre-se
de que são elementos constitutivos da obrigação tributária : a lei que
institui o tributo; o fato jurídico ou fato gerador; o sujeito ativo – ente estatal
com competência para cobrar; o sujeito passivo – contribuinte; e o objeto –
base de cálculo e alíquota.

A doutrina costuma criticar o fato de a lei ter se ocupado de estabelecer


conceitos – papel tradicionalmente atribuído àquela. Todavia, no Exame da
Ordem, o estudante deve ater-se ao conceito legal e aos seus
desdobramentos.
Direito Tributário II

Entendidas as premissas básicas do Direito Tributário, vamos agora nos


debruçar sobre o estudo dos tributos em espécie, dos princípios tributários –
de observância obrigatória e das hipóteses de não incidência da obrigação
tributária – e das imunidades.

Tributos em espécie
De acordo com o Art. 5º do CTN (BRASIL, 1966): “Os tributos são impostos,
taxas e contribuições de melhoria”. O Código personifica a denominada Teoria
Tripartite das espécies tributárias , na medida em que aponta apenas essas
três espécies.

Por outro lado, a Constituição (BRASIL, 1988), nos Arts. 148 e 149, dispõe sobre
a possibilidade de a União instituir empréstimos compulsórios e contribuições.
Sob esse aspecto, surgiu a Teoria Quíntupla ou Pentapartite das espécies
tributárias.
Os doutrinadores que defendem a primeira, apegam-se à literalidade da lei. No
entanto, os defensores da segunda apontam que a Constituição Federal, além
de ter hierarquia superior, também foi elaborada posteriormente ao Código
Tributário, portanto seu mandamento deve prevalecer.

Atualmente, prevalece a Teoria Pentapartite, sendo este o posicionamento


adotado pelo Supremo Tribunal Federal (CAPARROZ, 2020, p. 94). No entanto,
note que os tributos previstos no CTN (BRASIL, 1966) são de competência da
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Por outro lado, os
empréstimos compulsórios e as contribuições são de competência apenas da
União.

Vejamos o conceito e a regulamentação legal de cada uma dessas espécies:


Tributos em espécie

Espécie tributária Regulamentação Conceito

“Art. 16. Imposto é o


tributo cuja obrigação
tem por fato gerador
uma situação
independente de
qualquer atividade
estatal específica,
relativa ao
contribuinte” (BRASIL,
1966). Os impostos
não estão vinculados
a uma
contraprestação
estatal. Basta que o
particular pratique o
Impostos Arts. 16 a 76, CTN.
ato que constitui o
fato gerador para que
incida a obrigação
tributária. Estão
relacionados à
obrigação de todos
de custear as
atividades a serem
desenvolvidas pelo
Estado. O CTN
apresenta uma série
de impostos, cuja
regulamentação está
nos artigos
mencionados.
Decorrer do
“exercício regular do
poder de polícia, ou a
utilização, efetiva ou
potencial, de serviço
público específico e
divisível, prestado ao
contribuinte ou posto
à sua disposição”
(BRASIL, 1966),
conforme dispõe o
Taxas Arts. 77 a 80, CTN.
Art. 77 do CTN. As
taxas incidirão
quando o Estado
prestar um serviço
público ao particular
– fornecimento de
água e luz, por
exemplo – ou quando
exercer seu poder de
polícia – expedição de
alvarás, por exemplo.

Contribuições de Arts. 81 e 82, CTN. A contribuição de


melhoria melhoria poderá ser
instituída em face do
custo de obras
públicas das quais
decorra valorização
imobiliária. Ou seja,
caso o Estado realize
uma obra que
ocasione a
valorização de imóvel
do particular, poderá
cobrar dele um valor
por esta valorização,
a fim de evitar o
enriquecimento sem
causa.

De competência
exclusiva da União,
pode ser instituído
para atender às
despesas
extraordinárias,
decorrentes de
Empréstimos
Art. 148, CF. calamidade pública,
compulsórios
de guerra externa ou
sua iminência e,
ainda, para
investimento público
de caráter urgente e
de relevante
interesse nacional.

Contribuições Art. 149 e 149-A, CF. São tributos com


destinação específica,
para financiamento
de serviços públicos
específicos. Também
são de competência
exclusiva da União.
Podem ser:
contribuições sociais
para a seguridade
social; contribuições
sociais gerais;
contribuições de
interesse de categoria
profissional ou
econômica; e
contribuições de
intervenção no
domínio econômico –
CIDE.

Quadro 2.12 - Tributos em espécie


Fonte: Elaborado pela autora

#PraCegoVer : o Quadro 2.12 apresenta os tributos em espécie. O quadro


está dividido em três colunas e sete linhas. Seguindo as colunas, da
esquerda para a direita, temos, na primeira linha, o título do quadro. Na
segunda linha, temos, nas três colunas, da esquerda para a direita,
respectivamente: “Espécie tributária”, “Regulamentação” e “Conceito”. Na
terceira linha, temos, na primeira coluna, “Impostos”; na segunda coluna,
“Arts. 16 a 76, CTN”; e na terceira, “‘Art. 16. Imposto é o tributo cuja
obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer
atividade estatal específica, relativa ao contribuinte’ (BRASIL, 1966). Os
impostos não estão vinculados a uma contraprestação estatal. Basta que
o particular pratique o ato que constitui o fato gerador para que incida a
obrigação tributária. Estão relacionados à obrigação de todos de custear
as atividades a serem desenvolvidas pelo Estado. O CTN apresenta uma
série de impostos, cuja regulamentação está nos artigos mencionados”.
Na quarta linha, temos, na primeira coluna, “Taxas”; na segunda, “Arts. 77
a 80, CTN”; e na terceira, “Decorrer do ‘exercício regular do poder de
polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e
divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição’ (BRASIL,
1966), conforme dispõe o Art. 77 do CTN. As taxas incidirão quando o
Estado prestar um serviço público ao particular – fornecimento de água e
luz, por exemplo – ou quando exercer seu poder de polícia – expedição de
alvarás, por exemplo”. Na quinta linha, na primeira coluna, está
“Contribuições de melhoria”; na segunda, está “Arts. 81 e 82, CTN”; e na
terceira, está “A contribuição de melhoria poderá ser instituída em face do
custo de obras públicas das quais decorra valorização imobiliária. Ou seja,
caso o Estado realize uma obra que ocasione a valorização de imóvel do
particular, poderá cobrar dele um valor por esta valorização, a fim de
evitar o enriquecimento sem causa”. Na sexta linha, na primeira coluna,
está “Empréstimos compulsórios”; na segunda coluna, está “Art. 148, CF”;
e na terceira, “De competência exclusiva da União, pode ser instituído
para atender às despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência e, ainda, para investimento
público de caráter urgente e de relevante interesse nacional”. Finalmente,
na sétima linha, temos na primeira coluna “Contribuições”; na segunda,
“Arts. 149 e 149-A, CF”; e na terceira, “São tributos com destinação
específica, para financiamento de serviços públicos específicos. Também
são de competência exclusiva da União. Podem ser: contribuições sociais
para a seguridade social; contribuições sociais gerais; contribuições de
interesse de categoria profissional ou econômica; e contribuições de
intervenção no domínio econômico – CIDE”.

Princípios constitucionais
tributários
A importância dos princípios em nosso ordenamento jurídico é mais que
conhecida. Eles traduzem obrigações ou proibições e devem ser
obrigatoriamente respeitados. Em Direito Tributário, tutelam direitos do
contribuinte, que, apesar de não poder se imiscuir da obrigação tributária,
pode opor determinados limites à atuação do Estado. O estudo dos princípios
de Direito Tributário está, portanto, diretamente relacionado às limitações
constitucionais ao poder de tributar.

Essas limitações estão na Seção II do Capítulo I do Título VI da Constituição


Federal (BRASIL, 1988) e constituem verdadeiros standards negativos da
atividade de instituir e cobrar tributos desenvolvida pelo Estado.
O primeiro princípio retratado na norma constitucional é o princípio da
legalidade , estampado no Art. 150, I, da CF (BRASIL, 1988). Trata-se de
princípio geral de Direito Constitucional, mas que, na seara tributária, ganha
relevos específicos. De acordo com a norma, é proibida a instituição de
tributos sem lei que os estabeleça. Por instituição, entende-se a exigência e a
cobrança deste.

O fundamento do princípio decorre do próprio ideal democrático. Se o Poder


Legislativo representa a vontade da população, é ele que deve definir a
destinação do dinheiro público, bem como quais serão as atividades prestadas
pelo Estado e como serão cobradas.

Em que pese a norma, é possível a atualização monetária de tributos por ato


infralegal, pois esta não é considerada aumento real. Assim já decidiu o
Supremo Tribunal Federal. Ademais, no próprio texto constitucional, há certas
mitigações ao princípio da legalidade, situações nas quais é permitida a
majoração da alíquota do tributo por ato infralegal. São as exceções dos
seguintes dispositivos: Art. 153, § 1º; Art. 177,§ 4º, I, b; Art. 155, § 4º, IV (BRASIL,
1988). Observe que é possível apenas a majoração da alíquota, não sendo
possível majorar a base de cálculo.

O princípio da igualdade está disposto no Art. 150, II, da Constituição (BRASIL,


1988). Ele se aplica às mais diversas searas do Direito, mas, aqui, adquire
contornos específicos. Por meio dele, pretende-se assegurar tratamento
isonômico aos contribuintes que se encontrem na mesma situação. Um
exemplo da aplicação deste princípio é a variação na alíquota do imposto de
renda. Quanto maiores os rendimentos do contribuinte, maior será o valor do
imposto, buscando-se, assim, assegurar a igualdade material.

Outro princípio de suma importância especificamente para o Direito Tributário


é o princípio da anterioridade , também conhecido como princípio da não
surpresa. Por meio dele, pretende-se garantir que o contribuinte possa se
planejar para o recolhimento dos tributos, de modo que o Estado não pode
instituir uma obrigação tributária sem garantir um lapso temporal mínimo para
que o particular se planeje.
A anterioridade se manifesta em dois momentos: anterioridade anual,
conforme o Art. 150, III, b, e anterioridade nonagesimal, conforme o Art. 150,
III, c, e o Art. 195, § 6º da CF (BRASIL, 1988). Pela anterioridade anual, assegura-
se que a cobrança do tributo ocorrerá apenas no exercício financeiro seguinte
à sua instituição, entendendo-se por exercício financeiro o ano civil (01 de
janeiro a 31 de dezembro). Assim, o Estado não pode instituir um tributo e
cobrá-lo no mesmo ano. Mas, se observada pura e simplesmente a
anterioridade anual, o Estado poderia, por exemplo, instituir um tributo no dia
31 de dezembro e já cobrá-lo no dia 01 de janeiro. É por isso que existe
também a anterioridade nonagesimal, que determina a necessidade de se
aguardar o transcurso de noventa dias para que se exija o tributo. No entanto,
é importante ressaltar que tanto a anterioridade anual quanto a nonagesimal
possuem exceções, estabelecidas na própria Constituição (BRASIL, 1988), no §
1º do Art. 150.

Finalmente, o princípio da irretroatividade , que, assim como o princípio da


anterioridade, está relacionado com o pressuposto maior da segurança
jurídica. Estabelecido no Art. 5º, XXXVI, e no Art. 150, III, a, da CF (BRASIL, 1988),
assegura que não ocorrerá cobrança de tributos sobre fato gerador ocorrido
antes do início da vigência da lei que o houver instituído. (Fato gerador é o
comportamento que ocasiona a incidência da obrigação de pagar o tributo). De
acordo com tal princípio, o contribuinte não pode ser obrigado a pagar tributos
por um fato gerador praticado quando não havia exigência deste
recolhimento.

Imunidades tributárias
Imunidades são hipóteses de não incidência da obrigação tributária. Trata-se
de verdadeira benesse instituída pela Constituição (BRASIL, 1988), que previu
diversas hipóteses em que não será possível tributar. As imunidades
tributárias constituem uma das maiores limitações ao poder de tributar e
estão concentradas, em sua maioria, no Art. 150, VI, da Constituição (BRASIL,
1988), apesar de haver outras previsões esparsas pelo texto constitucional.

Assim, é vedado aos entes federados:


VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive
suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das
instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei;
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil
contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros
e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem
como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham,
salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura
a laser (BRASIL, 1988).

Observa-se, portanto, que não serão tributados os próprios entes federados,


os templos religiosos, os partidos políticos, livros, jornais, periódicos,
fonogramas e videogramas. O objetivo é proteger ou estimular determinadas
práticas. Por exemplo, a imunidade concedida aos livros e às obras musicais
tem o objetivo de incentivar a cultura. A imunidade concedida aos templos
religiosos tem o objetivo de assegurar a liberdade de expressão. A imunidade
recíproca entre os entes federados decorre da própria lógica de repartição de
verbas decorrentes da atividade tributária, pois não faria sentido, por exemplo,
o município pagar tributo para a União e, em seguida, receber repasse de
verbas.

Suspensão, extinção e exclusão do


crédito tributário
O crédito tributário representa o valor que o contribuinte deve ao Estado.
Justamente por esta característica é que, da sua instituição ao seu pagamento,
podem ocorrer diversas situações que posterguem ou impeçam a cobrança do
crédito. Trata-se dos fenômenos de suspensão, extinção e exclusão do crédito
tributário. Vejamos cada um.
A suspensão do crédito tributário está tratada do Art. 151 ao Art. 155-A do
Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966). Ela significa a impossibilidade
temporária de o poder público cobrar o crédito que lhe é devido. O dever de
cumprir com o pagamento do tributo permanece inalterado, mas a sua
exigibilidade encontra-se temporariamente suspensa. Ocorre a suspensão
quando o contribuinte, apesar de já ter reconhecido a obrigação, discute as
possibilidades quanto à forma ou ao prazo de pagamento – moratória e
parcelamento. Por outro lado, também é possível a suspensão quando o
contribuinte, antes do vencimento do tributo, quiser discutir o próprio
lançamento deste. Nesta situação, caso o contribuinte tenha razão, o
lançamento será revisto, e é possível que ocorra a própria extinção do crédito.
Caso o contribuinte não tenha razão, após o prazo de suspensão, retoma-se
normalmente a exigibilidade do tributo.

A extinção do crédito tributário ocorre quando este deixa de ser exigível. A


forma tradicional de se extinguir uma obrigação é mediante o pagamento, mas
o Art. 156 do CTN traz, além desta, mais dez possibilidades de extinção
(BRASIL, 1966). Há formas que estão relacionadas ao cumprimento da
obrigação – compensação, consignação em pagamento, conversão de depósito
em renda, pagamento antecipado ou dação em pagamento. Há outras
relacionadas ao fato de o crédito se tornar inexigível – prescrição e decadência,
remissão, decisão administrativa ou judicial irrecorrível que declare o crédito
inexigível.

Por fim, há o instituto da exclusão do crédito tributário, conforme prevê o Art.


175 do CTN (BRASIL, 1966). A exclusão ocorre quando houver a isenção ou a
anistia do tributo. A isenção , segundo os Arts. 176 a 179 do CTN, exclui a
obrigação de pagamento, ou seja, a obrigação existe, mas não gera as
consequências tradicionais. Já a anistia , conforme os Art. 180 a 182, perdoa
possíveis infrações, mas o contribuinte permanece obrigado ao recolhimento
do imposto e dos juros; contudo, ele deixa de responder por multas pelo
atraso, por exemplo.
conclusão
Conclusão
Nesta unidade, revisamos as disciplinas de Processo Penal e de Direito
Tributário. Nosso objetivo é que, ao final do estudo, você tenha conseguido
relembrar os pontos mais relevantes dessas disciplinas, criando uma
verdadeira linha temporal do processo penal – do seu nascimento até o seu
fim – e, especialmente, que tenha absorvido a importância do processo penal
como mecanismo de garantia do acusado.

Esperamos também que você tenha se apropriado da sistemática aplicável à


atividade estatal de instituir e cobrar tributos. Lembre-se de realizar a leitura
da legislação seca apontada neste material e não deixe de consultar outras
fontes de estudo. Em sua biblioteca virtual, há bons livros para
aprofundamento. Bons estudos e uma excelente prova. E que venha a
aprovação!

referências
Referências
Bibliográficas
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Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à
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BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal.


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BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados


Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Diário Oficial da União :
Brasília, DF, 27 set. 1995. Disponível em:
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BRASIL. Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do


Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União : Brasília, DF, 03 out
2003. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm#:~:text=LEI%20No%2010
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BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação
judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária.
Diário Oficial da União : Brasília, DF, 09 fev. 2005b. Disponível em:
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Acesso em: 03 fev. 2021.

BRASIL. Lei nº 11.106, de 28 de março de 2005. Altera os arts. 148, 215, 216,
226, 227, 231 e acrescenta o art. 231-A ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 – Código Penal e dá outras providências. Diário Oficial da
União : Brasília, DF, 29 mar. 2005a. Disponível em:
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BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a


violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226
da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação
dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código
de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências. Diário Oficial da União : Brasília, DF, 08 ago. 2006. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm .
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BRASIL. Lei nº 12.681, de 04 de julho de 2012. Institui o Sistema Nacional de


Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas - SINESP; altera
as Leis nº s 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, e 11.530, de 24 de outubro de
2007, a Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994, e o Decreto-Lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal; e revoga
dispositivo da Lei nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001. Diário Oficial da
União : Brasília, DF, 29 jun. 2012. Disponível em:
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BRASIL. Lei nº 12.850, de 02 de agosto de 2013. Define organização criminosa e


dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações
penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de
1995; e dá outras providências. Diário Oficial da União : Brasília, DF, 05 ago.
2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12850.htm . Acesso em: 03 fev. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação


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