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PROCESSO PENAL

1. NOÇÕES BÁSICAS E GERAIS: O QUE É O PROCESSO PENAL?

“Toda a definição em Direito é perigosa” – porque pode ser subvertida.

PROCESSO PENAL = conjunto de actos juridicamente preordenados e praticados por certas pessoas legitimamente
autorizadas em ordem a uma finalidade = jurisdição penal =

1. Fim qualificativo do processo = dizer o Direito no caso concreto em sentido etimológico, mas significa não
apenas a declaração do direito, mas também a execução das suas decisões (202º CRP) = esclarecer uma
dúvida socialmente consistente sobre a possibilidade de ter sido praticado um crime e a responsabilidade dos
seus agentes com a segurança de um caso julgado (na fase declarativa).
2. ≠ declarar “à força” que foi praticado crime e condenar agente – não é pensado para aplicar sanção, se assim
fosse o fim, frustrar-se-ia sempre que houvesse sentença de absolvição.

DIREITO PROCESSUAL PENAL = conjunto de normas jurídicas que disciplinam o processo penal.

 É uma garantia fundamental dos cidadãos – art.º 29º nº 1 CRP (reserva dos tribunais) – não há pena sem
juízo.

 Qual a relação com o Direito Penal?


1. Há uma tendência para dizer que é instrumental = serve para aplicar a lei penal aos casos concretos.

de facto existe essa relação de instrumentalidade necessária, mais acentuada até do que na relação do
processo com outros ramos do Direito (ex. civil, administrativo), já que o Direito Penal não se realiza
espontaneamente, só se realiza por meio do processo (não há pena sem juízo) = há uma conexão
teleológica.
=
JFD – por essa razão, há uma unidade funcional entre o direito penal e o processo penal.

JLM – discorda dessa posição – isto não afeta uma específica autonomia entre o processo penal e o
direito penal = há uma juridicidade autónoma:
(1) Direito penal – tem por objeto o ordenamento da vida em sociedade, qualificando de forma geral e
abstrata, os comportamentos humanos, em função dos bens jurídicos que considera valiosos e
prescrevendo sanções para os comportamentos ofensivos desses bens.

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(2) Direito processual penal – visa disciplinar o processo para averiguar e decidir sobre a eventual
ocorrência de um crime e aplicar a sanção penal aos responsáveis pela sua prática, se for o caso
disso, ou decidir que não foi cometido crime ou que determinadas pessoas não o cometeram ou não
devem ser responsabilizadas.
=
Pode haver uma pena processualmente correta e materialmente injusta e vice-versa (porque a
confissão foi obtida por meio de tortura – art.º 126º CPP – uso de provas nulas; não houve sequer
processo; condenação por crime diverso do da acusação – 359º CPP, …).
+
Se o processo penal terminar com uma sentença de absolvição, quer isso dizer que o processo não
foi eficaz? Não! As fases declarativas não visam, de um certo modo, a realização do direito penal.
=
Na fase declarativa há uma juridicidade autónoma – depois da fase declarativa, se existir uma
sentença condenatória transitada em julgado, surge a fase executiva:
1) O único título executivo em processo penal é uma sentença transitada em julgado (467º CPP +
470/1).
2) Aqui pode dizer-se que o Processo Penal surge para realizar o Direito Penal que foi proferido na
sentença condenatória – só nesta fase são indistinguíveis os fins do DP e do PP.

 RELEVÂNCIA FUNDAMENTAL DO PP NO ESTADO DE DIREITO =


1. É a “magna carta” dos criminosos – define contra o arbítrio quem pode ser punido e de que maneira.
2. É igualmente importante para as pessoas honestas (FERRI), porque garante a preservação da inocência e
os direitos fundamentais, quando sobre elas pode cair a suspeita.
3. MAS – é um ramo processual onde há mais restrições à esfera dos cidadãos (escutas telefónicas, prisão
preventiva, buscas domiciliárias, …) em atenção à sua finalidade.

 É DIREITO CONSTITUCIONAL APLICADO – são as garantias fundamentais do cidadão que estão em jogo
(podemos encontrar normas em processo penal que se preocupam mais com defesa do arguido do que com
realização da justiça – ex. 126º).

2. MODELOS E PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

PROCESSO CIVIL vs. PROCESSO PENAL

PROCESSO CIVIL PROCESSO PENAL

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Pp. do dispositivo – estão em causa direitos disponíveis Pp. da legalidade – o MP não tem liberdade para decidir
= pp. do pedido. se promove ou não promove a ação penal – caráter
indisponível do processo penal.
Pp. da igualdade entre as partes. O arguido e o MP não estão em posição de igualdade –
o MP está vinculado à prossecução da tutela do
interesse público, sendo uma magistratura autónoma.
Autor e réu são suscetíveis de sofrer consequências O único que vê a sua esfera jurídica afetada é o arguido.
jurídicas da sentença.
Estrutura triangular – tribunal, réu, autor – necessária A estrutura triangular não tem necessariamente de
(direitos disponíveis – pp. do dispositivo = pp. do ocorrer – podemos estar perante uma estrutura
pedido; pp. igualdade das partes = pp. do inquisitória – é uma opção (direitos indisponíveis +
contraditório). limitação do eventum litis à esfera jurídica do arguido).
Caráter eventual – posso resolver litígio Não é eventual, o direito penal só se realiza no
extraprocessualmente processo penal.

EM PROCESSO PENAL SÃO COMUNS DOIS MODELOS PUROS:

1. PROCESSO ACUSATÓRIO (velho) – típico das sociedades mais simples e dos ditos delitos particulares (furto,
roubo, dano e injúria), em que a pena não era pública = era semelhante ao processo civil, porque havia
necessidade de impulso judicial pelo particular (ofendido ou quivis ex populo) e assente no pp. do
contraditório/igualdade das partes = passividade/imparcialidade do juiz (≈ PC)

2. PROCESSO INQUISITÓRIO – típico da evolução para sociedades mais complexas e estruturadas – o


crescimento do poder social e do poder do estado torna natural o aparecimento de crimes sem um ofendido
palpável = o processo começa com uma informação que traz consigo o juízo de que uma infração aconteceu,
dando início a uma investigação impulsionada pelo próprio magistrado = início por investigação judicial
oficiosa (inquisitio), seguida de pronúncia ou não pronúncia, seguida de contestação e julgamento (em que
valiam as provas da fase anterior (escritas) + pp. da verdade material).

(1) Este processo era o processo romano extraordinário, mas que na prática se tornou o mais frequente,
passando a não depender do impulso particular – foi adotado para o Direito Canónico (daí o termo
Inquisição) e dominou até ao liberalismo.

 Liberalismo – procurou um processo de natureza mista com elementos do modelo acusatório e


inquisitório (que entrou em crise por não garantir a imparcialidade do juiz) – é este o modelo do processo
penal actual:

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1. Retomou o processo acusatório na estrutura essencial do processo = necessidade de acusação por


um terceiro que não o juiz que tem um papel passivo, mas esse terceiro era o MP e não um particular
– pp. da acusação (art.º 32º nº5 CRP – o processo criminal tem estrutura acusatória = ninguém pode
ser condenada sem que seja deduzida acusação contra ele por um terceiro que não é o juiz) = o
tribunal tem um papel passivo e não pode exceder os limites da acusação (art.º 309º e 379/1 b) CPP).

2. Mantiveram-se aspectos do processo inquisitório:


1) Na promoção – a acusação é promovida pelo MP = existe uma magistratura organizada que tem
por função essencial o exercício da acção penal – art.º 219º nº1 CRP + por ex. 262/2 CPP – o MP
era uma instituição que já existia no Ancien Regime e que era o representante do rei em matérias
fiscais (com a Revolução Francesa reorganizou-se essa instituição para lhe entregar a promoção
do processo).
(1) Pp. da oficialidade – 48º CPP – o que levou a criar MP foi que, apesar de não se querer
confundir funções de promoção com funções do juiz, queria-se que processo penal tivesse
promoção oficiosa = em princípio não tem de estar à espera de ninguém para promover o
processo, pode sozinho iniciar o processo – a regra é que os crimes são públicos e isso é a
novidade que traz o MP.

MAS:
1) Art.º 49º - crimes cujo procedimento depende de queixa (ex. ofensa à integridade física
simples – art.º 143º CP) – crimes semi-públicos
2) Art.º 50º - crimes dependentes de acusação particular (ex. 180º CP – difamação) – crimes
particulares.

(2) Pp. da legalidade – o MP é obrigado a proceder sempre que tenha notícia da prática de um
crime (“dá sempre lugar à abertura de inquérito – 267/2 CPP – mesmo as exceções a que se
refere não são exceções ao pp. da legalidade, mas são por ex. os processos sumários – ex.
operações STOP – não há fase de inquérito), não tem um poder de escolha – 219º nº1 2ª
parte CRP.

≠ EUA – pp. da oportunidade – o MP tem o poder de, em função de escolhas de interesse


público de conveniência e oportunidade, escolher a quais processos penais há-de dar
prioridade na sua atuação.

CONCLUSÃO = MP do processo penal reformado “herdou” as vantagens que tinha o juiz do


processo inquisitório.

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2) Na Prova – pp. da verdade material + pp. da investigação (é o que se chama inquisitório quanto à
prova em PC) – art.º 340º (pp. que depois passou para o PC em 1920) ≠ verdade formal do
processo acusatório (limitado à prova trazida pelas partes).

3. INTRODUÇÃO À MARCHA DO PROCESSO

Vamos ver o processo comum e não os especiais + por crime público (art.º 48º) e não semi-público (49º) ou
particular (50º).

1. Sumário – 381º e ss.;


2. Abreviado – 391º-A e ss.;
3. Sumaríssimo – 392º e ss.

 O processo penal tem um ritmo binário = tem dois tempos/duas fases que podem ter em si subfases:

1ª FASE – Processo preparatório ou preliminar – Livro VI CPP – duas subfases:

1. Inquérito – 262º e 263º


2. Instrução – 286/1 e 288/1

RAZÃO DA EXISTÊNCIA DESTA FASE = ninguém se senta no banco dos arguidos sem indiciação suficiente, porque isso
traz consigo uma restrição muito pesada da honra e consideração das pessoas – ver 283º nº1 e nº2 CPP.

1. É assim que está delineada a maior parte dos sistemas – estão todos fundamentados neste pp. de que não
se pode ir a julgamento público por um crime por ser gravoso para as pessoas, se não houver indícios
suficientes – PP. FUNDAMENTAL DA INDICIAÇÃO SUFICIENTE (é a barreira entre os dois tempos do processo
penal)

=
2. Esta fase visa recolher, investigar e discutir jurisdicionalmente se há indícios suficientes para ir a julgamento
≠ discutir se é inocente ou culpado – só se se chegar ao julgamento é que se vai discutir isso.
=

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3. O processo penal não começa na acusação – quando a acusação é formulada já houve esta fase – MP já
investigou e deduz acusação no fim de uma fase de uma investigação a que se chama inquérito.
+
4. Mesmo quando é deduzida acusação não vai imediatamente a julgamento – pode haver antes discussão em
tribunal, para saber se há indícios para ir a julgamento, discutir conclusão a que chegou MP no final do
inquérito – é o juiz de instrução que vai avaliar a acusação do MP – fase intermédia da instrução.

2ª FASE – Julgamento – Processo Principal – Livro VII CPP

INQUÉRITO

1. Tem na base uma notícia do crime (denúncia, conhecimento pelos magistrados, …) – 241º e ss. CPP –
perante a qual o MP, se entender que é possível que tenha sido cometido crime, faz um despacho de
abertura do inquérito para saber se há ou não indícios – pp. da legalidade (262/2) = obrigatoriedade de abrir
o inquérito (salvas exceções = crime semi-público e particular + formas de processo, por ex. o processo
sumário que começa logo com o julgamento, não havendo inquérito).

Nos termos do art.º 241º, encontram-se consagradas as modalidades da notícia do crime.

(1) CRIMES PÚBLICOS – art.º 48º - o MP tem legitimidade para fazer tudo e no julgamento sustenta a
acusação. A legitimidade do MP não sofre qualquer restrição – regra geral.
(2) CRIMES SEMI-PÚBLICOS – art.º 49º - a legitimidade do MP está condicionada à apresentação de uma
queixa por parte do titular do direito respetivo; se o titular da queixa desistir de tal o MP não tem
legitimidade para prosseguir o processo.
(3) CRIMES PARTICULARES – art.º 50º - o MP só tem legitimidade (só pode haver processo e continuação
deste) se o titular do direito violado apresentar a queixa (declaração de vontade), assumir a posição
processual enquanto assistente do processo e já em veste de assistente vier a deduzir a sua acusação
particular.

Como é que se sabe se um determinado crime é público, semi-público ou particular?


Art.º 48º = regra geral = se não existir norma em contrário, o crime é público (as normas em contrário
encontram-se no CP a propósito de cada crime) – art.º 49º e 50º são exceções (= não comportam
aplicação analógica).

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Assinala-se, tradicionalmente, uma tripla função da queixa e da acusação particular:


1. Pode o significado criminal relativamente pequeno do crime (bagatelas penais e pequena
criminalidade) tornar aconselhável, de um ponto de vista político-criminal, que o procedimento
penal respectivo só tenha lugar se e quando tal corresponder ao interesse e vontade do titular do
direito de queixa, ou mesmo, que o procedimento só possa prosseguir, após o inquérito, se tiver
lugar a acusação particular. O que sucederá com frequência nas hipóteses em que aquele pequeno
significado se liga a uma alta medida de disponibilidade do bem jurídico respectivo.
2. Por outro lado, a existência de crimes semipúblicos e estritamente particulares serve a função de
evitar que o processo penal, prosseguido sem ou contra a vontade do ofendido, possa, em certas
hipóteses, representar uma inconveniente (ou mesmo inadmissível) intromissão na esfera das
relações pessoais estabelecidas entre ele e os outros participantes processuais.
3. Por último, a exigência de queixa ou (e) de acusação particular pode servir a função de específica
protecção da vítima do crime, nomeadamente no caso dos crimes que afectam de maneira profunda
a esfera da intimidade daquela. Reconhece-se que a vítima deve poder decidir se ao mal do crime
lhe convém juntar o que pode ser o mal da revelação processual da sua intimidade (quando o
processo possa significar uma afronta ainda maior para a intimidade do ofendido do que o próprio
crime), sob pena de, de outra forma, poderem frustrar-se as intenções político-criminais que, nesses
casos, se pretenderam alcançar com a criminalização.

2. O inquérito não é só um acrescer de prova, o próprio facto está em elaboração!


3. É uma fase presidida pelo MP que contém um conjunto de atos de inquérito e nos crimes públicos encerra
com arquivamento ou acusação se houver indícios suficientes.
4. Finalidade e âmbito – 262/1 – compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de um
crime, determinar os seus agentes e responsabilidade destes e recolher as provas, em ordem à decisão
sobre a acusação.

Ex. de diligências – buscas à residência, escutas, interrogatórios do suspeito ou testemunhas, exames


laboratoriais – prova pericial, prova por reconhecimento (147º), reconstituição, …

O MP tem de fazer aquilo que for mais conveniente para alcançar as finalidades do inquérito.

DESVIO: obrigatoriedade do 1º interrogatório do arguido – art.º 272º - é o único acto obrigatório e visa
permitir que o arguido possa exercer o seu direito de defesa, podendo contudo decidir não o exercer.

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5. Art.º 263º - é dirigido pelo MP (corolário pp. do acusatório) – mas o art.º 267º vem estatuir que não lhe cabe
apenas a direção, mas também os próprios atos, em regra.
Razão = é ele que vai deduzir a acusação, não se pode limitar a subscrever atos de outrem, sob pena de
esvaziar a sua posição.

MAS – há exceções quanto à prática dos atos ≠ direção (isso mantém-se sempre):
(1) Competência do juiz de instrução criminal – art.º 32/4 CRP + 268º e 269º - ex. algumas buscas – atos que
CRP e lei reservam ao juiz de instrução – atos agressivos de DF – realizados ou ordenados e autorizados
pelo juiz de instrução.
(2) Delegação nos órgãos de polícia criminal (270/1) com limites – lei admite que MP mantenha direção e
delega atos nos OPC.

6. No final, há indícios suficientes?


(1) SIM – 283º nº1 e 2 (diz o que são indícios suficientes – “possibilidade razoável”) – deduz acusação ou
exceções ao pp. da legalidade (infra).
(2) NÃO – 277º - arquivamento – não há indícios suficientes ou provou-se que não foi praticado nenhum
crime ou não foi por aquele agente.

MAS – há alternativas – arts.º 280º, 281/2 e 392º - infra.

7. O inquérito é uma fase inquisitória num duplo sentido:


(1) O MP tem dever de começá-lo, não precisa de requerimentos e também não precisa de requerimentos
de ninguém para praticar os atos – art.º 267º - pp. da necessidade ou investigação – pratica os atos
necessários para decidir sobre a acusação ou não acusação.
(2) Estrutura unilateral dos atos – não há contraditório.
8. É uma fase pública – até 2007 vigorou o pp. do segredo de justiça no inquérito e na instrução – em 2007
tornou-se público em regra (art.º 86/1), salvas exceções contempladas nos nº 2 e 3 do art.º 86º (o juiz ou o
MP determinam o segredo de justiça).
9. É uma fase escrita – art.º 275º - as diligências de prova são reduzidas a auto (art.º 99º) – é assim, porque vão
servir a uma decisão que não é de quem as fez (ex. OPC) e mesmo à decisão do juiz de instrução.

INSTRUÇÃO

1. Fim – 286/1 – visa a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito
(finalidade imediata) em ordem a submeter ou não a causa a julgamento (finalidade última) = em rigor é um
meio de impugnação da decisão tomada no encerramento do inquérito – tem natureza impugnatória.
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2. É um ato de defesa processual – arguido opõe-se não à sua condenação, mas a que o processo siga para
julgamento – vai fazer um RAI – requerimento de abertura da instrução.
3. A direção compete a um juiz de instrução, assistido pelos OPC – 288/1 = fase jurisdicional.
4. Art.º 286/2 – tem carácter facultativo = art.º 287º - necessidade de requerimento nos termos aí previstos –
no prazo de 20 dias:
a) Pelo arguido – quando tiver sido deduzida acusação.
b) Pelo assistente – quando não tiver sido deduzida acusação.

Pode aqui intervir o assistente – não há monopólio do MP, o sistema jurídico PT muito antes das
preocupações atuais com a vitimologia, sempre abriu espaço para que o ofendido pudesse ser sujeito
processual e isso faz-se através da figura do assistente – 68º e ss.

MAS – continua a haver cláusula que permite a chamada ação penal popular – intervém não apenas o
ofendido (ex. crimes de funcionários públicos) – al. e) do art.º 68º.

Pode numa situação em que processo tenha sido arquivado vir dizer que há indícios suficientes; não
pode acusar ele, pode é requerer verificação da decisão do MP – vai fazer um RAI = requerimento de
abertura da instrução.

MAS – não são as únicas alternativas!


5. Art.º 289º nº1 e nº2 – já é uma fase que não é unilateral, mas contraditória – é feita com a participação de
todos os sujeitos processuais – há um debate instrutório oral e contraditório.
6. Art.º 86º – fase pública (desde 2007) – MAS nº6 a) – o art.º 86º determina que apenas pode haver segredo
de justiça no inquérito, mas não na instrução – é sempre pública, mas este nº6 a) admite assistência do
público em geral apenas ao debate instrutório e atos processuais na fase de julgamento.
7. Já é uma fase com objeto invariável – art.º 309º = o juiz de instrução não pode ir além daquilo que lhe é
proposto ou pelo MP ou pelo assistente – corresponde ao art.º 379º nº1 b) para o julgamento – MAS – art.º
303º!
8. Conteúdo – 289/1:
1) atos de instrução que o juiz entenda dever levar a cabo– não é um novo inquérito (291/3 – daí redução a
autos no inquérito), mas na maior parte dos casos assistente ou arguido vem dizer que é preciso ouvir
pessoas que não foram ouvidas, etc.
=
atos de instrução visam completar o inquérito (testemunhas não ouvidas, perícias não feitas, testemunhas
ouvidas mas não fizeram perguntas que deviam, junção de novos documentos, …) – diligências iguais às do

inquérito (mas há algumas que não podem ser durante a instrução – ex. escutas), mas a diferença é que no

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inquérito responde perante MP ou OPC e há uma estrutura unilateral, aqui responde perante juiz e há
contraditório – 289/2 – não é um contraditório totalmente pleno – juiz interroga e no fim MP,
assistentes etc. podem formular perguntas complementares, não é bem contrainterrogatório como o do
art.º 348º.

2) debate instrutório oral e contraditório – não é uma audiência de julgamento – 297º e ss. – os sujeitos
processuais são levados a tomar posição sobre o inquérito e instrução (302º) + pode haver ainda
produção de prova.

9. Termina com a decisão instrutória – o despacho de pronúncia (se há indícios suficientes) ou não pronúncia
(não vai a julgamento) – 307º e 308º - nº2 remete para 283º nº 2, 3 e 4.
NOTA: base da decisão não é só instrução, é todo o processo preliminar, incluindo o inquérito e a instrução.
10. Juiz de instrução criminal tem duas competências:
1) Praticar atos de inquérito que se prendem com direitos fundamentais.
2) No caso de ser requerida instrução, dirigir instrução e produzir decisão instrutória.
=
Chama-se juiz de instrução, mas competência também abrange atos de inquérito = no fundo é o juiz do
processo preliminar.

NOTA: o juiz da instrução não é o mesmo do julgamento, para não influenciar, manter independência, não ter ideias
pré-concebidas.

JULGAMENTO

1. O julgamento em Processo Penal, embora tenho o seu cerne na audiência de julgamento não é equivalente a
esta – a fase de julgamento não corresponde à fase de discussão e julgamento (ex. contestação – 315º).
=
É a fase do processo penal principal – por oposição ao processo preparatório ou preliminar = é todo o
processo penal, exceto o que foi necessário antecipar para garantir o pp. da indiciação suficiente – ex. arguido
já tomou posição nos autos sobre se há indícios suficientes ou não, mas a contestação só é apresentada agora.

2. Finalidade – sentença final – julgamento, juízo, jurisdição stricto sensu (daí ser processo principal, é aqui que
se chega à finalidade última) – em 1ª instância (MAS – no Processo Penal não há sistema de alçadas – 399º =
admissibilidade de recursos em qualquer caso, cuja irrecorribilidade não estiver prevista na lei).
3. Tribunais competentes para julgamento = tribunal singular, colectivo ou de júri (tribunal misto formado pelos 3
juízes do colectivo normalmente competente e 4 jurados – distinção da competência processual que é do Presidente,
de resto funciona coletivamente – tem de ser requerido) – depende de vários critérios qualitativos e quantitativos

– 10º e ss.
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4. Conteúdo do julgamento:
(1) Actos preliminares
Despacho liminar – 311º - saneamento do processo – competência do presidente:
1) Pode rejeitar a acusação nos casos do nº2, não havendo instrução;
2) Havendo instrução não pode rejeitar a acusação.
3) A partir deste despacho contam-se os prazos para a contestação.

Contestação – 315º - 20 dias a contar do despacho liminar:

1) Apresenta querendo, não tem aqui a importância que tem no processo civil, porque aí factos não
contestados consideram-se admitidos por acordo, aqui vale presunção de inocência na sua vertente
in dubio pro reo = não há ónus de contestação, nem ónus de prova.
=
a. Ninguém é obrigado a colaborar na sua própria condenação!
b. Art.º 61º - só tem deveres de cooperação do nº3.
c. As falsas declarações em geral não são punidas, mas 359º e 360º CP – se houver dever de as
prestar são punidas, mas quanto ao arguido abrange apenas identidade e antecedentes
criminais.

Outros atos – 316º e ss.

(2) Audiência de julgamento:


1) Atos introdutórios (chamada e abertura – 329º + exposições introdutórias – 339º)
2) Produção da prova – 341º - ordem da produção da prova
3) Alegações orais – 360º
4) Últimas declarações e encerramento – 361º
(3) Sentença:
1) Deliberação – 365º e ss.
2) Elaboração – 372/1 e 2
3) Estrutura – 374º e ss.
4) Leitura – 372/3 e 373º
5. Decisão final é sempre recorrível – 399º + a sentença condenatória transitada em julgado dá lugar à fase
executória (é o único título executivo).
6. Na audiência de julgamento valerá a prova produzida no inquérito?
NÃO! Se assim fosse estaríamos a desvirtuar a fase preliminar em que a prova é apenas para aferir se há ou
não indícios suficientes, em ordem a ir ou não a julgamento (e não a condenar ou absolver) + a audiência de
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julgamento é pública, há contraditório pleno, é uma fase oral = justifica-se nova produção de prova – art.º
355º CPP.
=
Em processo penal há uma dupla instrução (processo preliminar + julgamento)

4. LEI PROCESSUAL PENAL

FONTES

1. Constituição Processual Penal – PP é Direito Constitucional aplicado numa dupla dimensão como afirma JFD:
(1) Os fundamentos do processo penal são, simultaneamente, os alicerces constitucionais do Estado; e
(2) A concreta regulamentação de singulares problemas processuais é conformada constitucionalmente –
ver em particular o art.º 32º nº 1 e 2 e nº8 (repositório fundamental das garantias do processo penal),
mas há outros arts.º relevantes – 13/1, 20º, 25º, 27º, 28º, 29/5 e 6, 35º, 38º, 130º, 164º, 165º, 209º,
215º, 219º, etc.

 CRP contém cláusulas das quais têm derivado garantias constitucionais que não estão tipicamente
estabelecidas – cláusulas abertas, “de respiração”:
(1) A primeira cláusula é o art.º 32º nº1 – “assegura todas as garantias” – cláusula geral que visa assegurar,
para além da regulamentação expressa constitucional, que o PP assegura ao arguido aquilo que é
essencial para a sua defesa – processo equitativo/due processo of law.

Ex. 1. “incluindo o recurso” não estava na versão inicial da CRP, perante certas disposições legais que
impediam recurso discutiu-se se eram ou não inconstitucionais.

TC – veio dizer que o Direito ao recurso, pelo menos como princípio, é uma garantia de defesa,
argumentando no sentido de um processo penal em que não vigore uma garantia de defesa mínima não
é um processo equitativo. Hoje já está expressamente consagrado, mas derivou desta cláusula geral.

Ex. 2. processo sumário (processo especial) – art.º 381º = aplica-se ao arguido detido em flagrante delito
= não há fase preliminar de procura dos indícios suficientes = não há inquérito, é imediatamente
apresentado a julgamento que é simplificado.
Reforma de 2013 – pretendeu que fosse aplicável o processo sumário, independentemente da pena
aplicável.

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TC – declarou inconstitucional a aplicação a crimes a que corresponda pena superior a 5 anos –


FUNDAMENTO = violação arts.º 31º nº1 e 2 CRP – cláusula geral da garantia do processo equitativo +
presunção de inocência.

Ex. 3. Ac. TC 428/2003 – motivação de recurso sem conclusões – desenvolveu-se jurisprudência de que
quando há motivação sem conclusões, o recurso devia ser rejeitado sem apelo nem agravo = nem se
notificava recorrente para vir aperfeiçoar recurso; TC julgou inconstitucional, porque o art.º 32/1 não
permite a rejeição liminar do recurso do arguido, tem de se notificar o recorrente para acrescentar
conclusões – ver materiais.

Ex. 4. TC tem ancorado no art.º 32º nº2 (presunção de inocência) uma garantia que também não tem
consagração explícita = pp. de que ninguém pode ser obrigado a colaborar na sua própria condenação
(prestar declarações, entregar documentos, …)

Assim – são cláusulas gerais segundo as quais a lei processual ordinária pode ser sujeita a varejo criativo
de acordo com um critério maleável. São “cláusulas de respiração”.
Um grande perigo para os DF é formalizar posição sobre estes direitos, o que os limita, mas estas
cláusulas permitem a descoberta de novas garantias processuais.
=
Problemas processuais complexos passam sempre por análise destas cláusulas constitucionais!

Ex. 5. TC no Ac. 4/6/2003 julgou inconstitucional uma série de disposições segundo as quais no decurso
do interrogatório do arguido detido, basta a indicação genérica dos crimes, vítimas, … o tribunal não está
dispensado de maior pormenorização = tem de dizer com pormenores concretos os factos imputados e
motivos da detenção – 32/1.
=
No decurso do interrogatório de arguido detido, a exposição dos factos que lhe são imputados não pode
consistir na formulação de perguntas gerais e abstratas, sem concretização das circunstâncias de tempo,
modo e lugar em que ocorreram os factos que integram a prática desses crimes, nem a comunicação ao
arguido dos elementos de prova que sustentam essas imputações.

=
Assume relevância em institutos diversos e fases diversas para ficarmos descansados que teve meios
suficientes de defesa.

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Artigo 32.º
Garantias de processo criminal

1. O processo criminal assegura todas as garantias de defesa, incluindo o recurso.

2. Todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação, devendo ser julgado no mais curto prazo
compatível com as garantias de defesa.

3. O arguido tem direito a escolher defensor e a ser por ele assistido em todos os atos do processo, especificando a lei os casos e as fases em que a
assistência por advogado é obrigatória.

4. Toda a instrução é da competência de um juiz, o qual pode, nos termos da lei, delegar noutras entidades a prática dos atos instrutórios que se
não prendam diretamente com os direitos fundamentais.

5. O processo criminal tem estrutura acusatória, estando a audiência de julgamento e os atos instrutórios que a lei determinar subordinados ao
princípio do contraditório.

6. A lei define os casos em que, assegurados os direitos de defesa, pode ser dispensada a presença do arguido ou acusado em atos processuais,
incluindo a audiência de julgamento.

7. O ofendido tem o direito de intervir no processo, nos termos da lei.

8. São nulas todas as provas obtidas mediante tortura, coação, ofensa da integridade física ou moral da pessoa, abusiva intromissão na vida
privada, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações.

9. Nenhuma causa pode ser subtraída ao tribunal cuja competência esteja fixada em lei anterior.

10. Nos processos de contraordenação, bem como em quaisquer processos sancionatórios, são assegurados ao arguido os direitos de audiência e
defesa.

2. Fontes internacionais – em particular:


(1) DUDH – art.º 8º e 16/2 CRP + 10º e 11/1 DUDH
(2) CEDH – em particular art.º 6º (“direito a um processo equitativo”)

Quanto a estes textos internacionais, vale o que se disse a propósito das cláusulas gerais da CRP.

Art.º 449º - trata da revisão de sentença transitada em julgado – nº1 g) – decisões do TEDH são
diretamente vinculativas = obrigam a indemnização, mas hoje vai mais além: é motivo de revisão de
sentenças transitadas em julgado.
 O TEDH na sua pretensão para se tornar um “super-tribunal constitucional”, tem feito também
aplicação do art.º 6º CEDH amplamente.
Ex. AC Teixeira de Castro vs. PT – 2 agentes da PJ acercam dois indivíduos e pedem heroína, um diz
que sabe quem arranja, levam-no lá, esse diz o mesmo e levam a outro, que por sua vez leva a

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outro que aparece com a heroína – problema do agente provocador (não é um mero infiltrado) –
leading case dos agentes provocadores.
TEDH – baseou-se no direito ao processo equitativo. Na altura em que acórdão foi proferido,
tinham sido condenados na 1ª instância, relação e supremo, E. PT foi obrigado a indemnizar,

MAS – se fosse hoje, por força do art.º 449º, havia lugar à revisão da sentença.

3. Lei ordinária:
(1) Reserva relativa de competência da AR – art.º 165/1 c)
O problema não é teórico, levanta-se na prática – ex. Ac. TC nº 84/2010 tendo em conta o Decreto-Lei
n.º 194/2012, de 23 de Agosto (aprova orgânica ASAE e revoga o DL 274/2007).

1) A. condenada em 1ª instância pela prática de um crime de exploração ilícita de jogo de fortuna ou


azar – art.º 1º 3º e 108º DL 422/89 de 2 de Dezembro.
2) Foi interposto recurso para o TRL – julgou inconstitucional os arts.º 3º e 15º do DL 274/2007 por
violação do art.º 164º u) CRP – reserva absoluta de competência da AR de criação de órgãos de
polícia criminal/regime das forças de segurança – diploma que aprova a orgânica da ASAE
(autoridade de segurança alimentar e económica).
=
A ASAE não pode proceder à detenção da A. + processo não podia ter seguido a forma de processo
sumário.
3) DL 274/2007 – previa as seguintes atribuições da ASAE – art.º 3/2

z) proceder à investigação e instrução de processos por contraordenação cuja competência lhe esteja
legalmente atribuída, bem como arquivá-los sempre que se verificar que os factos que constam dos
autos não constituem infração ou não existam elementos de prova suscetíveis de imputar a prática
da infração a um determinado agente
a) desenvolver acções de natureza preventiva e repressiva em matéria de jogo ilícito, promovidas em
articulação com o Serviço de Inspecção de Jogos do Turismo de Portugal, I. P.
b) colaborar com as autoridades judiciárias nos termos do disposto no Código de Processo Penal,
procedendo à investigação dos crimes cuja competência lhe esteja especificamente atribuída por lei
+
Art.º 15º - atribuição de poderes de órgão e autoridade de polícia criminal.
Art.º 16º - direito ao uso e porte de arma ao pessoal de inspeccção da ASAE.
=

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Perante este quadro inclui a ASAE no conceito de forças de segurança do art.º 164º u) CRP, porque
lhe competia uma actividade de prevenção e detecção criminal.
= Inconstitucionalidade orgânica por violação de reserva de lei da AR por se tratar de uma força de
segurança e as normas em causa se enquadrarem no regime das forças de segurança.

TC – entende que a ASAE não cabe no conceito constitucional de forças de segurança, porque não
tem por missão garantir a segurança interna, prevenindo crimes que ponham em causa o direito à
segurança dos cidadãos (27º CRP) + considera irrelevante os arts.º 15º e 16º para a inclusão no
conceito de forças de segurança.
+
O uso e porte de arma, independentemente da respetiva licença, não é propriamente algo que seja
exclusivo das forças de segurança.
=
TC – não há nenhuma inconstitucionalidade orgânica + de qualquer forma uma coisa é o regime
geral das forças de segurança, outra é o regime específico de cada autoridade que não se integra na
reserva.

MAS – art.º 1º c) CPP – órgãos de polícia criminal “são todas as entidade ou agentes policiais a quem caiba
levar a cabo quaisquer atos ordenados por uma autoridade judiciária ou determinados por este Código” =
significa que se parte da ideia de que o que define a atividade de um órgão, enquanto órgão de polícia
criminal, é, não a sua qualificação orgânica ou institucional, mas sim a qualidade dos atos que pratica”

Crítica – o Tribunal Constitucional não retira as devidas consequências de fundo. Na verdade, a


ASAE, com estas atribuições (nomeadamente, possibilidade de proceder a detenções), deveria ser
qualificada como força de segurança.

(2) CPP
1) É de 1987 (Comissão presidida pelo Professor JFD) com função esclarecedora da dispersão legislativa
que existia;
2) Sofreu numerosas revisões 95, 98, 2000, 2007, 2010, 2013 – Lei 20/2013 alargou o processo sumário
à generalidade dos crimes sempre que o agente seja detido em flagrante delito – art.º 381º e ss. CPP
+ admite a prova por declarações do arguido prestadas nas fases preliminares perante autoridades
judiciárias para efeitos de julgamento – 357º.
(3) Acórdãos de fixação de jurisprudência – art.º 437º e 445º - apesar de não serem normas, têm muita
importância na aplicação do direito – fundamento = divergências/decisões contraditórias. Antes falava-
se em assentos, mas a eficácia da decisão não era a mesma do art.º 445º

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INTERPRETAÇÃO, APLICAÇÃO E INTEGRAÇÃO

INTERPRETAÇÃO

1. De acordo com as regras gerais do CC


2. Presunção de inocência (in dubio pro reo) – não vale como canon interpretativo com valor diverso do dos
outros princípios constitucionais e gerais do processo penal, só vale na mesma medida em que todos os
outros princípios entram na interpretação sistemática, mas de entre as várias interpretações possíveis de
uma lei, escolhemos a mais favorável ao réu (não só por este pp. mas por qualquer outro), entra como
parâmetro normal do sistema, não impõe! Impõe apenas em matéria de facto a decisão a favor do réu e não
em matéria de direito.

INTEGRAÇÃO

1. Sendo uma lei processual penal diferente da lei penal, tem lacunas e são supríveis – art.º 4º do CPP:
1º Analogia (permitida ao contrário do que acontece no DP, porque o CPP trata do processo e não da definição das
penas)

2º Normas de processo civil que se harmonizem com o processo penal – mesmo depois da autonomização
do PP, a regulamentação processual penal faz-se muitas vezes como se fosse a regulamentação de um
processo especial, mas o caminho da história foi no sentido de o PP aumentar a sua regulamentação (ex.
574º CPC não se aplica).

3º Princípios gerais

MAS – importa primeiro verificar se há uma lacuna ≠ mero silêncio da lei.

Ex. Benefício do acréscimo do prazo de interposição de recurso quando o recurso tem por objeto a prova gravada,
previsto no CPC?
Ac. STJ nº 9/2005 – 1ª instância e TRP recusaram a aplicação do acréscimo de prazo – não há uma lacuna (imperfeição
contrária ao plano da lei) ≠ silêncio da lei (que apenas pode levantar críticas do ponto de vista da política
legislativa) na circunstância de não existir uma norma semelhante à do CPC no CPP que leve a aplicar o CPC
por força do art.º 4º CPP.
+
O sistema do processo penal relativo aos recursos em matéria de facto é coerente, com autonomia e não
apresenta qualquer espaço vazio que precise de ser regulado = não há uma lacuna de regulamentação.

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+
Se nas sucessivas revisões do código o legislador não unificou ou aproximou o regime dos prazos do processo
penal com os do processo civil, foi, porque atendendo às diferenças entre os modelos e os interesses em
confronto, não o entendeu necessário.
=
Ac. STJ AUJ – “quando o recorrente impugne a decisão em matéria de facto e as provas tenham sido gravadas, o recurso
deve ser interposto no prazo fixado no art.º 411º nº1 do CPP, não sendo subsidiariamente aplicável em processo penal o
art.º que alarga o prazo do CPC”.

2. Existência de proibições de analogia, nos termos gerais (≠ direito penal):


(1) Normas excecionais/enumerações taxativas – ex. art.º 399º porque regra é a recorribilidade; art.º 400º
(2) Legalidade por força da restrição de direitos fundamentais – ex. 199º CPP (medida de coação restritiva
de direitos fundamentais; 191º (mesmo que não estivesse expressamente previsto, valia o pp. da
legalidade) – outro ex. escutas telefónicas – necessidade de que as privações da liberdade estejam
previstas na lei.

NOTA: qualquer proibição de analogia cria um problema de igualdade!

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

NOTA: primeiro, há que verificar se há disposições transitórias; só na sua ausência se recorre às regras gerais + as
disposições transitórias também têm de ser interpretadas a contrario.

PRINCÍPIO = tempus regit factum ou aplicação imediata – 5/1 – não estamos perante lei que diz quando há ou não
crime, mas perante lei que diz como se procede:

1. Não retroatividade + não ultra-atividade


2. = a lei nova aplica-se aos processos futuros e aos atos futuros dos processos pendentes; não se aplica aos
atos iniciados anteriormente à sua vigência (= há ultra-atividade da lei antiga), cuja validade deve ser julgada
de harmonia com a lei revogada

EXCEPÇÕES

1. Agravamento sensível da situação processual do arguido – 5/2 – ex. reforma 2007 restringiu âmbito da prisão
preventiva (apenas para crimes com pena superior a 5 anos – 202º) = tiveram de libertar quem estava preventivamente
preso com crimes com pena inferior a 5 anos! Se tivesse sido o contrário e tivesse diminuído pena de prisão para poder
haver prisão preventiva, não podiam ser preventivamente presos agora (aplicação ultra-ativa da lei antiga)!

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Ex. alteração legislativa que torna a decisão irrecorrível – Ac. STJ nº 4/2009
ALTERAÇÃO LEGISLATIVA
=
Redação anterior – a admissibilidade do recurso era aferida em função da pena abstratamente aplicada ao crime que
estivesse em causa.
Nova lei – a admissibilidade do recurso é aferida em função da pena concretamente aplicada no caso.

Acórdão recorrido – estando em causa processo iniciado antes da vigência da lei nova, há que afastar a aplicação da lei
nova, no caso em apreciação, por força do art.º 5º nº2 a) - limitação do direito de defesa, porque retira um grau de
jurisdição (não pode recorrer para STJ se aplicarmos lei nova, porque a 1ª instância aplicou pena de prisão não superior
a 8 anos).

Acórdão fundamento – STJ decidiu em sentido oposto sobre a mesma questão de direito e no domínio da mesma
legislação – decidiu que a nova redação é imediatamente aplicável no caso de acórdão proferido no domínio de vigência
da lei nova.
Regra – 5/1 – razão = consideração do interesse público que domina todo o direito processual e que pressupõe que a
nova lei é a que melhor (e mais actualmente) corresponde aos interesses prosseguidos e a realizar pelo direito
processual.

Art.º 61º nº1 i) CPP – direito do arguido de recorrer, nos termos da lei, das decisões que lhe sejam desfavoráveis = o
estatuto do arguido não contempla um (irrestrito ou abstracto) direito ao recurso, mas apenas o direito de recorrer das
decisões que lhe sejam desfavoráveis nas condições e segundo os pressupostos que a lei fixar.
MAS – limite = CRP – faz ascender o direito ao recurso à natureza de garantia constitucional integrante do direito de
defesa – artigo 32º nº 1 da CRP.

Perante a existência de uma decisão desfavorável, impor-se-á ainda verificar se tal decisão é, «nos termos da lei»,
suscetível de recurso, e em que termos, de acordo com as regras e os critérios de admissibilidade dos recursos – no
caso de decisão condenatória, a verificação da existência dos pressupostos dos quais, «nos termos da lei», depende a
recorribilidade (admissibilidade, instâncias e graus de recurso) só pode ocorrer quando seja proferida a decisão.

RAZÃO = é o conteúdo da decisão que permite aferir, perante a natureza «desfavorável» da decisão, quais os termos e
a amplitude da recorribilidade.
=
O momento em que é proferida a decisão será «aquele em que se configura o exercício do direito de dela recorrer, no
pressuposto de que só depois de conhecida a decisão final surge na esfera jurídica dos sujeitos processuais por ela
afetados, na decorrência de um abstrato direito constitucional ao recurso, o concreto “direito material” em
determinado prazo, deste ou daquele recurso ordinário ou extraordinário»

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=
Momento relevante para verificar a admissibilidade de recurso = prolação da sentença.

MAS – declarações de voto = momento relevante não é o da prolação da sentença, mas o da constituição como
arguido:
(1) “o acto que consubstancia o exercício do direito de defesa não é mais do que a concretização de um direito que já
está inscrito no estatuto do arguido e que lhe assiste pelo simples facto de o ser” = é da constituição como arguido
que geneticamente nascem os direitos que se irão conformar e exercitar ao longo do processo.
(2) = O direito a recorrer não nasce pelo facto de, em concreto, se recorrer de uma determinada decisão; consta já do
estatuto do arguido desde o momento da sua constituição como tal e pelo simples facto de o ser.
=
Daqui deriva que o momento em relação ao qual se deve aferir da maior ou menor amplitude qualitativa do direito
de defesa com vista aplicar no tempo da lei processual é aquele em que é formatado o estatuto do arguido em
função da sua constituição como tal.

JLM – momento relevante é o da constituição como arguido; se assumirmos que é o momento da decisão,
afastamos a utilidade do art.º 5º nº2 a)! Tudo o que acontecer até à decisão não releva.

2. Quebra da harmonia e unidade dos atos processuais – 5/2 b) – parte da ideia de que o ato processual não
vale por si mesmo, o processo é um caminho – ex. antes tribunal superior não podia conhecer da matéria de facto,
salvo casos de erro notório na apreciação da prova; legislador veio estabelecer então o atual 428º - as relações
conhecem de facto e de direito – ex. processo que corre segundo lei antiga, não tinha documentação, nova lei não se
pode aplicar, porque não há prova registada, não pode haver repetição da audiência de julgamento (5/1 não permite,
porque era válida – ultra-atividade da lei anterior); em 98 isto aconteceu, mas havia disposição transitória = problema
concreto não se levantou – quando lei nova pressupõe que processo passado tivesse decorrido de outra forma,

não se permite aplicação da nova lei.

Atenção!

Se há uma norma transitória que prevê a aplicação da lei nova, mesmo quando não é mais favorável, podemos
aplicar o art.º 5º nº2 a)?

NÃO – JLM – não há fundamento constitucional no art.º 5º nº2 a) = não deve prevalecer sobre outra norma de
direito transitório.

3. Pp. do juiz natural – 32/9 – infra.

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4. Leis processuais materiais – categoria trazida pelo Prof. Taipa de Carvalho com apoio de GMS e JFD –
determinados institutos processuais dos quais depende punição concreta do arguido têm uma natureza
mista e deviam estar sujeitos a aplicação da lei penal no tempo e não processual penal (2º CP):
(1) Prescrição do procedimento criminal – instituto misto – epígrafe “extinção da responsabilidade criminal”
– antes de extinguir processo, extingue efeito jurídico material do crime = é antes de mais um instituto
substantivo, daí ser unânime que se aplica o art.º 2º CP (MAS – JLM – é porque é um instituto
substantivo e não porque é uma lei processual penal).
(2) Condições de procedibilidade (queixa, acusação particular) – aqui JLM discorda que seja uma lei
processual material – se o particular não se queixar/acusar não pode haver processo, são institutos
processuais! JML diz que chegamos a esta solução pela aplicação do art.º 5º, não precisamos de aplicar o
art.º 2º CP.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Crime público passa a ser semi-público ou Crime semi-público ou particular passa


particular a ser público
JLM Retira as consequências do art.º 5º nº1, sem Aplicação do art.º 5º
necessidade de recorrer ao art.º 2º CP: +
1. Se o processo já está a correr, no crime Se não estivermos na fase de
semi-público há a possibilidade de desistir julgamento, pode haver um
da queixa. agravamento processual da posição do
2. Se o crime passa a particular, temos de arguido (art.º 5/2 a)) = há ultra-
distinguir: atividade da lei antiga, podendo haver
(1) Fase de inquérito – necessário desistência da queixa.
constituir assistente para deduzir
acusação particular;
(2) Fase de instrução ou julgamento –
possibilidade de desistência da
queixa.

Momento relevante para o início do prazo de


queixa = momento da entrada em vigor da nova
lei, porque antes disso o ofendido não sabia.
GMS Aplica o art.º 2º nº4 CP, porque se trata de uma Art.º 2º nº4 CP
lei processual penal material, mas de forma mais =

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moderada = pp. da retroatividade da lei mais Aplicação ultra-ativa da lei antiga, por
favorável ao arguido: ser mais favorável ao arguido.
1. Fase de inquérito – o processo deve voltar 1. Se estiver na fase de inquérito
atrás e o MP depende de queixa + = possibilidade de desistência
acusação do assistente para promover o da queixa
processo. 2. Fase da instrução ou
Se for particular não há duvida – não há julgamento – temos de
acusação sem antes haver queixa. distinguir:
Se for só de público a semi-público não é (1) Crime semi-público – ainda
preciso voltar atrás para deduzir queixa; pode haver desistência da
se for particular então volta atrás queixa
(contradição entre nota de rodapé e (2) Crime particular – já não há
parágrafo) – ver pág. 121 GMS. Do qualquer vantagem em
parágrafo resulta que volta atrás para aplicar ultra-ativamente a
haver queixa. Da nota de rodapé resulta lei mais favorável
que que não é preciso haver queixa –
aparente contradição.
Problema é se volta para trás para queixa.
2. Fase da instrução ou julgamento – o
ofendido pode desistir da queixa

Momento relevante para o início do prazo de


queixa = momento da prática do facto.
Doutrina das Aplica-se retroativamente a lei nova, por ser mais Aplica-se ultra-ativamente a lei antiga,
leis favorável ao arguido (art.º 2º nº4 CP). por ser mais favorável ao arguido (2/4
processuais CP)
materiais Momento relevante para o início do prazo de
queixa = momento da entrada em vigor da nova
lei, porque antes o ofendido não sabia.

NOTA:

JLM discorda de GMS, porque, ou bem que se aplica regras de processo penal e volta tudo para trás, ou aplica-
se art.º 5º e não há nada que fazer estas distinções, porque há aplicação imediata!

NOTA: lei nova encurta prazo da queixa – aplicamos normas do CPC relativas à contagem de prazos – é de
aplicação imediata, mas o que significa isso – art.º 4º CPP remete para 297º CPC.
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ASSENTO Nº4/99 (anterior ao 11º-A)

PROBLEMA = o crime de emissão de cheque sem cobertura, ocorrido na vigência do DL 54/81 de 28 de Dezembro tem
natureza pública, sendo por isso irrelevante para efeitos de se extinguir o procedimento criminal, a desistência de queixa
feita pelo queixoso?

Acórdão recorrido – julgou válida e relevante a desistência de queixa apresentada.

Acórdão fundamento – natureza pública do crime e irrelevância da desistência de queixa.

PROBLEMA = discutia-se natureza do crime de emissão de cheque sem cobertura.

ANTES – crime semi-público.

APÓS DL 454/91 – crime público (decalcava-se do crime de burla)

DL 316/97 – o procedimento criminal por este crime depende de queixa = semi-público.

STJ – “no domínio do CP de 1982, o crime de emissão de cheque sem provisão, previsto e punido pelo art.º 11/1 do DL
454/91 de 28 de Dezembro, tinha a natureza pública, sendo ineficaz a desistência de queixa pelo ofendido, sem prejuízo
do disposto nos arts.º 313/2 e 303º do mesmo Código.”

Aplicação da teoria das leis processuais penais – 2º CP.

AC. STJ 5/04/2001

Crime continuado (art.º 32º CP) de burla:

AO TEMPO DA PRÁTICA DO FACTO E INÍCIO DO PROCESSO = crime público.

ALTERAÇÃO LEGISLATIVA = crime-semi-público.

Acórdão recorrido – julgou extinto o processo por falta de legitimidade do MP, uma vez que a lei nova faz depender o
processo de queixa = aplicação do art.º 2/4 CP.

CONTUDO – um dos ofendidos tinha dado conhecimento ao MP logo no dia a seguir ao facto. EM TODO O CASO, era desnecessário, porque ao tempo

do início do processo, o MP podia iniciá-lo oficiosamente.

NOVA LEI não acarreta ilegitimidade do MP – “o que já se iniciou legitimamente, iniciado está e permanece”

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NOVA LEI =

1. Se processo ainda não se iniciou – depende de queixa.


2. Se processo já se iniciou – não depende de queixa, mas releva a desistência.
=
Aplica o art.º 5º

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

Pp. da territorialidade – art.º 6/1 MAS aplicação extraterritorial nos casos do nº2.

Relações com autoridades estrangeiras – 229º - reguladas pelos tratados e convenções internacionais.

Quanto às pessoas

1. Pp. da universalidade (e não da pessoalidade) – aplica-se, em regra, a todas as pessoas que intervêm no
processo, não importando a sua nacionalidade.
2. MAS – isenções pessoais de jurisdição – pessoal diplomático – convenção de Viena de 1961.

5. A ANÁLISE DO PROCESSO

6. ELEMENTOS DO PROCESSO

6.1.1. SUJEITOS DO PROCESSO

 No processo penal, há muitos intervenientes, mas nem todos são sujeitos processuais.

1. A distinção entre quem é sujeito e quem não é, é mais fácil na prática do que em teoria – ex. OPC
estamos perante fronteira, porque não são qualificados como sujeitos, mas de certa forma, mesmo que
sob direção do MP, tem função de praticar atos do processo.
2. De uma forma geral, os sujeitos processuais distinguem-se dos outros intervenientes por terem uma
função de condução ativa do processo – podem requerer, ou decidir, ou promover decisões jurisdicionais ou
proferi-las – função orientadora ou conformadora.
3. Não são sujeitos processuais os funcionários judiciais, testemunhas, peritos, intérpretes, OPC – estas
pessoas exercem funções no processo, mas não são sujeitos, porque não o orientam nem conformam.

 JLM + Cavaleiro Ferreira – distinguem tribunal e partes (pelo menos em sentido formal) do processo penal.
Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro
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GMS – a noção de partes no processo penal é sujeita a contestação, porque diz-se que MP não é parte no
processo, uma vez que pela sua natureza de magistratura e pelo critério da sua atuação não é uma parte, é
alguém que colabora na descoberta da verdade e obedece a critérios de estrita objetividade (53/1 CPP) –
muitas vezes MP pede absolvição do arguido e tem poderes de recorrer em exclusivo benefício da defesa (al.
d) art.º 53º).
=
MP não tem funções de defesa autónomas, mas tem posição de objetividade/imparcialidade, não está
contra arguido, mas defende verdade e justiça.

Isto é inequívoco, mas o problema é saber a que é que chamamos parte:

1. Se dizemos que em processo penal não há partes e pensamos no MP quando o afirmamos, depende do
conceito de parte:
(1) Conceito material – de facto MP não é parte, não tem sua a esfera jurídica em jogo, não é titular da
relação material controvertida, nem em si mesma, nem na forma como a configura;
(2) Conceito formal – parte é quem, independentemente de ser ou não titular da relação material
controvertida, tem o dever de postular em juízo, de pedir a jurisdição = então MP é parte – ex. tem o
poder-dever de acusar, pôr em movimento tutela jurisdicional para aquele caso.

Nada obsta a dizer que é parte imparcial, porque estamos a usar conceitos diferentes, é parte em
sentido formal. Isto é essencial para saber distinguir MP do tribunal (juiz não acusa, mas MP também
não decide – daí Ac. 7/87 quanto ao art.º 281º).

2. Já o arguido é tanto parte formal como material.


3. Assistente é parte em sentido formal – não tem a esfera jurídica em jogo.
MAS – isto já não é assim quando o assistente pode vir ao processo penal pedir uma indemnização civil
(para evitar duplicação de processos) – sistema da adesão – art.º 71º CPP – quanto à questão civil, o
assistente (em regra o ofendido) já é parte em sentido material – 68º nº1 a).

6.1.1.1. O TRIBUNAL E O JUIZ

1. O tribunal é responsável pela jurisdição – art.º 8º CPP e 202º CRP – decidir as causas penais e aplicar as
penas e medidas de segurança criminais
= noção do art.º 8º que corresponde a dizer o direito que em rigor se faz na sentença final (em sentido
estrito), mas na realidade a jurisdição é mais do que isso (sentido amplo – supra).

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Ex. execução + a sentença final não surge do nada, é preciso haver processo + há poderes de decisão sem ser a
sentença (ex. medidas cautelares, 311º) – para ou quase-jurisdição =atos que fazem parte da jurisdição e são

exercidos para chegar à decisão final = art.º 8º é insuficiente.


PP. DA JURISDIÇÃO – a jurisdição penal como manifestação do E. de Direito é reservada aos tribunais – a
entrega a órgãos que não tribunais é marca de regimes totalitários – 29º nº1 CRP + 202º CRP – não significa
que temos de chamar tribunal a quem se entrega jurisdição, mas que só podemos entrega-la a quem, para a
Constituição, é tribunal – exige independência, imparcialidade, estrita submissão à lei = esteio material do
pp. da jurisdição.

MAS – não significa que tribunal é dono do processo, não implica estrutura inquisitória, é coordenado com
pp. do acusatório.

MAS – Delimitação exterior da jurisdição – não é claro onde começa a jurisdição que a CRP reserva ao
tribunal durante o processo.

O grande motivo de hesitação no séc. XX PT foi que papel, se algum, devia ter o juiz na fase pré-acusatória,
sendo certo que o MP é que deduz acusação – hesitação histórica entre:
(1) Juiz-instrutor (juiz-polícia) – como ainda vemos em Espanha e víamos no CPP 1929 – a investigação pré-
acusatória pelo menos formalmente era entregue a um juiz que, uma vez terminada, transmitia os autos
ao MP que decidia se promovia acusação ou não – falha grave = desvirtuava MP nesta fase,
esvaziamento poderes.

Relatório DL 35.007 – MP tinha sido reduzido a pura expressão formal da orgânica dos tribunais = ou se
procedia à supressão MP e voltávamos ao puro processo inquisitório ou se restaurava o MP na plenitude
das suas funções.

Foi a segunda hipótese que o legislador tomou em 1945 = investigação pré-acusatória entregue ao MP
com a exceção de atos relativos a DF, entregues a um tribunal – MP é o novo “Polícia”, mas ao juiz são
entregues atos que se prendem com DF = juiz-garante.

NOTA: Todo o processo preliminar antes chamava-se instrução – dividia-se em preparatória (o atual
inquérito) e contraditória (atual instrução, sem total correspondência porque era obrigatória).

(2) Juiz-garante – juiz das liberdades – não desaparece da investigação pré-acusatória – intervém em
determinados atos – ex. 280º e 281º.

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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SOBRE O Art.º 32º Nº4 DA CRP – a este propósito, foi muito discutido na doutrina o alcance da norma do
art.º 32º n º4 da CRP, segundo a qual toda a instrução é da competência de um juiz (pretendeu blindar todo
o processo penal ao governo) – só na reforma de 82 foi aditada a 2ª parte do artigo.

1. Havia o entendimento de que a Constituição, na sua redação inicial, teria querido subtrair ao Ministério
Público, a competência para a instrução preparatória, competência que lhe tinha sido atribuída pela
reforma do processo operada pelo DL 35007 de 13 de Outubro de 1945 (supra).
2. Em razão das alterações do texto constitucional (adição da 2ª parte do art.º em 1982), passou a
entender-se que o atual conteúdo constitucional do conceito de instrução é o de garantia processual de
salvaguarda dos direitos do arguido ao esclarecimento dos factos, com a sua participação, em ordem à
decisão de o submeter a julgamento.

JLM – lê o art.º 32º nº4 literalmente (juiz-polícia e não juiz-garante) – fim da CRP era que MP não tivesse
poderes substanciais na redação inicial.

Acórdão TC 7/87

CPP de 1929 – quem dirigia a instrução do processo era um juiz e o MP limitava-se a promover as diligências
de instrução (juiz-polícia).

CPP após reforma de 1945 – passaram a ser exercidos pelo MP todos os poderes e funções que no Código se
atribuem ao juiz nessa fase do processo, com ressalva de algumas matérias, como no caso de haver arguidos
presos (juiz-garante).

CRP de 1976 – veio determinar que toda a instrução será da competência de um juiz = impunha-se que toda
a instrução fosse da competência de um juiz (juiz-polícia).

MAS – criou-se uma situação de esquizofrenia, porque CPP criou inquérito preliminar entregue aos OPC e
MP = 3 fases preliminares nos processos – inquérito preliminar, instrução preparatória e instrução
contraditória.

RC 1982 – juiz pode delegar noutras entidades a prática de atos instrutórios que não se prendessem com os
direitos fundamentais (32/4)

CPP de 1987 – atribuiu mais poderes substanciais ao Ministério Público (262º, 265º, 267º) = viola 32/4?

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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TC – veio dizer que a função de direção do inquérito pelo MP não viola o 32/4 CRP, porque deve entender-se
que a instrução do nº 4 deve ser entendida como não abrangendo todas as formas de investigação, mas
apenas aquelas que possam por em causa os direitos fundamentais (JFD).

Outro argumento = não pode duvidar-se que a direção do inquérito cabe nas funções do MP, por força do
art.º 219º CRP que lhe atribui competência para exercer ação penal = faz uma interpretação sistemática do
art.º 32/4 à luz do art.º 219/1.

No fundo conclui que onde se diz instrução no art.º 32/4 deve ler-se atos que se prendam com DF – faz
interpretação invertida!

Resolvemos problema mudando a palavra instrução para inquérito? Não, porque aí chegávamos à conclusão
que só se aplicava mesmo à instrução = juiz não tinha competência no inquérito!

Literalmente no sentido original instrução = investigação anterior ao julgamento – é inconstitucional.

Votos de vencido – Vital Moreira e Monteiro Dinis – distinguia-se entre instrução preparatória (dirigida pelo
MP) e contraditória (dirigida por um juiz) – quando o art.º 32º nº4 vem dizer que toda a instrução é da
competência de um juiz, quer dizer que toda a instrução que até aí não era, passa a ser da sua competência;
com a RC 1982 foi reafirmada a regra do caráter jurisdicional da instrução – o juiz apenas pode “delegar”.
CPP voltou à situação pré-constitucional com troca dos nomes “inquérito” e “instrução” = regressou a um
sistema idêntico ao que a CRP quis abolir = não pode ser mais flagrante a inconstitucionalidade!

O legislador trocou os nomes, mas não pode pretender definir livremente os conceitos constitucionais!
Instrução na CRP é toda a instrução = na antiga nomenclatura a contraditória e preparatória.

Basta ver a noção que o art.º 263º nº1 dá de inquérito para concluir que isso se compreende na instrução
preparatória!

+ a regra da jurisdicionalização da instrução figura no art.º 32º = é uma garantia autónoma!

Pode discutir-se se a CRP quer ou não um certo modelo de processo penal, mas o que é certo é que não
quis! Num E. de Direito Constitucional não há lugar a revisões constitucionais antecipadas por via da lei!

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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ASSIM – a interpretação que vingou e vem do DL 35007 é logica, para não reduzir o MP a pura expressão
forma da orgânica dos tribunais, mas vai contra a vontade do legislador constituinte.

PP. DO JUIZ NATURAL (legal na Alemanha) – garantia de independência e imparcialidade do Tribunal – ideia
fulcral = “determinabilidade” – impedir a interferência de terceiros no exercício da jurisdição, indiretamente
pela escolha da pessoa que vai exercer a função naquele processo.

 Na constituição não aparece diretamente este princípio, mas há corolários expressos (garantia plástica),
podendo haver corolários não expressos (garantia aberta), dado que é cláusula geral:
1º Proibição de tribunais especiais – art.º 209/4 e 213º + 211º nº 1 e 3 CRP:
1. Anomalia típica dos períodos revolucionários.
2. Proíbe não só a criação de tribunais excecionais, como proíbe tribunais com competência
exclusiva para o julgamento de determinadas categorias de crimes, mesmo que sejam tribunais
da ordem judicial.
Ex. criar tribunal judicial, formado só por juízes presidentes dos tribunais coletivos de lisboa, a quem foi
atribuído competência para julgar crimes políticos – aconteceu com criação do Tribunal Plenário Criminal –
escolhia-se juízes! CRP proíbe isto!
3. CRP só permite tribunais militares em relação a crimes militares e em estado de guerra – art.º
213º.
2º Reserva de lei anterior na delimitação da competência – 32/9 CRP
1. JLM – trata-se de mais uma exceção à aplicação imediata da lei processual penal que deveria
estar prevista no art.º 5º nº2 – estabelece de forma absoluta a reserva de lei anterior.
MAS – TC e STJ têm dito que este entendimento não pode ser seguido, sob pena de impossibilitar
alteração das regras da competência/organização judiciária – ver Ac. TC 614/2003 – interpretação
restritiva da disposição constitucional.
2. É regra vigente há muito tempo em matéria de organização judiciária – lei reguladora da
competência (ver LOSJ – competência fixa-se no momento em que ação é proposta) – MAS lei
ordinária admite exceções e CRP não.

AC. TC 614/2003 – assunto da distribuição nunca está tratado na CRP, mas TC veio dizer que também é
problema abrangido pelo pp. do juiz natural – mostra que é uma garantia aberta!

PROBLEMA = Reclamação sobre a distribuição (acto através do qual se determina que juiz terá a seu cargo o processo – visa, por
um lado, igualar o número de processos que corre em cada secção e, consequentemente, a repartição do serviço entre juízes e funcionários

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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dentro do mesmo tribunal (203º) + por outro lado, evitar a intervenção da vontade na determinação do juiz do processo, que há-de ser o juiz

natural) no TRL por violação do principio do juiz natural - art.º 32º nº9 CRP (proibição de desaforamento).

MAS – não porque houve determinação concreta do juiz, mas porque houve alteração das regras sobre a
distribuição que afetam indiretamente a determinação do juiz, quando a peça processual já tinha sido entregue,
estando a escala dos juízes de turno previamente fixada = a escolha do dia da distribuição implica o
conhecimento do juiz ou juízes que estão de turno.

PRESIDENTE DO TRL – indeferiu a reclamação - “O princípio do juiz natural satisfaz-se com a distribuição
aleatória (ou sorteio) entre juízes. E quanto ao provimento n.º 3/2003 – que é um documento interno que nem
tem de ser conhecido pelas partes – traduz uma mera orientação interna que pode ser revogada a todo o
tempo. Não houve, pois, qualquer nulidade da distribuição”

TC

a) O Código de Processo Penal não contém regras próprias relativas à distribuição dos processos que disciplina
= art.º 4º remete para o CPC.
b) Tribunal Federal Alemão:

“A imposição (...) de determinação prévia do juiz legal tão clara e precisamente quanto possível não exclui
novos regimes, que alterem o direito anterior relativo ao juiz legal. (…). A actividade dos tribunais e dos
corpos que os integram é frequentemente confrontada com realidades e acontecimentos concretamente
imprevisíveis, tais como excesso de processos, insuficiente número de processos saídos, mudança ou
impedimento de magistrados. Nas regras sobre a determinação do juiz legal pode dar tanto conta destas
circunstâncias [citando decisões relativas à utilização de conceitos indeterminados] como das exigência
relativas à eficácia da actividade dos órgãos jurisdicionais (…). O artigo 101º, n.º 1, frase 2, da Lei
Fundamental não se opõe, pois, a uma alteração da competência, mesmo para processos já pendentes, se o
novo regime valer em geral, e, portanto, abranger, além de processos pendentes, um número
indeterminado de processos futuros do mesmo tipo, e se não ocorrer por razões materialmente
injustificadas [“sachwidrige Gründen”] (…).”

c) Art.º 32º n.º 9 aplica-se efetivamente ao caso, mesmo que distribuição não esteja referida na CRP, porque
pode levantar-se problema de escolha do juiz – mostra que pp. do juiz natural é garantia aberta.
d) A revogação do Provimento nº 3/2003 permite determinar indiretamente os juízes que serão competentes
para apreciar o processo, porque a escala dos juízes de turno está previamente fixada.
e) Na senda do Tribunal Federal Alemão vem dizer que o princípio do juiz natural não proíbe toda e qualquer
revogação ou alteração imediata, com aplicação a processos pendentes, de regras de procedimento para
a divisão interna de processos – e no caso, repete-se, tratava-se apenas de uma regra relativa ao dia da
distribuição:

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(1) Tal alteração de regras de procedimento para a divisão interna de processos pode impor-se por
circunstâncias não previstas anteriormente, no momento da aprovação da regra, e que vêm a ser
postas em evidência - ex. inconveniente de um processo urgente ficar parado, inutilmente, quase uma
semana, quando podia ser logo distribuído (era o caso)
(2) MAS – tal alteração não pode valer apenas para o caso concreto, mas para um número indeterminado
de processos futuros – finalidade de celeridade processual, mais ainda quando os arguidos se
encontravam em prisão preventiva.
(3) E não pode ser justificada em razões discriminatórias ou arbitrárias.
=
no presente caso, pode haver revogação do Provimento em causa com aplicação imediata, porque não
se trata de uma mera derrogação no caso concreto.
=
não há uma violação do pp. do juiz natural.

3º Proibição de subtração de uma causa a tribunal competente por lei anterior – art.º 32º nº9 –
esta vertente assumiu relevância no novo CPP por causa da possibilidade de um processso
que seria da competência de um tribunal coletivo ser julgado por tribunal singular.

Art.º 14º nº2 b) – competência do tribunal coletivo para julgar os processo que respeitem a
crimes cuja pena abstratamente aplicável seja superior a 5 anos.
MAS – art.º 16º nº3 e 4 – prevê possibilidade de o crime (pensado para furtos designadamente com
introdução em casa alheia – 204º nº2) que à partida devia ser julgado em tribunal coletivo, ser
julgado em tribunal singular – MP requere, ninguém se pronuncia e art.º 16/4 dá mesmo a
entender que tribunal não se pode declarar incompetente e fica vinculado a não aplicar pena
superior a 5 anos.
=
Gerou onda de reação – quando MP usou este expediente, juízes singulares entendiam que o
crime em causa podia ter pena superior a 5 anos = não aplicavam art.º 16º nº3 e 4 e
declaravam-se incompetentes por inconstitucionalidade deste artigo, designadamente por
violar art.º 32/9, ao permitir ao MP desaforar a causa e escolher livremente, sem controlo,
qual seria o tribunal perante o qual deduzir acusação, se o singular, se o coletivo.

Epílogo – declaração de não inconstitucionalidade pelo TC (mas esta nunca tem força
obrigatória geral, só as de inconstitucionalidade (e após 3 declarações)) – ancorou-se na opinião de

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JFD e veio dizer que é uma norma geral e abstrata, porque é problema de determinação da
pena que MP promove e está prevista no CP.

ACÓRDÃO n.o 455/89

1ª instância – desaplicou art.º 16º nº3 e 4 por inconstitucionalidade – ARGUMENTOS:

1. Ofensa pp. da independência do tribunal – 208º CRP


2. Ofensa pp. da reserva de jurisdição – 205º CRP

Porque dão ao MP o poder de dizer previamente quais os processos que devem ser julgados pelo juiz singular
ou pelo colectivo, vinculando o tribunal à medida da pena.

MP pauta-se por critérios de legalidade e objetividade – MAS - como é que o Ministério Público entende que,
neste caso, a medida da pena não deve (não pode) ultrapassar os três anos de prisão? Em que assentou a sua
convicção? Fez algum «julgamento» prévio? Ouviu as provas? E tem competência para o fazer? Não reveste o
seu ato natureza jurisdicional?

Vincula juiz mesmo que discorde do MP quanto à pena aplicável!

Interferência da Administração na esfera da exclusiva competência do Juiz – limita-o no julgamento concreto,


esvazia pp. da livre apreciação da prova para determinar a medida da pena a aplicar em concreto, …

Limite à independência do juiz.

Inconstitucionalidade = juiz não pode aplicar a norma ao abrigo do 207º CRP.

TC

A. Análise global do art.º 16º CPP


(1) Delimita a competência do tribunal singular no julgamento – tem de ser conjugado com o art.º 13º
(competência do tribunal de júri) e 14º (competência do tribunal coletivo) – esta repartição da
competência sofre uma inflexão por força do art.º 16º nº3

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=
Certos crimes que, em princípio, deveriam ser julgados pelo tribunal coletivo, e, em alguns casos,
até pelo tribunal do júri (crimes referidos, no artigo 14.º, n.º 2, alíneas a) e b)), serão afinal julgados
pelo tribunal singular sempre que o Ministério Público «entender que não deve ser aplicada, em
concreto, pena de prisão superior a três (atualmente 5) anos ou medida de segurança de
internamento por mais do que esse tempo».
+
(2) Nessa situação, por força do disposto no n.º 4 do artigo 16.º do CPP, o tribunal singular ficará
impedido de aplicar pena de prisão ou medida de segurança de internamento superior a 5 anos

Como surgiu, porém, no nosso direito positivo, este preceito do n.º 3 do artigo 16.º do CPP, sem
precedentes na nossa história jurídica?

Ideia = distribuição da competência entre o tribunal coletivo e singular em função da gravidade do


crime imputado, mas sem prejuízo de poder, através de critérios objetivos, ser subtraído ao coletivo o
julgamento de causas que em princípio lhe pertenceriam, atenta a natureza do crime imputado, a
simplicidade da questão de facto ou a confissão da culpabilidade pelo arguido.

Autorização legislativa da AR = Governo aprovou DL que introduziu o art.º 16º nº3.

Não há possibilidade de o arguido ou assistente se oporem às escolhas feitas, no plano acusatório pelo
MP ou de o tribunal singular vir a discordar a posteriori dessas opções.

MP – veio defender que isso se devia à necessidade de potenciar a eficácia da medida, caso contrário o
assistente iria opor-se apenas para prolongar desnecessariamente o termo do processo e os juízes
singulares iam remeter sistematicamente os processos para o tribunal coletivo, poupando-se à
efetivação desses julgamentos.

Entendimento de que esta alteração é a que melhor se coaduna com a qualidade do MP como único
titular da ação penal.

Compete-lhe fixar o objeto da acusação e deduzir a pretensão punitiva, não podendo o tribunal, por
incompatibilidade com o princípio constitucional da estrutura acusatória do processo criminal (n.º 5 do
artigo 32.º da Constituição), substituir-se ao Ministério Público para alargar aquele objeto ou exasperar
esta pretensão.

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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B. Análise do art.º 16º nº4 ao abrigo do art.º 165º nº1 c) + nº2 – aprovação pelo Governo ao abrigo de
autorização legislativa – questiona-se se o nº4 foi para além da autorização legislativa conferida pela AR.

Lei n.º 43/86 – definiu objeto da autorização legislativa: «concedida ao Governo autorização para
aprovar um novo Código de Processo Penal e revogar a legislação vigente sobre essa matéria» = 16/4
circunscreve-se dentro desse objeto.
MAS – a Proposta de Lei do Governo consignada previa a «possibilidade de fazer julgar pelo tribunal
singular os crimes que não sejam, na ótica do Ministério Público, passíveis em concreto de pena de
prisão ou medida de segurança de duração superior a três anos, havendo comum acordo do arguido e
do assistente, clausulando-se a remessa dos autos para o tribunal coletivo, caso o magistrado de
julgamento entenda estar em causa uma medida criminal mais severa do que aquela que ditou
provisoriamente a sua competência»

MAS – Lei nº 43/86 não acolheu integralmente tal pretensão – não definiu poderes do magistrado na
sequência do requerimento do MP, caso houvesse divergência de opinião.
=
Silêncio absoluto da lei de autorização a esse respeito.
=
MAS – o art.º 16/4 é conforme com a Lei nº 43/86 quanto ao objeto e extensão da autorização
legislativa, mas está em discordância com ela quanto ao sentido da autorização.

Art.º 115º nº2 (atual?) e 165º nº1 c) e nº2 – 16º nº4 padece de inconstitucionalidade orgânica, porque
o Governo emitiu-a sem estar credenciado com autorização parlamentar que verdadeiramente lhe
consentisse a sua emissão.
(as autorizações legislativas não podem ser um cheque em branco!)

RAZÃO – a solução adotada não era única, necessária ou natural + a solução que veio a ser adotada no
CPP era aquela que justamente carecia de autorização legislativa, precisamente por envolver uma
compressão da moldura penal legal, bem como do poder punitivo do tribunal.

A lei autorizou apenas uma certa solução em matéria de competência — é o que corresponde ao n.º 3;
mas o Governo acrescentou um novo elemento, respeitante à limitação da pena — e essa não constava
da autorização. A autorização foi apenas para alterar a competência normal dos tribunais singulares, e
não para alterar o limite máximo de certas penas, solução que, de resto, nunca havia sequer sido
referida durante o processo legislativo e que não está abrangida, nem expressa nem implicitamente, na
norma de autorização.

C. Análise do art.º 16º nº3 à luz dos arts.º 205º e 206º CRP (atual 202º e ss.) – pp. da jurisdição – inclui 3 áreas:

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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a) A defesa dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos (o que aponta diretamente para a justiça
administrativa);

b) A repressão das infrações da legalidade democrática (o que aponta especialmente para a justiça criminal);
c) A resolução dos conflitos de interesses públicos e privados (o que abrange principalmente a justiça cível).

O nº3 ofende então o pp. da jurisdição?

Enuncia Ac. TC 7/87 (supra) quanto ao 281º e 282º que é outro problema de delimitação da jurisdição aí
abordado = alternativa à acusação = no final do inquérito, conclui-se que há indícios suficientes, mas suspende-
se processo, submete-se arguido por determinado prazo (até 2 anos) a injunções e regras de conduta.

= figura semelhante à suspensão da execução da pena no momento da sentença.

“com concordância do juiz de instrução” (nº1) – TC neste acórdão disse que tinha de ser juiz a autorizar, MP
pode apenas promover (antes era MP que decidia) – tem de ser decisão jurisdicional, porque afta direitos
fundamentais (decorre do 32/4).

Justificar-se-á, por similitude com este caso, que também agora, e em relação ao artigo 16.º, n.º 3, do CPP, se
conclua que os poderes aí conferidos ao Ministério Público são de ordem jurisdicional?

TC – as situações, embora próximas, não são em absoluto coincidentes:

Art.º 281º na versão original – atribuía a resolução de um litígio penal ao Ministério Público, com poderes para
suspender o processo e, do mesmo passo, impor ao arguido, em substituição de decisão penal condenatória,
injunções e regras de conduta.

Art.º 16º nº3 – permite-se apenas que o Ministério Público exerça a ação penal em termos mais restritos que
os que, em princípio, seriam de esperar por referência à pena máxima abstratamente aplicável ao crime
indiciado.

TC – pp. do acusatório (32/5 CRP) implica que os atos decorrentes do exercício da ação penal não se
confundam com atos próprios do poder jurisdicional!

O pp. do acusatório implica a diferenciação entre as funções do acusar e do julgador.

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Só perante um processo penal inquisitório, em que a função do julgador se estende também ao próprio ato de
acusar é que seria lícito sustentar que o art.º 16º nº3 interferia com o exercício da função jurisdicional.

CONCLUSÃO – art.º 16º nº3 respeita um ato não jurisdicional = não viola pp. da jurisdição.

D. Análise do art.º 16º nº3 ao abrigo do art.º 203º - pp. da independência dos tribunais

TC – o art.º 16º nº3 = é lícito ao Ministério Público equacionar o litígio penal em termos mais reduzidos do que,
à partida, seria MAS isso, nada tem a ver com o princípio da independência dos tribunais como garantia do
próprio Estado de direito democrático.

O juiz para resolução da causa decidendi, tal como ela lhe foi proposta pelo Ministério Público, tem, pura e
simplesmente, de recorrer à lei.

E. Análise do art.º 16º nº3 ao abrigo do art.º 32º nº 9 – proibição de desaforamento = nenhuma causa pode ser
subtraída ao tribunal cuja competência esteja fixada em lei anterior (pp. do juiz natural) – proíbe designação
discricionária do órgão competente para o julgamento pelo órgão de acusação?

JFD – ao deferir a competência a tribunal diverso do em princípio competente, erigiu a lei critérios gerais e
abstratos (se bem que, como se impunha, suficientemente determinados) de atribuição, que não deixam
qualquer espaço a uma manipulação ilegítima e ad hoc da competência.

O art.º 16º nº3 é uma determinação geral e abstrata, materialmente justificada e estranha a discriminações,
ainda mais quando os critérios de determinação concreta da pena são objetivados e controláveis.

GC e VM - consagrando oficialmente a possibilidade de determinação concreta da competência material do


tribunal singular (nº 2), o legislador teve consciência que este método constitui um atentado frontal às
garantias contidas no princípio básico (em matéria processo penal) do juiz natural (artigo 32.º, n.º 7, da
Constituição da República Portuguesa). Realmente, assim se permite à entidade encarregada de promover o
processo penal a faculdade de escolher, como queira, o tribunal perante o qual o arguido deve ser julgado.

TC – MP tem faculdade de determinação concreta do tribunal, mas como limitações:

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a. Tal faculdade não opera no plano da competência territorial, e, por isso, será sempre por aplicação das
regras definidoras deste tipo de competência que imperativamente se determinarão, para cada caso,
como competentes, e nesta ótica, os tribunais de certa circunscrição judicial;
b. Tal possibilidade de escolha desenvolve-se, pois, e simplesmente, no plano da competência material, ou
seja, em relação com os tribunais de determinada circunscrição judicial precedentemente identificadas
por força da aplicação das regras reguladoras da competência territorial;
c. Nessa escolha, o Ministério Público há-de agir vinculadamente, fazendo aplicação uniforme de critérios
legais, gerais e abstratos, e que regulam o instituto e que, de modo algum, «deixam espaço a uma
manipulação ilegítima e ad hoc da competência», e isto tanto mais quanto é certo que «hoje os critérios
de determinação concreta da pena [são] critérios dogmaticamente objetivados e controláveis e de forma
alguma dependentes da ‘arte’ de aplicação do juiz»
d. Mesmo nos casos em que o Ministério Público escolhe o tribunal singular para julgar feito-crime que, em
princípio, deveria ser julgado por tribunal coletivo, ou mesmo por tribunal do júri, nem sempre fica de
imediato individualizado o órgão jurisdicional que dele há-de conhecer, pois que, se dentro dessa
circunscrição judicial existirem vários tribunais singulares, igualmente vocacionados para o julgamento
em questão, sempre haverá de proceder-se à distribuição, entre eles, do processo-crime.

CONCLUSÃO TC = o art.º 16º nº3 não postula uma escolha arbitrária ou manipulada do tribunal competente
para o julgamento dos casos-crime ali referidos = não viola o pp.do juiz natural.

F. Análise ao abrigo do art.º 224º nº1 CRP (actual 219º) – «ao Ministério Público compete representar o Estado,
exercer a ação penal, defender a legalidade democrática e os interesses que a lei determinar» = pp. da
legalidade (≠ oportunidade)

O art.º 16º nº3 é conforme ao pp. da obrigatoriedade do exercício da ação penal?

SIM – o Ministério Público age vinculadamente, face ao preenchimento de um certo número de condições, que
necessariamente lhe impõem a obrigação de exercer a ação penal de uma maneira ou de outra.

CONCLUSÃO

a) julgar que a norma do n.º 3 do artigo 16.º do Código de Processo Penal não é inconstitucional;

b) julgar que a norma do n.º 4 do mesmo artigo 16.º é inconstitucional;

c) e ordenar, em consequência, que o despacho recorrido seja correspondentemente reformulado.

VOTOS DE VENCIDO

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a. A norma do artigo 16.º, n.º 3, do CPP, devia ter sido julgada inconstitucional, na parte em que não admite que
o arguido se possa opor, nos casos nela referidos, à competência do tribunal singular para o julgamento, para
assegurar todas as garantias de defesa.
b. Inconstitucionalidade orgânica, mas também material (que o acórdão não analisou) do art.º 16º nº4 - tal
norma infringe dois princípios essenciais da constituição penal, designadamente o princípio da prefixação legal
de uma moldura punitiva abstrata e o princípio de que o poder punitivo — e consequentemente a definição
concreta da pena dentro dos limites da moldura legal abstrata — cabe em exclusivo aos tribunais. É como se a
norma dissesse: «no caso dos crimes previstos no artigo 16.º, n.º 2, o máximo da pena previsto no Código
Penal baixa para três anos quando o Ministério Público assim o entender».
c. Art.º 16º nº3 viola pp. do juiz natural, não podendo a competência depender de uma decisão discricionária e
insindicável da acusação, pelo menos quando tomada sem o consentimento do próprio arguido + ser julgado
por um tribunal colegial é uma garantia suplementar de defesa
d. Não é possível assegurar que esse poder, que a norma em causa confere ao Ministério Público, não seja
exercido por simples razões de conveniência e oportunidade (v. g., porque o tribunal coletivo tem acumulação
de serviço) ou até para obter uma condenação mais facilmente do que ocorreria num tribunal colegial. Se,
como acima se viu, se temeu que o juiz singular, se o pudesse fazer, devolvesse sistematicamente ao tribunal
coletivo a competência, por razões de conveniência pessoal, como rejeitar à partida o receio de que certos
agentes do Ministério Público pudessem recorrer sistematicamente à entrega da competência ao juiz singular
apenas para com isso obterem julgamentos mais rápidos e expeditos, e, porventura, condenações mais certas?

ACÓRDÃO nº 281/91

A. MP Acusou A. pela prática de um crime de furto qualificado, previsto e punível pelo art.º 297º, nº 1, alínea
f), do Código Penal.
B. Não obstante a medida abstrata prevista para a pena determinar, em princípio, a competência do tribunal
coletivo para o julgamento daquele crime, nos termos do artigo 14º, nº 2, alínea b), já que lhe é aplicável,
em abstrato, pena de prisão de um a dez anos, o Magistrado do Ministério Público, no seu requerimento
acusatório, considerando que o arguido confessou integralmente os factos e bem assim a circunstância de
não constar do seu registo criminal qualquer condenação anterior, consignou que o caso devia ser julgado
pelo tribunal singular, tendo em conta a disposição do artigo 16º, nº 3, do mesmo Código, na redação do
Decreto-Lei nº 387-E/87, de 29 de Dezembro, que atribui ao tribunal singular competência para julgar os
processos por crimes previstos no artigo 14º, nº2, quando o Ministério Público entender que não deve ser
aplicada, em concreto, pena de prisão superior a três anos
C. Juiz recusou aplicação do art.º 16º nº3 e 4 por inconstitucionalidade (violação dos arts.º 32º, 202º, 203º
CRP).

TC – analisa apenas o nº3 do art.º 16º. Segue jurisprudência anterior no sentido de declarar a não
inconstitucionalidade da norma.

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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NOTA:
O pp. do juiz natural pode ser posto em causa quando se sabe que se ação for intentada junto do TCIC (Tribunal Central
de Instrução Criminal), o juiz vai ser o único que compõe esse tribunal. Respeitam-se os corolários expressos do pp. do juiz
natural previstos na CRP, mas pode dar origem a manipulações.

DA JURISDIÇÃO À COMPETÊNCIA

Existe uma multiplicidade de tribunais para garantir celeridade na administração da justiça.

Temos de partir da jurisdição para a competência – como se reparte a jurisdição para chegarmos à competência de
cada tribunal – parcela de jurisdição que compete a cada um.

Em processo penal a repartição da jurisdição não é como no processo civil, faz-se num duplo passo:

1º A própria CRP separa uma parcela de jurisdição penal que entrega a ordens de tribunais diferentes

1. Não pode haver tribunais especiais (supra), mas ressalva tribunais militares em caso de guerra e para crimes
militares (213º e 211/2).
=
Repartição entre ordens jurisdicionais
(1) Tribunais judiciais (jurisdição penal em geral – comuns – 210/1)
(2) Tribunais militares (crimes militares, em tempo de guerra)
2. Esta diferenciação, apesar de formalmente parecer estar a dividir jurisdição entre tribunais, materialmente
não o é, porque quando tribunal militar (ou governo, ou camara municipal, ou governo, etc.) conhece de
crime da competência dos tribunais judiciais, não falta simplesmente a competência, falta a jurisdição:
(1) Não se trata como se fosse tribunal errado, mas como se fosse julgado por quem não é tribunal – falta
de jurisdição ≠ competência.
=
Consequências processuais não são as mesmas da incompetência.
1) O raciocínio no qual isto se funda é argumento a fortiori a partir das nulidades insanáveis – se art.º
119º a) e e) CPP geram nulidade insanável, o que dizer se nem está lá juiz, nem sequer é tribunal:
daqui advém figura da inexistência (consequência da violação desta repartição da CRP) =
inexequibilidade da decisão final.

2º Repartição da jurisdição penal pelos tribunais judiciais (regras do CPP + LOTJ)

 Pode olhar-se mais para a causa ou mais para o tribunal para repartir a competência:
1. Enquanto LOTJ olha mais para tribunais;

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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2. CPP olha mais para a causa, exigindo certas regras – não nos dá o resultado final, pelo CPP podemos
saber se é o STJ (aí sabemos logo porque só há um), TR (qual?), 1ª instância (qual?) – temos de ver regras
de organização judiciária.

PERSPECTIVA DO CPP

1. COMPETÊNCIA INTERNACIONAL – se olharmos para epígrafes do CPP, não se trata logo da competência
internacional, está regulada nos arts.º 20º (pp. do pavilhão) e 22º
MAS – o pp. geral que é o pp. da territorialidade para crimes cometidos em Portugal – art.º 19º.
+
Jurisdição dos tribunais PT é igual ao âmbito de aplicação da lei portuguesa, se a lei portuguesa é
competente, os tribunais PT também o são – art.º 4º, 5º e 6º CP.

2. COMPETÊNCIA FUNCIONAL
A ideia da função também não é alheia ao PC (ex. 1ª instância e recurso – reparte-se competência em razão
da função), MAS no PC fala-se antes em competência em razão da hierarquia, porque normalmente é esse o
caso, mas aqui no PP a diferenciação de funções é muito mais rica:
(1) Função recurso (12/3 b), 11/4 b) por ex.)
(2) Função julgamento (13º a 16º)
(3) Execução (470º MAS quando há necessidade de executar penas e medidas de segurança privativas da
liberdade – 18º e 91º LOFTJ)
(4) Instrução e atos praticados no inquérito que contendam com DF (competência do juiz de instrução –
17º).

Não é necessariamente hierárquica! É repartição por fases, mas vai além disso:

Ex. habeas corpus (220/1 e 222/1 – STJ – a qualquer altura) + tribunais coletivos – presidente e tribunal
(311º/338º).

3. COMPETÊNCIA MATERIAL (não tem nada a ver com a do PC – está mais próximo da competência em razão do
valor/forma do processo) – causas dentro de cada função são divididas em atenção:

(1) Ao critério da índole da causa (ratione materiae) – é a regra da repartição da competência – esta solução
geral da índole da causa serve para repartir competência:
1) No julgamento – júri (só funciona a requerimento), coletivo e singular (mais graves – tribunal coletivo):

Critério geral = gravidade do crime:

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i. Natureza – qualitativo – 13/1, 14/1 e 2 a) e 16/2 a) – há certos crimes que legislador considera
graves, não pela pena, mas pela sua natureza jurídica/bem jurídico protegido.
Ex. homicídio a pedido da vítima – coletivo.
Ex. homicídio por negligencia – singular (não é doloso)
ii. Gravidade da pena aplicável (quantitativo) – 13/2, 14/2b), 16/2 b) + 15º
iii. Art.º 16º nº3 e 4 (pp. juiz natural supra) – critério quantitativo mas quanto à pena concreta.

NOTA: ver primeiro se cabe no critério qualitativo; se não, cabe no quantitativo; por último,
aplicar art.º 16º nº3 e 4.

Art.º 16º nº2 c) e art.º 381º nº2 – alínea introduzida na altura em que se alargou processo sumário
para além dos 5 anos de prisão – reforma de 2013 – não é critério qualitativo nem quantitativo.

MAS AC. TC 174/2014 – declarou inconstitucional com força obrigatória geral a aplicação do processo
sumário a crimes a que corresponda pena superior a 5 anos, por violação dos arts.º 31º nº1 e 2 CRP
(cláusula geral da garantia do processo equitativo + presunção de inocência) = art.º 16º nº2 c) perdeu
alcance por consequência da declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral – ver
materiais.

2) No recurso – art.º 12º nº3 b) e 11º nº4 b)

(2) Ao critério ratione personae (em razão das pessoas, olhando para arguido):
1) Art.º 11/7 a) (função inquérito, instrução), art.º 11/3 a) (função julgamento) – titulares de cargos
políticos;
2) Magistrados – ex. juiz de direito – art.º 12/6, 12/3 a) e 11/4 a)).
RAZÃO = não é um privilégio pessoal, visa evitar a desconfiança de que são julgados parcialmente,
daí que suba para tribunais superiores logo em 1ª instância:
a. Quanto aos juízes nem releva se é crime cometido ou não no exercício da função – evitar que
haja desconfiança de que há solidariedade ou temor reverencial = são sempre julgados em
tribunal superior.
b. Quanto aos titulares de cargos políticos, problema tem a ver com crimes cometidos no exercício
de funções; quando já não se é titular, já não há razão para ser julgado em tribunal superior*.
Aqui pode entender-se que também visa a preservação da dignidade do exercício destes altos
cargos políticos.

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A questão de interferência política não e justificação, porque ai teriam de ser todos os crimes e
não apenas os cometidos no exercício das funções.

MAS – não podemos assumir em caso nenhum que são privilégios.

*CASO JOSÉ SÓCRATES – alega-se incompetência do tribunal para ordenar escutas, porque na altura era 1º Ministro –
interpretação do art.º 11º nº3 a) + nº2 b) – conhecimento pelo STJ.

4. COMPETÊNCIA TERRITORIAL – tribunal do locus delicti – art.º 19/1 = lugar da consumação.


(1) PROBLEMA – crimes materiais cometidos à distância
Ex. vitíma transportada e morre no hospital – consumação no hospital (preenchimento dos elementos
do tipo).
MAS quando legislador estabelece regra do lugar da consumação pretende facilitar nomeadamente a
prova, por proximidade do tribunal.
=
Para prever casos como este – nº2

(2) Quando a consumação não é instantânea – ex. sequestro (crime permanente) – nº3
(3) Regras subsidiárias– 20º e ss.

5. COMPETÊNCIA POR CONEXÃO


(1) Se olharmos para organização sistemática do código, depois da competência territorial, trata-se da
competência por conexão, dando a entender que a conexão é outro critério de competência, mas não é
(“por conexão” deve ler-se “em caso de conexão”).
1) Legislador parte do princípio de que a cada crime deve caber o seu processo.
MAS – pode acontecer que vários crimes tenham elementos em comum que invertam esta
conveniência em julgar cada um por si mesmos (ex. co-autoria), porque:
i. Duplicaria produção de prova;
ii. Pode dar lugar a resultados contraditórios.
=
Por isso, em certos casos lei inverte a regra por conexões processuais – nesse caso, pode haver
necessidade de adaptar regras da competência (ex. a um pode corresponder tribunal coletivo e outro
singular).
=
A competência por conexão corresponde às adaptações das regras de competência necessárias
para as adaptar a este tipo de situações – art.º 24º nº1 e 5

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(2) EFEITO – art.º 29º - unificação processual ab initio ou por apensação.


(3) Art.º 27º, 28º e 31º - adaptação das regras.

Art.º 31º - prorrogação da competência.

NOTA: al. b) copiada do CPP italiano, mas dá mau resultado – é difícil não haver “curto-circuitos”
informativos com prejuízo do pp. do contraditório

(4) Art.º30º - separação de processos (art.º 29º é efeito de princípio, mas pode não acontecer).

ART.º 37º - OBSTRUÇÃO AO EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA – consequência = remoção da competência – art.º 38º
determinada pelas secções criminais do STJ (caso de competência funcional).

INCOMPETÊNCIA (e não falta de jurisdição – inexistência)

1. Não é qualificada como exceção no CPP.


Exceção = falta de pressuposto de validade processual. No fundo é o que acontece no CPP, mas depois não
assume construção das exceções.
2. = nulidade insanável – 119º e).
3. REGIME PRÓPRIO – 32º e ss.
(1) É sempre de conhecimento oficioso – 32º
(2) Oportunidade – até ao trânsito em julgado – exceto no caso de incompetência territorial (nº2)
(3) Efeito – remessa para o tribunal competente (= é sanável), exceto incompetência internacional (absolvição
da instância) – 33º

GARANTIAS DE IMPARCIALIDADE DO JUIZ

1. A imparcialidade é uma característica essencial para qualificar órgão como tribunal.


=
É o fim último de toda a organização judiciária, daí que lei regule garantias para que isso aconteça, mas é um
atributo, cada juiz tem de a possuir e saber usar.

2. Garantias de duas ordens:


(1) Estatutárias – 215º e ss. CRP – dá estatuto aos magistrados (ex. inamobilidade, …) – estatuto magistrados
judiciais.

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(2) Processuais para garantir que não há desconfiança de que foi parcial (até pode ser imparcial! O ponto é a
desconfiança que se pode gerar – “`à mulher de César, não basta ser” – tem de suscitar a confiança e o
respeito generalizado) – legislador realiza isto num duplo passo:
1) Impedimentos – arts.º 39º e 40º - relação pessoal com o caso (39º nº1 a) e b); já teve intervenção no
processo (39/1 c), d) e nº3 3 + 40º) – ope leges
2) Suspeições – juiz pede escusa ao tribunal superior; partes recusam juiz – arts.º 43/1 e 2 + nº3 e 4 + 45º

6.1.1.2. O MINISTÉRIO PÚBLICO E OS ÓRGÃOS DE POLÍCIA CRIMINAL

Vamos analisar o Ministério Público como função e como serviço.

FUNÇÃO

1. “Ministério” = serviço – função (poder-dever) exercida no processo = exercer a ação penal – art.º 219º CRP.
(1) Começamos por caracterizar o MP pela função, porque a própria orgânica é desenhada em função disto, é a
função primeira do MP.
(2) Foi esta função que determinou historicamente o renascimento do MP.
(3) É porque exerce esta função que é órgão constitucional e judiciário.

EXERCÍCIO DA ACÇÃO PENAL = toda a atividade e direito/ónus/dever de a cumprir ao longo de todo o processo;
direito de promover decisão judicial que se faz no processo; não é só deduzir acusação!

A. CONTEÚDO – posições e atribuições – art.º 53º CPP


(1) Nº1 (posição) – colaboração com o tribunal.
1) Tem de ser lido à luz do pp. do acusatório! Não é colaborador numa função que é do tribunal, trabalha
com ele, trabalho de ambos enfeixa-se para fim comum = realização da justiça e busca da verdade
material = não é uma posição de subalternidade.
2) Além do fim comum, têm o mesmo critério de legalidade e objetividade – art.º 219º + 53/1 CPP.
(2) Nº2 (atribuições) – funções mais relevantes/nucleares – estas competências são concretização da ideia de
exercício da ação penal e são impostas pela constituição:

B. Significa que há um monopólio da ação penal por parte do MP?


NÃO!
(1) Exceções à oficialidade – art.º 49º e 50º (supra)
(2) Admissibilidade da ação penal privada (quanto ao sujeito e não quanto à natureza da ação) =

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1) Direito de intervenção do ofendido (ou quem o represente) – art.º 32/7 CRP + 68º a) a d) CPP – assistente
(para criar alguma subordinação, mas entendida objetivamente, não esta no processo para cumprir ordens do MP)
+ 69º (poderes).
2) Outros casos: 52/3 CRP e 68/1 e) = assistente popular (ex. ONG defesa do ambiente e património).
(3) Nem no E. é o único órgão que exerce a ação penal – jurisprudência tem admitido outras entidades públicas
a exercer ação penal, como certos institutos.
C. O exercício da ação penal é um poder-dever – pp. da legalidade – art.º 219º - exercício da ação penal é
obrigatório.
MAS – aparente limitação do princípio admitindo exceções – não é absoluto – o art.º 219º fala em “orientado” =
é princípio holístico, orientador, mas pode comportar exceções*
=
“legalidade aberta” – mas as limitações ao pp. da legalidade devem:
1º ser previstas na lei (momentos de oportunidade – juízos discricionários sobre o exercício da ação penal).
2º ter um âmbito limitado (de modo a não se tornarem a regra)
3º assumirem um critério de oportunidade compatível com os pp. da igualdade e proporcionalidade
4º estar sujeitas a controle judicial.

(1) *Dizer isto é fácil, não é fácil explicar que estas exceções se têm comportado como uma miragem, porque as
exceções são as que se designam sob a epigrafe “oportunidade” = não é qualquer margem de apreciação
(também a tem na decisão de acusação, isso não impede que seja juízo de legalidade), só nos afastamos da
legalidade quando MP pode, independentemente dos pressupostos processuais, assumir uma posição ou
outro – juízo semelhante à discricionariedade no Direito Administrativo.
Ex. não há livre apreciação entre escolher o 273º e o 277º - há ou não indícios suficientes? Há margem de apreciação,
mas dentro do critério da legalidade.
1) Em princípio não existe no início do processo penal – art.º 262º nº2 – não há exceções escritas na lei no
início do processo, porque diz que “há sempre lugar à abertura de inquérito”
2) Onde desde o início do CPP se tem apontado para a possibilidade de exceções diretas ao pp. da
legalidade é no momento do final do inquérito – apresentam-se 3 institutos:
A. Arquivamento em caso de dispensa de pena – art.º 280º (ver 148º nº2 + 74º CP = decisão condenatória,
mas não aplica pena – 375/3) – quando dispensa de pena está prevista na lei e MP no final do inquérito

chega à conclusão que é caso de dispensa da pena, em vez de acusar, arquiva:


1. Se o art.º 280º não existisse, o MP deduzia acusação e iria haver sentença condenatória com
dispensa de pena.
2. MAS – isto não permite dizer que é questão de oportunidade – o que permite é a parte que diz
“pode” = nada tem que ver com art.º 277º que pressupõe que não há indícios suficientes.
3. Nº3 – não é suscetível de impugnação.

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Parece que temos questão de oportunidade – lei não obriga nem a acusar nem arquivar, “pode”.

B. Era a mesma a redação do 281º - Suspensão provisória do processo – mas, na Reforma 2007, foi
alterado e neste momento, se findo os 2 anos cumpriu injunções e condutas, processo fica
definitivamente arquivado, se não processo prossegue com dedução da acusação.
=
Em 2007 deixou de se dizer “pode” para dizer “determina” = deixou de ser caso de oportunidade,
para ser de legalidade.

NOTA: tanto no art.º 280º como no 281º há uma diversão – o processo é feito divergir do curso
normal MAS na redação de 87 eram os 2 casos de oportunidade; agora um é de oportunidade outro
de legalidade (há margem de apreciação no 281º mas verificado o que lá está, é obrigatório suspensão =
margem de apreciação dentro da legalidade).

AC. TC 7/87 – também se debruçou sobre este problema de delimitação da jurisdição – é uma alternativa à
acusação; no final do inquérito, conclui-se que há indícios suficientes, mas suspende-se processo, submete-se
arguido por determinado prazo (até 2 anos) a injunções e regras de conduta.
= Figura semelhante à suspensão da execução da pena no momento da sentença.
TC – veio dizer que tinha se ser “com concordância do juiz” – MP pode apenas promover (antes era MP que
decidia) – tem de ser decisão jurisdicional, porque afeta direitos fundamentais (decorre do 32/4 CRP).

PROBLEMA = no 280º “pode” – MAS – como escolhe? Quais são os critérios? Hesitações legais e
doutrinais quanto às exceções – se formos ver os textos a aplaudir este critério de oportunidade,
acabam por concluir que se verificarem pressupostos, qual pode ser o interesse mais importante que a
punição que me permita optar por não deduzir acusação? (JFD e Pedro Caeiro)

Daí se falar em miragem, porque o art.º 280º não nos dá um critério da oportunidade que cria!

Nas melhores interpretações, o art.º 280º cai na conclusão de que se se verificarem pressupostos é
obrigatório!

VER MATERIAIS – PEDRO CAEIRO.

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3) A OPORTUNIDADE pode insinuar-se no processo faticamente, à custa do funcionamento do sistema e não


juridicamente:

Em nenhum lugar do sistema penal americano estão previstas negociações entre o MP e arguido quanto
à pena – está previsto é que no início de uma audiência, como é um sistema de acusatório puro e o
tribunal não pode fugir da qualificação jurídica feita na acusação e a produção de prova não é necessária
no processo americano, o primeiro ato seja perguntar ao arguido como é que ele se declara e se ele se
declarar culpado não há produção de prova e passa-se para determinação da pena.
=
Isto cria estrutura que põe o eventum litis na mão do MP e arguido, se houver combinação – guilty plea –
oferecimento de declaração de culpabilidade – precedido de um plea bargaining. O termos da
negociação podem incidir sobre a pena e sobre os factos imputados.

Estes passos do sistema americano também existem em nós – art.º 16º nº3 – limita juiz, MP pode
vincular juiz.
+

Estão em “banho-maria” em PT os chamados “acordos de sentença” – é um acordo entre o MP e o arguido sobre a


medida da pena abstratamente aplicável. Nada se diz no nosso ordenamento jurídico sobre este tipo de acordos.

JFD aponta os seguintes requisitos e argumentos:

1. A confissão do arguido é pressuposto essencial do acordo – conditio sine qua non – como mecanismo
legal já existente para simplificar e conferir celeridade ao processo penal.
2. Em conformidade com a base legal do acordo temos o art.º 344º (confissão).
3. O tribunal mantém integralmente o poder/dever de aferir a credibilidade da confissão (344/3 b) -
salvaguarda do princípio de que o acordo nunca poderá prejudicar os princípios da investigação
judicial e de descoberta da verdade material.
4. No acordo não pode constar a pena em concreto, mas apenas os seus limites (pelo menos o limite
máximo).
5. A margem entre o limite máximo e o mínimo, a funcionar como uma moldura concreta da pena no
âmbito do qual o tribunal decide a pena concreta a aplicar, não pode ser tão elevada que perca
qualquer efeito delimitador da pena.
6. Caso o limite máximo da pena o permita, admite-se a inclusão no acordo de vinculação a
determinadas penas de substituição.

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7. Admite-se o acordo sobre sanções acessórias ou perda de bens (este último apenas quando não
implique um juízo de perigosidade do agente).
8. Não se admite acordo sobre medidas de segurança.
9. O acordo obtido deverá constar da ata, em nome da publicidade do processo e consequente
legitimidade da decisão.
10. Caso o acordo não seja obtido, não pode nenhum elemento do processo negocial ser tido em
consideração no julgamento (proibição de prova).
11. O acordo deverá ter a intervenção do arguido, do MP e do juiz, devendo ainda intervir o assistente
caso exista.
12. Não pode estabelecer-se no acordo uma renúncia prévia ao direito de recurso.
13. O acordo deverá ser obtido, salvo casos excecionais, até ao início da produção de prova após
declarações do arguido. Admite que, no limite, com as devidas cautelas, o acordo poderá ser obtido
ainda na fase de inquérito.
14. Havendo recurso, a ideia de celeridade inerente ao acordo fica frustrada, mas ainda se pode utilizar
o acordo.

Argumentos a favor:

1. Celeridade e economia processual.


2. Não é proibido por lei e encontra sustentáculo no art.º 344º CPP
3. Cumpre-se o princípio do Estado de Direito, por respeito pelo art.º 32º nº2 CRP (tempo razoável).
4. Acordo corresponde às exigências da tutela jurisdicional efetiva (20º), porque só assim há uma plena
realização do princípio do favorecimento do processo
5. Referência ao instituto noutros ordenamentos jurídicos (inglês, americano, espanhol, italiano,
alemão) – Na Alemanha já eram aplicados antes de haver regulamentação expressa.

O ST Alemão tentou harmonizar alguns princípios rectores dos referidos acordos:


(1) O princípio da investigação deve ser salvaguardado. Por conseguinte, o tribunal não pode, por exemplo, chegar a uma
decisão baseado apenas na confissão prestada no âmbito do acordo. Deve examinar a sua credibilidade e, se for o caso,
incorporar outros elementos de prova.
(2) O principio nemo tenetur deve ser salvaguardados na prática dos acordos.
(3) O princípio da publicidade deve ser observado. Por conseguinte, o acordo deve constar da decisão e examinado em
julgamento.
(4) O princípio da imediação não pode ser lesado. Portanto, é inadmissível que o tribunal faça uma promessa vinculante
sobre a medida da pena a impor pois que ante uma tal antecipação da sentença o tribunal já não poderia extrair a
decisão da totalidade do julgamento. Em contrapartida o tribunal pode estabelecer um limite máximo da pena que o
vincula e sem o qual o arguido nunca concordaria com o acordo pois que este não lhe traria qualquer vantagem

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(5) O princípio da culpa deve ser respeitado. Consequentemente, o tribunal não pode pagar uma confissão com uma
atenuação da pena encontrada bem abaixo do limite proporcional da culpa. Sem embargo, a confissão é a razão
fundamental para a atenuação da pena valendo mesmo quando não é induzida pela contrição e arrependimento, mas
por razões tácticas para obtenção de uma sentença mais favorável, pois que, mesmo aqui, o arguido assume a
responsabilidade do seu acto e favorece um dos fins do processo que é a paz jurídica.
(6) O princípio do procedimento leal deve ser sempre observado. Como tal o tribunal está vinculado ao limite máximo da
pena por ele estabelecida. No entanto, quando posteriormente se demonstram circunstâncias que elevam a culpa para
um patamar mais grave o tribunal excepcionalmente deve poder exceder o limite máximo fixado para a pena, em
atenção ao princípio da culpa. Mas, neste caso, o tribunal deve advertir o arguido dessa possibilidade. Tal situação é
um compromisso tolerável porquanto o arguido conhecia desde o início as circunstâncias que elevavam a sua culpa e,
ao omiti-las, pretendeu um benefício injustificado
(7) Não existe renúncia do direito ao recurso.
MAS – mesmo na Alemanha o caminho não se fez assim tao facilmente como uma leitura superficial aparente – houve
fortes críticas da doutrina e opinião pública que considera que se tratava de um instrumento para favorecer os ricos e
poderosos.
+ receio do arguido de que se não consentir terá um processo menos amistoso; receio de que para evitar sobrecargas
de trabalho se recorra a estes acordos, sem buscar a verdade material, procurando apenas acelerar o processo, …

Isto deu lugar a acórdão do STJ e instrução da PGR que vieram dizer que não podem ser levados avante,
porque o princípio é o da legalidade e isto não está previsto na lei – Ac. STJ 10/04/2013 e Diretiva PGR
2/2014.

Directiva PGR – determina que os Magistrados e Agentes do Ministério Público se abstenham de


promover ou aceitar a celebração de acordos sobre sentenças penais.

JLM tem muitas dúvidas que se possa estabelecer na lei acordo genericamente sem comprometer pp. da
legalidade – se assim for, esse princípio acabou!

Ac. STJ 10/04/2013 – o STJ considerou estes acordos inadmissíveis.


FACTOS – aceite pelo juiz que arguidos confessavam de forma integral e sem reservas no âmbito de um
acordo a consensualizar com o MP quanto às penas aplicáveis; o acordo foi aceite e passou-se logo à
produção de prova – declaração de arguido que confessou, prescindindo-se de prova testemunhal.
1. O pp. é o da legalidade e isto não está previsto na lei, não importa a bondade das soluções.
2. Os princípios constitucionais não são compatíveis com estes acordos: igualdade, segurança jurídica.
3. Está em causa o princípio da igualdade – a liberdade para negociar é ilusória:
a) Numa negociação, há sempre uma parte mais forte.
b)Depende da qualidade da defesa.

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4. O art.º 344º sempre esteve mais relacionado com a atenuação da pena do que com estes acordos –
se mesmo esta faculdade de atenuação da pena foi eliminada, por maioria de razão não se deve
admitir tais acordos.
5. Não é correto tutelar a expetativa do arguido que confessa os factos.
6. Está em causa a segurança jurídica porque:
a) falta uma delimitação expressa dos requisitos do acordo.
b) permanece uma incerteza quanto à situação dos comparticipantes que não confessam.
c) há dificuldades de aplicação nos casos de concurso de crimes.
7. Pode estar em causa uma violação do princípio nemo tenetur se ipsum acusare – ninguém é obrigado
a acusar-se.
8. O STJ entende tratar-se de uma acordo que tem na sua génese a promessa de concessão de uma
vantagem indevida ao arguido, sendo, por isso, um meio de prova proibido, nos termos do artigo
126/2 e).

NOTA: CRP atribui ainda a função de representação do Estado – é o “advogado do Estado” – mas mesmo aí intervém
como defensor da legalidade.

ÓRGÃO

Como está organizado o MP para exercer esta função?

1. MP = órgão constitucional, mas não é órgão de soberania – está regulado a propósito da função judicial (Cap. IV
do Título “Tribunais”) – é um órgão judicial – a função judicial não é só dizer o direito no caso concreto, é também
promover o processo.
2. Quando foi recriado dos antigos procuradores da coroa para assuntos fiscais, foi posto como órgão competente
para exercer ação penal, criando o pp. do acusatório nos processos.

MAS – inicialmente continuava a ser visto como representante do poder executivo nos tribunais – era composto
pelos “procuradores da coroa” que eram funcionários.

MAS – esses funcionários evoluíram para magistrados e apesar da mutação social sofrida desde 1820, houve
sempre uma constante = o MP deixou de ser funcionário do governo, para ser um magistrado, alguém que exerce
o poder e não depende do executivo.
=
Isto implicou um estatuto próprio que o distingue dos juízes (ao MP como um todo apesar de ser composto por
vários magistrados) – art.º 219º nº2

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


51

=
3. O MP distingue-se dos tribunais:
(1) Por ser um órgão AUTÓNOMO – art.º 219º nº2 – a autonomia é usada como critério que se opõe à
independência dos tribunais – significa, na prática, independência no exercício da ação penal.

Art.º 2º2 EMP- definição da autonomia substancial – não define como “não depende de” mas define
autonomia como característica “para cumprir a lei” e, para fazer isso, limitam-se poderes que incidem sobre
ele – isto é evidente em relação ao governo e aos tribunais:
1) Quebra dos vínculos entre MP e governo em matéria de ação penal foi paulatina – art.º 80º LOMP quanto
ao Ministro da Justiça (não lhe atribui nenhuma competência em matéria penal) que antes podia dar
orientações concretas e genéricas, depois suprimiu-se orientações concretas e depois suprimiu-se
qualquer orientação.

MAS – 2006 = “pedra no sapato” = Lei-quadro da Política Criminal – Lei 17/2006 – nas relações entre o MJ
e OPC cria uma situação equívoca:
1. Aparentemente quereria dizer no seu nome que o conteúdo do direito penal é a política criminal –
“direito penal é o modulus formal onde se vazam as proposições de política criminal”.
2. A primeira leitura da lei manda a ideia de legalidade “pelo cano abaixo”:
Art.º 1º - a condução da política criminal compreende a definição de objetivos, prioridades e
orientações em matéria de prevenção da criminalidade, ação penal, definição das penas e medidas
de segurança, … + orientações sobre pequena criminalidade.
=
Vai haver leis que determinarão prioridades incluindo os critérios de exercício da ação penal pelo MP.

Art.º5 – prioridade de certos crimes.


=
Machadada na legalidade? Em vez do pp. de legalidade, segundo o qual se processam todos os
crimes segundo a sua ordem de entrada, teríamos prioridades.
=
Passa a valer o pp. da oportunidade e serão aprovadas leis bianualmente que estabelecem
prioridades e objetivos.

É esta a primeira ideia que uma leitura da lei nos dá, mas na realidade não é bem assim:
(1) Quanto às orientações sobre pequena criminalidade (ex. suspensão, arquivamento em caso de
dispensa da pena) – não se dispensa verificação dos pressupostos do CP.

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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Então para que é que estas leis servem?


(2) Art.º 2º - definição de objetivos, prioridades e orientações não pode prejudicar o pp. legalidade, a
independência dos tribunais e a autonomia do MP, tal como não pode isentar de procedimento
qualquer crime (al. c))

CONCLUSÃO: esta lei não serve para nada – é uma inutilidade nas palavras de JFD MAS é uma
“inutilidade perigosa”: afirma uma cosia que depois nega; mas no capítulo da política criminal
equipara o MP ao Governo que terá de responder pela execução da política criminal em relação às
polícias que ele orienta = saída do MP da esfera do poder judiciário e entrada numa zona do
executivo + art.º 14º - criou mecanismo para que MP respondesse perante governo e AR – isto é que
é perigoso, porque trata o MP como se fosse dependente – art.º 14º! – inconstitucional por violação
da autonomia do MP.

Gerou críticas por parte da doutrina – JLM, JFD, Costa Andrade (ver CRP anotada) – cria disfunção no
sistema entre esta Lei, o EMP e a CRP.

NOTA: podemos passar a adotar o critério da oportunidade, temos é de organizar o MP de outra


maneira.

MAS – felizmente esta lei está um bocadinho morta, porque exige leis bianuais que realmente
existiram (Leis 55/2007, 38/2009), mas deixou de haver, hoje só há lei-quadro.

2) Autonomia em relação aos tribunais – no exercício da sua função de condução processual, o MP é que
decide (pp. do acusatório).

ESTATUTO CONSTITUCIONAL DO MP

1. Não é só o MP como um todo que é autónomo, os próprios agentes do MP são autónomos – faz-se muitas
vezes uma contraposição entre independência dos juízes, que não são subordinados hierarquicamente, e
autonomia dos magistrados, porque estes estão incluídos numa estrutura hierárquica – arts.º 219/4 e 5 CRP.

Porque é que o MP está organizado hierarquicamente?


Por razões de praticabilidade – num contexto inicial, em que o MP era um órgão do poder executivo, era
uma característica natural! Agora, já não são funcionários, são magistrados, mas não são independentes

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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porque seria impraticável – era necessário criar dentro do MP uma forma interna de recurso – passavam a
ser recorríveis na hierarquia do MP todas as decisões que o agente tomava no decurso do processo.

NOTA: não tem necessariamente de funcionar assim, mas a hierarquia é um dado identificador do MP – se
tirarmos a hierarquia, passamos a ter um corpo de juízes independentes!

ASSIM – os magistrados do MP são hierarquicamente subordinados, mas em termos limitados:


(1) Poder diretivo – poder de dar ordens e instruções – art.º 76º nº1 e 3 EMP – mas limitado – art.º 79º EMP
= há quem diga que nem tem nada a ver com hierarquia normal administrativa de tão limitado que é,
porque os magistrados podem recusar ordens ilegais + com fundamento em grave violação da sua
consciência jurídica.
(2) Poder disciplinar – abrange incumprimento de ordens, mas não está entregue a um superior hierárquico
– art.º 219/5 e 220/2.
=
MP é estrutura complexa – cisão entre poder de direção e poder disciplinar:
1) Poder direção – cúpula no PGR (nomeado pelo PR – 133º m)).
(abaixo estão os PG adjuntos; PG distritais; Procuradores).
2) Poder disciplinar – cúpula é Conselho superior do MP.

ASSIM: “no MP quem manda não pune, quem pune não manda” – isto é garantia da autonomia do
magistrado, garante imparcialidade objetiva de quem pune.

(3) Outra diferença da hierarquia normal é a inamobilidade – art.º 219/4 CRP e 78º EMP – não podem ser
transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos, senão nos casos previstos na lei.

ASSIM: expressão orgânica da autonomia do MP = 220º - hierarquia + complexidade + CSMP como garante
da autonomia dos magistrados.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS RELATIVOS AO MP

1. Da existência do processo – falta de MP (ex. acusação por OPC).


2. Da validade do processo:
1) Legitimidade – art.º 119º b) 1ª parte – nulidade insanável – remete para art.º 48º (+ 241º) que prevê
afloramento do pp. da oficialidade (crimes públicos – regra = só é necessário estabelecer exceções)
Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro
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vs. art.º 49º (queixa – 113º e ss. CP + 51º e ss. CPP) – ex. 178/1 CP, 203/2 CP

vs. art.º 50º (queixa + constituição como assistente – 246º nº4 + acusação particular – 285º) – hoje está
reduzido a crimes contra a honra – ex. 178º CP
=
Nestes pode haver desistência até à leitura da sentença.

Queixa = declaração de vontade e não de ciência (n é só descrever factos, é dizer quero que haja
procedimento criminal)
Denúncia = declaração de ciência, porque é crime público.
NOTA: às vezes o CPP fala em denúncia em sentido amplo, englobando a queixa (não é uniforme, porque
disposições têm origens diferentes).

vs. Participação da autoridade pública – ex. 383º CP– exceção ao pp. da oficialidade – regime no art.º 49/4 –
semelhante a queixa de autoridade pública que se mede pela conveniência do serviço; regime jurídico
equiparado ao da queixa – equiparados a crimes semi-públicos.

2) Competência – normalmente MP funciona junto de um tribunal, por consequência nas fases judiciais do
processo, quando há incompetência do tribunal, também há do MP; problema de competência própria
levanta-se no inquérito – 264º e ss.

GARANTIAS DA IMPARCIALIDADE – art.º 54º CPP

RELAÇÕES COM OS OPC

Art.º 48º e ss. – “Do MP e OPC”

Art.º 55º - OPC

Art.º 1º nº1 c) – definição circular de OPC – indiferenciado fala tanto na instituição como agentes; é circular, porque
diz que são OPC os que são determinados pelo CPP, mas as disposições do CPP (ex. art.º 55º) não os determinam,
somos devolvidos para o art.º 1º que novamente não nos diz o que são!

Art.º 1º d) – APC – já define quem são (ex. detenção fora de flagrante delito – 257º nº2).

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1. Competência – art.º 55º


(1) Coadjuvação das autoridades judiciárias (art.º 1º b)) – nº1 – auxiliar:
1) Por delegação – 270º e 290º nº2 = coadjuvação não é em pé de igualdade.
2) Com reserva de direção – 53/2 b), 263º e 288/1
3) Dependência meramente funcional – 263/2 mais para vincar aspeto negativo que positivo = autonomia
orgânica, MP sem poder disciplinar (o órgão na cúpula da PJ é o MJ e na cúpula da GNR e PSP o MAI).

(2) Medidas cautelares e de polícia – própria – nº2 e 248º e ss. – casos em que a urgência implica a prática pelos
OPC de atos que à partida caberia na competência das autoridades judiciárias (art.º 1º b)).
Ex. 249º - apreensões.
MAS – por esta porta entra usurpação de poderes, tem mesmo de ser urgente!
+
Obriga a relatório – art.º 253º para que a autoridade judiciária normalmente competente valide o ato que foi
praticado fora do processo e passa a estar dentro do processo.

2. OPC não são sujeitos processuais – não conduzem o processo; intervêm no inquérito por delegação ou por
competência própria, mas sujeita a validação.

MAS – este esquema pode ter sido alterado pela Lei 49/2008 – Lei da Organização da Investigação Criminal:

1. Quanto aos órgãos, esta lei teve uma função esclarecedora, afastando as dúvidas deixadas pelo CPP - OPC
são as instituições policiais com competência para a investigação criminal – art.º 3º.

Polícia judiciária ou criminal – intervém depois do crime na sua investigação.


vs.
Polícia administrativa – relação preventiva com o crime.

2. MAS – o problema é que esta terminologia é posta em causa, porque na realidade têm competência de
polícia criminal várias polícias, algumas das quais tem antes de mais competência preventiva.
=
(1) PJ (antes PIC) – sempre teve competência judiciária, daí o nome; era ela que intervinha no processo –
hoje não perdeu primazia, mas nalgumas matérias a PSP também tem competência, bem como a GNR
que são instituições primariamente criadas como polícias administrativas.

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=
O resultado é temos hoje 3 OPC de competência genérica – GNR, PSP, PJ (central – mantém competência
reservada – art.º 7º nº2 LOIC – não pode ser delegada noutros órgãos)
+
Outros de competência especifica – ex. ASAE, Inspeção tributária quanto às infrações tributárias, …

(2) Quanto às funções é que é mais confuso – art.º 2º nº1 e nº2 = CPP mas, difere do CPP no seguinte:
1) Acentuar da autonomia técnica e tática
2) Disposição problemática = nº3 – uma certa autonomia faz parte da delegação, sem prejuízo da
direção, mas o perigo desta disposição é o nº3 que parece permitir que têm 10 dias para fazerem o
que lhes apetece e depois devem comunicar o MP, mas podem iniciar investigação!
=
Isto não está previsto no CPP que assenta na existência de um despacho de abertura por parte do
MP – art.º 53º nº1 a) CPP “e apreciar o seguimento a dar” = o MP não é um “arquivador” das
notícias, ele é que é competente para apreciar a notícia da infração, é necessário a apreciação, o que
hoje aflora no regime das denúncias anónimas (art.º 246º nº 5 e 7) – decisão fundamental que tem
de caber ao MP e não aos OPC!
+
Se não tiver havido comunicação ao MP pelo menos imediata podemos correr risco de a
investigação andar por si mesma, sem ser aberta e dirigida pelo MP.
=
Titularidade da ação penal no início do processo não é só saber o que acontece, é ter domínio sobre
abertura dos processo e não é isto que está no nº3, pelo menos literalmente!
Que haja atos cautelares, “tanto faz”; o problema é poder iniciar a investigação sem o MP!
= a titularidade da ação penal compreende a decisão inicial sobre a abertura do processo.
Soluções:
1. Manuel valente – interpretação conforme à CRP – apenas se referes aos atos urgentes (medidas
cautelares e de polícia).
MAS – interpretação literal ressalva uns casos e outros, é difícil ir por aqui! Não há base literal
possível.
2. JLM – nº3 é inconstitucional

3) Nº7 – poder de o MP instruir especificamente = se permite isto, por maioria de razão permite
orientações genéricas na investigação – faz parte do poder de orientar investigação.

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4) Outros poderes conexos – fiscalização, avocação, informação (normalmente magistrados quando


delegam vão estabelecendo prazos para que processos lhes sejam conclusos, para terem informação, para
poderem orientar) – informação não consta do nº7 mas não podem fiscalizar se não tiverem

informação!

6.1.1.3. O ARGUIDO E SEU DEFENSOR

1. O arguido é a personagem central do processo – é sujeito do processo, o dominus litis – art.º 60º e não só objeto
do processo ou meio de prova:
(1) No processo está a ser investigado um ato imputado a arguido = é objecto do processo (crime é facto
humano e isso tem expressão na culpa).
(2) E também releva no processo como meio de prova e o mais importante, porque se foi ele sabe que foi, como
foi, porque foi, em que circunstâncias, mas se não foi normalmente a investigação não erra muito, andou
socialmente la próximo (ex. estava no local, etc.) e aí volta a ser muito importante, porque sabe que não foi
ele, mas pode saber o que aconteceu.
=
Daqui que em estágios atrasados da investigação a confissão se tenha revelado método tão tentador.

O art.º 60º parece um pleonasmo, mas tem muita importância na transição entre o processo inquisitório e o
acusatório.
1) No inquisitório, o arguido é mais objeto e meio de prova – está sozinho perante o juiz.
2) No acusatório não é assim – organiza-se processo de maneira a que seja sujeito e essa qualidade de
sujeito prevalece sobre as outras – a prova disso é o direito ao silêncio – art.º 61º d).

Arguido não é o investigado, o suspeito, a pessoa mais qualificada para falar com os factos, é quem?

1. Compreende-se fazendo um contraponto do assistente – podem ambos ajudar a compreender melhor,


através de uma discussão participada, mais completa.
2. É o único que não cumpre uma função, mas exerce um direito = direito de defesa
3. É a única parte em sentido material (supra) quanto à questão penal.
4. Contrariamente ao PC, defesa é pessoal – não há substituição do arguido pela figura do advogado – o
advogado exerce alguns atos, mas muitos outros não e o arguido até tem maneira de sobrepor os seus
atos de defesa sobre os do defensor.
Art.º 61º - “assistido” e não “representado” – só não é bem assim nos atos de natureza técnica.

POSIÇÃO PROCESSUAL DO ARGUIDO (e não do imputado não arguido)

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A. ESTÁTICA – posições jurídicas subjetivas que se incluem na posição de arguido:


1. EXIGÊNCIAS CONSTITUCIONAIS
(1) Art.º 32º nº1 1ª parte – o processo penal assegura todas as garantias da defesa – cláusulas abertas
(supra).
MAS – temos de entender este artigo cautelosamente – “todas” = uma garantia próxima da que
consta dos textos internacionais com influência equitativa do due process of law = o processo tem de
ser equitativo, globalmente considerado.
(2) Depois a CRP enumera várias garantias, mas o nº1 é uma cláusula aberta (supra).
(3) Art.º 32º nº2 – presunção de inocência também é uma cláusula aberta:
1) Na decisão da matéria de facto – in dubio pro reo (falta prova) seja dúvida sobre materialidade
do facto, culpa do agente, causa de justificação – como é que se exprime dogmaticamente? Ideia
de que quem tem presunção a seu favor inverte ónus da prova segundo doutrina francesa – é
assim, porque há presunção de que ele é inocente ou o mais inocente possível.
2) Mas a presunção de inocência evoluiu – tem campo de ação privilegiado em matéria probatória,
deixou de ser vista como forma de explicar dogmaticamente o in dubio pro reo (regra de decisão
da matéria de facto ilíquida), para se transformar num pp. geral de tratamento do arguido no
processo.
=
É princípio geral do processo penal – exigência de tratamento do arguido no processo como
inocente. O que quer dizer?
(1) Ideia de que arguido sabe o que fez e contrária ao pp. da presunção de inocência – foi esta
ideia que fez com que não se desse ao arguido informações sobre os factos que lhe eram
imputados (ele sabe o que fez, temos de ver se o apanhamos).
=
Gerou uma grande controvérsia, hoje resolvida no art.º 141º nº4 d) e e) que advieram como
imposição da jurisprudência constitucional.
Ac. TC 416/2003 (concretização necessária a que um inocente possa ficar ciente) – ver
materiais.

(2) Batalha do segredo de justiça que vigorou muito tempo na fase de inquérito sem
possibilidade de atenuações; se não houver razões especiais devo deixar arguido aceder aos
autos para depois colaborar na descoberta da verdade – art.º 89º mesmo quando processo
está em segredo.
(3) Em particular em medidas de coação – campo privilegiado de alguns entorses da presunção
de inocência – não são incompatíveis com esta presunção, não são impostas para antecipar
punição, mas para prover a fins diferentes (204º).

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=
Quando de facto, os órgãos judiciários na sua atividade pensam as coisas de outra maneira,
presumindo pressupostos da prisão preventiva pela ideia de antecipar pena, então violam a
presunção de inocência.
Ou quando não há rigor e cuidado na aplicação dos pressupostos (ex. é rico vai fugir)
2. A POSIÇÃO NO CPP
Direitos do arguido
(1) Direitos de participação ativa (art.º 61º - não taxativo):
1) Direito de presença (61/1 a)) – direito a estar presente em atos processuais que envolvam
diligências processuais que lhe digam diretamente respeito.
2) Direito a ser ouvido (61/1 b)) – o direito de audiência é o direito a ser ouvido:
i. Está limitado nas fases de inquérito e de instrução, mas concretiza-se no interrogatório
destas fases (272/1 e 292/2).
ii. Na fase do julgamento é obrigatória a audiência do arguido.

Este direito não é apenas o direito a ser ouvido sobre os factos que lhe são imputados, mas o
direito a ser ouvido sempre que o tribunal pensar em tomar qualquer decisão que o possa
afetar.

3) Direito de intervenção promotiva (61/1 g) e i) + 98/1 in fine) – é, por exemplo, o direito de


oferecer provas, requerer diligências, etc. = participar ativamente no processo.

(2) Direitos de participação passiva (tutela da posição de arguido):


1) Ao silêncio – art.º 61/1 d), 359/2 CP – tem dever de declarar a sua identidade + art.º 133/1 a)
não pode depor como testemunha. Não pode haver punição da mentira (testemunha pode),
mas deve responder com verdade sobre as perguntas relativas à identidade e antecedentes
criminais (141/3, 143/2 e 144).
2) A defensor – ideia de que o arguido não tem serenidade nem preparação jurídica necessária
para estruturar a sua defesa (nem liberdade de movimentos) – se o arguido for condenado, fica
obrigado a pagar os honorários do defensor oficioso = deve ser assegurada a comunicação em
privado entre o defensor e o arguido.
+
O direito do arguido a defender-se a si próprio não é incompatível com este direito a defensor
porque o defensor é um garante da legalidade e da posição do arguido.

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60

4) À informação (61/1 c) e h) + 141º e ss.) – consiste no direito de ser informado dos factos que lhe
são imputados antes de prestar declarações (Ac. TC 04/06/03 – supra).

Deveres do arguido – defesa pessoal e “disponibilidade” para o processo:

(1) Dever de comparência – art.º 61º nº3 a) – dever de estar presente perante o juiz/polícia criminal/MP
sempre que a lei o exija.
1) Prevê-se a falta de comparência justificada (116º e 117º).
(2) Dever de identificação pessoal e de residência – dever de responder com verdade às questões relativas
à sua identificação pessoal – art.º 61º nº3 b) c) e 196º nº3 (dever de prestar termo de identidade e
residência logo que se constitua arguido)
1) A falsidade das declarações tem como consequência crime de desobediência e falsas declarações.
(3) Sujeição a diligências de prova e medidas de coação – art.º 61º nº3 d) – dever de se sujeitar às
diligências de prova requeridas pelas entidades competentes assim como às medidas de coação
estritamente previstas na lei.

B. VERTENTE DINÂMICA DA POSIÇÃO PROCESSUAL DO ARGUIDO – está em causa a aquisição e a perda da


qualidade de arguido.
AQUISIÇÃO DA QUALIDADE DE ARGUIDO
Nem todo o imputado (ou “suspeito”) é arguido, exige-se uma imputação de especial consistência.
Para que alguém seja constituído arguido é necessário um facto complexo de produção sucessiva (um iter):
I. Ato ou situação-fundamento – art.º 57º nº1, 58º nº2 e 59º nº1 e 2:
b) Sempre que há dedução de acusação ou abertura de instrução – 57º
c) Sempre que haja prestação de declarações perante entidade e haja fundada suspeita de que ele
praticou o crime – 58º nº1 a) e 272º
d) Sempre que haja lugar à aplicação de medidas de coação e de garantia patrimonial – 58º nº1 b)
e) Quando haja detenção de suspeito (254º e 261º) – 58º nº1 c)
f) Levantamento e comunicação de auto de notícia indicando agente – 58º nº1 d) e 243º
g) Prestação de declarações fortemente indiciantes – 59º nº1
h) Diligências que o afetem pessoalmente – 59º nº2 (a requerimento)
(tem interesse em ser arguido e não testemunha, porque ai não tem direito ao silêncio!)

II. Procedimento (se não for verificado = art.º 58º nº5 = declarações não podem ser usadas como prova =
nulidade da prova):

a. Advertências feitas ao arguido (57/3, 59/1, 58/2);


b. Entrega de documentos ao arguido (57/3, 59/3, 58/4);
Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro
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c. Sujeição do arguido a termo de identidade e residência (61/3 a)) e 196/1)


d. Sujeição do procedimento a validação por parte da autoridade judiciária (58º nº3 e 6) – o TIR também
está sujeito a validação – 196º- está sujeito a validação pq é uma medida da ação.
e. Primeiro interrogatório do arguido – é um primeiro passo do procedimento? Sim, é obrigatório, é
primeiro meio de defesa. Mesmo que não fosse claro, era obrigatório!
(1) Por força dos arts.º 272º, 294/2, 141º e 381º o problema encontra-se atualmente limitado –
entende-se que o arguido deve ser interrogado em todos os casos, logo que haja constituição de
arguido.
(2) No entanto a questão coloca-se – art.º 58º nº1 d) e 59º

COMPETÊNCIA PARA OS INTERROGATÓRIOS DE ARGUIDO

Interrogatório de arguido em liberdade – competência do MP com possibilidade de delegação (272º e


144º). Discute-se se MP pode fazer interrogatório, logo por maioria de razão nem delegação podia haver!
Inquérito é dirigido pelo MP – 144º nº2 diz que b) e e) do 141/4 não se aplicam em caso de delegação.
Possibilidade discutida de delegação. JLM – o interrogatório do arguido é instrumento de defesa que tem
que ver com DF = devia ser juiz de instrução e não MP; ainda mais delegação se questiona! É garantia de
defesa do arguido.

Interrogatório de arguido detido:

Judicial – competência do juiz de instrução (141º);

Não judicial – trata-se de um interrogatório sumário que não substitui o judicial – competência do MP com
possibilidade de delegação – 143º - é mera formalidade, ou liberta ou apresenta a interrogatório judicial.

Subsequentes – 144º

OMISSÃO INTERROGATÓRIOS DE ARGUIDO = nulidade – desde 1998 é obrigatório, é meio de defesa do


arguido porque dá-lhe antes da acusação direito de se defender – art.º 120º nº2 d)

E testemunhas? 270/1 MAS Nº2 = só MP, não delegável – 128º e ss. CPP = DELEGAÇÃO APENAS COM
RESTRIÇÕES DO 270º

E se for suspeito? Analogia com arguido, mas 250/8 = parece que OPC podem, mas em moldes similares ao
arguido.

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


62

E O IMPUTADO NÃO ARGUIDO (“suspeito”)?

É uma questão minorada pelo art.º 132º nº4 e também pelo art.º 59º nº2, mas não resolvida.

Art.º 1º nº1 e) CPP – SUSPEITO = toda a pessoa relativamente à qual exista indício de que cometeu ou se
prepara para cometer um crime, ou que nele participou ou se prepara para participar.

1. O simples suspeito não é sujeito processual e como tal, não é titular de direitos nem está sujeito a
deveres processuais especiais.
2. Passa a arguido nos casos do 58º e 59º
3. A maioria da doutrina entende que o suspeito deve ser tratado como testemunha, ficando sujeito ao
dever de dizer a verdade, incorrendo em crime de falso testemunho se não o fizer ou se recusar a depor
(360º CP), e podendo, se prestar depoimento, as suas declarações ser utilizadas contra ele ou contra
terceiros se posteriormente vier a ser constituído arguido.
4. MAS:

GMS – entende que, embora deva ser tratado como testemunha, as suas declarações não poderão vir a
ser usadas contra si, à semelhança do que sucede com as declarações prestadas pela pessoa que devia
ter sido constituída arguido e não o foi (58º nº5 CPP). É uma testemunha assistida, acaba por na prática
ser igual a JLM, porque atribui direitos de participação passiva.

JLM – quando haja imputação que adquira especial consistência, o suspeito assume uma posição
processual própria, entende que o suspeito goza dos direitos de participação passiva do arguido
enunciados no 61º – direito ao silêncio e ao defensor + interrogatórios similares aos do arguido. Mas
esta questão está minorado pelo 132º nº4 que dá possibilidade de a testemunha se fazer acompanhar
de advogado (quanto ao direito ao defensor), quanto aos outros direitos não. Se diz que suspeito tem
direito ao silêncio então 58º nº5 também se aplica, como defende GMS.
=
Defendem criação de uma situação intermédia entre o arguido e a testemunha que não pode intervir
em qualquer outra veste, incluindo a de testemunha.

5. O suspeito ainda não arguido deve ser constituído arguido logo que das suas declarações resultem
elementos para a sua incriminação, pois a partir desse momento passa a haver suspeita fundada (58/1
a) CPP).

O DEFENSOR

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Art.º 32º nº3 CRP – o arguido tem direito a escolher defensor e a ser por ele assistido em todos os atos do processo,
especificando a lei os casos e as fases em que essa assistência é obrigatória

Art.º 62º CPP – o arguido pode constituir advogado em qualquer altura do processo e que nos casos em que a lei
determinar que seja assistido por defensor e o arguido não o constituir ser-lhe-á nomeado um, mesmo que a tal se
oponha (nº2 e 3).

O arguido tem o direito de constituir defensor, desde o momento em que adquire a qualidade de sujeito processual,
ou solicitar ao tribunal que lhe nomeie um (62/1 e 61/1 e)).

RAZÕES DA NECESSIDADE DE DEFESA PARA O ARGUIDO: perturbação das faculdades (pelas suas condições
psicológicas) + inferioridade estrutural e técnico-jurídica e eventualmente limitação da liberada de movimentos (se,
por exemplo estiver em prisão preventiva ou domiciliária).

1. O defensor é o sujeito processual através do qual pode, e nalguns casos deve, ser exercida a função
defensiva do arguido.
2. No âmbito da função defensiva, o defensor exerce a defesa técnico-jurídica.
3. A defesa consiste na atividade destinada a fazer valer no processo os direitos subjetivos e outros interesses
jurídicos do arguido – é uma atividade complexa e unitária que abrange a autodefesa pelo próprio arguido e
a defesa técnica exercida pelo defensor.
4. O defensor do arguido não é defensor do crime, mas da Justiça e dos direitos e interesses jurídicos do
arguido – o defensor exerce uma função de interesse geral, quer garantindo a regularidade do processo em
ordem à realização da Justiça e descoberta da verdade, quer auxiliando o arguido a fazer valer os seus
direitos e interesses jurídicos.
=
É elemento essencial da administração da justiça e a sua função é também “ministério público” + o defensor
é órgão autónomo da administração da justiça.

MAS – esta ideia de legalidade e justiça do processo que o defensor visa tem de ser entendida de modo
parcial: só pode agir a favor do arguido
5. A sua intervenção por operar por via da:
(1) Representação do arguido como sujeito processual (278º, 315º, 319º, 360º, 411º ), com atenção ao art.º
63º nº2 = o arguido pode retirar eficácia ao ato realizado em seu nome pelo defensor, desde que o faça
por declaração expressa anterior a decisão relativa àquele ato.
(2) Assistência do arguido como sujeito de prova – é a regra geral (61/1 f) e 64º - obrigatoriedade de
assistência) = o defensor não se substitui ao arguido.
6. Existe uma tutela da função de defesa operada pelo defensor, através:

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(1) Da comunicação com o arguido (61/1 f) e 61/2)


(2) Do segredo profissional (135º, 177/5, 180º).
7. O advogado constituído pelo arguido (61/1 e 62/1) pode ser advogado ou advogado estagiário – art.º 189º
EOA.
8. O defensor pode ser nomeado por solicitação do arguido – 61º nº1 d) 2ª parte; ou oficiosamente – 64º nº1,
2 e 3.

6.1.1.4. O ASSISTENTE

Sujeito processual?

1. A intervenção dos particulares no processo penal é por muitos contestada por poder constituir um fator de
perturbação, pois não é de esperar que tenham a objetividade e a imparcialidade que devem enformar o
processo penal ou que sejam motivados pela colaboração com o MP em ordem à boa realização da justiça.
2. MAS – é por muitos considerada como uma excelente e democrática constituição (GMS e JML), na medida em
que:
(1) Por um lado, o assistente enriquece a discussão sobre o objeto do processo
(2) Por outro lado, o MP não fica sozinho no processo (se arquivar, o assistente pode requerer abertura de
instrução e há como que uma fiscalização do Ministério Público)
(3) Por fim, há uma pacificação e convencimento do assistente relativamente à efetivação do caso julgado.

 Vem de longe a tradição portuguesa da intervenção dos particulares no processo penal.


 Na estrutura atual, encontra a sua fonte no CP de 1852, que determinou que certos crimes só podiam ser
perseguidos pelo MP havendo participação de determinadas pessoas.
 Hoje, esta intervenção de particular no processo é uma derivação de disposições constitucionais (art.º 52º
nº3 e 32º nº7 CRP).

Portanto, deve-se definir o assistente como sujeito processual que intervém no processo como colaborador do
MP na promoção da aplicação da lei ao caso e legitimado em virtude da sua qualidade de ofendido, de especiais
relações com o ofendido pelo crime ou pela natureza do próprio crime (68/1 CPP).

O ASSISTENTE E O OFENDIDO, O LESADO E O QUEIXOSO

O assistente distingue-se processualmente do ofendido e do lesado.

1. OFENDIDO – não é sujeito processual, salvo se se constituir assistente;

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2. LESADO – enquanto tal, nunca pode constituir-se assistente, mas apenas parte civil para efeitos de deduzir
pedido de indemnização civil.
MAS – o lesado, sendo aquele que sofreu danos com o crime, pode coincidir e coincide muitas vezes com o
ofendido e, por isso, pode também constituir-se assistente, por ser ofendido.
3. QUEIXOSO – independentemente de se constituir ou não como assistente, tem o poder de a todo o tempo, até à
publicação da sentença da primeira instância, desistir da queixa (116º nº2 CP):
(1) Nos crimes particulares, dada a necessidade de constituição de assistente para que o procedimento seja
instaurado, pode parecer que há plena identificação de posições processuais a partir do momento em que o
queixoso é constituído formalmente como assistente, mas não é inteiramente assim:
=
No caso de morte ou incapacidade do assistente, o titular do direito de queixa que lhe suceda pode desistir
da queixa apresentada, sem necessidade de assumir o estatuto de assistente.
+
O queixoso não é sujeito processual enquanto não for constituído assistente.

CONSTITUIÇÃO DE ASSISTENTE = condição de legitimidade – art.º 50º nº1 + 246º nº4 2ª parte. DINÂMICA – art.º 68º
nº2 e 246º nº4 2ª parte.

Art.º 68º nº1 – enumera as pessoas que têm legitimidade para se constituírem assistentes no processo:

a) Ofendido = titular do interesse que constitui objeto jurídico imediato do crime e que, por isso, nem todos os
crimes têm ofendido particular, só o tendo aqueles em que o objeto imediato da tutela jurídica é um interesse ou
direito de que é titular uma pessoa – crimes com bens jurídicos individuais ainda que públicos (ex. 131º + 22º e
ss., 144º).
b) Se o ofendido morrer ou for incapaz, o direito de queixa e de acusação particular pertence aos seus parentes ou
representante legal (113º CP).
c) Refere-se tanto aos crimes públicos como aos semipúblicos e particulares, mas a ressalva da renúncia ao direito
de queixa só respeita evidentemente aos crimes semipúblicos e particulares.
d) Valem, com as necessárias adaptações, as considerações feitas na alínea c).
e) Está prevista a possibilidade de qualquer pessoa se poder constituir assistente nestes crimes (ação penal
popular), justificando-se pelo desejo de obter a colaboração de todos na deteção e processamento de tais crimes
– quivis de populu.
1. A propósito desta alínea tem-se suscitado a dúvida se as pessoas coletivas podem também constituir-se
assistentes, independentemente dos seus fins.

A jurisprudência tem vindo a considerar que sim, dado que a lei se refere simplesmente a pessoas, sem
distinguir se são pessoas físicas ou também pessoas meramente jurídicas.
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GMS – entende que esta alínea apenas respeita às pessoas físicas singulares, porque as pessoas coletivas
têm uma capacidade de gozo limitada, correspondente aos fins que prosseguem (160º nº1 CC) = para poder
constituir-se como assistente é preciso que se trate de pessoa que tenha a necessária capacidade para estar
em juízo.
 A constituição de assistente opera por despacho do juiz sobre requerimento do interessado, depois de o MP
e o arguido se pronunciarem sobre o requerido (68/4), constituindo um incidente processual da
competência da jurisdição.
 Os assistentes podem ser constituídos em qualquer altura do processo, aceitando-o no estado em que se
encontrar, desde que o requeiram ao juiz até cinco dias antes do início do debate instrutório, ou da
audiência de julgamento (68/3 a)), ou no prazo para deduzir acusação subsidiária da do Ministério Público
ou para requerer a instrução (284º, 287/1, 68/3 b)).
 Tratando-se de crime particular, é obrigatória a constituição de assistente (50º nº1), que deverá ser
requerida no prazo de dez dias a contar da apresentação da queixa (68º nº2 e 246º nº4).
NOTA: nos arts.º 241º e 246º CPP o legislador fala sempre em denúncia em sentido amplo (englobando não
só a denúncia mas também a queixa).

(VER MATERIAIS)

ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE

COMPETÊNCIA EM GERAL

1. Os assistentes colaboram com o MP a cuja atividade subordinam a sua intervenção no processo, salvas as
exceções da lei (69º) = dependência geral ou mera exigência de litisconsórcio?
(1) A posição de subordinação do assistente à atividade do MP, à parte das exceções admitidas e o regime
especial que a lei porventura formule para certas intervenções dos assistentes significa que só podem
assumir posições no processo compatíveis com a posição do MP?
MAS – esta seria a consequência natural da subordinação e colaboração, mas o que sucede é que a lei
estabelece numerosíssimas exceções em que o assistente pode agir com independência do MP.
=
GMS – atualmente a colaboração é essencialmente indireta, na busca da realização da justiça e na indicação
de meios de prova e a subordinação é muito limitada! Ele não vem ao processo para ser um ”yes men”. Já
sabemos que no momento fundamental o assistente pode divergir do MP (ex. MP arquiva e assistente
requere abertura da instrução).
Esta subordinação não quer dizer que assistente seja um OPC funcionalmente dependente do MP, não é
assim – o assistente como sujeito processual tem autonomia! Ex. pode recorrer sem o MP (discussão
doutrinária e jurisprudencial – infra).

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Esta subordinação tem de ser bem entendida. Tem autonomia, mas nunca está sozinho no processo.
= esta subordinação significa sobretudo a exigência de um litisconsórcio necessário ativo! Mas não age no
processo segundo MP, mas segundo a sua autonomia, isto apesar de uma jurisprudência errada de que se
arguido for condenado em 1ª e se se colocar a questão de saber se a medida da pena foi bem determinada –
STJ diz que assistente não pode recorrer sem o MP (AUJ). Orientação excecional, perante orientação global
de que está no processo para fazer aquilo que entende. Naturalmente que muitas vezes há uma certa
consonância e colaboração e afinamento de estratégias entre MP e assistente, MAS isso é uma opção do
assistente.

COMPETÊNCIA EM ESPECIAL

1. A intervenção do assistente no inquérito limita-se a oferecer provas e requerer diligências (69/2 a)) – trata-se de
atividade subordinada à atuação do MP, de colaboração com este (supra).
2. Os assistentes podem deduzir acusação, independentemente da do MP, e, no caso de procedimento dependente
de acusação particular, ainda que ele não a deduza (69/2 a) + 284º e 285º).
Art.º 284º - dispõe que até 10 dias após a notificação da acusação do MP, o assistente pode também deduzir
acusação.
=
(1) Crimes públicos e semipúblicos:
1) O assistente não pode acusar se o MP não o tiver feito
2) Tendo o MP acusado, pode:
a. Aderir à acusação já deduzida (284/2 a)); ou
b. Acusar autonomamente pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros que não importem
alteração substancial daqueles.
3) Se o Ministério Público não acusar, nos crimes públicos e semipúblicos, o assistente também não o pode
fazer.
=
Resta-lhe, se discordar da posição assumida pelo MP, requerer a abertura da instrução.

4) O mesmo acontece relativamente a factos pelos quais o Ministério Público não tenha deduzido acusação
e o assistente entender que o deveria ter feito, desde que esses factos não importem alteração
substancial da acusação (287/1 a)).

(2) Crimes particulares – findo o inquérito, o Ministério Público notifica o assistente para, querendo, deduzir
acusação particular (285/1).

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1) Só se o assistente acusar é que o Ministério Público pode também acusar, mas não tem o dever de fazê-
lo;
2) Se acusar só pode fazê-lo pelos mesmos factos constantes da acusação particular, por parte deles, ou por
outros que não envolvam alteração substancial (285/3).
3) Entende-se que o Ministério Público tem sempre de se pronunciar, pois é a ele que compete encerrar o
inquérito e nestes crimes o encerramento deste é formalizado com a tomada de posição do Ministério
Público relativamente à acusação particular.

3. O assistente tem também legitimidade para recorrer das decisões que o afetem (69/2 c)), 401/1 b)) – esta
limitação é mera consequência do pressuposto do interesse em agir que é pressuposto do recurso (400º).
(1) A legitimidade do assistente para recorrer é mais limitada que a do MP, porque este último pode correr de
quaisquer decisões. As decisões que afetam o assistente/são proferidas contra ele são decisões contrárias às
pretensões por ele sustentadas no processo.
(2) Tem sido entendimento dominante na jurisprudência que o assistente não tem legitimidade para recorrer
relativamente à espécie e medida da pena, salvo quando demonstrar em concreto o interesse em agir ou quando
adira ao recurso do Ministério Público – ver materiais.
GMS e JLM duvidam desta solução.

6.1.1.5. AS PARTES CIVIS

Os factos que são objeto do processo criminal (1/1 a) CPP) podem ser também fundamento de responsabilidade
civil, enquanto lesem interesses suscetíveis de reparação patrimonial, nos termos da lei civil (129º CP) = problema de
conexão processual.

Para isso, é necessário que a parte lesada peça ao tribunal a condenação do civilmente responsável na indemnização
por perdas e danos.

PRINCÍPIO DA ADESÃO

Este pedido é formulado no próprio processo penal em que se julga da responsabilidade penal pela prática do crime
objeto da acusação (princípio da adesão) – art.º 71º CPP = ação civil no processo penal!

≠ sistema da alternatividade – o pedido de indemnização civil pode ser proposto ou diretamente no processo penal
ou em ação civil autónoma, embora entre os dois processos se estabeleça uma certa dependência com reflexos
processuais (ex. suspensão do processo civil até que seja decidida a questão penal).

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1. O pedido de indemnização civil só pode ser deduzido em separado nos casos previstos no art.º 72º.

(1) adesão facultativa por inconveniência (excessiva onerosidade) da adesão – a) b) d) g) h) e i); ou por extinção
do processo penal sem conhecimento – b) e e).

(2) Quando a dependência pretendida é frustrada pelo próprio interessado (71/1 c) e 71/2), porque as pessoas
com direito de queixa ou de acusação deduzem autonomamente o pedido civil perante o tribunal civil, a lei faz
extinguir o direito de queixa ou de acusação, donde que o facto gerador de responsabilidade civil passe apenas a
ser considerado na perspetiva civil – extinção do direito de queixa ou acusação particular.

Se a instauração da ação civil preceder a queixa, valerá como renúncia, mas se depois de formulada a queixa se
verificar alguma das condições previstas no art.º 72º, e que permitem a dedução do pedido de indemnização civil
em separado, essa permissão vale também para os crimes semipúblicos e particulares.

Se, tratando-se de crime público, for instaurado pedido de indemnização civil em separado, sem observância das
condições estabelecidas no art.º 72º, a ação civil não pode prosseguir, por falta de um requisito de validade que
se reflete na competência do tribunal – o tribunal é então materialmente incompetente e consequentemente o
réu na ação civil deve ser absolvido da instância.

REPARAÇÃO DA VÍTIMA EM CASOS ESPECIAIS. ATRIBUIÇÃO DE REPARAÇÃO PELOS PREJUÍZOS SEM PRÉVIO
PEDIDO

Art.º 82º-A – determina que não tendo sido deduzido pedido de indemnização civil no processo penal ou em
separado, o tribunal, em caso de condenação, pode arbitrar uma quantia a título de reparação pelos prejuízos
sofridos quando particulares exigências de proteção da vítima o imponham.

GMS – não parece constituir uma verdadeira indemnização civil, estando a meio caminho entre a pena e a
indemnização.

A partir do Código de Processo Penal de 1988 entendeu-se que a indemnização não podia ser arbitrada
oficiosamente pelo juiz, mas tinha de ser pedida. No entanto, entende-se que a indemnização civil tem um papel a
desempenhar na ação penal e, por isso, avisam-se os lesados (75º) e pode haver este arbitramento de reparação.

Esta reparação é atribuída oficiosamente a vítimas particularmente carecidas de proteção, sendo fixada a critério do
julgador. O obrigado ao pagamento é o responsável penal e não o responsável civil.

LEGITIMIDADE PARA O PEDIDO CIVIL

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1. O pedido de indemnização civil é pedido pelo lesado, isto é, pela pessoa que sofreu danos ocasionalmente pelo
crime, ainda que não tenha constituído ou não possa constituir-se assistente (74/1) – pode ser ofendido e/ou
assistente ou não (ex. 495º).
2. O lesado deve fazer-se representar por advogado, nos termos do art.º 76º.
3. O pedido pode ser deduzido ou só contra o arguido ou também contra pessoas com responsabilidade
meramente civil ou só contra estas – aqui valem inteiramente as regras de legitimidade passiva aplicáveis ao
processo civil (73º) – ex. seguradora.

TRAMITAÇÃO DA AÇÃO CIVIL

1. O pedido de indemnização civil, quando formulado pelo MP ou pelo assistente, é deduzido na acusação ou no
prazo em que esta deve ser formulada (77/1).
2. Se o lesado não for assistente, há que distinguir duas situações (77º nº2 e 3):
(1) Tiver manifestado o propósito de deduzir o pedido de indemnização civil, nos termos do art.º 75/2, caso
em que pode deduzir o pedido no prazo de 20 dias da notificação que lhe é feita do despacho de acusação,
ou, não havendo, do despacho de pronúncia, se a ela houver lugar.
(2) Não tiver manifestado o propósito de deduzir pedido de indemnização civil ou se não tiver notificado nos
termos da alínea anterior, pode deduzir o pedido até 20 dias depois de ao arguido ser notificado o
despacho de acusação ou, se não o houver, o despacho de pronúncia.
3. Salvo no caso do nº4 do art.º 77º, o pedido de indemnização civil deve ser articulado.
4. O demandado é notificado para contestar, querendo, no prazo de 20 dias, sendo que a falta de contestação
não implica a confissão dos factos (78/3).
5. Se não dispuser de elementos bastantes para fixar a indemnização, o tribunal condena no que se liquidar em
execução de sentença – neste caso, a execução corre perante o tribunal civil, servindo de título executivo a
sentença penal (82/1).
6. A tramitação processual do pedido de indemnização civil segue o processo penal e não o processo civil. Por
isso o demandado tem os mesmos poderes processuais que assistem ao arguido no que respeita ao pedido.

NOTA: 82º-A (arbitramento oficioso da reparação) + informação ao lesado (75º).

EXTINÇÃO DO PROCEDIMENTO CRIMINAL

Se houver extinção do procedimento criminal por prescrição, o que acontece ao pedido de indemnização civil?

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1. Se a prescrição ocorrer antes do despacho do art.º 311º, não continua o processo porque ainda não há
estabilização da instância e, antes da estabilização, pode ainda não ter havido pedido de indemnização cível.
2. Se for depois da audiência de julgamento, é óbvio que se vai conhecer do pedido cível (economia processual).
3. A questão coloca-se depois do despacho do 311º e antes da audiência de julgamento:

Ac. STJ AUJ 3/2002


Atendendo à economia processual, à pluriofensa da ilicitude penal (incluindo-se aqui o dano causado), e ao
art.º 377º, o STJ é favorável à continuação do processo para se conhecer do pedido cível, prosseguindo o
processo criminal com as regras dos arts.º 71º e ss. (JLM concorda).

6.1.2. O OBJECTO DO PROCESSO

6.1.3. OS ACTOS DO PROCESSO: ASPECTOS FUNDAMENTAIS

1. São uma categoria de atos jurídicos – atos jurídicos com efeitos processuais.
2. Cada ato não vale por si mesmo, isto é que é específico dos atos processuais – expressão da dinâmica do
processo – “o ato como partícula do movimento” + conexão teleológica entre atos processuais – visam o
mesmo fim.
3. Os atos processuais são de uma variedade enorme: declarações (de vontade ex. queixa, desistência,
acordo; de ciência ex. testemunhas, denúncia) e operações (atos materiais); atos decisórios e não
decisórios – art.º 97º.
4. Estes atos processuais – 85º e ss. – não estão regulados exaustivamente no CPP; há muitos aspetos do
regime dos atos processuais que não estão no CPP e não é só pela aplicabilidade subsidiária do CPC – Livro
II CPP + aplicabilidade de princípios gerais (ex. interpretação de atos declarativos).

NOTA: não vamos estudar o regime geral dos atos processuais, nem estudar todos os assuntos relativos aos atos
processuais.

Vamos estudar: publicidade e segredo de justiça; forma e documentação dos atos; nulidades.

PUBLICIDADE E SEGREDO DE JUSTIÇA

Segredo = negação da publicidade. Onde acabar publicidade começa o segredo e vice-versa.

(se é cumprido na prática é difícil dizer…)


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Âmbito:

1. Externo – público em geral – o processo penal diz respeito a toda a comunidade, porque o crime ofende ordem
jurídica = o pp. é o da transparência – MAS até que ponto é que o que se passa no processo penal deve ser
conhecido do público em geral, incluindo meios de comunicação social?
(1) Se o processo for público externamente, claro que é público internamente público!
MAS pode suceder que um processo que seja secreto para fora e não seja secreto internamente.
2. Interno – para certos sujeitos processuais (arguido, assistente) – aquelas pessoas chamadas ou admitidas a
discutir o problema.
=
Temos dois planos do segredo e publicidade. Não são independentes, porque não seria lógico que fosse público
para fora e secreto internamente (isto é perversão do sistema!).

O que posso fazer quando processo é público que não posso fazer quando é secreto? Ter acesso ao processo, mas
o que significa isso, que faculdades?

A lei responde explicitamente no art.º 86º nº6 – publicidade =

1. assistir aos atos,


2. narrar o que lá se passou,
3. consultar autos e obter cópias e certidões dos mesmos.

Art.º 86º nº8 – segredo – falta al. c) por comparação com o nº6, porque na al. c) do nº6 não é para toda a gente,
mesmo quando processo é publico, tem de ter interesse legitimo (art.º 89º e 90º).

O processo penal à partida deve ser secreto ou público?

REGRA = PUBLICIDADE, porque visa realização da justiça que é função comunitária de soberania; crime é ofensa à
comunidade = comunidade é interessada em saber se crime foi cometido (crime é ofensa a bens socialmente
relevantes) e responsabilidade dos agentes – art.º 86º nº1.

O que temos de justificar não é a publicidade, é o segredo.

Porque é que deve haver segredo?

Honra e bom nome das pessoas até haver acusação (porque aí já há juízo de indiciação suficiente*); evitar
perturbações no processo; defender ofendido; …

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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Defesa dos direitos dos participantes processuais; antes de mais da honra e paz do arguido (externo) + eficácia da
investigação (interno e externo).

MAS porque por fases? Porque a dada altura processo tem de ser público, nem que seja na sentença = a partir de
certa fase estas justificações não desaparecem, mas já são custos aceitáveis (porque já há indiciação suficiente, por
ex.*). Não existe um sistema em que o segredo de justiça vá até ao final do processo.

MAS – há casos em que mesmo processo sendo público, há atos que não são.

EVOLUÇÃO

CPP 1987 – secreto obrigatoriamente até final do inquérito ou se requerido até ao final da instrução.

REFORMA 1998 – secreto até inquérito; na instrução dependia do requerimento do arguido, ser ou não secreto.

REFORMA 2007 – art.º 86º nº1 = REGRA = publicidade.

MAS – parte da publicidade externa, mas pode acontecer que, em atenção às razões supracitadas, seja determinado
o segredo de justiça pelo tribunal ou MP no inquérito, já nna instrução é sempre público!

ASSIM – REGRA = PUBLICIDADE.

MAS – mesmo quando é público, há limites à publicidade que não é sempre total, mesmo que não seja decretado o
segredo:

1. art.º 86º nº7


2. à assistência (à audiência, não à sentença) – 87º nº1 2ª parte e ss.
3. à consulta de autos e obtenção de copias – 90º - exige interesse legítimo.

EXCEPÇÃO = SEGREDO – decretado pelo juiz no nº2 (coerente porque é ato que se prende com DLG) e MP no nº3:

1. Determinação do segredo no inquérito – 86º nº 1 e 5


2. Limites ao segredo – 86º nº9 e ss. – tal como a publicidade não é absoluta, o segredo também não o é!
3. Âmbito subjetivo do segredo – pessoas vinculadas – 86º nº8; meios de comunicação social – 88º
Violação = 371º CP.

Houve discussão sobre quem estaria vinculado: só viola o magistrado ou OPC, ou funcionário, ou escrivão que,
violando o seu dever, dá informação que não deve, eu meio de comunicação divulgo, mas não violo! Discutiu-se =
Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro
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só sujeitos e intervenientes no processo ou dever geral? Jornalista diz que lhe chegou à mão e ele não tinha de
saber se era secreto (já que a regra é a publicidade – antes quando era secreto não era assim).

MAS – o crime de violação de segredo de justiça não é um crime próprio – não se exige que seja pessoa com
relação com o processo, nem que tenha estado em contacto com ele! Isto foi a ultrapassagem desta discussão.

Os interesses que subjazem ao segredo são interesses que a todos vinculam! Na última reforma isto ficou
absolutamente claro – art.º 86º nº8 + 371º = aplica-se aos órgãos de comunicação social e a eles ainda se aplica
com mais limitações, mesmo quando não há segredo – art.º 88º

PLANO INTERNO

O inquérito que é secreto para fora, não é necessariamente secreto para dentro. Em caso de inquérito sujeito a
segredo:

1. O arguido tem direito à informação:


(1) Sobre os factos – 61º nº1 c), 141º nº4 c), 143º nº2, 144º nº1, 194º nº4 e 6.
(2) Sobre os meios de prova.

Isto foi explicitado após o processo casa pia (ver acórdãos que não basta perguntas genéricas, formulação genérica, …) =
obrigatoriedade do inquérito do arguido para lhe dar primeira oportunidade de defesa. Foi prática muito
seguida não informar o arguido.

Este problema levantou-se primeiro no interrogatório judicial para aplicação de medida de coação, mas
depois no caso casa pia, estendeu-se para lá da aplicação de medidas de coação:

Interrogatórios do arguido – 141º nº4 d), 143º nº2, 144º nº1, 194º nº4.

Aplicação de medida de coação – 194º nº 4, 6 e 7 – quando é detido para aplicação de medida de coação o
regime não decorre diretamente do 141º mas do 194º (tem de ser interrogado para aplicação de medidas de
coação tenha ou não tenha sido interrogado antes. Daí que esteja previsto no 141º e 194º).

 Em pleno ambiente de segredo levantou-se problema de saber se arguido podia consultar os autos, em
caso de aplicação de medida coativa – ver Ac. TC de 1997 + comentário JLM.

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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ASSIM – este direito à informação é ilimitado quanto a factos e condicionado de acordo com as vantagens
ou perigo para a investigação quanto aos elementos de prova.

2. Mesmo quando o processo é secreto, a lei inverte a regra do segredo quanto a consulta de autos e cópias
– art.º 89º nº1 a 3 e 6 em geral + 194º nº8 para aplicação de medida de coação – na perspetiva da
consulta, a lei à partida permite aos sujeitos processuais a consulta dos autos e obtenção de cópias e
certidões, a não ser que haja despacho próprio, fundamentado a dizer que não pelo MP.
=
Portanto o segredo de justiça internamente quanto a consulta dos autos é limitado, porque exige o tal
despacho para não ser permitida.

REFORMA DE 2007 – vindo da reforma de 1998 onde a ideia não vingou, chegou em 2007 o nº6 do art.º 89º
= o segredo interno é limitado temporalmente – não deixar que a investigação inquisitória e secreta dure ad
eternum:
(1) Isto estava no projeto do art.º 277º de JFD – existência de prazos peremptórios - mas não foi para a
frente e na altura investigação durava quanto fosse preciso.
(2) Em 2007 vingou então o nº6 do 89º - a duração do segredo interno que deve ser limitado
temporalmente:
1) Aparentemente é o que legislador diz – o segredo termina com prazo normal do inquérito (art.º
276º).
2) MAS – permite uma 1ª prorrogação de 3 meses e 2ª segundo Ac. STJ AUJ de 2010 não tem máximo
de 3 meses = jurisprudência acabou com a limitação da duração do inquérito.

ASSIM – hoje o segredo de justiça interno é limitado, pelas razões supracitadas quanto à consulta
dos autos e obtenção de cópias (supra), mas quanto à limitação temporal, na prática processual esta
dissolveu-se (a crítica vale também quanto ao 198º que remete para o nº6 do 89º).

3. Direito de assistência a alguns atos processuais e intervenção – art.º 61º nº1 a) – mas não é a regra, tem o
direito de assistir aos atos em que tem dever de assistir (circular) = à partida não há direito a assistir, se o
processo estiver em segredo, o direito tem de derivar da regulamentação do próprio ato – ex. arts.º 271º,
147º, 154º (perigo de perecimento da prova ou proteção de testemunhas vulneráveis, evitando repetição de
interrogatórios – para isso faz alguma coisa parecida com audiência, por isso é arguido participa, há contraditório
etc.).
+ Art.º 355º e 356º nº2 a)

CASO
Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro
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Processo está em segredo, jornalista pode trabalhar sobre o tema? Pode fazer perguntas, mas não sobre o processo
– o segredo é o segredo DE JUSTIÇA! O que é proibido não é jornalismo de investigação, segredo abrange atos
processuais – segredo abrange art.º 86º nº8. Segredo é do processo, não do facto.

Ex. não pode perguntar “o que é que o sr. disse no processo? Agente falou nalguma autopsia?”

B é noticiado como suspeito, pode ter acesso? Art.º 276º + 89º nº6 não permite, porque não é arguido! Mero
suspeito não pode aceder se estiver em segredo. Além disso prazo só começa a correr no 276º nº4 = em pp. ainda
nem tinha passado prazo de inquérito.

FORMA E DOCUMENTAÇAO DOS ATOS

ÂMBITO E FORMA DOS ATOS ORAIS

PP. da oralidade – que actos de processo devem ser orais?

Fim do pp. da oralidade =

1. Defesa da espontaneidade e da autenticidade – “o papel engana sem se ruborizar”, o papel não cora/o
homem consegue escrever melhor mentiras do que dizê-las
2. Maior plasticidade e adaptabilidade
3. Acessoriamente serve de contraditório e publicidade.
=
À partida declarações pessoais num processo são sempre orais.

Sentidos do pp. da oralidade:

Fraco – prestação oral de depoimentos, intervenções, decisões – art.º 96º + 275º e 296º - neste sentido todo o
processo está sujeito ao pp. da oralidade, mesmo no inquérito, mas isto não impede que sejam reduzidas a
escrito/auto.

Forte – em sentido forte, nem todo o processo é oral – quando o magistrado vai tomar decisão (acusar ou arquivar)
fundamenta-se nos autos. As declarações são prestadas oralmente, mas decisão não é com base nas declarações
orais (o magistrado até pode nem ter estado lá) – fundamentação directa da decisão = autos.

Juiz – decide com base nas declarações orais! Tal como no inquérito é tudo oral quando é prestado, mas aqui
decisão fundamenta-se também nos atos orais e não no registo que deles fica – há aqui “um oral a mais” = oralidade
em sentido forte – isto é que significa verdadeiramente o pp. oralidade – a decisão fundamenta-se no próprio ato
oral!

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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Neste sentido orais só são a audiência de julgamento – 329º e ss. + 355º especialmente – e o Debate instrutório –
289º

Vigora ou não o pp. da oralidade? Na prestação de depoimentos sim em todo o processo; no sentido forte,
verdadeiro não é em todo o processo.

FORMA DOS ATOS DECISÓRIOS – art.º 97º (ver conceitos)

Nº5 – os atos decisórios são sempre fundamentados, mesmo por imposição da CRP – arts.º 205º nº1 e 268º nº3 CRP
– isto tem uma dupla razão de ser – Ac. STJ 680/98:

1. Controlabilidade do ato – obriga a reflexão, porque quem decide vai ter de exprimir por palavras qual foi o seu
raciocínio – autocontrolo + controlo por outrem quando admissível.
2. Função de convencimento – arguido, sujeitos processuais, público em geral = mesmo no processo autoridade não
basta.

DOCUMENTAÇÃO

Autos – art.º 99º + atas (quando são de audiência) – provam termos em que se realizam atos processuais = têm força
de documentos autênticos – fazem fé da prática dos atos e o que neles foi dito.

NULIDADES

O processo penal está subordinado a um pp. da legalidade dos atos processuais – art.º 2º - no sentido de que o
processo penal obedece à lei.

Isto obriga o legislador a fazer a sua parte do caminho – se quer que atos decorram de acordo com a lei, vai ter de
regulá-los!

Regula os termos do processo como a melhor maneira possível de o processo proceder segundo o legislador e
dentro dele, o modelo que cada ato deve seguir para ser capaz de produzir os seus efeitos próprios (ex. art.º 283º -
para que ato tenha plenamente efeitos de acusação deve cumprir esse artigo),

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Consequência – “a ilegalidade paga-se” – o incumprimento da lei não é indiferente – o ato que não corresponde ao
modelo legal é imperfeito/deficiente = incapaz de produzir exatamente os mesmo efeitos.

MAS – isto não significa que os defeitos são todos iguais – depende do afastamento do ato relativamente ao
modelo!

Isto aplica-se quanto a todos os atos processuais, mas quanto às decisões judiciais uma determinada sentença só é
inválida quando não corresponde ao modelo legal.

EXEMPLO:

Art.º 374º - a sentença tem tudo o que isto exige = é válida, porque não há nenhum erro no proceder, mas pode ser
injusta – ex. analisou mal a prova, falhou na qualificação jurídica dos factos – isto são erros da decisão chamados
error in judicando, mas não determinam a invalidade – os que determinam são os error in procedendo – não
corresponde ao modelo da lei e isso é que determina a invalidade!

TIPOS DE INVALIDADE

Há vícios de tal maneira graves que não são dependentes da vontade dos interessados; outros casos em que o ato é
ilegal, por si mesmo nunca produz todos os efeitos do ato legal, mas às vezes permite-se anuência dos interessados e
que esse novo conjunto factual produza os mesmos efeitos.

EXEMPLO.

Acusação (283º) sem determinado requisito – nulidade sanável, arguida no prazo de 10 dias – ao lado do modelo
legal da acusação que produz os seus efeitos normais, quando o legislador prevê uma nulidade que é sanável, prevê
um novo facto processual composto pelo ato inválido e pela anuência dos interessados que vai produzir efeitos
iguais ao do ato legal = lei dá relevância à vontade do interessado.

NOTA: as invalidades normalmente são sanáveis, mas tem de se explicar a razão pela qual essas nulidades existem e
são sanáveis – legislador não abdicou de dizer que ato que não corresponde ao modelo não é perfeito, pelo menos
fica sujeito a decisão do interessado sobre se impugna ou não! Por isso é que se diz que mesmo nestes casos de
invalidades, não é irrelevante a ilegalidade!

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Pp. do aproveitamento dos atos processuais imperfeitos (os que não correspondem ao modelo legal) – às
ilegalidades de menor gravidade são deixados efeitos mais próximos do ato perfeito e maior facilidade na sanação,
mas o legislador age com cautela – não deixa isto num campo de princípios abstratos – o ato processual não vale por
si mesmo (ideia de processo), estão em cadeia sequencial, mas também em conexão teleológica = as nulidades no
processo são uma coisa muito perigosa, se forem mal reguladas, efeitos de somenos implicam hecatombes
processuais! Por isto, legislador tem cuidado, aproveitando o que é possível. Este aproveitamento tem duas
consequências:

1ª Eleição do regime regra – é o da irregularidade (art.º 118º nº2) – primazia do regime em que sanação é mais
fácil – 123º.

2ª Entre as figuras da nulidade volta a fazer-se o mesmo – nulidade tem de ser expressamente cominada na lei =
tipicidade das nulidades (art.º 118º nº1) + art.º 119º e 120º nº1 = dentro da lei existem duas figuras de nulidades
e a mais grave que é a insanável também é só quando é expressamente estabelecida, se não disser que é
insanável (conhecidas oficiosamente até trânsito em julgado da decisão), é sanável!

=
Isto exprime o aproveitamento, porque permite o controlo pelo legislador dos vícios mais graves – nunca se
esquece de estabelecer que é irregularidade (residual), mas mantém legislação estrita sobre o que é nulidade.

3ª mesmo quando há nulidade, não significa que depois é hecatombe total – art.º 122º - ex. nulidade da acusação
faz cair processo subsequente, mas atos de que não dependem todos os atos posteriores não fazem cair tudo!

Em função destes dois parâmetros temos os seguintes tipos de invalidade:

I. INEXISTÊNCIA
Não está estabelecida no CPP (há discussão sobre a sua admissibilidade).
JLM – admite-a – não a vemos na lei, mas denota-se a sua influência (como os planetas do fim do sistema solar) – o
regime de topo das invalidades não esgota as coisas mais graves.

Olhando para o regime das nulidades insanáveis, podem existir situações em que a falta de correspondência ao
modelo é total = falta o racionalmente imprescindível à substancia do ato – percebe-se por um raciocínio a
fortiori.
EXEMPLO:
Art.º 119º a) – então e se não for um tribunal? Não pode ser só nulidade insanável! É impensável ser assim na
causa e no efeito – é que nulidades insanáveis sanam-se com trânsito em julgado da decisão (“declaradas em

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qualquer fase do procedimento” = só são insanáveis durante o processo): olha-se para regime da revisão de sentença

transitada em julgado e não estão lá nulidades insanáveis = há teto para nulidades insanáveis!

Casos: falta de tribunal ou jurisdição (119º a) e e)), falta de MP arguido ou defensor (119º b) c)), falta de acusação
(b)), processamento em processo civil (f)) = retiram-se do art.º 119º a fortiori – fogem à tipicidade. Interpretação
enunciativa.
=
Não sanação com o transito em julgado + inexequibilidade da “decisão”.

II. NULIDADE INSANÁVEL – 119º


Terminologia deficiente – insanáveis apenas durante o procedimento – art.º 119º + não é motivo de revisão da
sentença.

Sujeitas a dupla tipicidade – lei tem de estabelecer que é nulo + nulo insanavelmente – art.º 119º (“além das que
como tal forem determinadas em outras disposições legais” – 321º nº1, 330º nº1), há outras – ex. 283º (sanável).

São de conhecimento oficioso, até ao transito em julgado da decisão final com efeitos do 122º

III. NULIDADE DEPENDENTE DE ARGUIÇÃO – 120º


Correspondem à figura que no direito civil chamamos anulabilidades – terminologia que vem do C. Seabra onde
havia nulidades absolutas e relativas.

Não tornam o ato automaticamente nulo – conferem direito potestativo à anulação.

Sujeitas a numerus clausus – tipicidade – art.º 120º nº1 (283º (mas é bem nulidade típica?), 309º, 379º)

Têm de ser arguidas, não são de conhecimento oficioso + nos prazos previstos na lei (120º nº3 – importante al.
c)), possibilidade de sanação (121º), efeitos da declaração (122º).

Uma primeira causa de sanação é o decurso do prazo de arguição, mas isto é expressão de relevância dada por
anuência dos interessados = 121º permite outros meios de sanação.

MAS – possibilidade de regimes especiais – ex. art.º 283º hoje não estabelece nulidade dependente de arguição
típica por causa do art.º 311º nº2 a) e 3 – despacho liminar de julgamento – nº3 define acusação manifestamente
infundada = tirando a al. d), tudo corresponde a incumprimentos do 283º = 283º foge à nulidade, porque se esses

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vícios fossem apenas nulidades dependentes de arguição, tribunal não podia conhecê-las oficiosamente (120º
nº1); aqui permite-se rejeição da acusação com base em vícios previstos também como causas de nulidade.
Chegamos à conclusão que lei fala em nulidade sanável, mas não segue regime normal. Nulidades atípicas –
regime próprio.
IV. IRREGULARIDADES – 123º - necessidade de arguição pelos interessados no próprio ato se interessado assistir,
ou em 3 dias – se não arguiu = convalidação.

Natureza dogmática = anulabilidade, mas sana-se mais facilmente.

É irregular toda a ilegalidade não prevista como nulidade.

Arguido pode renunciar? Se pode o mais pode o menos = se pode renunciar à nulidade sanável, também pode à
insanável – acórdão TC que diz que em certas circunstancias 3 dias é inconstitucional em função do magma do
processo – processo gigantesco em que não da tempo suficiente para arguição de irregularidades (Ac. TC
42/2007) = aplicação analógica do 121º.

Possibilidade de regimes especiais?


____________________________________________________________________________________________
CASO
Suponha que tendo o arguido no seu requerimento de instrução requerido a inquirição de uma testemunha na
instrução, o juiz de instrução no despacho de abertura da instrução, indefere a inquirição da testemunha
requerida pelo arguido.

Problema = DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO – 205º CRP + 97º Nº5 + 291º Nº1 – teria de indicar motivos de facto e
de direito – não é necessário à instrução, ou servia apenas para protelar o andamento do processo e pratica ou
ordena oficiosamente que considera uteis.
=
Despacho irregular – regra geral – pp. da tipicidade das nulidades.

NOTA: não cai no art.º 120º nº1 d) – nulidade da insuficiência do inquérito ou da instrução mas só quando atos
são legalmente obrigatórios (ex. 272º). Não inquirir testemunha não é ato legalmente obrigatório na instrução,
no julgamento é + apenas abrange falta de diligências probatórias, caso contrário dela se retirava que o regime
geral no inquérito e instrução passava a ser nulidade = falta de fundamentação não cai aqui.

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NOTA: são obrigatórias as diligências necessárias para descoberta da verdade. Não é daquelas que se faz ou não
consoante necessário. Basicamente correspondem aos interrogatórios do arguido.

V. NULIDADES DE PROVA – salvaguardadas no art.º 118º nº3 – ex. 126º - “são nulas, não podendo ser utilizadas”
– as provas não podem ser utilizadas. Não são nulidades de atos processuais, não têm a mesma razão de ser (não
é não corresponder a modelo legal, é a violação de direitos fundamentais e efeito não é a nulidade, é
impossibilidade de usar prova).

ATIPICIDADE DAS NULIDADES DE PROVA = qual o critério para as identificar? 1. Enquadrarem-se no art.º 126º 2.
Violarem um direito fundamental (tanto processual, como material – ex. violação do 141º nº4 viola direito à
defesa – 32º nº1 CRP). REGIME = não sanação com transito em julgado (449º) + conhecimento oficioso.

NOTA: 120º Nº3 prazos, mas para casos que não entram aí, nulidade tem de ser arguida num determinado prazo que
não estando estabelecido especialmente (ex. 309º está), num prazo geral (105º)

6.1.4. A PROVA PENAL

A justiça penal pressupõe a verdade – depende da prova – demonstração da realidade dos factos.

Pode ser entendida também como meios de prova ou atividade probatória (ex. ordem da produção da prova – 341º
CC).

MAS – a prova é a demonstração da realidade dos factos NO PROCESSO que é realidade:

1. HUMANA – apreendida por juízo humano (convicção)

≠ Kant – não conhecemos nomes, conhecemos fenómenos – imanentismo gnosiológico – isto está presente na prova
onde se diz que é modo de formação da convicção e não da demonstração dos factos MAS não há legitimidade para
punir com base na convicção, com base numa ideia subjetiva!

“O conteúdo assume a forma do continente” – STA – é possível conhecer realidade, mas claro que limitada pela
dimensão humana = traduz-se numa convicção, mas é a expressão da realidade no espírito de quem as apreende.

Aquilo que queremos esclarecer é a realidade de um facto histórico concreto, não é um facto necessário – é
contingente, pode ser e pode não ser!
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NO PROCESSO PENAL não podemos embarcar no imanentismo, mas o espirito humano é limitado e a realidade é a
realidade histórica que não é necessária – daqui deriva que consoante a prova podemos ter certeza (expressão
subjetiva da verdade), mas também possibilidade (suspeita) ou probabilidade (fundada suspeita – ex. indícios
suficientes – 283º nº3)

2. JURÍDICO PROCESSUAL – Limitações impostas pela justiça processual – não são possíveis todos os modos de
descobrir a verdade – ex. 126º.

A prova é esta certeza processualmente válida que gera convicção do julgador para além da dúvida razoável e com
limites processuais. A verdade no processo é processual, não é a verdade! Está limitada por força destes efeitos.

TEMA DA PROVA/OBJETO DA PROVA

Art.º 124º - factos juridicamente relevantes nos limites do objeto do processo que num processo acusatório
corresponde ao objeto da acusação.

1. Para a questão penal – nº1 – inclui os factos juridicamente relevantes para a existência ou inexistência do crime,
a punibilidade ou não punibilidade (ex. COP), a determinação da pena ou da medida de segurança (circunstâncias
previstas no art.º 71º CP para medir pena) = prova não abrange apenas elementos do tipo.
2. Para questão civil – nº2 – factos relevantes para demonstração da responsabilidade civil.

Atenção!

Prova por indícios (ex. adeptos cabisbaixos – deduzimos que clube não ganhou) = prova indireta por presunções
judiciais.

Não vi o jogo, não há testemunhas, só vi que estavam tristes = de um facto conhecido tiro um desconhecido.

Ex. art.º 14º e 15º CP – o dolo ou negligência, tirando o caso da confissão, concluem-se por indícios. Há situações em
que é obvio pelo modo de execução do facto (ex. fraude em carrocel – NJ fazia sentido em termos comerciais?
Margem de lucro normal, …) – não são elementos do crime mas ajudam a tirar ilações “constituem um tema objeto
de prova secundário” – CAVALEIRO FERREIRA

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Ex. queixa – art.º 115º - 6 meses a partir do conhecimento – nº1 facto = momento do conhecimento – pode ser
necessário demonstrá-lo no processo – factos relevantes para efeitos processuais.

PRINCÍPIO QUE DOMINA MATÉRIA DA PROVA = presunção de inocência – art.º 32º nº2 CRP – in dubio pro reo (não é
apenas isto, mas historicamente começou aqui – supra) – na resolução de factos ilíquidos, depois da produção de prova.

A ideia de presunção vem daqui – não tem de provar o facto, não há ónus de prova, presumo que é inocente, tenho
é de provar culpabilidade.

Esta dúvida não é abstrata – “não poderia ter sido um alien?” – é uma dúvida razoável! Dúvida criada pelo facto de
meio de prova não ser completo de informação ou haver meios de prova contraditórios, credíveis. Essa duvida não
nasce apenas da contradição do arguido, não basta dizer “não fui eu”, mas sim de este apresentar razões tais que
nos permitem dizer que há prova que aponta num sentido e noutro.

Em processo civil resolve-se com ónus da prova – o in dubio pro reo é diferente do ónus da prova mesmo entendido
em sentido objetivo – já não há um verdadeiro ónus da prova em função do pp. da inquisitório na prova – juiz pode
requer prova + prova vale vinda de qualquer lado = ónus é mera regra de decisão e não subjetiva (diz como decido se
ilíquido), tanto aqui como no PC.

O sistema do ónus da prova no PC diz que contra autor julgo se não ficarem provados os factos constitutivos e contra
réu se não ficarem provados os factos impeditivos, modificativos ou extintivos. O que é específico do ónus da prova
é a repartição.

PP – aqui não há repartição! Abrange todo o tema de prova, incluindo causas de exclusão da ilicitude e culpa +
circunstâncias atenuantes (modificativas ou concretizadoras).

Máxima extensão do in dubio pro reo – qualquer ponto de facto ilíquido resolve-se a favor do arguido. Não é no seu
funcionamento que é diferente do ónus da prova, é diferente por causa de no PC ser em caso de iliquidez decide-se
contra, aqui decide-se a favor + não há repartição.

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Não se dá como provado contra MP ou assistente, porque a sua esfera material não está em jogo = não há ónus da
prova da acusação em bom rigor, só quanto ao lesado na questão civil se pode falar em ónus da prova, mas mesmo
aí a questão civil é tratada de acordo com regras do PP = não há ónus de impugnação especificada (art.º 78º nº3) e
decide-se sempre a favor do arguido se ilíquido mesmo na questão civil.

NOTA: não é melhor ir para tribunal civil, porque não aproveita da investigação do MP.

MEIOS DA PROVA Como se demonstra realidade dos factos?

Como aparecem no processo? AQUISIÇÃO DA PROVA:

1. Acusatório puro – iudex debet iudicare secundum allegata et probata partium – ideia de juiz super-partes,
passivo, julga segundo factos e provas trazidos pelas partes – pp. da verdade puramente formal – o juiz mais do
que interessado no que aconteceu na realidade, está interessado nas provas que lhe trouxeram.
Pode funcionar, mas exige verdadeira igualdade entre partes o que não acontece no PP – há varias instituições
como MP, OPC, … a funcionar na aquisição da prova, enquanto o arguido as vezes até está privado da liberdade.
2. No nosso processo de estrutura acusatória, mas integrado por um pp. da investigação – art.º 2º nº4 LAL (lei de
autorização legislativa do CPP) = as partes têm direito de prova, mas há um pp. da investigação judicial = pp. da
verdade material + inquisitório quanto à prova.

DIREITO À PROVA = partes têm direito a participar ativamente na aquisição da prova, apresentando-a ou
intervindo na produção (consequência do direito de defesa na perspetiva do arguido + consequência da
presunção de inocência na perspetiva da acusação). Mas em termos diferentes:

A. CONSOANTE AS FASES DO PROCESSO:

1. Inquérito – o MP tem dever de investigar, arguido tem intervenção limitada, de tal maneira que até faz
desmaiar o direito à prova (MP – arts.º 53º 263º 267º + Arguido – arts.º 61º nº1 g), 98º (são integrados nos
autos) + Outros sujeitos – arts.º 69º nº2 a) e 74º nº2) – são ou não integrados nos autos consoante MP
entender que seja relevante.

EXEMPLO
Quero que ouça testemunhas, indefere – não cai no 120º nº1 d) (supra) – não há verdadeiramente direito à
prova do arguido nem do assistente – se ele tivesse direito à prova, tinha mecanismo de reação e não tem:
não pode reclamar, não há nulidade, … = só pode requerer a instrução, mas aí passamos para outra fase!

GMS – diz que direito à prova na fase do inquérito há situações em que produção de prova só pode ser
autorizada pelo juiz = muito limitado, sobretudo quando processo estiver em segredo de justiça.

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2. Instrução – o MP volta a estar sujeito a dever geral de investigação (53 nº1, 53º nº2 c) + 302/2) e sustentação
da acusação que foi deduzida e restantes sujeitos processuais podem requerer diligências (287º nº2 + 302º
nº2) – atos de instrução que entendam que juiz deva levar a cabo, mas JIC não fica vinculado perante tal
iniciativa (tal como no inquérito), pode indeferir atos requeridos que entenda não necessários à instrução ou
que sirvam para protelar instrução – 291º nº1 2ª parte; além disso da decisão do JIC cabe apena reclamação –
291º + 120º nº2 d) não se aplica no caso de as partes oferecerem provas ou requererem diligências que não
sejam aceites pelo JIC na instrução (ou MP no inquérito).

3. Julgamento – é no julgamento que direito das partes à prova adquire a expressão máxima – compete à defesa
(315º e 316º) e à acusação (283º nº1 d) a f), 316º - MP e assistente). A acusação deve conter sob pena de
nulidade indicação das provas produzidas ou a requerer e no prazo da contestação pode indicar rol de
testemunhas, peritos e técnicos + prova documental na audiência (165º). Na defesa o arguido pode indicar rol
de testemunhas e outro tipo de prova na contestação ou no prazo estabelecido para ela. Aqui só
excecionalmente se pode recusar prova – 340º nº1, 3 e 4.

=
O nosso sistema de prova é à partida acusatório – espera-se impulso probatório, mas tribunal pode ordenar
oficiosamente produção de meios de prova necessários (= mitigado pelo pp. da investigação ou do inquisitório
– isto sucede quanto aos meios de prova e não quanto ao objeto da processo – thema probandum).

RAZÃO = descoberta da verdade material – 340º nº1 “oficiosamente” + 323º a) e b) – é também dever do
tribunal – art.º 53º

GMS – provas são requeridas pela acusação e defesa no julgamento terão de ser sempre admitidas no
processo, pelo facto de a fase do julgamento se expressão máxima do direito à prova?

Preocupação em limitar controlo judicial das provas àquelas que sejam imprescindíveis para decisão e eliminar
aquelas que não sejam necessárias.
Juiz apenas pode recusar quando: prova ou meio for ilegal (340º nº3 – pp. da legalidade) + quando haja
irrelevância da prova + inútil para formação da convicção do julgar que já foi formada + falta de idoneidade do
meio para prova do facto + meio de prova de obtenção impossível ou muito duvidosa.

DÚVIDA – juiz pode recusar prova por considerar supérflua = abre porta a que juiz possa por ex. por serem
muitas testemunhas, não ouvir todas! Sucede que muitas vezes juiz nem sabe o que testemunha sabe.

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Embora de facto direito à prova esteja internacionalmente consagrado, há possibilidade de fugas do sistema
com ideia de discricionariedade. A realidade prova pode não ser verdadeiramente supérflua = limitação
inadmissível do direito à prova = aqui justifica-se fundamentação rigorosa desta rejeição dos meios de prova.

Nota: limite quanto ao nº de testemunhas – 283º + 315º nº1 – mas ultrapassável se se verificarem
pressupostos do 283º nº7 + quanto aos factos objecto do processo – DL 2000 por razoes de economia
processual = GMS – atenção! Compatibilizar com direito à prova = interpretação generosa para não limitar
descoberta da verdade.

B. RELATIVAMENTE AOS SUJEITOS

Que meios de prova são admissíveis? ADMISSIBILIDADE DOS MEIOS DE PROVA

Durante muito tempo – sistema da prova tabelada (legislador determinava meios de prova admissíveis (tipicidade) +
requisitos de que dependia a sua eficácia). Tinha algumas limitações relativamente ao processo civil (364º e 393º
CPC).

Atualmente opção inversa – da tipicidade dos meios de prova passou-se para a atipicidade – 125º CPP “legalidade da
prova” – (livro III titulo II da parte I) lei regula alguns meios da prova, mas admite recurso a outros meios =
atipicidade!

Há diferenças entre meios típicos e atípicos:

1. quanto aos típicos (128º e ss.) implica logo que não sejam provas proibidas (porque estão permitidos na lei!) e
devem ser praticados de acordo com regulamentação prevista na lei, o que não sucede quanto à prova atípica.

2. Quanto à prova típica aplica-se regime das nulidades do 119º e ss. (naturalmente também se poderão aplicar
regime das proibições de prova); quanto à prova atípica vale apenas exigência de não proibição + 118º nº3 – ressalva
normas sobre proibições de prova (nulidades de prova) – quanto aos métodos (32º nº6 CRP + 126º CPP); quanto aos
meios (355º); quanto ao tema (137º)/ ofensa de DLG (126º), de princípios fundamentais (art.º 58ºnº4) ou outros
(137º).

(1) Nem todas as proibições em matéria de prova são necessariamente proibições de prova

(2) As proibições de prova seguem regime próprio de invalidade.

Como sabemos quais são as provas proibidas? Art.º 32º nº8 CRP + 126º CPP (ponto de partida para saber se é prova
proibida) – coordenação entre direitos fundamentais pessoais e materiais e certos fins do processo penal – casos de

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provas absolutamente proibidas (126º nº1 e 2) + casos de provas relativamente proibidas (admite-se algumas
restrições aos direitos fundamentais – 126º nº3).

Critério para determinar proibição de prova = supra – 1. 126º 2. Violar direito fundamental.

CONSEQUÊNCIA DA VIOLAÇÃO = nulidade da prova = carácter inutilizável no processo com regime semelhante ao
das nulidades insanáveis (são de conhecimento oficioso – MAS PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE – há que distinguir no 126º entre
nulidades que devem ser invocadas e aquelas que são de conhecimento oficioso), mas pelo menos em parte mais grave (art.º 449º
nº1 e) – não se sanam com trânsito em julgado – são fundamento de revisão de sentença transitada em julgado).

EXTENSÃO DA NULIDADE – é só aquela prova proibida que é inutilizada ou também prova derivada? Teoria do efeito
à distância da prova – tem levado a discussões e hesitações da doutrina PT e jurisprudência – TC tem-se baseado na
chamada teoria do fruto da árvore venenosa = a prova obtida com base em prova nula é nula também – VER AC. TC
198/2004 ONDE PERFILHA ESTA TEORIA, EMBORA ESTABELEÇA TRÊS EXCEÇÕES que interpretadas de forma ampla atenuam
teoria do fruto da árvore venenosa. Importa colocarmo-nos na situação em que estaríamos se não tivesse havido a
nulidade.

Como é que se usam os meios para o fim? APRECIAÇÃO DA PROVA

Sistemas que historicamente se debateram:

1. Sistema da prova tabelada/legal – a própria lei regulava normativamente como se davam provados os factos – o
sentido da decisão da matéria de facto não dependia da convicção do juiz, era diretamente determinado por lei –
com base na perspetiva de sedimentação de experiencia adquirida e modo de evitar arbítrio judicial.
(1) Este sistema vigorou durante muito tempo, designadamente até ao advento do júri em processo penal ( VER
INSTITUIÇÕES DE DIREITO CRIMINAL DE PASCOAL DE MELLO FREIRE ).

(2) Ideia de que a convicção íntima do juiz não serve – queremos que o que é decidido no processo tenha base
naquilo que está no processo (“o que não está nos autos, não está no mundo”).
(3) Isto tem primeira consequência que é, ao contrário do que acontece hoje (atipicidade dos meios de prova),
temos de estabelecer quais os meios de prova admitidos – tipicidade de prova – é necessária prova plena para
condenar (in dubio pro reo – presunção de inocência), mesmo que juiz fique convicto por outros meios de
prova.
(4) Mas, mesmo em relação a estes, a lei regulava qual a força probatória desses meios de prova admitidos. É
evidente que há alguma apreciação judicial (ex. só duas testemunhas oculares que dêem a sua razão
conveniente do seu testemunho – conveniente dá margem de apreciação).

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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(5) Este sistema não nasceu por acaso, deu-se estratificação do conhecimento empírico (ex. duas testemunhas,
porque só uma ia ser contradita pelo arguido), mas sacrificava o excecional ou normal – eram regras da
experiencia comum (normalmente duas testemunhas acertam), mas pode não acontecer!
=
Vigorou até revolução liberal e instituição do júri – as Reformas liberais não entenderam propriamente que
estava mal, mas instituição do júri nas reformas liberais, por imitação do sistema anglo-saxónico, é que trouxe
consigo impossibilidade de aplicação das regras de prova, por motivo teórico (júri era imanação da razão e
soberania popular, não sujeito a regras, era livre de determinar matéria de facto) e prático (júri não sabia leis).
=
Com o júri esta prova tabelada tinha de cair.
=

2. Sistema de livre convicção – a decisão do júri não era fundamentada nem recorrível MAS mais tarde surgiu
raciocínio de que se 8 leigos podem decidir sem fundamentar e sem recurso, então juízes profissionais hão-de
poder julgar exatamente da mesma maneira = surgiu ideia transporta primeiro para o CPP de 1929 e depois para
o CPC de 1939, segundo o qual a matéria de facto quando era decidida por tribunal coletivo (herdeiro do júri),
também era sem necessidade de fundamentar e irrecorrível (deixaram de se documentar declarações feitas na
audiência, era ato inútil porque não havia recurso!). Este sistema vigorou até 1998 no CPP e 1995 no CPC.
(1) Tinha incongruências – tribunal singular nunca teve esta capacidade = havia recurso da matéria de facto do
tribunal singular, mas não do coletivo que tinha herdado presunção de infalibilidade do júri.
=
Levou à crítica – o tribunal julga como quer: sem prova, com prova e contra a prova e não há nada a fazer!
=
Evolução posterior – foi ao encontro desta dificuldade – objetividade e controlabilidade. COMO?
1) Continuar opção fundamental pelo sistema da livre convicção (apesar de haver alguns desvios – que são
menos e menos intensos do que no PC).
2) A livre apreciação da prova deixou de ser livre, não no sentido de ser tabelada, mas no sentido de que
essa convicção do juiz não é como ele quer, puro arbítrio:
1º é objetivada – está vinculada às regras da experiência (127º) – tem de ser uma valoração objetiva,
racional e crítica (portanto, transpessoal – formada pelo juiz, mas pauta-se por regras) + de acordo com as
máximas da experiência, lógica e conhecimentos científicos disponíveis (experiência lato sensu).
2º essa objetivação é expressa na fundamentação – 97º nº4 e 374º nº2 (em especial para a sentença) –
tem de explicar como chegou à conclusão (raciocínio que o levou dos meios de prova à conclusão) – Ac. TC
680/98 (dever de fundamentação – teve reflexo no 374º nº2 – na redação anterior só se dizia que devia
indicar factos provados e não provados e indicar meios de prova, não falava dos motivos – livre apreciação
da prova é “exame crítico das provas”)

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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=
Garantia de que não vai decidir como quer! Se não o fizer = nulidade – art.º 379º - sanável.

3º Expressa na controlabilidade – designadamente em recurso – 428º, 410º nº2 c) – em 1998 restaurou-se


o recurso em matéria de facto. Havia apenas sistema de revista alargada – “desde que o vício resulte do
texto da decisão recorrida” – isto por si não é recurso da matéria de facto, era conhecer da consistência da
decisão (ex. testemunhas tinham dito A e juiz decidia B). Depois foi restaurado o recurso em matéria de
facto em 1998 – 427º + 428º = significa 410º nº1! Já para o STJ (432º (direito) e apenas 410º nº2) =
implicou registo das declarações prestadas em audiência. Fundamentação serve para auto e hétero
controlo, mas é ainda mais controlável porque juiz pode reanalisar provas e decisão sobre elas.

ASSIM: Já não é “livre” no sentido de que é como juiz quer!

MAS isto é um caminho, a controlabilidade é em recurso e há condições de produção da prova que fazem
com que não tenha o mesmo valor cognitivo o facto de tribunal interrogar testemunha e tribunal da
relação ouvir gravações. Este controlo da decisão da matéria de facto é sujeito a alguns limites derivados
dos pp. da oralidade e imediação.

MAS este pp. da livre apreciação é apenas um princípio – tem desvios – LIMITES AO PRINCÍPIO:

 Limites claros:
1) De valor positivo (= dar como provado factos para que aponta prova – semelhante prova tabelada/PC):
EXEMPLOS:
Prova pericial – 163º (+ 151º - ex. autopsias, ADN, perícias financeiras, … (no PC não tem valor especial) MAS
presume-se subtraído à livre apreciação (nº2 – pode discordar se fundamentar divergência com base em
argumentos do mesmo teor! Muito esbatida, longe da prova plena no PC).

Prova documental – 169º - “enquanto autenticidade do documento ou veracidade do conteúdo não for
fundamentadamente posta em causa – aqui é prova bastante e não plena, não tem de provar contrário, tem
de criar dúvida – NOTA vale aquilo que notário faz ou pode percecionar = PC – declarações e não conteúdo).

2) De valor negativo (não pode dar como provado pelo menos apenas com aquela prova – Lei 23/99 – art.º 19º
nº2 – testemunhas não identificadas trazem problema de credibilidade/contraditório – não pode ser
fundamento da condenação – juiz ouvindo aquela testemunha pode ficar convencido, mas não pode ser
fundamento da condenação + depoimento de co-arguido – art.º 345º nº4).

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 Dúvidas que sempre se levantam


1) De valor positivo:

Confissão do arguido em audiência de julgamento – 344º - é desvio à livre apreciação? Nº2 al. a) – é prova
plena? Não! Nº3 b) e nº4 – o tribunal conserva sempre livre apreciação em todos os casos – aquilo que
aparece numa espécie de exceção é preservação da livre apreciação – nº 3 – e ouvido o arguido pode duvidar
da liberdade ou da veracidade.

Então qual é o efeito útil deste artigo? Permite que juiz forme convicção exclusivamente com confissão do
arguido ou com confissão e alguns meios de prova que entenda necessários – nº4; por exemplo se fosse
testemunha não podia ficar convencido só assim e dispensar outros meios de prova;

MAS juiz tem de lhe perguntar, não é como nos EUA – tem de valorar o que arguido diz de acordo com 127º.

2) De valor negativo:

Prova testemunhal – 128º e ss. vs. prova por declarações – 141º e ss. – terão diferente valor? Era mais
credível testemunha porque os outros são “interessados” no processo (só o arguido o é verdadeiramente) –
MAS – não podemos tirar desta distinção qualquer significado em termos de prova, porque ambos estão
adstritos a dever de dizer a verdade – claro que posição da pessoa relativamente aos factos entra no
apuramento normal do 127º, MAS da lei não resulta desvio ao pp. da livre apreciação da prova!

Como se produzem? PRODUÇÃO DA PROVA

Sujeita às regras procedimentais que dependem da forma e fase do processo.

PRINCÍPIOS GERAIS NA PRODUÇÃO DE PROVA

1. IMEDIAÇÃO = sem meios – tem dois sentidos.

Sentido I – dever de apreciar ou obter os meios de prova mais diretos relativamente aos factos – 129º para prova
testemunhal (quero testemunhas diretas!) – ex. testemunha leu carta – não vale (não é direto), vale apenas para
chamar ao processo meio direto. Funciona no processo em geral, independentemente da forma ou fases – relação
entre meio de prova e facto.

Sentido II – dever de contacto direto dos sujeitos (mormente decidentes) com os meios de prova (não ter no meio
uma gravação, um auto). MP/Juiz têm de decidir com base no contacto direto com o meio de prova – relação direta

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entre quem decide e meio de prova (sentido mais recorrente). Aqui é apenas princípio da fase de julgamento (no
inquérito MP pode delegar nos OPC e decide com base nos autos – pode haver, mas não tem de haver contacto
direto; na instrução – nos atos de instrução, juiz também pode delegar (= inquérito) + decisão é com base em toda a
fase preliminar (inquérito + instrução e no inquérito não teve nenhuma imediação! 298º + 307º nº1).

+ 355º (garante imediação porque garante produção de prova em audiência segundo os princípios da audiência e
esta é que está estruturada segundo imediação) + 356º

Reforma de 2013 – entorse no pp. da imediação no sentido II – excecionou-se do 355º as declarações do arguido
durante o inquérito feitas com advertência necessária e presença do defensor – confere-se-lhe valor no julgamento
– 355º e 357º nº1 b) – juiz vai valorar declarações no inquérito (gravação). É também entorse à estrutura do processo
– fase preliminar prova é para decidir se processos vai ou não a julgamento.

JLM duvida desta solução.

Não se pode pegar nas declarações que prestou no inquérito para não haver mais produção de prova – ambas as
declarações expressadas na audiência e anteriores estão sujeitas a livre apreciação (344º e 357º), mas só as do 344º
podem levar a dispensar prova.

2. CONTRADITÓRIO – debate ou discussão ativa entre as parte – a cada poder de promover corresponde um poder
de contradizer. A própria produção da prova deve estar desenhada como uma discussão na audiência e atos
instrutórios (32º nº5 CRP).

Na audiência (327º Nº 2 + formas diferenciadas do contraditório na audiência – 348º (aqui há mesmo


contrainterrogatório direto – contraditório forte) vs. 342º + 345º-347º (declarações do arguido – interrogado pelo
Presidente, mas lei permite ao MP, defensor e advogado do assistente que possam pedir ao tribunal que formule
perguntas – 345º nº2 – contraditório fraco através do tribunal – mas juiz pode deixar interrogar diretamente), 350º
(peritos – fraco)).

Outros atos em que a CRP impõe contraditório – declarações para memória futura – 271º e 294º (fraco); perícia
(mesmo no inquérito) – 154º nº1 e 2 (fraco e perigoso); atos instrutórios (fraco) e debate instrutório (forte) – 289/2
e 301º.

MEIOS DE PROVA (128º e ss.) – grande distinção é provas pessoais vs. reais (com perícia = intermédio) E MEIOS DE
OBTENÇÃO DA PROVA - exames, revistas e buscas, apreensões, escutas telefónicas – 171º e ss. – são medidas
coactivas em processo penal – distinguem-se do regime da prova na medida em que são meios coativos, isto é
restritivos de DF.
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1. Provas pessoais (= declarações de pessoas):

(1) Prova testemunhal - Noção: terceiro (cfr. 133º e 134º) + Capacidade: art. 131º + Deveres: 132º / sanção: 360º
CP/ + limites: arts. 135º-137º; 139º; Inquirição: 138º (e normas especiais, ex.: 348º)

(2) Prova por declarações das partes: Arguido • Primeiros interrogatórios de arguido detido: arts. 141º-143º •
Outros: art. 144º; Assistente e partes civis (art. 145º: att. nº 2 e 359º/2 CP)

2. Prova pericial (arts. 151º ss.) – peculiaridade (juízo técnico sobre certos meios de prova) – Carácter obrigatório
(infra)?

3. Provas reais (= coisas): Prova documental (arts. 164º ss.); Outras: o “exame” de "coisas” (art. 171º)

6.1.5. MEDIDAS COACTIVAS

Finalidade da justiça penal tem importância tal que se admitem meios restritivos de DF para lá chegar (para efeitos
puramente processuais) e com tal agressividade que pode acontecer que medida meramente processual pode
equivaler ou estar próxima da sanção mais grave (prisão + prisão preventiva). Isto acontece com as medidas de
coação (restrição para fazer face aos perigos do 204º) + meios de obtenção de prova (restrição para aquisição e
preservação da prova – ex. escutas). São sempre finalidades processuais ex. prisão preventiva não é pena! Ou é
cautelar ou probatória.

Acontece muitas vezes que há necessidade em todas estas medidas restritivas coativas regulamentar medidas
cautelares, por haver perigo na demora (periculum in mora). Muitas vezes regulamentação por afetar direitos
fundamentais podiam levar a que finalidade se perdesse = podem ser praticados por OPC, depois sujeitos a validação
= medidas cautelares que existem tanto para medidas de coação como medidas de obtenção de prova.

Art.º 249º - cláusula geral para todos os meios de obtenção da prova (no nº2 exemplifica) – ex. deteta droga numa
operação STOP. Fazem estes atos (antigamente atos chamados de polícia judiciária). 55º nº2 – competência própria
– se não forem convenientemente reguladas e praticadas = usurpação de funções do MP e JIC = como controlar?
Sujeição dos atos a validação para serem atos do processo – 253º - relatório apresentado à autoridade normalmente
competente que vai ver se foi praticado nas condições permitidas, nomeadamente se havia urgência. Isto quanto
aos meios de obtenção de prova.

Detenção é também medida cautelar (e não prisão).

Ver esquema aulas práticas.

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Art.º 249º é regime geral, mas há regras especiais para medidas cautelares em cada meio.

6.1.5.1. MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA

EXAMES

Art.º 171º e ss.

Art.º 171º nº1 – em sentido amplo os exames nem sempre são meios de obtenção da prova – em sentido amplo é a
atividade probatória norma sobre a prova real (coisas) ou à prova sobre o corpo da pessoa.

FIM = ter a perceção e eventualmente fixação documental dos meios de prova.

Se carecer de especiais conhecimentos = perícia.

Se não interferir com direitos das pessoas está sujeito ao regime dos atos normais de investigação. Exigem cuidados
especiais e tornam-se meios de obtenção de prova quando restringem direitos das pessoas, nomeadamente quando
são não consentidos pela pessoa.

É nestas condições que se rege os exames no 171º e ss. – sempre que não houver um elemento que não os torne
restritivos de DF sujeita-se ao regime normal.

Art.º 172º nº1 – exames legais não consentidos em geral – pode ser compelido por decisão da AJ competente – art.º
1º nº1 b) – Juiz, JIC, MP – devia ser juiz porque são DF, mas legislador assumiu decisão de meia-haste, porque criou
regime especial por serem restritivos de DF, mas nunca entrega meios de obtenção de prova ao JIC, em princípio,
embora também nunca os deixe nos OPC: são da competência do MP (autoridade judiciária no inquérito) e só em
casos especiais do JIC.

Art.º 172º nº2 – exames sobre características físicas e psíquicas – remete para 154º e 156º nº6 e7 – 154º nº3 –
competência do juiz que pondera a necessidade da sua realização. Quando exija especiais conhecimentos é perícia,
mas também tem de ser autorizada pelo JIC.

Ver acórdãos em que se levantava problema porque este regime das perícias e exames não consentidos sobre
características físicas e psíquicas do arguido não estava assim previsto na lei antes de 2007 – TC exigiu habilitação
legal (previsto na lei), com densificação suficiente (especifico e não mera clausula geral), proporcional (precaveu-se
no 154º nº3 in fine) e ordenado pelo tribunal. Veio a ser estabelecido no CPP 2007.

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Exames que possam ofender o pudor – 172º nº3 e 270º nº2 c)

REVISTAS E BUSCAS

São propriamente meios de obtenção de prova – o exame é a atividade probatória só é meio de obtenção quando
restritivo de direitos. As revistas e buscas são verdadeiros meios de obtenção de prova - diligências para encontrar e
depois apreender (mas esse é outro meio) – a atuação de procurar meio de prova pode em si mesma ser restritiva
de direitos – revistam-se pessoas, buscam-se lugar – 174º nº1 e 2 – sempre para encontrar meios de prova. Mas a
busca está sujeita mesmo quando não é meio de obtenção de prova (nº2 – para encontrar meios de prova ou o
agente ou outra pessoa que deva ser detida = é meio de encontrar pessoas).

Isto são meios de obtenção de prova, porque são restritivos – se for buscar vestígios de um crime numa estrada é
uma busca? Não, só quando num lugar não acessível ao público. Pode fazer-se busca numa estrada, mas é diligencia
normal e não meio de obtenção de prova.

Aqui há um regime em termos de competência e de procedimento – determinação num despacho (174/4) e certas
formalidades (174/4, 175º e 176º que visa tutelar direitos das pessoas).

Aqui assistimos ao parâmetro geral da competência = ao dos exames- art.º 174º nº3 – AJ competente = MP – 1º nº1
b) e 263º + 267º. Crítica supra mas admitido pelo CPP e TC, mesmo que estejam em causa DF.

MAS – há casos especiais mais gravemente violadores de direitos fundamentais:

1. Busca domiciliária – art.º 32º nº2 e 3 CRP + 177º e 269º nº1 c) – juiz e não MP e não pode ser feita à partida de
noite. Há outras situações ainda mais tuteladas porque se pressupõe que são mais perigosas para a reserva da vida
privada – busca domiciliária é perigosa para reserva da vida privada porque no domicílio não sei se tem alguma coisa
e onde = vou ter de vasculhar e isso envolve exposição global do que é a casa das pessoas e o que isso significa como
espelho da vida das pessoas. Essa exposição por vezes é mais extensa – ex. se vou a escritório de advogados,
consultório medico = pode tornar-se agressivo da reserva da vida privada não de uma pessoa, mas de todos os
clientes = 175º nº5 e 268º nº1 c) + 176/6 e 268/1 c) + 268º 1 c) (competências reservadas do juiz de instrução – a
praticar; 269º - a autorizar - c) buscas domiciliárias) – escritório de advogado ou consultório medico,
estabelecimento oficial de saúde, estabelecimento bancário. Não só têm de ser autorizadas pelo juiz, mas presididas
por ele!

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Regime especial de medidas cautelares – 174º nº5, 6; 176/3 e 177/3 e 4; 251º - pelos OPC, sujeitos a validação.

APREENSÕES

Correspondem a atos de desapossamento com estrutura material semelhante ao arresto e penhora do PC – não
poem em causa a propriedade – 178/1. Regime semelhante às buscas e revistas porque estas servem para encontrar
meio de prova e depois apreende-lo.

Competência – AJ competente (=MP) – 178/3.

Casos especiais – situações mais agressivas de DF:

1. de correspondência – 34/4 CRP, 179º, 268/1 d) e 269/1 d) – raciocínio semelhante ao da busca domiciliária – não
sabemos da correspondência o que interessa = temos de vasculhar tudo. Quando é que é correspondência? Ex.
encontrar carta fechada numa busca domiciliária – generalidade doutrina – é correspondência se estiver fechada;
JLM – uma vez recebida deixa de ser correspondência.

+ 179 º - só para crime punível com pena de prisão superior de 3 anos. Raciocínio de proporcionalidade – é tao
intrusivo que fins não justificam os meios.

2. apreensão em escritório de advogados, medico, estabelecimento bancário – 180º, 268/1 c), 181º 268/1 c).

3. outros obrigados ao segredo – 182º remete para 135º - ex. jornalistas – podem recusar aplicando-se o 135º

Mas ex. doc veio-lhe à mao porque era advogada ou mulher do arguido? É ou não pelo exercício das funções –
âmbito do segredo – duvidas fundadas sobre a legitimidade da escusa (= não foi no exercício da profissão?) = 135º

Medidas cautelares – 178/4 e 5, 249/2 c), 252º

ESCUTAS TELEFÓNICAS E SIMILARES

Regime construído a partir do velho regime das apreensões de correspondência. Foi evoluindo para regime que é
hoje não perfeito, mas equilibrado, por força da jurisprudência do TC. Este equilíbrio passa pela ideia que as escutas
telefónicas tem custo para DF das pessoas e não só do arguido e mesmo quanto ao arguido tornou-se meio de
vigilância permanente da vida da pessoa, porque é dado sociológico que pessoas usam telefone assim = ref. 2007 =
redução em termos de proporcionalidade.

Escuta = interceção da comunicação que é gravada e transcrita – a interceção não é meio de prova, o que é é o
registo que fica da comunicação telefónica que para estes efeitos tem sentido amplo: 187/1 – ex. fax. O legislador
para domesticar isto arranjou regime me que procura limitar casos em que é admissível e depois um procedimento =
Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro
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1.só admitida em determinado nº de crimes – 187º nº1 e 2 (quando JIC pode divergir do juiz do processo – JIC não é
o do processo, mas também o do lugar onde comunicações tiverem lugar) – crime de catálogo

2. Necessidade e subsidiariedade – 18º CRP e 187/1 – indispensável – de outra forma impossível ou muito difícil de
obter; ultima ratio.

3. Competência – 34/4 CRP e 187 n1 e 2 (juiz do processo ou juiz do local das escutas).

4. Só ordenadas e realizadas no inquérito, não na instrução e muito menos no julgamento – 187/1

5. Visados nas escutas – 187 4e 5 – antes não resultava nem do CPP nem da CRP se havia algum limite aos visados -
ex. Namorada do suspeito pode ser sujeita a escutas? – Ref 2007 limitou. Intermediário = correio (pessoa que leva e
traz mensagens)

6. Conhecimentos fortuitos – no âmbito de um inquérito por furto de resíduos ferrosos de várias empresas públicas,
um dos arguidos quando está sob escuta fala com 3ª pessoa e comete crime de corrupção – estávamos a investigar
outro crime e acontece que chega até nós o conhecimento de outro crime. Deu lugar a grande discussão cujo
resultado maioritário o legislador em 2007 aceitou. Há quem diga que estes conhecimentos fortuitos não podem ser
usados, escuta era autorizada não para investigar todos os crimes + é incentivo para polícia se sentar à escuta de
toda a gente! Outros diziam que escuta foi autorizada e houve juízo judicial que viu se era lícito e proporcional fazer
escuta a pessoa e portanto foram legalmente intercetadas, gravadas, logo prova é legal que pode ser usada. Ref.
2007 = posso usar se antes de elas existirem pudesse ter ordenado aquela escuta = tratar-se de crime que admite
escuta e realizadas entre visada = solução não e radical, não diz nunca podes ou podes sempre.

PROCEDIMENTO – 188º

Durante muito tempo uma deficiente regulamentação do procedimento levou a um abuso grande. Foi TC que velou
por que houvesse acompanhamento efetivo das escutas, para manter a garantia jurisdicional e isto levou à
regulamentação do 188ºque exige acompanhamento judicial de perto para juiz poder com frequência analisar
necessidade – nº1 a 4 – seleção do que é relevante e não para evitar voyeurismo

+ Transcrição destruição e utilização – nº6 e ss. – o meio de prova é à partida a transcrição e não propriamente a
escuta, mas em muitos processos juízes fazem ouvir escutas mesmo, o que não é proibido.

EXTENSÃO – 189º - desde 98 que legislador estendeu este regime a outras formas de comunicação por via
telemática diferentes do telefone e gravação de conversas entre presentes (gravadores). Envolvia também correio
eletrónico.

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98

Esta situação mudou com lei do cibercrime – lei 109/2009 – direito penal material (incriminações dos cibercrimes) +
disposições processuais – sempre que tivermos de fazer diligências digitais (ex. apreender ficheiros). Esta lei
derrogou extensão do 189º - coisas que antes desta lei eram reguladas por extensão do regime das escutas
telefónicas, têm agora regime próprio – 15º (pesquisa – similar a busca); apreensão e distingue no 16º e 17º a
apreensão de correio eletrónico e interceção de comunicações – aqui não interessa se já esta recebida ou não,
fechada ou aberta etc.

189/2

Temos esquizofrenia no sistema – lei do cibercrime; medidas de combate à criminalidade organizada; ações
encobertas (Lei 101/2001 – ex. infiltrados; mas agentes provocadores não). Ver estas leis não para saber regime,
mas para ver o que está regulado e se corresponde ao código.

Infração meios obtenção prova = nulidade de prova – 126/3 e CRP – ressalvados casos previstos na lei = enquanto
meios de obtenção de prova cumprem lei, são utilizáveis, depois são nulos. Ex. 177º Nº1; 190º ~

Há quem diga que nulidades de prova do 126/3 é diferente do nº1 porque nº3 permite consentimento = devíamos
também distinguir dentro das nulidades de prova as sanáveis e insanáveis MAS 1. Consequência é a mesma + nº4 2.
Mesmo regime

6.1.5.2. MEDIDAS DE COACÇÃO E DE GARANTIA PATRIMONIAL

Ver 1º slide

Difere dos outros meios coativos pelos fins (204º) – meios de obtenção da prova (obter e conservar prova); medidas
de garantia patrimonial (191º - /227º - medidas coativas mas que servem para garantir pagamento efetivo de
condenações pecuniárias – multas, custas, … semelhante medidas cautelares PC – difere da caução do 197º que
serve para fazer face a perigos do 204º, embora seja estruturalmente a mesma medida coativa); detenção (250º e
254º) – diferem da prisão preventiva (visa 204º), enquanto a detenção visa o 254º (precária para efeitos de
apresentação imediata) + a detenção pode ser do suspeito ou arguido ou não, porque na al. b) do 254º - é execução
forçada do dever de comparência que assiste também as testemunhas (116º) entre outros + detenção em flagrante
delito – 255º.

Arguido pode ser detido em flagrante delito ou fora: se é em flagrante delito pode ser julgado em processo sumário
(381º), mas se não puder ser julgado no processo sumário, é detido para ser presente ao 1º interrogatório do
arguido detido – 141º.

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


99

Se for fora do flagrante delito – 257º -acontece para tudo o que está no 254º a), menos processo sumário. Faz-se
sempre imediatamente (ate 48h) para ser presente ao JIC para 1º interrogatório, findo o qual aplica ou não medida
de coação.

Assim, as medidas materialmente até podem ser iguais, mas fins são diferentes.

Relevância dos fins serve também para mostrar que tem natureza excecional – exceções ao 27º CRP – direito à
liberdade e segurança – diz que a sentença judicial condenatória está para lá do direito à liberdade pessoal física ou
de comoção.

Se não estão previstas no 27º não são admissíveis

1. tem de ser admitidas pela CRP

2. regime constitucional garantistico – pp. legalidade 27/3, necessidade adequação e proporcionalidade.

3. Garantia jurisdicional intensificada – envolve direito à jurisdição (ou determinadas por tribunal ou por outra
entidade, mas sempre sujeitos a validação judicial) + recurso da decisão jurisdicional (da decisão do juiz cabe sempre
recurso – 32/1) + habeas corpus – 31º CRP (serve para tapar buracos que sistema de recursos deixa, claro que não
serve para casos que já estão em recurso).

4. direito a indemnização – 27/5 CRP

Cercada por todos os lados de garantias constitucionais

COMO SE COMPATIBILIZAM COM PRESUNÇAÕDE INOCÊNCIA?

Não são antecipação da pena ou medidas de segurança!

Se esse pensamento se instalar, aí sim quebra presunção de inocencia. É um mal necessário para evitar males
processuais piores. Não tem fundamento substantivo, mas processual – 204º

200º 201º 202º exigem fortes indícios do crime, mas não é para punir o arguido, é pq havendo fortes indícios é
necessário prender por causa do 204º!

Exigência de indiciação forte é exigência de proporcionalidade – 193/1 e 2 + legalidade e necessidade – 27º e 27º
e18º CRP+ 191º

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PRESSUPOSTOS GERAIS

1. Constituição como arguido – 192/1

2. pericula libertatis - 204º

Mas exceção 196º - TIR não exige verificação dos fins do 204º = é obrigatória sempre que há constituição de arguido
- TIR é auto que tem identificação do arguido e sua residência. Podíamos dizer que n e bem medida de coação.
Finalidade pratica não confundir arguido e notifica-lo, mas tem algo de medida de coação = não mudar de residência
e não se ausentar mais de 5 dias sem dizer.

Verificação EM CONCRETO

3.Fumus commissi delicti – imputação 192º 196º a 199º ou fortes indícios 200º a 202º

TIPOLOGIA DAS MEDIDAS DE COAÇÃO

Refração da adequação e proporcionalidade –

Ex. 199º Para fazer face ao perigo perturbação investigação – destruir prova.

Vai sendo cada vez mais grave exige requisitos mais graves- no fundo são todas subsidiárias aplica-se menos gravosa

Procedimento – aplicação das medidas de coação – 194º - poe aplicar mais grave do que a requeria pelo MP?
Discutido. Legislador justiça salomónica nº 2 e 3.

O OBJECTO DO PROCESSO

O PROCESSO VERSA SOBRE QUÊ NA FASE DECLARATIVA (na executiva faz aplicar a pena)?

É o crime ou o facto (com ressalva das questões processuais e do pedido civil) – art.º 1º nº1 a) – noção formal e
ampla – fala em medida de segurança, mas esta aplica-se aos estados de perigosidade (noção ampla).

Com caráter hipotético – é objeto da imputação cuja verificação se vai procurar ao longo do processo – aquilo que é
o objeto do processo é objeto de uma discussão. Só se fixa no momento do trânsito em julgado da decisão = o crime
para efeitos penais (facto substantivo que já sabemos que existiu) e processuais penais não é a mesma coisa. Isto
tem outras implicações = crime deve ser amputado ou não?

Processo Penal – 2014/2015 Inês Chorro


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JLM – o crime é objeto do processo penal como facto criminoso na plenitude da sua estrutura real e do seu
significado valorativo = é todo o crime, não só a estrutura essencial, todos os factos – art.º 124º nº1 + isto tem
importância no que deve constar da acusação – 283º nº3 b); 374/2 e 375/1 = o objeto do processo é tudo!

É também objeto do processo a qualificação jurídica – art.º 283/1 c); 374/2 e 3 a) – ex. muitas vezes no recurso o
que está em causa é a qualificação jurídica – é objeto do processo, porque é objeto da discussão.

Outra questão é saber se tenho de atender a todos estes aspetos ou só alguns para certos efeitos – ex. para o caso
julgado, interessa só estrutura essencial ou todos os factos? Isso é questão diferente, são objeto do processo mas
podem relevar para uns aspetos e outros não. Ex. para o caso julgado a qualificação jurídica é irrelevante, porque
juiz devia ter conhecido de todas as relevâncias jurídicas daqueles factos, se não arguido seria sujeito a infinidade de
processos penais, bastando alterar qualificação.

O objeto do processo é o centro nevrálgico do processo – comando muitos aspetos do regime do processo (ex.
legitimidade, competência, forma) - o modo como discutimos as coisas depende do objeto da discussão.
Diretamente há 4 institutos onde o objeto do processo denota mais a sua influencia:

A. alteração do objeto do processo ao longo do processo/convolação

CASO – A vem acusado de ter atropelado B por negligência, causando-lhe ferimentos graves = 148/3 CP.

Resulta da prova testemunhal produzida em julgado que:

(1) B afinal queria matá-lo = não foi por descuido, havia dolo

(2) A afinal atropelou-o porque este tinha uma arma e ia disparar sobre ele.

Juiz entende que factos constantes da acusação correspondem antes a um crime de condução perigosa com
resultado de ofensas graves – 291º e 285º + 294º nº3.

MAS – e se isto se levantasse não no julgamento, mas

1.No inquérito

2.Na Instrução

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A nossa lei como implicação necessária do direito de defesa exige que a partir de dado momento objeto do processo
seja imutável = o fim das garantias de defesa do arguido exige a invariabilidade do objeto do processo – temos de
nos assegurar que arguido foi ouvido sobre aquilo por que vai ser condenado.

=
esse momento na atual estrutura processual é a transição entre o final do inquérito e a abertura da instrução.
Durante o inquérito o objeto do processo pode variar e frequentemente varia, no início do PP ainda não sabemos
bem o que aconteceu, temos apenas um esqueleto de factos.

Ex. pessoa atropelada na estrada – pode ter sido acidente, homicídio, …

Até durante processo podem surgir problemas de legitimidade – ex. parece ser burla simples = dependia de queixa.

O objeto do processo fixa-se se for publico ou semipúblico na acusação do MP, no RAI ou em ambos – 283º. Se isto
acontecer depois há possível papel do assistente = ou deduz acusação (se está fundamentalmente de acordo com
MP – 284º) ou RAI (287º Nº1 b) – se houver arquivamento ou se houver acusação do MP, mas quer alterar
substancialmente acusação).

Também é assim nos crimes particulares invertidas as posições – quem deduz primeiro acusação é o assistente –
285º. Depois MP pode fazer proceder ao nº4, mas não pode fazer RAI.

No fundo podemos dizer que a definição originária do objeto do processo se dá ou na acusação, ou no RAI, ou em
ambos.

A partir daqui margem de variação do objeto é altamente limitada – objeto do processo é relativamente inalterável.

NOTA: interesse em acusar pelos mesmos factos do MP = tomar posição no processo.

NOTA: acusação por adesão é modalidade da acusação pelos mesmos factos.

Na instrução – 303º - nº1 e nº5 – não há liberdade de alterar, mas há aqui cisão fundamental: se é alteração não
substancial dos factos ou da qualificação jurídica (nº1 e nº5), o juiz da oportunidade de defesa e depois pode alterar;
se pelo contrário há alteração substancial (nº3 e 4) não se pode pronunciar pelos factos que não constam da
acusação ou do RAI, se forem autonomizáveis apenas pode fazer uma denúncia. Sob pena de nulidade da decisão
instrutória – 309º. Se faz alteração não substancial sem dar oportunidade de defesa = irregularidade.

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No julgamento – 358º (alteração não substancial dos factos – nº1 ou da qualificação jurídica – nº3); 359º (alteração
substancial) – não há liberdade de alterar, mas temos de distinguir não substancial e substancial. Consequência =
nulidade tanto para 358º como 359º - 379º nº1 b).

JFD defendia no anteprojecto do CPP que momento essencial de definição do objeto do processo era pronúncia, mas
não vingou.

REGIME DA ALTERAÇÃO DO OBJETO DO PROCESSO

Há que distinguir numa operação puramente mental (não há diferenciação entre o os factos e a qualificação jurídica
que não é destacável da realidade dos factos):

1. alteração dos factos:

(1) não substancial – admissível desde que se dê ao arguido o direito de defesa.

(2) substancial – hoje em dia o assunto é claro, mas não era assim no regime anterior a 2007 onde apenas se dizia
que o tribunal não podia conhecer dos novos factos, mas a comunicação quanto a eles ao MP valia como denúncia =
levou a generalidade da doutrina e jurisprudência (GMS) a dizer que estávamos perante sistema em que se permitia
aperfeiçoamento da acusação (como na generalidade dos países europeus) se da prova produzida aparecerem novos
factos (ex. os do 132º - premeditação etc.) – GMS defendia que processo regressava à fase de inquérito e MP vai
poder proferir nova acusação já com factos que se demonstraram no julgamento. Desde 2007, não podem ser
conhecidos no processo, o processo não volta para trás e factos novos só são relevantes se forem autonomizáveis
(se em si mesmo constituírem crime) – afastou orientação anterior = intensificação do pp. do acusatório e do poder
de preclusão (antes acusação e pronuncia não impediam que o surgimento de novos factos pudesse levar arguido a
ser julgados por eles, só não podia ser logo, tinha de se voltar atrás). Problema é que nem sempre atuação do MP é
sindicável, mas é determinante para o futuro, porque não se volta atrás. Solução expressa no 303º nº3 e 4 e 359º
nº1 e 2.

O que é uma alteração substancial?

Art.º 1º nº1 f) – noção de alteração substancial – código define geneticamente, não diz quais são – indica pelos
efeitos: imputação de crime fundamentalmente diverso ou agravação dos limites máximos da sanção aplicável =
pressuposto implícito da identidade do caso. O crime diverso que aqui está não é um crime que corresponde a um
tipo de crime diferente, se não a ultima parte da al. f) do art.º 1º não tinha aplicação, porque sempre que havia
alteração do limite máximo também ahvia tipo diferente! Crime diverso não é tipo de crime diferente, é tipo de
crime diferente e fundamentalmente diferente – ex. arguido acusado de ofensa à integridade física e no julgamento
ou instrução se chega à conclusão que praticou facto movido por compreensível emoção violenta – provocação
insistente por parte da vítima = 146º - não é o mesmo tipo de crime, mas temos um crime diverso? Não! Lei exige
tipo de crime diferente, mas fundamentalmente diferente (ver exemplos no power point – ex.fase diferente do inter
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criminis – tentativa para consumação – não são substanciais, mas podem cair no 2º critério da al. f) – ex. passar de
homicídio simples para privilegiado não é crime diverso, mas limite máximo da sanção é mais grave; ex. passar da
tentativa para a consumação não é crime diverso, mas limite máximo mais grave.

Conclusão – 1º imputação de crime diverso que não é só crime de tipo diferente, mas de tipo fundamentalmente
diferente. 2º limite máximo da sanção aplicável agravado.

Ver power point

Mas regime não devia seguir prsunçao de inocencia 32/2 CRP = se favorável conta,se não não conta? Mas não altera
quadro da sua defesa preparar-se para crime consumado e depois ser tentativa. Arguido não é surpreendido com
decisão ainda que favorável.

Ex. vários crimes de furto – reincidência – 176º - é mesmo crime, não altera limite máximo, mas mínimo = não é
alteração substancial.

2. alteração da qualificação jurídica – 303/5 e 358/5 – factos permanecem os mesmos e apenas se altera a
qualificação jurídica.

CPP 1929 – liberdade de qualificação jurídica – surgiu na jurisprudência e doutrina ideia de que esse entendimento
do CPP 1929 que só admitia factos novos se favoráveis ao arguido e consagrava liberdade de qualificação jurídica
expressamente (podia condenar pelos mesmos factos, por figura criminal diversa, ainda que mais grave) continuava
– Ac. STJ 2/93 onde venceu doutrina do CPP 1929.

Contra este entendimento pronunciou-se GMS – é elemento essencial para o arguido que tem de ter possibilidade
de se defender quer quanto aos factos, quer quanto à qualificação jurídica – não são se defende de meros factos =
equiparação à alteração dos factos. Se eu mantiver factos e alterar qualificação também posso ter mesmo efeito de
agravação do limite máximo da pena, por exemplo = aplicação analógica do regime da alteração dos factos – é
alteração substancial ou não? Uso o mesmo critério do 1º f).

Esta solução veio a ser ultrapassada na prática 1º pela jurisprudência do TC e depois na própria legislação – Ac. Tc
279/95 com FOG – incidiu sobre Ac. STJ 2/93 que dizia que qualificação jurídica era livre – interpretação
inconstitucional se não der ao arguido possibilidade de se pronunciar sobre nova qualificação jurídica (deu razão a
GMS quanto a isto) = apotnou para regime das alterações não substanciais, so disse é que tem de se dar direito de
defesa. 358/3 e 303/5.

B. pressupostos processuais relativos ao objeto – caso julgado e litispendência.

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C. conexão de processos.

7. A MARCHA DO PROCESSO: NOÇÕES FUNDAMENTAIS

7.1. FORMAS E FASES DO PROCESSO PENAL

Plurarlidade de formas de processo

1. forma comum

2. formas especiais – sumaria, abreviada, sumaríssima

Estão adaptadas para crimes de qualquer natureza = são todas comum, diferem é pelo âmbito de aplicação – não
é como no CPC – mas há formas de processo especiais para crimes especiais em legislação avulsa – ex. militares –
art.º 3º CPP.

Ver quadro ds fromas – comum aplica-se quando não se aplicar especial – asoutras aplicam-se

Sumario – detido e apresentado de imediato a julgmaneto pq tornou desnecessário procurar indícios suficientes

Abreviado – 391º-A – raciocínio global do processo sumario, mas não dispensa fases preliminares
complemtanete, permite é que não tenham amplitude que tem no processo comum.

Sumaríssimo – 392º - forma especial da fase de julgamento que se pode enxertar em qqr outra das forma
processuais no caso do 392º. Assenta no consenso e não na produção de prova.

7.2. O PROCESSO COMUM DECLARATIVO EM 1ª INSTÂNCIA (depois segue-se recursos


– 399º e ss.+ execuções – 467º e ss.)

Distinção fase preliminar vs. principal (supra) – repartição em função da indiciação suficiente – 283/2. O que são
indícios suficientes? Basta probabilidade ou também tem de passar o crivo da presunção de inocencia/in dubio
pro reo? VER TEXTO JORGE SILVEIRA.

Houve voz que em 1961 veio dizer que para irmos para julgamento não basta probabilidade, precisamos do
mesmo grau de certeza do que para a sentença condenatória.

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TC também já se pronunciou embora em obiter dicta no sentido de que o in dúbio pro reo se aplica na decisão
sobre indícios suficientes. Letra da lei aponta para probabilidade razoável, mas interpretação conforme ao pp. da
presunção de inocência.

Se no final do inquérito não se tem indícios suficientes, não é seguramente na audiência de julgamento que
vamos arranjar a prova que nos falta!

Ex. posso impor injunções e regras de conduta em vez de acusar, com base numa mera probabilidade? Não, não
faz sentido!

Interpretação literal de indícios suficientes é errada!

JLM concorda com doutrina mais recente (JORGE SILVEIRA).

A diferença é que a indiciação suficiente é juízo que se faz perante prova produzida no inquérito e instrução com
condicionalismos inerentes (unilateralidade, não oral, porventura inquérito secreto, …).

No julgamento base do juízo é diferente (audiência, contraditório, oralidade, …).

7.2.1. INQUÉRITO

FINALIDADE – 262/1

COMPETÊNCIA – supra – não pode delegar competências que estão no 270º + direção do inquérito 263º +
53º nº2 (núcleo do exercício da ação penal que não pode ser delegado) – 270º nº2 e).

Já não secreta – nº1 MAS nº2 e 3 do 86º - ver power point – validação porque viola direito de defesa.

O QUE É E COMO SE ADQUIRE NOTÍCIA DA INFRAÇÃO?

Com notícia do crime – 241º - informação da prática da infração, mas não é uma qualquer, tem de suscitar a
suspeita da prática da infração.

Ex. anda a enganar a mulher – não é crime!

Tem de suscitar suspeita de crime e de estar viva responsabilidade.

Daí a resistência à abertura do inquérito com base em denúncias anónimas – 246º nº5
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Formas da notícia – 241º: conhecimento próprio + intermédio dos OPC (são tb terceiros, pq quem abre
inquérito é MP, mas é para distinguir da denúncia em sentido amplo) + denúncia lato sensu (toda a noticia
dada por 3º que não é OPC) - 246º nº4 = denuncia + queixa – envolve 53º nº2 a).

Há casos em que noticia da infração tem configuração especial = auto de notícia – ex. passar uma multa –
constituição oficial de um flagrante delito – art.º 243º - só quando entidades presenciam crime de denuncia
obrigatória – 242º

MP recebe notícia e tem de haver despacho de abertura do inquérito – legalidade – 262/2 – para assegurar
que MP é que decide abrir inquérito.

CONTEUDO – pp. necessidade 267º – diligencias para ver se há indícios – mas desvio = obrigação interrogar
arguido (272º) desde 1968 se inquérito correr contra pessoa determinada e houver fundada suspeita para
exercer direito de defesa. Ac. Stj 1/2006 – 120º nº2 d)

+art.º 151º = obrigação quando isso acontece? Há quem defende que sim.

Duração – 276º prazos máximos meramente ordenadores - 276º nº6 e ss. (acaba prazo de inquérito não tem
de fecha-lo!) + 108º e ss. + 89/6 demonstram isto extinção do prazo de inquérito naoleva a parar dever de
investigar, apenas comunicação ao superior hierárquico e aceleração processual

Mas nem todos os prazos para MP são meramente ordenadores (ex.recurso – peremptorio) – so são
ordenadores se virmos que não faz seguir ao seu decurso uma perempção.

Fim – arquivar (pq não há indícios ou faltam pressupostos processuais -277º a 279º) acusar (283º) ou
diversão: 280º ou 281º + 2º ou 392º (nos crimes semi-publicos e públicos). Nos crimes particulares =
notificação (285º) – depois pode ou não seguir-se acusação particular.

Inversão ordem o crime publcio semi-publico = STJ 1/2000 = nulidade 119º b) – adesão Mp

Ver esquema reação dos outros sujeitos processuais.

Requerimento instrução = meio de defesa processual do arguido – n pede absolvição, pede deicsao que diga
que n há pressupostos essenciais para ser submetido a julgamento.

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NOTA: 309º = RAI ou acusação é que delimitam objeto – 57º - RAI do assistente é materialmente uma
acusação! Mas ex. se não tenho dados para RAI, pq quase não houve investigação etc. = 278/2. Lei não da
critério para assistente fazer RAI ou 278/2 mas critério é que RAI tem de ter na sua base informação
suficiente para fazer acusação, se não não podemos fazer.

278/2 – ver acordao – requerer reabertura do inquérito.

279º - definitividade rebus sic standibus – estando as coisas assim = pode haver alteração das circunstancias.

Acusação material e formal – acusação = promoção de julgamento com audiência de julgamento – critério
formal. Ex .RAI não é promoção imediata do julgamento mas é acusaçaoem sentido material se for do
assistente

7.2.2. INSTRUÇÃO

Função impugnativa. Não é revogação da decisão do arquivamento/acusçaao e voltar ao inquérito.

Objeto invariável – 303º 309º

Rai matéria de facto e prova eventual. Instrução pode ser só sobre matéria de dto.

O doassistetente tem de ter aquilo que uma acusação tem para dlimtiar objeto do processo.

Irrecorribilidade 291/2 mas 292/2 iii obrigatoriedade einterrogar arguido se solicitar

310 mas regra 399º

7.2.3. JULGAMENTO

311º despacho liminar – poder do Presidente de sanear o processo – competência funcional. Poder de
saneamento sempre, mas nº2 e 3 poder que existe se não houver instrução.

Pode rejeitar acusação, mas pelo nº3 – não é ver se há indícios suficientes. Todos os vícios que estão no nº3
detetam-se olhando para texto da acusação. Pp. acusatório.

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