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Sumário

Assuntos da Rodada ...................................................................................... 3

a. Teoria .............................................................................................................. 4

b. Resumo da Rodada ................................................................................. 31

c. Revisão 01 ................................................................................................... 32

d. Revisão 02 .................................................................................................. 35

e. Revisão 03 .................................................................................................. 38

f. Normas .......................................................................................................... 41

g. Gabarito ....................................................................................................... 46

h. Comentários às questões ..................................................................... 47

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Rodada #1 – Direito Processual Penal

Professor Bruno Schettini

Assuntos da Rodada

DIREITO PROCESSUAL PENAL: 1 Ação penal. 1.1 Conceito. 1.2


Características. 1.3 Espécies. 1.4 Condições. 2 Termo
Circunstanciado de Ocorrência (Lei nº 9.099, de 1995). 2.1 Atos
processuais: forma, lugar e tempo. 3 Prova. 3.1 Conceito, objeto,
classificação. 3.2 Preservação de local de crime. 3.3 Requisitos e ônus
da prova. 3.4 Provas ilícitas. 3.5 Meios de prova: pericial,
interrogatório, confissão, perguntas ao ofendido, testemunhas,
reconhecimento de pessoas e coisas, acareação, documentos,
indícios. 3.6 Busca e apreensão: pessoal, domiciliar, requisitos,
restrições, horários. 4 Prisão. 4.1 Conceito, formalidades, espécies e
mandado de prisão e cumprimento. 4.2 Prisão em flagrante. 5
Identificação Criminal (art. 5º, LVIII, da Constituição Federal e art. 3º
da Lei nº 12.037, de 2009). 6 Diligências Investigatórias (art. 6º e 13
do CPP).

Obs.: Os temas 2 e 5 do edital de Direito Processual Penal serão


abordados na matéria de Legislação Especial.

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a. Teoria

Olá! Iniciamos o nosso curso, seguindo a mudança que esse edital da PRF
trouxe, pelo estudo da ação penal, suas características e classificações.

Após a leitura da matéria, traremos questões para testar o conteúdo.


As questões não são apenas da banca do concurso (Vamos buscar
abordar variações interessantes das questões da matéria). Por isso,
outras bancas tb aparecem, mas sempre com a mesma interpretação
e direcionamento. Assim, damos mais volume e fixação ao conteúdo.

Vamos lá!!!

O direito de ação é assegurado a todos aqueles que buscam a tutela


jurisdicional (função do Estado de dirimir conflitos através da atuação
do Poder Judiciário), conforme explicita a Constituição Federal, no
seu art. 5º, XXXV:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou


ameaça a direito;

Uma vez que o titular da ação penal tenha reunido provas ou indícios
que lhe convençam da prática e da autoria de uma conduta
criminosa, é necessário que se prossiga na persecução penal, com o
ajuizamento de uma ação penal, a qual é nosso objeto de estudo
agora.

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Ação penal é quando passa a existir uma acusação formal e um
processo contra aquele que, em tese, realizou o delito
Então, vamos nessa!

Ação penal

1. A manifestação do poder jurisdicional do Estado, com a aplicação de


uma pena, é reservada aos órgãos aos quais se atribuiu o exercício
da jurisdição.

2. Assim, o órgão que promover a acusação deve provocar a


manifestação do órgão a que se atribui o exercício da jurisdição.

3. O órgão titular da ação penal, por excelência, é o Ministério Público,


segundo o artigo 129, inciso I, da Constituição Federal.

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da


lei;”.

4. A ação penal é o direito ou poder que possui o órgão acusador de


pedir ao Poder Judiciário a condenação do acusado e de provocar a
sua manifestação sobre esse pedido.

Natureza jurídica da ação

5. Em relação à natureza jurídica da ação existe muita controvérsia


doutrinária. Ora a classificam como poder e ora como direito.

6. Uma coisa é certa: uma vez ajuizada a ação penal, o Estado tem o
dever de emitir uma decisão acerca do tema.

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Características da ação penal

7. Costumeiramente têm sido atribuídas à ação penal pelos


doutrinadores as seguintes características:

7.1 Direito subjetivo: o direito de ação, sendo a ação penal


pública, além de direito constitui um dever de agir (por parte do
MP) ou faculdade de agir, no caso de ação penal privada, a fim de
se obter certo interesse.

7.2 Direito abstrato: O direito de ação independe do direito


material. Qualquer pessoa pode exercer o seu direito de ação a
despeito de ter havido uma situação concreta na qual teve seu
direito ferido. Ele independe do resultado do processo. No caso do
processo penal, o direito de ação independe de haver uma
absolvição ou condenação.

7.3 Caráter público: Tem caráter público uma vez que sempre é
exercido contra o Estado, pois seu objetivo final é aplicar o Direito
Penal a um caso que ocorreu no mundo real. A atividade
jurisdicional tem caráter público.

7.4 Direito autônomo: Ele não se confunde com o direito


material ou Penal. A sua existência ou possibilidade de que seja
exercido independe de qualquer relação jurídica material.

Sistemas processuais penais

8. Existem os sistemas processuais acusatório, inquisitivo e o misto,


segundo a doutrina majoritária.

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8.1 Sistema inquisitório ou inquisitivo: No sistema processual
inquisitivo, as funções de acusar, julgar e defender estão em uma
única pessoa. Outra característica desse sistema é não ser público,
e sim sigiloso.

Nesse sistema também não há partes e nem ao menos garantias


constitucionais. Não existe a presunção de inocência e sim a
presunção de culpa.

As provas, por sua vez, são tarifadas ou valoradas. A confissão,


dessa forma, é absoluta e irretratável, por isso é tida como a
“rainha das provas”.

8.2 Sistema acusatório: Nesse sistema, há separação entre as


funções de acusar, julgar e defender, diferentemente do que havia
no sistema inquisitivo.

Nesse sistema, o juiz é imparcial e sua função é apenas julgar.

O magistrado aqui não produz provas e nem defende o réu.

No sistema acusatório existe a bem definida distinção entre as


funções de acusar, defender e julgar, assim é da essência do
sistema acusatório a restrição ao juiz de atuar nos atos pré-
processuais (investigação antes do início do processo em si).

Existem várias garantias, como o contraditório, a ampla defesa, o


devido processo legal e todos os princípios limitadores do poder
punitivo.

Há presunção da inocência do réu e as provas não são taxativas e


não possuem valoração já pré-determinadas.

8.3 Sistema misto: Esse sistema contém as características do


sistema inquisitivo e do acusatório.

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A primeira fase é a inquisitiva e a segunda fase é a acusatória.

A primeira fase é a da investigação preliminar, a qual tem caráter


inquisitório e o Juiz é, portanto, o gestor das provas. De outro lado,
a segunda fase é a judicial ou processual. Há nele o papel do
acusador (MP, particular), diferente do julgador.

Parte da doutrina afirma que o sistema processual brasileiro seria


misto tendo em vista a atuação do judiciário por ocasião dos
pedidos de medidas cautelares (busca e apreensão, interceptação
telefônica, prisões cautelares), ainda no curso da investigação,
antes do processo.

Nesse sentido, tenha atenção às mudanças inseridas pela Lei nº


13.964/19, sobre o juiz de garantias.

Justa causa para ação penal

9. Somente o fato de ter contra si ajuizada uma ação penal é suficiente


para que se ofenda o estado de dignidade de qualquer pessoa, em
razão disso. a peça acusatória deve vir fundada em um conjunto
probatório ou de indícios o mais sólido possível, suficiente para
justificar o início de uma ação penal. A esse conjunto de elementos
dá-se o nome de justa causa. Em uma prova para Defensor Público
da União, a banca em uma questão conceituou a justa causa como
“lastro probatório mínimo e firme, indicativo da autoria e da
materialidade da infração penal”.

10. Porém, os argumentos contrários à inclusão da “justa causa”


como uma das condições da ação penal ganham força quando se
afirma que a rejeição da denúncia por falta de provas não impediria
que, novamente, fosse intentada nova ação, já com o lastro
probatório satisfatório.

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11. Importante você tomar conhecimento da seguinte decisão
proferida pelo STJ:

“PENAL. HABEAS CORPUS. ARTS. 138, 139 E 140, DO CÓDIGO


PENAL. OFENSA IRROGADA POR ADVOGADOS A MAGISTRADO EM
PETIÇÃO RECURSAL DIRIGIDA AO E. TRIBUNAL A QUO. ART. 142,
I DO CP. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. JUSTA CAUSA.
ATIPICIDADE DA CONDUTA.

I - Ainda que se entenda que o preceito do art. 142, I, do Código


Penal, abrange as ofensas irrogadas ao Magistrado da causa, em
virtude do disposto no art. 7º, § 2º, da Lei n.º 8.906/94 (Estatuto
da OAB), e no art. 133 da Carta Magna, tal imunidade não é
absoluta, dela se excluindo "atos, gestos ou palavras que
manifestamente desbordem do exercício da profissão, como a
agressão (física ou moral), o insulto pessoal e a humilhação
pública". (STF, AO 933/AM, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Britto,
DJU de 06/02/2004, unânime).

II - O trancamento da ação penal por falta de justa causa, na via


estrita do writ, somente é possível se constatado, prima facie, a
atipicidade da conduta, a incidência de causa de extinção da
punibilidade, a ausência de indícios de autoria ou de prova da
materialidade do delito hipóteses inocorrentes na espécie.

III - Não sendo possível a constatação, prima facie, de inexistência


do propósito por parte dos pacientes de ofender a honra do em.
Magistrado, não há que se falar em trancamento da ação penal
tendo em vista a atipicidade da conduta. Entender em sentido
contrário, como quer a impetrante, in casu, ensejaria
impreterivelmente o cotejo minucioso de matéria fático-probatória,
procedimento vedado em sede de habeas corpus. (Precedentes).

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Writ denegado. (HC 33.607/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 09.11.2004, DJ 13.12.2004 p. 387)”

12. A jurisprudência Supremo Tribunal Federal já se firmou no


sentido de que o trancamento da ação penal por meio do habeas
corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando
houver inequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da
incidência de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de
indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito.

13. Sobre esse tema, importante o teor da Súmula 234 do STJ:

“A Participação de membro do Ministério Público na fase


investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou
suspeição para o oferecimento da denúncia.”

Condições de procedibilidade da ação penal

14. As condições de procedibilidade são condições exigidas por lei


para o exercício da ação penal em certos casos. São elas:

14.1 representação do ofendido ou seu representante legal

14.2 requisição do Ministro da Justiça

14.3 ingresso do agente em território nacional em crimes praticados


fora do território nacional

15. Caso essas condições não sejam satisfeitas em situações


específicas que a lei exige, o processo não prossegue.

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Classificação da ação penal

16. Quanto ao titular do direito de exercer a ação penal, ou seja,


com relação ao sujeito que vai exercê-la, há dois gêneros:

16.1 ação penal de iniciativa pública: na ação penal pública, o


titular é o Ministério Público.

A ação penal pública pode ser condicionada ou incondicionada

16.2 ação penal iniciativa privada: na ação penal privada, o


titular é um sujeito privado: o ofendido ou o seu representante
legal.

A ação penal privada pode ser principal ou exclusiva,


personalíssima ou subsidiária da ação penal pública.

Vamos, a partir de agora, detalhar cada uma das classificações da


ação penal. Mas antes, vamos abordar o acordo de não persecução
penal.

Acordo de não Persecução Penal

17. Incluído pelo art. 28-A, da Lei nº 13.964/19, é uma medida que
prestigia uma espécie de freios e contrapesos no processo penal.

“Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o


investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de
infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena
mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá
propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as
seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:”

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18. A aplicação da não persecução penal depende das seguintes
condições:

“I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na


impossibilidade de fazê-lo;”

Imagine a situação em o sujeito confessa o cometimento de um


crime tributário e efetua o pagamento dos valores (mesmo que o
pagamento seja de forma parcelada), ou um outro crime mas que a
reparação do dano ou mesmo a restituição da coisa à vítima torna-se
impossível (a parte interessada precisa provar a referida
impossibilidade de reparação).

“II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo


Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do
crime;”

Em harmonia com o inciso anterior, o sujeito abre mão dos


proveitos crime.

“III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por


período correspondente à pena mínima cominada ao delito
diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo
da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal);

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do


art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser
indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente,
como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito; ou

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V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo
Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a
infração penal imputada.”

19. A definição da pena mínima (inferior a 4 anos, indicada no


caput do artigo 28-A), levará em consideração as causas de aumento
e diminuição aplicáveis ao caso concreto.

“§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se


refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de
aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.”

20. Além das restrições já indicadas no caput, a não persecução


não se aplica nas seguintes hipóteses:

§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas


seguintes hipóteses:

I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados


Especiais Criminais, nos termos da lei; (vide Lei 9.099/95)

II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos


probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou
profissional, exceto se insignificantes as infrações penais
pretéritas;

Atenção! Para a reincidência, observamos as regras regrais


contidas no art. 63, do CP: “verifica-se reincidência quando o agente
comente novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que
no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior”.

III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores


ao cometimento da infração, em acordo de não persecução
penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e

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Atenção! Dispositivo importante para não beneficiar os
criminosos contumazes.

IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou


familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição
de sexo feminino, em favor do agressor.

21. A formalização do acordo de não persecução envolve o MP, o


envolvido e seu defensor, além da homologação que é feita por juiz:

“§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por


escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo
investigado e por seu defensor.

§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal,


será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua
voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do
seu defensor, e sua legalidade.

§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas


as condições dispostas no acordo de não persecução penal,
devolverá os autos ao Ministério Público para que seja
reformulada a proposta de acordo, com concordância do
investigado e seu defensor.

§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução


penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que
inicie sua execução perante o juízo de execução penal.

§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não


atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a
adequação a que se refere o § 5º deste artigo.

§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao


Ministério Público para a análise da necessidade de

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complementação das investigações ou o oferecimento da
denúncia.

§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não


persecução penal e de seu descumprimento.”

22. Se o MP se recusar a propor um acordo de não persecução


penal, o investigado poderá ainda assim requerer remessa dos autos
a órgão superior:

“§14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em


propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá
requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art.
28 deste Código.”

23. Caso as condições que deram sustentação ao acordo de não


persecução sejam desrespeitadas, o mesmo poderá ser rescindido e a
denúncia oferecida para o início da ação penal.

§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no


acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá
comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior
oferecimento de denúncia.

§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal


pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério
Público como justificativa para o eventual não oferecimento de
suspensão condicional do processo.

24. Com a celebração e o cumprimento integral do acordo de não


persecução penal, temos:

“§12. A celebração e o cumprimento do acordo de não


persecução penal não constarão de certidão de

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antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso
III do § 2º deste artigo.

§13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal,


o juízo competente decretará a extinção de punibilidade.”

Ação penal pública

25. Tal ação penal é exercida pelo Estado, por meio do Ministério
Público, representando o próprio interesse da sociedade.

26. A titularidade da ação penal pública pertence ao Ministério


Público, conforme o art. 129, inciso I da Constituição Federal:

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da


lei;”

27. A regra geral no Direito Processual Penal é a ação pública,


consoante o artigo 100 do Código Penal:

“Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei


expressamente a declara privativa do ofendido.”

28. Dessa forma, no silêncio da lei, ou seja, quando a lei penal ao


tipificar uma infração penal nada disser, a ação penal será de
iniciativa pública.

29. A ação penal pública é regida pelos seguintes princípios:

29.1 Princípio da oficialidade: O princípio da oficialidade é aquele


em que a pretensão punitiva do Estado deve se fazer valer por
órgãos públicos, ou seja, a autoridade policial, no caso do
inquérito, e o Ministério Público, no caso da ação penal pública.

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No que tange ao MP, este pode atuar como órgão acusador e/ou
custos legis (fiscal da correta aplicação da lei). Assim, por esse
motivo, é que se fala na mitigação da paridade com a defesa,
uma vez que o MP desempenha esses dois papéis distintos na
ação penal. A ação pública cabe somente a um órgão do Estado,
que é o Ministério Público.

Assim, o Ministério Público, uma vez convencido da existência do


fato criminoso, não tem a faculdade, mas sim o dever de ajuizar
a ação penal.

29.2 Princípio da obrigatoriedade ou da legalidade: O


Ministério Público, com a prova da materialidade e os indícios
suficientes da autoria, está obrigado a oferecer a denúncia,
conforme dispõe o artigo 24 do Código de Processo Penal:

“Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o
exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação
do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.”

Segundo esse princípio, o representante do Ministério Público não


pode, por ato próprio, arquivar o inquérito policial quando não
verificar elementos de prova mínimos que justifiquem o
ajuizamento da ação penal.

Dessa forma, ocorrendo tal situação, o parquet deve requerer o


arquivamento ao juiz perante o qual ele oficie.

29.3 Princípio da indisponibilidade: Tal princípio informa que,


uma vez iniciada, o MP não pode desistir ou dispor da ação penal.

“Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.”

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O princípio da indisponibilidade decorre do princípio da
obrigatoriedade, uma vez que não se pode dispor do que já existe.

Uma exceção ao princípio da indisponibilidade é a suspensão


condicional do processo para os casos de infrações de menor
potencial ofensivo regidas pela lei 9.099/95. Segundo o citado
diploma legal, ao Ministério Público é facultado propor ao acusado,
após o oferecimento da denúncia, a suspensão condicional do
processo que é um ato de disposição da ação penal uma vez que,
após o cumprimento da suspensão, o acusado terá a sua
punibilidade extinta.

29.4 Princípio da intranscendência: Segundo esse princípio, a


ação penal condenatória é proposta contra a pessoa ou as pessoas
a quem se imputa a prática do delito, não podendo passar da
pessoa do infrator para descentes, por exemplo.

29.5 Princípio da divisibilidade: Já é ponto pacífico na


jurisprudência a permissão dada ao Ministério Público de deixar de
oferecer a denúncia contra aqueles acusados dos quais não houver
reunido os indícios suficientes de autoria, enquanto oferece a
denúncia contra outros partícipes dos quais já foi configurada a
“justa causa”

Ou seja, o Ministério Público poderá optar por não processar todos


os agentes, decidindo por reunir maiores indícios suficientes de
autoria para, futuramente, com os devidos esclarecimentos,
processar os demais.

Nos Tribunais Superiores, tem prevalecido o entendimento de que,


na ação penal pública, vigora o princípio da divisibilidade. Como
já se pronunciou o STJ, o princípio da indivisibilidade aplica-se tão
somente a ação penal privada. Desta forma, no caso de ação penal
provada, o ofendido, ou seu representante legal, deve iniciar a

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ação penal contra todos os autores ou não poderá processar
nenhum deles.

Ação Penal Pública Condicionada:

30. Nesse tipo de ação, o exercício do direito de ação se subordina


a uma condição, qual seja, a manifestação de vontade do ofendido ou
de seu representante legal (representação) ou de requisição do
Ministro da Justiça.

30.1 Tipos de ação pública condicionada:

30.1.1 Condicionada à representação:

A representação é a manifestação de vontade do ofendido para


que o órgão do Ministério Público possa ajuizar a ação penal.

É uma condição de procedibilidade estabelecida pela lei. Assim, o


Ministério Público só poderá dar início à ação penal quando
satisfeita essa condição para a propositura da mesma.

As ações penais públicas condicionadas estão reguladas no artigo


100, §1º do Código Penal e no artigo 24, caput, e §1º do Código
de Processo Penal, a seguir:

“Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei


expressamente a declara privativa do ofendido.

§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público,


dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido
ou de requisição do Ministro da Justiça.”

“Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o

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exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação
do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

§ 1o No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente


por decisão judicial, o direito de passará ao cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão.”

A titularidade da ação continua sendo do Ministério Público.


Porém, neste caso específico, ele só irá atuar quando a vítima ou
seu representante legal o autorizarem e, uma vez dada a
autorização para o Ministério Público, este a assume
incondicionalmente a titularidade do processo.

Fernando Capez afirma que:

“Nesse caso, o crime afeta tão profundamente a esfera íntima do


ofendido, que a lei, a despeito da sua gravidade, respeita a
vontade daquele, evitando, assim, que o strepitus judicii
(escândalo do processo) se torne um mal maior para o ofendido
do que a impunidade dos responsáveis.” (CAPEZ, Fernando.
Curso de Processo Penal. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.
109.)

Morto ou declarado ausente o ofendido, o direito de


representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão. ATENÇÃO: note que é a titularidade de autorizar o início
da ação que está sendo transferida, e não os efeitos da mesma,
o que é vedado pelo princípio da intranscendência, como vimos.

A representação não necessita de forma, podendo ser expressa


ou verbal. O exercício do direito de representação está sujeito ao
prazo de 6 (seis) meses. O referido prazo é decadencial.

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O dia do começo da contagem desse prazo é do dia em que o
ofendido ou quem seja seu representante tomou conhecimento
da autoria do crime.

A retratação seria a desistência do direito de


representação e pode ocorrer dentro do prazo
decadencial, enquanto o Ministério Público não oferecer a
denúncia, consoante o artigo 25 do CPP, a saber:

“Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida


a denúncia.”

Importante que você conheça o teor da Súmula 542-STJ, a


qual diz que:

“A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de


violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.”

Por fim, destaco que a jurisprudência afirma que não é


necessária a ratificação em juízo da representação formulada em
sede policial para fins de deflagração da persecução penal pelo
crime de lesões corporais leves.

30.1.2 Ação condicionada à requisição do Ministro da


Justiça: A requisição, neste caso, é a autorização fundamentada
em razões políticas.

A requisição é ato político emanado de autoridade do Estado, no


caso, o Ministro da Justiça. Embora o termo “requisição”
signifique uma ordem. Nesse caso, a requisição não vincula o
Ministério Público. O exercício da requisição não está sujeito a
prazo decadencial.

Ocorre nas seguintes hipóteses: crime cometido por estrangeiro


contra brasileiro, fora do Brasil; nos crimes contra a honra

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cometidos contra Chefe do governo estrangeiro; crimes contra a
honra praticados contra o Presidente da República; crimes contra
a honra cometidos por meio de imprensa contra ministro do
Supremo Tribunal Federal, dentre outros.

Ação Penal Privada

31. A ação de iniciativa privada se diferencia da ação pública no


que tange ao direito de agir, uma vez que, esse direito é dado ao
particular.

32. Porém, a ação continua sendo pública e exercida pelo poder


público, mas com iniciativa privada para o seu início. Nesse tipo de
ação, o Estado transfere ao ofendido ou ao seu representante legal a
legitimidade para propor a ação penal. Contudo, o direito de punir ou
ius puniendi continua sendo do Estado.

33. O ofendido se dirige ao órgão jurisdicional para ver sua


pretensão ser satisfeita, não só com o objetivo de punição do autor
do fato, mas, como uma forma de voltar-se ao interesse social com a
preocupação de punição para aqueles que infringem o dispositivo
penal. Trata-se de legitimação extraordinária e foi conferida essa
legitimidade ao ofendido por razões de política criminal.

34. Na ação penal privada, o Ministério Público, embora não aja


como parte, age constantemente como fiscal da lei ou custos legis.

35. A ação penal privada é regida pelos seguintes princípios:

35.1 Princípio da disponibilidade: Pelo princípio da


disponibilidade, o ofendido pode decidir se ingressa ou não com
uma ação penal contra o autor do fato. Poderá, inclusive, a

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qualquer tempo desistir do prosseguimento do processo, ou seja, o
ofendido é quem decide se quer prosseguir até o final.

O ofendido poderá desistir do processo a qualquer tempo até o


trânsito em julgado da sentença.

Esse princípio contrapõe-se ao princípio da obrigatoriedade, que


vigora na ação penal pública.

35.2 Princípio da intranscendência: O princípio da


intranscendência revela que a ação penal só deve ser proposta
contra o autor do fato criminoso. Ou seja, não pode abranger
terceiras pessoas alheias ao fato.

Esse princípio decorre do artigo 5º, inciso XLV, da Constituição


Federal:

“XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,


podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;”

35.3 Princípio da oportunidade ou conveniência: Tal princípio


dispõe que a lei confere à vítima ou ao seu representante legal, de
acordo com sua conveniência ou oportunidade, a faculdade e não o
dever de promover a ação penal.

Ou seja, a vítima não está obrigada a promover a ação penal,


mesmo estando presentes as condições necessárias para a
propositura da ação.

O ofendido pode optar pela impunidade do autor ou por dar início


ao processo para puni-lo com a consequente publicidade ao fato

23
que gerou a infração penal e que também afetou a vida íntima
dele.

O princípio da oportunidade se contrapõe ao princípio da


obrigatoriedade.

35.4 Princípio da indivisibilidade: O Estado não dá a faculdade


ao ofendido de propor a ação penal em face de apenas um autor do
fato, quando, na verdade, existiu mais de um agente na infração
penal.

Cabe ao ofendido escolher se propõe ou não a ação penal.


Contudo, não lhe cabe escolher quem irá processar ou não. Ou
seja, ajuizada a ação penal, deve se incluir no pólo passivo da ação
todos os agentes que cometeram a infração penal.

Quem assegura o respeito ao princípio da indivisibilidade é o


Ministério Público.

Está disposto no artigo 48 do CPP:

“Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará


ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
indivisibilidade.”

36. A titularidade da ação penal privada é do ofendido ou do seu


representante legal, conforme o artigo 100, §2º do CP:

“§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa


do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo”

37. A instauração do competente inquérito policial depende de


quem seja o titular da ação penal, consoante o art. 5º, §5º do CPP:

24
“§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente
poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha
qualidade para intentá-la.”

38. O artigo 5º, §1º do CPP traz o que o requerimento deverá


conter, a seguir:

“§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que


possível:

a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;


b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e
as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da
infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão
e residência”.

39. Destaco que, o não atendimento de alguma dessas


especificações não impede o início do inquérito policial, já que se
trata de mera irregularidade.

40. As ações penais privadas se classificam em:

40.1 Ação privada propriamente dita ou exclusiva ou


principal: É aquela que deve ser exercida pelo ofendido ou por seu
representante legal, e, no caso de morte do ofendido ou declarada
a sua ausência, pelo cônjuge, ascendente, descendente e irmão, os
quais poderão prosseguir na ação penal já instaurada.

Aplicável quando a lei diz que a ação deve ser proposta mediante
queixa, mas não condiciona sua proposição à inércia do Ministério
Público nem específica seu caráter personalíssimo.

40.2 Ação privada personalíssima: Só pode ser promovida


exclusivamente pelo ofendido. O seu exercício vedado até mesmo

25
ao seu representante legal. Além disso, o direito de propor ação
não se transmite aos sucessores no caso de morte ou ausência.

Há uma hipótese de ação penal privada personalíssima que é crime


de induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento,
insculpido no art. 236 do Código Penal, abaixo:

“Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o


outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja
casamento anterior:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do


contraente enganado e não pode ser intentada senão depois
de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou
impedimento, anule o casamento.”

Nesse caso, a ação penal relativa ao crime de induzimento a erro


essencial e ocultação de impedimento somente pode ser proposta
mediante queixa do contraente enganado.

40.3 Ação privada subsidiária da pública: A ação penal é


iniciada através de queixa mesmo que se trate de crime de ação
pública, desde que o órgão do Ministério Público não haja oferecido
a denúncia no prazo legal.

A ação penal é originariamente de iniciativa pública, mas o


Ministério Público não promove a ação penal no prazo estabelecido
pela lei. Diante dessa situação, o ofendido ou o seu representante
legal poderão de forma subsidiária ajuizá-la.

É garantia constitucional do ofendido contra possível desídia ou


arbitrariedade do Estado.

26
Tal previsão é consagrada no artigo 5º, inciso LIX da Constituição
Federal:

“LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se


esta não for intentada no prazo legal;”

Importante ressaltar que, nesse caso, o exercício da ação penal


também fica sujeito ao prazo decadencial para o exercício da ação
penal privada, que é de 6 (seis) meses.

O Ministério Público, uma vez ajuizada a ação penal privada


subsidiária da pública, pode tomar parte no processo,
independente dos motivos que o fizeram perder o prazo.

41. O direito de queixa pode ser objeto de renúncia. A renúncia é


a manifestação de vontade na qual ofendido desiste de exercer o seu
direito de ação.

41.1 A renúncia expressa implica manifestação formalizada,


assinada pelo ofendido, representante legal ou procurador com
poderes especiais

“Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação


a um dos autores do crime, a todos se estenderá.

Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada


pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com
poderes especiais.

Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que


houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito
de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do
primeiro.”

27
41.2 A renúncia é ato unilateral, uma vez que opera os efeitos
independentemente de manifestação ou aceitação do autor da
infração penal.

41.3 Ela deve ocorrer antes do início da ação penal.

42. O perdão do ofendido é a desistência da demanda após a


propositura da ação penal.

42.1 Somente pode se exercitar até o trânsito em julgado da


sentença penal condenatória.

42.2 É ato bilateral, uma vez que somente pode produzir os efeitos
se for aceito pelo réu.

42.3 É possível o perdão na ação penal privada, por conta do


princípio da disponibilidade que a rege.

42.4 O perdão pode ser expresso ou tácito

42.5 Se o perdão for concedido a um dos querelados, aproveitará a


todos, em razão do princípio da indivisibilidade, que você acabou
de ver.

42.6 Concedido o perdão, o réu deve se manifestar a respeito da


aceitação ou não. Caso fique em silêncio, a lei confere o efeito de
aceitação. A aceitação pode ocorrer processual ou extra-
processualmente.

Denúncia e queixa-crime

43. A ação penal, seja ela pública ou privada, sempre vai ser
iniciada por meio de uma petição inicial, que é a denúncia (na ação
penal pública) ou a queixa crime (na ação penal privada).

28
44. A denúncia é a peça inicial acusatória apresentada pelo órgão
do Ministério Público.

45. Por outro lado, a queixa crime é a peça inicial apresentada


pelo ofendido ou seu representante legal.

46. Tanto a denúncia quanto a queixa crime, para serem admitidas


pelo Juiz, devem apresentar os mesmos requisitos previstos no artigo
41 do Código de Processo Penal:

“Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato


criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.”

47. Importante destacar que em matéria processual, os prazos


próprios são os que, quando não cumpridos, acarretam sanção
processual. Já, os impróprios, quando não seguidos, não acarreta
nenhuma consequência direta.

48. Observe que, quando a procuração é outorgada com a


finalidade específica de propor queixa-crime, observados os preceitos
do art. 44 do Código de Processo Penal, não é necessária a descrição
pormenorizada do delito, bastando a menção do fato criminoso ou o
nomen juris, consoante jurisprudência do Superior Tribunal Federal.

49. Importante ainda falar para você que, se a autoridade policial


ficar na dúvida entre indiciar ou não o possível autor do fato, ela em
regra indicia. É o princípio in dubio pro societate ou “na dúvida, a
favor da sociedade”. Da mesma forma, uma vez relatado o inquérito
policial, o promotor ficar também na dúvida entre oferecer ou não a
denúncia contra o acusado, ele irá oferecer, igualmente em razão do
princípio do in dubio pro societate, que vigora em toda a fase
pré-processual (antes da ação penal em si). Tal princípio implica

29
ainda o recebimento da denúncia pelo juiz ainda em caso de dúvida
quanto a aceitar ou não.

50. Por outro lado, recebida a denúncia, se o juiz, após a instrução


do processo não estiver convencido da culpa do réu, ele não
condenará, em razão do princípio do in dubio pro reo ou na dúvida
a favor do réu, que vigora no curso da ação penal.

51. Por fim, destaco a posição do Superior Tribunal de Justiça que


os dados bancários requisitados diretamente pelo Fisco poderão ser
utilizados em processo administrativo fiscal. Porém, não podem ser
usados em processo penal. Atenção! O STF possui
posicionamento diferente deste.

Existe atualmente uma divergência entre os posicionamentos do STJ


e do STF quanto ao tema. O plenário do STJ vem consolidando o
entendimento (RHC 72074/MG e HC nº 42.332/PR) de que "a quebra
do sigilo bancário para fins penais necessitaria de autorização judicial
devidamente fundamentada, tornando imprestáveis as informações
obtidas diretamente pela autoridade fiscal junto às instituições
financeiras". Por outro lado, o STF vem sinalizando em decisões
monocráticas (ARE 953.058. Rel. Min Gilmar Mendes; ARE 948.764.
Rel. Min. Luís Roberto Barroso; ARE 998.818. Rel. Ministro Ricardo
Lewandowski e ARE 987.248. Rel. Ministro Luís Roberto Barroso) no
sentido de que a cadeia da produção da prova é legítima, portanto a
representação fiscal para fins penais pode ser instruída com os
elementos colhidos junto às instituições financeiras. A prova é, assim
(para o STF), lícita para fins penais. Registro que o Plenário do STF
ainda não se manifestou sobre o tema. No caso de questão de prova,
sendo matéria de Direitos Fundamentais, aconselho acompanhar o
posicionamento do STF.

30
b. Resumo da Rodada

31
c. Revisão 01

QUESTÃO 01

Em caso de ação penal de iniciativa pública condicionada,

A) a ausência de representação impede o início do processo, mas


permite a instauração de inquérito policial desde que mediante
requisição judicial.

B) o direito de representação deve ser exercido dentro do prazo de


seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do
crime.

C) o direito de representação é do ofendido, salvo nos crimes


patrimoniais, que passa também ao cônjuge.

D) o direito de representação deve ser exercido pela FUNAI, quando o


ofendido é indígena.

E) a representação será retratável até a publicação da sentença.

QUESTÃO 02

A legitimação ativa para a ação penal e a definição de sua natureza


decorre da lei, sendo, de regra, ação pública, salvo se a lei
expressamente a declara privativa do ofendido.

QUESTÃO 03

A ação penal pública incondicionada é regida pelos princípios da


oficialidade e intranscendência.

32
QUESTÃO 04

Conforme o Código de Processo Penal (CPP), pode ocorrer a


decadência na

ação penal pública condicionada a representação do ofendido ou de


seu representante legal.

QUESTÃO 05

Segundo a doutrina, é possível conceituar a ação penal como o direito


do Estado-acusação ou da vítima de ingressar em juízo, pretendendo
a prestação jurisdicional, consistente na aplicação das normas de
direito penal ao caso concreto. Sobre a ação penal, a legislação
vigente dispõe:

A) A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação


pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal.

B) A ação de iniciativa privada é promovida exclusivamente mediante


denúncia do ofendido.

C) No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente


por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na
ação passa ao Ministério Público.

D) A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a


declara privativa do Ministro da Justiça.

E) A ação pública é promovida pelo ofendido, dependendo, quando a


lei o exige, de representação do Ministério Público ou de requisição do
Ministro da Justiça.

33
QUESTÃO 06

Nos crimes que se processem mediante ação penal que exija


representação, esta será retratável mesmo após o recebimento da
denúncia.

QUESTÃO 07

Cônjuge, ascendente, descendente ou irmã(o) tem o direito de


oferecer a queixa e prosseguir na ação penal privada em caso de
morte do ofendido.

QUESTÃO 08

Nos crimes de ação penal privada, na procuração pela qual o


ofendido outorga poderes especiais para o oferecimento da queixa-
crime, observados os demais requisitos previstos no CPP, não é
necessária a descrição pormenorizada do delito, desde que haja, pelo
menos, a menção do fato criminoso ou o nomen juris.

34
d. Revisão 02
QUESTÃO 09

Em se tratando de crime que se apura mediante ação penal pública


incondicionada, havendo manifestação tempestiva do Ministério
Público pelo arquivamento do inquérito policial, faculta-se ao ofendido
ou ao seu representante legal a oportunidade para a ação penal
privada subsidiária da pública.

QUESTÃO 10
Em se tratando de ação penal pública condicionada, assinale a
alternativa correta em relação à representação do ofendido.
A) A representação é retratável até a sentença de primeiro grau.
B) Oferecida a denúncia, a representação torna-se irretratável.
C) A representação é retratável em qualquer fase do processo.
D) Uma vez efetivada a representação, não há que se falar em
retratação.
E) Recebida a denúncia, a representação torna-se irretratável.

QUESTÃO 11

Em habeas corpus, pode-se discutir a ausência de justa causa para a


propositura da ação penal, mesmo nas hipóteses em que seja
necessário um exame minucioso do conjunto fático-probatório em
que ocorreu a infração.

35
QUESTÃO 12

No caso de morte do ofendido, a ordem preferencial para se exercer


o direito de queixa, segundo o que dispõe o Código de Processo
Penal, é

A) ascendente, descendente e cônjuge.

B) cônjuge, ascendente, descendente e irmão.

C) descendente, ascendente e irmão.

D) ascendente, descendente e representante legal.

E) cônjuge, descendente, ascendente e tutor ou curador.

QUESTÃO 13

A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de


violência doméstica contra a mulher é

A) pública condicionada à representação quando a lesão corporal for


de natureza leve ou culposa.

B) pública incondicionada, independentemente da natureza da lesão


corporal.

C) pública incondicionada somente quando a lesão corporal for de


natureza grave ou gravíssima.

D) pública incondicionada somente quando a lesão corporal for


dolosa.

E) privada, independentemente da natureza da lesão corporal.

36
QUESTÃO 14

De acordo com o CPP, com a celebração e início do cumprimento do


acordo de não persecução penal, o juiz poderá decretar a extinção da
punibilidade.

QUESTÃO 15

No sistema processual inquisitivo, o processo é público; a confissão é


elemento suficiente para a condenação; e as funções de acusação e
julgamento são atribuídas a pessoas distintas.

QUESTÃO 16

Se for cometido crime contra a administração da justiça, a ação penal


pública será condicionada à requisição da autoridade judiciária.

37
e. Revisão 03
QUESTÃO 17

Em ação penal privada que envolva vários agentes do ato delituoso, é


permitido ao querelante, em razão do princípio da disponibilidade,
escolher contra quem proporá a queixa-crime, sem que esse fato
acarrete a extinção da punibilidade dos demais agentes conhecidos e
nela não incluídos.

QUESTÃO 18

Conforme jurisprudência pacificada no STJ, a participação de membro


do MP na fase investigatória criminal acarreta, por esse fato, a sua
suspeição para o oferecimento da respectiva denúncia.

QUESTÃO 19

Para a celebração de acordo de não persecução penal, é condição:

A) que o investigado tenha reparado, obrigatoriamente, o dano, ou


restituído a coisa à vítima;

B) renuncie a bens e direitos indicados pelo juiz como instrumentos,


produto ou proveito do crime;

C) prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período


correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a
dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução;

D) cumprir quaisquer outras condições impostas pelo Ministério


Público

38
QUESTÃO 20
O Código de Processo Penal prevê uma série de institutos aplicáveis
às ações penais de natureza privada.
Sobre tais institutos, é correto afirmar que:
A) a renúncia ao exercício do direito de queixa ocorre antes do
oferecimento da inicial acusatória, mas deverá ser expressa,
seja através de declaração do ofendido seja por procurador com
poderes especiais;
B) o perdão do ofendido oferecido a um dos querelados poderá a
todos aproveitar, podendo, porém, ser recusado pelo
beneficiário, ocasião em que não produzirá efeitos em relação a
quem recusou;
C) a renúncia ao exercício do direito de queixa ocorre após o
oferecimento da inicial acusatória, gerando extinção da
punibilidade em relação a todos os querelados;
D) a decadência ocorrerá se o ofendido não oferecer queixa no
prazo de 06 meses a contar da data dos fatos, sendo
irrelevante a data da descoberta da autoria;
E) a perempção ocorre quando o querelante deixa de comparecer
a atos processuais para os quais foi intimado, ainda que de
maneira justificada.

QUESTÃO 21

Segundo o STJ, para fins de deflagração da persecução penal pelo


crime de lesões corporais leves, é desnecessária a ratificação, em
juízo, de representação formulada em sede policial.

39
QUESTÃO 22

Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação, o


ofendido poderá retratar-se da representação formulada antes do
oferecimento da denúncia.

QUESTÃO 23

Estabelece o Código de Processo Penal que o Ministério Público velará


pela indivisibilidade da ação penal de iniciativa privada. Sobre o
tema, é correto afirmar:

A) Caso julgue necessários maiores esclarecimentos e documentos


complementares, o Ministério Público terá o prazo de três dias para
aditar a queixa.

B) A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos


autores do crime, deverá ser aceita pelo beneficiário.

C) A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao


processo de todos.

D) Em caso de abandono da ação penal privada pelo querelante, o


Ministério Público deverá assumir a acusação.

E) Na hipótese de ação penal perempta, o Juiz, somente após ouvir o


Ministério Público, poderá declarar extinta a punibilidade do
querelado.

40
f. Normas

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a


obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens
ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
(PRECURSOR DO PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DA PENA,
APLICÁVEL TANTO À AÇÃO PENAL PRIVADA QUANTO À AÇÃO PENAL
PÚBLICA)

LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta
não for intentada no prazo legal (Trata-se da ação penal privada
subsidiária da pública)

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

CÓDIGO PENAL

Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:

I - de ofício; (trata-se da ação penal pública incondicionada)

II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério


Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade
para representá-lo.

41
§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que
possível:

a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;

b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as


razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração,
ou os motivos de impossibilidade de o fazer;

c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e


residência.

(...)

§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de


representação, não poderá sem ela ser iniciado. (Trata-se da ação
penal pública condicionada à representação)

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

“Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir,
de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo.”

§2o Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do


patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal
será pública. (a ação penal será pública incondicionada nesses casos)

(...)
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado
confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal
sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4
(quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não

42
persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação
e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas
cumulativa e alternativamente:

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na


impossibilidade de fazê-lo;

II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo


Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime;

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por


período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída
de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução,
na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal);

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art.


45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo
juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente
lesados pelo delito; ou

V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo


Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a
infração penal imputada.

Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se
esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público
aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir
em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova,
interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do

43
querelante, retomar a ação como parte principal. (Trata-se da ação
penal privada subsidiária da pública

Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo


caberá intentar a ação privada. (o ofendido ou seu representante
legal são os titulares da ação penal privada)

Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente


por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na
ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
(Mnemônico CADI)

Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu


representante legal, decairá no direito de queixa ou de
representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses,
contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no
caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia. (o prazo de 6 meses é decadencial)

Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou


representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24,
parágrafo único, e 31.

Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.


(princípio da indisponibilidade da ação penal pública)

Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao


processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
indivisibilidade. (princípio da indivisibilidade da ação penal privada)

Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a


um dos autores do crime, a todos se estenderá.

44
Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo
ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes
especiais.

Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que


houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito de
queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.

Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a


todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.

Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes
especiais.

Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os meios


de prova.

45
g. Gabarito

1 2 3 4 5

B C C C A

6 7 8 9 10

E C C E B

11 12 13 14 15

E B B E E

16 17 18 19 20

E E E C B

21 22 23

C C C

46
h. Comentários às questões
QUESTÃO 01

Em caso de ação penal de iniciativa pública condicionada,

A) a ausência de representação impede o início do processo, mas


permite a instauração de inquérito policial desde que mediante
requisição judicial.

B) o direito de representação deve ser exercido dentro do prazo de


seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do
crime.

C) o direito de representação é do ofendido, salvo nos crimes


patrimoniais, que passa também ao cônjuge.

D) o direito de representação deve ser exercido pela FUNAI, quando o


ofendido é indígena.

E) a representação será retratável até a publicação da sentença.

Comentário:

Vide Art. 38, do CPP: “Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou


seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de
representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses,
contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no
caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia”.

Gabarito B.

QUESTÃO 02

A legitimação ativa para a ação penal e a definição de sua natureza


decorre da lei, sendo, de regra, ação pública, salvo se a lei
expressamente a declara privativa do ofendido.

47
Certo. É a regra no processo penal, uma vez que, NO SILÊNCIO DA
LEI, a ação será pública INCONDICIONADA.

QUESTÃO 03

A ação penal pública incondicionada é regida pelos princípios da


oficialidade e intranscendência.

Certo. O princípio da intranscedência aduz que só o autor do crime


pode ser punido. e o princípio da oficialidade versa que a ação pública
será titularizada por um órgão oficial do Estado.

QUESTÃO 04

Conforme o Código de Processo Penal (CPP), pode ocorrer a


decadência na ação penal pública condicionada a representação do
ofendido ou de seu representante legal.

Certo. O prazo decadencial para o oferecimento da representação é


de 6 meses, contados a partir do momento do conhecimento da
autoria.

QUESTÃO 05

Segundo a doutrina, é possível conceituar a ação penal como o direito


do Estado-acusação ou da vítima de ingressar em juízo, pretendendo
a prestação jurisdicional, consistente na aplicação das normas de
direito penal ao caso concreto. Sobre a ação penal, a legislação
vigente dispõe:

48
A) A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação
pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal.

B) A ação de iniciativa privada é promovida exclusivamente mediante


denúncia do ofendido.

C) No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente


por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na
ação passa ao Ministério Público.

D) A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a


declara privativa do Ministro da Justiça.

E) A ação pública é promovida pelo ofendido, dependendo, quando a


lei o exige, de representação do Ministério Público ou de requisição do
Ministro da Justiça.

Comentário:

Vide Art 29, do CPP: “Será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao
Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal”.

Gabarito: A.

QUESTÃO 06

Nos crimes que se processem mediante ação penal que exija


representação, esta será retratável mesmo após o recebimento da
denúncia.

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Errado. A ação penal que exija representação será retratável
antes do recebimento da denúncia.

QUESTÃO 07

Cônjuge, ascendente, descendente ou irmã(o) tem o direito de


oferecer a queixa e prosseguir na ação penal privada em caso de
morte do ofendido.

Certo. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente


por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.

QUESTÃO 08

Nos crimes de ação penal privada, na procuração pela qual o


ofendido outorga poderes especiais para o oferecimento da queixa-
crime, observados os demais requisitos previstos no CPP, não é
necessária a descrição pormenorizada do delito, desde que haja, pelo
menos, a menção do fato criminoso ou o nomen juris.

Certo. Quando a procuração é outorgada com a finalidade específica


de propor queixa crime, observados os preceitos do art. 44 do Código
de Processo Penal, não é necessária a descrição pormenorizada do
delito, bastando a menção do fato criminoso ou o nomen juris.

QUESTÃO 09

Em se tratando de crime que se apura mediante ação penal pública


incondicionada, havendo manifestação tempestiva do Ministério
Público pelo arquivamento do inquérito policial, faculta-se ao ofendido

50
ou ao seu representante legal a oportunidade para a ação penal
privada subsidiária da pública.

Errado. Ação penal subsidiária da pública só é admitida quando o MP


se mantém inerte.

QUESTÃO 10
Em se tratando de ação penal pública condicionada, assinale a
alternativa correta em relação à representação do ofendido.
A) A representação é retratável até a sentença de primeiro grau.
B) Oferecida a denúncia, a representação torna-se irretratável.
C) A representação é retratável em qualquer fase do processo.
D) Uma vez efetivada a representação, não há que se falar em
retratação.
E) Recebida a denúncia, a representação torna-se irretratável.
Comentário:

Vide Art. 25, CPP. A representação será irretratável, depois de


oferecida a denúncia.
Gabarito: B

QUESTÃO 11

Em habeas corpus, pode-se discutir a ausência de justa causa para a


propositura da ação penal, mesmo nas hipóteses em que seja
necessário um exame minucioso do conjunto fático-probatório em
que ocorreu a infração.

Errado. O trancamento da ação penal por meio do habeas corpus é


medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houver
inequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de

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causa de extinção da punibilidade ou da ausência de indícios de
autoria ou de prova sobre a materialidade do delito.

QUESTÃO 12

No caso de morte do ofendido, a ordem preferencial para se exercer


o direito de queixa, segundo o que dispõe o Código de Processo
Penal, é

A) ascendente, descendente e cônjuge.

B) cônjuge, ascendente, descendente e irmão.

C) descendente, ascendente e irmão.

D) ascendente, descendente e representante legal.

E) cônjuge, descendente, ascendente e tutor ou curador.

Comentário:

O famoso “CADI”, art. 31 CPP “No caso de morte do ofendido ou


quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer
queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão.”

Gabarito: B.

QUESTÃO 13

A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de


violência doméstica contra a mulher é

A) pública condicionada à representação quando a lesão corporal for


de natureza leve ou culposa.

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B) pública incondicionada, independentemente da natureza da lesão
corporal.

C) pública incondicionada somente quando a lesão corporal for de


natureza grave ou gravíssima.

D) pública incondicionada somente quando a lesão corporal for


dolosa.

E) privada, independentemente da natureza da lesão corporal.

Comentário:

Vide Súmula 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão


corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada”.

Gabarito: B.

QUESTÃO 14

De acordo com o CPP, com a celebração e início do cumprimento do


acordo de não persecução penal, o juiz poderá decretar a extinção da
punibilidade.

Errada. Não há que se falar em extinção da punibilidade antes do


cumprimento integral do acordo. Vide §13, do Art 28-A, do CPP.

QUESTÃO 15 – PC/PE

No sistema processual inquisitivo, o processo é público; a confissão é


elemento suficiente para a condenação; e as funções de acusação e
julgamento são atribuídas a pessoas distintas.

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Errado. No sistema processual inquisitivo, as funções de acusar,
julgar e defender estão em uma única pessoa. Também não é
público, e sim sigiloso.

QUESTÃO 16

Se for cometido crime contra a administração da justiça, a ação penal


pública será condicionada à requisição da autoridade judiciária.

Errado. Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do


patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal
será pública.

QUESTÃO 17

Em ação penal privada que envolva vários agentes do ato delituoso, é


permitido ao querelante, em razão do princípio da disponibilidade,
escolher contra quem proporá a queixa-crime, sem que esse fato
acarrete a extinção da punibilidade dos demais agentes conhecidos e
nela não incluídos.

Errado. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará


ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
indivisibilidade.

QUESTÃO 18

Conforme jurisprudência pacificada no STJ, a participação de membro


do MP na fase investigatória criminal acarreta, por esse fato, a sua
suspeição para o oferecimento da respectiva denúncia.

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Errado. Consoante a súmula 234 do STJ, a participação de membro
do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o
seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

QUESTÃO 19

Para a celebração de acordo de não persecução penal, é condição:

A) que o investigado tenha reparado, obrigatoriamente, o dano, ou


restituído a coisa à vítima;

B) renuncie a bens e direitos indicados pelo juiz como instrumentos,


produto ou proveito do crime;

C) prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período


correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a
dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução;

D) cumprir quaisquer outras condições impostas pelo Ministério


Público

Comentário:

Observemos os incisos do novo art. 28-A, do CPP. A reparação do


dano pode não necessariamente ocorrer, visto alguma
impossibilidade, conforme inciso I do art. 28-A (A). A renúncia deve
ser voluntária e os bens são indicados pelo MP, conforme inciso II
(B). Resposta C: literalidade do inciso III. Outras condições impostas
pelo MP devem ser por prazo determinado, além de proporcionais e
compatíveis com a infração penal imputada, vide inciso V (D).

Gabarito: C

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QUESTÃO 20
O Código de Processo Penal prevê uma série de institutos aplicáveis
às ações penais de natureza privada.
Sobre tais institutos, é correto afirmar que:
A) a renúncia ao exercício do direito de queixa ocorre antes do
oferecimento da inicial acusatória, mas deverá ser expressa,
seja através de declaração do ofendido seja por procurador com
poderes especiais;
B) o perdão do ofendido oferecido a um dos querelados poderá a
todos aproveitar, podendo, porém, ser recusado pelo
beneficiário, ocasião em que não produzirá efeitos em relação a
quem recusou;
C) a renúncia ao exercício do direito de queixa ocorre após o
oferecimento da inicial acusatória, gerando extinção da
punibilidade em relação a todos os querelados;
D) a decadência ocorrerá se o ofendido não oferecer queixa no
prazo de 06 meses a contar da data dos fatos, sendo
irrelevante a data da descoberta da autoria;
E) a perempção ocorre quando o querelante deixa de comparecer
a atos processuais para os quais foi intimado, ainda que de
maneira justificada.
Comentário:
Vide Art. 51 CPP O perdão concedido a um dos querelados
aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao
que o recusar.
Gabarito: B

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QUESTÃO 21

Segundo o STJ, para fins de deflagração da persecução penal pelo


crime de lesões corporais leves, é desnecessária a ratificação, em
juízo, de representação formulada em sede policial.

Certo. Não é necessária a ratificação em juízo da representação


formulada em sede policial para fins de deflagração da persecução
penal pelo crime de lesões corporais leves.

QUESTÃO 22

Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação, o


ofendido poderá retratar-se da representação formulada antes do
oferecimento da denúncia.

Certo. Uma vez oferecida a denúncia, a representação ofertada pelo


ofendido será irretratável.

QUESTÃO 23

Estabelece o Código de Processo Penal que o Ministério Público velará


pela indivisibilidade da ação penal de iniciativa privada. Sobre o
tema, é correto afirmar:

A) Caso julgue necessários maiores esclarecimentos e documentos


complementares, o Ministério Público terá o prazo de três dias para
aditar a queixa.

B) A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos


autores do crime, deverá ser aceita pelo beneficiário.

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C) A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao
processo de todos.

D) Em caso de abandono da ação penal privada pelo querelante, o


Ministério Público deverá assumir a acusação.

E) Na hipótese de ação penal perempta, o Juiz, somente após ouvir o


Ministério Público, poderá declarar extinta a punibilidade do
querelado.

Comentário:

Vide Art. 48, do CPP.

Gabarito: C.

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