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SENTENÇA

1. Introdução

Sentença: ato decisório simples, o qual encerra o processo mediante o julgamento da


causa penal aduzida na denúncia.

A sentença é o ato que realiza a própria finalidade da jurisdição, ou seja, dizer o direito
no caso penal concreto. É o momento culminante do processo penal, porquanto tudo
que é realizado no curso do processo, e mesmo antes, na investigação criminal, é
voltado à decisão a ser proferida na sentença.
2. Providências prévias

Como a sentença é o momento culminante do processo, tudo deve estar correto antes
da fase decisória, a fim de não macular essa decisão.

Primeiro, o juiz criminal deve verificar se há simetria oentre os fatos contidos na inicial
acusatória e aqueles verificados na instrução criminal. É uma decorrência do princípio
da adstrição ou correlação entre acusação e sentença.

São vedados os julgamentos citra petita, juiz julga o acusado por quantidade menor de
fatos ou ignora uma circunstância que torna o crime mais grave; ex: acusado por roubo
e lesão corpora, julgado somente por roubo, ou seja, um só fato; ultra petita, juiz julga
o acusado por mais crimes, ex: denunciado por roubo, juiz condena por roubo e lesão
corporal; extra petita, julgado por fato diverso daquele atribuído na denúncia, ex:
denunciado por roubo, julgado por homicídio (obs: a qualificação jurídica atribuída pelo
juiz pode ser diferente, o que é legal, como por exemplo, quando o MP denuncia por
furto e o juiz entende que é roubo. O que não pode ocorrer é o julgamento por fatos
distintos, ex: MP denuncia X narrando que cometeu delito de roubo no dia 29 de abril
de 2018, magistrado condena X com base em roubo cometido no 27 de agosto de 2018).

3. Estrutura

A sentença possui 03 (três) partes: relatório, fundamentação e dispositivo.

O relatório deve conter a descrição objetiva e detalhada das partes, fatos aduzidos na
inicial, fatos alegados pela defesa e tudo que for relevante no curso do processo. Visa
demonstrar que o magistrado tem conhecimento de tudo que é relevante na causa
penal em questão. Nas sentenças proferidas nos JECrim, o relatório é dispensável.

Na fundamentação devem constar os fatos, argumentos jurídicos e os motivos legais da


decisão proferida. A lei deve sempre ser o parâmetro decisional principal da sentença,
ou seja, o juiz tem que utilizar primordialmente a lei, em detrimento dos costumes,
jurisprudência etc.

Jefferson Alex Pereira


O dispositivo deve conter a decisão stricto sensu, ou seja, o veredicto de culpado ou
inocente, bem como a pena aplicada.

4. Publicação e intimação

A sentença só gera efeitos no mundo jurídico a partir de sua publicação, ou seja, a partir
do conhecimento dados às partes e terceiros.

A sentença escrita é publicada pelo escrivão. A sentença proferida em audiência e


aquela do Tribunal do Júri são publicadas instantaneamente, na presença das partes.

Após a publicação, não é possível a alteração da sentença, salvo para corrigir erros
materiais. Ocorre, então, a denominada preclusão pro judicato, ou seja, consuma-se a
faculdade do juiz em relação à prática daquele ato. O réu solto deve ser intimado por
intermédio de seu defensor, conquanto o réu preso deve ser intimado pessoalmente. O
Ministério Público é intimado mediante vista dos autos.

5. Efeitos

A sentença penal acarreta 04 (quatro) efeitos possíveis:

(i) Efeito declaratório: afirmação de uma situação jurídica preexistente. Ex:


sentença absolutória.O estado de inocência é preexistente ao processo.
(ii) Efeito constitutivo: a sentença penal inova o ordenamento jurídico,
constituindo, desconstituindo ou modificando um direito. Ex: a sentença
penal condenatória modifica o status de inocência.
(iii) Efeito condenatório: é próprio das sentenças condenatórias. Determina que
o acusado seja submetido a uma sanção.
(iv) Efeito mandamental: ordem dada pelo juiz, dirigida a uma autoridade. Ex:
sentença absolutória em que o réu esteja preso (determinação de soltar o
réu).

6. Natureza jurídica da sentença penal absolutória

A sentença penal absolutória possui natureza declaratória negativa. Declara a


impossibilidade do Estado punir o criminoso, julgando improcedente a pretensão
condenatória aduzida na denúncia/queixa. Produz a maioria dos efeitos antes do
trânsito em julgado (ex: soltura do réu, levantamente das medidas assecuratórias).

7. Hipóteses de absolvição

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:

I – estar provada a inexistência do fato;

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Nessa hipótese, deve estar provado que o fato narrado na inicial acusatória não ocorreu.
Assim, não há prova da existência do crime (materialidade). É uma causa objetiva de
absolvição. Ex: a vítima do suposto homicídio reaparece.

II – não haver prova da existência do fato;

Não há prova da existência do fato, nem da inexistência do fato. Se desdobra em: (a)
ausência de prova da materialidade (ex: agente processaddo por furto, mas não foi
apreendido o objeto furtado nem há testemunhas); ausência de provas suficientes da
materialidade (ex: agente processado por furto, não há objeto, mas há testemunhas,
contudo, se mostram confusas); ausência de prova legal (ex: inexistência de exame de
corpo de delito em crimes que deixam vestígios). É uma causa objetiva de absolvição.

III – não constituir o fato infração penal;

Hipótese de atipicidade da conduta. Não há subsunção da conduta ao tipo penal. A


atipicidade deve estar comprovada. É uma causa objetiva e subjetiva de absolvição. Ex:
agente agiu em erro sobre elementos do tipo (ex: agente acredita ter estuprado menor
de idade, quando na verdade já era maior).

IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;

É a hipótese de não-autoria do acusado. Deve estar provado que o réu não teve
participação material ou intelectual no delito. É uma causa subjetiva de absolvição. Ex:
agente apresenta filmagens demonstrando que estava em outra cidade no horário do
crime.

V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;

É a hipótese de inexistência ou insuficiência de provas de autoria. Os indícios de autoria


(que embasam a justa causa) não são corroborados por provas no decurso do processo.
Éuma causa subjetiva de absolvição.

VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21,
22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida
sobre sua existência;

Nessa hipótese, há a demonstração de circunstâncias excludentes de ilicitude (estado


de necessidade, art. 20 do CP; legítima defesa, art. 23 do CP; estrito cumprimento do
dever legal e exercício regular de direito etc) e culpabilidade (inimputabilidade por
menoridade, art. 27 do CP; inimputabilidade decorrente dde embriaguez por caso
fortuito, art. 28 do CP etc). A demonstração é ônus do acusado.

Também impõe a absolvição a existência de fundada dúvida acerca da ocorrência de


circunstância que excluam o crime ou isentem o réu de pena. Nesse hipótese, o réu não
demonstrou a ocorrência das situações previstas no parágrafo anterior, mas levantou
uma dúvida razoável a respeito.

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VII – não existir prova suficiente para a condenação.

É a hipótese do in dubio pro reo, na qual a dúvida favorece o acusado. Não provado o
fato (tanto a existência quanto a autoria), deve o réu ser absolvido.

8. Efeitos da sentença penal absolutória

A sentença absolutória acarreta o efeito de soltura do acusado (caso não esteja preso
por outro processo, por isso o efeito não é automático), bem como a cessação das
medidas cautelares (reais e pessoais) aplicadas. No caso de absolvição imprópria
(reconhecimento da inimputabilidade) é aplicada medida de segurança.

9. Sentença penal condenatória: noções introdutórias

Sempre que houver a prolação de uma sentença condenatória, há a aplicação do Direito


Penal, ao contrário da sentença absolutória, na qual o fundamento da absolvição pode
ser meramente processual.

10. Conceito

É o ato mediante o qual o juiz declara a procedência da pretensão condenatória aduzida


em juízo, constituindo o inocente em condenado e condena, aplicando-lhe uma ou mais
sanções de natureza penal. Há, portanto, um efeito tríplice na sentença penal
condenatória.

A lei processual penal permite que o juiz condene o réu, ainda que o Ministério Público
tenha pedido sua absolvição. Essa possibilidade é criticável, porquanto afeta a estrutura
do sistema acusatório, no qual a atividade persecutória pertence a um órgão que não o
juiz. Além disso, transforma a manifestação do Ministério Público em mera opinião.

11. Requisitos e formalidades

O primeiro requisito diz respeito ao fato de que o juiz deve apreciar a causa penal com
base em provas produzidas na instrução criminal. Somente podem ser utilizadas provas
colhidas na fase investigatória quando forem provas técnicas irrepetíveis (Ex. Exame de
DNA).

O segundo requisito determina que a decisão seja clara e completa, ou seja, haja certeza
acerca de quem foi condenado e qual a pena aplicada.

O juiz deve mencionar todas as circunstâncias agravantes e atenuantes, causas de


diminuição e aumento de penal, bem como todas as circunstâncias relevantes para a
fixação da pena-base.

É necessário fixar o valor mínimo da reparação dos danos ocasionados pela conduta
delituosa.

O juiz deve decidir sobre a manutenção das medidas cautelares (reais e pessoais).

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12. Efeitos principais da sentença penal condenatória

Possui eficácia preclusiva, substituindo a denúncia como fator de constrangimento ao


réu.

Torna certo, mediante declaração, a ocorrência de um crime e a autoria por parte do


condenado.

13. Efeitos secundários da sentença penal condenatória

São efeitos secundários automáticos:

a) obrigação de reparar o dano causado pelo delito


b) perda dos instrumentos, do produto e do proveito do crime
c) interromper o prazo prescricional
d) reincidência
e) revogação do sursis concedido em outro processo
f) revogação do livramento condicional concedido em outro processo
g) incidência da hipoteca legal a fim de garantir a reparação do dano

São efeitos secundários não-automáticos (dependem de declaração do juiz):

(i) perda do cargo ou função pública e do mandato eletivo (crimes contra a


Administração Pública)
(ii) incapacitação para o exercício do pátri pode, tutela ou curatela
(iii) inabilitação para dirigir (crimes de trânsito)

RECURSOS
TEORIA GERAL DOS RECURSOS

1. Noções introdutórias

Não há garantia constitucional dos recurso. A Constituição assegura o contraditório e a


ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. A palavra recursos não é utilizado
na acepção técnica, mas sim, como sinônimo de instrumentos.

Há vantagens e desvantagens na previsão e utilização dos recursos. Como vantagens, é


possível citar: atendimento de uma necessibilidade psicológica da parte vencida (é
natural a exigência de uma seguunda opinião); falibilidade: a decisão pode conter erro,
o recurso possibilita que esse erro seja sanado; influência psicológica positiva sobre o
juiz de primeiro grau: a existência de um sistema recursal faz com que os magistrados
de primeiro grau busquem sempre tomar a decisão correta, porquanto suas decisões

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podem ser revistas; necessidade da Administração da Justiça: controle da qualidade das
decisões judiciais, corrigir decisões injustas.

Como desvantagens, é possível mencionar: retardamento da definição jurídica acerca


de um fato: a pendência de recurso atrasa a solução definitiva para o caso, o que
acarreta prejuízo à função de pacificação social do direito; redução da importância da
atividade judiciária de primeiro grau: a sentença passa a ser um mero requisito formal
do processo, porquanto só é possível o cumprimento da decisão após o julgamento de
recurso; influência psicológica negativa sobre o magistrado de primeiro grau: a
possibilidade de recurso faz com que o juiz decida com base no que o Tribunal
hierarquicamente superior entende sobre a questão; perda da oralidade: Tribunal
decide sem contato direto com as partes.

2. Conceito

“É o remédio de natureza processual, previsto em lei, por meio do qual as partes que
tiverem sido contrariadas em suas pretensões formuladas em juízo por uma decisão
judicial podem obter o seu reexame, total ou parcial, geralmente por um outro órgão
judicial hierarquicamente superior, a fim de esclarecê-la, completá-la, reformá-la ou
mesmo anulá-la, isso tudo no curso do mesmo processo penal de conhecimento.”

Em regra, o recurso é sempre voluntário, ou seja, depende de manifestação de vontade.


Como única exceção, tem-se o recurso de ofício da sentença concessiva de habeas
corpus, proferida por juiz de 1ª instância. Nessa hipótese, concedida a ordem, o tribunal
deve reexaminar a questão, independente de manifestação das partes.

“O Juízo contra o qual se recorre é denominado de juízo a quo, ou juízo recorrido; o juízo
para o qual se interpõe ou endereça o recurso é o juízo ad quem. Geralmente, o juízo a
quo é diverso do juízo ad quem”. Exceção: embargos de declaração, os quais são
decididos pelo mesmo magistrado.

3. Princípios da atividade recursal

Facultatividade: não há obrigação das partes recorrerem.

Disponibinilidade: válido somente para a Defesa, a qual pode desistir do recurso


interposto. O Ministério Público, caso interponha recurso, não pode desistir.

Taxatividade: os recursos estão expressamente previsto em lei, não havendo recursos


inominados.

Unirecorribilidade: para cada situação jurídica, cabe apenas um recurso.

Fungibilidade: verifica a boa-fé da parte, o recurso errado deve ser recebido como se o
correto fosse.

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Subjetividade: os efeitos do recurso são pessoais, não beneficiam nem prejudicam senão
quem recorreu. “Há exceção a essa regra, relacionada ao concurso de agentes, quando
o recurso interposto por um dos réus for julgado procedente e os motivos dessa decisão
não sejam de caráter exclusivamente pessoal. Nesse caso, aproveitará os outros”.

Princípio da devolutividade restrita (tantum devolutum quantum apellatum): “a parte


define os contornos do recurso e o tribunal não pode ir além do que foi objeto do
inconformismo. Trata-se de um desdobramento do princípio da facultatividade.”

Proibição de reforma da decisão em prejuízo do recorrente (ne reformatio in pejus): “se


apenas uma das partes recorre e o tribunal visualiza o que lhe parece ser um erro da
decisão recorrida, sendo que a correção desse erro prejudicaria o recorrente, o tribunal
ad quem nada pode fazer.”

4. Classificação dos recursos

Extraordinários/Ordinários: função que extrapola o reexame da causa penal


(prevalência da CF e integridade do ordenamento jurídico federal); Resp e Rext/reexame
da causa penal (todos os demais recursos).

De objeto amplo/De objeto restrito: devolvem ao juízo ad aquem o conhecimento de


toda a matéria da causa penal (apelação, embargos infringentes, recurso extraordinário
e recurso especial/devolvem apenas uma parte da matéria (recurso em sentido estrito,
embargos de declaração e carta testemunhável).

5. Pressupostos dos recursos

O primeiro pressuposto é a existência de decisão. Não é possível recorrer de despachos


de mero expediente. A decisão deve responder a uma questão do processo. Os
despachos apenas dão andamento ao processo, atendendo ao princípio do impulso
oficial.

O segundo pressuposto é a recorribilidade da decisão. São irrecorríveis as decisões não


impugnáveis por RESE ou apelação.

O terceiro pressuposto recursal é a sucumbência. Deve haver lesão, ainda que potencial,
a uma das partes. Pode ser, quanto à abrangência subjetiva: subjetivamente simples
(afeta uma parte), subjetivamente múltipla (mais de uma pessoa é afetada),
subjetivamente múltipla paralela (afeta interesses idênticos de mais de uma parte) e
subjetivamente múltipla recíproca (afeta interesses opostos de mais de uma parte). A
sucumbência pode ser direta, quando o vencido é parte no processo; indireta ou reflexa,
atinge terceiro.

Quanto à abrangência objetiva, pode ser total (desatende todos os interesses da parte
vencida); parcial (desatende apenas parcialmente os interesses da parte).

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Há sucumbência mesmo na sentença absolutória, caso o réu tenha sido absolvido com
base nos incisos II, V, VI e VII do art. 386 do CPP, porquanto a absolvição com base nessas
hipótese não obsta a propositura de ação civil ex delicto, visando à reparação do dano.

Tempestividade: obediência aos prazos recursais.

Manifestação de vontade: o réu ou seu defensor devem manifestar-se no sentido de


que desejam recorrer.

Legitimidade: estçao legitimados o MP, o defensor, o ofendido, o querelante, o


assistente de acusação, o réu e o curador do menor de 21 anos. O MP pode, inclusive,
recorrer em favor do réu, contudo, não pode recorrer da sentença condenatória
proferida no processo iniciado por queixo (ação penal privada). Ademais, o MP não pode
manejar embargos infringentes.

Adequação: é adequado o recurso cujo provimento, considerado abstratamente, pode


atender ao interesse da parte. Por exemplo, para reexaminar uma questão, os embargos
de declaração são inadequados, porquanto não possibilitam reexame.

6. Efeitos dos recursos

Efeito devolutivo: devolvem a causa penal à jurisdição, a qual se esgotara com a


sentença. Todos os recursos possuem tal efeito.

Efeito suspensivo: protelam a execução da decisão proferida.

Efeito regressivo: possibilita a retratação da decisão por quem a proferiu. Ex: RESE e
Embargos de Declaração.

Efeito extensivo: possibilidade de extensão aos demais corréus, quando o motivo não
seja estritamente pessoal ou subjetivo.

Efeito translativo: possibilidade do tribunal conhecer, de ofício, questões de ordem


pública não arguidas pelas partes. Não existe nos recursos extraordinários (Resp e Rext)
dado o prequestionamento.

7. Procedimento recursal

O juízo a quo realizada o exame dos pressupostos de admissibilidade. Se presente, dá


andamento ao recurso. Ausentes, denega o recurso (decisão da qual cabe RESE, caso
esse seja denegado, cabe carta testemunhável). No caso de denegação de seguimento
ao Resp ou Rext, cabe agravo.

O juízo ad quem realiza novamente o juízo de admissibilidade. Admitido, o recurso segue


é distribuído para um órgão julgador, conforme as regras internas do tribunal. É
designado um relator, o qual, por vezes, tem a função de realizar o exame de
admissibilidade do recurso.

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No caso de apelação, o apelante pode apresentar as razões diretamente ao tribunal. Em
seguida, o recurso é encaminhado ao Ministério Público para parecer (geralmente, o
promotor originário do caso apresenta contrarrazões, sendo o parecer apresentado por
um procurador de justiça, o qual tem competência para dar pareceres em 2º grau). Por
fim, o relator recebe os autos e os prepara para julgamento.

RECURSOS EM ESPÉCIE
1. Noções introdutórias

O Poder Judiciário é organizado hierarquicamente, de modo a possibilitar que os órgãos


superiores exerçam controle das decisões tomadas pelos inferiores. O controle é
realizado mediante recursos.

2. Recurso em sentido estrito

No processo, há decisões que antecedem a decisão definitiva (sentença), beneficiando


ou prejudicando a acusação e a defesa. Tais decisões são denominadas interlocutórias.

Houve a necessidade de criar um recurso que, por um lado, não paralisasse o processo,
porquanto se cada decisão interlocutória fosse recorrível, o processo demoraria muito
mais tempo do que já dura atualmente; por outro, propiciasse o controle da legalidadde
de algumas situações essenciais ao processo penal. É essa a justificativa do recurso em
sentido estrito, o qual tem efeito apenas devolutivo, ou seja, não suspende o processo,
visando analisar somente o ato impugnado, e não toda a causa penal.

2.1 Conceito

O recurso em sentido estrito visa reformar as decisões interlocutórias. É sempre


voluntário e as hipóteses estão previstas taxativamente na lei. É denominado “em
sentido estrito”, porquanto não se refere a toda a causa penal, mas tão somente ao ato
impugnado.

2.2 Espécies

Há dois tipos de RESE: (a) bilaterais, referem-se à decisões que prejudicam


reciprocamente as partes (ex: concessão ou indeferimento da fiança; (b) unilaterais,
relacionam-se à decisões que prejudicam apenas uma das partes (ex: decisão que não
recebe a denúncia).

2.3 Cabimento

Há um rol taxativo previsto no art. 581:

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:

I – que não receber a denúncia ou a queixa;

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II – que concluir pela incompetência do juízo;

III – que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

IV – que pronunciar o réu;

V – que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança,


indeferirrequerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória
ou relaxar a prisão em flagrante;

VI – (Revogado);

VII – que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

VIII – que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;

IX – que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva


da punibilidade;

X – que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;

XI – que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;

XII – que conceder, negar ou revogar livramento condicional;

XIII – que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;

XIV – que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;

XV – que denegar a apelação ou a julgar deserta;

XVI – que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;

XVII – que decidir sobre a unificação de penas;

XVIII – que decidir o incidente de falsidade;

XIX – que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;

XX – que impuser medida de segurança por transgressão de outra;

XXI – que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;

XXII – que revogar a medida de segurança;

XXIII – que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a
revogação;

XXIV – que converter a multa em detenção ou em prisão simples.

As hipóteses previstas nos incisos XI, XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII e XXIII, foram derrogadas
pelo advento da Lei de Execução Penal, a qual trouxe o recurso de agravo em execução,
cabível para tais hipóteses.

Jefferson Alex Pereira


A hipótese prevista no inciso XXIV foi derrogada pela Lei 9.268.

Para as decisões definitivas em que não haja previsão de impugnação por RESE, é cabível
apelação, denominada apelação supletiva.

2.4 Legitimidade

São legitimados: MP, querelante o acusado. Quando a decisão inviabiliza a sentença de


mérito, impedindo, por conseguinte, a obrigação do réu indenizar o ofendido, esse pode
interpor RESE.

2.5 Prazo

Em regra, o prazo é de 05 (cinco) dias. No caso do inciso XIV, o prazo é de 20 (vinte) dias.
Em seguida, a parte deve indicar as peças que comporão o instrumento, se houver. Após,
a parte recorrente é novamente intimada, a fim de apresentar as razões do recurso, no
prazo de 02 (dois) dias. A parte contrária possui o mesmo prazo para apresentar
contrarrazões.

3. Embargos de declaração

A jurisdição tem função de aplicar o direito ao caso concreto. Para tanto, deve a decisão
judicial ser clara, certa e completa. Na ausência de um ou mais desses requisitos, são
cabíveis os embargos de declaração.

3.1 Conceito

Trata-se de um recurso integrativo (visa manter a coerência da sentença), cabível


quando o ato decisório apresentar obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão.

Obscuridade: ausência do requisito da clareza. Orações ininteligíveis, as quais não


permitem concluir o que foi decidido.

Ambiguidade: ausência do requisito da certeza. Podem ou não ser extraídas duas


conclusões diferentes e incompatíveis.

Contradição: podem, com certeza, ser extraídas duas conclusões diferentes e


incompatíveis.

Omissão: falta de algum aspecto essencial que deveria estar na decisão.

Não suspendem a executoriedade do recurso. Suspendem o prazo para a interposição


de outros recurso.

3.2 Requisitos

Deve o recorrente apontar e afirmar o defeito específico, não sendo suficiente


afirmação genérica. O erro a ser apontado deve ser formal.

Jefferson Alex Pereira


A sucumbência não é necessária. O prazo, em geral, é de 02 (dois) dias. O recurso é
dirigido ao prolator da decisão, não sendo prevista a oitiva da parte contrária.

3.3 Embargos de declaração com efeito infringente

Trata-se de embargos que apontam um erro na decisão que, caso reconhecido,


acarretará uma modificação na própria decisão. Caso o juiz perceba o efeito infringente,
o juiz deverá possibilitar a manifestação da parte contrária.

4. Apelação

A apelação é o recurso que permite uma revisão da decisão de mérito proferida ao final
do processo penal condenatório.

4.1 Conceito

“Apelação é o pedido que se faz ao tribunal de apelação, instância imediatamente


superior ao juiz singular, no sentido de reexaminar, total ou parcialmente, a sentença
prolatada pelo juiz singular, com o objetivo de reformar essa decisão, dando um novo
veredicto ou modificando-a, ou simplesmente mantendo-a”.

A apelação cabe tanto das sentenças absolutórias quanto condenatórias. É o recurso


penal mais amplo, possibilitando a rediscussão de quase todas as questões relevantes
no processo. É um recurso de instância reiterada. O acórdão proferido substitui a
sentença recorrida.

As partes podem apelar de toda a decisão ou apenas de parte dela, devendo delimitar
o conteúdo. O tribunal ad quem fica vinculado a essa delimitação (tantum devolutum
quantum appellatum).

É também um recurso residual, cabível na ausência de previsão de outros recursos,


quando a decisão for definitiva.

4.2 Espécies

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:

I – das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;

II – das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos
casos não previstos no Capítulo anterior;

III – das decisões do Tribunal do Júri, quando:

a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;

b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;

c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;

d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos

Jefferson Alex Pereira


Há duas espécies: a plena e a limitada.

Na apelação plena, o recorrente devolve à jurisdição o conhecimento de toda a matéria


decidida que acarretou a sucumbência. O juiz pode examinar toda a matéria. Na
limitada, devolve apenas o conhecimento de parcela da matéria que acarretou sua
sucumbência, devendo o juiz limitar-se à matéria arguida.

Conforme quem proferiu a decisão, há duas espécies de apelação: (i)a interposta em


face de sentença proferida por juiz singular (decisões com definitivas ou com força
definitiva, incisos I e II acima); (ii) a interposta em face de sentença proferida pelo Juiz
Presidente do Tribunal do Júri. Na hipótese (i) cabe apelação das sentenças de
condenação ou absolvição, assim como das hipóteses de absolvição sumária e das
decisões que encerram o processo com julgamento do mérito, sem absolver ou
condenar, bem como das decisões interlocutórias mistas.

Na hipótese (ii) é preciso observar as hipóteses taxativas previstas nas alíneas do inciso
III. Nas hipóteses de apelação em relação às decisões proferidas pelo Tribunal do Júri, o
órgão jurisdicional não pode substituir o veredito, mas tão somente determinar um
novo julgamento em substituição ao primeiro.

No caso da alínea a, trata-se de erron in procedendo do juiz-presidente. Ex: permite


apresentação do réu algemado.

Na hipótese da alínea b, o juiz-presidente desobedece à decisão dos jurados ou contraria


a lei. Ex: jurados reconhecem uma exclusão de ilicitude que o juiz-presidente ignora.

No caso da alínea c, os jurados emitiram um veredito de culpado, contudo, o juiz-


presidente erra na dosimetria da pena.

Na última hipótese, da alínea d, os jurados proferem decisão que manifestamente


contraria a prova dos autos. Ex: câmeras filmam o acusado em outra cidade no horário
do crime. Ainda assim, ele é condenado. Nessa hipótese, deve ser realizado um novo
julgamento. Realizado esse novo julgamento, qualquer que seja o resultado, não pode
ser interposto recurso com base no mesmo fundamento.

4.3 Efeitos

Os mais importantes efeitos da apelação são o devolutivo e o suspensivo.

O efeito devolutivo compreende a devolução ao tribunal competente da matéria


decidida em 1º grau, adstrito aos limites da impugnação.

O efeito suspensivo consiste no impedimento da execução do que foi decidido na


sentença.

Jefferson Alex Pereira


Também há o efeito extensivo, o qual ocorre quando o delito for cometido em concurso
de agentes, sendo provido o recurso de um deles, por motivo não exclusivamente
pessoal, aproveita aos demais.

4.4 Limites

Norteado no princípio do ne eat judex ultra petita partium, não pode o Tribunal ad
quem, aproveitando-se de recurso exclusivo da acusação, em favor do réu reformar a
decisão.Trata-se de uma consequência do princípio da facultatividade, bem como da
devolutividade restrita (tantum devolutum quantum appelatum).”

“Da mesma maneira, o fato do órgão do Ministério Público não ter interposto recurso
de apelação da decisão definitiva, absolutória ou condenatória, proferida pelo juiz de
primeiro grau, impede que o juízo ad quem, julgado apelação interposta pelo acusado,
profira uma decisão mais gravosa a ele. A isso se denomina princípio da ne reformatio
in pejus.”Essa proibição impede que seja declarada de ofício nulidade não arguida pela
acusação, conforme súmula 160 do STF.

A vedação à reformatio in pejus não se aplica ao Tribunal do Júri.

4.5 Prazos

O prazo é de 05 (cinco) dias, contados da data de intimação.

4.6 Procedimento

Interposta a apelação ao juízo a quo, no prazo de 05 (cinco dias), o juízo a quo realiza o
exame de admissbilidade. Em seguida, o apelante tem o prazo de 08 (oito) dias para
oferecer suas razões, ao juízo a quo ou ao tribunal ad quem. O prazo para contrarrazões
também é de 08 (oito) dias.

No juízo ad quem é realizado novo juízo de admissibilidade acerca da apelação.

4.7 Deserção da apelação

A apelação será julgada deserta quando for intentada por queixa, caso não sejam pagas
as custas ou caso não seja realizado o traslado do processo.

5. Carta testemunhável

A carta testemunhável tem origem nas Ordenações Filipinas. Trata-se de um recurso


cabível quando o prolator da decisão recorrida obstar a tramitação de recurso contra
essa decisão. Ex: juiz não recebeu a denúncia. MP interpôs RESE a fim de garantir o
recebimento. Juiz obstou o seguimento do RESE. MP deve interpor carta testemunhável
a fim de dar seguimento ao RESE.

É cabível para garantir o seguimento de qualquer um dos recursos processuais penais.


Deve ser endereçada ao escrivão, diretor de secretaria ou diretor do tribunal, no prazo
de 48h contados da decisão que denegou o recurso.

Jefferson Alex Pereira


6. Recurso Especial

Como o tem função precípua de pacificação da ordem social, a jurisprudência deve ser
dotada de coerência, a fim de não gerar a impressão de que a justiça é espécie de jogo
de azar.

O RESp foi criado justamente com a finalidade de atribuir coerência ao ordenamento


jurídico.

6.1 Conceito

“O recurso especial é o meio extraordinário de impugnação das decisões judiciais que


tem por finalidade a preservação da uniformidade de interpretação e de aplicação das
normas legais federais. Em poucas palavras, serve para preservar o direito federal.”

Está previsto nos arts. 104 e 105 da CF e no Regimento Interno do STJ.

Não há análise da matéria de fato no RESp.

6.2 Caracteres

A decisão recorrida deve ter sido proferida por tribunal de apelação. O prazo é de 15
(quinze) dias para interposição.

É recebido apenas no efeito devolutivo. Quando interposto do julgamento de mérito de


incidente de resolução de demandas repetitivas, será atribuído efeito suspensivo.

6.3 Requisitos

Petição deve conter: exposição do fato e direito aplicável, demonstração de cabimento


do recurso, razões do pedido de reforma da decisão recorrida.

Um dos requisitos é o prequestionamento, o qual compreende a necessidade de que a


questão federal tenha sido apreciada pelo juízo a quo.

7. Recurso Extraordinário

Surgiu em 1890, sem esse nome. Possui dois propósitos: tutelar direitos do recorrente
e, principalmente, tutelar a ordem constitucional.

7.1 Conceito

“O recurso extraordinário é o meio extraordinário de impugnação das decisões judiciais


que tem por finalidade proteger a Constituição da República Federativa do Brasil e a
hierarquia das leis, por ela estabelecida.”

Há 04 (quatro) hipóteses de cabimento:

a) alegação da contrariedade da decisão em face de dispositivo constitucional


(Constituição, art. 102, III, a);

Jefferson Alex Pereira


b) decisão recorrida declara a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal
(Constituição, art. 102, III, b);

c) decisão recorrida julga válida uma lei ou um ato de governo local contestado em face
da Constituição (Constituição, art. 102, III, c);

d) decisão recorrida julga válida uma lei local contestada em face de uma lei federal
(Constituição, art. 102, III, d).

7.2 Caracteres

A decisã deve ter sido proferida por tribunal de apelação, tribunal superior ou turma
recursal de juizado especial.

O prazo é de 15 (quinze) dias. Recebido sempre apenas no efeito devolutivo.

7.3 Requisitos

Petição deve conter: exposição do fato e direito aplicável, demonstração de cabimento


do recurso, razões do pedido de reforma da decisão recorrida e a demonstração da
repercussão geral das questões constitucionais discutidas no processo. “Haverá
repercussão geral sempre que o acórdão impugnado contrariar súmula ou
jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal ou reconhecer a
inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal (CPC, art. 1.035, § 3º).”

“Caso seja reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais discutidas e


decididas no processo, o relator no STF determinará a suspensão do processamento de
todos os processos pendentes que versem sobre a questão e tramitem dentro do
território nacional (CPC, art. 1.035, § 5º).”

Um dos requisitos é o prequestionamento, o qual compreende a necessidade de que a


questão constitucional tenha sido apreciada pelo juízo a quo.

“Se a decisão do Tribunal de Apelação é unânime — em outras palavras: se não cabem


embargos infringentes, mas somente recursos de índole extraordinária — o recurso não
tem efeito suspensivo. Por essa razão, pode ser expedido o mandado de prisão”.

Jefferson Alex Pereira

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