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PENAL
Introdução. Classificações
Introdução
A Teoria Geral da Prova no Processo Penal está regulada no Título VII CPP, a partir do art.
155, que assim dispõe:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008)
Assim, o Juiz não está obrigado a conferir determinado “peso” a alguma prova. Por
exemplo: num processo criminal, mesmo que o acusado confesse o crime, o Juiz não está
obrigado a dar a esta prova (confissão) valor absoluto, devendo avaliá-la em conjunto com as
demais provas produzidas no processo, de forma a atribuir a esta prova o valor que reputar
pertinentes.
1
Também chamado de princípio da PERSUASÃO RACIONAL, CONVENCIMENTO RACIONAL ou APRECIAÇÃO
FUNDAMENTADA. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 12.º edição. Ed.
Forense. Rio de Janeiro, 2015, p.345
2
À exceção das provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Além disso, PACELLI sustenta que a impossibilidade
de utilização dos elementos colhidos na investigação como únicos para fundamentar a decisão somente se aplicaria
à decisão condenatória, pois o intuito da norma e evitar que sejam violados o contraditório e a ampla defesa. E, se
tratando de decisão absolutória, não haveria qualquer razão para não se admitir. PACELLI, Eugênio. Curso de
processo penal. 16º edição. Ed. Atlas. São Paulo, 2012, p. 331.
Além disso, o CPP determina que as provas urgentes, que não podem esperar para serem
produzidas em outro momento (cautelares, provas não sujeitas à repetição, etc.), estão
ressalvadas da obrigatoriedade de serem produzidas necessariamente pelo crivo do contraditório
judicial, embora se deva sempre procurar estabelecer o contraditório em sede policial quando da
realização destas diligências.
● Sistema da prova tarifada (ou certeza moral do legislador, sistema das regras legais ou da
prova legal) - o sistema da prova tarifada, ou sistema tarifário da prova, estabelece, diretamente
pela lei, determinados “pesos” que cada prova possui, num sistema de apreciação bastante
rígido para o Juiz3. De acordo com este sistema, cabe ao Juiz apenas fazer a soma aritmética dos
“pesos” de cada prova, a fim de decidir se o somatório das provas em determinado sentido é
superior ao somatório das provas em sentido contrário.
Neste sistema, a título de exemplo, a confissão deveria possuir valor máximo
(rainha das provas), de forma que sendo o réu confesso, o Juiz deveria
condená-lo, ainda que todas as outras provas indicassem o contrário.
O Brasil não adotou, como regra, o sistema da prova tarifada. No entanto, existem algumas
exceções no CPP. Exemplos: Necessidade de que, para a extinção da punibilidade pela morte
do acusado, a prova se dê única e exclusivamente pela certidão de óbito (art. 62); quando o Juiz
esteja obrigado a suspender o curso do processo penal para que seja decidida, no Juízo Cível,
questão sobre o estado das pessoas. Nesse caso, o único meio de prova que se admite para a
comprovação do estado da pessoa (filiação, etc.), é a sentença produzida no Juízo Cível (art. 92
do CPP).
● Sistema da íntima convicção (ou certeza moral do Juiz) – É um sistema no qual não há
necessidade de fundamentação por parte do julgador, podendo ele decidir da maneira que a sua
“sensação de Justiça” indicar. Também não é adotado como regra no Processo Penal pátrio,
tendo sido adotado, porém, como exceção, nos processos cujo julgamento seja afeto ao Tribunal
do Júri, pois os jurados, pessoas leigas que são, julgam conforme o seu sentimento interior de
Justiça, não tendo que fundamentar o porquê de sua decisão.
Vale mencionar a vocês que o Brasil não adotou, como regra, o sistema taxativo da prova.
O sistema taxativo implica a impossibilidade de produção de outros meios de prova que não
3
PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 330
sejam aqueles expressamente previstos na Lei Processual. No Brasil, é plenamente possível a
utilização de meios de prova inominados ou atípicos (não previstos expressamente na Lei). Não
confundam isto com sistema da prova tarifada. São coisas distintas!
Podemos definir prova como o elemento produzido pelas partes ou mesmo pelo Juiz,
visando à formação do convencimento deste (Juiz) acerca de determinado fato. Como o
processo criminal é um processo de “conhecimento” (pois se busca a certeza, já que reside
incerteza quanto à materialidade do delito e sua autoria), a produção probatória é um
instrumento que conduz o Juiz ao alcance da “certeza”, de forma que, de posse da certeza dos
fatos, o Juiz possa aplicar o Direito.
Por sua vez, o objeto de prova é o fato que precisa ser provado para que a causa seja
decidida, pois sobre ele existe incerteza4. Assim, num crime de homicídio, o exame de corpo de
delito é prova, enquanto o fato (existência ou não do homicídio – a materialidade do crime) é o
objeto de prova. NÃO CONFUNDAM ISSO!
Somente os fatos, em regra, podem ser objeto de prova, pois o Direto não precisa ser
provado, na medida em que o Juiz conhece o Direito (iura novit curia). No entanto, utilizando-se
por analogia o regramento processual civil, a parte que alegar direito5 municipal, estadual ou
estrangeiro, deve provar-lhes o teor e a vigência, pois o Juiz não está obrigado a conhecer estas
normas jurídicas.
Porém, existem determinados fatos que não necessitam serem provados6 (não sendo,
portanto, objeto de prova). São eles:
a) Provas diretas – Aquelas que provam o próprio fato, de maneira direta. Exemplo:
Testemunha ocular de um delito, que, com seu depoimento, prova diretamente a
ocorrência do fato;
b) Provas indiretas – Aquelas que não provam diretamente o fato, mas por uma dedução
lógica, acabam por prová-lo. Exemplo: Imagine-se que o acusado comprove de
maneira cabal (absoluta) que se encontrava em outro país quando da ocorrência de um
roubo na cidade do Rio de Janeiro, do qual é acusado. Assim, comprovado este fato
(que não é o fato criminoso), deduz-se de maneira irrefutável, que o acusado não
praticou o crime (prova indireta).
Quanto ao valor:
Quanto ao sujeito:
a) Provas reais – Aquelas que se baseiam em algum objeto, e não derivam de uma
pessoa. Exemplo: Cadáver, documento, etc.
b) Provas pessoais – São aquelas que derivam de uma pessoa. Exemplo: Testemunho,
interrogatório do réu, etc.
Existe, ainda, a figura da PROVA EMPRESTADA. A prova emprestada é aquela que, tendo sido
produzida em outro processo, vem a ser apresentada7 no processo corrente, de forma a também
neste produzir os seus efeitos.
O entendimento mais recente do STJ8 é no sentido de que não se exige que a prova emprestada
seja oriunda de processo que envolveu as mesmas partes, desde que essa prova emprestada
seja, no momento de sua inclusão no processo atual, submetida ao contraditório.
Presentes os requisitos, a prova emprestada terá o mesmo valor das demais provas. Ausente
qualquer dos requisitos, será considerada como mero indício, tendo o valor de prova não-plena.9
Quanto ao procedimento:
b) prova atípica – Duas correntes: a.1) É somente aquela que não está prevista na
Legislação (este conceito se confunde com o de prova inominada); a.2) É tanto aquela que
está prevista na Lei, mas seu procedimento não, quanto aquela em que nem ela nem seu
procedimento estão previstos na Legislação.
Outras classificações:
a) prova anômala – É a prova típica, só que utilizada para fim diverso daquele para o qual
foi originalmente prevista.
7
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 339
8
REsp 1340069/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 15/08/2017, DJe 28/08/2017
9
Temos, ainda, a chamada “serendipidade”, que é o encontro fortuito de provas. Ocorre quando um elemento de
prova relativo ao fato objeto de um processo é encontrado fortuitamente, ou seja, por acaso, em outro processo.
Neste caso, a decisão judicial pode ser fundamentada em elementos de prova surgidos, de forma fortuita, durante a
investigação de outros crimes.
b) prova irritual – É aquela em que há procedimento previsto na Lei, só que este
procedimento não é respeitado quando da colheita da prova.
c) prova “fora da terra” – É aquela realizada perante juízo distinto daquele perante o qual
tramita o processo (realizada por carta precatória, por exemplo).
A) Princípio do contraditório – Todas as provas produzidas por uma das partes podem ser
contraditadas (contraprova) pela outra parte;
B) Princípio da comunhão da prova (ou da aquisição da prova) – A prova é produzida por
uma das partes ou determinada pelo Juiz, mas uma vez integrada aos autos, deixa de pertencer
àquele que a produziu, passando a ser parte integrante do processo, podendo ser utilizada em
benefício de qualquer das partes. Exemplo: Imagine que o réu arrole uma testemunha,
acreditando que seu depoimento será favorável a ele. No entanto, eu seu depoimento a
testemunha afirma que viu o acusado praticar o crime. Assim, nada impede que o Juiz se valha
da própria prova produzida pelo réu para condená-lo, pois a prova não é mais do réu, e sim
comum ao processo (comunhão da prova). Isso é muito importante! Guardem isso!
C) Princípio da oralidade – Sempre que for possível, as provas devem ser produzidas
oralmente na presença do Juiz. Assim, mais valor tem uma prova testemunhal produzida em
audiência que um mero documento juntado aos autos contendo algumas declarações de uma
suposta testemunha. Desse princípio decorrem:
c.3) Subprincípio da imediação – o Juiz, sempre que possível, deve ter contato físico com a
prova, no ato de sua produção, a fim de que melhor possa formar sua convicção;
Esclareço a vocês, ainda, que quatro são as etapas do processo de produção da prova:
Ônus da prova
O ônus da prova pode ser definido como o encargo conferido a uma das partes referente à
produção probatória relativa ao fato por ela alegado.10
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado
ao juiz de ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Desta forma, fica claro que a parte que alega algum fato, deve fazer prova dele. Portanto,
cabe ao acusador fazer prova da materialidade e da autoria do delito.11 Cabe ao réu, por sua vez,
provar os fatos que alegar (algum álibi) ou desconstituir a prova feita pelo acusador (um
excludente de ilicitude, uma excludente de culpabilidade, etc.).
10
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 342
11
PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 325
Um ônus não é uma obrigação, pois uma obrigação descumprida é um ato contrário ao
Direito. Um ônus, por sua vez, quando descumprido, não gera um ato contrário ao Direito, mas
representa uma perda de oportunidade à parte que lhe der causa.
(i) Na produção antecipada de provas – Regra geral, as provas devem ser produzidas
pelas partes. No entanto, em alguns casos, o Juiz pode determinar a produção de algumas
provas. Essa faculdade está prevista no art. 156, segunda parte, e incisos I e II do CPP. O primeiro
deles trata da produção de provas urgentes:
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado
ao juiz de ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de
provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Deve, ainda, o Magistrado quando determinar a produção de prova antecipada, fazer isto
obedecendo:
Ressalto a vocês, por fim, que a determinação de produção antecipada de provas urgentes
e relevantes é uma espécie de medida cautelar (busca evitar o perecimento da prova), de forma
12
Tal princípio não está imune a críticas, notadamente aquelas que o consideram como uma brecha inquisitiva para o
exercício arbitrário de poder por parte do Estado. PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 322/323
que devem estar presentes os requisitos da cautelaridade, que são o fumus comissi delicti
(existência de indícios da materialidade e da autoria do delito) e o periculum in mora (Perigo de
que a demora na produção da prova torne impossível a sua realização).
Um exemplo de exercício desta faculdade está no art. 196 do CPP, que permite ao Juiz
proceder, de ofício (ou seja, sem requerimento das partes), a novo interrogatório do réu. Ou,
ainda, nos termos do art. 209 do CPP, ouvir testemunhas não arroladas pelas partes, dentre
outros exemplos.
Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz
na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. (eficácia suspensa por força de decisão liminar proferida pelo STF na
ADI 6298)
Como se vê, hoje, o sistema acusatório no nosso processo penal não é mais uma
interpretação doutrinária dos contornos da nossa legislação. Trata-se de um sistema que foi
expressamente adotado, nos termos da Lei.
Mais que isso: ao adotar expressamente o sistema acusatório, o legislador ainda trouxe duas
vedações ao Juiz (reforçando o caráter acusatório de nosso sistema):
Ou seja, ao Juiz é vedado agir “de ofício” no curso da investigação, bem como atuar de
maneira proativa na produção probatória, exercendo a função conferida ao acusador (o que
configuraria resquício inquisitivo).
Assim, diante da nova sistemática, cremos que a possibilidade de o Juiz determinar “ex
officio” (sem provocação) a produção antecipada de provas na fase pré-processual estaria
tacitamente revogada. Para reforçar tal compreensão, o art. 3º-B (também criado pela Lei
13.964/19) assim estabelece:
Como se vê claramente, o art. 3º-B, VIII do CPP estabelece que incumbe ao Juiz das
Garantias (Juiz que atua na fase pré-processual, supervisionando a investigação criminal) decidir
sobre o REQUERIMENTO de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não
repetíveis. Ou seja: hoje deve haver requerimento, não se admitindo que o Juiz assim proceda de
ofício.
ATENÇÃO!!! Vale ressaltar que estes dispositivos (arts. 3º-A e 3º-B do CPP) estão
com eficácia suspensa, por força de decisão liminar proferida pelo STF no bojo
da ADI 6298.
Professor, mas por qual razão nós vimos esta parte então? Para que vocês entendam que hoje há
na Lei (embora com eficácia suspensa) um regramento que restringe a atuação “de ofício” do
Juiz. Ou seja, é mais produtivo saber que o legislador optou pela inclusão de tais dispositivos e o
STF suspendeu temporariamente do que simplesmente ignorar a alteração legislativa.
Provas ilegais
As provas ilegais são um gênero do qual derivam três espécies: provas ilícitas, provas ilícitas
por derivação e provas ilegítimas.
Provas ilícitas
São consideradas provas ilícitas aquelas produzidas mediante violação de normas de direito
material (normas constitucionais ou legais)13. A Constituição Federal expressamente prevê a
vedação da utilização de provas obtidas por meios ilícitos. Nos termos do seu art. 5°, LVI:
Art. 5º (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;
● Interceptação telefônica realizada sem ordem judicial, por violar o art. 5°, XII da
Constituição Federal.
● Busca e apreensão domiciliar sem ordem judicial, por violação ao art. 5°, XI da
Constituição.
● Prova obtida mediante violação de correspondência, pois viola o art. 5°, XII da
Constituição Federal.
Muitos outros existem, e ficaríamos dias e dias a enumerá-los. No entanto, o que vocês
devem saber é que qualquer prova obtida por meio ilícito é uma prova ilegal, e que por meio
ilícito deve-se entender aquele que importa em violação a algum direito material,
constitucionalmente protegido, de maneira direta ou indireta.
A prova pode ser ilícita por afrontar direta ou indiretamente a Constituição. Todos os
exemplos citados acima são hipóteses de prova ilícita por afrontamento direto à Constituição. No
entanto, pode ocorrer de a prova ser ilícita por ofender uma norma prevista em Lei (não na
Constituição), mas essa Lei retira seu fundamento diretamente da Constituição.
São aquelas provas que, embora sejam lícitas em sua essência, derivam de uma prova ilícita,
daí o nome “provas ilícitas por derivação”. Trata-se da aplicação da Teoria dos frutos da árvore
13
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 340
envenenada (fruits of the poisonous tree), segundo a qual, o fato de a árvore estar envenenada
necessariamente contamina os seus frutos. Trazendo para o mundo jurídico, significa que o
defeito (vício, ilegalidade) de um ato contamina todos os outros atos que a ele estão vinculados.
Antes do advento da Lei 11.690 (que alterou alguns dispositivos do CPP), a utilização desta
teoria era fundamentada com base no art. 573, § 1° do CPP, que diz:
Art. 573 (...) § 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos
que dele diretamente dependam ou sejam consequência.
No entanto, com o advento da Lei citada, o art. 157, § 1° do CPP passou a tratar
expressamente da prova ilícita por derivação. Vejamos:
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. (Incluído pela
Lei nº 11.690, de 2008)
Perceba, caro aluno, que a primeira parte do dispositivo transcrito trata da regra, qual seja:
Toda prova derivada de prova ilícita é inadmissível no processo. Entretanto, a segunda parte do
artigo excepciona a regra, ou seja, existem casos em que a prova, mesmo derivando de outra
prova, esta sim ilícita, poderá ser utilizada.
Exige-se, primeiramente, que a prova ilícita por derivação possua uma relação de
causalidade exclusiva com a prova originalmente ilícita. Assim, se uma prova B (lícita) só pode ser
obtida porque se originou de uma prova ilícita (A), a prova B será inadmissível. Entretanto, se a
prova B não foi obtida exclusivamente em razão da prova A, a prova B não será inadmissível.
14
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., p. 341
Art. 157 (...) § 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só,
seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução
criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. (Incluído pela Lei nº
11.690, de 2008)
Por fim, há ainda o que a Doutrina chama de “Teoria da descoberta inevitável”15 (inevitable
discovery), segundo a qual também poderá ser utilizada a prova que, embora obtida através de
uma outra prova, ilícita, teria sido obtida inevitavelmente pela autoridade.
Provas ilegítimas
São provas obtidas mediante violação a normas de caráter eminentemente processual, sem
que haja nenhum reflexo de violação a normas constitucionais.
15
Também chamada de “exceção da fonte HIPOTÉTICA independente”.
prejudica algum direito fundamental. No entanto, trata-se de violação a uma
norma processual, de forma que esta prova é considerada ilegítima.
Não se pode esquecer que o termo “ilegítimas” só se aplica às provas obtidas com violação
às normas de direito PROCESSUAL. Já o termo “ilícitas” se aplica apenas às provas obtidas com
violação às normas de direito material.
Assim:
No caso das provas ilícitas e ilícitas por derivação, declarada sua ilicitude, elas deverão ser
desentranhadas do processo16 e, após estar preclusa a decisão que determinou o
desentranhamento (não couber mais recurso desta decisão), esta prova será inutilizada pelo Juiz.
É o que preconiza o § 3° do art. 157 do CPP:
16
Sobre os efeitos do reconhecimento da ilicitude da prova, vale destacar que o mero reconhecimento da ilicitude
da prova não é capaz de ensejar o trancamento da ação penal ou a prolação de uma sentença condenatória. A ação
penal pode possuir justa causa (elementos mínimos de prova) calcada em outras provas, não declarada ilícitas, bem
como a condenação pode sobrevir condenação, também fundada em outras provas, não vinculadas à prova
considerada ilícita (Informativo 776 do STF).
CUIDADO! Há parcela da Doutrina, no entanto, vem entendendo que, desentranhada prova
declarada inadmissível, a sua inutilização não é obrigatória, podendo o Magistrado declarar a
inadmissibilidade da prova, mas não decretar seu desentranhamento e inutilização.
Isto se deve em razão da existência de forte entendimento17 no sentido de que a prova, ainda
que seja ilícita, se for a única prova que possa conduzir à absolvição do réu, ou comprovar fato
importante para sua defesa, em razão do princípio da proporcionalidade, deverá ser utilizada no
processo. Assim, a inutilização da prova inviabilizaria sua utilização pro reo.
EXEMPLO: Imagine que Marcelo, acusado de homicídio, saiba que, na verdade, Bruno é o
verdadeiro homicida, mas não possui provas acerca disso. No entanto, Marcelo adentra à casa de
Bruno pela madrugada e acopla um dispositivo para realização de escutas. Durante a utilização
do dispositivo, Bruno comenta diversas vezes com sua esposa acerca da autoria do homicídio,
confessando-o. Esta prova, obtida ilicitamente (violação ao Direito à privacidade, art. 5°, X da
Constituição), por ser a única capaz de provar a inocência de Marcelo, apesar de ilícita, poderá
ser utilizada para sua absolvição.
Entretanto, a prova não passa a ser considerada lícita. Ela continua sendo ilícita, mas
excepcionalmente será utilizada, apenas para beneficiar o acusado (Marcelo). Isso é
extremamente importante, pois se a prova passasse a ser considerada lícita, poderia ser utilizada
para incriminar o verdadeiro autor do crime (Bruno). Entretanto, como ela continua sendo prova
ilícita, poderá ser utilizada para inocentar Marcelo, mas não poderá ser utilizada para incriminar
Bruno, pois a Doutrina e Jurisprudência dominantes só admitem a utilização da prova ilícita pro
reo, e não pro societate. MUITO CUIDADO COM ISSO!
Assim, caso o Juiz reconheça que determinada prova é ilícita e, portanto, inadmissível, este
mesmo Juiz não poderá posteriormente proferir a sentença, devendo ser designado outro Juiz
(conforme as regras de substituição previstas pelo Tribunal) para proferir sentença.
Qual a razão de tal vedação, professor? A razão é simples. Quando o Juiz declara inadmissível
uma prova, dada sua ilicitude, aquela prova passa a não fazer mais parte dos autos do processo
e, portanto, não pode ser utilizada para formar o convencimento do Juiz. Todavia, na prática,
nenhum ser humano é absolutamente isento e capaz de fazer tal separação. Imagine que um Juiz
tomou conhecimento de uma confissão realizada pelo réu, mas tal confissão foi obtida mediante
interceptação telefônica clandestina. Ainda que o referido Juiz não possa fundamentar sua
decisão com base naquela confissão (prova ilícita), é inegável que aquilo está na cabeça do Juiz e
17
PACELLI, Eugênio. Op. cit., p. 320
vai fazer com que o mesmo olhe para as demais provas dos autos já com a imagem de um
culpado em sua cabeça.
ATENÇÃO! Este dispositivo teve sua eficácia SUSPENSA cautelarmente pelo STF
na ADI 6298. Assim, até a análise definitiva do mérito da ADI, a eficácia do §5º
do art. 157 está suspensa.
Qual é o recurso cabível em face da decisão referente à ilicitude da prova? A Doutrina entende
que:
● Decisão que RECONHECE A ILICITUDE da prova – Cabe RESE, nos termos do art.
581, XIII do CPP.
● Decisão que RECONHECE A ILICITUDE da prova apenas na sentença – Cabe
APELAÇÃO.
● Decisão que NÃO RECONHECE a ilicitude da prova – Não cabe recurso (seria
possível o manejo de HC ou MS).
Diferentemente do que ocorre com as provas ilícitas, em que a natureza e a gravidade dos
crimes podem implicar a sua utilização, no que tange às provas ilegítimas, o critério para
definição de sua utilização ou não será outro.
Para que se defina se a prova ilegítima (obtida ou produzida mediante violação à norma de
caráter processual) será utilizada ou não, devemos distingui-las em dois grupos: provas ilegítimas
por violação a norma processual de caráter absoluto (que importam nulidade absoluta) e provas
ilegítimas por violação a norma processual de caráter relativo (que importam em nulidade
relativa).
Seja como for, de acordo com a Doutrina majoritária, às provas ilegítimas deve ser aplicado
o regime jurídico das nulidades, e não as regras atinentes às provas ilícitas, que vimos
anteriormente.
Quadro esquemático:
SÚMULAS PERTINENTES
Súmulas do STJ
⮲ Súmula 455 do STJ: O STJ sumulou entendimento no sentido de que a produção antecipada
de provas, em razão da suspensão do processo decorrente da aplicação do art. 366 do CPP (réu
revel citado por edital), deve ser fundamentada em elementos concretos (risco de perda da
prova), não podendo o Juiz determiná-la com base apenas na alegação de que o decurso do
tempo poderia prejudicar a colheita da prova:
JURISPRUDÊNCIA CORRELATA
⮲ STJ - REsp 1111566/DF: O STJ decidiu no sentido de o direito à não autoincriminação
pressupõe a impossibilidade de se obrigar o acusado a realizar o teste do bafômetro, já que isso
constituiria obrigação de produção de prova contra si próprio:
(...) 1. O entendimento adotado pelo Excelso Pretório, e encampado pela
doutrina, reconhece que o indivíduo não pode ser compelido a colaborar com os
referidos testes do 'bafômetro' ou do exame de sangue, em respeito ao
princípio segundo o qual ninguém é obrigado a se autoincriminar (nemo tenetur
se detegere). Em todas essas situações prevaleceu, para o STF, o direito
fundamental sobre a necessidade da persecução estatal.
(...) (REsp 1111566/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Rel. p/ Acórdão
Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/RJ), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/03/2012, DJe 04/09/2012)
⮲ STF - HC 116931/RJ: O STF decidiu que o mero reconhecimento da ilicitude da prova não é
capaz de ensejar o trancamento da ação penal ou a prolação de uma sentença condenatória, pois
a ação penal pode possuir justa causa (elementos mínimos de prova) calcada em outras provas,
não declarada ilícitas, bem como a condenação pode sobrevir condenação, também fundada em
outras provas, não vinculadas à prova considerada ilícita.