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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ – FEPI

Curso de Direito

PROVAS EM ESPÉCIE
Ismaura Cantos Carlos –019259

Itajubá
2023
PROVAS EM ESPÉCIE
Ismaura Cantos Carlos –019259

Trabalho apresentado à disciplina


Direito Processual Penal, provas e
recursos, do Centro Universitário de
Itajubá – FEPI como requisito parcial
para obtenção de nota bimestral.
Prof. José Carvalho

Itajubá
2023
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INTRODUÇÃO

O conceito de prova é completamente diferente no direito processual penal.


Refere-se principalmente a fatos comprovados que serão utilizados pelas entidades
processuais para convencer o juiz no exercício dos direitos de ação e defesa. O
objetivo da parte nesse processo é convencer o juiz por meio do raciocínio de que
sua ideia de realidade é correta, ou seja, que os fatos ocorreram no plano real
exatamente como estão descritos em sua proposta. Ao se convencer disso, o
magistrado, mesmo podendo estar errado, consegue a segurança necessária para
tomar uma decisão.
Podemos, portanto, compreender que a prova se destina prioritariamente ao
juiz e, secundariamente, aos participantes do processo. A escolha constitucional da
verdade não é por qualquer verdade, mas pela verdade alcançada com respeito às
garantias individuais, incluindo dignidade, contradição e ampla defesa.
Sendo a prova um elemento por meio do qual se busca comprovar a
existência e a veracidade de um fato, sua finalidade em um julgamento seria
influenciar a convicção do juiz.

1. MEIOS DE PROVAS

As provas podem ser entendidas como as ferramentas pelas quais o juiz


chega às suas convicções e nelas se apoia para fundamentar a sua decisão. São
considerados os meios pelos quais o juiz utiliza direta ou indiretamente para
conhecer a “verdade” dos fatos, podendo essas ferramentas estarem ou não
contidas na lei. Como exemplo, podemos citar o depoimento de uma testemunha,
uma busca judicial, provas documentais, ou seja, qualquer ferramenta que auxilie o
juiz na tomada de decisão.
Sendo assim, todas estas são fontes, diretas ou indiretas, utilizadas para
obter a verdade dos fatos do julgamento. As provas podem ser legais que são
aquelas permitidas por lei ou ilegais contrárias à lei. Somente os primeiros devem
ser levados em consideração pelo juiz. Em relação aos meios ilegais, cabe ressaltar
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que incluem não apenas aqueles que são expressamente proibidos por lei, mas
também aqueles que são imorais, antiéticos, ofensivos à dignidade e à liberdade da
pessoa humana e aos bons costumes, bem como aqueles que são contrários aos
princípios gerais de direito.

2. DAS PROVAS EM ESPÉCIE

Os métodos de apresentação de provas previstos na lei estão enumerados


nos artigos 158.º a 250.º do Código Penal e os principais são: a) perícia: o juiz
utiliza uma perícia, cujo resultado é um laudo pericial, resultante do que foi
examinado na perícia; b) exame de corpo de delito: são elementos ou vestígios
materiais que indicam a existência de um crime. O exame do corpus delicti é
importante prova pericial, sua ausência em crimes que deixam vestígios resulta na
anulação do julgamento; c) prova documental: é o documento criado
especificamente para servir de prova do ato nele representado. Um exemplo é um
certificado ou documento que pode declarar um direito; d) Interrogatório: quando o
arguido é questionado sobre as acusações que lhe são imputadas, um interrogatório
é considerado probatório porque traz um elemento de convicção ao juiz; e)
testemunho: é qualquer pessoa que narra fatos de seu conhecimento relativos ao
objeto do caso; f) reconhecimento de pessoas e coisas: uma pessoa admite e
marca como certa a identidade de outra ou a qualidade de uma coisa; g) confronto:
é uma situação em que duas ou mais pessoas que fizeram declarações diferentes
sobre o mesmo fato se encontram cara a cara; h) confissão: no processo penal,
pode ser entendida como “denotando a expressão do consentimento do autor da
prática criminosa com a realidade da imputação contra ele”; h) provas ilícitas: As
provas ilegais são naturalmente provas que violam qualquer norma do direito
consuetudinário e, portanto, aplicam-se tanto a questões penais como processuais
penais.

3. PROVA PERICIAL
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A prova pericial é considerada prova técnica dependente do estudo de perito


com reconhecido conhecimento técnico, pois visa comprovar a existência de
fatos cuja certeza só pode ser alcançada com conhecimentos específicos.
Ressalta-se que este não é um teste de conteúdo absolutamente imune a
erros. Nestes termos, vale dizer que segundo o relativismo de Einstein sobre o
conhecimento científico, todo conhecimento científico está datado e tem prazo
de validade, pois toda teoria nasce para ser superada. Ou seja, a prova pericial
não é a “rainha das provas” e, portanto, é suscetível de comprovar maior ou
menor grau de probabilidade de determinado aspecto do crime. Dado o
relativismo deste tipo de provas, é oportuno referir o que consta da exposição de
motivos do CPP, verbis: “todas as provas são relativas; nenhum deles terá valor
decisivo ex vi legis ou necessariamente mais prestígio que os outros”. Além
disso, o Magistrado não está vinculado à prova pericial, portanto é livre para
considerar outros elementos de crença contidos em determinado corpo
probatório. Compete ao perito oficial examinar os factos ou circunstâncias que se
relacionem com os interesses ou necessidades decorrentes da investigação ou
processo, conforme consta do artigo 159.º do CPP.

É evidente a importância do papel do perito judicial, sujeito processual deste


membro dos “Auxiliares de Justiça”, na obtenção de prova pericial.

Sobre a prova pericial Eugênio Pacelli discorre sobre o assunto da seguinte


maneira:

“Normalmente, o próprio Poder Público tem em seus quadros de


carreiras os peritos judiciais, responsáveis pela realização das perícias
solicitadas pela jurisdição penal. São os chamados peritos oficiais. A partir
da Lei nº 11.690/08, a perícia poderá ser realizada por apenas um perito
oficial, portado de diploma de curso superior, salvo quando o objeto a ser
periciado exigir o conhecimento técnico em mais de uma área de
conhecimento especializado (art. 159, caput, e § 7º, CPP). Na hipótese de
ausência de perito oficial na comarca ou juízo, o exame será realizado por
2 (duas) pessoas idôneas, necessariamente portadoras de diploma de
curso superior, preferencialmente na área específica, dentre aquelas que
tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame (art. 159,
§ 1º, CPP).” PACELLI DE OLIVEIRA, Eugênio. Curso de Processo
Penal. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Juris, pág. 253 15ª Ed. 2011.
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Aury Lopes faz também uma observação a respeito das provas periciais, ele
ressalta que não é absolutamente necessário admitir ou convencer o juiz com prova
pericial. Segundo ele, a prova pericial não pode ser considerada uma regra, mas
apenas como uma comprovação de maior ou menor grau de probabilidade de algum
aspecto do crime. A arte é invocada para esse propósito no art. 182 do CPP.

4. EXAME DE CORPO DE DELITO

Corpo de delito é a prova da existência de um crime, materialidade do crime.


Como enfatiza Rogério Lauria Tucci, corpo de delito nada mais é que a
correspondência de um conjunto de elementos físicos, materiais, incluídos
expressamente na definição do crime, isto é, no modelo. O exame do corpo de
delito é a verificação de provas da existência de um crime, que é efetuada por
peritos diretamente ou através de outras provas, quando os vestígios, ainda que
materiais, tenham desaparecido. (TUCCI LAURIA, Rogerio. Do corpo de delito no
direito processual penal brasileiro, 1978)
Para Aury Lopes, pode ser um cadáver que comprove a gravidade de um
homicídio, ferimentos deixados na vítima em caso de lesão corporal, item furtado
em roubo, entorpecente no tráfico de drogas, documento falso em mentira
ideológica etc. (LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal e sua
Conformidade Constitucional, 2011).

5. PROVA DOCUMENTAL

5.1 CONCEITO DE DOCUMENTO

É qualquer base materialmente disposta à concentração e expressão de um


pensamento, ideia ou qualquer manifestação da vontade humana que sirva para
estabelecer e provar fato ou acontecimento juridicamente relevante. Assim são
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documentos: arquivos, fotografias, fitas de vídeo e áudio, desenhos, diagramas,


gravuras, disquetes, CDs e outros.
Para ARAGONESES ALONSO, o conceito de prova documental, que pode
ser perfeitamente aplicado no âmbito do código penal brasileiro, acaba sendo toda
classe de objetos que tenham função probatória se, por sua natureza, forem
suscetíveis de ser apresentado perante a presença judicial; isto é, documento é
qualquer objeto móvel que possa ser utilizado como prova em um julgamento, ao
contrário, neste sentido, de um teste de inspeção oftalmológica, que é realizado nos
objetos que não podem ser incluídos em um julgamento.(ARAGONESES ALONSO,
Pedro. Inconstituciones de Derecho Procesal Penal).
Segundo AURY LOPEZ, além de ser considerada prova documental, essa
lista pode incluir documentos escritos de fato, acréscimos de fitas de áudio, fitas de
vídeo, fotografias, substâncias e objetos móveis que possam ser fisicamente
atribuídos ao processo com função probatória. (LOPES JUNIOR, Aury. Direito
Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. Vol. 1. Rio de Janeiro:
Editora Lumen Juris).
Quanto à juntada de documentos, esta pode ser feita até ao encerramento da
investigação, tendo em conta que o princípio do contraditório deve ser sempre
respeitado, conferindo à outra parte o direito de reconhecer e contestar as provas
recolhidas. Mesmo que esse direito não esteja previsto no CPP, ele é concedido por
analogia ao artigo 5º, LV, da Constituição.
A recolha de provas pós-sentença é impraticável, uma vez que antecipa o
nível jurisdicional, mas não impede que as provas pós-sentença sejam
apresentadas para possível revisão criminal nos termos do artigo 621.º, II.
AURY LOPES ainda enfatiza em suas críticas furiosas e reiteradas o art. 234,
que autoriza o juiz, quando tiver notícia e conhecimento da existência de documento
relevante para a acusação ou defesa, a produzir tais provas de ofício. Segundo ele,
tal artigo prejudicaria o princípio dispositivo da relação processual, retiraria o
magistrado de sua posição de igualdade em ambos os lados e tornar-se-ia um “juiz-
inquisidor”.
Por último, estes documentos redigidos numa língua estrangeira podem
normalmente ser anexados se forem traduzidos por um tradutor judicial. Caso não
haja tradução e tais documentos sejam contestados, caberá ao juiz ordenar a sua
tradução por tradutor público. (LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal e
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sua Conformidade Constitucional. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora Lumen


Juris).

6. INTERROGATORIO

O interrogatório judicial é um ato processual que dá ao acusado a


oportunidade de se dirigir diretamente ao juiz e apresentar-lhe a sua versão de
defesa dos fatos que o Ministério Público lhe apresenta, podendo mesmo
apresentar provas, bem como uma confissão, se considerar apropriado, ou até
mesmo permanecer em silêncio e fornecer apenas dados qualificados. Já o
interrogatório policial é o que ocorre em uma investigação onde a autoridade policial
questiona o acusado sobre as denúncias.
A natureza jurídica do interrogatório é controversa, dividida em três vertentes:
a) Como meio de prova: Entende-se que o interrogatório é um meio de prova na
medida em que o juiz o considera com outros meios de prova para formar a sua
convicção. b) Como defesa: O acusado pode apresentar a sua versão da verdade,
é livre de permanecer calado, e até de usar uma versão falsa da verdade, porque
não é obrigado a falar, nem presta juramento à verdade. c) Como meio misto: O
interrogatório é um meio tanto de prova como de defesa.

Para GUARNIERI, ao descrever a necessidade de o interrogatório ser um ato


espontâneo, sem coação, tortura e métodos que possam ferir os direitos
fundamentais do acusado, como o interrogatório baseado em hipnose, métodos
físicos ou químicos, os chamados diários os soros ou detectores da “verdade”
mentem porque são considerados pela perigosos, imprecisos e sem qualquer
credibilidade, além de violarem a garantia de que ninguém será submetido a tortura
ou tratamento desumano ou degradante, conforme disposto no artigo 5º, III, CB.
Além disso, no seu trabalho, fornece uma lista útil de regras que o interrogatório
deve respeitar: a) deve ser feito imediatamente ou pelo menos dentro de um prazo
razoável após a prisão ;b) A presença de um advogado de defesa, a quem é
permitida a entrevista prévia e privada do acusado; c) Comunicação verbal não só
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das imputações, mas também dos argumentos e resultados da investigação e que


sejam contrários aos argumentos da defesa; d) a proibição de qualquer promessa
ou pressão direta ou indireta sobre o acusado para induzi-lo ao arrependimento ou à
cooperação na investigação; e) Respeitar o direito ao silêncio (a chamada “Defesa
Pessoal Negativa” ou Neno Teneteur se Detegere.), sem coação ou coação; f)
tolerância às interrupções que o contribuinte solicite durante a audiência,
nomeadamente para informar o advogado de defesa; g) permitir-lhe apresentar
provas que apoiem a sua versão e tomar medidas para verificá-la; h) rejeição do
valor decisivo da confissão; (GUARNIERI, Jose. Las Partes en el Processo
Penal).

7. VIDEOCONFERÊNCIA: Lei nº 11.900/2009

Existem requisitos formais e substanciais que devem ser cumpridos para a


legítima concessão de interrogatório através de videoconferência ou outra fonte
tecnológica para transmissão de sons e imagens em tempo real, conforme disposto
no artigo 185.º, § 2.º do CPP
Os requisitos formais dizem respeito aos elementos necessários para
fundamentar uma decisão judicial: a) excepcionalidade; b) justificativa; c)
necessidade. A primeira delas afirma que o interrogatório presencial é a regra, de
modo que o interrogatório realizado por videoconferência é a exceção. É inaceitável
violar esta ordem jurídica, vulgarizar a forma de interrogatório ou de recolha de
depoimentos por meios eletrônicos. A facilitação ou redução de custos para o
estado não são contempladas por lei e não são um requisito para contornar a regra.
A segunda confirma que as decisões dos tribunais são justificadas (art. 93, IX, CF) e
demonstra que se trata de uma decisão provisória que permite o uso de
videoconferência e não é uma mera ordem de expediente. Portanto, ao restringir o
direito à plena defesa e o direito do réu de estar presente, a decisão deve ser
fundamentada, assim como, por exemplo, a decisão de ordenar a prisão preventiva.
A terceira estabelece o padrão da necessidade de o ato processual ser realizado de
determinada forma, caso contrário não atingiria o seu objetivo. Necessário é aquilo
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que é necessário, ou seja, se não for feito de determinada forma não será
concluído.

8. TESTEMUNHO

O tipo de prova testemunhal é responsável pela grande maioria das


condenações no sistema de justiça criminal do Brasil. Este fato deve-se às elevadas
exigências do sistema de investigação criminal, à facilidade de obtenção de provas
testemunhais face às provas documentais e periciais, e às limitações técnicas que,
infelizmente, a Polícia Judiciária costuma ter.
Deve-se ter cuidado ao utilizar esse tipo de evidência, pois cada afirmação é
uma descrição subjetiva de determinado fato, influenciada pela própria ideologia do
proponente. Esta questão entra no debate filosófico.

8.1 CAPACIDADE TESTEMUNHAL

O artigo.202 do Código Penal afirma, que “todos podem ser testemunhas”, como
ferramenta para evitar a discriminação histórica existente, ou seja, as chamadas
“pessoas de má reputação”, que ao longo do tempo sofreram limitações em termos
de provas em processos penais...
Quanto à recusa de depor, o artigo 206.º do Código Penal estabelece que “o
ascendente ou descendente, parente em linha reta, cônjuge, ainda que divorciado,
irmão e pai, mãe ou filho adoptivo do arguido, recusam-se a fazê-lo, salvo nos casos
em que não for possível. por qualquer outro meio obter ou integrar provas do fato e
de suas circunstâncias”. Este dispositivo busca proteger os parentes que não são
obrigados a testemunhar por suposta proximidade.
As pessoas proibidas de testemunhar estão listadas no artigo 207 do CPP, que
afirma: "As pessoas que, em razão do seu cargo, ministério, comércio ou profissão,
sejam obrigadas a manter confidencialidade, estão proibidas de testemunhar, a
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menos que desejem testemunhar depois de terem sido libertadas por uma parte
interessada. Trata-se de um método de proteção do sigilo profissional à disposição
dos clientes enquanto arguidos em processos penais.

NUCCI, chama a atenção para o papel dos promotores e juízes como


testemunhas de outro caso do qual eles tinham conhecimento dos fatos por algum
motivo. Segundo o autor, haverá a proibição de prestar depoimento sobre os tais
fatos e informações que obteve no exercício das suas funções, por estas funções
terem interesse público na manutenção do sigilo profissional. No entanto, isto não
significa que não possam ser testemunhas utilizando informações extralegais fora
da sua profissão. (NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo
Penal Comentado, 2023).

8.2 CLASSIFICAÇÃO TESTEMUNHAL

Acredita-se que não é apropriado classificar as testemunhas, como alguns


afirmam, em diretas (aquelas que presenciaram os fatos) e indiretas (aquelas que
tomaram conhecimento dos fatos através de outras pessoas), pessoais (aquelas
que testemunham sobre os fatos relacionados ao assunto do julgamento) e
incorretos (aqueles que testemunham sobre fatos relacionados apenas ao objeto do
caso), numeradores (que se comprometeram), informantes (que não se
comprometeram a dizer a verdade) e referentes (aqueles que são identificados por
outras testemunhas).
Testemunhas são pessoas que testemunham sobre fatos, sejam eles quais
forem. Se viram ou ouviram, ainda são testemunhas que testemunham sobre a
ocorrência de algo. Uma pessoa que presencia um acidente de trânsito, por
exemplo, contará ao juiz os fatos conforme acredita que ocorreram. Tenha sempre
em mente que qualquer afirmação envolve uma dose de interpretação indissociável
da avaliação de quem a faz, ou seja, mesmo que ela tenha visto, não significa que
lhe dirá exatamente o que e como tudo aconteceu.
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Por outro lado, quando uma testemunha, testemunha sobre o que ouviu outra
pessoa dizer, ela continua afirmando o fato, ou seja, conta o que a terceira pessoa
lhe contou sem que isso aconteça. O que muda de uma situação para outra é a
avaliação das provas, ou seja, a ferramenta para o juiz comprovar a veracidade de
algo. O depoimento de uma pessoa pode ser mais valioso do que o de outra,
embora uma testemunha sempre preste depoimento sobre fatos dos quais tinha
conhecimento direto. Além disso, acredita-se que denunciantes não são
testemunhas, como veremos em tópico à parte. Numerário é apenas um adjetivo
impróprio para uma testemunha que foi posta de lado. Afinal, no âmbito da
“classificação” proposta, uma testemunha cujo interrogatório foi determinado por um
juiz ex officio é um numerário (aquele que presta uma obrigação) ou um informante
(aquele que não é obrigado)? Se cometido, tornar-se-ia em dinheiro, ainda que não
exista nenhum número associado, pois o juiz pode ouvir quantas pessoas julgar
necessárias para a sua condenação (artigo 209.º do Código Penal). Quanto à
referida testemunha, trata-se apenas de um adjetivo, não de um subjuntivo. Assim,
geralmente consideramos testemunha alguém que testemunha imparcialmente
sobre um fato.
Testemunha instrumental (ou federal) é o nome dado à pessoa que presencia
a leitura do auto de prisão em flagrante na presença do acusado, do motorista e das
testemunhas, assinando o referido auto no lugar do acusado, que não deseja, não
sabe ou não pode (artigo 304 § 3 CPP). A utilização de testemunha instrumental
não é exigida quando o arguido recusa ou não pode assinar o seu interrogatório em
tribunal, declarando essa circunstância no prazo (artigo 195.º do Código de
Processo Penal).

8.3 A ESCUTA ESPECIALIZADA E O DEPOIMENTO ESPECIAL.

A Lei 13.431/2017, que alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente,


instituiu o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente - SGDCA e
introduziu artigos que regulamentam a forma como crianças e jovens devem ser
ouvidos em situação de violência, a saber: escuta especializada e testemunho
especial.
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A audiência especializada é uma conversa sobre uma possível situação de


violência contra uma criança ou jovem com o objetivo de garantir a proteção e o
cuidado da vítima. Pode ser realizada por instituições integradas na rede de apoio e
proteção, que é composta, entre outros, por especialistas das áreas da educação e
saúde, conselhos tutelares, serviços de assistência social.
O depoimento especial é o interrogatório de uma vítima, criança ou jovem,
perante a polícia ou autoridade judicial. É de natureza investigativa para investigar
possíveis situações em que ocorreu violência. Todas as etapas do procedimento
estão descritas no artigo 12 da Lei.
A lei também estabelece que ambos os procedimentos devem ser realizados
num ambiente de apoio que garanta a privacidade das vítimas ou testemunhas e
deve protegê-las de qualquer contacto com o alegado agressor ou qualquer outra
pessoa que represente uma ameaça ou constrangimento para elas.

9. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS

Segundo AURY reconhecimento é o ato pelo qual alguém é levado a analisar


uma pessoa ou coisa e ao lembrar o que percebeu em determinado contexto,
compara as duas experiências. Quando a memória empírica coincide com esta nova
experiência feita numa audiência ou investigação policial, ocorre o reconhecimento.

(LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal e sua Conformidade


Constitucional. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 8ª ed. 2011)
O reconhecimento está assegurado no art. 226 CPP e pode ser realizada a
qualquer momento, tanto na fase pré-julgamento como na fase processual,
respeitando o disposto nesta disposição.
Feito de acordo com o disposto no artigo 226, o juiz poderá solicitar o
reconhecimento solicitando à autoridade policial que coloque o acusado junto há
outras pessoas fisicamente semelhantes, tendo em conta o aspecto do número de
pessoas, recomendando doutrinariamente o número de cinco ou mais pessoas, bem
como pessoas físicas. aparência e vestimenta, que devem ser tão semelhantes
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quanto possível e não contrastantes, para não confundir o ofendido no


reconhecimento.
O reconhecimento de fotografia nunca poderá ter o mesmo valor que a prova de
reconhecimento pessoal porque é difícil associar uma fotografia a uma pessoa real.
Isto só deve ser utilizado em casos muito excepcionais, onde só pode ser utilizado
para corroborar outras provas já apresentadas. Porém, o uso do reconhecimento de
foto é proibido nas decisões do STF (RT nº 739/546).
A identificação por vídeo tem maior poder probatório do que as fotografias
devido à capacidade de estudar e analisar a imagem de diferentes ângulos e
posições, o que dá maior garantia de identificação do acusado.
Para outros autores como NUCCI o reconhecimento de coisas seguem as regras
estabelecidas pelo artigo 226, conforme aplicável (Art. 227, CPP) Estão sujeitos ao
reconhecimento segundo para o autor ESPÍNOLA FILHO: a) coisas que, de
diferentes formas, se refiram a crime; b) coisas que foram afetadas pelas ações do
criminoso; c) coisas com as quais o crime foi cometido, por exemplo, ferramentas do
crime; d) coisas que tenham sido acidentalmente alteradas, modificadas ou movidas
direta ou indiretamente por ato criminoso; e) coisas que constituíram o cenário de
criação de fato criminoso (Código Penal Brasileiro Anotado, v. 3, p. 146). PCP).
Segundo ESPíNOLA FILHO, são objetos reconhecíveis: a) coisas que estão
relacionadas com o crime de diversas formas; b) coisas que foram afetadas pelas
ações do criminoso; c) coisas com as quais o crime foi cometido, por exemplo,
ferramentas do crime; d) coisas que tenham sido acidentalmente alteradas,
modificadas ou movidas direta ou indiretamente por ato criminoso; e) coisas que
constituíram o cenário de criação de fato criminoso entre outras. (NUCCI,
Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado, 2023 Apud
Espindola Filho, Código Penal Brasileiro Anotado, v. 3, p. 146).

10. CONFISSÕES E CONFRONTO

A confissão em processo penal significa a confissão contra si mesmo,


qualquer pessoa suspeita ou acusada de um crime, com pleno discernimento,
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voluntária, explícita e pessoalmente, perante autoridade competente em ato solene


e público por tempo indeterminado, da prática de algum crime.
Somente o ato voluntário (praticado livremente pelo agente, sem qualquer
coação), expresso (manifesto, sem sombra de dúvida nos autos) e pessoal (no
processo penal, não há confissão do agente ou preposto, o que prejudicaria a
segurança do princípio da presunção de inocência).
O discernimento também é considerado um requisito básico para sua
caracterização, que é a capacidade de julgar as coisas com clareza e equilíbrio,
uma vez que um louco não pode admitir validamente sua culpa. Exigir que seja
apresentado à autoridade competente significa retirar do local do confessionário
declarações especiais feitas a policiais fora da delegacia, como durante o
deslocamento do local do crime até a delegacia. Esta situação deve ser considerada
um testemunho e não uma confissão. O ato deve ser solene, público e limitado no
tempo justamente porque o momento ideal para isso é o interrogatório, que ocorre
respeitando as formalidades legais.
Por último, a confissão pressupõe a admissão de um crime e não de
quaisquer fatos que irão prejudiciais o acusado. O não cumprimento de qualquer um
desses requisitos pode resultar na admissão e avaliação inadequadas de ações que
sejam inconsistentes com o devido processo legal. Opomo-nos, portanto, à
admissão como prova de confissões obtidas por métodos ilegais, como a tortura,
uma vez que o local e o método utilizado para obtê-las são cruciais para avaliar o
seu valor probatório.
A confissão de culpa, por ser um ato contrário à natureza do ser humano,
deve ser avaliada com equilíbrio e consideração. Ela não pode mais ser
considerada a rainha das provas como no passado, porque é inconsistente e impura
em muitos casos. O Estado não deveria contentar-se em enviar para a prisão
pessoas inocentes que estiveram envolvidas numa série de erros e
constrangimentos e que finalmente confessaram ter feito algo que não fizeram.
O objetivo básico do juiz é comparar a confissão com as demais provas do
caso e nunca admitir que só ela poderia condenar o réu. É por isso que o artigo
197.º do Código Penal menciona claramente a comparação da confissão com outras
provas, a verificação da sua compatibilidade e a conformidade com o quadro
probatório. Sem ele, a confissão de culpa no caso deveria ser desconsiderada.
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10.1 A DELAÇÃO PREMIADA E SUAS FONTES LEGAIS

No Código Penal, encontramos discussão sobre culpa e punição no art. 159,


§ 4º (“Se o crime for cometido em regime de concorrência, o infrator que denunciar
às autoridades e facilitar a libertação do sequestrado terá sua pena reduzida de um
a dois terços”).
A Lei 12.850/2013 (Organização Criminosa): Art. 4º. (“O juiz poderá, a pedido
das partes, conceder indulto judicial, reduzir a pena de prisão em até 2/3 (dois
terços) ou substituí-la por restrição da direitos daqueles que cooperaram efetiva e
voluntariamente com investigações e processos penais, se essa cooperação levar a
um ou mais dos seguintes resultados: I – identificação dos demais coautores e
participantes da organização criminosa e dos crimes por eles cometidos II –
divulgação da estrutura hierárquica e divisão de tarefas da organização criminosa III
– prevenção de crimes resultantes de atividades de organização criminosa IV –
recuperação total ou parcial dos produtos ou benefícios de crimes cometidos pela
organização criminosa; – colocação de qualquer vítima preservando sua integridade
física." É importante enfatizar a importância da delação premiada, especialmente a
chamada culpa e punição, no contexto das provas existentes no processo penal.

11. DAS PROVAS ILICITAS

A Lei 11.690/2008, que altera o teor do artigo 157 do Código de Processo


Penal, estabeleceu diretrizes importantes para o sistema de avaliação de provas
ilícitas. As provas obtidas em violação do direito penal (por exemplo, uma confissão
obtida sob tortura) ou obtidas em violação das regras do processo penal (por
exemplo, um parecer elaborado por um perito não oficial) constituem provas ilegais
e devem ser removidas do processo.
A Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996. Art. 10. Diz que se constitui crime ao
realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou
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quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não


autorizados em lei.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANTO, G. B. Resumo das Provas no Direito Processual Penal para PF e PRF.


Disponível em: <https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/provas-direito-
processual-penal-pf-prf/>. Acesso em: 21 out. 2023.

GUSTAVO, H. Provas em Espécie. Disponível em:


<https://www.jusbrasil.com.br/artigos/as-provas-em-especie-na-esfera-penal/
517963163>. Acesso em: 21 out. 2023.

NUCCI, GUILHERME. Manual de Processo Penal. Disponível em:


<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786559643691/epubcfi/
6/72[%3Bvnd.vst.idref%3Dbm02]!/4/92/3:76[s:%20%2CBoo]>. Acesso em: 21 out. 2023.

Del3689. Disponível em:


<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 21 out.
2023.

Disponível em: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-


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