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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS

PROFESSORA RENATA MACEDO DE SOUZA

ARTIGOS 155 A 250 - DA PROVA

Provar, em apertada síntese, é levar ao conhecimento do juiz os


elementos necessários ao julgamento da causa. Representa o
conjunto de atos praticados pelas partes.

OBJETO DE PROVA

Constitui objeto de prova o fato descrito na denúncia ou queixa-


crime, ou, ainda, aquele alegado pelo réu em sua defesa, e outras
circunstâncias secundárias, desde que reclamem uma apreciação
judicial e influam na verdade real.

O objetivo da atividade probatória é convencer seu destinatário: o


juiz, na medida em que não presenciou o fato que é submetido à sua
apreciação.

MEIOS DE PROVA E SUA ADMISSIBILIDADE

Meio de prova é tudo o que possa ser utilizado para a


demonstração da ocorrência dos fatos alegados e perseguidos
no processo. São os instrumentos necessários para comprovar a
existência ou não da verdade de um fato, contudo alguns meios de
prova não são admitidos:

♣ Prova emprestada: considera-se prova emprestada (ou


trasladada) aquela que é produzida num processo, sendo depois
transportada documentalmente para outro, visando a gerar
efeitos neste. A jurisprudência pátria é uníssona em
proclamar que a validade da prova emprestada está
condicionada à observância ao princípio do contraditório.

♣ Provas ilícitas – obtidas com violação de norma de direito


material: pode decorrer das mais variadas ações, por exemplo:
busca domiciliar sem mandado interceptação telefônica sem
autorização judicial, colheita de depoimento testemunhal sem a
presença do defensor, confissão extraída mediante coação, etc.

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Sobre a admissibilidade de prova derivada da ilícita, temos a


teoria dos frutos da árvore envenenada, acolhida pela doutrina e
pela Jurisprudência do STF. Segundo essa teoria, todas as provas
lícitas cuja produção resultou de uma prova ilícita ficarão
contaminadas, tornando-se, portanto, nulas. Como exemplo mais
comum temos a situação de uma apreensão de substâncias
entorpecentes numa residência decorrente de informações obtidas
por meio de interceptação telefônica sem a observância do
procedimento previsto na Lei 9.296/96 – a apreensão da droga seria
uma prova ilícita por derivação.

A questão da prova ilícita por derivação, até então tratada pela


doutrina e jurisprudência, ganha expressa regulamentação pela
Lei 11.690/2008, que inseriu ao art. 157, parág. 1º são também
inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras.

Quanto à aceitação da prova ilicitamente produzida, há duas


teorias:

1. Prova ilícita por derivação: (frutos da árvore envenenada ou


efeito à distância, que advém do preceito bíblico de que a “árvore
envenenada não pode dar bons frutos”). Assim, quando uma prova
for produzida por mecanismos ilícitos, tal como a escuta
ilegalmente realizada, não se pode aceitar as provas que daí
advenham. Exemplo: graças à escuta ilegal efetivada, a polícia
consegue obter dados para a localização da coisa furtada. A partir
disso, obtém um mandado judicial, invade o lugar e apreende o
material. Note-se que a apreensão está eivada de veneno gerada
pela prova primária, isto é, a escuta indevidamente operada. Se for
aceita como lícita a segunda prova, somente porque houve
expedição de mandado de busca por juiz de direito, em última
análise, estar-se-ia compactuando com o ilícito, pois se termina por
validar a conduta ilegal da autoridade policial.

2. Teoria da proporcionalidade: (teoria da razoabilidade ou teoria


do interesse predominante), cuja finalidade é equilibrar os direitos
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individuais e os interesses da sociedade, não se admitindo, pois, a


rejeição contumaz das provas obtidas por meios ilícitos.

Sustentam os defensores dessa posição que é preciso ponderar


os interesses em jogo, quando se viola uma garantia qualquer.
Assim, para a descoberta de um sequestro, libertando-se a vítima
do cativeiro, prendendo-se o processando-se criminosos
perigosos, seria admissível a violação do sigilo das comunicações,
como a escuta clandestina.

Dessa forma, se uma prova for obtida por mecanismo ilícito,


destinando-se a absolver o acusado, é de ser admitida, tendo em
vista que o erro judiciário precisa ser a todo custo evitado,
conforme preceitua a CF, art. 5°, LXXV.1

As provas obtidas por meios ilícitos (com violação às normas de


direito material) são inadmissíveis no processo, constituindo-se
uma garantia constitucional, definida no art. 5°, inciso LVI.

ARTIGO 156 – ÔNUS DA PROVA

A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,


facultado ao juiz de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção


antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da
medida;

II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir


sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto
relevante.

No tocante ao inciso I é nítida a inserção, de traços de


inquisitoriedade, vale dizer, o futuro órgão julgador, antes mesmo de
iniciada a ação penal, poderá determinar a realização de provas
urgentes e relevantes, ferindo o princípio da imparcialidade do juiz,
essencial ao desenvolvimento de um processo justo e legal.

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Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes sustentam que,
quando o próprio réu colhe a prova ilícita para sua absolvição está, na realidade, agindo em legítima defesa,
mas não deixam de destacar que essa aceitação é fruto da proporcionalidade.
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O juiz, por seu turno, não é mero expectador das provas produzidas
pelas partes, devendo, na busca da verdade real, determinar
diligências de ofício com o fito de dirimir dúvidas sobre pontos que
entenda relevantes. Não pode, porém, obrigar qualquer das partes a
demonstrar algo2

SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DE PROVAS

Sistema da íntima convicção ou da certeza moral do juiz: a lei


não diz sobre o valor de cada prova, fundando-se a decisão somente
na certeza moral do julgador, que decide sobre seu valor e
admissibilidade, por exemplo, no caso dos julgamentos efetuados
pelo Tribunal do Júri, pois, no caso, não há fundamentação sobre a
decisão

Sistema da verdade legal ou formal ou da certeza moral do


legislador: quando a lei impõe ao juiz o respeito a certos preceitos,
atribuindo o valor de cada prova, retirando-lhe a liberdade de
apreciação valorativa.

Sistema da livre convicção ou da verdade real ou do livre


convencimento: quando o juiz forma a sua convicção pela livre
apreciação. É o sistema adotado pelo nosso CPP – art. 155, caput
– O juiz não pode fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares não repetíveis – princípio da persuasão racional

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A Exposição de Motivos do CPP não deixa qualquer dúvida, dispondo que para a indagação da verdade
não estará sujeito a preclusões. Enquanto não estiver averiguada a matéria da acusação ou da defesa, e
houver uma fonte de prova ainda não explorada, o juiz não deverá pronunciar o in dubio pro reo ou o
non liquet.
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DAS PROVAS EM ESPÉCIE

O CPP relaciona alguns meios de prova, a saber:

1. As perícias em geral - artigos 158 a 184


2. O interrogatório e a confissão do acusado - artigos 185 a 200
3. A palavra do ofendido - artigo 201
4. Os depoimentos das testemunhas - artigos 202 a 225
5. O reconhecimento de pessoas e coisas - artigos 226 a 228
6. A acareação - artigos 229 e 230
7. Os documentos - artigos 231 a 238
8. Os indícios - artigo 239
9. Busca e apreensão - artigos 240 e 250

ARTIGOS 158 A 184 – DO EXAME DO CORPO DE DELITO, DA


CADEIA DE CUSTÓDIA E DAS PERÍCIAS EM GERAL

Perícia é o exame realizado, com a finalidade de instruir o julgador,


por pessoa com conhecimentos específicos sobre matéria técnica
relacionada ao fato criminoso e suas circunstâncias.

A perícia é corporificada por meio de laudo, documento elaborado


pelo perito, que nele deve registrar tudo o que observaram e
concluíram.

CORPO DE DELITO E EXAME DE CORPO DE DELITO

Corpo de delito é o conjunto de elementos deixados pelo crime, isto


é, aquilo que torna o crime ou a contravenção palpável, sensível,
perceptível aos sentidos. Exemplo: o cadáver é corpo de delito do
crime de homicídio

Exame de corpo de delito, por outro lado, é a espécie de perícia


destinada a reunir vestígios materiais deixados pelo fato criminoso,
ou seja, é a perícia realizada no corpo de delito. Exemplo: a
necropsia é exame de corpo de delito do crime de homicídio.

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PRIORIDADE PARA REALIZAÇÃO DO EXAME PERICIAL

A Lei nº 13.721/2018 acrescentou o parágrafo único ao art. 158 do


CPP afirmando que deverá ser dada prioridade à realização do
exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva:

• violência doméstica e familiar contra mulher;


• violência contra criança ou adolescente
• violência contra idoso ou
• violência contra pessoa com deficiência.

MODALIDADES DE EXAME DE CORPO DE DELITO

 Direto: é o que se realiza por meio da análise, pelos peritos, do


próprio corpo de delito, sem qualquer intermediação.

 Indireto: é o realizado sobre dados ou vestígios deixados, como


por exemplo: vestimentas, atendimento hospitalar, pelo, unhas,
etc

OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO

De acordo com o disposto no art. 158 do CPP a exigência do exame


de corpo de delito para comprovação da materialidade, abrange:

 Infrações que deixam vestígios – delicta facti permanentis: em


relação às quais o exame de corpo de delito é indispensável.
Exemplo: homicídio, falsidade documental, lesão corporal, etc.

 Infrações que não deixam vestígios – delicta facti transeuntis:


para demonstração de sua existência material não é
imprescindível o exame de corpo de delito. Exemplo: injúria
verbal, furto simples, etc.

O exame revela-se imprescindível apenas para o julgamento da ação


referente às infrações que deixam vestígios.

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SUPRIMENTO DO EXAME PELA PROVA TESTEMUNHAL

O art. 167 admite que o exame de corpo de delito seja suprido pela
prova testemunhal, quando, por alguma razão, desaparecerem os
vestígios da infração.

Nessa situação, diferentemente do que ocorre quando da elaboração


do exame de corpo de delito indireto, a narrativa da testemunha em
relação à existência do delito é dirigida diretamente ao juiz, que
concluirá sobre a suficiência do relato para a formação do corpo de
delito. É o que ocorre, por exemplo, quando a vítima de lesão corporal
não se apresenta para o exame direto e, por não procurar
atendimento em estabelecimento de saúde, torna inviável a
realização do exame indireto, exigindo que o juiz decida sobre a
existência da infração por meio da análise do depoimento de
testemunha que viu o ferimento.

DO PERITO

A perícia deve ser realizada em regra por perito oficial, portador de


diploma de curso superior (art. 159, caput, do CPP). A atuação de
um perito oficial é suficiente para que a perícia seja válida.

Somente em caso da inexistência de perito oficial é que o exame


poderá ser realizado por peritos não oficiais. Nesse caso a nomeação
será feita sem intervenção das partes (art. 276 do CPP) e deve recair
sobre duas pessoas idôneas e com formação superior
preferencialmente na área específica (art. 159, parág. 1º, do CPP).

Acaso haja necessidade de realização de exame pericial por carta


precatória, a regra é a nomeação do perito pelo juízo deprecado (art.
177 do CPP). Em se cuidando de perícia complexa que abranja mais
de uma área de saber especializado, é possível designar a atuação
de mais de um perito oficial (art. 159, parág. 7º, do CPP)

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FORMULAÇÃO DE QUESITOS E INDICAÇÃO DE ASSISTENTE


TÉCNICO

Faculta-se ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao


ofendido, ao querelante e ao acusado influírem na formação da prova
pericial por meio da formulação e quesitos e da indicação de
assistente técnico (art. 159, parág. 3º)

Quesitos são indagações de ordem técnica dirigidas ao perito com o


intuito de provocar sua manifestação sobre determinado aspecto
relevante do exame. Além das partes, pode o juiz ou a autoridade
policial (se a perícia for determinada na fase do inquérito) formular
quesitos.

VINCULAÇÃO DO JUIZ AO LAUDO

➢ O vinculatório: o juiz não pode deixar de aceitar o seu conteúdo,


estando, portanto, vinculado à sua conclusão;

➢ O liberatório: o magistrado não está adstrito à conclusão do


laudo, podendo rejeitá-lo no todo ou em parte desde que haja
fundamentação. O artigo 182 do CPP adotou o sistema
liberatório, até mesmo em razão de o sistema de apreciação das
provas adotado pelo nosso ordenamento jurídico ser o do livre
convencimento motivado.

DA CADEIA DE CUSTÓDIA – LEI 13.964/19

A cadeia de custódia foi definida na Lei como “o conjunto de todos


os procedimentos utilizados para manter e documentar a
história cronológica do vestígio coletado em locais ou em
vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir
de seu reconhecimento até́ o descarte” (art. 158-A, caput, do
CPP).

O seu início, em regra, segundo a lei, decorrerá da preservação do


local de crime. Poderá, no entanto, estabelecer-se a partir de outros
procedimentos policiais ou periciais de detecção da existência de
vestígio (art. 158-A, § 1º, do CPP). Em ambas as hipóteses, no
entanto, o agente público que reconhecer um elemento como sendo
de interesse potencial à produção da prova pericial ficará
responsável por sua preservação (art. 158-A, § 2º, do CPP).

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Todos os Institutos de Criminalística precisarão ter centrais de


custódia destinadas à guarda e controle dos vestígios de crimes. Os
materiais coletados deverão permanecer nessas centrais até que a
Justiça autorize o seu descarte.

O respeito à cadeia de custódia não é atividade exclusiva da perícia;


muito pelo contrário, incumbe a todas as agências do sistema de
justiça criminal. Abrange todos os “atores responsáveis pela sua
preservação, integridade, idoneidade e valoração”, o que se inicia na
fase de investigação preliminar, porém se estende até o processo
criminal, na medida em que alcança “todo o caminho percorrido pela
prova.

Alberis Espindola leciona sobre a cadeia de custódia de prova que:

Claro está que a finalidade da cadeia de custódia é para assegurar a


idoneidade dos objetos e bens escolhidos pela perícia ou apreendidos pela
autoridade policial, a fim de evitar qualquer tipo de dúvida quanto à sua
origem e caminho percorrido durante a investigação criminal e o respectivo
processo judicial. Importante esclarecer que a cadeia de custódia não
está restrita só ao âmbito da perícia criminal, mas envolve desde a
delegacia policial, quando apreende algum objeto e já deve observar com
rigor tais procedimentos da cadeia de custódia. Podemos voltar mais
ainda: qualquer policial seja ele civil ou militar, que for receptor de algum
objeto material que possa estar relacionado a alguma ocorrência, deve
também – já no seu recebimento ou achado – proceder com os cuidados
da cadeia de custódia. E essas preocupações vão além da polícia e da
perícia, estendendo-se aos momentos de trâmites desses objetos da fase
do processo criminal, tanto no ministério público quanto na própria justiça.
Os procedimentos da cadeia de custódia devem continuar até o processo
ter transitado em julgado.

O Código de Processo Penal passa a estabelecer as


seguintes fases da cadeia de custódia enquanto procedimento
de rastreio de vestígios (art. 158-B):

I – reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de


potencial interesse para a produção da prova pericial;

II – isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas,


devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e
relacionado aos vestígios e local de crime;

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III – fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se


encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na
área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou
croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial
produzido pelo perito responsável pelo atendimento;

IV – coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à


análise pericial, respeitando suas características e natureza;

V – acondicionamento: procedimento por meio do qual cada


vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo
com suas características físicas, químicas e biológicas, para
posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem
realizou a coleta e o acondicionamento;

VI – transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o


outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos,
temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas
características originais, bem como o controle de sua posse;

VII – recebimento: ato formal de transferência da posse do


vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações
referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária
relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio,
código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio,
protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;

VIII – processamento: exame pericial em si, manipulação do


vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas
características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o
resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido
por perito;

IX – armazenamento: procedimento referente à guarda, em


condições adequadas, do material a ser processado, guardado para
realização de contraperícia, descartado ou transportado, com
vinculação ao número do laudo correspondente;

X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio,


respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante
autorização judicial”.

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A Lei ainda estabelece que a coleta de vestígios deverá ser realizada


preferencialmente por perito oficial, bem como o seu necessário
encaminhamento à central de custódia, mesmo quando necessário
algum exame complementar (art. 158-C, caput, do CPP).

Frise-se que todos os vestígios coletados, tanto em sede de inquérito


policial quanto de processo penal, deverão obrigatoriamente ser
remetidos à central de custódia (art. 158-C, § 1º, do CPP), existente
necessariamente em cada instituto de criminalística e com gestão
vinculada diretamente ao órgão de perícia oficial de natureza criminal
(art. 158-E do CPP).

ARTIGOS 185 A 200 DO CPP - DO INTERROGATÓRIO E DA


CONFISSÃO

INDIVIDUALIZAÇÃO DO RÉU E PERGUNTAS SOBRE O FATO


CRIMINOSO:

Segundo o art. 186, caput, o interrogatório deverá ser constituído de


duas partes: sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos.

1. SOBRE A PESSOA DO ACUSADO: são as perguntas referentes


à individualização. São perguntas que o juiz deve fazer ao réu a
fim de qualificá-lo e/ou individualizá-lo. Tais perguntas estão
elencadas no parág. 1° do art. 187 do CPP. O réu está obrigado
a responder essas perguntas, sob pena de responder pela
contravenção penal de que trata o art. 68 da LCP. Além disso, tais
perguntas devem ser respondidas corretamente pelo acusado,
pois do contrário poderá configurar o crime tipificado no art. 307
(falsa identidade), do CP. Hoje há prisão cautelar para o
acusado que se recusa a fornecer a sua qualificação ou até
mesmo presta informações mentirosas.

2. SOBRE O FATO CRIMINOSO: o réu será perguntado sobre o fato


criminoso. As perguntas sobre o fato criminoso, hoje, estão
elencadas no parág. 2° do art. 187. Cabe lembrar, que a tais
perguntas o réu não estará obrigado a responder por força do que
dispõe o art. 5°, LXIII, da CF c/c o novo parág. único, do art. 186
do CPP.

Finalmente, não se deve olvidar que os itens previstos no parág.


2°, do art. 187, do CPP, são meramente orientadores, e o juiz não
está obrigado a seguir exatamente a ordem ali disposta.
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Do interrogatório deverá constar a informação sobre a existência de


filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome
e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos,
indicado pela pessoa presa - (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016
– parág. 10º)

DO DIREITO AO SILÊNCIO NO INTERROGATÓRIO:

Com o advento da Lei n° 10.792/2003 a redação do art. 186, caput,


do CPP foi alterada e foi acrescentado ainda um parágrafo único ao
referido dispositivo. Agora o silêncio do réu não importará em
confissão, assim como não poderá ser interpretado em prejuízo da
defesa. Proibi-se, assim, que do silêncio decorra qualquer
consequência desfavorável ao acusado. Essa norma está em perfeita
consonância com os princípios constitucionais da presunção de
inocência, do contraditório e da ampla defesa.

Cumpre ainda observar que o réu também não está obrigado a falar
a verdade. Em tese, a mentira do réu no interrogatório só será
considerada crime se fizer auto acusação falsa (art. 341, CP) ou se
mentir sobre a sua própria identidade (art. 307, CP).

DA CONSIGNAÇÃO DAS RAZÕES DO SILÊNCIO DO RÉU NO


TERMO DE AUDIÊNCIA:

A Constituição Federal (art. 5°, LXII) garante ao acusado o direito de


permanecer calado no interrogatório, e esse mesmo direito agora
também está expresso no art. 186, parág. único do CPP. Como o
acusado tem direito a permanecer calado, obviamente não havia
mais sentido exigir do réu as razões do seu silêncio para o fim de
consigná-las no termo de audiência, como originariamente previa o
art. 191 do CPP.

Diante da nova redação, já há entendimento de que o juiz poderá


consignar no termo de audiência as perguntas formuladas ao réu. Se
este deixar de responder a tais perguntas, caberá ao magistrado
apenas registrar que o réu exerceu o seu direito de permanecer em
silêncio. Entretanto, se o réu quiser invocar uma razão compreensível
para o seu silêncio, nada impede também que o juiz consigne tal
questão no termo de audiência. O que não pode é o juiz exigir que o
réu justifique o seu silêncio.

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DA PARTICIPAÇÃO OBRIGATÓRIA DO DEFENSOR NO


INTERROGATÓRIO DO RÉU E DIREITO DE INTERVIR:

Com o advento da Lei 10.792/2003 a presença do defensor no


interrogatório do réu passou a ser obrigatória, podendo inclusive ter
direito a formular reperguntas no referido ato. Vê-se, claramente, que
a intenção do legislador foi privilegiar o contraditório e a ampla defesa
no interrogatório, exigindo-se a presença do defensor do réu. Assim,
a alteração, permite às partes que, ao final do interrogatório, possam
colaborar com o juiz, lembrando-o de que alguma indagação
importante deixou de ser feita, dentre tantas previstas no art. 187. Ou
mesmo alguma outra questão, ali não relacionada, mas fundamental
para o esclarecimento. Entretanto, não dispõem elas de direito
absoluto à obtenção de respostas a tais questões, cabendo ao
magistrado, dentro do seu poder discricionário, deliberar se são
pertinentes e relevantes - logo, deve coibir as perguntas tendentes a
constranger o réu ou provocá-lo a confessar, bem como as que forem
inadequadas ao caso, como as gratuitamente invasoras de sua
intimidade.

Diante do exposto, cabe ressaltar que a colaboração das partes não


tem o condão de reperguntas como se faz com qualquer testemunha.

REPETIÇÃO DE INTERROGATÓRIO:

Extrai-se do art. 196, do CPP, com redação dada pela Lei 10.792/03,
que a todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de
ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes. Em
verdade, nesse particular, o art. 196, originariamente já previa regra
semelhante, sendo que a referida lei ordinária apenas acrescentou
que as partes poderão requerer ao juiz a realização de novo
interrogatório.

Esse pedido das partes deve vir fundamentado, sendo que o juiz não
está obrigado a acatá-lo, pois pode entender, diante dos elementos
constantes dos autos, que tal providência é desnecessária.

Cabe observar, que o interrogatório pode ser realizado em qualquer


fase do processo, inclusive após a sentença, desde que antes do
trânsito em julgado desta. Caso esteja em fase recursal, o julgamento
deste deverá ser convertido em diligência.

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DA NEGATIVA DA IMPUTAÇÃO PELO RÉU:

Com a nova redação dada pela Lei n° 10.792/03, quando o


interrogando negar a acusação, no todo ou em parte, poderá prestar
esclarecimentos e indicar provas. Caso o réu confesse a autoria, será
perguntado sobre os motivos e circunstâncias do fato e se outras
pessoas concorreram para a infração, e quem são elas, art. 190 do
CPP.

DO INTERROGATÓRIO DE CORRÉU:

Prevê o vigente art. 191, do CPP, com redação dada pela Lei
10.792/03, que em havendo mais de um acusado, cada um deles
deverá ser interrogado separadamente, sem que um ouça as
declarações do outro. Nesse particular, não houve qualquer inovação
já que esta mesma regra já era prevista no CPP, no art. 189.

DO INTERROGATÓRIO DOS DEFICIENTES VISUAL E AUDITIVO


E DAS PESSOAS QUE NÃO FALAM A LÍNGUA NACIONAL:

Ao surdo serão as perguntas apresentadas por escrito, que ele


responderá oralmente; ao mudo as perguntas serão feitas oralmente,
respondendo-as por escrito; ao surdo-mudo as perguntas serão
formuladas por escrito e do mesmo modo dará as respostas.

Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como


intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo.
Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório
será feito por meio de intérprete, art. 193. Se o interrogado não
souber escrever, não puder ou não quiser assinar, tal fato será
consignado no termo, art. 195.

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INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA (ON-LINE) – LEI


11.900/2009:

Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a


requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso
por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real, parág. 2º o art. 185.
Importante ressaltar que o uso de recursos tecnológicos para a
realização do meio de prova (e de defesa) em questão não poderá
surpreender as partes, vale dizer, realizar-se sem sua ciência. É o
que consta no parág. 3º do art. 185 – da decisão que determinar a
realização de interrogatório por videoconferência, as partes serão
intimadas com 10 (dez) dias de antecedência.

De acordo com o parág. 4º do art. 185, antes do interrogatório por


videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema
tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de
instrução e julgamento de que tratam os arts. 400, 411 e 531 do CPP.
Com tal medida o legislador, adaptando a nova sistemática na
realização de audiências (unas), determina que, em caso de
interrogatório por videoconferência, que deverá ocorrer como ato de
encerramento da audiência de instrução, o acusado acompanhe a
colheita de toda a prova oral também pelo mesmo sistema.

Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o


direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se
realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso a
canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor
que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência
do Fórum, e entre este e o preso. Parág. 5º do art. 185 – da leitura
do dispositivo, vê-se a necessidade de o acusado contar com dois
advogados em caso de interrogatório por videoconferência: um que
o esteja acompanhando no local em que se encontrar e outro na sala
de audiência no juízo em que tramitar o processo-crime. Neste caso,
deve-se garantir que os advogados falem entre si, a fim de que se
possam realizar todas as perguntas necessárias que assegurem o
exercício da ampla defesa do réu, bem como a este seja garantido o
acesso ao advogado que se encontre na sala de audiência no fórum,
também por algum meio de comunicação.

De acordo com o parág. 6º, a sala reservada no estabelecimento


prisional para a realização de atos processuais por sistema de

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videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de


cada causa, como também pelo Ministério Público e pela OAB.

DA CONFISSÃO

Confissão é a admissão por parte do acusado da veracidade da


imputação que lhe é dirigida. Diz-se que a confissão deve ser
pessoal, porque só é válida feita pelo próprio acusado. Ocorre, em
regra, no ato do interrogatório e quando assim ocorrer, o juiz deverá
indagá-lo sobre os motivos e circunstâncias do fato e se outras
pessoas concorreram para a infração (art. 190)

VALOR PROBATÓRIO DA CONFISSÃO

O valor da confissão é, obviamente, relativo, uma vez que a opção


pelo sistema do livre convencimento do magistrado não deixa
margem para que se atribua caráter absoluto a qualquer meio de
prova. Não se pode considerar a confissão como rainha das provas,
sem que haja outros elementos para formar a convicção do juiz.

Se o acusado não confessar livremente, ou se o fizer a quem não


tenha competência para recebê-la (por exemplo: ao policial
responsável por sua condução), a admissão de culpa não será
confissão no sentido jurídico do termo.

CARACTERISTICAS DA CONFISSÃO – ART. 200 CPP

Divisível: decorre da possibilidade de o juiz tomar como sincera


apenas uma parte da confissão. Exemplo: o réu confessa a
subtração mas nega o emprego de violência

Retratável: consiste na faculdade de o acusado desdizer-se, ou


seja, de apresentar nova versão negando a imputação, depois
de haver confessado. A retratação, todavia, não vincula o
magistrado, que, fundado no exame das provas em conjunto,
poderá decidir pela veracidade da confissão que,
posteriormente, foi objeto de retração.

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DELAÇÃO PREMIADA

É a designação que se dá ao instituo que permite a redução ou


mesmo a isenção de pena do agente que colabora, eficazmente, em
uma das hipóteses legais, para a identificação dos demais autores
ou partícipes da infração, para a localização ou libertação da vítima.

As hipóteses de delação premiada estão previstas no Código Penal


(art. 159, parág. 4º) e nas seguintes leis extravagantes: Lei n.
7.492/86 (crimes contra a sistema financeiro), Lei n. 8.072/90 (crimes
hediondos), Lei n. 8.137/90 (crimes contra a ordem tributária e as
relações de consumo), Lei n. 12.850/13 (crimes praticados por
organização criminosa), Lei 9.613/98 (lavagem de capitais), Lei n.
9.807/99 (proteção a vítimas e testemunhas) e Lei n. 11.343/06 (Lei
Antitóxicos).

ARTIGO 201 DO CPP - DO OFENDIDO

Ofendido é o titular do interesse jurídico lesado pela conduta


criminosa, ou seja, é a vítima, o sujeito passivo do delito.

A figura do ofendido não se confunde com a testemunha. Por não ser


testemunha, o ofendido não será computado no número permitido de
testemunhas.

O fato de a vítima não ter sido em juízo, por si só, não configura
nulidade, se existirem outros elementos válidos para corroborar seu
depoimento colhido na fase extrajudicial, de forma suficiente para
sustentar a condenação.

Sempre que possível, o ofendido deve ser ouvido, ainda que não
tenha sido arrolado pelas partes. Só em hipóteses de absoluta
impossibilidade pode-se prescindir da oitiva do ofendido, como no
caso de falecimento, incapacidade absoluta, desaparecimento, etc.
Se devidamente intimado, deixar o ofendido de comparecer sem
motivo justo, poderá ser determinada a condução coercitiva (art. 201,
parág. 1º, do CPP).

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DAS PERGUNTAS AO OFENDIDO:

Sempre que possível, o juiz fará ao ofendido perguntas sobre as


circunstâncias da infração penal, sobre quem seja ou presuma ser o
autor da referida infração e sobre as provas que possa indicar.

A vítima não presta o compromisso de dizer a verdade, portanto, não


pratica o crime de falso testemunho, devendo ser suas declarações
apreciadas com a devida reserva, já que a narrativa poderá trazer
certa carga de tendenciosidade, muitas vezes provocada por
interesses extrapenais, tal como a pretensão de ver-se indenizada
civilmente pela conduta ofensiva do acusado.

A restrição do valor probatório que se faz às declarações da vítima,


em regra, é observada quando são elas o único elemento de
convicção do Juiz e estão em confronto com a versão do acusado.
No entanto, há oportunidade em que a palavra do ofendido alcança
extremo valor probante, principalmente nos delitos praticados na
clandestinidade, quando estão ausentes testemunhas presenciais.
Tal situação é comum nos crimes contra os costumes.

Finalmente, com a edição da Lei 11.900/2009, que alterou o capítulo


do interrogatório no processo penal, doravante torna-se possível,
caso a vítima de um crime se encontre presa, que, caso arrolada no
processo penal para ser ouvida, o seja por videoconferência. Parágs,
2º. a 5º. do art. 185.

Em virtude das alterações introduzidas pela Lei n. 11.690/2008, as


partes devem endereçar diretamente as perguntas ao ofendido e não
mais por intermédio do juiz, o qual, no entanto, poderá, após as
indagações das partes, complementar a inquirição (art. 212, caput e
parág. único, do CPP).

DIREITOS GARANTIDOS AO OFENDIDO:

O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao


ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para
audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou
modifiquem (parág. 2º); as comunicações ao ofendido deverão ser
feitas no endereço por ele indicado, admitindo-se, por opção do
ofendido, o uso de meio eletrônico (parág. 3º); antes do início da

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audiência e durante a sua realização, será reservado espaço


separado para o ofendido (parág. 4º); se o juiz entender necessário,
poderá encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar,
especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de
saúde, a expensa do ofensor ou do Estado (parág. 5º); o juiz tomará
as providências necessárias à preservação da intimidade, vida
privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar
o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras
informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua
exposição aos meios de comunicação (parág. 6º).

ARTIGOS 202 a 225 DO CPP - DAS TESTEMUNHAS

Testemunha é a pessoa física distinta dos sujeitos processuais


chamada a juízo para prestar informações sobre fatos relacionados
à infração, mediante assunção de compromisso de dizer a verdade.

O artigo 213 do CPP prevê que o juiz não permitirá que a testemunha
manifeste suas apreciações pessoais, salvo quando inseparável da
narrativa do fato. A testemunha presta compromisso de dizer a
verdade perante o juiz, sendo que o falso testemunho o sujeitará às
penas do art. 342 do CP. De acordo com o parág. 2º, o fato deixa de
ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o
ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

O Código de Processo Penal limita o número de testemunhas com o


intuito de impedir a procrastinação do processo. Dessa forma, prevê
a lei, de acordo com o processo, um número máximo de testemunhas
que podem ser arroladas pela acusação e pela defesa, qual seja:

1. No procedimento ordinário e na primeira fase do procedimento


do júri a acusação e a defesa podem arrolar cada uma, até oito
testemunhas por fato criminoso ou por réu.

2. No plenário do júri (2ª fase do procedimento) são admitidas


cinco testemunhas por fato criminoso ou por réu.

3. No procedimento sumário o número máximo também é de cinco


testemunhas por fato criminoso ou por réu.

4. No procedimento sumaríssimo são admitidas três testemunhas.

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Se o promotor, por esquecimento, deixa de oferecer testemunhas


com a denúncia, sua falha pode ser suprida pelo juiz, que pode ouvir
de ofício quantas testemunhas forem necessárias, mas as da
acusação devem ser ouvidas antes, observando-se a ordem
processual sob pena de cerceamento de defesa. No entanto, a
inversão da ouvida de testemunha por precatória não induz
nulidade, já que não há prejuízo, e não pode o juízo deprecante
ficar com o processo suspenso à mercê do juízo deprecado.

Não serão computados, para fins de estabelecimento desses limites,


o ofendido, as testemunhas que não prestam compromisso e as
referidas (art. 401, parág. 1º, do CPP) e, ainda, a pessoa que nada
souber que interesse à decisão da causa (art. 209, parág. 2º, do CPP)

CAPACIDADE PARA TESTEMUNHAR:

Em regra, toda pessoa pode servir de testemunha (art. 202 do CPP),


sem que se exija qualquer qualidade ou requisito para que possa ser
ouvida nessa condição.

A testemunha tem o dever jurídico de prestar depoimento, não


podendo eximir-se dessa obrigação (art. 206 do CPP). O dever de
depor, por sua vez, compõe-se de dois subdeveres: dever de
comparecimento e dever de prestar compromisso.

A falta de colheita, pelo juiz, do compromisso de testemunha que é


obrigada a prestá-lo constitui mera irregularidade e não vicia a
prova3.

3
É pacífico, ademais, o entendimento de que a testemunha que estava sujeita ao compromisso e que, por
omissão do juiz, não fez a promessa solene, incide no crime de falso testemunho.
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PESSOAS QUE PODEM ESCUSAR-SE DO DEVER DE


TESTEMUNHAR:

Não são obrigados a testemunhar os ascendentes,


descendentes, cônjuge, irmão, pai, mãe ou filho adotivo do
acusado, conforme previsão do artigo 206 do CPP. Não são
compromissadas.

O depoimento dessas pessoas é, portanto, facultativo e, acaso


optem por testemunhar, delas não será tomado o
compromisso (art. 208 do CPP), o que permite concluir que
serão ouvidas na qualidade de informantes (ou declarantes).

Veja-se, no entanto, que de acordo com o próprio art. 206 do


CPP, na impossibilidade de obter-se ou integrar-se, por outro
modo, a prova, essas pessoas não podem recusar-se a depor, o
que permite concluir que, em tal situação, seu depoimento é
obrigatório.

Além disso, os deputados e senadores não são obrigados a


depor sobre informações recebidas ou prestadas em razão do
exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram
ou deles receberam informações (art. 53, parág. 6º, da CF).

O artigo 207 do CPP prevê que as pessoas que, em razão da


função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar
segredo são proibidas de depor. O interessado na
manutenção do segredo, todavia, pode desobrigar aquele que
tem o dever do sigilo desse encargo, o que afasta a proibição de
depor e obriga a testemunha, inclusive, a prestar compromisso.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS
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AS TESTEMUNHAS SE CLASSIFICAM EM:

➢ Diretas (aquelas que viram fatos)

➢ Indiretas (aquelas que souberam dos fatos por intermédio de


outras pessoas)

➢ Próprias (as que depõem sobre fatos relativos ao objeto do


processo)

➢ Impróprias (as que depõem sobre fatos apenas ligados ao objeto


do processo)

➢ Numerárias (que prestam compromisso)

➢ Informantes/declarantes (que não prestam o compromisso de


dizer a verdade)

➢ Referidas (aquelas que são indicadas por outras testemunhas).

➢ Instrumentária ou fedatária (é a denominação dada à pessoa


que testemunha a leitura do auto de prisão em flagrante na
presença do acusado, assinando o referido auto em lugar do
indiciado, que não quer, não sabe ou não pode fazê-lo, art. 304,
§ 3.º, CPP). Dispensa-se a utilização da testemunha
instrumentária, quando o réu, em juízo, recusa-se ou não pode
assinar o seu interrogatório, consignando-se no termo tal
circunstância.

Testemunhas são pessoas que depõem sobre fatos, sejam eles


quais forem. Se viram ou ouviram dizer, não deixam de ser
testemunhas, dando declarações sobre a ocorrência de alguma
coisa. A pessoa que presencia um acidente automobilístico, por
exemplo, narra ao juiz os fatos, tais como se deram na sua visão.

Qualquer depoimento implica uma dose de interpretação


indissociável da avaliação de quem o faz, significando, pois, que,
apesar de ter visto, não significa que irá contar, exatamente, como
tudo ocorreu. Por outro lado, quando a testemunha depõe sobre o
que ouviu dizer de outra pessoa, continua a declarar um fato, isto é,
está narrando aquilo que lhe contou um terceiro, não deixando de ser

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS
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isso uma ocorrência. Entre uma situação e outra a mudança se dá no


contexto da avaliação da prova, ou seja, o instrumento para
demonstrar ao juiz a veracidade de algo.

A testemunha deve ser intimada pessoalmente e se a mesma não


comparecer à audiência sem qualquer motivo justo, o juiz requisitará
à autoridade policial a sua condução com auxílio de força pública, se
necessário (artigo 218 CPP), além de multa, processo por crime de
desobediência e custas da diligência.

Pode o juiz antecipar a oitiva de testemunha, de ofício ou a


requerimento da parte, nos casos de enfermidade ou de velhice,
quando perceba que ao tempo da instrução essa testemunha poderá
não mais existir (art. 225 CPP).

No caso de a testemunha ser militar, a pessoa não será intimada,


mas sim requisitada na pessoa do seu superior hierárquico. O
presidente da república, o vice-presidente, senadores, deputados
federais, ministros de Estado, governadores, secretários de Estado,
prefeitos, deputados estaduais, membros do Poder Judiciário,
ministros do TCU e ministros do TCE serão inquiridos em local, dia e
hora previamente ajustado (art. 221 CPP). No caso do presidente e
do vice-presidente da República, presidentes do Senado, Câmara
Federal e do STF, o depoimento poderá ser feito por escrito.

DEPOIMENTO DO MENOR INIMPUTÁVEL COMPARSA DO RÉU

É admissível, e nessa hipótese, deve ele ser arrolado, normalmente,


como testemunha, porque, na esfera penal não pode ser considerado
parte da relação processual estabelecida. Tem, pois, o dever de dizer
a verdade (o direito ao silêncio pelo que fez deve ser respeitada pela
Vara da Infância e da Juventude), assim, exige-se narração fiel do
que houve. Se mentir, caso esteja sob juramento (acima de 14 anos),
pode-se tomar providências para outro procedimento no foro
competente. Se menor de 14 anos, deve ser ouvido apenas como
informante.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS
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CORRÉU COMO TESTEMUNHA:

Não pode ser testemunha, pois não presta compromisso, nem tem o
dever de dizer a verdade. Entretanto, quando há delação (assume o
acusado a sua culpa e imputa parte dela também a outro corréu),
entendem alguns doutrinadores que pode haver reperguntas do
defensor do corréu delatado, unicamente para aclarar pontos
pertinentes à sua defesa.

FALSO TESTEMUNHO EM VIDEO CONFERÊNCIA

O foro competente é o do juízo deprecante. Não há dúvida ser o delito


formal, consumando-se ao final do depoimento, mas, no caso da
videoconferência, há particularidades a ressaltar: a) a assinatura da
testemunha se dará no termo da audiência do juízo deprecado; b) o
registro e a captação do depoimento, porém, ocorrerão diretamente
no juízo deprecante. Logo, a atividade realizada pela testemunha
firmou-se no próprio juízo deprecante, onde terá a possibilidade de
produzir dano à administração da justiça.

PROTEÇÃO À TESTEMUNHA:

Está em vigor a Lei 9.807/99, cuja finalidade é proteger a integridade


física das testemunhas e vítimas coagidas ou ameaçadas, no curso
do processo ou da investigação criminal, possibilitando-lhes
ingressar em programa especial de proteção e até mesmo, em último
caso, alterar a própria identidade, tudo extensível aos seus familiares
íntimos.

A proteção oferecida terá a duração de dois anos, podendo,


excepcionalmente ser prorrogada. Em relação aos réus, poderá o
juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que,
sendo primário, tenha colaborado voluntariamente com a
investigação e com o processo criminal, se (e desde que) de tal
colaboração se chegar à recuperação, total ou parcial do produto do
crime, à identificação dos demais autores e/ou partícipes e à
localização da vítima, com sua integridade física preservada.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS
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É prevista também, ainda em relação ao réu colaborador, a redução


da pena de um a dois terços, quando atingidas as finalidades
anteriormente mencionadas.

TESTEMUNHA QUE RESIDE FORA DA JURISDIÇÃO

Caso alguma testemunha resida fora da jurisdição, é a chamada


prova fora da terra, será ouvida por carta precatória, sendo que a
instrução criminal não se suspende (art. 222 do CPP). Dessa forma,
a testemunha não será compelida a se deslocar a uma comarca
distinta daquela em que reside, salvo se o quiser fazer
espontaneamente.

Acerca da inquirição de testemunhas por precatória foi inserida pela


Lei 11.900/2009. A partir de agora será possível que, na hipótese
prevista no caput do art. 222 do CP, a oitiva da testemunha seja
realizada por videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida a presença
do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização
da audiência de instrução e julgamento.

Quanto à intimação das partes, firmou-se a jurisprudência no sentido de


que basta a intimação das partes da expedição da carta precatória,
cabendo ao interessado diligenciar no juízo deprecado a data da realização
do ato, a fim de que, desejando, possa estar presente. Ressalte-se,
entretanto, que o não comparecimento da parte interessada perante o juízo
deprecado, a audiência é realizada com advogado ad hoc.

Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação,


temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de
modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por
videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a
presença do seu defensor.

Em caso de testemunha residente no estrangeiro, em local sabido,


será necessária a expedição de carta rogatória, cumprida pelas vias
diplomáticas. Todavia, o magistrado somente irá deferir a expedição
de rogatória se demonstrada previamente a imprescindibilidade da
medida pela parte requerente, art. 222-A.

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CONTRADITA DA TESTEMUNHA

É a impugnação ou objeção apresentada pela parte, geralmente, em


relação à testemunha arrolada pelo adversário. Diz respeito,
especificamente, às pessoas que não podem depor art. 207do CPP,
ou às que não devem ser compromissadas, art. 208 do CPP.

Após a qualificação da testemunha, a parte interessada


solicitará a palavra, pela ordem, ao juiz para manifestar a sua
impugnação, que será reduzida a termo. Em seguida, o magistrado
ouve a parte contrária. Passa, então, a indagar da testemunha, a
respeito dos fundamentos da contradita realizada. Se a pessoa
confirmar os dados que impugnam seu depoimento, o juiz a afastará
(art. 207) ou colherá seu depoimento sem o compromisso de dizer a
verdade (art. 208). Não confirmado, é possível que a parte
impugnante deseje provar o alegado. Para tanto, pode apresentar,
no ato, documentos a respeito ou levar à presença do juiz
testemunhas que possam em breve depoimento, confirmar o
conteúdo da contradita. Sanado o incidente, o depoimento será ou
não colhido, com ou sem compromisso.

A contradita, em si, não dá causa à não audiência da testemunha. Ao


juiz cabe consignar a contradita e a resposta da testemunha,
compromissando-a e inquirindo-a a seguir. O valor de seu
testemunho será, então, verificado quando da sentença de mérito,
em face da prova carreada para o processo e dos termos da
contradita.

RECONHECIMENTO PELO JUIZ DO PROCESSO EM QUE O


FALSO FOI PROFERIDO

Não implica condenação, nem é julgamento de mérito desse delito.


O magistrado, que cuidou do processo em que o falso foi cometido,
apenas reconhece a sua existência, salientando o prejuízo causado
para a administração da justiça, situação indispensável para a
configuração do tipo penal do art. 342 do Código Penal. Assim, após
tal declaração, cabe ao juiz competente, sob o crivo do contraditório
e da ampla defesa, avaliar se o delito se aperfeiçoou – tipicidade,
antijuridicidade e culpabilidade – condenando o réu (testemunha
mentirosa).

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Dispensabilidade do inquérito: é admissível. Caso o representante


do Ministério Público obtenha todas as provas cabíveis para
apresentar denúncia contra a testemunha mentirosa, dispensa-se a
instauração do inquérito. Assim, pode o juiz, verificando a gravidade
do fato e a farta prova já existente no processo, extrair cópias deste,
enviando-as ao Promotor de Justiça, que poderá ingressar com a
ação penal diretamente. Instaura-se o inquérito somente quando há
necessidade de melhor averiguar a razão das contradições
apresentadas pela testemunha no seu depoimento. Havendo dúvida
quanto à configuração do tipo penal do art. 342, o melhor caminho é
a investigação policial.

Condição para haver julgamento da ação penal: é preciso estar


concluído o feito principal, em que o falso foi proferido, considerado
este relevante para o deslinde da ação penal. Assim, pode haver o
início do processo para apurar o crime de falso contra a testemunha,
evitando-se a prescrição, mas deve-se aguardar o término do outro,
para neste haver o julgamento.

Falso testemunho prestado em precatória: a competência para


apurá-lo é do juízo deprecado, local onde o delito foi cometido. O
reconhecimento do falso, no entanto, depende de pronunciamento do
juízo deprecante.

ARTIGOS 226 a 228 DO CPP - DO RECONHECIMENTO DE


PESSOAS E COISAS

Reconhecer é identificar uma pessoa ou coisa. O reconhecimento


pode ser policial ou judicial. Como ensina Hélio Tornaghi
"reconhecimento é o ato pelo qual alguém verifica e confirma a
identidade de pessoa ou coisa que lhe é mostrada, com pessoa ou
coisa que já viu (ouviu, palpou - que já lhe caiu sob os sentidos)".

PROCEDIMENTO NO RECONHECIMENTO DE PESSOAS – ART.


226 DO CPP

Para se proceder ao reconhecimento de uma pessoa, observar-se-á


o disposto no art. 226 do CPP. O reconhecimento será feito perante
uma autoridade policial ou judicial. A pessoa que tiver de fazer o
reconhecimento será convidada a descrever a pessoa a ser

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS
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reconhecida. Após, esta última será colocada, se possível, ao lado


de outras que com ela tiverem alguma semelhança, procedendo-se
o formal reconhecimento. O ato poderá ser feito sem que a pessoa
reconhecida veja a que está realizando a identificação, caso haja
receio da segurança desta última.

Do ato de recognição será lavrado um auto pormenorizado, subscrito


pela autoridade, pela pessoa chamada a reconhecer e por duas
testemunhas presenciais.

Se forem várias as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento,


determina o art. 228 do CPP que cada um faça separadamente a
prova para evitar qualquer comunicação entre elas, lavrando-se ao
final um só auto, subscrito por todas. No reconhecimento de objeto,
observar-se-ão as cautelas do art. 226 do CPP, no que for aplicável.

Ressalte-se, por fim, que, se o reconhecimento de pessoa ou coisa


não seguir as regras apontadas, tal circunstância não lhe retirará,
tão-somente por esse motivo, o valor probante. O reconhecimento de
pessoa, embora dissociado do procedimento ditado pelo CPP,
poderá ser aceito pelo juiz, de acordo com o sistema da livre
apreciação das provas - entendimento jurisprudencial.

Como já observado, a lei arrola determinados meios de prova, que


não se encerram nas hipóteses elencadas, tanto é verdade que o
reconhecimento por meio de fotografia não está previsto no
CPP, mas tem sido utilizado e aceito pelos Tribunais Superiores,
desde que acompanhado por outros elementos de prova. Assim
como o reconhecimento realizado sem as formalidades ditadas pelo
CPP, a identificação de pessoa ou coisa realizada por fotografia deve
ser avaliada pelo juiz de direito sob a égide do princípio do livre
convencimento.

Quanto ao retrato falado - é meio de investigação e não de


reconhecimento.

Reconhecimento da voz - é possível. Tem valor relativo. Na gíria da


polícia é chamado de “Clichê Fônico”. Dá-se com frequência nos
crimes contra a dignidade sexual.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS
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Na fase policial o reconhecimento de pessoas não exige a presença


de advogado, pois se trata de fase investigatória, mas na fase judicial
há necessidade, por se tratar de processo contraditório.

RECONHECIMENTO DE COISAS – ART. 227 DO CPP

No reconhecimento de objetos, serão observadas as cautelas


previstas para o reconhecimento de pessoas, no que forem
aplicáveis. Assim, a pessoa chamada a identificar o objeto deve
descrevê-lo e, em seguida, apontá-lo, quando estiver colocado ao
lado de outras coisas semelhantes. Será lavrado, igualmente, auto
pormenorizado, que será assinado pelo reconhecedor, pela
autoridade e por duas testemunhas.

DA RECONSTITUIÇÃO DO CRIME (IMPLÍCITO NO ART. 158 DO


CPP E ART. 7º. DO CPP – FASE POLICIAL)

Trata-se de prova de interesse da acusação, podendo o acusado


estar presente, embora não possa ser ele obrigado a comparecer.

O Tribunal de Justiça de São Paulo já reconheceu que se trata de


"prova de interesse da acusação", sendo "ilegal o ato da autoridade
policial, que intima o indiciado a participar, em caráter coercitivo
desse procedimento de índole probatória", pois, "compeli-lo à
produção da prova constitui constrangimento ilegal, já que não é ele,
paciente, testemunha, porém, indiciado, réu em potencial" (RJTJSP,
43/343).

Na fase policial a reconstituição pode ser feita com a presença ou


não do possível indiciado, que verificará da conveniência ou não de
sua presença, já que não está obrigado a participar de prova que o
incrimine, dada sua liberdade individual.

Contudo, se a reconstituição se fizer na fase judicial, tratando-se de


prova contraditória, embora o réu não possa ser coagido a participar,
há necessidade que seu advogado seja intimado para o ato. A
presença do defensor, embora também seja facultativa, pode ser
necessária à fiscalização da reconstituição no interesse do seu
cliente.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS
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ARTIGOS 229 e 230 DO CPP - DA ACAREAÇÃO

Acareação é o ato judicial de natureza probatória em que pessoas


que prestaram declarações divergentes são confrontadas, uma
defronte a outra, na tentativa de dirimir as contradições (cabível
também na fase extrajudicial). A providência tem por finalidade
provocar a retratação, por parte de um dos acareados, em
relação ao ponto do depoimento que se mostra em antagonismo
com o outro relato

PRESSUPOSTOS

A realização da acareação pressupõe:

 Que as pessoas que serão submetidas à acareação já tenham


sido ouvidas em oportunidade anterior

 Que haja divergência entre as declarações dessas pessoas,


referentes a ponto relevante para o resultado final do processo.

Admite-se a acareação (art. 229 do CPP)

✓ Entre acusados
✓ Entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida
✓ Entre testemunhas
✓ Entre as pessoas ofendidas

Não se admite a acareação entre peritos, uma vez que eventuais


divergências entre eles devem ser solucionadas à luz do disposto no
art. 180 do CPP. Também não se admite acareação entre perito e
assistente técnico.

PROCEDIMENTO

A acareação pode ser requerida pelas partes ou determinada pelo


juiz, de ofício. As pessoas acareadas serão colocadas frente a frente
e, uma vez advertidas das penas do falso testemunho, serão
indagadas pelo juiz ou pela autoridade policial acerca das

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – TEORIA DAS PROVAS
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divergências e sobre o desejo de manterem ou modificarem a versão


que apresentaram.

Tal como ocorre em relação ao interrogatório, o acusado tem o direito


de manter-se em silêncio por ocasião da acareação a que venha a
ser submetido. Ao final do ato, a autoridade lavrará termo do qual
devem constar as explicações apresentadas pelos acareados.

ARTIGOS 231 a 238 DO CPP - DOS DOCUMENTOS

Documento é todo objeto ou coisa do qual, sirva para demonstrar e


provar um fato ou acontecimento juridicamente relevante.

O CPP elenca os documentos como um meio de prova e na definição


contida no artigo 232 considera documentos quaisquer escritos,
instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.

Verifica-se, portanto, que o termo documento é empregado com


duas acepções diversas, que podem ser divididas em:

• Documentos em sentido amplo: são todos objetos, não só os


escritos aptos a corporificar uma manifestação humana, como
por exemplo: fotos, fitas de vídeo e som, desenhos, esquemas,
gravuras, disquetes, CDs, entre outros (como e-mail).

• Documentos em sentido estrito: são apenas os escritos, ou


seja, a prova literal.

CLASSIFICAÇÃO DOS DOCUMENTOS

Quanto à finalidade

a) Pré-constituídos – são confeccionados com o intuito de fazer


prova dos fatos neles representados: os documentos pré-
constituídos recebem também a denominação de instrumentos

b) Causais – formados com finalidade diversa que servem


circunstancialmente como prova

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Quanto ao autor

a) Públicos – aqueles formados por agentes públicos em razão de


sua função

b) Privados – são os confeccionados por particular ou, ainda, por


agente público que não esteja no desempenho da função

Quanto à forma

a) Originais – aqueles em que genuinamente o fato foi retratado

b) Cópias – são as reproduções do documento original

Quanto ao meio de formação

a) Diretos: são aqueles em que o fato foi transmitido sem


intermediação para a coisa que o representa, por exemplo, a
fotografia.

b) Indiretos – quando há alguma intermediação entre o fato e a


coisa em que se registra sua ocorrência, por exemplo: o escrito
em que a pessoa que o elabora é intermediária entre o fato e sua
representação.

Quanto à possibilidade de identificação do autor

a) Nominativos – são aqueles que ostentam a identificação de


quem o produziu

b) Anônimos – os que não exibem a identificação de seu autor

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PRODUÇÃO DO DOCUMENTO COMO MEIO DE PROVA

As partes podem apresentar o documento como prova em qualquer


fase do processo, observando-se algumas restrições em sentido
contrário.

Essa possibilidade de apresentação do documento em qualquer


momento do processo está prevista no art. 231 do CPP. Contudo, o
art. 479 do CPP, alterado pela Lei 11.689/2009, impede que esse
mesmo procedimento se proceda à produção ou leitura de
documento que não tiver sido comunicado à parte contrária e tenha
sido juntado aos autos com antecedência de pelo menos três dias.

Há também a vedação legal (art. 233, CPP) de se apresentarem


cartas particulares obtidas ou interceptadas por meio criminoso não
podem ser exibidas em juízo. Essa restrição processual funda-se no
art. 5°, inciso LVI, da CF. O sigilo da correspondência é inviolável
(art. 5°, inciso XII, CF). Excepcionalmente, podem ser exibidas
pelo destinatário, para defesa de seu direito, ainda que não haja
consentimento do signatário.

O documento original, a teor do art. 238 do CPP, junto a processo


findo, quando não exista motivo relevante que justifique sua
conservação nos autos, poderá, mediante requerimento, e ouvido o
Ministério Público, ser entregue à parte que o produziu, ficando
traslado nos autos.

Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada


imediata, serão se necessário traduzidos por tradutor público, ou, em
sua falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.
A cópia do documento original, desde que autenticada, terá o mesmo
valor daquele (art. 232, parág. único do CPP)

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ARTIGO 239 DO CPP - DOS INDÍCIOS

Conceito de indício: são circunstâncias conhecidas e provadas,


que, tendo relação com o fato, autorizam, por indução, concluir-se
a existência de outra ou de outras circunstâncias (art. 239 do CPP).

O indício e, portanto, o fato devidamente comprovado que, por


indução lógica, faz presumir a ocorrência ou inocorrência do fato.
Entende-se por contra indícios as circunstâncias indiretas que, uma
vez provadas, invalidam os indícios. Exemplo: Caio, que foi visto no
interior de estabelecimento comercial furtado, é surpreendido na
posse de relógio idêntico àquele subtraído da loja (indício de que foi
o autor do furto), mas apresenta documento que comprova ter
adquirido licitamente o bem em ocasião anterior (contra indício).

VALOR DA PROVA INDICIÁRIA

No sistema de nosso processo, os indícios não são admitidos como


prova do fato, mas apenas as circunstâncias que o rodeiam.

A nossa lei processual se refere à prova indiciária em diversas


oportunidades: indícios veementes da proveniência ilícita dos bens
para o sequestro (art. 126 do CPP); indícios suficientes da autoria
para a hipoteca legal (art. 134 do CPP), para a prisão preventiva (art.
312 do CPP) ou, simplesmente, indícios da autoria para a pronúncia
(art. 413 do CPP)

DIFERENÇA ENTRE INDÍCIO E PRESUNÇÃO

Indício não é sinônimo de presunção, como alguns entendem: é a


circunstância ou antecedente que autoriza a fundar uma opinião
acerca da existência de determinado fato, ao passo que presunção é
o efeito que essa circunstância ou antecedente produz, no ânimo do
julgador, quanto à existência do mesmo fato.
Indício é o fato, circunstância acessória que se liga ao crime, e por
onde se conclui, que o crime foi consumado, quer que um
determinado indivíduo nele tome parte, quer que haja crime e que foi
consumado de tal ou qual maneira.

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A presunção não é um meio de prova válido, pois constitui uma


mera opinião baseada numa suposição ou numa suspeita. É um
simples processo dedutivo. Os indícios possibilitam atingir o estado
de certeza no espírito do julgador, mas as presunções apenas
impregnam-no de singelas probabilidades e não podem dar margem
à condenação.

ARTIGOS 240 A 250 DO CPP - DA BUSCA E APREENSÃO

A busca e apreensão é a providência de natureza cautelar destinada


a encontrar e conservar pessoas ou bens que interessam ao
processo criminal.

➢ Busca é a diligência que se faz em determinado lugar com o fim


de aí se encontrar a pessoa ou coisa que se procura

➢ Apreensão é a medida que se sucede à busca. Desde que


encontrada, a coisa será apreendida. Pode ocorrer também
apreensão sem busca, se o próprio acusado entrega o
instrumento ou objeto do crime (auto de exibição e apreensão).

Tanto a busca como a apreensão podem ocorrer no curso do


inquérito policial ou durante o processo

A busca pode ser domiciliar ou pessoal

BUSCA DOMICILIAR – art. 240, parág. 1º do CPP

Somente poderá se realizar mediante mandado judicial (salvo nos


casos de crimes permanentes onde há a situação de flagrância)

A teor do art. 5°, inciso XI, da CF: “a casa é asilo inviolável do


indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

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Não há dúvida, portanto, de que a garantia constitucional de


inviolabilidade do domicílio não tem caráter absoluto, pois, mesmo
sem o consentimento do morador, pode-se nele ingressar:

➢ Durante o dia ou a noite, por ocasião de flagrante delito, com ou


sem autorização do morador

➢ Durante o dia, sem autorização do morador, mas com mandado


judicial.

➢ Durante a noite, com ou sem mandado judicial, mas com


autorização do morador.

O mandado deve ser certo e determinado, expedido com objetivo


certo e determinado. Não é possível admitir-se ordem judicial
genérica, conferindo ao agente da autoridade liberdade de escolha e
de opções a respeito dos locais a serem invadidos e vasculhados.

BUSCA PESSOAL – art. 240, parág. 2º do CPP

É aquela que incide diretamente sobre o corpo do agente, quando


houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma
proibida ou objetos achados ou obtidos por meios criminosos,
instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados,
munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados
a fim delituoso, etc.

A busca pessoal também está automaticamente autorizada quando


realizada no bojo de uma busca domiciliar.

Não mais vige a possibilidade da autoridade policial,


pessoalmente e sem mandado, invadir um domicílio, visto que a
Constituição Federal garantiu a necessidade de determinação
judicial. Logo, não está em vigor parte do disposto no art. 241
do CPP. O juiz, obviamente, quando acompanha a diligência, faz
prescindir o mandado.

O parágrafo 2º do artigo 243 prevê que não será permitida a


apreensão de documentos em poder do defensor do acusado,
salvo quando constituir elemento do corpo de delito. Em regra,

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não será permitida a apreensão de documento em poder do


defensor do réu.

Mas poderá ser feita tal busca nos seguintes casos:

 Se o advogado for partícipe da infração;


 Se o advogado não estiver funcionando como defensor no
processo em que for determinada a busca;
 Se o advogado não possuir os papéis em razão de sua função; d)
- para apreender documentos ou objetos que constituam
elementos do corpo de delito.

Outra questão controvertida diz respeito à busca em repartição


pública. Segundo entendimento do Professor Paulo Lúcio
Nogueira, as divergências não têm razão de ser, pois basta
requisitar o documento e, não havendo atendimento, aí então
expedir-se-á mandado de busca e apreensão, podendo o funcionário
que se negou a entregá-lo estar sujeito a processo por
desobediência, conforme a hipótese – art. 359 do CP.

Deve-se ter presente sempre o princípio do interesse


predominante ou preponderante, pois o interesse público está
acima de certos segredos, que podem ser revelados desde que
tenham pertinência para o esclarecimento ou impedimento de
certos crimes graves, portanto, o sigilo profissional não é
absoluto.

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LEI Nº 9.296 DE 24.07.96 - INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

A lei em tela, só autorizou a interceptação telefônica em crimes


punidos com reclusão e para fins criminais (investigação ou
instrução criminal).

INTERCEPTAÇÃO Captação da comunicação telefônica


TELEFÔNICA alheia POR TERCEIRO, SEM O
CONHECIMENTO de nenhum dos
comunicadores.
ESCUTA TELEFÔNICA Captação da comunicação telefônica
POR TERCEIRO, COM O
CONHECIMENTO de um dos
comunicadores.
GRAVAÇÃO É a gravação da comunicação
CLANDESTINA telefônica por um dos comunicadores
(autogravação). É clandestina porque
feita sem o conhecimento do outro,
mas é meio lícito de prova.
COMUNICAÇÃO Conversa mantida entre duas pessoas
AMBIENTAL sem a utilização de telefone, em
qualquer recinto, público ou privado
INTERCEPTAÇÃO Captação da comunicação no próprio
AMBIENTAL ambiente dela, POR TERCEIRO, SEM
O CONHECIMENTO dos
comunicadores. Tem a mesma
sustentação da interceptação
telefônica. Exemplo: filmar alguém
subtraindo joias da vítima
ESCUTA AMBIENTAL Captação de uma comunicação, no
ambiente dela, feita POR TERCEIRO
COM O CONHECIMENTO de um dos
comunicadores. Exemplo: crime de
corrupção passiva onde a vítima grava
o exato momento da solicitação de
propina.

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GRAVAÇÃO Captação no ambiente da


AMBIENTAL comunicação feita por um dos
comunicadores

Que se entende por “comunicações telefônicas? A comunicação


telefônica, antigamente, restringia-se à conversação (transmissão de
palavras e sons). Hoje a comunicação telefônica está enriquecida,
sobretudo pelo extraordinário desenvolvimento da informática, que
se vale prioritariamente dela para a transmissão e recepção de
dados, imagens e informações.

A telefonia hoje abrange a transmissão e recepção de símbolos,


caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de
qualquer natureza, por meio da telefonia estática ou móvel (celular).

A interceptação de uma comunicação telefônica versa sobre


algo que está ocorrendo, atual; já a quebra do sigilo de dados
telefônicos relaciona-se com chamadas telefônicas pretéritas
(passadas).

Diferença entre interceptação telefônica e quebra de sigilo


telefônico:

A interceptação telefônica dá acesso ao teor da conversa.

A quebra de sigilo telefônico é apenas o acesso à relação das


ligações efetuadas e recebidas por determinada linha telefônica, ou
seja, esta não permite saber o que foi conversado.

A quebra de sigilo telefônico depende de ordem judicial, não por


ser interceptação telefônica, mas sim por envolver o direito a
intimidade.

O ato de gravar, tão-somente gravar, não configura um ilícito


penal. Mas sem sombra de dúvida já configura a violação à
intimidade alheia. Por isso, em regra, não se pode divulgar o
conteúdo da gravação. A isso se dá o nome de “direito à reserva”
(visa-se a não divulgação daquilo que foi gravado clandestinamente),
que se distingue do “direito ao segredo” (visa-se evitar que um
terceiro capte comunicação alheia). A divulgação indevida configura
o delito previsto no art. 153 do CP. Quem divulga, sem justa causa,

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o conteúdo de uma gravação clandestina, está praticando um ilícito


penal. E se existe justa causa? Não há crime.

FINALIDADE DA INTERCEPTAÇÃO: o meio probatório que resulta


a interceptação, entretanto, não pode ser utilizado em qualquer
procedimento ou processo. A Lei nº 9.296/96, repetindo o texto
constitucional, delimitou o uso desse meio probatório, que só vale
para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal. É muito discutível sua validade para fins outros, ainda que
criminais. Como “facilitar prisão”, possibilitar uma mais rápida
execução de uma pena definitivamente aplicada, etc.

Deve-se observar, desde logo, que a lei menciona “investigação


criminal” e não inquérito policial. Sendo assim, pode-se a
interceptação telefônica ocorrer mesmo sem a instauração do
inquérito. Investigação criminal é a que se destina à apuração de uma
infração penal e sua autoria. Pode ser de responsabilidade da polícia
judiciária ou de qualquer outra autoridade administrativa com
atribuição para tanto (art. 4º, do CPP).

Urge esclarecer que a interceptação telefônica somente pode


ser requerida pela autoridade policial e pelo Ministério Público.
Não pode ser requerida por advogado, quando muito, pode este
“instar” aquelas autoridades a requerê-la.

DA CAPTAÇÃO AMBIENTAL – ARTIGOS 8-A E 10-A

Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada


pelo juiz, a requerimento da autoridade policial ou do Ministério
Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos, quando:

I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e


igualmente eficazes; e
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e
participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 anos ou em infrações penais conexas.

O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a


forma de instalação do dispositivo de captação ambiental. A captação
ambiental não poderá exceder o prazo de 15 dias, renovável por
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decisão judicial por iguais períodos, se comprovada a


indispensabilidade do meio de prova e quando presente
atividade criminal permanente, habitual ou continuada.

Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou


acústicos para investigação ou instrução criminal sem autorização
judicial, quando esta for exigida:
Pena - reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.

Não há crime se a captação é realizada por um dos interlocutores.

A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que


descumprir determinação de sigilo das investigações que
envolvam a captação ambiental ou revelar o conteúdo das
gravações enquanto mantido o sigilo judicial.

ENCONTRO FORTUITO DE NOVO CRIME E/OU NOVO


CRIMINOSO (FENÔMENO DA SERENDIPIDADE = buscar uma
coisa e encontrar outra)

Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação


objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação
dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente
justificada.

Quando a autoridade requer a interceptação telefônica ao juiz (no


pedido), devem ser indicados os crimes que estão sendo apurados
(a situação objeto da investigação) e as pessoas que estão sendo
investigadas (indicação e qualificação dos investigados). Se durante
as interceptações a polícia descobre crimes novos que não foram
mencionados no pedido da interceptação ou infrator que não foi
indicado no pedido de interceptação, estamos diante do fenômeno
da serendipidade.

Ex. A polícia pede a interceptação telefônica para investigar roubo de


carga praticado por A e B, mas durante a interceptação descobre o
envolvimento de C e D em tráfico de drogas. A interceptação é válida
como prova do novo crime e novos criminosos descobertos
fortuitamente?

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HÁ DUAS CORRENTES.

1ª corrente: a interceptação é válida como prova do novo crime ou


criminoso descoberto fortuitamente, desde que seja conexo com o
crime para o qual foi autorizada a interceptação telefônica. Assim, se
não houver a conexão, a interceptação só serve como “noticia
criminis” para iniciar uma nova investigação em relação a esse novo
crime ou criminoso. Esta corrente prevalece na doutrina brasileira.

2ª corrente: a interceptação é válida como prova do crime ou


criminoso descoberto fortuitamente, mesmo se não houver
conexão com o crime para o qual foi solicitada a interceptação
telefônica, mas desde que relacionada com o fato criminoso
objeto da investigação. Esta corrente vem prevalecendo na
jurisprudência, pois o Estado não pode se manter inerte diante da
notícia de um crime (STJ, RHC 34.280; STJ HC 33.462 e STF AI no
AR 71.706).

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