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Prof.

Francisco Rocha

PROVAS

Provas. Parte 1.
Teoria Geral.
Conceito: Prova é todo o meio utilizado no processo cuja finalidade é convencer o juiz a respeito da verdade de
uma situação, a fim de formar a sua convicção quanto à existência ou inexistência dos fatos deduzidos em juízo.
Objeto da prova: entende-se por objeto da prova aquilo que deve ser demonstrado ao juiz, com o fim de
convencê-lo. Desta forma, objeto da prova são os fatos.
Como regra, o direito não precisa ser provado, pois o juiz é seu conhecedor (jure novit curia). Todavia, se o direito
invocado for estadual, municipal, alienígena ou consuetudinário, caberá à parte alegante a sua prova.
Para que uma determinada prova seja produzida é necessário que seja admissível, pertinente e possível de ser
realizada.
Diz-se que uma prova é admissível quando a sua produção é permitida pela lei ou pelos costumes judiciários.
Uma prova admitida pelo direito é denominada de prova genética.
A prova pertinente ou fundada é aquela que tem relação com os fatos que constituem objeto do processo. Opõe-
se, pois, à prova inútil.
Por fim, somente quando a produção de uma prova for possível é que sua realização será autorizada pelo juiz.
Isso porque o fato que se quer provar pode ser possível ou impossível, mas somente quando a sua prova for
viável é que será realizada.

Meios de prova: é tudo aquilo que é utilizado no processo para demonstrar a verdade de um fato. São
instrumentos processuais através dos quais produzem-se as provas.
Assim, podem ser considerados meios de prova: os depoimentos das testemunhas, as perícias, os
reconhecimentos de pessoas e coisas, as acareações, etc.
Existem os meios de prova nominados, ou seja, aqueles que têm previsão expressa em lei, e os inominados, que,
muito embora não estejam explicitamente previstos no Código de Processo Penal, são aceitos, uma vez que
vigora o entendimento de que a relação dos meios de prova, constante da lei processual é meramente
exemplificativa.
Como no processo penal deve-se buscar a verdade material ou real, não convém que se estabeleçam restrições
aos meios de prova, impedindo que as partes os utilizem, com total liberdade.
A possibilidade de as partes utilizarem, no processo, qualquer meio de prova é, doutrinariamente, conhecida como
princípio da liberdade probatória.
Todavia, o princípio da liberdade probatória não é absoluto, uma vez que o próprio Código de Processo Penal e
também a Constituição Federal impõem algumas limitações, ou seja, a busca da verdade real, que justifica a
amplitude dos meios de prova, encontra limites na lei processual e nos princípios constitucionais que visam a
proteção e a garantia dos direitos fundamentais.
Assim, não são admitidas as provas incompatíveis com os princípios de respeito ao direito de defesa e à
dignidade humana, nem os meios cuja utilização se opõe às normas reguladoras do direito, regentes da vida em
sociedade.
O Código de Processo Penal estabelece algumas regras que limitam a atividade probatória.
Exemplo de limitação aos meios de prova encontramos no parágrafo único do artigo 155 do Código de Processo
Penal que determina a observância, no tocante à prova relativa ao estado das pessoas, das exigências e
formalidades estabelecidas pela lei civil.
Da mesma forma, o artigo 62 do Código de Processo Penal, ao exigir que somente à vista da certidão de óbito, e
depois de ouvido o órgão do Ministério Público, possa o juiz reconhecer a extinção da punibilidade em razão da
morte do acusado.
Também a regra contida no artigo 158 do Código de Processo Penal constitui exceção ao princípio da liberdade
probatória, na medida em que exige a realização de exame de corpo de delito, para a comprovação da
materialidade delitiva nas infrações penais que deixam vestígios, não se admitindo que a ausência desse exame
seja suprida pela confissão do acusado.
Outra regra limitativa da atividade probatória é aquela constante do artigo 208 do Código de Processo Penal, que
estabelece que determinadas pessoas, quando chamadas em juízo para deporem, não devem prestar
compromisso de dizer a verdade.
Também na Constituição Federal, encontramos uma regra que limita a liberdade probatória, no artigo 5º, inciso
LVI, que prevê o princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

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Reafirma tal princípio o artigo 157 do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei 11.690/2008.
Segundo referido dispositivo: “São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação as normas constitucionais ou legais”.
Observa-se, assim, que além de dispor a respeito da inadmissibilidade de tais provas, o legislador cuidou de
definir o que se deve entender por prova ilícita: é aquela obtida com violação a normas constitucionais ou legais.
Prova ilícita consiste, assim, na prova que foi produzida por meios não aprovados pela legislação pátria. Portanto,
é prova ilegal.

Fontes de prova: pessoa ou coisa da qual emana a prova.

Diferença entre prova e elemento informativo (ou elemento de prova).

Nos dizeres de Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar, a prova pressupõe procedimento contraditório. É, em
regra, produzida durante o processo instaurado perante o magistrado, com a participação dos litigantes.
Já os elementos de informação, são os documentos ou outros registros colhidos em procedimento diverso do
processo judicial, sem a observância do contraditório, como se dá no âmbito do inquérito policial.

Importante destacar que o art. 155 do CPP, impede que o juiz profira sua decisão com fundamento exclusivo nos
elementos informativos colhidos durante a investigação.
Vejamos:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Destinatário: o destinatário da prova é o julgador. As partes também o são, mas de forma mediata, indireta.

Princípios da prova:
a) Presunção de inocência: Art. 5º, LVII, da CF: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória”.
b) Busca da verdade real;
c) Liberdade probatória
d) da não autoincriminação (ne nemo tenetur se detegere): o acusado não é obrigado a produzir provas
contra si mesmo. Observe a relação desse princípio com a declaração de inconstitucionalidade, pelo STF, da
condução coercitiva do réu ou investigado para fins de interrogatório. Análise de situações especiais: i)
bafômetro; ii) reprodução simulada dos fatos; iii) exame grafotécnico e iiii) reconhecimento de pessoas.
e) Contraditório
f) Comunhão das provas ou aquisição
g) Oralidade

A inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

Com já afirmado, a prova produzida em contrariedade a uma norma legal ou a um princípio do direito positivo é
inadmissível, constituindo prova proibida ou prova vedada.
São exemplos de prova ilícita: a confissão obtida mediante tortura, a interceptação telefônica realizada sem ordem
judicial, a busca e apreensão em domicílio efetivada sem mandado judicial e fora da hipótese de flagrante.
A doutrina distingue prova ilícita de prova ilegítima, sendo a primeira aquela mediante a violação de norma de
direito material, enquanto a segunda violaria norma de direito processual.
Uma vez reconhecida a ilicitude da prova, deve ela ser desentranhada dos autos, conforme determina o artigo 157
do Código de Processo Penal.
Outrossim, conforme previsão contida no § 3º, do artigo 157, do Código de Processo Penal, depois de
determinado o desentranhamento da prova considerada inadmissível, deverá esta ser inutilizada por decisão
judicial, sendo possível que as partes acompanhem o incidente. Com efeito, prevê o mencionado § 3º que:
“Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, está será inutilizada por decisão
judicial, facultado às partes acompanhar o incidente”.

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Também a prova ilícita por derivação é inadmitida no processo penal, nos termos do § 1º, do artigo 157, do
Código de Processo Penal, o qual foi acrescido pela Lei 11.690/2008.
Segundo a doutrina, prova ilícita por derivação é aquela que, apesar de lícita em si mesma, foi produzida a partir
de uma outra, ilicitamente obtida (são provas lícitas, porém oriundas de alguma informação extraída de outra
prova, ilicitamente colhida).

Como exemplos de prova ilícita por derivação podem ser citados os seguintes: confissão extorquida mediante
tortura, em que o investigado indica onde se encontra o produto do crime, que vem a ser regularmente
apreendido; a interceptação telefônica clandestina, por meio da qual se torna possível conhecer outras
circunstâncias que, licitamente obtidas, conduzem à apuração dos fatos.
Aplica-se, em relação às provas ilícitas por derivação, a doutrina dos frutos da árvore envenenada (fruits of the
poisonous tree).
Referida doutrina prega que o vício da planta se transmite a todos os seus frutos, ou seja, o vício de origem
existente em determinada prova se transmite a todas as provas que dela decorrem.
Portanto, não obstante a prova derivada seja, na sua essência, lícita e admissível, aplicando-se a teoria dos frutos
da árvore envenenada, a ilicitude da prova que lhe deu origem contaminaria o seu conteúdo, causando, como
consequência, sua inadmissibilidade processual.
Contudo, ao mesmo tempo em que o legislador determinou a inadmissibilidade de tais provas, ressalvou duas
hipóteses em que pode ser utilizada. Tais hipóteses constituem exceção à aplicação da teoria dos frutos da árvore
envenenada: quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras e quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente.
No Brasil, o Supremo Tribunal Federal, analisando a questão relativa à aplicação da teoria dos frutos da árvore
envenenada e a exclusividade da prova ilícita para a obtenção da prova derivada, já entendeu que a prova ilícita
por derivação pode ser admitida, desde que fique demonstrado que não foi a prova exclusiva que desencadeou o
procedimento penal, mas somente veio a corroborar as outras licitamente obtidas pela equipe de investigação
policial (STF, 1ª Turma, HC 74530).

Sistemas de Apreciação das Provas:

Uma vez produzidas no processo, as provas devem ser objeto de avaliação pelo juiz.
Tal avaliação constitui ato eminentemente pessoal do juiz, pelo qual, examinando, pesando e estimando os
elementos oferecidos pelas partes, chegará a uma decisão.
Ao avaliar as provas contidas em um processo, na verdade, o juiz pratica um trabalho intelectual. Nesta atividade
está ele sujeito à observância de algumas regras pré-estabelecidas.
Modernamente, três são os sistemas instituídos em relação à questão da apreciação das provas pelo julgador: a)
o sistema da certeza moral do juiz ou da íntima convicção; b) o sistema da certeza moral do legislador ou sistema
da prova tarifada ou legal e c) o sistema da livre convicção, livre convencimento motivado ou da persuasão
racional.
O primeiro, chamado de sistema da certeza moral do juiz ou sistema da íntima convicção, tem as suas origens em
Roma. Neste sistema concede-se ao juiz a total e ilimitada possibilidade de apreciar as provas, agindo de acordo
com a sua consciência, tanto no tocante à sua admissibilidade, quanto à sua avaliação, conhecimentos e
impressões pessoais, podendo decidir, inclusive, em sentido contrário a elas e podendo, também, deixar de
decidir, caso entenda que não formou sua convicção. Nesse sistema, o juiz não está vinculado a qualquer regra
legal, não estando também obrigado a fundamentar sua decisão, pois se trata de um julgamento secundum
conscientiam. Este sistema é o adotado entre nós excepcionalmente, no julgamento realizado pelo Tribunal do
Júri, no qual os jurados decidem conforme a sua convicção, não precisando externar os motivos dos votos
efetuados.
O segundo sistema, denominado de sistema da certeza moral do legislador, ou sistema da verdade legal, surgiu
como forma de limitar a liberdade absoluta de julgamento. A origem desse sistema encontra-se no direito
germânico, tendo prevalecido em quase toda a Europa durante certo período. Neste sistema, o juiz deve guiar-se
por regras pré-estabelecidas, de forma que cada prova tem um valor previamente fixado pela lei, sendo
inalterável, não havendo qualquer margem de valoração subjetiva por parte do juiz, que deve decidir em
conformidade com o valor legal preestabelecido. Por esse motivo, este sistema é também denominado “sistema
tarifado”, uma vez que a lei estabelece o valor de cada prova, criando entre elas uma hierarquia, da qual não pode
o juiz se distanciar.

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Por fim, o sistema da livre convicção, também chamado de sistema da persuasão racional ou sistema do livre
convencimento, surgido em Roma, foi legalmente conhecido com os códigos napoleônicos. Neste, o juiz age
livremente ao apreciar as provas. Contudo, ao avaliá-las deve ajustar-se às regras pré-estabelecidas, ou seja,
estará condicionado às provas constantes do processo (regra quod nom est in actis nom est in mundo), desde que
admissíveis e sujeitas à avaliação de sua credibilidade. Por esse sistema impõe-se ao juiz o dever de motivar sua
decisão, a fim de que seja possível a todos conhecer seus fundamentos, possibilitando também a avaliação do
acerto ou erro de decisão proferida.

O sistema da livre convicção é o utilizado, como regra, pelo nosso ordenamento jurídico, conforme dispõe o artigo
155, do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei 11.690/2008: “O juiz formará sua convicção pela
livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas”.
Portanto, de acordo com esse artigo, a convicção do julgador deve ser formada a partir das provas que forem
produzidas em contraditório judicial, não podendo o juiz se valer exclusivamente das provas produzidas na fase
inquisitorial, sob pena de afronta aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Todavia,
relativamente às provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, mesmo que realizadas na fase de inquérito
policial, podem ser consideradas pelo juízo, uma vez, que, nestas, o contraditório é realizado posteriormente,
durante o processo (contraditório diferido ou prorrogado).

Prova emprestada:
Colhida num processo e juntada em outro, no qual ingressará com natureza de prova documental. A grande
exigência para o emprego válido e regular é a observância do contraditório. Para isso, não se exige identidade
integral entre as partes nos dois processos, sob pena de reduzir excessivamente sua aplicabilidade.
Veja-se, observando-se o que vai em negrito:
CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DISCRIMINATÓRIA. TERRAS
DEVOLUTAS. COMPETÊNCIA INTERNA. 1ª SEÇÃO. NATUREZA DEVOLUTA DAS TERRAS. CRITÉRIO DE
EXCLUSÃO. ÔNUS DA PROVA. PROVA EMPRESTADA. IDENTIDADE DE PARTES. AUSÊNCIA.
CONTRADITÓRIO. REQUISITO ESSENCIAL. ADMISSIBILIDADE DA PROVA. ......3. Cinge-se a controvérsia em
definir: ....iv) se a prova emprestada pode ser obtida de processo no qual não figuraram as mesmas partes; e v)
em que caráter deve ser recebida a prova pericial emprestada. 4. Compete à 1ª Seção o julgamento de ações
discriminatórias de terras devolutas, porquanto se trata de matéria eminentemente de direito público, concernente
à delimitação do patrimônio estatal... 9. Em vista das reconhecidas vantagens da prova emprestada no
processo civil, é recomendável que essa seja utilizada sempre que possível, desde que se mantenha
hígida a garantia do contraditório. No entanto, a prova emprestada não pode se restringir a processos em
que figurem partes idênticas, sob pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade, sem justificativa
razoável para tanto. 10. Independentemente de haver identidade de partes, o contraditório é o requisito
primordial para o aproveitamento da prova emprestada, de maneira que, assegurado às partes o
contraditório sobre a prova, isto é, o direito de se insurgir contra a prova e de refutá-la adequadamente,
afigura-se válido o empréstimo. (STJ - EREsp: 617428 SP 2011/0288293-9, Relator: Ministra NANCY
ANDRIGHI, Data de Julgamento: 04/06/2014, CE - CORTE ESPECIAL, Data de Publicação: DJe 17/06/2014)

Extração de dados do aplicativo Whatsapp.


a) Quando houver apreensão do aparelho celular após a prisão em flagrante: necessidade de autorização
judicial para a extração.
b) Quando a apreensão se der durante uma busca e apreensão: não há necessidade de nova ordem judicial
para a extração dos dados.
Vejamos:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE DA PROVA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO
JUDICIAL PARA A PERÍCIA NO CELULAR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO.
1. Ilícita é a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidas
diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia
autorização judicial.

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2. Recurso ordinário em habeas corpus provido, para declarar a nulidade das provas
obtidas no celular do paciente sem autorização judicial, cujo produto deve ser
desentranhado dos autos.
(RHC 51.531/RO, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
19/04/2016, DJe 09/05/2016)

Na ocorrência de autuação de crime em flagrante, ainda que seja dispensável


ordem judicial para a apreensão de telefone celular, as mensagens armazenadas
no aparelho estão protegidas pelo sigilo telefônico, que compreende igualmente a
transmissão, recepção ou emissão de símbolos, caracteres, sinais, escritos,
imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por meio de telefonia fixa ou
móvel ou, ainda, por meio de sistemas de informática e telemática. STJ. 5ª Turma.
RHC 67.379-RN, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2016 (Info 593).

Casos especiais:

a) Delegado que acessa conversas do whatsapp da vítima morta com autorização da esposa do falecido.
Possibilidade.

Não há ilegalidade na perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia,


sem prévia autorização judicial, na hipótese em que seu proprietário - a
vítima - foi morto, tendo o referido telefone sido entregue à autoridade
policial por sua esposa. STJ. 6ª Turma. RHC 86.076-MT, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
19/10/2017 (Info 617).

b) Decisão que autorizou o espelhamento do WhatsApp para que a polícia acompanhasse as conversas do
suspeito pelo WhatsApp Web. Impossibilidade.

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. TRÁFICO DE DROGAS E


ASSOCIAÇÃO AO TRÁFICO. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL DE ESPELHAMENTO, VIA WHATSAPP WEB, DAS
CONVERSAS REALIZADAS PELO INVESTIGADO COM TERCEIROS. ANALOGIA COM O INSTITUTO DA
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. IMPOSSIBILIDADE. PRESENÇA DE DISPARIDADES RELEVANTES.
ILEGALIDADE DA MEDIDA. RECONHECIMENTO DA NULIDADE DA DECISÃO JUDICIAL E DOS ATOS E
PROVAS DEPENDENTES. PRESENÇA DE OUTRAS ILEGALIDADES. LIMITAÇÃO AO DIREITO DE
PRIVACIDADE DETERMINADA SEM INDÍCIOS RAZOÁVEIS DE AUTORIA E MATERIALIDADE.
DETERMINAÇÃO ANTERIOR DE ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL. FIXAÇÃO DIRETA DE PRAZO
DE 60 (SESSENTA) DIAS, COM PRORROGAÇÃO POR IGUAL PERÍODO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO. RECURSO PROVIDO.

1. Hipótese em que, após coleta de dados do aplicativo WhatsApp, realizada pela Autoridade Policial mediante
apreensão judicialmente autorizada de celular e subsequente espelhamento das mensagens recebidas e
enviadas, os Recorrentes tiveram decretadas contra si prisão preventiva, em razão da suposta prática dos crimes
previstos nos arts. 33 e 35 da Lei n.º 11.343/2006.

2. O espelhamento das mensagens do WhatsApp ocorre em sítio eletrônico disponibilizado pela própria empresa,
denominado WhatsApp Web. Na referida plataforma, é gerado um tipo específico de código de barras, conhecido
como Código QR (Quick Response), o qual só pode ser lido pelo celular do usuário que pretende usufruir do
serviço. Daí a necessidade de apreensão, ainda que por breve período de tempo, do aparelho telefônico que se
pretende monitorar.

3. Para além de permitir o acesso ilimitado a todas as conversas passadas, presentes e futuras, a ferramenta
WhatsApp Web foi desenvolvida com o objetivo de possibilitar ao usuário a realização de todos os atos de
comunicação a que teria acesso no próprio celular. O emparelhamento entre celular e computador autoriza o
usuário, se por algum motivo assim desejar, a conversar dentro do aplicativo do celular e, simultaneamente, no
navegador da internet, ocasião em que as conversas são automaticamente atualizadas na plataforma que não
esteja sendo utilizada.

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4. Tanto no aplicativo, quanto no navegador, é possível, com total liberdade, o envio de novas mensagens e a
exclusão de mensagens antigas (registradas antes do emparelhamento) ou recentes (registradas após), tenham
elas sido enviadas pelo usuário, tenham elas sido recebidas de algum contato. Eventual exclusão de mensagem
enviada (na opção "Apagar somente para Mim") ou de mensagem recebida (em qualquer caso) não deixa
absolutamente nenhum vestígio, seja no aplicativo, seja no computador emparelhado, e, por conseguinte, não
pode jamais ser recuperada para efeitos de prova em processo penal, tendo em vista que a própria empresa
disponibilizadora do serviço, em razão da tecnologia de encriptação ponta-a-ponta, não armazena em nenhum
servidor o conteúdo das conversas dos usuários.

5. Cumpre assinalar, portanto, que o caso dos autos difere da situação, com legalidade amplamente reconhecida
pelo Superior Tribunal de Justiça, em que, a exemplo de conversas mantidas por e-mail, ocorre autorização
judicial para a obtenção, sem espelhamento, de conversas já registradas no aplicativo WhatsApp, com o propósito
de periciar seu conteúdo.

6. É impossível, tal como sugerido no acórdão impugnado, proceder a uma analogia entre o instituto da
interceptação telefônica (art. 1.º, da Lei n.º 9.296/1996) e a medida que foi tomada no presente caso.

7. Primeiro: ao contrário da interceptação telefônica, no âmbito da qual o investigador de polícia atua como mero
observador de conversas empreendidas por terceiros, no espelhamento via WhatsApp Web o investigador de
polícia tem a concreta possibilidade de atuar como participante tanto das conversas que vêm a ser realizadas
quanto das conversas que já estão registradas no aparelho celular, haja vista ter o poder, conferido pela própria
plataforma online, de interagir nos diálogos mediante envio de novas mensagens a qualquer contato presente no
celular e exclusão, com total liberdade, e sem deixar vestígios, de qualquer mensagem passada, presente ou, se
for o caso, futura.

8. O fato de eventual exclusão de mensagens enviadas (na modalidade "Apagar para mim") ou recebidas (em
qualquer caso) não deixar absolutamente nenhum vestígio nem para o usuário nem para o destinatário, e o fato de
tais mensagens excluídas, em razão da criptografia end-to-end, não ficarem armazenadas em nenhum servidor,
constituem fundamentos suficientes para a conclusão de que a admissão de tal meio de obtenção de prova
implicaria indevida presunção absoluta da legitimidade dos atos dos investigadores, dado que exigir contraposição
idônea por parte do investigado seria equivalente a demandar-lhe produção de prova diabólica.

9. Segundo: ao contrário da interceptação telefônica, que tem como objeto a escuta de conversas realizadas
apenas depois da autorização judicial (ex nunc), o espelhamento via Código QR viabiliza ao investigador de
polícia acesso amplo e irrestrito a toda e qualquer comunicação realizada antes da mencionada autorização,
operando efeitos retroativos (ex tunc).

10. Terceiro: ao contrário da interceptação telefônica, que é operacionalizada sem a necessidade simultânea de
busca pessoal ou domiciliar para apreensão de aparelho telefônico, o espelhamento via Código QR depende da
abordagem do indíviduo ou do vasculhamento de sua residência, com apreensão de seu aparelho telefônico por
breve período de tempo e posterior devolução desacompanhada de qualquer menção, por parte da Autoridade
Policial, à realização da medida constritiva, ou mesmo, porventura - embora não haja nos autos notícia de que
isso tenha ocorrido no caso concreto -, acompanhada de afirmação falsa de que nada foi feito.

11. Hipótese concreta dos autos que revela, ainda, outras três ilegalidades: (a) sem que se apontasse nenhum
fato novo na decisão, a medida foi autorizada quatro meses após ter sido determinado o arquivamento dos autos;
(b) ausência de indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal a respaldar a limitação do direito
de privacidade; e (c) ilegalidade na fixação direta do prazo de 60 (sessenta) dias, com prorrogação por igual
período.

12. Recurso provido, a fim de declarar a nulidade da decisão judicial que autorizou o espelhamento do
WhatsApp via Código QR, bem como das provas e dos atos que dela diretamente dependam ou sejam
consequência, ressalvadas eventuais fontes independentes, revogando, por conseguinte, a prisão
preventiva dos Recorrentes, se por outro motivo não estiverem presos. (RHC 99.735/SC, Rel. Ministra
LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 27/11/2018, DJe 12/12/2018)

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QUESTÕES

1. PC-ES - Delegado de Polícia


Antônio foi preso em flagrante sob a acusação da prática de tráfico de drogas. A polícia apreendeu seu
telefone celular. O Delegado abriu o aplicativo Whatsapp no celular do suspeito e verificou que, nas
conversas de Antônio, as mensagens comprovaram que ele realmente negociava drogas, e assumia a
prática de outros crimes graves. As referidas mensagens foram transcritas pelo escrivão e juntadas ao
inquérito policial, em forma de certidão. Nessa situação hipotética, de acordo com as regras de
admissibilidade das provas no processo penal brasileiro, marque a alternativa CORRETA.
a) é necessário ordem judicial, tanto para a apreensão de telefone celular, como também para o acesso às
mensagens de whatsapp.
b) tendo em vista que é dispensável ordem judicial para a apreensão de telefone celular, também não é
necessária autorização para o acesso as mensagens de whatsapp, visto que se trata de medida implícita à
apreensão.
c) é necessário somente requisição do Ministério Público para o acesso às mensagens de whatsapp.
d) como se trata de procedimento preliminar investigatório, não é necessário a prévia autorização judicial para que
a autoridade policial possa ter acesso ao whatsapp da pessoa que foi presa em flagrante delito.
e) é necessária prévia autorização judicial para que a autoridade policial possa ter acesso ao whatsapp da pessoa
que foi presa em flagrante delito.

MPE-SP - MPE-SP - Promotor de Justiça Substituto (desmembrada)


Com base na orientação jurisprudencial assentada no STJ quanto à ilicitude da prova, é considerada ilícita
a prova:

2. Obtida por meio de revista íntima em estabelecimentos prisionais, por violar o direito à intimidade, quando
realizada conforme as normas administrativas e houver fundada suspeita de tráfico.
( ) certo ( ) errado

3. Obtida através de busca pessoal em mulher realizada por policial masculino, por violar o direito à intimidade,
quando comprovado que a presença de uma policial feminina para a realização do ato importará retardamento da
diligência.
( ) certo ( ) errado

4. Resultante de escuta ambiental realizada por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro, por violar o
direito à intimidade.
( ) certo ( ) errado

PC-ES - Escrivão de Polícia (desmembrada)


Em relação às provas no Processo Penal, julgue os seguintes itens:

5. Em hipótese alguma, o juiz poderá fundamentar sua convicção em elementos informativos colhidos na
investigação.
( ) certo ( ) errado

6. Caso o contraditório e a ampla defesa tenham sido garantidos no inquérito policial, o juiz poderá fundamentar
sua convicção exclusivamente em elementos informativos colhidos na investigação.
( ) certo ( ) errado

7. O juiz poderá fundamentar sua decisão em elementos informativos colhidos na investigação, desde que a
decisão tenha espeque em provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
( ) certo ( ) errado

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