Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A segunda parte trata das provas em espécie, que são os meios de provas
regulamentadas na lei processual penal [interrogatório; testemunhas;
documentos; indícios etc].
1. CONCEITO DE PROVA
Art. 155, CPP. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.
Observem que a lei usa a palavra “prova” para um elemento de informação que
foi submetido ao contraditório judicial [o que envolve também a ampla defesa].
Nessa linha, a doutrina [Aury Lopes Jr. e Pacelli] ensinam que as informações
produzidas na fase preliminar [inquérito ou investigação preliminar] não devem
ser chamadas de “provas”. Na regra processual, esses elementos de
informação não podem ser valorados pelo julgador.
Mesmo quando não for possível repetir a prova na fase judicial, o seu conteúdo
será submetido à ampla defesa e contraditório [exemplos em aula].
Real é o fato da vida já ocorrido. O que se diz sobre esse fato, depois, é uma
versão dele, que pode vir [e não raro virá] com defeitos de percepção das
pessoas que vivem ou testemunham os fatos, e também de quem recolhe as
versões que são dadas aos fatos [como o perito vê o fato é a reprodução fiel
dele? Como a testemunha percebe o fato é correspondente à sua realidade?].
Prof. Jacinto Miranda Coutinho ensina que a prova tem a função de permitir ao
juiz a recognição do fato que é imputado ao réu, ou seja, reconhecer o fato por
meio de outras pessoas que já conhecem os fatos.
1
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597024937/cfi/6/38!/4/16@0:37.5
Meio de prova é a forma como os fatos serão demonstrados. Pode ser prova
oral [testemunha e interrogatório], documental, pericial.
5. OBJETO DA PROVA
O objeto da prova é a coisa, o fato, o acontecimento [principal e secundário]
que deve ser reconhecido e valorado pelo juiz. Fatos inúteis ao julgamento não
devem ser provados.
Não são quaisquer fatos, mas o que versa o caso penal [thema probandum],
conforme a imputação feita pela acusação e as teses apresentadas pela
defesa.
A defesa tem o chamado ônus diminuído, pois não precisa produzir certeza.
Em seu favor, remanesce o benefício da dúvida, em razão da presunção de
inocência.
Ou seja: se a defesa requerer a prova e seu conteúdo lhe for desfavorável, ela
não poderá pedir a sua exclusão ou que não seja valorada pelo juiz.
Nos incisos do art. 156 do CPP se constata que o legislador concedeu ao juiz
poder instrutório.
Além desse dispositivo, vejamos também o art. 212, parágrafo único, do CPP:
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à
testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a
resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na
repetição de outra já respondida.
A doutrina refuta a validade dos incisos I e II do art. 156. Aury Lopes Jr. se
opõe aos dois incisos, defendendo que o juiz não pode ter nenhum poder
probatório, atendendo ao princípio da inércia da jurisdição, da imparcialidade
do juiz, do sistema acusatório e até mesmo do ônus da prova [que é da
acusação].
Súmula 523. No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
2
Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de
investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019) – ESSA REGRA ESTÁ SUSPENSA PELO STF.
Mais. Não há sistema processual algum que vede toda e qualquer
iniciativa probatória ao juiz. Nem mesmo no chamado sistema de
partes (adversary system) do direito estadunidense. Em primeiro lugar,
porque, ali, a regra da inércia absoluta (função de arbitragem) do juiz está
relacionada com a competência reservada ao Tribunal do Júri para o
julgamento de determinadas infrações. Na competência de julgamento
pelo juiz singular, não há vedação expressa à determinação de provas
pelo juiz.
Em segundo lugar, mesmo a gestão da prova ou o controle de legalidade
dela, tal como ali realizado, não deixa de implicar, em certa medida, uma
análise de seu conteúdo, o que poderia permitir uma atividade
probatória negativa, mas de todo influente.3
3
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597024937/cfi/6/38!/4/344/2/2@0:27.0
Esses sistemas foram superados, registrando a doutrina a criação de outros
três sistemas de valoração de provas: o sistema da prova legal [prova tarifada];
o sistema da livre convicção íntima e o sistema da persuasão racional
fundamentado.
4
LOPES, João Batista A prova no Direito Processual Civil. 1. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1999.
Observe-se que o artigo 158, embora exija prova pericial, não estabelece que
ela vale mais do que as demais provas. Nesse caso, não é hierarquicamente
superior. Trata-se de especificidade de prova, não de hierarquia de provas.
No sistema da livre convicção íntima, o juiz é livre para dar às provas o valor
conforme a capacidade de gerar confiança, de produzir certezas. A lei não
define valor predefinido às provas. PORÉM, NA LIVRE CONVICÇÃO ÍNTIMA
O JULGADO NÃO PRECISA FUNDAMENTAR A SUA DECISÃO.
O art. 155, 381, III, 315, §2º, todos do CPP e o art. 93, IX, da Constituição,
determinam o princípio do livre convencimento fundamentado [ou
persuasão racional], em proteção do princípio democrático, do devido
processo legal, da ampla defesa e contraditório, da imparcialidade do
julgador.
Art. 93, IX, CR. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes
e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique
o interesse público à informação; [...].
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário.
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei;
Art. 155, CPP. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Observar que o §2º do art. 315 é cópia do §1º do art. 489 do CPC.
Há proibição de provas no processo penal? Art. 5º, LVI, CR e art. 157, CPP
O art. 157, com redação dada por lei de 2008, buscou definir a prova
ilícita:
ILEGAL
ILÍCITA ILEGÍTIMA
Observar que o §5º, incluído pelo Pacote Anticrime, afasta do julgamento o juiz
que teve contato com a prova ilícita, que pode estar com seu convencimento
contaminado pelo conteúda da prova que não pode ser valorada.
HÁ EXCEÇÕES DE ADMISSIBILIDADE?
Alguns posicionamentos pretendem que seja admitida, quando não houver má-
fé do agente estatal quando da obtenção ou produção da prova [exemplo em
aula], ou quando for a única prova sobre autoria e materialidade de crime
grave.
Mas a prova ilícita pode ser utilizada em favor da defesa, com esteio no
princípio da razoabilidade.
Observar que há situações nas quais a violação de direito fundamental pelo réu
ou em favor dele pode estar amparada pelo estado de necessidade. Nesse
caso, não falamos em “prova ilícita”.
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Art. 8º-A, Lei 9.296/96. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada
pelo juiz, a requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação ambiental
de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando:
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de
execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual
tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
Há casos nos quais a violação não tem amparo em excludente de ilicitude, mas
mesmo assim pode ser introduzida no processo e valorada pelo juiz.
A teoria dos frutos da árvore envenenada já era adotada no Brasil, pelo STF,
antes de ser expressa no §1º do art. 157 do CPP [inclusão em 2008].
As teorias da descoberta inevitável, da fonte independente e do nexo
causalidade atenuado também foram adotadas nos §§1º e 2º do art. 157 do
CPP.
Não há árvore boa que dê mau fruto; nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Pois
cada árvore se conhece pelo seu fruto. Os homens não colhem figos dos espinheiros, nem
dos abrolhos vindimam uvas. [Lucas 6:43-45]
Ocorre que esse local também estava sendo alvo de buscas, de modo que a
sua localização seria inevitável [estava prestes a ser localizado].
Visualmente:
Depoimento
prestado por Prova ilícita –
pessoa diversa, mediante tortura
sem qualquer depoimento
coação
Prova obtida a
partir das duas
outras fontes, que
são independentes
uma da outra.
Para garantir segurança jurídica, a doutrina aponta a necessidade de que a
fonte independente já tenha existência quando for produzida a prova ilícita. Ou
seja: se for possível que as autoridades obtenham a informação ilicitamente e,
após, possam ir buscar uma fonte independente lícita, poderia haver uma
mitigação da teoria dos frutos da árvore envenenada.
Essa teoria consta do §1º do art. 157, mas o legislador, na redação da norma,
mais uma vez, não agiu com a melhor técnica. Observe-se que admite o
afastamento da teoria dos frutos da árvore envenenada quando não houver
nexo de causalidade entre as provas [a ilícita e a “derivada”].
Nesse caso, várias pessoas foram presas sem mandado judicial sob suspeita
de tráfico de drogas. Mediante coação, uma pessoa presa acabou confessando
e indicando Wong Su como traficante.
Wong também foi ilegalmente preso e sofreu coação física e mental para
confessar. Contudo, em razão da ilegalidade dos atos, foram todos soltos e
declaradas inadmissíveis as provas.
Ainda que a redação do §1º do art. 157 do CPP padeça de mais clareza,
comprometendo a segurança jurídica, o STJ admite a aplicação da teoria
quando: