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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

4ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI


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Apelação Criminal n° 0002760-41.2019.8.16.0128 Ap


Juizado Especial Criminal de Paranacity
Apelante(s): MARCILENE DA SILVA
Apelado(s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
Relator: Leo Henrique Furtado Araújo

APELAÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 129 E 147 AMBOS DO CÓDIGO PENAL. CRIME


DE LESÕES CORPORAIS DE NATUREZA LEVE E CRIME DE AMEAÇA.
SENTENÇA CONDENATÓRIA. INSURGÊNCIA DA RÉ. RECURSO DA DEFESA.
PLEITO DE NULIDADE DA AÇÃO PENAL A PARTIR DA DESIGNAÇÃO DA
AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO.ACOLHIMENTO. AUSÊNCIA DE
INTIMAÇÃO DA RÉ PARA REALIZAÇÃO DE SEU INTERROGATÓRIO.
NULIDADE. PREJUÍZO CONSTATADO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.
RECONHECIMENTO DE OFÍCIO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
EM ABSTRATO. ARTIGO 107, INCISO IV, DO CÓDIGO PENAL. AUSÊNCIA DE
MARCO INTERRUPTIVO DESDE A DATA DO FATO. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

Trata-se de Apelação Criminal interposta por MARCILENE DA SILVA contra sentença que a
condenou pela prática dos delitos previstos nos arts. 129, caput, e 147, ambos do Código Penal, à pena de
04 (quatro) meses de detenção, em regime aberto.

A recorrente pugna, preliminarmente, pela nulidade por ausência de intimação pessoal para a audiência
de instrução e julgamento, na qual foi decretada sua revelia. No mérito, pretende sua absolvição com
relação ao crime de lesão corporal, sob o argumento de que agiu em legítima defesa; com relação ao
crime de ameaça, requer seja absolvida por atipicidade da conduta; subsidiariamente, pretende a
aplicação da suspensão da pena, eis que preenche os requisitos do art. 77 do Código Penal.

Contrarrazões apresentadas no evento 177.1. Parecer do Ministério Público atuante junto às Turmas
Recursais do Estado do Paraná no evento 13.1 (da guia “movimentações”) opinando pela nulidade
absoluta da presente ação penal, bem como pela extinção da punibilidade, ante a ocorrência da prescrição
in abstrato da pretensão punitiva do Estado, nos termos dos arts. 107, inciso IV (1.ª figura), 109, incisos
V e VI, e 114, incisos I e II, todos do Código Penal, e no art. 61, do Código de Processo Penal.

É o sucinto relatório.

Passo ao voto.

Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, deve o recurso ser conhecido

Quanto à preliminar de nulidade absoluta, assiste razão a recorrente.

Preliminarmente, verifica-se a necessidade de que seja anulada a ação penal a partir da designação da
audiência de instrução e julgamento, dada a ausência de adequada intimação da ré para que comparecesse
ao seu ato e, assim, prestasse seu interrogatório.
Conforme se verifica no respectivo Termo de Audiência costado ao evento 114.1, foi decretada a revelia
da acusada. No entanto, em que pese não tenha comparecido para prestar sua versão dos fatos, verifica-se
que não foi devidamente intimada da audiência de instrução e julgamento, vez que esta foi recebida por
sua filha.

Portanto, conclui-se que deve ser declarada a nulidade da audiência de instrução e julgamento designada
para 23/11/2021.

Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:

APELAÇÃO CRIME – SENTENÇA CONDENATÓRIA PELA PRÁTICA DO CRIME DE


AMEAÇA – ARTIGO 147, DO CÓDIGO PENAL – INSURGÊNCIA DA DEFESA. 1)
PRELIMINAR – MANIFESTAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA
PARA RECONHECIMENTO, DE OFÍCIO, DE NULIDADE DO FEITO –
ACOLHIMENTO - NULIDADE A PARTIR DO DECRETO DE REVELIA - DECRETO
DE REVELIA SEM A REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS COMPLEMENTARES –
AUSÊNCIA DE EXPEDIÇÃO DE INTIMAÇÃO DO ACUSADO PARA
COMPARECIMENTO EM AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO –
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO – PRECEDENTES - RECURSO PREJUDICADO. 2) HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS – ARBITRAMENTO EM SEDE RECURSAL.DE OFÍCIO,
RECONHECIMENTO DE NULIDADE.RECURSO PREJUDICADO. ARBITRAMENTO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. (TJPR - 1ª Câmara Criminal - 0002584-12.2020.8.16.0101
- Jandaia do Sul - Rel.: JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU MAURO
BLEY PEREIRA JUNIOR - J. 12.08.2023). Grifei

Sendo assim, reconhecida a nulidade absoluta da ação a partir da audiência de instrução e julgamento,
nos termos dos artigos 66 e 67 ambos da Lei n.º 9.099/1995, nulificam-se todos os atos processuais
subsequentes .

Via de consequência, verifica-se que restaram prescritos.

A recorrente foi acusada pela prática das condutas previstas artigos 129, caput, e 147, ambos do Código
Penal, as quais preveem penas de “detenção, de três meses a um ano” e “detenção, de um a seis meses,
ou multa”, respectivamente.

Verifica-se, portanto, que a prescrição da pretensão punitiva do Estado, a teor do disposto no art. 109,
incisos V e VI, do Código Penal, ocorre em 4 (quatro) e 3 (três) anos.

O fato se deu em 21/04/2019 e, até o presente momento, transcorreram mais de 4 (quatro) anos, não
tendo sido verificadas, desde então, quaisquer causas de interrupção ou suspensão.

Assim, uma vez que a pretensão punitiva se encontra fulminada pela prescrição, deve ser declarada
extinta a punibilidade da acusada, consoante artigo 107, inciso IV, do Código Penal.

Diante do exposto, o voto é pelo provimento do recurso, a fim de declarar a nulidade do feito a partir da
audiência de instrução e julgamento e todos os atos processuais subsequentes, declarando-se, de ofício, a
extinção da punibilidade da recorrente, em decorrência do reconhecimento da prescrição punitiva, com
fundamento nos artigos 109, inciso VI, e 107, inciso IV, ambos do Código Penal.

Por fim, fixo os honorários advocatícios ao defensor dativo nomeado, no valor de R$ 400,00
(quatrocentos reais), nos termos da Tabela de Honorários da Advocacia Dativa do Estado do Paraná e
Resolução Conjunta nº 015/2019-PGE/SEFA.

Dispositivo
Ante o exposto, esta 4ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve, por unanimidade dos
votos, em relação ao recurso de MARCILENE DA SILVA, julgar pelo(a) Com Resolução do
Mérito - Provimento nos exatos termos do voto.
O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Marco Vinícius Schiebel, com voto, e dele
participaram os Juízes Leo Henrique Furtado Araújo (relator) e Aldemar Sternadt.

Curitiba, 02 de fevereiro de 2024

Leo Henrique Furtado Araújo


Juiz Relator

Tci

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