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EXCELENTISSIMO JUIZ DE DIREITO DA 9º VARA CRIMINAL DE

PLANALTINA DISTRITO FEDERAL

Sob o processo N º: XXXXXXX

Caio Soneca, brasileiro, divorciado, ajudante de pedreiro, nascido em


Juazeiro da Bahia, em 07/09/1938, residente e domiciliado em Planaltina-DF, vem, por
intermédio de seu advogado abaixo assinado (procuração anexa), perante Vossa
Excelência, com fulcro no art. 403, § 3º do Código de Processo Penal, apresentar suas

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

Pelos motivos de fato e de direito expostos abaixo:

1. DOS FATOS
De janeiro de 2007 a 04 de abril de 2009, em Planaltina – DF, o denunciado
Caio Soneca, deixou por longos períodos, diversas vezes e sem nenhum motivo
aparente, de prover a subsistência do seu filho Jorge de Tal, menos de 18 anos, não
ajudando em nada no seu sustento, deixando de pagar a pensão alimentícia fixada nos
autos dos processos n° 001/2005, 5ª Vara de Família de Planaltina (Ação de alimentos)
e executada nos autos do processo n° 002/2008 no mesmo juízo. Arrola como
testemunha Maria de Tal, mãe e representante legal da vítima.
A denúncia foi recebida no dia 03 de novembro de 2009, tendo o réu sido
citado e apresentado no prazo legal de próprio punho, visto que não tinha condições de
encontrar advogado sem prejuízo do seu sustento e da sua família, pois como afirmam
as testemunhas Margarida e Clodoaldo que o conhecem a mais de 30(trinta) anos, o
denunciado é ajudante de pedreiro e ganha 1 salário mínimo por mês e é o único
provedor do sustento da família, que é formada por sua esposa e outros filhos menores,
fora a pensão alimentícia que deve ser paga a Jorge de Tal.
2. DAS PRELIMINARES
2.1 DA CONCESSÃO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
A suspensão condicional do processo é um benefício trazido pela Lei
9.099/95 que permite a suspensão do processo que será proposta quando a pena mínima
for igual ou inferior a um ano e o acusado não esteja sendo processado ou não tenha
sido condenado por outro crime, segundo o art. 89 da Lei supracitada, senão vejamos:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da pena.

Além disso, sabe que é necessário que o acusado atenda aos requisitos
presentes no art. 77 do Código Penal e não seja indicada ou cabível a substituição
prevista no art. 44 do mesmo dispositivo legal, veja:

Art. 77 – (...)
II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do
benefício;
III – Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste
Código.

Desse modo, o denunciado atende aos requisitos exigidos para a


concessão do benefício de suspensão do processo e por isso REQUER que Vossa
Excelência digne-se a conceder.

2.2 DA PRELIMINAR DE NULIDADE POR AUSÊNCIA DE RESPOSTA DO


RÉU
A resposta à acusação é uma formalidade que constitui elemento essencial
do processo, é o meio eficiente de garantir que o acusado possa expor em juízo a sua
defesa.
Nesse sentido, nos termos do caput do art. 396-A do Código de Processo
Penal, é a oportunidade para que o acusado possa alegar tudo que interesse à sua defesa,
como arguir preliminares, especificar as provas e documentos pretendidos, bem como
arrolar testemunhas e requerer sua intimação, quando necessário. 
A própria oportunidade de defesa aos acusados é garantia judicial,
conforme estabelece o art. 5°, inciso LV da Constituição Federal, in verbes:

ART. 5°, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;

Ante o exposto, considerando que apesar do acusado ter apresentado – a


próprio punho –, resposta à acusação, não foi considerada válida por não ter sido
apresentada por advogado plenamente constituído, prejudicando-o de maneira
irremediável.
À vista disso, por se tratar de ato obrigatório, deve-se observar os
parâmetros corretos do devido processo legal. Dessa forma, à luz do art. 396-A, § 2° do
CPP, o juiz deve nomear um defensor para oferecê-la no prazo de dez dias, veja:

Art. 396-A (...) § 2° Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o


acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para
oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.

Nesses termos, é nítida a NULIDADE do ato pelo prejuízo evidente, já


que o acusado não detinha condições financeiras para contratar um advogado, e a
Defensoria Pública não foi intimada para oferecer a peça.

2.3 DA PRELIMINAR DE NULIDADE POR AUSÊNCIA DE DEFESA


TÉCNICA. DO PRINCIPIO DA AMPLA DEFESA.
Diante dos fatos narrados, demonstra-se que o acusado não usufruiu de
seu direito de defesa técnica, sendo este um direito indeclinável no processo penal
condenatório; bem como, a inobservância do magistrado quanto ao artigo 564, inciso
III, alínea “c”, do Código de Processo Penal. Veja-se:

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente,
e de curador ao menor de 21 anos;

No mesmo sentido, a sumula n° 523, do Supremo Tribunal Federal, aduz:


Sumula 523: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para
o réu.

Considerando que, a ausência de defesa técnica exclui a garantia de um


processo justo, do contraditório e que, através deste, o acusado se manifeste. Como
entende Antônio Scarance Fernandes, vejamos:

“[...], a defesa e o contraditório são manifestações simultâneas, intimamente


ligadas pelo processo, sem que daí se possa concluir que uma derive da
outra.”

Por força do princípio da ampla defesa o acusado deverá possuir defesa


técnica. Esta defesa está diretamente ligada ao contraditório, ou seja, o exercício da
ampla defesa é possível em virtude dos elementos de composição do contraditório.
Portanto, não há que se falar, quanto ao acusado, em processo, sendo que este não
possui a devida defesa técnica.
Por fim, a ausência de defesa técnica, sendo esta necessária, indeclinável
plena e efetiva, gera NULIDADE ABSOLUTA ao processo, não sendo possível que o
acusado seja processado sem que à possua.

2.4 DA PRELIMINAR DE NULIDADE POR AUSÊNCIA DE


INTERROGATÓRIO
Diante dos fatos expostos anteriormente é nítido que o acusado não obteve
seu direito previsto em norma, sendo esse o assente entendimento de que o
interrogatório é instrumento de defesa do acusado, de uma perspectiva garantista,
sendo pautado nos Direitos fundamentais, sendo de fundamental importância a
efetividade da realização do interrogatório na fase de instrução garantido no processo,
assim, possível a nulidade pela a ausência desse ato processual.
De acordo com o artigo 185, do Código de processo Penal é previsto ao
acusado o interrogado com o seu defensor, seja ele constituído ou nomeado, veja:

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no


curso do processo penal, será qualificado e interrogado na presença de
seu defensor, constituído ou nomeado.
Juntamente, o artigo 564, III, alínea e, do Código de Processo Penal, traz
em seu texto, veja:

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


[...]
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
[...]
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório , quando
presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa;

Assim, uma vez que não é oportunizada a defesa ao acusado, poderá


trazer infestável prejuízo ao mesmo, portanto, gerando NULIDADE ABSOLUTA,
devendo assim a sentença ser desconstituída.

3. DO MÉRITO
A) ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
Primeiramente, ressalta-se a hipótese de absolvição sumária do Acusado ante a
incidência do artigo 386, III, do CPP, haja vista que no caso em tela não há a prática
de crime, em virtude de que não houve a paralização total dos pagamentos, mas
tão somente o atraso, senão vejamos:

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva,


desde que reconheça:
(...)
III - não constituir o fato infração penal;

Posto isto, destaca-se que a Genitora reconheceu que o Acusado realizava os


depósitos dos valores devidos de forma parcelada, entretanto, em razão de estar
aborrecida porque o Acusado constituiu nova família, a Genitora denunciou o Acusado.
Diante disso, é mister salientar que, além dos 6 (seis) filhos menores sob sua
tutela, o Acusado possuía problemas cardíacos e gastava grande parte do seu salário
para custear os remédios necessários para a sua sobrevivência.

B) DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA
Além disso, acaso superado o argumento supracitado, o que não se espera, é
necessário pontuar que o artigo 44, II e III, do Código Penal dispõe acerca da
possibilidade de substituição das penas privativas de liberdade pelas penas restritivas de
direito quando o Acusado não for reincidente em crime doloso, a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do acusado, bem como os motivos e as
circunstâncias do caso, indicarem que a substituição é suficiente, senão vejamos:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as


privativas de liberdade, quando:
(...)
II - o réu não for reincidente em crime doloso;
III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.

Logo, em razão do Acusado ser réu primário e possuir bons antecedentes,


REQUER-SE que seja substituída a privativa de liberdade pela pena restritiva de
direito.

4. DOS PEDIDOS
Diante de todo exposto, vêm perante Vossa Excelência, requerer:
a) que seja reconhecida a nulidade do processo desde a citação, com fulcro no art.
564, III, c, e, do CPP;
b) no caso de não atendido tal benefício, a avaliação do processo desde o
oferecimento da resposta acusação do réu, por falta de defesa técnica,
indispensável no processo;
c) em caso de não avaliação, a defesa pleiteia a realização imediata de
interrogatório do réu;
d) caso não seja julgado procedente as preliminares, a defesa pede a absolvição do
acusado com fulcro no art. 386, III, CPP;
e) na hipótese de não absolvição, a defesa pleiteia a acusação da agravante e o
reconhecimento da atenuante conforme o art. 65, I, do CP, juntamente com a
fixação da pena mínima sobre o regime menos gravoso.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Planaltina – DF, 09 de agosto de 2010.

Advogado
OAB n° XX.XXX

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