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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA

$[PROCESSO_VARA] VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


$[PROCESSO_COMARCA] - $[PROCESSO_UF]

Processo nº $[processo_numero_cnj]

$[parte_autor_nome_completo],
$[parte_autor_nacionalidade],
$[parte_autor_estado_civil],
$[parte_autor_profissao], $[parte_autor_cpf],
$[parte_autor_rg], residente e domiciliada a rua
$[parte_autor_endereco_completo], por sua
advogada, $[advogado_nome_completo], inscrito na
OAB sob nº $[advogado_oab], com escritório
profissional na $[advogado_endereco], onde recebe
avisos e intimações em geral, vem muito
respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
responder a acusação, através de sua

DEFESA PRÉVIA
1) DOS FATOS

Trata-se de ação penal movida pelo Ministério Público na qual se imputa


ao acusado a prática delitiva prevista no artigo 157, §2º, inciso II, do Código
Penal.

Cabe ressaltar, que encontra-se nos autos que o acusado, e primário,


trabalha conforme declaração de trabalho, tem residência, fixa, acabou de realizar
seu alistamento militar, e estuda, no tocante que a prisão, traz ao mesmo
inúmeros problemas.

2) DA PRISÃO

a) REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA: ausência de


fundamento concreto para tanto

Com a devida vênia, a decisão sobre prisão preventiva do acusado não


logrou demonstrar analiticamente o preenchimento de cada um dos requisitos
legais desta medida cautelar, com as particularidades do caso concreto.

Não cabe o apontamento de frases generalistas como fundamento de


medida cautelar de tal gravidade ao acusado, sob pena de ausência de
fundamentação, violando de norma expressa no artigo 93, inciso IX, da
Constituição Federal.

A decisão (fls.29/31) que converteu a prisão em flagrante delito em


preventiva utilizou como motivação a garantia da ordem pública.
Permito-me refutar o argumento do Magistrado de que em liberdade o
acusado sentir-se-ia estimulado a praticar novos crimes, porquanto tal
argumento não se coaduna com os elementos de convicção disponíveis.

$[parte_autor_nome_completo] possui 18 anos e NUNCA foi condenado


criminalmente. Portanto, é RÉU PRIMÁRIO, não podendo se inferir que faz do
crime sua atividade profissional.

Suposições acerca do que o acusado possa vir a fazer se permanecer solto


não justifica a segregação cautelar imposta ao acusado. Exige-se fundamentação
concreta e idônea e não mero juízo de probabilidade.

É necessário insistir em que, diante de tais condições, ainda que tivesse


efetivamente participado do ilícito em questão, nem assim seria caso de prisão
provisória. Nestes casos, o encarceramento do cidadão e a sua permanência entre
os condenados “esses, sim” representarão importantes elementos de deterioração
de sua personalidade.

É essencial relembrarmos que os requisitos da prisão preventiva (garantia


da ordem pública, conveniência da instrução processual e preservação da
aplicação da lei penal) não podem ser invocados abstratamente a fim de cercear
a liberdade do requerente, não sendo tal necessidade suprida pelo apelo à
gravidade objetiva do fato criminoso imputado.

E mais, prisão provisória é medida cautelar e não adiantamento de pena.


E não há demonstração de que o agente esteja a conturbar o andamento do feito
ou a inibir a aplicação da lei penal.

Assim sendo, não há dados concretos na decisão de fls. 29/31 que


demonstram não ser possível a substituição da prisão preventiva pelas medidas
cautelares previstas no art. 319 do CPP (por exemplo, incisos I, IV e V:
comparecimento periódico em Juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo Juiz
para informar e justificar atividades; proibição de ausentar-se da comarca
quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou
instrução; e, recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga).

Postula-se, portanto, que seja revogada a prisão preventiva do acusado, a


fim de se ver processar livre e assim responder a todos os atos processuais.
Preenchendo as condições para tal, requer seja atendido o pedido ora formulado,
após cumpridas as formalidades legais, expedindo-se o competente alvará de
soltura.

3) DA GRATUIDADE DA PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL

Dos autos, constata-se que o denunciado não possui condições de arcar


com as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

Assim sendo, faz jus à justiça gratuita, nos moldes do art. 2º da Lei
1.050/60, que poderá ser revogada caso, ao longo do processo, se constate
condição diversa.

4) DO DIREITO

a) Nulidade da decisão de recebimento da denúncia:


ausência de fundamentação
A inicial acusatória foi recebida por este Juízo nos seguintes termos:
“Recebo a peça acusatória, porquanto preenchidos os requisitos exigidos pelo art.
41 do Código de Processo Penal e ausentes as hipóteses do artigo 395 do mesmo
diploma processual”(fl. 84).

A Constituição Federal, por sua vez, no seu artigo 93, inciso IX, dispõe
acerca da imprescindibilidade da fundamentação das decisões judiciais, sob pena
de nulidade do decisum. No caso dos autos, entretanto, extrai-se a absoluta
ausência de qualquer fundamento a embasar um juízo de admissibilidade da
persecução penal. E nem se diga que ato judicial que admite uma acusação
constitui mero despacho. Fazer o juízo positivo de admissibilidade de uma
acusação criminal coloca o sujeito passivo na posição jurídica de acusado, do que
advêm consequências não só processuais como também materiais.

Ademais, o recebimento da acusação produz inegável carga negativa,


verdadeiras penas processuais, conforme lição de Aury Lopes Jr., tais como a
estigmatização social e jurídica, constrangimento, angústia e sofrimento
psíquico. Deveras, submete os acusados a uma verdadeira cerimônia degradante
ínsita à ritualização judicial do processo penal, como lembrado por Sérgio
Salomão Shecaira.

Essa mera admissão da denúncia pode, ainda, a depender do caso, sujeitar


o acusado à exposição midiática, submetendo-o à execração pública e, por vezes,
condená-lo à morte social. E o que é mais frequente, repercute de maneira
drástica na vida profissional do réu, porque não raro constitui óbice (ainda que
velado) à obtenção de emprego/trabalho, estreitando ainda mais as suas vias
lícitas de sobrevivência. A explícita previsão constitucional do estado de
inocência (CRFB/88, art. 5º, LVII) é letra morta nas relações sociais. Aliás, se é
inobservada até mesmo pelo Poder Público (e.g., desclassificação de candidatos-
réus em concursos públicos por “má conduta social”) e, por vezes, até mesmo
pelo Poder Judiciário ao desprezar o disposto no Verbete nº 444 da Súmula da
Jurisprudência do STJ, o que dirá pela iniciativa privada e pela sociedade civil.

É evidente que não se desconhece a orientação jurisprudencial das Cortes


Superiores no sentido de dispensarem “fundamentação complexa no despacho
de recebimento da denúncia”(STJ, HC 171117/PE), fato que não autoriza, pelas
razões supracitadas, a reprodução irrefletida deste posicionamento
flagrantemente inconstitucional, que viola, a um só tempo, os deveres de
publicidade e de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX, CF) e as garantias
fundamentais do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, CF).

Em decisão, em 25.08.2015, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça


reconheceu que “a decisão de recebimento da denúncia possui natureza
interlocutória, prescindindo de fundamentação complexa (Precedentes)”(RHC
59.759/SC), referindo que “nem mesmo de forma concisa, ressaltou a presença
dos requisitos viabilizadores da ação penal. Deixou de verificar a presença dos
pressupostos processuais e das condições da ação, tampouco tratou da existência
de justa causa para o exercício da ação penal, limitando-se a cuidar da presença
dos pressupostos intrínsecos à peça processual”, em Recurso Ordinário
Constitucional interposto pela Defensoria Pública do Estado de Santa Catarina.

FURTO (ART. 155, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL). TRANCAMENTO DA


AÇÃO PENAL, POR ALEGADA FALTA DE JUSTA CAUSA
(INOCORRÊNCIA). RECEBIMENTO DA DENÚNCIA (AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO). CONSTRANGIMENTO ILEGAL (CASO). RECURSO
ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS (PROVIMENTO).

1. O trancamento da ação penal, por meio do habeas corpus – ou do recurso ordinário


em habeas corpus – é medida de exceção, sendo cabível tão-somente quando, de forma
inequívoca, emergirem-se dos autos a atipicidade da conduta, a inocência do acusado
ou, ainda, quando for impedida a compreensão da acusação, em flagrante prejuízo à
defesa do acusado (Precedentes). Essas circunstâncias, a propósito, não podem ser
evidenciadas, de plano, da ação penal de origem.
2. A decisão de recebimento da denúncia possui natureza interlocutória, prescindindo
de fundamentação complexa (Precedentes).

3. Caso em que o julgador, nem mesmo de forma concisa, ressaltou a presença dos
requisitos viabilizadores da ação penal. Deixou de verificar a presença dos
pressupostos processuais e das condições da ação, tampouco tratou da existência de
justa causa para o exercício da ação penal, limitando-se a cuidar da presença dos
pressupostos intrínsecos à peça processual, nestes termos: “Recebo a denúncia, pois a
peça acusatória preenche todos os requisitos do art. 41 do CPP”.

4. A propósito, ponderou o próprio Parquet Federal: “a decisão que recebeu a denúncia


não analisou, sequer sucintamente, os requisitos necessários para o início da
persecução penal. A decisão ora analisada deixa de analisar, portanto, além da justa
causa para a persecução penal, a possibilidade de absolvição sumária. Impõe-se a
anulação da decisão, para que sejam satisfeitas as exigências da lei processual penal,
viabilizando uma defesa ampla em favor do acusado”.

5. “A falta de fundamentação não se confunde com a fundamentação sucinta.


Interpretação que se extrai do inciso IX do art. 93 da CF/88” (STF, Segunda Turma,
AgRg no HC- 105.349/SP, Rel. Min. Ayres Britto, DJ de 17/2/2011).

6. Na nova sistemática processual penal, há a resposta preliminar. Logo, os


argumentos desenvolvidos devem ser minimamente rechaçados, sobretudo se
guardarem correspondência com o disposto no art. 397 (incisos) do CPP.

7. Recurso provido. (RHC 59.759/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA


FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 18/08/2015, DJe 25/08/2015)

Nesse sentido, no julgamento do Habeas Corpus nº 84.919-SP, publicado


no DJ em 26.03.2010, o Supremo Tribunal Federal entendeu ser nula a decisão
que não fundamenta a admissibilidade da peça acusatória, asseverando que “um
mínimo de motivação, diante do grau de certeza exigido nessa fase, deve ser
cumprido pelo magistrado”:

AÇÃO PENAL. Funcionário público. Defesa preliminar. Oferecimento. Denúncia.


Recebimento. Decisão não motivada. Nulidade. Ocorrência. Habeas corpus concedido
para anular o processo desde o recebimento da denúncia. Oferecida defesa preliminar,
é nula a decisão que, ao receber a denúncia, desconsidera as alegações apresentadas.
(STF – HC: 84919 SP, Relator: Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento:
02/02/2010, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-055 DIVULG 25-03-2010
PUBLIC 26-03-2010 EMENT VOL-02395-02 PP-00563)

Tudo isso para concluir que o ato judicial que admite uma acusação
criminal constitui uma decisão interlocutória, que acarreta graves prejuízos ao
réu, ainda que lícitos, e que, por isso mesmo, não prescinde de fundamentação
idônea, vale dizer, que explicite, em juízo de cognição sumária, as razões fáticas
e jurídicas que justifiquem concretamente o recebimento da peça acusatória.
Somente conhecendo as razões do recebimento da denúncia poderá o acusado
impugná-la na forma autorizada pelo art. 648, inciso I, do Código de Processo
Penal.

Requer-se, pois, o reconhecimento da nulidade da decisão de recebimento


da denúncia para que outra seja prolatada em seu lugar, desta feita explicitando
as razões fáticas e jurídicas do indeferimento ou recebimento do petitório
inaugural.

b) DO MÉRITO

Quanto ao mais, o signatário restringe-se em dizer que não são


verdadeiros os fatos descritos na peça pórtico, consoante restará provado na
instrução do feito, a fim de não antecipar qualquer argumento de defesa, o que
poderá trazer prejuízos ao acusado.

5) DO PEDIDO
Diante do exposto, o acusado, requer:

a) o recebimento da resposta à acusação e a intimação pessoal de sua


advogada;

b) a revogação da prisão preventiva do acusado, a fim de se ver processar


livre e assim responder a todos os atos processuais. Preenchendo as condições
para tal, requer seja atendido o pedido ora formulado, após cumpridas as
formalidades legais, expedindo-se o competente alvará de soltura;

c) o reconhecimento da nulidade da decisão de recebimento da denúncia


para que outra seja prolatada em seu lugar, desta feita explicitando as razões
fáticas e jurídicas do indeferimento ou recebimento do petitório inaugural;

d) arrolar as mesmas testemunhas da denúncia; requerendo-se a


substituição, oportunamente, se necessária;

e) por fim, a concessão da gratuidade de justiça, nos termos da Lei


1.060/50.

Nestes Termos
P. Deferimento,

$[advogado_cidade], $[geral_data_extenso].

$[advogado_assinatura].

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