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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE UBÁ-MG

Processo nº 5012799-87.2023.8.13.0699

URGENTE
RÉU
PRESO

WENDELL FERREIRA DE SOUZA, brasileiro, solteiro, alimentador de linha


de produção, portador do CPF nº 162.756.586-81 e RG nº MG 24037242,
residente e domiciliado na Rua Maria da Glória Araújo, número 1235,
Bairro Altair Rocha, Ubá-MG, CEP: 36502-330 por intermédio de suas
advogadas que a esta subscreve (procuração em anexo), com escritório
localizado na Rua. Coronel Bernardino Carneiro 433, Centro, vem, perante
Vossa Excelência, formular o presente

PEDIDO DE REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA


com fundamento no que preconiza o art. 5º. LXV, da Constituição Federal,
e art. 310, Parágrafo único, c/c art. 316, ambos do Código de Processo Penal
pelos fatos e fundamentos que passa a expor:
DOS FATOS
O postulante foi preso em flagrante no dia 29/11/23, sendo acusado de ter
cometido o suposto crime de tráfico (art. 33, lei 11.343/06) indicado pela
autoridade policial, conforme o auto de prisão em flagrante delito (doc.
10126832164).
Acontece que, o requerente é réu primário, com 19 (dezenove) anos de
idade e sem nenhum histórico de antecedentes criminais, (doc. Anexo) não
faz parte de qualquer organização criminosa, muito menos, se dedica a
atividades criminosas, implicando assim, em última hipótese, no
denominado tráfico privilegiado (art. 33, § 4, Lei de Drogas). Sabe-se que o
tráfico privilegiado não é crime hediondo, conforme decisão do STF.
Contudo, distante de atender aos princípios da legalidade, necessidade,
proporcionalidade e razoabilidade e, principalmente, o caráter de ultima
ratio da prisão preventiva, a autoridade judicial assim converteu a prisão
em flagrante em preventiva, contribuindo para a ineficácia das normas
jurídicas e sem indicar qual o requisito que fundamentou a sua genérica
decisão, o que enfraquece a alegação de cumprimento à regra disposta no
artigo 312, do CPP.
Desta forma, Vossa Excelência, data vênia o douto juízo, a prisão preventiva
deve ser revogada, na forma do art. 316 do CPP, eis que ausentes os
motivos para a subsistência da respectiva prisão cautelar de urgência.
Isto, pois, conforme se comprova nos documentos anexos, o acusado é
primário e de bons antecedentes, isto é, jamais foi condenado
criminalmente por quaisquer crimes, conforme se constata nos
antecedentes criminais anexos - estadual e federal (doc. anexo); tem boa
conduta social, uma vez que se trata de pessoa com bom comportamento
em seu meio social e em suas atividades concernentes ao trabalho.
Além disso, o requerente possui residência fixa junto com sua mulher e está
a espera de um filho no inicio de 2024 (doc. anexo) e tem ocupação lícita,
visto que o mesmo é alimentador de linha de produção (doc. anexo).
Assim, conforme ficará demonstrado, a decretação da prisão preventiva
deve ser devidamente revogada, devendo o requerente ser posto
imediatamente em liberdade, uma vez que se encontra recolhido – sem
necessidade, visto que não restaram preenchidos os requisitos constantes
no art. 312 do CPP – no Presídio de Ubá- MG

DOS FUNDAMENTOS
DA AUSÊNCIA DE QUAISQUER REQUISITOS AUTORIZADORES DO
DECRETO DE PRISÃO PREVENTIVA
Sabe-se que a prisão no Ordenamento Jurídico Brasileiro somente pode ser
decretada em última hipótese; a prisão tem caráter de ultima ratio. Quanto
à prisão preventiva, tem-se que esta somente pode ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da
instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria (art. 312
CPP).
Observa-se que na decretação da prisão preventiva, o juízo não deve se
ater, simplesmente, na gravidade do delito hipoteticamente imputado, mas
sim nos requisitos enumerados taxativamente pelo art. 312 do CPP.
Conforme será demonstrado a seguir, não restou configurado os requisitos
para a decretação da prisão preventiva.
Contudo, a autoridade judicial converteu a prisão em flagrante em
preventiva, sem qualquer fundamentação plausível. Sua Excelência,
simplesmente, fundamentando a conversão, limitou-se a afirmar que: “No
caso, estão presentes os requisitos da prisão preventiva, qual seja o fumus
boni iuris delicti e periculum libertatis. Além disso, a prisão preventiva é
necessária para garantia da ordem pública, para conveniência da instrução
processual e para assegurar a aplicação da lei penal”, e conclui: “Assim,
outras medidas cautelares alternativas à prisão seriam inadequadas e
inócuas no caso concreto”.
Observa-se, que o magistrado apenas repetiu a letra fria da lei, não
demonstrando razões objetivas, tampouco motivos concretos, que
justificassem a respectiva decisão.
Sobre o tema, é uníssono o entendimento jurisprudencial no sentido de que
a decretação da prisão preventiva deve fundar-se em razões objetivas,
demonstrativas da existência de motivos concretos. Não basta como
fundamento dizer que é para garantia da ordem pública, por conveniência
da instrução criminal e/ou para assegurar a aplicação da lei penal,
repetindo a letra fria da lei (NILTON RAMOS, 2002).
Vejamos o que já decidiu a jurisprudência:
“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA.
PRESSUPOSTOS. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. A prisão preventiva,
medida extrema que implica sacrifício à liberdade individual, concebida com
cautela à luz do princípio constitucional da inocência presumida, deve
fundar-se em razões objetivas, demonstrativas da existência de motivos
concretos, suscetíveis de autorizar sua imposição. Meras considerações sobre
a periculosidade da conduta e a gravidade do delito, bem como à necessidade
de combate à criminalidade não justificam a custódia preventiva, por não
atender aos pressupostos inscritos no art. 312, do CPP. Recurso ordinário
provido. Habeas Corpus concedido.” (RHC nº 5747-RS, Relator Ministro
Vicente Leal, in DJ de 02.12.96, p. 47.723)”
Conforme já citado, não se vislumbra neste caso concreto, de antemão,
quaisquer motivos autorizadores da custódia preventiva.
Em primeiro lugar, tem-se que a ordem pública não se encontra
comprometida em uma provável soltura do requerente. Sabe-se que este
fundamento consiste em buscar impedir que o agente continue a delinquir,
pondo em risco a segurança da sociedade. Ora, não é razoável pensar que
um cidadão com 19 (dezenove) anos de idade que jamais foi réu em
qualquer outro processo, sendo, portanto, réu primário e de bons
antecedentes, venha por em risco a ordem pública.
De mais a mais, é notável o entendimento de que a manutenção da prisão
pelo argumento da ordem pública não pode e não deve ser definida por um
critério subjetivo e temerário de “gravidade de delito”, mas sim por
critérios objetivos que garantam que o acusado voltará a cometer outros
delitos, pondo em risco a segurança da sociedade.
Inclusive, o entendimento do STJ é no sentido de que “a prisão para
garantir a ordem pública tem por escopo impedir a prática de novos crimes
(...) Clamor popular, isoladamente, e gravidade do crime, com proposições
abstratas, de cunho subjetivo, não justificam o ferrete da prisão, antes do
trânsito em julgado de eventual sentença condenatória”.
Assim, pode-se concluir que no caso em análise não há que se falar em
manutenção da prisão pelo argumento da ordem pública, uma vez que se
trata de réu primário e de bons antecedentes, que jamais cometeu qualquer
outro crime. Excelência, o judiciário não pode manter detido ao nosso
lamentável sistema prisional – reconhecido pela contínua violação de
direito humanos – indivíduo sem qualquer histórico de violação da paz
social e de prática de outros crimes.
Tampouco se afigura razoável fundamentar a prisão do requerente ao
argumento legal da conveniência da instrução criminal. Este fundamento
visa impedir que o agente perturbe ou impeça a produção de prova, como,
por exemplo, ameaçar testemunhas.
Ora, excelência, como já relatado por diversas oportunidades, o requerente
não tem qualquer histórico criminal, nunca praticou qualquer crime, e
contra ele não pode militar, sem qualquer evidência séria e concreta –
devidamente demonstrada nos autos – mera presunção de que, talvez em
liberdade, venha a obstruir a instrução criminal.
Entendimentos do STJ afirmam que o Juiz deve demonstrar cabalmente
porque o indiciado deve ficar confinado e não apenas invocar o artigo 312
do CPP:
STJ: Prisão preventiva, onde o único motivo materialmente justificado repousava
na ‘conveniência da instrução criminal’ ( CPP, art. 312). Instrução terminada.
Impossibilidade de manutenção da prisão cautelar, uma vez que os dois outros
motivos (‘ordem pública’ e ‘aplicação da lei’) só foram invocados in abstracto. A
Constituição Federal exige motivação por parte do juiz, para que o cidadão fique
preso antes do trânsito em julgado de sua condenação. Não basta, assim, invocar-
se formalmente, no decreto prisional, dispositivos ensejadores da prisão cautelar
( CPP, art. 312).

Ao juiz cabe sempre demonstrar in concreto porque o indiciado ou acusado ou


mesmo condenado necessita ficar confinado antes da hora. Recurso ordinário
conhecido e provido.”

Caso contrário, todo cidadão que, por algum motivo, vier a cometer algum
delito teria que ficar detido preventivamente, uma vez que recairia sobre
ele a dúvida quanto à obstrução da instrução criminal, o que não se mostra
razoável em nosso Estado Democrático de Direito que tem como princípio
fundamental o da Presunção de Inocência.
Deste modo, neste caso concreto, também não há que se falar em
manutenção da prisão do requerente pelo argumento da conveniência da
instrução criminal, uma vez que o acusado jamais foi condenado, sempre
tendo uma conduta social exemplar, não podendo presumir que este
acusado - réu primário - obstruirá a instrução criminal. Ademais, não há na
decisão impugnada a indicação de qualquer fator que leve a concluir que o
acusado oferece risco para a instrução criminal, sendo irregular a prisão de
uma pessoa se o decreto não estiver convincentemente motivado,
limitando-se em meras conjecturas.
Por fim, o CPP apresenta como eventual fundamento para a decretação da
prisão preventiva, a devida aplicação da lei penal. Este fundamento busca
impedir que o agente obste a aplicação da lei, como, por exemplo, o risco
de evasão, inviabilizando futura execução da pena.
Neste caso concreto, também não se mostra razoável a manutenção da
prisão do requerente pelo argumento da garantia da aplicação da lei penal,
uma vez que não se pode presumir que o acusado oferece riscos para a
aplicação da lei penal, visto que possui residência fixa, convive com a
companheira, sendo o único responsável pela manutenção de sua família.
Ademais, não há quaisquer elementos objetivos que indicam a
possibilidade de o requerente burlar a aplicação da lei pena.
Assim, conclui-se pela evidente falta de fundamentação para a
manutenção da prisão cautelar, visto que não há qualquer conduta do
requerente que autorize o decreto preventivo. No caso in voga, o
requerente encontra-se acautelado a 10( dez) dias sem que tenha ocorrido
qualquer manifestação ou andamento processual para que dê ao
requerente o direito ao contraditório e a ampla defesa, conforme previsto
no art.5º, LX, da Constituição Federal. O cerceamento de sua liberdade tem
prejudicado sua saúde mental, além de trazer prejuízo financeiro e
impossibilidade de arcar com o sustento de sua família e de seu filho que
esta por vir, uma vez que esta impossibilitado de continuar suas atividades
laborais.
Impor ao requerente o cumprimento antecipado de uma pena é ir
defronte aos princípios que norteiam o ordenamento jurídico, sobretudo,
no que tange a presunção da inocência e a dignidade da pessoa humana.
Considerando não mais subsistirem os requisitos para a decretação da
prisão preventiva (art. 313 do CPP), requer a revogação da referida
medida, expedindo-se o alvará de soltura e adotando-se, caso necessário, a
adoção de outra medida cautelar, as quais dispostas no art. 319 do Código
de Processo Penal:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas
pelo juiz, para informar e justificar atividades
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando,
por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado
permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga
quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para
a prática de infrações penais
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados
com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser
inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de
reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou
em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.

Por fim, a liberdade poderá ser concedida ao Peticionário,


decretando, subsidiariamente, as medidas cautelares diversas da prisão,
consonante dispõem os artigos 319 e 320, ambos do Código de Processo
Penal, uma vez que, as suas circunstâncias e condições pessoais dão ensejo
a aplicação de tais medidas.

DOS PEDIDOS
Por todo o exposto:
a) Com base nos fatos e fundamentos demonstrados, requer seja, com
urgência, após o parecer do representante do Ministério Público,
REVOGADA A DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO PREVENTIVA, pelo
reconhecimento da ausência absoluta de qualquer dos fundamentos que a
justifiquem, devendo ser concedida a LIBERDADE PROVISÓRIA do
requerente para defender-se solto do delito que lhe é imputado,
comprometendo-se, desde logo, a comparecer a todos os atos processuais,
sem criar qualquer obstáculo ou embaraço ao regular andamento da
persecução penal;
b) Que, em consequência, seja expedido o competente Alvará de Soltura,
com a maior celeridade possível.
Nestes termos,

Pede Deferimento.

Ubá, data da assinatura eletrônica

SUSANE DE SOUZA CASTRO BALBI


OAB/MG 226.759

MARCELE DA SILVA COELHO


OAB/MG 217.206

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