Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Autos: 8002012-31.2021.8.12.0800
Autor: Ministério Público
Denunciado: João Marcelo Bento Marcello
Colhe-se dos autos que o Réu (preso em flagrante delito) fora preso em
flagrante pela suposta prática de crime de tráfico de entorpecentes (Lei de Drogas, art.
33).
Em face do despacho proferido em páginas 48-49, onde o Excelentíssimo
Magistrado PLANTONISTA DA VI REGIÃO- PONTA PORÃ, em 04/12/2021, na
oportunidade em que recebera o auto de prisão em flagrante (CPP, art. 310), converteu-
a em prisão preventiva, sob o enfoque de que o delito em espécie traz “garantia da
ordem pública (intranquilidade social)”, e, por isso, reclama a segregação cautelar.
(CPP, art. 312, caput).
Todavia, data vênia, entende o Acusado que a decisão guerreada não foi
devidamente fundamentada, maiormente no enfoque de justificar, com elementos nos
autos, a necessidade da manutenção da prisão preventiva.
Em face disso, o Acusado também vem pleitear o relaxamento da prisão
preventiva em discussão.
O acusado encontra-se atualmente preso preventivamente no Presidio
RICARDO BRANDÃO, DESTINADO A PRESOS CONDENADOS.
2 – DA ILEGALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA
O art. 315, § 2º, do CPP, repete ipsis litteris o art. 489, parágrafo único, do
CPC, relativamente aos critérios legais para a definição de decisão
fundamentada/desfunda mentada.
O art. 315 exige que a decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
preventiva será sempre fundamentada. A exigência é aplicável a toda e qualquer
medida cautelar (§ 1º).
A nova redação do art. 282, § 6º, explicita a necessidade de justificar o porquê
da não substituição da prisão preventiva por medida cautelar diversa. Afinal, a
cautelaridade é um requisito essencial de toda e qualquer medida cautelar, que deve ser
aplicada proporcionalmente.
A prisão preventiva é a última ratio do sistema cautelar, por ser a mais grave. A
cautelaridade é, pois, uma condição necessária, mas não suficiente para a imposição da
prisão preventiva, que exige mais: a insuficiência das demais medidas cautelares,
aplicáveis cumulativamente. Tem, assim, caráter residual ou subsidiário relativamente
às outras cautelares pessoais e reais.
A lei dá nova redação ao art. 312 do CPP, acrescentando-lhe o “perigo gerado
pelo estado de liberdade do imputado”, enfatizando a cautelaridade da prisão
preventiva, reafirmada nos novos art. 283 e 313 do CPP, cujo § 2º diz de modo enfático:
Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de
antecipação de cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação
criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia.
Afinal, a gravidade do crime é uma condição necessária, mas não suficiente
para a decretação e manutenção de medidas cautelar, especialmente a prisão preventiva,
a mais grave medida cautelar.
Exige-se mais: que a prisão preventiva seja motivada com base em receio de
perigo e EXISTENCIA CONCRETA de fatos novos ou contemporâneos (art. 312, §
2º, e 315, § 1º). A inovação é aplicável às medidas cautelares em geral, não apenas à
prisão preventiva.
Os fatos novos ou contemporâneos têm a ver, não propriamente com os crimes
imputados na denúncia ou queixa, que podem ser antigos, mas com os fundamentos da
medida cautelar (garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal etc.).
Afinal, um crime não recente pode dar lugar a uma motivação atual para a prisão
preventiva, como, por exemplo, ameaça à testemunha, destruição de prova ou mesmo
um novo delito.
Assim decide o Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul:
EMENTA - HABEAS CORPUS – TRÁFICO DE DROGAS E
ASSOCIAÇÃO AO TRÁFICO – ALEGADA AUSÊNCIA DE
INDÍCIOS DE AUTORIA – PLAUSIBILIDADE – PRISÃO
PREVENTIVA – REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS –
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. A cautelaridade
da prisão, considerando a nova legislação para o
desencarceramento, somente se justifica quando presentes os
requisitos do fumus comissi delicti e do periculum libertatis,
os quais devem sempre ser concretamente demonstrados por
percuciente fundamentação que evidencie, de forma segura,
a indispensabilidade da medida extrema de restrição ao
direito à liberdade, em detrimento das demais providências
diversas da prisão previstas no art. 319 do Código de
Processo Penal. Se os elementos indiciários não conduzem à
mesma conclusão da conduta do paciente e dos demais
acusados em relação ao tráfico de drogas e associação para o
tráfico investigado, e a decisão que decretou a prisão
preventiva de todos, diversamente dos corréus, não descreve
individualizada e detalhadamente a conduta supostamente
praticada pelo paciente, a situação do mesmo deve ser vista à
luz do princípio da presunção de inocência, possibilitando a
revogação de sua prisão preventiva, ainda que sejam
impostas medidas cautelares diversas. (grifo nosso)
(TJ-MS - HC: 14090165120218120000 MS 1409016-
51.2021.8.12.0000, Relator: Juiz Waldir Marques, Data de
Julgamento: 18/06/2021, 2ª Câmara Criminal, Data de
Publicação: 22/06/2021).
DOS PEDIDOS
Por todo o exposto:
a) Com base nos fatos e fundamentos demonstrados, requer seja, com urgência,
após o parecer do representante do Ministério Público, REVOGADA A DECISÃO
QUE DECRETOU A PRISÃO PREVENTIVA, pelo reconhecimento das qualidades
subjetivas do acusado.
b) Que, em consequência, seja expedido o competente Alvará de Soltura, com a
maior celeridade possível.
Nestes termos,
Pede Deferimento.
Castilho- SP 06 dezembro 2021.