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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA

SEGUNDA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE PONTA PORÃ- M.S

Autos: 8002012-31.2021.8.12.0800
Autor: Ministério Público
Denunciado: João Marcelo Bento Marcello

URGENTE- RÉU PRESO

Intermediado por seu mandatário ao final firmado, Anderson Alves de


Oliveira, causídico inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado de
SP, sob o nº. 460.260, comparece o Acusado, com todo respeito a Vossa Excelência, na
forma do que dispõe o art. 5º, inc. LXV da Constituição Federal, apresentar:
PEDIDO DE REVOGAÇÃO DA PREVENTIVA
Em razão da Ação Penal agitada em desfavor de João Marcelo Bento
Marcello, brasileiro, convivente, auxiliar de serviços diversos, portador do RG:
48.797.937-0, CPF: 419.808818/71, preso provisoriamente na Penitenciária Ricardo
Brandão, Rua Baltazar Saldanha, 1796, Centro, CEP 79904-204 - Ponta Porã -MS.
consoante abaixo delineado.

1. SÍNTESE DOS FATOS

Colhe-se dos autos que o Réu (preso em flagrante delito) fora preso em
flagrante pela suposta prática de crime de tráfico de entorpecentes (Lei de Drogas, art.
33).
Em face do despacho proferido em páginas 48-49, onde o Excelentíssimo
Magistrado PLANTONISTA DA VI REGIÃO- PONTA PORÃ, em 04/12/2021, na
oportunidade em que recebera o auto de prisão em flagrante (CPP, art. 310), converteu-
a em prisão preventiva, sob o enfoque de que o delito em espécie traz “garantia da
ordem pública (intranquilidade social)”, e, por isso, reclama a segregação cautelar.
(CPP, art. 312, caput).
Todavia, data vênia, entende o Acusado que a decisão guerreada não foi
devidamente fundamentada, maiormente no enfoque de justificar, com elementos nos
autos, a necessidade da manutenção da prisão preventiva.
Em face disso, o Acusado também vem pleitear o relaxamento da prisão
preventiva em discussão.
O acusado encontra-se atualmente preso preventivamente no Presidio
RICARDO BRANDÃO, DESTINADO A PRESOS CONDENADOS.
2 – DA ILEGALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA

Saliente-se, primeiramente, que o Réu é primário, de bons antecedentes, com


ocupação lícita e residência fixa. Embora não tenha emprego formal (registrado) esse
ônus a ele não deve ser imputado, ante a grave crise econômica que assola o país, e
deixa inúmeros desempregados ou trabalhando na informalidade. Anexa aos autos
ATESTADO DE ANTECEDENTES CRIMINAIS E CERTIDÃO DE EXECUÇÃO
CRIMINAL, que comprova ser o Acusado PRIMÁRIO DE BONS ANTECEDENTES.
Também foram acostados cópia da identidade, comprovante de residência em nome da
sua mãe, onde reside desde que nasceu.
A ilegalidade da manutenção da prisão preventiva, está incurso logo de plano
uma vez se encontra segregado provisoriamente (SEM CONDENAÇÃO PROVISÓRIA
OU DEFINITIVA), com detentos que já possuem condenação definitiva, em regime
fechado, sem justa causa afrontando a SUMULA VINCULANTE 56 DO STF,
conforme a seguir:
Sumula Vinculante 56 STF:
A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os
parâmetros fixados no RE 641.320/RS.
Deve na hipótese, estar o Acusado em estabelecimento prisional provisório, a
despeito do princípio da presunção de inocência, individualização da pena e dignidade
da pessoa humana; pois o Acusado está sendo submetido à uma execução antecipada de
pena em cela super lotada, submetido as mazelas da precariedade do sistema carcerário
brasileiro.
O artigo 84, §1º, inciso II, da Lei 7.210/84 estabelece que:
Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença
transitada em julgado.
§ 1o Os presos provisórios ficarão separados de acordo com os seguintes
critérios:
II - Acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa;

Não obstante estabelece o artigo 85 caput da Lei 7.210/84


Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua
estrutura e finalidade.
Veja que ao não considerar as qualidades subjetivas do Acusado, e decretar
preventivamente sua prisão, com base na gravidade abstrata do delito cometido, acabou
O Excelentíssimo Magistrado plantonista, acabou por violar princípios basilares que
constituem o Estado Democrático de Direito, e propriamente do Processo Penal, uma
vez que a segregação cautelar do modo que foi imposta atrai mais prejuízos que
benefícios a sociedade, vez que prima a Lei de Execução Penal pela recuperação dos
custodiados e não admite o Estado assuma o papel de carrasco ao desprezar direitos e
garantias individuais de seus tutelados.
De acordo com a Sumula Vinculante 56 do STF, no caso como o dos autos, é
hipótese clara de constrangimento ilegal, e deve ser sanada por Vossa Excelência de
modo fixado no RE641.320/RS, a saber com as possíveis soluções:
A- havendo déficit de vagas, deverá determinar-se:
(i) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas;
(ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai
antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de
vagas;
A prisão preventiva foi decretada, sob alegação pura e simples de garantia da
ordem pública, de modo injustificado, sem se atentar aos contornos do caso concreto,
com isso houve afronta a princípios basilares do Processo Penal, como a
Individualização da Pena e Presunção de inocência, ora, se não é assim, está o Acusado
a cumprir Pena antecipadamente, sem condenação junto com presos condenados, e o
que justifica isso? A quantidade da droga apreendida? Mas e as qualidades subjetivas?
O Acusado nunca foi processado por qualquer delito sequer, não integra organização
criminosa, ou faz parte de qualquer tipo de associação criminosa.
É latente o constrangimento Ilegal ao decretar a prisão preventiva na hipótese.
Fundamentação da decisão
A conversão da prisão em flagrante em preventiva é
conveniente para a instrução criminal, uma vez que o autuado
não tem vinculação ao distrito de culpa e não comprovou
documentalmente predicados pessoais favoráveis. Ante a tal,
converto em preventiva a prisão de João Marcelo Bento
Marcello, com fulcro no artigo nos termos dos artigos 310,
inciso II, 312, e 313, inciso I, todos do Código de Processo
Penal.

O art. 312 CPP:


A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
Veja que as condições para a decretação da prisão preventiva são cumulativas
não basta os indícios de autoria, mas HÁ DE HAVER PROVAS DO PERIGO
GERADO PELO ESTADO DE LIBERDADE DO IMPUTADO.
Não há motivação idônea no decreto prisional preventivo, que justifique
manter o acusado sem condenação cumprindo pena antecipada junto com presos
condenados.

O art. 315, § 2º, do CPP, repete ipsis litteris o art. 489, parágrafo único, do
CPC, relativamente aos critérios legais para a definição de decisão
fundamentada/desfunda mentada.
O art. 315 exige que a decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
preventiva será sempre fundamentada. A exigência é aplicável a toda e qualquer
medida cautelar (§ 1º).
A nova redação do art. 282, § 6º, explicita a necessidade de justificar o porquê
da não substituição da prisão preventiva por medida cautelar diversa. Afinal, a
cautelaridade é um requisito essencial de toda e qualquer medida cautelar, que deve ser
aplicada proporcionalmente.
A prisão preventiva é a última ratio do sistema cautelar, por ser a mais grave. A
cautelaridade é, pois, uma condição necessária, mas não suficiente para a imposição da
prisão preventiva, que exige mais: a insuficiência das demais medidas cautelares,
aplicáveis cumulativamente. Tem, assim, caráter residual ou subsidiário relativamente
às outras cautelares pessoais e reais.
A lei dá nova redação ao art. 312 do CPP, acrescentando-lhe o “perigo gerado
pelo estado de liberdade do imputado”, enfatizando a cautelaridade da prisão
preventiva, reafirmada nos novos art. 283 e 313 do CPP, cujo § 2º diz de modo enfático:
Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de
antecipação de cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação
criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia.
Afinal, a gravidade do crime é uma condição necessária, mas não suficiente
para a decretação e manutenção de medidas cautelar, especialmente a prisão preventiva,
a mais grave medida cautelar.
Exige-se mais: que a prisão preventiva seja motivada com base em receio de
perigo e EXISTENCIA CONCRETA de fatos novos ou contemporâneos (art. 312, §
2º, e 315, § 1º). A inovação é aplicável às medidas cautelares em geral, não apenas à
prisão preventiva.
Os fatos novos ou contemporâneos têm a ver, não propriamente com os crimes
imputados na denúncia ou queixa, que podem ser antigos, mas com os fundamentos da
medida cautelar (garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal etc.).
Afinal, um crime não recente pode dar lugar a uma motivação atual para a prisão
preventiva, como, por exemplo, ameaça à testemunha, destruição de prova ou mesmo
um novo delito.
Assim decide o Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul:
EMENTA - HABEAS CORPUS – TRÁFICO DE DROGAS E
ASSOCIAÇÃO AO TRÁFICO – ALEGADA AUSÊNCIA DE
INDÍCIOS DE AUTORIA – PLAUSIBILIDADE – PRISÃO
PREVENTIVA – REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS –
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. A cautelaridade
da prisão, considerando a nova legislação para o
desencarceramento, somente se justifica quando presentes os
requisitos do fumus comissi delicti e do periculum libertatis,
os quais devem sempre ser concretamente demonstrados por
percuciente fundamentação que evidencie, de forma segura,
a indispensabilidade da medida extrema de restrição ao
direito à liberdade, em detrimento das demais providências
diversas da prisão previstas no art. 319 do Código de
Processo Penal. Se os elementos indiciários não conduzem à
mesma conclusão da conduta do paciente e dos demais
acusados em relação ao tráfico de drogas e associação para o
tráfico investigado, e a decisão que decretou a prisão
preventiva de todos, diversamente dos corréus, não descreve
individualizada e detalhadamente a conduta supostamente
praticada pelo paciente, a situação do mesmo deve ser vista à
luz do princípio da presunção de inocência, possibilitando a
revogação de sua prisão preventiva, ainda que sejam
impostas medidas cautelares diversas. (grifo nosso)
(TJ-MS - HC: 14090165120218120000 MS 1409016-
51.2021.8.12.0000, Relator: Juiz Waldir Marques, Data de
Julgamento: 18/06/2021, 2ª Câmara Criminal, Data de
Publicação: 22/06/2021).

Ainda o Tribunal de Justiça do Estado do estado do Mato Grosso do Sul:


HABEAS CORPUS – PRISÃO PREVENTIVA – TRÁFICO
DE DROGAS - MODUS OPERANDI – NECESSIDADE DE
RESGUARDAR A ORDEM PÚBLICA E A CONVENIÊNCIA
DA INSTRUÇÃO CRIMINAL – PRISÃO DOMICILIAR –
POSSIBILIDADE – PREENCHIMENTOS DOS REQUISITOS
DO ART. 318-A DO CPP – ORDEM CONHECIDA E
PARCIALMENTE CONCEDIDA.
(TJ-MS - HC: 14044947820218120000 MS 1404494-
78.2021.8.12.0000, Relator: Juiz José Eduardo Neder
Meneghelli, Data de Julgamento: 22/04/2021, 1ª Câmara
Criminal, Data de Publicação: 27/04/2021)

No mesmo sentido o Superior Tribunal de Justiça:


HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO
PREVENTIVA. ART. 312 DO CPP. PERICULUM
LIBERTATIS. PROPORCIONALIDADE. ADEQUAÇÃO E
SUFICIÊNCIA DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS.
ORDEM CONCEDIDA. 1. A decretação da prisão preventiva
deve se efetivar apenas quando evidenciada, em dados concretos
dos autos, a necessidade da cautela (periculum libertatis), à luz
do disposto no art. 312 do CPP. 2. Ao converter a prisão em
flagrante da ré em custódia preventiva, embora haja
mencionado a apreensão de 76 g de maconha, a evidenciar a
necessidade de algum acautelamento da ordem pública, o
Juízo de primeiro grau não contextualizou, com base em
elementos concretos dos autos e em juízo de
proporcionalidade, a imposição da medida extrema. 3. Não
havendo notícia de que a indiciada seja pessoa voltada à
prática de crimes e muito menos de que possa interferir na
instrução criminal ou evadir-se do distrito de culpa, não se
justifica mantê-la sob o rigor da medida cautelar extrema,
conquanto deva sujeitar-se ao processo criminal e,
eventualmente, a ser punida por conduta que, à evidência,
encontra gravosa tipificação penal. 4. Ordem concedida para
substituir a prisão preventiva da ré pela cautela pessoal
prevista no art. 319, II, do CPP, sem prejuízo do
estabelecimento de outras medidas cautelares pelo Juízo
natural da causa, desde que de modo fundamentado, bem
como de nova decretação da prisão preventiva se
efetivamente demonstrada sua concreta necessidade (HC
397.902/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 22/03/2018, DJe 03/04/2018)
(grifo nosso)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO


DE RECURSO ORDINÁRIO. INADEQUAÇÃO. TRÁFICO
DE DROGAS E RESISTÊNCIA. PRISÃO PREVENTIVA.
AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA, DE OFÍCIO. 1. Esta Corte e o Supremo
Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não
cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto
para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração,
salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no
ato judicial impugnado. 2. Havendo prova da existência do
crime e indícios suficientes de autoria, a prisão preventiva, nos
termos do art. 312 do Código de Processo Penal, poderá ser
decretada para garantia da ordem pública, da ordem econômica,
por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal. 3. No caso dos autos, a prisão
preventiva foi decretada com base em fundamentos
genéricos relacionados à gravidade abstrata do crime de
tráfico de drogas e em elementos inerentes ao próprio tipo
penal, sem a observância do disposto no art. 312 do CPP.
Nem mesmo a quantidade e a natureza do entorpecente
apreendido - 72 gramas de maconha - pode ser considerada
relevante a ponto de autorizar, por si só, a custódia cautelar do
paciente. 4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de
ofício, para revogar a prisão preventiva do paciente, mediante a
aplicação das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, a
critério do Juízo de primeiro grau (HC 414.639/SP, Rel.
Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
20/02/2018, DJe 26/02/2018).

Conforme se restou comprovado, os Tribunais Superiores da Republica são


uníssonos no entendimento de que a segregação cautelar deve pautar-se em fatos
concretos, provas reais de que uma vez em liberdade o acusado vai causar qualquer tipo
de abalo a ordem pública, a quantidade e o tipo de droga apreendida não têm o condão
de consistir na motivação da decretação de prisão preventiva.
Vejamos o posicionamento do Supremo Tribunal Federal:
Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS
CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO
CONSTITUCIONAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES.
PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM CONCEDIDA EX
OFFICIO. MEDIDAS CAUTELARES SUBSTITUTIVAS. 1. A
decretação da prisão preventiva pressupõe que os seus requisitos
estejam preenchidos à luz dos critérios legais ou jurisprudenciais
que a autorizam, em conformidade com os fatos. 2. O Supremo
Tribunal Federal rechaça a prisão preventiva decretada
somente com base na gravidade em abstrato do delito ou
mediante a repetição dos predicados legais e a utilização de
fórmulas retóricas que, em tese, serviriam para qualquer
situação. Precedentes: RE 217.631, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, Primeira Turma, julgado em 09/09/1997; HC 98.006,
Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma, julgado em 24-11-
2009). 3. "In casu", o magistrado singular não analisou as
circunstâncias concretas da conduta praticada, se limitando
a repetir os pressupostos legais para a prisão preventiva...
Habeas corpus julgado extinto. Concedida a ordem ex officio
para determinar ao juízo "a quo" a aplicação das medidas
cautelares (artigo 319 do Código de Processo Penal)
substitutivas que entender cabíveis. (STF. Primeira Turma.
HC n. 125957. Ministro Relator LUIZ FUX. Julgado em 24-2-
2015)

Ementa: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL.


TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE EM
ABSTRATO DO DELITO. QUANTIDADE DA DROGA.
FLAGRANTE ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1.
Nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal, a
preventiva poderá ser decretada quando houver prova da
existência do crime (materialidade) e indício suficiente de
autoria, mais a demonstração de um elemento variável: (a)
garantia da ordem pública; ou (b) garantia da ordem
econômica; ou (c) por conveniência da instrução criminal;
ou (d) para assegurar a aplicação da lei penal. Para
quaisquer dessas hipóteses, é imperiosa a demonstração
concreta e objetiva de que tais pressupostos incidem na
espécie, assim como deve ser insuficiente o cabimento de
outras medidas cautelares, nos termos do art. 282, § 6º, do
Código de Processo Penal, pelo qual a prisão preventiva será
determinada quando não for cabível a sua substituição por
outra medida cautelar (art. 319 do CPP). 2. Hipótese em que
o juízo de origem lastreou sua decisão tão somente na
gravidade em abstrato do delito, circunstância
categoricamente rechaçada pela jurisprudência da Suprema
Corte. 3. A pequena quantidade da droga apreendida torna
desproporcional a decretação da prisão preventiva. Precedentes.
4. Motivação que extrapola o conteúdo do decreto prisional não
se presta a suprir a carência de fundamentação nele detectada. 5.
Habeas corpus concedido. (STF. Segunda Turma. HC n.
135250. Ministro Relator TEORI ZAVASCKI. Julgado em 13-
9-2016. Publicação em 29-9-2016).

Ainda o Supremo Tribunal Federal:

Agravo regimental no habeas corpus. 2. Recurso da PGR. 3. Prisão


preventiva decretada única e exclusivamente com base na quantidade da
droga. Agravado primário. Ausente indício de pertencimento à organização
criminosa. Impossibilidade. 4. Agravo improvido.” (AgR no HC 183.320,
de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 3.6.2020)

Em recente decisão o Supremo Tribunal Federal, em caso idêntico em data


05/11/2021, se posicionou da seguinte forma em decisão monocrática do Ilustríssimo
Min. Gilmar mendes, no julgamento do HABEAS CORPUS 208.548 SÃO PAULO:

Na linha da jurisprudência deste Tribunal, não basta a mera


explicitação textual dos requisitos previstos para a prisão
preventiva, sendo necessário que a alegação abstrata ceda à
demonstração concreta e firme de que tais condições se
realizam na espécie. Dessarte, a tarefa de interpretação
constitucional para análise de excepcional situação jurídica
de constrição da liberdade exige que a alusão a esses
aspectos esteja lastreada em elementos concretos,
devidamente explicitados. Percebe-se que o julgador
fundamentou a prisão preventiva sem apontar especificidade
ou periculosidade dos recorrentes, tampouco envolvimento
com organização criminosa estruturada. Verifico que os
pacientes são primários e não há evidência que indique o
pertencimento a organização criminosa estruturada.
Portanto, da análise dos elementos constantes dos autos,
entendo que a prisão cautelar revela- se medida
desproporcional, porquanto a gravidade do delito, por si só,
não é fato hábil a embasar a segregação provisória.

Ora, no âmbito processual penal, falar em periculosidade, no sentido amplo,


significa ter provas reais da possibilidade de o Acusado reincidir na pratica de delitos.
Quando essas infrações são graves ligadas ao crime organizado, sendo o Acusado
reincidente, ou possuidor de maus antecedentes, gerando clamor social, ou ser o crime
executado por meios particularmente anômalos (cruel, violento, tortura, ameaça), daí
faz- se o juízo de periculosidade, para fins processuais apenas, demonstrando a
conveniência da prisão cautelar, O QUE NÃO É A HIPÓTESE DOS AUTOS.

DOS PEDIDOS
Por todo o exposto:
a) Com base nos fatos e fundamentos demonstrados, requer seja, com urgência,
após o parecer do representante do Ministério Público, REVOGADA A DECISÃO
QUE DECRETOU A PRISÃO PREVENTIVA, pelo reconhecimento das qualidades
subjetivas do acusado.
b) Que, em consequência, seja expedido o competente Alvará de Soltura, com a
maior celeridade possível.

Nestes termos,
Pede Deferimento.
Castilho- SP 06 dezembro 2021.

Anderson Alves de Oliveira


OAB 460.260/SP
ASSINADO DIGITALMENTE

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