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2 Procedimento
A cultura processual penal brasileira sempre se ateve ao mau uso das prisões
cautelares. Anteriormente à aplicação da audiência de custódia valorava-se mais a prisão em
flagrante, pois o preso em flagrante era recolhido ao cárcere enquanto aguardava a decisão do
juiz sobre a sua prisão e esta situação se perdurava por dias até que fosse realizada uma
primeira audiência em que o juiz decidia sobre a possibilidade ou não de o preso responder o
processo em liberdade e com a implementação da audiência de custódia essa privação pré-
cautelar da liberdade do preso foi superada.
A audiência de custódia traz consigo novos objetivos. Primeiro, têm-se que toda e
qualquer pessoa presa seja apresentada imediatamente à presença de um juiz competente.
Além disso, ao passo em que propicia a prevenção das prisões ilegais, arbitrárias e
desnecessárias, visa coibir práticas ilegais, tais como a tortura, maus tratos e qualquer outra
forma de tratamento degradante.
Importante registrar que deve ser oportunizado prévia entrevista do custodiado com
seu defensor. Iniciada a audiência, o juiz é incumbido de informar os direitos pertinentes, bem
como de realizar entrevista pessoal com o preso, devendo abster-se de fazer perguntas
relacionadas ao mérito da prisão.
Aqui perfilha-se ao sistema acusatório, haja vista que o juiz somente poderá decretar a
prisão, caso esta seja requerida pelo Ministério Público ou representada pelo Delegado de
Polícia.
Superado o breve contraditório entre acusação e defesa, o juiz deve decidir sobre a
necessidade ou não da prisão, com base nas alegações das partes. Ademais, o juiz que por
meio de entrevista com o custodiado verificar a ocorrência de indícios de praticas ilegais, tais
como maus tratos ou tortura, deve providenciar os devidos encaminhamentos aos órgãos
competentes para apuração das responsabilidades.Ainda, deve providenciar medidas sociais e
assistenciais, de acordo com o caso concreto.
As medidas cautelares de caráter pessoal, conforme conceitua 1Lopes Jr. (2020, p.),
são atos que tem por objeto garantir o normal transcorrer do processo e, portanto, a eficaz
aplicação do jus puniendi.
À medida que a prisão pena objetiva dar punição ao autor de infração penal, a prisão
cautelar é considerada como instrumento do processo, visto que ela é utilizada de modo a
assegurar a eficácia das investigações e do processo criminal.
1
Ob.cit. p. 369
2
Ob.cit. p. 905
O primeiro relaciona-se à probabilidade da ocorrência de um delito, que pode ser
verificado na prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria. O outro, tem a ver
com a situação de perigo decorrente da liberdade do acusado.
O uso da prisão processual, deve ser feito sob o juízo da periculosidade e jamais da
culpabilidade. Desta feita, a presunção de inocência deve recair sobre toda e qualquer pessoa,
até que seja declarada culpada por sentença condenatória com transito em julgado.
Ainda, a par desse princípio, a CRFB/88 institui outros incisos (art. 5º, LXV e LXVI)
que reforçam a ideia da excepcionalidade da prisão cautelar. Logo, a regra é que o imputado
aguarde o desenrolar processual em liberdade.
Do mesmo modo, art. 5º, LXI, prevê que: Ninguém será preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos
casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei
Conforme se extrai desses diplomas, conclui-se que a prisão poderá resultar de duas
maneiras: por flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, com expedição de mandado de prisão, tal qual proveniente de sentença
condenatória transitada em julgado ou no transcorrer da investigação ou do processo, em
razão de decretação de prisão preventiva ou temporária
No entanto essa definição não abarca todos os casos, conforme ensina Lopes Jr.4
A expressão “delito” constante no art. 301 do CPP, abrange não só a prática de crime,
como também a de contravenção penal. Todavia, caso ocorra a pratica de infração penal de
menor potencial ofensivo, se o agente comparecer imediatamente ao juizado, ou assumir o
compromisso de comparecer, não se exigirá fiança e nem será lavrado auto de prisão em
flagrante, mas sim termo circunstanciado de ocorrência, consoante com o art. 69, parágrafo
único da Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais).
No entanto, de acordo com o art. 322 do CPP, caso o agente se recuse a comparecer
imediatamente ao juizado ou a assumir o compromisso de a ele comparecer, deverá ser
lavrado auto de prisão em flagrante, podendo a própria autoridade policial conceder liberdade
provisória mediante pagamento de fiança, caso tratar-se de infração penal punida com pena
máxima não superior a quatro anos.
3
MOUGENOT, Edilson. Curso de processo penal / Edilson Mougenot. –. ed. – São Paulo: Saraiva, 2019.
4
(ob.cit. p. 933).
5
(ob.cit. p. 934)
A prisão em flagrante é considerada medida précautelar, porque os agentes autorizados
a exercê-la, agem sob a pretensão de evitar a continuação da infração penal, realizando a
detenção do individuo. Essa autorização é cedida, porque tão logo efetuada a prisão do
individuo deverá este ser conduzido à presença de uma autoridade judicial, para que seja
exercido o controle judicial daquela prisão, o que demonstra o caráter precário da prisão em
flagrante.
que a prisão em flagrante, constitui uma medida pré-cautelar pessoal pela sua absoluta
precariedade, pois não tem o objetivo de garantir o resultado final do processo, mas visa
simplesmente a cessação da pratica delitiva e a apresentação do detido a uma autoridade
judicial, para que esta adote uma verdadeira medida cautelar.
As hipóteses que autorizam a prisão em flagrante estão previstas, em rol taxativo, nos
incisos do art. 302 do CPP, assim expostas:
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa,
em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração
6
(ob.cit. p 935)
7
Ob.cit p. 972
3) Flagrante presumido, ficto.
As hipóteses abarcadas pelos incisos I e II do art. 302, do CPP, são denominadas pela
doutrina nacional como flagrante próprio ou perfeito. A hipótese prevista no inciso I, ocorre
quando o agente é surpreendido na prática da infração penal.
No mesmo sentido, Lopes Jr.8 esclarece a ocorrência desta modalidade quando: “[...] o
agente é surpreendido durante o iter criminis, praticando a conduta descrita no tipo penal sem,
contudo, tê-lo percorrido integralmente [...]”. A hipótese desse inciso, se exemplifica no caso
do indivíduo que, de posse do animus necandi, está agredindo a vitima – praticando o tipo
penal do art. 121, do Código Penal. Ou seja, ocorrerá essa modalidade de flagrante, quando o
agente está na pratica do verbo nuclear do tipo penal.Já a hipótese prevista no inciso II ocorre
quando o agente é surpreendido quando acaba de cometer a infração penal.
Lopes Jr. 9leciona que, para a caracterização desta espécie de flagrante, é necessário a
presença de 3 (três) requisitos:
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora depois o tenha perdido
de vista;
8
Ob.cit. p.939
9
ob. cit. p. 939
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha passado, há pouco
tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for no seu encalço.
O segundo requisito, que trata do lapso temporal, exige que a perseguição inicie “logo
após”– a pratica da infração penal. Portanto, “logo após” é considerado um pequeno lapso
temporal entre a prática da infração penal e o início da perseguição.
Todavia, uma vez iniciada a perseguição, esta poderá perdurar por extenso lapso
temporal, desde que ininterrupta e continua. Melhor dizendo, na modalidade de flagrante do
inciso III, o início da perseguição se dá em poucos minutos após a pratica da infração penal,
no entanto, após iniciada, sua duração pode perdurar por várias horas, a se verificar no caso
Nesse caso, restará fundamentado tal requisito quando existentes elementos que
fomentam a presunção de autoria, como o reconhecimento da vítima, a posse de objetos do
crime, etc., a depender do caso concreto 12
A situação de flagrância prevista no art. 302, inciso IV, ocorre quando o suspeito: “[...]
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração. [...]”. Nesse caso, o agente não é perseguido, mas
10
(ob.cit. p. 940).
11
ob. cit. p. 941
12
Idem.p.941
encontrado, logo depois da prática da infração penal na posse de instrumentos, armas, objetos
ou papéis em situação que presume sua autoria.
essa expressão não é diferente de logo após (CPP, art. 302, III), e que ambas
significam uma relação de imediatidade em cada caso. A única diferença, é que, no caso do
inciso III, há a perseguição, enquanto no inciso IV, o suspeito é encontrado na posse de
objetos que façam presumir a autoria da infração penal, do crime. No entanto, não aceita
prisões muitos dias após
Em regra, tão logo a autoridade policial se depare com a pratica da infração penal,
deve-se obrigatoriamente efetuar a prisão em flagrante (art. 301, 2º parte, CPP). Todavia, essa
modalidade, autoriza a autoridade policial e seus agentes, realizem a prisão em flagrante em
momento mais oportuno, sob o ponto de vista da investigação criminal ou da colheita de
prova
Essa modalidade está prevista nos art. 8º da Lei nº 12.850/2013 (Lei do Crime
Organizado) e no art. 53, II, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) e no art. 4º-B da Lei nº
9.613/1998 (Lavagem de Capitais ou de ilícitos ativos).
13
ob.cit. p. 961
competente, que, caso necessário, fixará os limites da atuação e dará ciência ao Ministério
Público (Art. 8º, §1º, Lei 12.850/2013).
Trata-se de prisão em flagrante ilegal. Ocorre, por que há indução para que o agente
pratique a infração penal exatamente para ser preso
Na lição de Mougenot14 :
14
Ob.cit. p. 673).
Devido a existência de vários verbos nucleares desse tipo penal, apesar de recair a
ilegalidade na conduta “vender”, persiste a legalidade em relação as demais.
trata-se de prisão em flagrante absolutamente ilegal, pois nesse caso, quem comete o
crime é a pessoa ou a autoridade que simula o crime, mediante a atribuição de provas.
Em seguida, ouvirá as testemunhas que presenciaram os fatos e/ou a prisão, caso não
há testemunhas que presenciaram os fatos, determina o art. 304, §2º, que,nesse caso, deverão
assinar, pelo menos, duas testemunhas de apresentação denominadas testemunhas
instrumentárias pela doutrina nacional.
Caso o preso se recuse a assinar, não souber ou estiver em situação que o impossibilite
de fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será subscrito por duas testemunhas de leitura,
conforme estabelecido pelo art. 304, §3º, do CPP.
Por conseguinte, no prazo máximo de 24 horas, será entregue a nota de culpa ao preso,
mediante recibo, que constará o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas,
devidamente assinado, assim como dispõe o art. 306, §1, do CPP.
Por fim, dentro do prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas a contar da realização da
prisão, tendo o auto de prisão em flagrante tornado formalizado e concluso, deverá este ser
imediatamente remetido à autoridade judicial competente e, caso o autuado não informe o
nome de seu advogado, remeterá também, cópia integral do auto à defensoria pública (CPP,
art. 306, §1º).
Ainda, vale ressaltar que a audiência de custódia não se limita aos casos de prisão em
flagrante, mas tem aplicação em toda e qualquer prisão (cautelar ou definitiva), de acordo
com o art. art. 7.5 da CADH, art. 287 do CPP e art. 13 da Res. 213/2015 do CNJ.
Não obstante, dispõe o §2º do art. 310 do CPP, que a autoridade judicial deverá
denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares, se for verificado que o agente
é reincidente, ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
fogo de uso restrito. Esse parágrafo, introduzido no CPP pela Lei nº 13.964/19 (Pacote
Anticrime), foi alvo de crítica de parte da doutrina nacional.
16
(ob.cit. p. 963)
justificativa plausível, poderá ser responsabilizado nas esferas administrativa, civil e penal,
pela omissão.
Por fim, dispõe o §4º, do art. 310 que o decurso do prazo de 24 horas para realização
da audiência de custódia, sem justificativa idônea, resulta na ilegalidade da prisão em
flagrante, devendo esta ser relaxada pela autoridade judicial, se não for caso de decretação de
prisão preventiva. Todavia, apesar desse parágrafo reafirmar a importância da audiência de
custódia e, visando a sua integral concretização, o estabelecimento de prazo e sanção, foi
suspenso pelo STF, por meio da liminar proferida pelo Ministro FUX.
17
ob.cit. p. 959).
18
Ob.cit. p. 978
caso o magistrado verifique ordem ou execução de prisão, sem as formalidades legais
ou com abuso de poder, deverá encaminhar ao Ministério Público os elementos de prova, para
que seja feita a responsabilização criminal do funcionário (Lei nº 4.898/65, art. 4º, “a”, e “c”).
Ultrapassadas essas fases, só então decretará a prisão preventiva e, para Aury Junior19 :
19
Ob.cit.p. 960).
20
Dessa forma, como leciona Mougenot a prisão preventiva deve ser a última das
medidas aplicáveis, somente aplicada, quando as medidas cautelares diversas da prisão se
revelarem inadequadas ou insuficientes, conforme disposição do §6º, do art. 282, do CPP.
Assim, de acordo com o caso concreto, o juiz deve verificar se o risco do estado de
liberdade do agente, não pode ser tutelado por alguma das medidas cautelares diversas da
prisão previstas no art. 319, do CPP.
21
Ainda, segundo o professor Renato Brasileiro (2019, p. 983), o art. 310 deve ser
interpretado em conjunto com o art. 321 do CPP o qual estabelece que ausentes os requisitos
que fundamentam a decretação da prisão preventiva, o magistrado deverá conceder liberdade
provisória, impondo se for o caso, isolada ou cumulativamente, além da fiança, as medidas
cautelares diversas da prisão arroladas no art. 319, e observados os critérios instituídos no art.
282, ambos do CPP.
20
Ob.cit. p. 682
21
Ob.cit. p. 983
22
NUCCI, G.D.S. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: Grupo GEN, 2021.
fundamental (princípio da legalidade): não há crime sem prévia lei que o defina, nem pena
sem prévia lei que a comine.
Portanto, a prova, como instituto garantidor da veracidade dos fatos, está sujeita a
diferentes ações por parte de quem a almeja, sendo necessário, para o operador do Direito,
entender seus conceitos, os caminhos percorridos por ela e a possibilidade de contaminação
da mesma.
Não obstante, ao se tratar da conceituação da prova, vemos que ela remete a uma
suposta verdade dos fatos. Porém, o conjunto probatório, como um todo, deve ser levado em
consideração ao se tratar de uma possível condenação do sujeito.
Se a prova é convincente, o fato deve ter acontecido daquela forma, como retratado
pela mencionada prova.A prova, portanto, consagra-se como um instituto de muito valor para
o processo penal, pois, sendo ela a responsável por trazer à tona a veracidade sobre o fato
cometido, pode tanto criar convicções para a absolvição quanto para uma possível
condenação.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil.
Pode-se ver então que temos como meios de prova todos os meios que se tem de modo
direto ou indireto para se alcançar não a verdade real, mas a dentro do processo. Podem ser
usados na validação do que for arguido na fase processual.
exaustivo acerca da obtenção de provas. Talvez isto gere uma evidência de que seja
que não viole normas e princípios legais e constitucionais, todos os demais meios de
25
ERCOLIN, R. Provas no Processo Penal [e-book]. Brasília: Instituto Fórmula, [s.d.].
Disponível em: https://www.institutoformula.com.br/wp-content/uploads/2018/08/Ebook-Processo-Penal-
Provas.pdf. Acesso em: 01 abr. 2021.
Adjeto, o artigo 157 do CPP, à luz do princípio constitucional da inadmissibilidade da
prova ilícita, traz uma proibição excepcional acerca da produção de provas, quais sejam as
provas que violem normas legais e/ou normas constitucionais, assim conhecidas como provas
ilícitas. Segundo esse dispostivo, estas provas, uma vez arguidas, necessitam serem
desentranhadas do bojo processual.
Os meios de prova podem ser lícitos – que são admitidos pelo ordenamento jurídico –
ou ilícitos – contrários ao ordenamento. Somente os primeiros devem ser levados em conta
pelo juiz. Em relação aos meios ilícitos, é preciso destacar que eles abrangem não somente os
que forem expressamente proibidos por lei, mas também os imorais, antiéticos, atentatórios à
dignidade e à liberdade da pessoa humana e aos bons costumes, bem como os contrários aos
princípios gerais de direito.
Visando regulamentar o preceito contido no artigo 5º, LVI, da Carta Magna, a Lei nº
11.690/2008, disciplinou, no art. 157 do Código de Processo Penal, a matéria relativa às
provas ilícitas. (...) Em primeiro lugar, a lei, respeitando o comando constitucional, deixou
bem clara a inadmissibilidade das provas ilícitas, não distinguindo as provas produzidas com
violação das disposições materiais daquelas realizadas em contrariedade às disposições
processuais.
Por outro lado, a doutrina apresenta a diferenciação entre prova ilícita e prova
ilegítima, que são espécies do gênero de provas proibidas. A primeira diz respeito àquelas
obtidas em violação às normas de direito material; já a segunda se obtém através da
contrariedade às normas de direito processual.
O doutrinador Capez (2020, p. 386) traz uma diferenciação sistematizada entre as duas
espécies, nos dizeres:
Quando a prova for vedada, em virtude de ter sido produzida com afronta a normas de
direito material, será chamada de ilícita. Desse modo, serão ilícitas todas as provas produzidas
mediante a prática de crime ou contravenção, as que violem normas de Direito Civil,
Comercial ou Administrativo, bem como aquelas que afrontem princípios constitucionais.
Quando a norma afrontada tiver natureza processual, a prova vedada será chamada de
ilegítima. Assim, será considerada prova ilegítima: o documento exibido em plenário do Júri,
com desobediência ao disposto no art. 479, caput (CPP); o depoimento prestado com violação
à regra proibitiva do art. 207 (CPP) (sigilo profissional) (...).
Assim sendo, o sistema jurídico brasileiro ao legislar sobre tal matéria, se viu na
responsabilidade de criar mecanismos que oferecessem à prova mais segurança e amparo
legal, pois, sendo ela de suma importância para o veredicto, poderia facilmente ser alvo de
deturpação e contaminação.
(...). Enfim, a lei procura um caminho didático por fazer definições de variados temas.
Vê-se o cuidado com a captação do objeto ou material, relacionado ao delito. Depois, pauta-se
em lei, de maneira expressa, ponto a ponto, até chegar ao final descarte da prova
Nesse sentido, o advogado e escritor jurídico Darlan Barroso 28 (2020, p.99) esclarece
que:
26
ASSUMPÇÃO, Vinicius Pacote Anticrime – comentários à Lei n. 13.964/2019.p.81 São
Paulo: Editora Saraiva, 2020.
27
(ob.cit.
p. 388)
28
BARROSO, D. Lei Anticrime Comentada (13.964/2019). São Paulo: Editora Saraiva, 2020.
[...] por meio de um procedimento formal e técnico, garante-se que aquela evidência
ou vestígio prossiga durante a investigação e instrução criminal sem qualquer interferência
externa capaz de macular sua integridade e colocar em risco a licitude da prova. Em outras
palavras, a cadeia de custódia visa assegurar a idoneidade da prova.
Esta norma não é fácil de ser cumprida, visto determinar que o agente público (como
regra, o policial), ao reconhecer um elemento de prova para a futura perícia, fica responsável
por sua preservação. Dá-se a entender que uma falha sua ao preservar a prova, no mínimo,
transforma-se em infração administrativa
Por fim, o último parágrafo do referido artigo coaduna-se com o teor daquele artigo,
trazendo aspectos conceituais ao objeto da cadeia de custódia, quais sejam, os vestígios
físicos. Os vestígios constituem os vestígios deixados por um crime, geralmente
estabelecidos no âmbito físico e visíveis aos interessados na formação de provas. A
definição proposta neste parágrafo está correta. No entanto, não se deve esquecer a
existência de vestígios imateriais, que se conservam na memória das testemunhas, por
exemplo, quando proferidas oralmente, a fim de provar a existência de um crime contra a
honra. Assim, a proteção que a cadeia de custódia confere à prova através dos
procedimentos previstos na lei parece visar a legitimação do vestígio, uma vez que pode ser
utilizada em juízo, processo penal, para se chegar a uma sentença em um caso concreto.
32
Em tal seara,Nucci douto autor adverte sobre a criação de um sistema probatório
absoluto e intocável, ao passo que, a prova pericial que não obedeça as formalidades legais
(art.158-B), não deverá ser considerada imprestável, mas, sim, invocada a nulidade relativa da
mesma. Em suas palavras:
(...) trata-se de nulidade relativa no tocante à referida cadeia de custódia. Pode-se dizer
que não há nulidades em investigação criminal, mas acontece um fato diferenciado no âmbito
da prova pericial: ela vale para a instrução e para o julgamento de mérito. Logo, uma vez que
avança para dentro da instrução, pode, sim, ser questionada quanto às formalidades legais
desde a sua captação e até o seu descarte. Não fosse assim, estarse-ia produzindo uma prova
de caráter absoluto e intocável, o que é incompatível com os princípios regentes da instrução
acusatória p
30
NUCCI, G.D.S. Código de Processo Penal Comentado. P.339São Paulo: Grupo GEN, 2021
31
Ob.cit. p.339
32
Ob.cit. p.146
Conseguinte, os tribunais têm solidificado cada vez mais o posicionamento favorável
acerca da nulidade relativa da prova, entendendo que a simples quebra da cadeia de custódia,
por mera inobservância das formalidades legais, quais sejam as do art. 158-B, não ensejam na
imprestabilidade da prova pericial.
Por fim, nota-se que a positivação do instituto da cadeia de custódia, com todos os
seus conceitos e procedimentos, reflete uma preocupação do legislador em manter o princípio
do devido processo legal, ao passo em que concede a este instituto a tutela de um dos mais
importantes atos do trâmite processual, a saber, a prova penal.
Não obstante, o organismo dos sistemas probatórios vigora como mecanismo a buscar
maior legitimidade ao trâmite processual, dando à prova a responsabilidade de remontar a
situação fática, aquela cometida por quem infringe a lei.
33
Para Luis prado Nas palavras de Prado a prova “trata-se, portanto, de todo e
qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a
verdade de uma alegação”.
Sendo assim, com o advento da Carta Maior de 1988, a fase de produção probatória
foi concebida por uma regra inovadora, já que era ausente nas ordens constitucionais
anteriores. A referida inovação trata-se do princípio da Inadmissibilidade da Prova Ilícita,
concebido no artigo 5º, inciso LVI, da Constituição da República Federativa do Brasil:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:(...)
33
PRADO, L. C. Provas ilícitas: teoria e interpretação dos tribunais superiores. 2.
ed., rev. e atual. Niterói: Editora Impetus, 2009. 139p.
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.
Prova ilegítima. Quando a norma afrontada tiver natureza processual, a prova vedada
será chamada de ilegítima.
Prova ilícita. Quando a prova for vedada, em virtude de ter sido produzida com afronta
a normas de direito material, será chamada de ilícita.
Sobre tal mudança, destaca o professor Capez 35 (2021, p.144) que a reforma
processual penal “distanciou-se da doutrina e jurisprudência pátrias que distinguiam as provas
ilícitas das ilegítimas, concebendo como prova ilícita tanto aquela que viole disposições
materiais como processuais”.
Ainda em tempo, nota-se que além da inadmissibilidade da prova ilícita, que já era
vislumbrada na norma constitucional, a Lei 11.690/2008 trouxe também o comando de que tal
prova deve ser desentranhada do bojo processual, uma vez que arguida for.
34
CAPEZ, F. Curso de Processo Penal.p.144 28ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021
35
Ob.cit. p. 146
36
Ob.cit. p.146 28ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021
Em primeiro lugar, a lei, respeitando o comando constitucional, deixou bem clara a
inadmissibilidade das provas ilícitas, não distinguindo as provas produzidas com violação das
disposições materiais daquelas realizadas em contrariedade às disposições processuais; (...)
Em segundo lugar, o preceito legal dispôs, também, acerca do seu desentranhamento do bojo
do processo.
Adjeto, a norma em comento, que consagrou a proibição da prova ilícita por derivação
e que está disciplinada no §1º, do art. 157 CPP, é reflexo da chamada Teoria dos Frutos da
Árvore Envenenada, que foi desenvolvida nos Estados Unidos, em 1920, conforme demonstra
Capez 38 :
Essa categoria de provas ilícitas foi reconhecida pela Suprema Corte norteamericana,
com base na teoria dos “frutos da árvore envenenada” – fruits of the poisonous tree –,
segundo a qual o vício da planta se transmite a todos os seus frutos.
37
CAPEZ, F. Curso de Processo Penal.p.133 28ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021
38
ob.cit p.144):
39
Ob.cit. p. 141
Não é razoável a postura inflexível de se desprezar, sempre, toda e qualquer prova
ilícita. Em alguns casos, o interesse que se quer defender é muito mais relevante do que a
intimidade que se deseja preservar. Assim, surgindo conflito entre princípios fundamentais da
Constituição, torna-se necessária a comparação entre eles para verificar qual deva prevalecer.
Partindo dessa ideia, chega-se ao cerne da discussão aqui desenvolvida por essa
pesquisa, que busca salientar sobre a possibilidade de utilização da prova ilícita “pro reo” à
luz do princípio da proporcionalidade, no Direito Processual Penal brasileiro.
40
CAPEZ, F. Curso de Processo Penal. 28ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021
tem sido, de fato, o entendimento da doutrina e nas palavras de Capez 41: “a tendência
da doutrina pátria é a de acolher essa teoria, para favorecer o acusado (a chamada prova ilícita
pro reo), em face do princípio do favor rei.”
Adjeto, conforme explanado, o Direito procura sempre inovar, ao passo em que não se
valha de regras e princípios absolutos, a exemplo da inadmissibilidade da prova ilícita.
Contudo, ainda nessa vertente, se faz necessário ponderar sobre a aceitação das provas tidas
como proibidas, para que estas não venham a ensejar também caráter absolutista ao
ordenamento jurídico.
A aceitação da prova ilícita pro reo deve ser analisada com cautela e coerência para
não se permitir o cometimento de um crime maior para provar a inocência da prática de um
menor, restando assim demonstrado que a aceitação da prova ilícita sob o princípio da
proporcionalidade pro reo não pode ser absoluta.
Em suma, nota-se que o ordenamento jurídico brasileiro tem se valido, cada vez mais,
de inovações que buscam o aprimoramento de questões conflitantes, como é o caso aqui
exposto, e assim chegue a um posicionamento mais unificado, tanto jurisprudencial quanto
doutrinariamente.
41
Ob.cit.p.146
42
CAPEZ, F. Curso de Processo Penal.p.133 28ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021
Sob essa perspectiva, percebe-se que o Estado tem buscado garantir ao ordenamento
jurídico brasileiro um sistema probatório que seja justo e democrático, não se valendo de
normas de cunho absolutista para sua efetivação. Nesse sentido, é possível observar que
atualmente, diante do conflito entre princípios norteadores do Direito, os tribunais brasileiros
têm decidido por ser o mais acertado elucidar aquele que contenha maior valor juridicamente
expresso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS