Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Objetivos
Módulo 1 Módulo 2
Restituição de
liberdade
Aplicar os métodos de restituição de
liberdade apresentados frente às hipóteses
prisionais existentes.
Introdução
O estudo das prisões antes do trânsito em julgado consiste em um dos
maiores desafios do
Processo Penal moderno, que busca um equilíbrio entre
a necessidade de garantir os direitos
individuais e o objetivo de se atingir
maior efetividade à persecução penal.
1 - Situações flagranciais
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as situações flagranciais e
as etapas da prisão em flagrante.
Primeiras palavras
Curiosidade
O conceito de flagrante deriva de flagrare, que em latim significa
“arder,
queimar”,
e adquiriu, na linguagem jurídica, a ideia de “infração que está sendo
cometida
ou acabou de ser”. Inclusive, o fato de o crime estar ocorrendo é o que
justifica,
por exemplo, a possibilidade de ingresso no domicílio para a execução
da prisão
até mesmo à noite e sem o consentimento do morador, na forma do art.
5º, XI,
CF.
gavel gavel
Impedir que o crime produza todos os Possibilitar a produção imediata de
seus efeitos. provas que comprovem a suposta
prática delitiva.
Crimes habituais
Como exemplo, pode-se citar o curandeirismo (art. 284, do Código
Penal), o exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (art. 282, do
CP).
Captura
Condução coercitiva
Trata-se do procedimento de condução do indivíduo
capturado até a delegacia
policial. Assim como na etapa anterior, qualquer um do povo
pode realizar a
condução, embora seja mais comumente executada por agentes policiais.
verified_user
O auto de prisão
A i d
As garantias do preso
verified_user
Devem ser respeitadas, nesse momento,
as garantias do
preso, entre as quais se destacam, de acordo com os
incisos LXII e LXIII do art. 5º da Constituição Federal, o
direito ao
silêncio, a um advogado e ao contato com a
família, sob pena de
relaxamento da prisão. O art. 306, §1º,
CPP, em complementação à
exigência constitucional de
comunicação imediata da prisão ao juiz
competente (art. 5º,
LXII, C.F.), determina que tal ato deve ocorrer em
até 24
horas da prisão, com o envio do APF.
verified_user
Comunicação ao MP
Tipos de flagrante
Flagrante provocado (ou preparado)
Nelson Hungria considerava o flagrante provocado como
uma forma de “teatro”,
no qual é cometido um “crime de ensaio” ou um “delito putativo”.
O doutrinador
apontava como exemplo de tal hipótese o caso em que o dono da padaria,
acreditando que seu funcionário está roubando, deixa propositalmente a caixa
registradora aberta, sai do estabelecimento e aguarda o momento em que o
funcionário
subtrai o dinheiro para executar sua prisão em flagrante. Trata-se,
portanto, de
hipótese em que um terceiro atua, de forma relevante, contribuindo
para a prática do
delito pelo agente.
Nossa doutrina e jurisprudência não aceitam tal flagrante como válido sob dois
fundamentos:
Primeiro Segundo
fundamento fundamento
A atuação do terceiro vicia a vontade Seria hipótese de crime impossível,
do agente do delito. que nunca se consumaria.
Exemplo
A hipótese em que a polícia toma conhecimento da futura prática do crime de
roubo por uma associação criminosa, comparece ao local do delito e prende
todos
os envolvidos em situação flagrancial.
No flagrante esperado, a
polícia tem notícias de que
uma
infração penal será
cometida e passa a
monitorar a atividade do
agente de forma
a aguardar
o melhor momento para
executar a prisão, não
havendo que se falar em
ilegalidade do flagrante.
(STJ, 2019)
Flagrante forjado
O flagrante forjado configura-se quando há criação de
provas inverídicas pelo
executor da prisão, forjando um delito que não ocorreu.
Trata-se, em razão disso,
de evidente flagrante ilegal, que exige o imediato relaxamento
da prisão com a
averiguação da responsabilidade criminal dos envolvidos no ato
prisional.
Flagrante diferido
Trata-se de hipótese prevista nos arts. 8º da Lei nº
12.850/2013 e 53, inciso II da
Lei nº 11.343, em que há uma complexa investigação
policial em curso e a
autoridade policial, embora obrigada pelo art. 301, CPP, deixa de
executar a
prisão em flagrante dos envolvidos imediatamente, para realizá-la somente no
momento mais eficaz quanto à formação de provas. A doutrina e a legislação
apontam a
necessidade de controle de tal medida por parte da autoridade
judiciária e do Ministério
Público.
MÓDULO 1
Questão 1
e de roubo já não se encontrava em nenhuma das hipóteses flagranciais do art. 302, CPP.
starstarstarstarstar
2 - Medidas cautelares
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar as medidas cautelares
pessoais previstas em nosso ordenamento jurídico.
Prisões cautelares
O ordenamento jurídico brasileiro, em razão da
consagração do princípio da
presunção da inocência (previsto nos arts. 5º, LVII, C.F. e
8º, item 2, da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos), não autoriza o cumprimento
de
sanção penal antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Exemplo
É o caso do acusado que planeja fugir para o exterior para não responder por
seus atos perante a Justiça, ou, ainda, quando ocorre a destruição de provas,
comprometendo o resultado das investigações do fato criminoso.
A necessidade de pedido do
interessado,
impedindo-se a
decretação de prisão preventiva de
ofício, revela-se exigência
não apenas
do princípio da inércia da jurisdição,
mas, principalmente, do
necessário
respeito ao princípio do contraditório,
que exige, no Processo Penal,
a nítida
separação entre as funções decisória,
acusatória e defensiva. O
requerimento de medida cautelar
prisional é ato típico do acusador, não
podendo
o órgão jurisdicional decretar
medida de ofício.
Exemplo
Um juiz levando meses para realizar o ato citatório com o acusado preso
preventivamente.
Atenção
Independentemente da existência de todos os pressupostos, na forma do art.
314,
CPP, não poderá ser decretada a prisão preventiva caso haja prova nos
autos da
presença de alguma causa excludente da ilicitude, como ampla defesa.
Isso
porque, uma vez havendo dúvida sobre a própria configuração de uma
conduta
criminosa, não se mostra proporcional determinar a restrição à
liberdade do
acusado, ante uma improvável futura condenação.
Ordem pública
Ordem econômica
A possibilidade de prisão preventiva baseada
na garantia
da ordem
econômica encontra hipótese de aplicação em delitos econômicos que
causam enorme prejuízo à coletividade, como o acusado ter gerado a
falência de
um banco ou ter desviado valores exorbitantes de institutos de
seguridade
social.
Instrução criminal
No que tange à necessidade de restrição da
liberdade por
conveniência da
instrução criminal, ela se verificará quando o acusado estiver,
por
exemplo, ameaçando testemunhas, peritos, destruindo prova, ou seja,
impedindo que a produção probatória se desenvolva de forma regular, o
que, sem
dúvida alguma, ameaça a efetividade processual.
Instrução criminal
Prisão temporária
A prisão temporária, que visa exclusivamente tutelar
a investigação preliminar, é
a única hipótese de prisão processual que não está prevista
expressamente no
Código de Processo Penal, mas sim em ato legislativo próprio, a Lei nº
7.960/1989. Sua origem sempre foi objeto de debates intensos na doutrina
brasileira, uma
vez que, para alguns, a prisão temporária padece de vício de
inconstitucionalidade formal e material.
Atenção
Há de se ressaltar que tal prazo constitui a regra geral, podendo leis especiais
estabelecerem prazos diversos para crimes específicos, como acontece, por
exemplo, com a Lei nº 8.072/90, que estabelece em seu art. 2º, § 4º, para os
crimes hediondos e assemelhados, a possibilidade de decretação de prisão
temporária por prazo inicial de até 30 dias, prorrogável por igual período em
caso
de extrema e comprovada necessidade.
Comentário
Embora não expressamente prevista, a extrema necessidade da
segregação
também é
exigida nas prisões temporárias, uma vez que ela não deverá ser
decretada, caso
uma medida cautelar diversa da prisão seja suficiente para
garantir a
efetividade da investigação preliminar.
verified_user
Fumus commissi delicti
Já a homogeneidade da medida
prisional, ou seja, sua
compatibilidade com o
futuro provimento final do Processo Penal, encontra-se estampada
nas alíneas
do inciso III do art. 1º da Lei 7.960/89, ao se determinar que a prisão
temporária
somente poderá ser decretada em hipóteses específicas de crimes gravíssimos.
MÓDULO 2
Questão 1
te Anticrime passou a exigir expressamente no art. 315, parágrafo 1º, CPP, a presença de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a
a cautelar.
starstarstarstarstar
3 - Restituição de liberdade
Ao final deste módulo, você será capaz de aplicar os métodos de restituição de
liberdade apresentados frente às hipóteses prisionais existentes.
Restituição da liberdade
Como será visto neste módulo, nosso ordenamento
jurídico prevê, basicamente,
três formas de restituição da liberdade do
acusado/investigado preso
provisoriamente:
Relaxamento da prisão
Vejamos:
arrow_forward
Exemplo
A prisão em flagrante será relaxada, por exemplo, nos casos de fato atípico;
quando não existir situação de flagrância (art. 302, CPP); nos casos de
flagrante
forjado ou preparado; quando o auto de prisão em flagrante for lavrado
em
inobservância às formalidades legais e constitucionais (v.g. sem a elaboração
de
nota de culpa em até 24 horas; sem o laudo prévio de constatação de drogas em
hipóteses de tráfico de entorpecentes; ausência de representação do ofendido
em
crimes de ação penal pública condicionada à representação); com a
ausência de
realização de audiência de custódia, entre outras.
Tendo em vista sua previsão expressa no art. 310, III, CPP, nossa doutrina
majoritária
tem entendido que tal instituto será eventualmente cabível somente
em hipóteses de
prisão em flagrante.
article article
Modificação da redação da parte Modificação que passou a prever a
inicial do art. 321 para incluir a possibilidade de arbitramento de
locução “ausentes os requisitos que fiança como medida cautelar diversa
autorizam a decretação da prisão da prisão, na forma do art. 319,
VIII,
preventiva.” CPP.
Nossa doutrina tem entendido que sua natureza é de contracautela, uma vez que
a
concessão da liberdade provisória exige vinculação para a liberação do preso,
ou seja, a
imposição de medidas restritivas, que variarão dependendo da
modalidade concedida.
Em se tratando de medida de
contracautela, um dos seus
pressupostos é a mera existência de
fumus boni
iuris,
não se exigindo,
portanto, certeza quanto à presença
da excludente, mas somente
meros
indícios da sua configuração no caso
concreto. Nossa doutrina majoritária,
não sem autorizada crítica, tem
entendido que ela apenas poderá ser
concedida
pela autoridade judiciária,
nunca pela polícia judiciária, uma vez
que apenas
caberia a esta analisar em
tese questões acerca da tipicidade da
conduta
praticada.
gavel gavel
Na necessidade de permissão judicial Na exigência de comunicação de
para mudança de domicílio. paradeiro em caso de ausência da
residência que ultrapasse 8 dias.
Atenção
Para a concessão da medida, revela-se necessário que esteja configurado o
quadro
de pobreza do preso, cuja definição processual penal, prevista no art. 32,
§1º,
CPP, é a seguinte: “considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às
despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio
sustento ou da família”. Entende-se, assim, que o ônus de provar a condição de
pobreza recai inteiramente sobre o próprio requerente.
Nesse sentido, configura-se direito subjetivo a
concessão da liberdade provisória
nos casos em que couber fiança, mas restar comprovada
a situação
economicamente desvantajosa do preso, sob pena de se legitimar o inaceitável
entendimento de que vulneráveis economicamente não teriam direito à
concessão de
liberdade provisória, em mais uma odiosa faceta da seletividade
do nosso sistema penal.
Sobre a fiança:
Assiduidade
Solicitação
Comunicação
Comentário
Note que embora não caiba liberdade provisória com fiança em tais hipóteses, o
Supremo Tribunal Federal tem proibido a vedação total de concessão de
liberdade
provisória, razão pela qual, para tais crimes, caso não esteja
comprovada a
necessidade da prisão preventiva, deverá ser concedida liberdade
provisória sem
fiança cumulada com medidas cautelares diversas da prisão do
art. 319, CPP.
attach_money
Inciso I
attach_money
Inciso III
attach_money Consequência 1
Perda da metade do valor para a FUNPEN, ainda que
posteriormente seja absolvido.
attach_money Consequência 2
Poderá ser aplicada nova medida
cautelar do art. 319, CPP
em reforço.
attach_money Consequência 3
Não poderá mais prestar fiança (art.
324, I, CPP).
attach_money Consequência 4
Eventualmente poderá ser revogada a
liberdade provisória e
decretada sua prisão preventiva, desde que
justificadamente.
A perda da totalidade do valor da fiança, na forma do
art. 344, CPP, será
determinada quando o afiançado, após sentença condenatória
transitada em
julgado, não for localizado para o início do cumprimento de pena.
Ressalte-se
que nossa doutrina entende que o afiançado não precisa se apresentar
espontaneamente, bastando apenas que esteja à disposição do Juízo da
execução no
endereço anteriormente apresentado no processo.
MÓDULO 3
Questão 1
(FGV – PC-RN – Delegado de Polícia Civil Substituto – 2021) Mendel foi preso em
flagrante pela prática do crime de furto, punível com pena de reclusão de 1 a 4
anos e multa, constando de sua folha de antecedentes criminais diversos outros
processos pela prática de delitos da mesma natureza. Após Mendel ser
apresentado à autoridade policial, o delegado de polícia:
starstarstarstarstar
Considerações finais
Como visto, as prisões antes do trânsito em julgado são
instrumentos
importantes para a garantia da eficácia e da efetividade do Processo Penal,
devendo, porém, ser exigidos os requisitos (i) da cautelaridade; (ii) da extrema
necessidade
e (iii) da proporcionalidade da medida.
A prisão em flagrante, antes vista como medida cautelar, atualmente ganhou
contornos de
medida pré-cautelar, já que ao ser executada, nas hipóteses
flagranciais do art. 302, CPP,
deverá atingir os objetivos de impedir que o crime
perfaça todos os seus efeitos e produzir
imediatamente a prova do fato
criminoso ocorrido. Atingidos tais fins, os autos da prisão em
flagrante deverão
ser imediatamente enviados ao juiz que, na audiência de custódia, decidirá
pela
soltura do envolvido ou pela conversão do flagrante em prisão preventiva.
Referências
OLIVEIRA, E. P. Curso de Processo Penal. São
Paulo: Saraiva, 2020.
Explore +
Pesquise o artigo Prisão temporária, de Diogo
Malan, no livro 70
anos do Código
de Processo Penal brasileiro: Balanço e perspectivas de reforma, De
Diogo
Malan e
Flávio Mirza, publicado pela editora Lúmen Juris, 2011, e veja como o
autor aborda o tema da prisão
temporária.